You are on page 1of 11

O culto e os seus princípios

7 de agosto de 2018
7

I – Introdução
Este brevíssimo ensaio versa sobre o tema em relevo através de três perguntas: (1) o que é o
culto, (2) a quem é prestado culto, e (3) como oferecer culto?

II – O que é cultuar?
A palavra “culto” deriva do Latim, cultu, e significa adoração ou homenagem a Deus. 1 
Etimologicamente, o termo latino cultu envolve a raiz colo, colere, que indica “honrar”,
“cultivar”, etc. Classicamente, os reformados ortodoxos definiram “religião” como recta
Deum colendi ratio, “a maneira correta de honrar a Deus”. 2 

Os principais termos que descrevem o ato/atitude de “culto” são o Hebraico, ‫החָָׁש‬ (shachah) e


o Grego, προσκυνέω (proskuneo). Essas duas palavras e seus derivados correspondem a
80% do uso cúltico bíblico. O primeiro vocábulo, shachah, significa “inclinar-se, prostrar-
se”, como, por exemplo: “E acontecerá que desde uma lua nova até a outra, e desde um
sábado até o outro, virá toda a carne a adorar [lit. “prostar”] perante mim, diz o Senhor” (Is.
66:22). A segunda palavra, proskuneo, indica originalmente “abaixar-se para beijar”, vindo
a indicar “prostrar-se para adorar”, “reverenciar”, “homenagear”, etc. 3  O exemplo clássico
sai da boca de Jesus: “Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram [προσκυνοῦντας]
o adorem [προσκυνεῖν] em espírito e em verdade” (Jo. 4:24).

Há ainda dois importantes termos que expressam ideias de culto. O primeiro é ‫( ד ַב ָע‬abad),
“servir”, “trabalhar”. Por exemplo, Yaweh diz a Moisés: “Certamente eu serei contigo; e
isto te será por sinal de que eu te enviei: Quando houveres tirado do Egito o meu
povo, servireis a Deus neste monte” (Êx 3:12). A segunda palavra é λατρεία (latreia),
“servir”, como visto no diálogo de Cristo com o Diabo: “Então ordenou-lhe Jesus: Vai-te,
Satanás; porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás [προσκυνήσεις], e só a ele
servirás [λατρεύσεις]” (Mt 4:10). É interessante notar que um dos locus classicus de
adoração e culto utiliza este termo para descrever a entrega do corpo a Deus como “culto
racional” [λογικὴν λατρείαν] (Rm. 12:1).

O que se pode concluir deste rápido estudo etimológico? “Cultuar” envolve tanto a
‘homenagem ou reverência’ a Deus, quanto o ‘serviço’ a sua Pessoa!

III – Quem é cultuado? (Deus enquanto sujeito)


Antes de qualquer asserção a respeito do Deus que se pretende “definir”, é mister salientar
que toda tentativa de descrever o Ser de Jeová envolve a sua própria auto revelação.
Enquanto sujeito, Deus é conhecido tão somente de acordo com as condições que Ele
mesmo deseja e impõe através da revelação. Ele jamais deve ser objetificado, pois o mesmo
é completamente livre e não uma coisa e/ou criatura que pode ser manipulável por seres
humanos.4 

A divindade da revelação Judaico-Cristã é o Criador de tudo (Gn.1). Este mesmo ser


Criador estabeleceu aliança com um povo em particular (Abraão, Isaque e Jacó; Gn. 12-35;
Israel; Êx. 19:1-24:18, Concerto Sinaítico; etc.), e redimiu esse povo (Êx. 3:1-16:36). Esse
Ente é transcendente e imanente! Ou seja, Ele é santo, inacessível e misterioso (Sl. 99), mas
também está perto “de todos os que o invocam… Ele acode a vontade dos que o temem;
atende-lhes o clamor e os salva”. (Sl. 145:18-19). Um exemplo bem forte e pontual de
ambas características divinas (transcendência e imanência) vem do profeta Isaías. “Porque
assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: ‘Habito
no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e o abatido de Espírito, para
vivificar o Espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos’” (Is. 57:15).

Como consequência direta da citada imanência, esse ser é (contrário ao Deísmo) capaz de
intervir na criação. Por outro lado, devido a sua transcendência, Deus não pode ser
(contrário ao Panteísmo) equiparado e/ou confundido com a criação. Ele é totalmente outro,
Ele é um Rei que age segundo o seu beneplácito, e nunca um ídolo manuseável (cf. doutrina
da aseidade divina).

Desde o início da revelação, o Criador tem se mostrado plural em unidade. A unidade, por
sinal, era a ênfase do monoteísmo veterotestamentário. O fato que Deus é um pode ser visto
no Shemá, recitado pelos judeus: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.
Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua
força”. Muitas outras referências poderiam ser apresentadas atestando o monoteísmo
Judaico. Por exemplo: “Eu Sou o Senhor, e não há outro; além de mim não há Deus; Eu te
fortalecerei, ainda que tu não me conheces. Para que se saiba, até ao nascente do sol e até o
poente, que além de mim não há outro; Eu Sou o Senhor, e não há outro” (Is. 45: 5-6).

Por outro lado, como já dito, há pluralidade no seio do Altíssimo. Logo no começo da
Bíblia já se vê que a estrutura da Deidade não é monolítica. Ao decidir criar, Ele assevera:
“Façamos o homem a nossa imagem e conforme a nossa semelhança” (Gn. 1:26). Nota-se
nesse texto que tanto o verbo quanto os pronomes são utilizados na primeira pessoa do
plural. A mesma coisa é observada mais tarde na Queda edênica: “Eis que o homem se
tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal” (Gn. 3:22). Há muitas outras
ocasiões no Antigo Testamento que mostram que Deus é plural em seu interior. 5  

Levando em conta a revelação orgânica apresentada pelas Escrituras, no Novo Testamento a


pluralidade de Deus apresenta-se como Trindade. A unidade de Deus é inferida como
Trindade de pessoas. O quadro clássico dessa apresentação é a cena do Batismo de Jesus.
Temos aqui a pessoa do Filho sendo batizado, a pessoa do Pai aparecendo em forma de voz,
e a pessoa do Espírito Santo mostrando-se em forma de ave (Mt. 3:16-17). Apoiando tal
interpretação, a Grande Comissão é articulada Trinitariamente: “Fazei discípulos de todas
as nações, batizando no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. De igual modo, a
bênção paulina é efetuada em nome do Deus Trino: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o
amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2Co. 13:13). Note-se
que tanto na Grande Comissão como na citada benção, o Espírito Santo é colocado em pé
da igualdade com a pessoa do Pai e a pessoa do Filho. Consequentemente, a pessoa do
Espírito possui o mesmo status que as pessoas do Pai e do Filho. Outros muitos exemplos
poderiam ser dados apontando na direção da doutrina Trinitária do Deus que adoramos. 6 

A ortodoxia cristã acabou por definir o ser divino como existente em três pessoas, porém
com a mesma essência (οὐσία). Pai, Filho e Espírito Santo, respectivamente, Primeira,
Segunda e Terceira Pessoas da Trindade possuem o mesmo poder, glória e eternidade.

Para concluir da forma mais sumária e direta possível, como poderíamos responder a
pergunta: quem é Deus? O maior teólogo do século XX, o Suíço Karl Barth (1886-1968)
dizia o seguinte: “Você quer saber quem é Deus? Você deseja saber quem criou este
universo com bilhões de estrelas, e com distâncias inimagináveis? Olhe para o rosto
barbado de Jesus de Nazaré”. 7

IV –  Como Deus deve ser cultuado (princípios)


À guisa de melhor elucidação, é de bom siso verificar-se “como Deus não deve ser
cultuado”, antes de tentar-se estabelecer “como Deus deve ser cultuado”. Para tanto, dois
princípios de antropologia hebraica podem ser úteis, a saber, (1) unidade individual e (2)
unidade corporativa.

IV.1. – Unidade individual


A ‘unidade’ do ser humano ou ‘integridade’ 8 do indivíduo—como articulada no Antigo
Testamento—apresenta um excelente contra ponto ao Dualismo Platônico Ocidental. De
maneira geral, esse Dualismo ensinava que a matéria era má e o espírito bom, que o corpo
corrupto era habitado por uma alma preexistente boa e pura, alma essa possuidora de um
conhecimento inato derivado da contemplação de Ideias eternas. 9  Pode se derivar
facilmente desse platonismo uma divisão entre mundano e santo, profano e sagrado,
material e espiritual, vida secular e vida cúltica. Nesse modelo, a pessoa poderia levar uma
vida torpe e vulgar por ser o corpo material e, ao mesmo tempo, levar uma vida de adoração
irrepreensível.

A antropologia hebraica distingue o material do espiritual sem, todavia, separá-los. O ser


humano é uma unidade indivisível de corpo e alma! Consequentemente, é a pessoa como
um todo que cultua a Deus. Jeová é visto como aquele que perdoa o pecado interior e,
simultaneamente, cura o corpo e o supre com riquezas: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor,
e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome… Ele é quem perdoa todas as tuas
iniquidades; quem sara todas as tuas enfermidades; quem da cova redime a tua vida e te
coroa de graça e misericórdia; quem farta de bens a tua velhice,… (Sl. 103: 1, 3-5a). Essa
unidade, então, faz do indivíduo um ser íntegro, um ser composto de material e imaterial,
porém indivisível e, portanto, devendo prestar culto como um todo.
Uma consequência direta da integridade da pessoa é a rejeição do formalismo. Em relação à
atividade cúltica, o termo, ‘formalismo’, pode ser definido como culto exterior divorciado
de conteúdo interior. Os profetas da Antiga Aliança atacaram duramente tal formalismo.
Através da ênfase na ‘forma’, todo o aparato levítico era fielmente seguido, enquanto que,
concomitantemente, o suborno era cometido, o justo perseguido, o pobre rejeitado (Am.
5:2); …e ainda, o roubo era praticado, o crime perpetrado, o órfão e a viúva ignorados (Is.
1:21-23). Noutras palavras, as belas ordenanças e festas comandadas pela Torah eram
mantidas em meio a um caudal de impiedade e hipocrisia (Is. 1:10-16). Jesus, de igual
modo, censurou o culto hipócrita: tanto a esmola como a oração não deveriam chamar a
atenção (Mt. 6:2-5). A estrita observação da forma—como no caso dos escribas e fariseus—
era um contra senso quando a piedade pessoal era descartada (Mt. 23:1-33). 10

IV.2. – Unidade corporativa


O individualismo contemporâneo—no qual o indivíduo é uma ilha completamente
separável de sua comunidade—pareceria estranho ao povo da Velha Aliança. No Antigo
Testamento tanto bênçãos quanto maldições eram prometidas à comunidade como um todo:
“Eu sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a
terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até mil gerações
daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos” (Êx. 20:5 e 6). 11

O mesmo conceito de unidade corporativa pode ser visto reiterado na transversalidade dos
testamentos: “E por assim dizer, também Levi que recebeu dízimos, pagou-os na pessoa de
Abraão. Porque aquele ainda não tinha sido gerado por seu pai, quando Melquisedeque saiu
ao encontro deste” (Hb. 7:9-10). 12

Este princípio demonstra que há pontos de conexão entre o indivíduo e a comunidade que
ele pertence. Por exemplo, aquele que alega cultuar individualmente a Deus, mas insiste em
não fazer parte da igreja local, “nega” a unidade corporativa e abdica da participação no
corpo visível de Cristo. Isto representa uma anomalia combatida pela própria Bíblia: “Não
deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns;…” (Hb.10:25).

IV.3. – Introdução a ‘princípios do culto Cristão’ (1Co 11-14)


Há uma grande diferença entre o culto no Antigo versus no Novo Testamento. Enquanto
que naquela Aliança havia um rico manual de procedimentos cúlticos, nesta há apenas
parcos e gerais princípios de adoração. “A religião do judeu era repleta de tipos, símbolos e
figuras; a religião de Cristo contém apenas dois símbolos: o Batismo e a Ceia do Senhor. A
religião do judeu alcançava o adorador principalmente por meio dos olhos; a religião do
Novo Testamento apela diretamente ao coração e a consciência… Os Judeus podiam abrir
os escritos de Moisés e achar rapidamente os itens de sua adoração; os cristãos podem
apenas indicar alguns textos e passagens isolados que devem ser aplicados a cada igreja, de
acordo com as circunstâncias”. 13

Uma dessas passagens encontra-se na primeira carta de Paulo aos Coríntios. Desse texto,
extrairemos seis princípios gerais relativos ao culto. São eles: amor, autoridade,
participação, inteligibilidade, reverência e edificação.

IV.3.i. O Princípio do amor


Não há dúvidas que o amor é um princípio cúltico. Tanto é assim que Paulo inicia as
discussões acerca da hierarquia dos dons com este princípio norteador: “Segui o amor e
procurai com zelo os dons espirituais, …” (1Co. 14:1). Os dons serão corretamente
exercitados se o amor estiver em primeiro lugar. O “amor”, aqui ressaltado, não é mero
emocionalismo. A palavra grega traduzida como “segui” (διώκετε) foi apropriadamente
rendida pela Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH – SBB) como “esforcem-se
para ter o amor”. Consequentemente, o “amor” solicitado por Paulo é uma atitude
voluntária que lubrificaria o funcionamento dos dons na igreja. Tanto para os que apoiam
quanto para os que negam o cessacionismo, 14  o princípio do amor, obviamente, não mudou!

A falta de amor na igreja corintiana estava gerando divisões, contendas, ciúmes e


partidarismo: “eu sou de Paulo, eu de Apolo, eu de Cefas, eu de Cristo…” (1Co. 1:10-12;
3:3). A falta de amor estava fazendo com que um irmão levasse outro a tribunal. Que tipo
de culto pode haver quando “vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano, e isto aos
próprios irmãos?” (1Co. 6:6-8). A soberba do irmão, supostamente “maduro”, revela a falta
de amor para com o irmão fraco. Ao participar na “mesa, em templo de ídolo”, o indivíduo
demonstra falta de amor a Deus (“mas se alguém ama a Deus esse é conhecido por Ele” –
1Co. 8:3) e falta de amor ao irmão fraco (“…e assim por causa do teu saber, perece o irmão
fraco pelo qual Cristo morreu” – 1Co. 8:11). A falta de amor durante o culto Eucarístico
fazia com que um irmão passasse fome, enquanto o outro se embriagasse (“porque ao
comerdes, cada um tome antecipadamente a sua ceia; e há quem tenha fome, o passo que há
quem se embriague” – 1Co.11:21). A falta de amor fazia com que pessoas em posição de
maior autoridade menosprezassem os que ocupassem posições inferiores. Embora Deus
tenha estabelecido “primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugar
mestres”, etc. (1Co. 12:28);  é bom também levar em conta que “o mesmo espírito não pode
dizer a mão: não precisamos de ti… Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais
fracos, são necessários” (I Co. 12:21-22). Bem no meio das orientações cúlticas, há um
capítulo inteiro sobre a preeminência do amor ante qualquer dom, seja dom sobrenatural,
como “fé ao ponto de transportar montes” (1Co. 13:2); ou natural, como conhecer “toda a
ciência” (13:2); sacrifício extremo, como distribuir “meus bens entre os pobres” (13:3); e
até mesmo o martírio, entregando “meu próprio corpo para ser queimado (13:3). Todas
essas coisas são inúteis sem o amor. Esse é o princípio sine qua non do culto verdadeiro e
aceitável a Deus.
IV.3.ii. Princípio da autoridade
Antes de fornecer instruções para a celebração da Ceia do Senhor (1Co 11:17-34), Paulo
estabelece um princípio de liderança funcional masculina no ordenamento das atividades
cúlticas: a mulher deve estar em sujeição e o homem deve exercer autoridade!

Aparentemente, a igreja em Corinto enfrentava uma situação semelhante a que enfrentamos


hoje, dado o fato daquela grei ter escrito a Paulo perguntando sua posição a respeito de
vários assuntos: “Quanto ao que me escrevestes, …” (1Co 7:1). Dentre outros assuntos
(casamento, cap. 7; sacrifícios a ídolos, cap. 8; etc), os coríntios indagaram o apóstolo a
cerca da submissão feminina.

Paulo apresenta quatro razões para sustentar a liderança masculina. A primeira reza que a
relação entre Cristo e Deus encontra paralelo entre o homem e a mulher. Deus é o cabeça de
Cristo e o homem é o cabeça da mulher. Em ambos os casos, a mesma palavra grega
(κεφαλὴ) é utilizada. Cristo, com a mesma essência e dignidade do Pai, possui um papel de
sujeição diante de Deus. A mulher, com a mesma essência e dignidade do homem, possui
um papel de sujeição relativo ao homem: “Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça
[κεφαλὴ] de todo o homem, e o homem o cabeça [κεφαλὴ]da mulher, e Deus o cabeça
[κεφαλὴ] de Cristo” (1Co. 11:3). Portanto, a liderança masculina deve ser mantida no culto.
Ao abdicar sua posição ou função de autoridade, o homem “desonra sua própria cabeça”
(1Co 11:4).15  Os papeis devem ser mantidos no ambiente do culto desta maneira  porque
Deus deu ao homem o papel de líder, enquanto que à mulher foi dado o papel de
coadjuvante (1Co. 11:7, “Porque, na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça por ser ele
imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem.” Cf. Pv. 12:4.). Ao homem foi
dada a honra de reger a criação: Adão recebeu domínio e autoridade sobre a ordem criada,
portanto o homem—funcionalmente—é a “imagem e glória de Deus”. 16  Por outro lado,
como vice-regente, a mulher leva a cabo o governo do homem, representando-o de modo
excelente. Esta magnífica embaixadora é a “glória do homem”. Este ponto pode ser
resumido da seguinte forma: da mesma maneira que “o homem manifesta quão magnífica
criatura Deus pode criar a partir de Si mesmo, assim também a mulher manifesta quão
magnífica criatura Deus pode criar a partir do homem (Gn. 2:21-22)”. 17

Em seguida, Paulo apresenta duas outras razões para sustentar a liderança masculina:
primeiro, um argumento fundamentado na ordem da criação; e, segundo, um argumento a
partir da finalidade. No primeiro argumento, ecoando Genesis 2 , 18 o apóstolo afirma que o
homem foi criado antes da mulher e essa tem sua origem nele: “Porque o homem não foi
feito da mulher; e, sim, a mulher do homem” (1Co 11:8). Noutras palavras, o homem, por
assim dizer, é “primogênito” e “fonte” de onde veio a mulher. No segundo argumento,
Paulo mostra que a finalidade da mulher é ajudar o homem e não vice-versa: “Porque
também o homem não foi criado por causa da mulher; e, sim, a mulher, por causa do
homem” (1Co 11:9).19

Estas três razões até aqui apresentadas—cabeça, criação e finalidade—são claramente


aculturais. Noutras palavras, não há aqui o elemento limitador cultural que cerceie a
aplicação do princípio de liderança masculina aos nossos dias. A primeira razão—cabeça
(κεφαλὴ)—transcende a própria criação; enquanto que as duas últimas—ordem e finalidade
—foram estabelecidas no ato da criação.20

Ainda há uma quarta razão elencada pelo apóstolo, e essa com um viés cultural. Paulo
aponta para a subserviente ordem sobrenatural, alegando que os poderosíssimos anjos que
estão em perpétua e completa submissão a Deus ficariam ofendidos ao ver insubmissão
feminina. Noutras palavras, as mulheres devem manter-se sujeitas não apenas por causa da
ordem natural instituída na criação, mas também por causa da ordem sobrenatural:
“Portanto, deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça como sinal de
autoridade” (1Co 11:10). Enquanto que o véu perdeu o conteúdo representativo (o véu
sobre a cabeça de uma mulher hoje não transmite a mensagem de submissão que
representava no primeiro século), o princípio representado pelo véu—submissão à
autoridade—continua válido. A validade deste princípio é corroborada pelas três primeiras
razões apresentadas!

Por fim, Paulo afirma que a diferença de função não deve nos separar: ”No senhor, todavia,
nem a mulher é independente do homem, nem o homem é independente da mulher. Porque,
como provém a mulher do homem, assim o homem é nascido da mulher; e tudo vem de
Deus” (1Co 11: 11-12). Ou seja, espiritualmente somos todos iguais, a despeito da
manutenção dos papeis estabelecidos por Deus.

Diante de todos esses argumentos, não há como negar o fato de que, no geral, compete ao
homem liderar e a mulher ser liderada. Esta diferença de papeis não implica, de modo
algum, em inferioridade espiritual; essa diferença visa apenas a ordem funcional do culto.
Por sinal, cabe ressaltar que a mesma ordem é normativa para o funcionamento do lar: em
reverência a Cristo, esposas devem ser lideradas pelos maridos, bem como filhos pelos pais
(Ef 5:22-6:1). Assim, o homem que não lidera bem a sua própria casa não deve liderar na
igreja (1Tm 3:4-5). Em uma sentença: o Novo Testamento atribui ao homem o papel de
líder!

IV.3.iii. Princípio da Participação


Uma diferença marcante entre ‘cultuante’ e ‘espectador’ é a atividade daquele versus a
passividade deste. Enquanto o adorador interage no culto, o espectador é um mero
receptáculo. Uma palavra parece resumir tudo: participação!

Assim diz o apóstolo: “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro
doutrina, este traz revelação, aquele outro língua e ainda outro interpretação…” (1Co.
14:26).  A pergunta que inicia o versículo em destaque—“Que fazer, pois, irmãos?”—pode
ser interpretada como apontando para uma sugestão, um comando, ou uma narrativa: os
comentaristas divergem quanto ao exato significado dessa pergunta. Todavia, independente
da mesma sugerir, comandar ou meramente narrar o que estava acontecendo na igreja, não
há dúvidas que participação no culto não era privilégio apenas do oficiante. Ao contrário, a
dinâmica do culto envolvia a participação do auditório com salmo, doutrina, revelação,
língua e interpretação. Consequentemente, infere-se que a participação coletiva no culto era
normal na vida da igreja. A maneira como essa participação deve acontecer hoje em nossas
igrejas é facultado às mesmas decidirem. O que não pode acontecer é a não participação dos
crentes no culto!

IV.3.iv. Princípio da inteligibilidade


Deus criou o ser humano com a distinta capacidade da razão (homo sapiens). Daí a
habilidade de:  entender, inferir consequências, e agir à luz das informações que chegam aos
sentidos. O dito católico romano que alega que “a ignorância é a mãe da devoção” é falso. 21 
Imagens, sinais, linguagem, símbolos, representações e/ou qualquer coisa que obstrua, ao
invés de ajudar, o entendimento deve ser evitado. “… , prefiro falar na igreja cinco palavras
do meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua. Irmãos,
não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo sede homens
amadurecidos” (1Co 14:19-20). Diz mais o apóstolo, “… irmãos, se eu for ter convosco
falando em outras línguas, em que vos aproveitarei…? É assim que instrumentos
inanimados, como a flauta, ou a cítara, quando emitem sons, se não os derem bem distintos,
como se reconhecerá o que se toca na flauta, ou na cítara? Pois também se a trombeta der
som incerto quem se preparará para a batalha? Assim vós, se com a língua, não disserdes
palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? Porque estareis como se falásseis
ao ar” (1Co. 14:6-9).

Russell Shedd diz o seguinte em relação a intelegibilidade do culto: “lastimáveis e


indesculpáveis são as reuniões das igrejas em que uma torrente de palavras é pronunciada,
mas poucos, ou mesmo ninguém, consegue ouvir a voz de Cristo. ‘Eis que estou à porta (da
igreja reunida, celebrando a ceia) e bato, se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta,
entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo’ (Ap. 3:20). Obviamente, conforme o
texto acima, a surdez espiritual não é um mal que surgiu em nosso século… O principal
desejo daqueles que se reúnem para cultuar a Deus deve ser o reconhecimento de que de
fato Ele está em nosso meio e fala através do salmo que um determinado irmão compartilha,
ou pela doutrina exposta, ou pela revelação (desvendamento da presença do Senhor por
meio da voz que fala com autoridade vinda dEle) ou língua, ou interpretação (1Co. 14: 25-
26)… Poucas igrejas praticam este “culto primitivo” que Paulo descreve, mas isso não deve
anular o objetivo de se reunir.22  O resumo do pensamento de Shedd é que a voz de Deus
precisa ser ouvida pelos cultuantes de forma clara!

IV.3.v. Princípio da reverência


Este princípio geral resume a maneira pela qual a indecência e a desordem são evitadas:
“Tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (1Co 14:40).
Embora as duas palavras, “decência e ordem”, tenham uma aplicação tanto individual como
coletiva, “decência” visa mais o indivíduo, enquanto que “ordem” tem mais afinidade com
o coletivo. A decência (εὐσχημόνως) tem relação com a reverência e respeito devidos ao
culto a Deus prestado pelo indivíduo. De igual modo, a ordem (κατὰ τάξιν) indica a
organização como um todo: essa expressão é também usada para descrever a formação
militar. De forma resumida, a reunião da igreja deve ser conduzida com a reverência do
indivíduo e sincronia do coletivo.

IV.3.vi. Princípio da edificação


Ao falar sobre os dons espirituais, Paulo diz que os mesmos devem ser buscados “com
zelo” (1Co 14:1). Tal zelo deve ser empregado principalmente na busca por προφητεύω
(προφητεύητε, no texto aparece o subjuntivo plural, “que vós profetizeis”).  Independente
do significado da palavra “profetizar”, busca-se aqui a razão pela qual o apóstolo coloca
este dom em primeiro plano. Ele diz, explicitamente, que o uso de προφητεύω produz
“edificação, exortação e consolo” (14:3). Enquanto que, aquele que possuía o dom de
línguas edificava apenas “a si mesmo”, quem profetizasse edificava a igreja como um todo
(14:4). De fato, diz Paulo, “Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito
mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras
línguas, salvo se as interpretar ‘para que’ [ἵνα] a igreja receba edificação” (14:5). O
contexto geral do capítulo em destaque revela que o objetivo dos dons espirituais era a
“edificação da igreja” (14:12). Rompantes explosivos de individualismo espiritual—para
não dizer, “ostentações”—devem ser evitados: “…porque tu de fato dás bem as graças, mas
o outro não é edificado” (14:17). Assim, “não havendo intérprete, fique calado na igreja,
falando consigo mesmo e com Deus” (14:29).

Como conclusão a esta seção, vale frisar que esse princípio foi exposto por último, porque
tudo deve cooperar para a edificação do corpo de Cristo: seja o uso dos dons, seja a
‘reverência’ como possibilitadora de ordem e decência; seja a ‘participação’ como exercício
dos dons visando crescimento; seja a ‘autoridade’ com vista ao correto princípio de
funcionamento dos papeis estabelecidos por Deus; e, finalmente, seja até mesmo o amor,
em cuja ausência a almejada edificação não aconteceria.
V – Conclusão geral
O próprio Cristo nos ensinou que Deus deseja culto “em espírito e em verdade” (Jo. 4:23-
24). Esta dupla pauta envolve nosso interior (coração puro e sem fingimento, Sl. 103:1,2;  e
Sl. 24:3,4), e o exterior também. Consequentemente,  há necessidade de buscarmos a
verdade dos fatos concernente a Deus revelados em Sua Palavra. Devemos rejeitar
modismos, garantindo, assim, a presença do Senhor em nossos cultos.

Rejeição de modismo e de sincretismo


– Modismos: Vivemos no mundo do “politicamente correto”, e esse ambiente tenta impor
ideias que muitas vezes são hostis aos princípios bíblicos. Temos que ser corajosos e, por
vezes, “nadar contra a correnteza”. Ao fazer assim, obviamente, teremos que pagar o preço
de sermos taxados de preconceituosos, fundamentalistas, retrógrados, antiquados, etc.

– Sincretismo: No Antigo Testamento o povo hesita no serviço ao Senhor e a outros deuses.


Isto é assim nos tempos de Josué (Js. 24:14-19), passando pela ciclicalidade dos juízes e
culminando na repreensão pública de Elias aos Israelitas (1Rs. 18:21) e posterior derrota
dos profetas de Baal (1Rs. 18:36-40). Jesus, de igual modo, condena o sincretismo alegando
ser impossível servir a Deus e a Mamon (Mt. 6:24). Paulo combateu ferozmente o
sincretismo judaizante que misturava o evangelho com elementos legais (Gl. 3:1-14). Nossa
postura não pode ser diferente!

Presença assegurada
Como conforto e garantia de vitória, temos as palavras do Mestre que nos assegurou sua
presença onde estivessem dois ou três reunidos em seu nome (Mt. 18:20); nos assegurou sua
presença no estabelecimento da nova aliança e comunhão de seu corpo e sangue (Mt. 26:26-
29); e, finalmente, nos assegurou sua presença “até a consumação do século” (Mt 28:20).
Nem anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem
altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura, poderá nos separar da presença de
Deus e de Cristo Jesus.

Finalmente, sendo esta presença uma verdade irrefutável, cultuemos, “…àquele que é
poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos ante a sua glória imaculados e
jubilosos,  ao único Deus, nosso Salvador, por Jesus Cristo nosso Senhor, glória, majestade,
império e poder, antes de todos os séculos, e agora, e para todo o sempre. Amém” (Jd 24-
25).
__________________________
1
TORINHA, Francisco. Dicionário Latino Português. Porto: Gráficos reunidos, 1937, S.V.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio de Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1996, s.v. “cultu”.
2
MULLER, Richard. Dictionary of Latin and Greek Theological Terms: Drawn Principally
from the Protestant Scholastic Theology. Carlisle, United Kingdom: Paternoster Press,
1985, s. v. “cultus”.
  3Thayer’s Greek Lexicon, s.v. Disponível em http://concordances.org/greek/4352.htm.
Accesso em 05/jun/2012.
4
A ênfase de Deus enquanto sujeito emerge principalmente do pensamento de Blaise Pascal
(1623-1662), Soren Kierkegaard (1813-1885), Emil Brunner (1889-1966) e Karl Barth
(1886-1968). Vide McKIM, Donald K. Westminster Dictionary of Theological
Terms. Louisville, USA: Westminster John Knox Press, 1996, s. v. “God as subject”. Cf. Is.
45:21-22; 44:6-8; Rm. 3:30; ICo. 8:6; ITm. 2:5; etc.
5
“A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” (Is. 6:8. Cf. Sl. 45:5,7; Gn. 11:7; Is. 48:16;
etc.)
6
1Co. 12:4-6; Ef. 4:4-6; Jd. 20 e 21; 1Pe. 1:2, etc.
 7Sermão comemorando a Ascenção de Cristo, uma série de sermões pregados na Basileia
em 1956. Disponível em: http://www.worldinvisible.com/library/barth/prayerpreaching/
prayerpreaching.07.htm. Acesso em 10/nov/2009.
8
 Palavra derivada de ‘íntegro’, do Latim, integer, ‘intato’, ‘inteiro’, ‘completo’.
 9Cf. O’COLLINS, Gerald e FARRUGIA, Edward G. A Concise Dictionary of Theology.
Edinburgh: T & T Clark, 2000, s.v. “Platonism”.
 10ELWELL, Walter A. (Editor) Evangelical Dictionary of Biblical Theology. Paternoster
Press: Carlisle, UK: 1998, s. v. “Worship”.
11
 Em contra partida, Dt. 24:16 e Ez. 18:20. O contexto de Dt. 24:16 versa sobre
procedimentos nas cortes de justiça vis-à-vis procedimentos judiciários: “Os pais não serão
mortos em lugar dos filhos, e nem os filhos, nos lugares dos pais; cada qual será morto pelo
seu pecado” (Dt. 24:16). Quanto a Ezequiel, o texto encontrado no capítulo 18 versículo 20
(“A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a
iniquidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre
ele”), trata da Justiça de Deus em relação ao indivíduo que deseja se arrepender. Embora
Deus trate individualmente com um e com outro, tal fato não impediu que todos fossem
levados cativos na época de Ezequiel devido os pais terem desobedecido a Deus.
 12Adão e Cristo como representantes da raça.
13
RYLE, J. C. Adoração: Prioridade, Princípios e Prática. São José dos Campos: Editora
Fiel, 2010, p. 25.
 14Doutrina que reza que todos os dons extáticos cessaram após o período apostólico.
15
 Calvino ilustra isto como segue: um embaixador nomeado por um rei para representá-lo,
mas que não sabe como se comportar,  e acaba “barateando sua posição”. Ao proceder dessa
forma, ele traz desonra ao rei que ele representa. De igual maneira, a mulher ao atuar na
igreja visível e independentemente—ou seja, com a cabeça descoberta ou tosqueada—
desonra o homem (1Co 11:5-6).
16
 A Queda “fortaleceu” ainda mais esta posição, introduzindo um grau de conflito: “Teu
desejo será para teu marido e ele te governará”. Ou seja, a mulher tentaria dominar,
conquistar, vencer o homem, mas o homem [“forçosamente”] a governaria!
17
MACARTHUR, John. The MacArthur New Testament Commentary: First Corinthians.
Chicago: Moody Publishers, 1984, p. 258.
  Gn. 2:21-22 “Então o Senhor Deus fez cair o pesado sono sobre o homem, e este
adormeceu: tomou uma de suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o
Senhor tomara ao homem, transformou-a numa mulher, e lha trouxe”.
  Cf. “Disse mais o Senhor: não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora
que lhe seja idônea” (Gn. 2:18). Enquanto que o homem é independente da mulher, devendo
liderar, proteger e cuidar da mesma; a mulher, por outro lado, é dependente e deve estar
sujeita ao homem.
  Ainda poderíamos ressaltar que isso foi estabelecido, obviamente, antes da Queda!
  RYLE, Adoração, p. 19.
  SHEDD, Russell. Adoração Bíblica: Os Fundamentos da Verdadeira Adoração. Edições
Vida Nova, 2007, p. 49.
David Ricker
Bacharel em Engenharia Agronômica (BA) pela Universidade Federal
Rural do Pará; Mestre em Divindade (MDiv) pela Universidade de
Samford, nos Estados Unidos; Mestre em Teologia Sistemática (MA) pela
Universidade de Londres, Inglaterra;  Doutor em Filosofia (PhD) pela
Universidade de Aberdeen, na Escócia. Adicionalmente, Riker estudou
línguas no Seminário Equatorial, em Belém e no Goethe-Institut Göttingen,
na Alemanha. Recentemente, ele publicou um livro na Europa tratando da
história e pensamento dos primórdios do movimento Batista: "A Catholic
Reformed Theologian: Federalism and Baptism in the Thought of
Benjamin Keach, 1640-1704". O Pastor Riker também é editor da revista
Sistemática Equatorial, periódico da Faculdade Equatorial, em Belém (PA),
instituição na qual ele serve como Reitor e Professor de Teologia
Sistemática.

 Início

 Revista

 Novidades
 

 Temas

 Articulistas

 Edição atual

 Baixar PDF

 Edições anteriores

 Editora
© Copyright © 2009-2010. Todos os direitos reservados à Edições Vida
Nova
    

You might also like