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Relações Públicas em Política

RPCE - 1º Semestre - 2019/2020


Trabalho individual

Discente: Rafael Silva, Nº10962


Docente: Nuno da Silva Jorge
Contexto do discurso:

O Vice-Bastonário da ordem dos nutricionistas irá realizar um discurso de sensibilização a


favor da diminuição da quantidade de sal presente nas refeições escolares. O discurso em
questão será realizado numa conferencia sobre “A Alimentação dos jovens portugueses” no
auditório Y da Fundação Calouste Gulbenkian, a 16 de outubro no âmbito do mês da
alimentação saudável. O público para qual o orador irá se direcionar é composto
nomeadamente por pais de jovens que frequentam o sistema de ensino português,
professores, associações, nutricionistas e outros profissionais de saúde.

Discurso:

Primeiramente, gostaria de agradecer a todos pela vossa presença. Fico satisfeito por
encontrar um auditório interessado em tentar perceber um fenómeno que coloca em risco
o futuro dos nossos jovens, como é o caso da quantidade absurda de sal que é encontrada,
diariamente, nas refeições escolares.

Em segundo lugar para contextualizar este fenómeno é necessário relembrar que a


Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2019, alertou que os jovens devem consumir um
máximo de 3 a 4 gramas de sal por dia. Porém, é possível de observar, através de um estudo
recente e realizado pela investigadora Conceição Calhau do Centro de Investigação em
Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), que os adolescentes acabam por consumir sete
gramas por dia, ou seja, quase o dobro daquilo que é recomendável. Entretanto, o ponto
mais grave deste trágico cenário explorado pelo estudo em questão, situa-se no facto de que
somente 4,4% da população jovem portuguesa consome a quantidade adequada de sal por
dia. Volto a afirmar apenas 4,4% dos jovens portugueses é que consomem a quantidade de
recomendável de sal por dia.

As escolas supostamente deviam ter um papel chave no combate aos problemas que afetam
a saúde juvenil, bem como deveriam ser agentes importantes na criação de políticas que
promovam comportamentos responsáveis e dietas alimentares nutritivas e saudáveis, que
limitassem refeições com teores excessivos de sal, açúcar e gordura. Infelizmente, podemos
observar que este papel não foi bem desempenhado por parte das escolas e isto deve-se,
unicamente, ao Ministério de Educação, à Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares
(DGEES) e às entidades privadas que são responsáveis por todo o fornecimento e logística
relacionada com alimentação nas escolas do ensino básico e do secundário. Este conjunto
de responsáveis parece que gostou de começar a agir como se fossem autênticos pintores.
Aposto que as entidades mencionadas devem apreciar artistas como Salvador Dali ou Pablo
Picasso, visto que possuem uma enorme vontade de pintar um quadro surrealista. Os
senhores que ocupam os cargos “lá de cima” quiseram impingir à força uma realidade
alternativa, imaginária e surreal aos portugueses. Criaram uma narrativa em que tudo
estava bem na alimentação dos nossos jovens, mas, agora, aqui estou eu para relembrar que
cá em baixo, ou seja, no mundo real são necessárias medidas reais que impeçam um cenário
desastroso para a saúde pública portuguesa.

Alguns dos especialistas do setor da saúde garantem que as profecias, os hipotéticos agoiros
e os problemas que todos temiam para o futuro, afinal chegaram mais cedo. Poderia ser uma
piada de mau gosto, mas, atualmente, estamos a lidar verdadeiramente com casos
demasiado graves. Por exemplo, a hipertensão arterial nas crianças e nos jovens tornou-se
numa realidade crescente e preocupante, onde mais de 13% das crianças e dos jovens entre
a faixa etária dos 5 aos 18 anos possuem pressão arterial elevada. É verdade que este grave
problema de saúde pode ser causado por diversos fatores, mas é necessário esclarecer ao
público em geral que a principal razão do aumento da percentagem da hipertensão arterial
nesta faixa etária deve-se nomeadamente aos excessos do consumo de sal acrescentado
durante a infância.

Cada vez mais compreendo a frustração dos meus colegas nutricionistas e dos restantes
profissionais de saúde que se encontram de mãos completamente atadas, e que não
conseguem sair do mesmo sítio tal como os peixes que nadam contra uma forte corrente.
Estes profissionais que são constantemente negligenciados por quem nos governa ou
impedidos de operar nas escolas contribuindo com informação credível e cientificamente
provada sobre a nutrição juvenil. Um conjunto de informação que poderia ser uma
ferramenta útil para promover uma maior consciência em relação ao excessivo consumo de
sal. Porém, não é por acaso que utilizei a expressão “nadar contra a forte corrente”. Uso este
termo, uma vez que as entidades governativas só conseguem encontrar vestígios de alto
teor de sal nas escolas através, somente, das obras do Padre António Vieira. Neste momento
só consigo sentir imensa pena para com o estado atual das entidades responsáveis, pois
encontram-se aluadas, desorientadas e desgastadas.

As minhas razões de queixa não são meros caprichos. Durante o mês de fevereiro foi
noticiado pelos meios de comunicação que há cada vez menos nutricionistas nas escolas
públicas portuguesas. Há um ano a Ordem dos Nutricionistas entregou ao Ministério da
Educação uma proposta para a contratação imediata de 30 nutricionistas para trabalharem
com a Direção-geral da Educação e com as escolas na elaboração das ementas, na
fiscalização e na formação de alunos, professores e auxiliares de ação escolar com o objetivo
de reduzir a quantidade de sal, açúcar e gorduras presentes nos alimentos. Mas até ao dia
de hoje, ainda não obtivemos nenhuma resposta algo que consideramos incompreensível.
Relembro, novamente, que este mês faz um ano desde o nosso pedido e ainda não
recebemos qualquer resposta por parte das entidades governativas. Neste momento
existem apenas dois nutricionistas disponíveis para todo o país. Volto a repetir, existem
apenas dois nutricionistas disponíveis para todo o país. Uma situação que é completamente
lamentável. Felizmente estes dois profissionais com poucos meios e recursos têm feito um
trabalho de excelência e muito importante, no entanto são poucos para acompanhar as cerca
de 700 cantinas escolares espalhadas por todo o país. Considero que seja necessário
responsabilizar as entidades competentes para que compreendam a importância destes
profissionais de saúde, pois sem eles, muitos dos encarregados de educação, alunos,
docentes e partes interessadas acabariam por procurar informações erradas e que, por
consequência, iriam aumentar a desinformação sobre os malefícios promovidos pelo
consumo excessivo de sal acrescentado. É fundamental que todos percebam que por
exemplo alimentos como o pão, o fiambre, o queijo e as sopas que normalmente estão
disponíveis nas escolas são autênticas bombas concentradas de sal.

Para aqueles que não acreditam nos possíveis riscos anteriormente mencionados e que
normalmente levantam questões como “A diminuição da presença de sal irá afetar o sabor
ou o valor nutritivo das refeições dos alunos?” Para estes que são mais incrédulos, curiosos
ou então apenas desatentos, respondo que se já passaram várias centenas de anos desde
que os nossos antepassados utilizavam o sal como forma de conservar os alimentos,
entretanto, nós como civilização já evoluímos o suficiente para criar alternativas mais
saudáveis ao sal e capazes de preservar o sabor das refeições, como são os casos da salsa,
do alho, da batata doce e de outras ervas aromáticas. Não é por promover a diminuição do
sal nas refeições escolares que significa que somos apologistas de refeições com pouco
sabor ou com baixo valor nutritivo.

É cada vez mais necessário informação, educação e legislação. Só assim é chegamos


realmente ao centro da consciencialização deste problema.

Vivemos numa era marcada pela tecnologia e o acesso rápido à informação, logo para mim
é inconcebível que exista pouca informação disponível e credível sobre questões
relacionadas com os malefícios do excesso de sal, é desta forma que nascem os mitos, as
desinformações e o desconhecimento. Neste sentido os profissionais de saúde,
nutricionistas e outras partes interessadas devem ser valorizados e aceites pelas entidades
governativas para que possam trabalhar em cooperação com o objetivo de promover uma
maior sensibilização e esclarecimento sobre estes problemas. Por exemplo, a presença de
mais nutricionistas poderia contribuir através de formações ou através de elaboração de
ementas mais saudáveis ou realização de auditorias às cantinas das escolas.
Eu sou um cidadão atento e observo o esforço de alguns partidos políticos em tentar colocar
temáticas como esta na agenda política e mediática. Obviamente que tem o meu apoio,
porém não podemos deixar que os esforços sejam em vão. Necessitamos que o estado
português intervenha e promova a discussão sobre estas matérias, com o objetivo de
desenvolver normas e legislação adequada para o controlo da quantidade sal utilizado nas
escolas.

Volto a relembrar que o excesso de consumo de sal pode potenciar o desenvolvimento de


constrangimentos graves para a saúde como é o caso das doenças cardiovasculares, da
hipertensão arterial, das diabetes e entre outras É por este conjunto de fatores apresentados
que nos dias que correm necessitamos de olhar para o excesso de sal nas refeições escolares
como um verdadeiro inimigo. Estamos perante um inimigo silencioso, um inimigo que é
oportunista e que espera, sorrateiramente, pela nossa desatenção para pôr em xeque a
saúde pública. É um verdadeiro inimigo sem escrúpulos, mas, porém, ainda há solução.

Precisamos de agir, mas não é amanhã e nem é no futuro. Precisamos de agir hoje.

Referências Bibliográficas:

• https://observador.pt/2019/10/21/alimentos-com-mais-acucar-sal-e-gorduras-banidos-
da-publicidade-para-criancas/ – Notícia consultada a 2 de novembro (10h21)

• https://dre.pt/home/-/dre/114344823/details/maximized – Despacho n.º10919/2017,


consultado a 2 de novembro (10h26)

• https://lifestyle.sapo.pt/familia/crianca/artigos/hipertensao-arterial-tensao-alta-nas-
criancas-e-um-problema-cada-vez-mais-comum– Notícia consultada a 2 de novembro
(10h34)

• https://observador.pt/2019/06/21/preocupacao-dos-portugueses-com-consumo-de-sal-
diminuiu-entre-2014-e-2018/– Notícia consultada a 2 de novembro (10h47)

• https://www.publico.pt/2019/10/19/sociedade/noticia/escolas-publicas-falta-
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• https://www.jn.pt/nacional/portugueses-querem-saber-mais-mas-faltam-campanhas-
sobre-nutricao-11412986.html– Notícia consultada a 2 de novembro (14h40)

• https://observador.pt/2019/10/21/alimentos-com-mais-acucar-sal-e-gorduras-banidos-
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• https://www.sphta.org.pt/pt/base8_detail/25/105– Notícia consultada a 2 de novembro
(15h11)

• https://tvi24.iol.pt/videos/sociedade/cerca-de-85-dos-adolescentes-portugueses-
consome-sal-a-mais/5cdd055f0cf2bfa3e1973edc– Notícia consultada a 2 de novembro
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• https://rr.sapo.pt/2018/06/29/pais/nutricionistas-querem-auditorias-a-bares-e-cafetarias-
nos-servicos-de-saude/noticia/117258/– Notícia consultada a 2 de novembro (15h32)

• https://ionline.sapo.pt/artigo/674575/portugueses-sabem-pouco-sobre-o-sal-mas-
consomem-no-em-excesso-?seccao=Portugal– Notícia consultada a 2 de novembro
(15h37)

• https://lifestyle.sapo.pt/familia/crianca/artigos/hipertensao-arterial-tensao-alta-nas-
criancas-e-um-problema-cada-vez-mais-comum– Notícia consultada a 2 de novembro
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• https://www.publico.pt/2019/10/19/sociedade/noticia/escolas-publicas-falta-
nutricionistas-alerta-ordem-1890645– Notícia consultada a 6 de novembro (9h54)

• https://www.jn.pt/nacional/portugueses-querem-saber-mais-mas-faltam-campanhas-
sobre-nutricao-11412986.html– Notícia consultada a 6 de novembro (10h02)

• https://life.dn.pt/bastonaria-cantinas-escolares/nutricao/341938/– Notícia consultada a 6


de novembro (10h40)

• https://www.dn.pt/edicao-do-dia/28-jan-2019/portugueses-consomem-mais-do-dobro-
do-sal-recomendado-pela-oms-10496060.html – Notícia consultada a 6 de novembro
(10h46)

• https://observador.pt/2019/10/21/alimentos-com-mais-acucar-sal-e-gorduras-banidos-
da-publicidade-para-criancas/– Notícia consultada a 6 de novembro (10h53)

• https://www.sphta.org.pt/pt/base8_detail/25/105– Notícia consultada em 9 de novembro


(17h20)

• https://tvi24.iol.pt/videos/sociedade/cerca-de-85-dos-adolescentes-portugueses-
consome-sal-a-mais/5cdd055f0cf2bfa3e1973edc– Notícia consultada em 9 de novembro
(17h23)

• http://www.ordemdosnutricionistas.pt/noticia.php?id=688– Notícia consultada em 9 de


novembro (17h32)

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