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Dhenis Cruz Madeira Professor do Curso de Pés-Graduario Lato Sensu em Diseito Processual do Instituto de ‘Edacagdo Continuada da PUC Minas (IEC-PUC Minas) Professor de Teoria Geral do Processa e Direto Processual Civil do curso de Gradaagdo em Direito da PUC Minas, Doutorando ema Direito Processual pela PUC Minas. Meste em Direito Processual pela PUC Minas. Especialista em Direito Processual pela PUC Minas. Membro Efetivo da Comistio de Ensino Juridico da OAB/MG. Advogado E-mail: cruizmadeira(@hotmail.com PROCESSODE _ CONHECIMENTO E COGNIGAO Uma insergao no Estado Democrdtico de Direito 2008 Jurué Editora Curitiba Capitulo IV O INSTITUTO DA PROVAE A COGNICAO Sumério: 4.1 Consideragées iniciais; 4.2 A teoria da prova no Direito Demo- critic; 4.3 Cognigdo e sistema probatério na Democracia: 44 A prova como fator de visibilidade da argumentagdo juridica: 4.5 A verdade ¢ a prova no Direito Democrético: apontamentos criticos; 4.6 Consideracies finais 4.1 CONSIDERACGES INICIAIS. ‘Ao longo do presente trabalho, refletiu-se sobre a cognigdo que gira em toro de provas e de argumentos encontrados nos autos (cartula- res ou eletrénicos). Outrossim, afirmou-se que os argumentos ¢ as provas (0 (devem ser) soerguidos numa estrutura procedimental"” regida pelos prinefpios da ampla defesa, contraditsrio e isonomia, com observancia do devido proceso. Todos os processualistas ressaltam a importincia da prova para 0 processo, chegando Cameluttia afirmar que “sem ela o direito ndo poderia, em noventa ¢ nove por cento dos casos, alcangar seu objetivo”. Analisando-se os diversos escritos sobre o tema, parece undni- me“ que trés figuras correlacionam-se de algum modo: as provas, as alegagdes ¢ 0s fatos. Sobre o Procedimento,confere 0 Capitulo V “© CARNELUTTI, Francesco. Sistema de direito processual civil. Tradugio de Hilto- ‘mar Manin Oliveira. 1 ed. Sio Paulo: Classik Book, 2000. ¥.2, p. 498. Denize 0s intimeros juristas que relacionam, de algum modo, provas, alegagbes {atos, pode-se citar: ALVIM, Joxé Eduardo Carreira. Teoria geral do processo. Rio 154 Dhenis Cruz Madeira Por mais que as teorias da prova se rechacem, por mais que os au- tores divirjam em vérios aspectos, um ponto de confluéncia é encontrado, pois, ainda que por motivos distintos, direta ou indiretamente, todos que estudam o instituto da prova relacionam-no aos fatos e aos argumentos. O renomado processualista Candido Rangel Dinamarco, talvez influenciado por Camelutti™, salienta que 0 objeto da prova no s40 os fatos, que podem, ou nao, existir, mas “o conjunto das alegagdes contro- de Janeiro: Forense, 2005. p. 259.260. ARRUDA ALVIM. Manual de direito pro= cessual evil, 8. ed. Sio Paulo: Revista dos Tribunals, 2003, v. 2, p. 459, CALA- MANDREL, Piero. Estudios sobre el proceso civil. Tradugio de Santiago Sentis Melendo. Buenos Aires: Bibliogrilica Argentina, 1945. p. 378. CAMARA, Alexan- tre Freitas. Ligdes de Direito Processual Civil. 10 ed. tev. e atual. Rio de Janeiro Lumen Juris, 2004, v. 1, p 393, CAPEZ, Femando, Curso de processo penal. 8. ed rev, e alual, Sdo Patio: Saraiva, 2002. p. 251. CARNELUTTH, Francesco, Sistema de direito processual civil 1, ed, Tradugo de Hiltomar Martins Oliveira, Sao Paulo Classik Book, 2000. v. 2, p. 498. CHIOVENDA, Giuseppe. Principios de derecho pprocesal civil. Traducdo de Jose Casais y Santalé. Madrid: Reus, sid. v2. p. 312. CINTRA, Anténio Carlos de Aratjo: GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cindida Rangel. Teoria Geral do Processo, 18, ed, rev. atual, Sio Palo: Malhei- ros, 2002, p. M8, COUTURE, Faduardo J, Fundamentos del derecho procesal civil Buenas Aires: Depalma, 1974. p. 215. DINAMARCO, Cindido Rangel. Instituigdes de direito processual civil 4 ed, rev, e atval, $a0 Paulo: Malheiras, 2004, v.3, p43, FAZZALARI, Elio. Isttuziont di diritto processuale. 8. ed. Padova: CEDAM, 1996, p. 136. GOLDSCHMIDT, James. Derecho Procesal Civil. Tradugio de Leo- sardo Prieto Castro. Barcelona: Labor, 1936. p. 253 e Teorfa General del Proceso, Barcelont: Labor, 1936, p. 130-1, LEAL, Rosemiro Pereira, Teoria geral do proces- 0, 5 ed. Sio Paulo: Thomson-10B, 2004, p. 181. MARQUES, José Frederico, Ma- ‘nual de direito processual civil 9. ed. atual. Campinas: Millennium, 2008. v. 2, p 185, NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Cédigo de Proceso Givil comentado, 9, ed. Sio Paulo: Revista dos Tiibusais, 2003. p. 719, NUNES, Elpidio Donizetti. Curso didatico de direto processual civil. 5. ed. Belo Moxizonte Del Rey, 2004, p. 225, OLIVEIRA, Eugénio Pacelli de. Curso de processo penal. S cd. 2 ir rev.,atual. © ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2005. p. 277. PAIXAO I NIOR, Manuel Galdino da. Teoria geral do processo. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 244, ROCHA, José de Albuquerque. Teoria geral do processo. 7. od. 8. Paulo: Atlas, 2003, p. 44, SILVA, Ovidio Araijo Baptista da; GOMES, Fabio, Teo ria geral do processo civil. 3 ed. rev. e atual. Sao Paulo: Revista des Teibunais, 12002. p. 293. THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual civil = Teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. Rio de Ja- seizo: Forense, 2005. v. 1-p. 456. WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flivio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avangado de processo civil: tecria eral do processo de conhecimenta. 7. ed. rev. ¢ aual, $40 Paulo: Revista dos Tribu= pais, 2005, ¥. 1, p. A278, “Objeto da prova & o fato que deve ser verficado e sobre o qual verta 0 jutzo [..] @ rigor, apenas quem refleir que a prova nao € conhecimento, mas reconheciment, dird que seu objeto imediato é a aftrmagae, que se trata de verficar ¢ seu objeto Imediato o quid afirmado” (CARNELUTT, Francesco, Sistema de direito proces- Sual eivi, 1 ed. Teadusao de Hiltomse Mastins Oliveira, Sia Paulo: Classik Book, 2000. v.2, p. 498) Procesto de Conhecimento ¢ Cognieao 155 vertidas das partes em relacdo a fatos relevantes para 0 julgamento da causa, ndo sendo estes notérios nem presumidos’*"'. Por sua vez, Rose- miro Pereira Leal leciona que “‘o objeto do instituto da prova é a produ- ¢40 da estrutura do procedimento com requisito de causalidade da fun- damentagéo legal (CR/88, art. 93, ines. IX ¢ X) do provimento (ato deci- sdrio), ndo sendo, portanto, o ‘fato’ que” como afirma “é tdo-somente elemento de prova””™. Em se tratando do instituto da prova, percebe-se que, embora existam dissensdes, qualquer que seja o Angulo de estudo, hé que se pas- sar, em maior ou menor grav, pelos fafos, quer sejam encampados por alegasées, quet sejam por elementos Quando se quer provar algo em juizo, qualquer que seja o meio legal eleito, faz-se no intuito de demonstrar um fato itil & alegagao (ou, como diz Dinamarco"”, uma alegagdo que se liga aos fatos relevantes), que, por sua vez, seré uma das bases da fundamentagao do provimento. O vinculo existente entre fato, alegagde € prova, pode-se dizer, 6 de dificil refutagao. Com o estabelecimento do Estado Democrético de Direito, mui- tas das teorias ¢ leis formuladas ao tempo do Estado social ou liberal se mostram incompativeis, razdo pela qual a prova, tal como, 2 cognigao Jjurisdicional, também se apresenta como institute juridico™ justamente or se reger principios e regras afins Neste capitulo, nao se quer percorrer o caminho ja muito bem ex- plorado por Rosemiro Pereira Leal*”, mas tio-somente, esbogar a relagio existente entre o instituto da prova, a cognigdo € 0 Direito Democritico. DINAMARCO, Cindido Rangel, Instituigdes de direito processual civil. 4 ed. rev ceatual, Sie Paulo: Malheizos, 2004. ¥.3, 9.58. LEAL, Rosemico Pereira. A prova na teoria do processo contemparsineo. In: FIUZA, ‘César Augusto de Casto: SA, Maria de Fatima Free de: DIAS, Ronaldo Brétas C (Coords.). Temas atuais de direito processual civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2001 380, ©) DINAMARCO, Cindido Rangel Instituigbes de direito processual civil. 4 ed. rev «atual, Sée Paulo: Malheitos, 2004, ¥.3, 9.58 Conferir nota 32 do Capitulo 1 Sobre a nevessidade de reformulayio da Teoria da Prova no Diteito Democrstico, indica-se o imprescindivele original artigo do Professor Rosemiro Pereira Leal: LE 'AL, Rosemiro Pereira. A prova na teoria do pracesso cantemporineo. fn: FIUZA, ‘CéGar Augusto de Casto; SA, Maria de Fatima Freire de; DIAS, Ronaldo Brétas C (Coords.). Temas atuais de direito processual civil, elo Horizonte: Del Rey, 2001 p. 345-357. 156 Dhenis Cruz Madeira Demonstrar-se-4, entre outras coisas, que a sobrelevagao do Es- tado Democrético de Direito tornou inaplicéveis alguns dos dispositivos infraconstitucionais encontrados em nossos vetustos Cédigos de proces- so 4.2 ATEORIA DA PROVANO DIREITO DEMOCRATICO © homem possui a faculdade'” de agir ¢ pensar e, ainda que nao tenha consciéncia disso, seus atos e pensamentos sdo orientados por teorias'”, Fazese isso ou aquilo, desse modo ou de outro, porque as teori= as que se possuem sio alicercadas e delimitadas previamente, ainda que mal alicergadas ou mal delimitadas. Por esse prisma, se se possui determinado conceito de Direito, vai-se interpreté-lo ¢ operacionalizé-lo consoante a teoria que se segue. Na Ciéncia do processo, se se € orientado, por exemplo, pela teoria do proceso como situagao juridica’”, vai-se tratar a prova como mero componente da alegagao que pode, ou nao, ser acolhida pelo juiz independentemente de fundamentagao da sentenga. Por outra face, se se € orientado pela Teoria Neo-Institucionalista do Proceso, a prova sera um instituto juridico que se constituiré por um meio lcito, que possuiré o objetivo de apreender um elemento cujo produto sera instrumentalizado nos autos, vinculando a fundamentagao do futuro provimento a ser exara- (Que, em realidade, s4a Césigas Procedimentais. Ulizase “faculdade", pois se admite que o homem possa viver (organicamente) sem agir ou pensar (ao menos, de forma live) exerce somente o labor, se se quiser wili- yar a expressio de Hannah Arendt (A condigéo humana. Tradacio de Roberto Ra- 0x0. 10 ed, Rio de Janeizo: Forense Universita, 2003, p. 15), Pode sobeeviver sem pensar, pois essa é uma faculdade da mente humassa (que pode oy nao ser exezeid), Certamente, muitos de nés vive apenas organicamente, por opgéo ou por crcunstine cias impostis, tic-somente para alender 3s necessidades do instinto. Nao se pensa, Taz-se; nio se cria, copiase; nio se consti, compra-se. Muitas dessas limitagdes bumanas do pensar nos sio impingidas desde a infincia por meio de preconceitos, dogmas, culto 3 estética (helo, forma) au pelo modelo de consumo hoje dissertinada, Sobre o tema, Karl Popper (A Iogica da pesquisa cientifica. 10. ed. Tradugio de Leonidas Hegenherg e Octanny Silveira da Mota. Sao Paulo: Caltex, 2003. p. 120) esclarece que "nossa linguagem estd impregnada de feorias: ndo existem enunciax ddos de pura observasao” e que “ndo existem observagdes puras: clas esto impres hndas pelas teorias # so orientadas pelos problemas e acompanhadas pelas tart Cf. MADEIRA, Dhenis Cruz; VELLOSO, Flivia Dolabella; MATA JUNIOR, Helvé- cia Franco; NEVES, Isabela Dias, Processo, Turiigo © Agao em James Goldsch- migt. Inv LEAL, Rosemiro Pereira (Coord). Estudos continuados de teoria do pro= cesso, Porto Alegre: Sintese, 2005. v. 6, p. 77-99. Procesto de Conhecimento ¢ Cognieao 187 do. Pelo exemplo, colhe-se que, ao se analisar 0 mesmo objeto (prova), se se € orientado por teorias distintas (situagdo jurfdica ou neo- institucionalista), chega-se a conclusdes também distintas (a alegacao provada pode ser desprezada pelo juiz ou a alegagao provada vincula € delimita a decisao). Assim, percebe-se que as teorias orientam os atos, sendo capa- zes de modificar 0 modo como se operacionaliza o Direito. Na fnsia de aprender a operacionalizar as leis, muitos dos que iniciam os estudos juridicos desdenham as teorias, Bem-intencionados, querem aprender a fazer (técnica), ¢, para tanto, desprezam as teorias. No entanto, esquecem-se de que uma teoria bem formulada pode contribuir e muito para a técnica jurfdica. Um bom técnico, quase sempre, & aquele que € orientado por boas teorias. Ao que interessa, 0 bom operador juridi- co é aquele orientado por teorias adequadas ao atual paradigma constitu- cional e que se mostram capazes de resistir& eritica de argumentos pura- mente retéricos, As teorias juridicas™, portanto, também orientam a técnica ju ridica"™, Hodiemamente, a prova nao se confunde com 0 meio", 0 ins- trumento™ ow o elemento, possuindo, diferentemente, a natureza juri “* Tmagine-se um exetuplo: o de um pesquisador do Dizeito que consegue formula: © reunit idéias conclusivas (¢ definidoras) acerca do processo, procedimento, jurisdic §20, acto, provimento, competéncia e outros assuntos correlatos. Uma vez fermula- {dos tats conceitos, dito pesquisador oferta suas formal suas proposigdes demonsiram alguma resisténeia (nao necossariamente urna resistén- cia absoluta). A partir dat, pode-se dizer que o pesquisador formulou uma Teoria Provessual, porquanto agrupo idéas conclusivas deatzo de umm tema especfico, qual seja, a processualidade juridica, Nese setido, com apoio em Popper, Resemizo Pereira Leal (Teoria geral do processo, 5. ed. Sio Paulo: Thomson-I0}, 2004. p. 212) pode defini a teoria como uma “resuliamte discursiva (iia conclusiva) de uma reflexdo sa tisfatsria (airmativa ow megatva) da existéncia numa especialidade temética ** Bnsina Aroldo Plinio Gongalves (Téenica Processual e Teoria do Processo. Rio de Janeito: Aide, 1992. p.23) que a “nogto geral da técnica é de conjunto de meios @ dequados para a consecusdo dos resultados desejados, de procedimentos idineos para realizacio de finalidades". No mesmo sentido, Rosemiro Pereial Leal (Te ria geral do processo, 5. ed. Sio Paulo: Thorason-1OB, 2004, p. 211-2) leciona que aéenica 6 um “conjunto de procedimentos, numa relacio mele im, visando resul tados tei. €, para ele, um proceder (fazer) ondenado “Muitos autores de renome, ao conceituarem prova, dfinent-na como meio ou modo slo qual se valem as partes para convencer a juiz acerca da ecorréncia de determinade ato, Neste sentido, pade-se apontax: ARRUDA ALVIM, Manual de direito proces- sual civil. 8. ed., Sdo Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. v. 2, p. 459. MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil 9. ed, tual. Campinas: Millen: dum, 2003. v. 2, p85. NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade 158 Dhenis Cruz Madeira dica de um instituto juridico que, como tal, abriga um conjunto de princf- pios afins extraidos do discurso legal, ou seja: do ordenamento juridico positivado. Decerto, tal instituto juridico se expressa por um meio legal (documental, pericial ou oral), tendo por finalidade aprender ou exami- nar um elemento, cujo resultado seré formalizado procedimentalmente por um instrumento, Assim, meio, elemento ¢ instrumento nao se confun- dem com 0 instituto da prova propriamente dito. Utilizando 0 exemplo de Rosemiro Leal, “a pericia é um meio de prova para o exame de elementos de prova com elaboragdo final 0 laudo, que é instrumento de prova"™® Pode-se ampliar a compreensio com outro exemplo: um tinico fato (v.g., um abalroamento automobilistico) pode ser provado por vérios meios (Pericial, documental ou oral), podendo ser, pela mesma face, ins- ‘trumentalizado distintamente (seguindo o exemplo: a pericial, pelo laudo; a documental, por um Boletim de Ocorréncias e a oral, pelo depoimento transcrito na ata de audiéncia de instrugao) Dessarte, a formulagao de uma teoria da prova passa pelo escla- recimento € delimitagio de seus elementos, meios ¢ instrumentos, nao podendo se confundir o instituto propriamente dito com seus principios formadores (indiciariedade, ideagdo ¢ formalizagdo). Desde modo, apés 0 esforgo cientifico de Rosemiro Pereira Leal, pode-se dizer que o institu- to juridico da prova ‘Cédigo de Processo Civil comentado, 9. ed, Sao Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 719, Entetanto, como se demonstari, o meio de prova néo se confunde ‘oma prova propriamente dita, Discortendo sabre dois sentidos em que se paderia conceituar a prova, Humberto ‘Taeodozo Tinioe (Curso de Direito Processual Civil, Rio de Faueito: Forense, 2005. v. 1, p. 436) afirma que a mesma pode ser vista, em seu sentido objetivo, “como 0 instrumento ow o meio habil, para demonstrar a cxisténcia de um fato". ee sentido subjelive, como “a certeza (estado psiguico) originada quanto ao fato, em virtude do instrument probatério”. Bm que pese 0 respetivel nome do autor, no se pode aco- Ther suas digressdes, pois & prova, em si, nao se confunde com sua instrumentagao, io tendo, ainda, abjetive de produvic um estade pstquice (sie) quanto a0 fato ‘Como “elemento que contribui para a formagio da convicgéo do juiz a respeito da existéncia de determinado fat, aponta-se a obra do processualsta Alexandre Freitas ‘Cimara (Ligies de Direito Processual Civil. 10 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lu= men Turis. ¥. I, p. 393), Consoante se demonstrard, o elemento de prova nso se con- unde com a prova em si. LEAL, Rosemiro Pereira. A prova na tearia do processo contempariineo. In: FIUZA, ésar Augusto de Castto; SA, Maria de Fatima Freire de; DIAS, Ranaldo Brétas © (Cords). Temas atuais de direito processual civil. Belo Horizonte: Del Rey. 2001 350. Procesto de Conhecimento ¢ Cognieao 159 [..] enuncia-se pelos contetidos légicos de aproximagao dos seguintes principios: a) indiciariedade (caracterizada pelos elementos integrati- vos da realidade abjetivada no espago); b) ideagio (exercfcio intelec~ tivo da apreensio dos elementos pelos meios do pensar no tempo); c) formalizagio (significa a instrumentagao da realidade pensada pela forma legal) ‘Ao meio de prova, agrega-se um modelo procedimentat” a que se deve prestar obediéncia. Assim, se se elegeu o meio pericial, hd que se observar as regras legais atinentes, do mesmo modo que, se se elegeu 0 meio testemunhal, hd que se colher o depoimento das testemunhas conso- ante as normas préestabelecidas. Daf por que se mostra adequado afirmar que os meios de prova “sao os veieulas disponibilizados pela lei as partes a fim de que se possam exercer direitos probatérios” ou mesmo “0 pro- cedimento a que se presta obediéncia na produgdo de uma determinada prova’™**. Com efeito, a instrumentagdo da prova vincula-se a0 meio de prova, dai porque, verbi gratia, o laudo pericial instrumentaliza a prova pericial ow a ata de audiéncias (termo de depoimento) instrumentaliza a prova testemunhal, Como se percebe, a instrumentalizagao da prova também deve ob- servar, para sua prépria validade, o modelo procedimental tragado por lei. Como esbocou Fix-Zamudio™, a prova constitui um dos ele- mentos essenciais do processo, visto que a sentenga vincula-se a0 seu contetido, A prova, enquanto instituto juridico, exprime-se “a partir do mundo da realidade dos elementos sensoridveis pelos meios de ideagao Juridica para elaborado do instrumento de sua expressao formal™”, sendo uitil & construgo do provimento, Couture, de forma clara ¢ cientifica, apontou os problemas de quem se langa no estudo da prova: o que é prova; 0 que se prova; quem 6 LEAL, Rosemizo Pereira A prova na teoria do processo contemporaine. In: FIUZA, (César Augusto de Casto; SA, Maria de Fatima reie de: DIAS, Ronaldo Hrétas C. (Co- ‘ords), Temas atuais de direito processual civil Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 348 #7 Cf Capitulo V. PAIXAO JUNIOR, Manuel Galdino da. Teoria geral do processo. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 261 “ FIX-ZAMUDIO, Héctor. Latinoamérica: constituci6a, proceso y derechos humnae nos. México: UDUAL, 1988. p. 501, imine LEAL, Rosemiro Pereira. A prova na toria do processo contemporinco. in: FIUZA, ‘César Augusto de Casto; SA. Mavia de Patina Fete de: DIAS, Ronald Brétas C.(C ‘ods), Temas atuais de dieito processual civ. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 4. 160 Dhenis Cruz Madeira prova; como se prova e que valor tem a prova produzida®", ou, como explica, deve-se delimitar seu conceito, objeto, 0 nus, 0 procedimento € valoracdo. Santiago Sentis Melendo®, apés enaltecer 0 renomado pro- cessualista uruguaio, acrescentou trés problemas: com que se prova, para {quem se prova € com quais garantias se prova. Em Direito Democritico, pode-se dizer que a maior garantia das, partes quanto & produgao da prova é a observancia do devido processo. Por isso € que processualista uruguaio, a frente do seu tempo, obtemperou que “O contraditdrio se produz, pois, antes, durante e depois da produsdo da prova, dentro das formas dadas pelo direito positive. Sua infrasao se sanciona em alguns textos legais com a mulidade da pro- va. Mas, até sem texto expresso deve se admitir, em principio, esta con- clusao™. Como se vé, nao foi em vio que Fix-Zamudio™ buscou em Couture as bases para a formulagdo de uma nova disciplina, hoje larga- mente aceita, intitulada Direito Constitucional Processual Certo € que a prova, salvo em caso de se tratar de lei municipal, estadual ou estrangeirg”, recaird sobre uma alegago que, por sua ver. referir-se-4 a um fato™. Alids, muitas das leis brasileiras”” acolhem a idéia de que a prova recai propriamente sobre alegagies, ¢ nao, direta- mente sobre os fatos. © Bm suas palavas: “los problemas deta prueba consisten en saber que es la prue- Ina: qué se prucha: quicn prucba: cima se prucha: qué valor tiene la prueba produ. ida" (COUTURE, Eduatdo I Fundamentes del derecho proces civil. Buenos ‘Aes: Depalma, 1974. p. 216) © MELENDO, Santiago Sens. La prueba, Buenos Aites: Europa-Amésica, 1979. 10, Confers também citagdo do Professor Manue! Galdino da Paix Janior Tene Ha geral do processo. Helo Horizonte: Dei Rey, 2002. p. 243) ‘Tradugto Livte. Texto Original: “El coniradictrio se produce, pues, antes, durante ¥ despues dela praduccitn dela prucha,denir de Tas formas dadas por ei derecho positive. Su maccidn se sanciona en algunos texios legals con la mulidad de la Prueba. Pero aum sin texo expreso debe dmitre, em principio, est conelsisn (COUTURE, Edvardo J. Fundamentos del derecho procesal civil. Buenos Aire: Depalma, 1974p. 254) % FIX-ZAMUDIO, Héctor. El pensamicato de Eduardo J. Couture y el Derecho Const ‘ucional Proce Boletin Menicano de Derecho Comparado. México, . 10.1. 3, 315-348, septic. 1977 Vide Cédig de Processo Civil brasileiro, at. 337 Diz Manuel Galdino da Paixio Sénioe (Leora geral do processo. Belo Hrizonte: Del Rey, 2002. p. 257) que "Yeca a prova sabre wma alegagdo, normalmente, ree Findon esta a um fo” Content: Cédign de Processo Penal, art. 156, ¢ Consolidagdo das Leis Trabalhisas, wcSl8 Procesto de Conhecimento ¢ Cognieao 181 No Direito Democritico, a obtensio do instrumento de prova por eis ilegais* nao se presta & construgao de um provimento legitimo, pois os mesmos devem ser desalijados da fundamentagio da sentenca ¢, mais ainda, nem devem compor 0s autos (cartuarizados ou eletrénicos). 0 texto constitucional brasileiro” impede que o julgador fundamente a decisio com base em instrumentos de prova obtidos por meias ilicitos. Nao € possivel relativizar, como muitos defendem, as provas obtidas por meios ilicitos™. Da mesma forma, em pais democraticamente frdgil, € com cuidado que se diz que “a ampla defesa autoriza até mesmo 0 ingresso de provas obtidas ilicitamente, desde que, é claro, favordvel a defesa’™", ou que tais provas “poderdo, excepcionalmente, ser aceitas no © Vig. escuta tele(Onica clandestina, assinatura do contrato sob violencia coativa, ccanfecyio de laudo por perito imped, © inc. LVI do art. $° da Constituigéo Brasileira assim prescreve, in verbis: “so inadmissiveis, no processo, as provas obtidas por meio ilicttos Alguns processualistas defendem que uma prova obtida por meio ilfcito pode ser insteumentalizada ¢ juntada validamente aos abtos para fia de fondamentar 0 provie ‘mento judicial, desde que se valha o jalgacor da (naplicavel)teoria da proporcions- lidade alemi ou expresses (obscuras) como “interesse pOblico”, "busca da verdade real” e otras do genero, Alguns autores, inclusive, ehegam a se valer de argumentos ‘metajuridicos e de cunho emotivista para fundameatar tal entendimento,separando a sociedade em "bandidos” e “mocinhos”. Para tanto, costumam amparar sua posigio, que em realidade mascara a violagdo de direitos fundamentas,jastameate, em textos Iegais e em alguns acérdios dos teibunais, valondo-se de uma hermencutieajuridica allamente questiondvel. Dizem que a jurisprudéncia & “remansosa” ou "paciica ‘como se of casos concretos nao Wevessem fer analisados de forma pariculanzada © ‘cuidadosa, Als, em muitos manuais de Dizeice Puocessual, a jusisprudéncia € sere pre “mansa ¢ pacifica” (recordando aqui a obra: STRECK, Lenio Laiz. Hermenéuti- a juridica e(m) crise: uma explorapio hermenéutica da consteugio do Diseito. 5 ced, tev, atual, Porto Alegre: Livraia do Advogado, 2004, p. 82) Inelizmente, em pals de pouca solider democrstica, ainda 6 comum stilizar-se expressdes maniquels- {as (ug. "pessoas de bem e "bandidos") para justicar algumas decisdes que masca- am 0 auionitatismo, Obviamente, os "bandidos”, nessa visio cruel e fombrosiana, 56 podem ser detentos, pobres, analfahetos,prostittas e outros que convenham os at- {ecinitulados “homens de bem responsdveis pela “linapera"” e seguranga da "socie- de civil", Para inelicidade de todos, tal concepeao 6 difundida em riios, prograx mus de TV, jomais erevisias, , de tio enravzada, mostrase diffell extzpé-la, mesmo tas salas de aula, Decerto, a Woria da proporcionslidade 3 o inteesse publica 86 podem ser compreendidos por mentes prvilegiadas (pessoas que se auto-ntialam "detentoras do poder estatal” ou “Tormudoras de opiniio’), razio pela qual nio se prestam 3 fundamentagio de wma devisio efetivamente democritica OLIVEIRA, Eugenio Pacelli de. Curso de processo penal. 5. ed. 2. tir tev. atal amp. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. p. 279. Brise-se, porém, que Eugenio Pacelli de Oliveira € zeloso na admissio da prova iia, tanto € que s6 admite seu emprego ‘quando favorivel A defesae, ainda assim, por conjugagao dos prinefpios da arpa de- lesa e inocéncis (op. cit, p. 279-280). Talver por sua formagao constitacional e pela influéncia de Fazzalars depreendida de sua obra (loc. cit), autor, acertadamente tem grande resisténcia quanto 20 uso da provailfeita em pro! da acusagaa, que quase sempre 60 Estado, 162 Dhenis Cruz Madeira processo, por adocdo ao prinefpio da proporcionalidade dos valores contrastantes’*”, porquanto, ainda que isso possa gerar prejuizos em determinadas situagées concretas, a Constituigo Brasileira foi perempt6- ria ao impedir tal utilizagao, principalmente, quando se conjuga o inc. LVI do art. 5* com os outros principios que integram o paradigma demo- cxitico, Nao se pode abrir mao de um diteito fundamental, principal- mente se esse ultraje se der em prol de um Estado inadimplente que aco- berta 0 descumprimento das garantias constitucionais por meio de estra- nhas expressdes, no Ambito penal, como “seguranga piiblica”, “persecu- 40 penal”, “pretensio punitiva’, “in dubio pro societate” ¢ outras que atabalhoam nossas leis, livros ¢ decisoes. Sabe-se que a valoragao, ou nfo, da prova ilicita constitui um dos problemas que mais tém despertado o interesse pritico € te6rico no continente americano e europeu, sendo que, na América Latina tal estudo mostra-se muito recente”, talvez pelo emudecimento causado por vérios periodos ditatoriais E preferivel afirmar, como disse Bugénio Pacelli de Oliveira em sua obra, que “a vedagdo das provas ilfcitas atua no controle da regula- ridade da atividade estatal persecutéria, inibindo e desestimulando a adogao de praticas probatérias ilegais por parte de quem & 0 grande responsével pela sua produgao”™" (CAPEZ, Femando. Curso de processo penal. 8. ed. rev.e tual. Sio Paulo: Saraiva, 2002. p. 261. Tamibém fazendo remissdo ao principio (teoria) da proporcionalidade, tencontra-se: PAIXAO JUNIOR, Manuel Galdino da. Teoria geral do processo. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p, 284; PORTANOVA, Rui, Prineipios do Processo Ci Vil. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. p. 203; NERY JUNIOR, Nel- on, Principios do processo civil na Constituicio Federal. 7. ed, xv. ¢ alual. Si0 Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 168. ‘Quando da IX Jomada Theroamericana de Diteito Processus, reaizada em 1985 na capital espanhols, ¢ aolivel consitucionalista Héctor Fix-Zaraudio consignou: °..nos ‘oncentraremos en uno de los problemas de mayor significado en la evolucién pro esal tberoamericana, que sélo en época reciente ha despertado el interés y la preo- ‘cupacion de la doctrina la jurisprudencia de Iberoamériea. Nos referimos al pro blema de ta admisiin y valoraciin de la pruebas obtenidasilegalmente, no silo én eb rocedimiento penal sino también en otras ramas de enjuiciamiento, y que ha sido ‘objeto deun desarrollo muy significativo en mumerosos ordenamientos contempord: nneos tanto angloamericanos como en los de Europa continental (FTX-ZAMUDIO, Héctor. Latinoamérica: constitucién, proceso y derechos humanos. México: UDU- AL, 1088. p. 502), OLIVEIRA, Eugéaio Pacelli de, Curso de processo penal. 5. ed. 2 tir. rev. atual mpl Belo Horizont: Det Rey, 2005, p. 289-290, Procesto de Conhecimento ¢ Cognieao 163 Percebe-se, por exemplo, que a obtengio de uma confissio sob tortura retira da prova seu elemento principiolégico basilar, cis que sua base de formagao assenta-se na privagao da liberdade ¢ no uso da forga ilegal (violéncia), 0 que inviabiliza sua utilizagdo (vélida) na estrutura procedimental, A relativizagao de tal regra 6, no minimo, perigosa De mais a mais, ainda quanto ao instrumento de prova obtido por meio ilcito, em nenhuma hipétese se pode falar na aplicagio do prin- Cfpio da instrumentalidade das formas”, pois, em todo ¢ qualquer caso, prejudicaré a parte contritia, ferindo um direito fundamental sobre o qual se fez a coisa julgada constituinte™ Nesse sentido, Rosemiro Leal identificou que: “[...] @ anomalia ideoldgica, tao fascinante e enganosa da jurisdigao sem procedimento (processo) pela qual hoje identificam-se as autocracias engenhosamente disfargadas em democracias |...] hd de passar forgosamente pelo estudo aprofundado da teoria da prova nos Estados de Direito Democritic™” Por certo, a Constituigo nao abre margem para a adogio de provas obtidas por meios ilicitos, tanto no Ambito penal, quanto no ambi- to cfvel, sendo que hoje ndo se justifica a diferenciagao entre prova civil e prova penal” ou entre verdade formal e verdade real”, porquanto todas deitam suas raizes no devido processo. Sobre 0 modo e condigdes de aplicagso do principio da instrumentalidade das for. ‘mas, Aroldo Plinio Gongalves (Nulidades no processo, 2. tir. Rio de Janeiro: Aide, 2006. p.$7-8) ensina: “Quanto aos prinefpios da insirumentaidade das formas, que & lum principio que rege a validade dos atos processuais em geral eda eccinomia proces sual, sao eles no sistema de mulidades, subordinados a dots outros prineipios que com dicionam sua admissibilidade 0 da finaldade do ato «0 da auséncia de prejuco. Se 0 ‘ao iregularmente praticado nav ange sua finalidade, ow se causa prejuco, a instr ‘mentalidade das formas nao poderd prevalecer ¢ ainda que todo o processo deva ser ‘amulado, © principio da economia processual no encontrard aplicaco Sobre arelagio entre os ditetos fundamentais a coisa julgada constituint, confi LEAL, Rosemico Peseira. 0 garantismo processual e dieitos fundameatais liquidos © certas’ nr MERLE, Jean-Christophe; MOREIRA, Luiz. (Org.) Direito e legitimida- de. Sio Paulo: Landy, 2003, p. 338-343. LEAL, Rosemiro Pereira. Teoria geral do processo. S. ed. Sio Paulo: Thomson- TOR. 2004. p. 184, Realizando tal diferenciagso, enconiram-te nomes respeitiveis, como 0 de Eduardo Couture (Fundamentos del derecho procesal civil. Buenos Aires: Depalma, 1974, . 216): “lm sentido juridico, y espectficamente en sentido jurdico procesal, la prux tina es ambas cosas: un método de averiguacién y un méiodo de comprobacién. La prucba penal es, normalmente, averiguactin, busqueda, procura de algo. La prueba {isl es, normalmente, comprobacién, demostracién, corroboracién de la verdad 0 Jfalsedad de las proposiciones formuladas en el jucto. La prueba penal se asemeja a 4a prueba cienifca; la prueba chil se parece a la prueba matematica: una operact ‘Gn desiinada a demosirarla verdad de olra operactén 164 Dhenis Cruz Madeira Diante de Cédigos ¢ leis infraconstitucionais criados em regi- mes autocriticos ou comunitaristas”"” anteriores, evidencia-se a necessi- dade de formulagao de uma teoria da prova adequada ao atual paradigma do Estado Democratico de Direito, 43 COGNICAO E SISTEMA PROBATORIO NA DEMOCRACIA Trés so os sistemas histéricos de avaliagao das provas: 0 sis- temia da certeza legal, o da livre convicgao e o da persuasao racional. O primeiro deles foi o sistema da certeza legal”"', sendo que o termo “legal” remete a uma lei divinizada’™, nfo possuindo o significado cempregado atualmente, Pelo que se esbogou", depreende-se que tal sis- tema foi utilizado no procedimento germinico primitivo’ e no procedi- mento da inquisigao catélico-medieval”. A medida que o sistema de julgamento foi se racionalizando, principalmente por influéncia da (hoje inaceitavel) doutrina escolastica”’, 59° Como se vu, toda verdade processualé de cero modo, formal, eis que s6 pode se extaido dos anos (carlares ou eleiénices)e nao fora dles. Sobre'a tema indica- Se: SOUZA, Carlos Antnio, Astos como limite Bermeneuico de verdade formal © no proceso. fn: LEAL, Rosemio Peteta (Coord). Estudos continuados de tee dria do processo Porto Alegre: Sintese, 2001.2 Referindo-se aqui ao Estado do Bem-star Social, ‘* Tamlbém charnado por alguns de sistema da ceteza moral do legislado, da verdade legal e da verdade formal os tanfado, tal como aponta Fernando Caper (Curso de processo penal 8. ed ev. calual. 0 Paul: Sarva, 2002p. 266) LEAL, Rosemiro Pereira. Teoria geral do process. 5. ed. Sio Paulo: Thomson- OR, 3004. 179, 88 Cf inicio da stem 2.2. do Capito IL a liggo de Carlos Alberto Alvaro de Oliveira (Do formalismo no procesto civil Sio Paulo: Sava, 1997. p. 29). "0 processo medieval wlemdo consti a mals trem manifesto moderna da asim chamada teota da prova legal. teor do pensamento ewoldstco ¢ de flsofa arstotdica,entZo dominantes™ Tem outta Pate (Op. cit, p. 156) "Nas ordenamentos mais remotos, a exemple do aniigo pro {esso gemmnico,o sistema da prov legal reflera um enraizado tetimento dei persicae misc incumbindo do juts exclasoa fan de controlar com sua pre- Senea a regularidade da realizado das provas de modo garanir acatamento a0 renitado alcancado por meio da autoridade pripria de se oficio. Nenhuma rele Seanciaexibia eno d conscgdo judicial, pois era crenga geral de que a propria di Lindade decidia sobre a justia eiyustica na prova da crus 5 Cf BASTONE, Juliana de Carvalho, Pocesso de conhecimeato ¢ teeta da prova = implicagdes logicas.In- LEAL, Roremico Pereira. Estados continuados de teor Ao processo. Pato Alese: Sinise, 2000.1, p34 {A doutrina escolistica apregoava a imperfeiga da hamem e sua natureza pressupos- tamente comupta. CE. OLIVEIRA, Carlos Albert Alvaro de. Do formalism no process civil. Sto Paulo: Sarva, 1997. p. 137 Procesto de Conhecimento ¢ Cognieao 185, criou-se um modelo de avaliagao das provas em que cada uma tinha um valor pré-taxado"” ¢ aprioristico, sendo que o juiz deveria analisé-las quase que matematicamente quando do julgamento. Com o sistema da certeza legal, tentou-se realizar um maior controle da atividade judiciéria c, nfo obstante sua atual defasagem, ge- rou avangos frente ao supersticioso procedimento primitivo barbaro. Até hoje, € comum encontrar juristas que, no ambiente forense, dizem que a conlissio é “a rainha das provas”, sem saber que estéo atribuindo um valor predeterminado a prova, reavivando o antiquado sistema da certeza legal segundo sistema, o da livre conviego, deu margem ao pro- cesso dispositivo, de tipica influéncia iluminista™” e liberal, tendo a lei fungao secundaria, pois o direito a ser aplicado provém ¢ advém das deci- sdes judiciais. E um modelo adotado pelo sistema common law.°? 5 sistema da prova legal ainda enconteaabzigo na legislagdo vigente, como € @ caso do art 366 do Cédigo de Processo Civil (nesse sentido: WAMBIER, Luiz Rodrigues ‘ALMEIDA, Flavio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo, Curso avangado de [processo civil: teora geral do processo de conhecimento. 7. ed rev. e sual. Sao Pat- To: Revista dos Tribunais, 2008. v1, p. 429), Segundo Femando Caper (Curso de rocesso penal, 8. ed, ev. atual, $30 Paulo: Saraiva, 2002. p. 266), 0 sistema da prova legal vigora no direito como ressalva & regia geral, podendo-se apontar alguns Gisposiuves do Cédigo de Processo Penal brasilea que exemplifcam: ats, 158 (quando a infragio deixar vestigios. nem a confissio do acusado supre a falta doe xxame de corpo de delito, limitande-se o julgador & prova pericial), 185 (estado de pessoas somente se prova mediante certo, nfo se admitindo a prova estemaunbal) © 4406, § 2° (proibigdo de juntada de documento}, todos do Cédigo de Processo Penal 'Na mesma linha, Carlos Alberto Alvaro de Oliveira (Do formalismo no processo ci- vil, Sio Paulo: Saraiva, 1997, p. 156), em nota de rodapé, tar outeas limitagoes da prova, agora, do Cédiga de Pracesso Civil Brasleizo: auts, 302; 319, 334, TV; 343 espectivos parigrafos, 359; 388; 366; 368 370, sogunda paste: 373. 376, 378; 379, 401; 406 e respectives pardgrafos. Em tempo anterior, Francesco Carnelutt (Sistema de direito processual civil. ed. Tradugio de Hiltomar Martins Oliveira. Sao Paulo Classik Book, 2000. v.2, p. 498), discorrendo sobre o objeto da prova e a histéna do ‘processo romana e germnico (0s juizos de Deus e a figura da prova integral), havia ‘onsignado conclusao semelhante: "Nao se deve wereditar que a desaparecimento de ais insitigces tenha eliminado a prova integral do processo moderno: estou con vencido, pelo coniniri, de que a faneao da prove integral pode ser recomhecida em lalgumas figuras de prova legal documental submetidas ao regime particular, como ‘io o titulo executivo © 0 titulo de crédito Cf. OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de, Do formalismo no processo civil. Sie Paulo: Saraiva, 1997. p. 159. BASTONE, Juliana de Carvalho. Processo de conbeci- ‘mento ¢teoria da prova — implicagdes ldgicas. In: LEAL, Rosemiro Perera. Estudos continuados de teoria do processo. Porto Alegre: Sintese, 2000. v. 1, p95. CI. LEAL, Rosemio Pereira. Teoria geral do processo, 5. ed. Séo Paulo: Thomson- TOR, 2004. p. 180. BASTONE, Juliana de Carvalho. Processo de conhecimento ¢teoria dda prova ~ implicagdes I6gicas. n: LEAL, Rosemiro Pereira. Estudos continuados de 166 Dhenis Cruz Madeira Tal sistema s6 foi efetivamente implantado e delimitado com as leis processuais civis da Alemanha ¢ Austria de 1879 ¢ 1898™, respectiva- mente, sendo que a adogo da livre convicgao trouxe consigo um quase- abandono do procedimento escrito em prol da prevaléncia da oralidade. Fécil perceber que 0 “sistema de la libre conviccién levado hasta sus tiltimos limites, nos es sino un régimen voluntarista de aprecia- ccién de la prueba, paralelo con el del derecho libre preconizado para la interpretacién de la ley". Na livre convicgS0, 0 juiz adquiriria 0 con- vencimento da ocorréncia dos fatos com a prova dos autos, fora da prova dos autos e até contra a prova dos autos”. Registre-se que, tanto no sistema da certeza legal, quanto no sis- tema do livre convencimento, privilegiavam a dominagio estatal em detri- mento do povo. E esse o entendimento de Juliana de Carvalho Bastone: Curioso observar, que no sistema probatério da certeza legal, que corresponde ao processo inquisitério, e no sistema probatdrio do livre convencimento, que se relaciona com 0 processo dispositive, existe uma caracteristica em comum, qual seja: a implantagao de sistemas que garantam o poder das instituigdes dominadoras e autoritarias so bre o pove’ O terceiro ¢ tltimo sistema, o da persuasao racional, apresen- ta-se como que melhor tragou 0 modo de valorizagao das provas, abrin- do passagem para 0 processo de conhecimento contemporineo, pois a liberdade nao € desmedida como no sistema da livre convicgao, ea lei no & divinizada e taxadora como no sistema da certeza legal. A atual compreensio desse sistema deve ser a seguinte: o juiz valoriza as provas, vinculando-se, porém, ao argumento das partes ¢ 20 ‘ordenamento juridico, devendo fundamentar sta decisao nesse sentido, teoria do processo. Porto Alegre: Siatese, 2000. v1, . 97. No mesmo sentido, 60 che seextzal do reisuo de Eduardo Couture” Fundamentos del derecho procesal {ivi Buenos Aires Depalm 1974p. 275-6): “El sistema de libre conviccion es #5 Ie'adaptable a clertas materias muy especiales, al jurado popular. No parece ser Aplcable al proceso cil Digamos, sin embargo, queen lo Estado Unidos se apica bin que se peretba reacetin importante contra CE. OLIVEIRA, Cactos Alberto Alvaro de. Do formalismo no process Paulo: Saraiva, 1997. p. 159 ®! COUTURE, Eduardo 1. Fundamentos del derecho procesal civil. Bucnos Aires: Depalma, 1974 p27, % Idem, p. 27. % ASTONE, Juliana de Carvalho. Processe. de conhecimento ¢ teria da prova = Amplicagdes Iégicas In: LEAL, Rosemsico Peters. Estudos continuados de teoria do processo. Pesto Alege: Satese, 2000. . 1, p99. Sto Procesto de Conhecimento ¢ Cognieao 187 Assim, da excessiva liberdade conferida pelo sistema anterior, nasce o dever funcional do juiz de fundamentar a decisio™, analisando-se todos os vértices do objeto litigioso delimitado argumentativamente pelas partes", Com isso, as “bases da convicedo que se formou 56 podem sair dos autos, ndo devendo a Juiz utilizar de ‘conhecimento privado’ dos fatos porque 0 mundo do proceso é 0 universo que os autos retratam’**, Veja- se que a génese de tal sistema, no ordenamento brasileiro, € encontrada desde as Ordenagdes Filipinas’, que rejeitava a livre convicgao. Ressalte-se que € inviavel a avaliagio eqiiitativa dos fatos™, pois o proceso de conhecimento contemporaneo baseia-se no principio da legalidade™®, nao ansiando pela equanimidade do decididor. O atual Quanto 3 fundamentago das decsdes, alguns autores, seguindo tendénciajurispru- dencial, defendem que o juiz nae tem o dever de passar por todas as alegagdes das Dates, bastando a fundamentagdo sueita (que multas veres nd € sina, esis ie completa). Ora, com jf insstetemsente dito no presente trabalho, 0 provimenta ‘no € um ato solteio do julgador,sendo, ao contro, Lruto do debate dialgico- procedimeatal das partes ~ 9 provimento legtimo € resultado dos argumentos tazidos pels partes, anda que passando pela efagao. Em sentido distin a0 aqui defend Ao, dente muitos jursasrenomades, Manvel Galdino da PaixzoTonior (Teoria ge ral do processo. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 267), afta, in verbis "Os des ‘lobramentos todos do prineipio do contraditério se posiivam entre as pares, fcan {io parae Juz o cumprimento dos deveres funciona, com este, de fundamentar st as decsdes alo como essencial,realidade que deveria ser consierada por quem se Sentsse tentado a pensar que 9 drgo julgadorseja um participante dos debates, ‘ome conseqiinca,tvese 0 nun «ao fandamentar a deca, rebate, tm por im todos os argumentos em contrrio que encontrasse nos autos Com 0 texpeito devi do ao processulistamineio,apés as contnbuigdes de Elo Farraan e Arolde Plinio Gongafves (pelos dois, india-se: Téeniea Processual e Teoria do Proceso. Rio de Janez: Aide, 1992), dove-se entender que o prinepio do contadiério vincula a Tundamentago da deciso,razao pela qual € vedado ao ui jlgat Sem pasar pos tox clas as alegaybes das pats, ainda que pavaffutago fundameatada. S6 asses pase tes tert coniato com a racionalidade da decisioe #6 assim poderso exercer, eleva. ‘mente, a ampla dferae 0 contadito %5 CL LEAL, Andsé Cordeito, O contraditéri © a fundamentagio das decisies no Aireto processual democratico. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002 p. 101% PAIXAO JUNIOR, Manuel Galdino da, Teoria geral do processo, Belo Horizonte Del Rey, 2002. p. 271. OLIVEIRA, Carlos Alber Alvato de. Do formalismo no processo civil. So Paso: Sativa, 1997. 32. Pelas Odenagdes Flipinas (Livro 3 tule 66) cabia ao juiz de- idir segundo 6 que estivesse alegado e provade nos autos. O jlgarpento segundo a ‘onscigncia era facaltado somente ao principe, porque sozaeate ele mio conheciast- pen % De modo dstint, confer: WATANABE, Kazuo, Da cognigdo no processo civil 2 cd. Campinas: Bookseller, 2000. . 62. Nese sentido: BASTONE, Juliana de Carvalho, Processo de conhecimenta e toria cha prova ~ itplicages légicas, In- LEAL. Rosemsra Pereira, Estudos continuados Ae eoria do process Peto Ags: Sates, 2000.1, p98. 168 Dhenis Cruz Madeira sistema juridico de apreciagéo de provas funcionard ainda que o julgador nao possua virtudes pessoais, bastando que ele observe a atual principio- logia constitucional em vigor. No sistema da persuasio racional, a conclusio da decisao liga- se logicamente ao restou alinhavado argumentativamente nos autos*°, azo pela qual a parte dispositiva da sentenga passa a ser resultado I6gi- co da apreciagio minuciosa, feita na parte motivacional, das alegagies das partes ¢ instrumentos de prova até entéo presentes na plataforma pro- cedimental Diferentemente do que se diz comumente, nem 0 art. 131 do ‘digo de Processo Civil, nem o art. 157 do Cédigo de Processo Pe- nal’ asseguram a livre conviegao do julgador, pois, como se disse, a cogni¢ao jurisdicional do juiz é limitada e vinculada ao devido processo € 2 atividade cognitivo-argumentativa desenvolvida pelas partes a0 longo da estrutura procedimental. Inexiste a livre convicgo, porquanto deve ser a mesma constantemente vinculada ¢ fiscalizada. E nesse sentido que deve ser entendido o sistema da persuasio racional Como se vé, na atualidade, o sistema da persuaséo racional se faz. em bases processuais ¢ normativas prévias, apoiando-se no principio da Reserva Legal, razio pela qual a convicgio do julgador mostra-se condicionada aos juizos secundum legem’™, e ndo mais secundum cons- cientiam. AL, André Cordeixo, O contraditério e a fundamentagio das decisies no processual demoeritico, Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, p. 101-8, teoria da prova ~ im- \L, Rosemiro Pereira, Estudos continuados de teoria do processo. Porto Alegre: Siniese, 2000. v. 1, p98. © att 131 do Cédigo de Provesso Civil presereve que “o juic apreciard livremente a prova, atendendo aos fatos ecircunstancias constantes dos autos, ainda que ndo ale- ‘sados pelas partes, mas deverd indicar, na sentenga, os mottvos que The formaram 0 Convencimenta”. Obviamente, tal dispositive «6 pode ser interpretado via hermené= ‘ica constitcional, razao pela qual se pede afirmar que os agentes piblicas nao pos- ‘sem, ap6s 0 texto de 1988, discricionariedade ou liberdade, ¢ sim) fungées devida- mente limitadas pelo Devide Processo, O Diteito Democritico despreza toda forma e deciséo solitira, estimulande, ao revés, a decisio compartilhada. tinte, dentve muitos: CINTRA, AatGnio Cutlos de Aragjo: GRINOVI grin, DINAMARCO, Cindido Rangel. Teoria Geral do Processo. 18. ed. rev. ¢ 2 ‘ual, So Paulo: Malheiros, 2002, p. 352, [Em sentido distinto, dentre outros: CAPE7, Fernando. Curso de processo penal. 8 cd. rev.¢ tual. Sio Paulo: Saraiva, 2002p. 267 EAL, Rosemito Pereira. Teoria geral do processo. 5. ed. So Paulo: Thomson- 1OB, 2004. p. 180, Procesto de Conhecimento ¢ Cognieao 169 Mesmo Liebman™, que, como seus seguidores, defendia a pre- valéncia da (hoje obsoleta) livre conviccdo probatéria, vinculava-a as bases normativas prévias. Disse-se que 0 novo paradigma constitucional propiciow uma ‘mudanga de foco no Direito na medida em que o Estado deixou de ser © centro da hermenéutica juridica para dar lugar a0 povo. Tal mudanga irradiou para todo sistema jurfdico, inclusive, pata a atividade cognitiva que deixou de ser uma atividade exclusiva do juiz para ser também das partes. A cognigao passou a exigir o compartilhamento da valorizacao das provas ¢ argumentos constantes nos autos (cartulares ou eletrdnicos). As partes ¢ 0 juiz, ao atuarem procedimentalmente, devem analisar as provas © argumentos em conjunto. Por conseguinte, o sistema da persuasio racional, ao menos pe- rante 0 Direito Democritico, nio pode mais se basear, como a maioria dos processualistas brasileiros consignam, na livre conviesao do julgador, pois nao basta que o juiz decida ao seu alvedrio ¢ fundamente racional- mente, ainda que se valha de dispositivos de lei, porquanto ha que passar pelos argumentos das partes construidos procedimentalmente. Nesse sentido é que André Cordeiro Leal é preciso: A questio de fundo que & deslembrada pela afirmativa de que o juic é livre para decidir, bastando que motive ‘racionalmente’ sua decisao, € exatamente a da prépria ‘racionalidade’ decisional no Estado De ‘mocratico de Direito, porque o jut. mediante mera indicagao de tex tos legaise de formulas de que se utilizara para aplicagdo das normas «a0 caso posto extirparia das partes o direito fundamental de construir dliscursivamente a prépria racionalidade deciséna. Mais do que garantia de participasao das partes em siméirica pari- dade, portanto, a contraditério deve efetivamente ser entrelagado com ‘ principio (requisite) da fundamentagao das decisdes de forma a ge- rar bases argumentativas acerca dos fatos ¢ do direito debatido para a motivacdo e das decisées. © LIEBMAN, Enrico Tullio. Corso di diritto processuale civile. Milano: Dott, A Giutfe, 1952. p, 148-9, Disse « processualista salina que, como se sabe, foi o maior influenciador do Cédigo de Processo Civil e da tradicional doutina brasileea: “Nas: ‘ce cosi um regime delle prove compleso, in cat prevale il principio della lbera con- vinzione del giudice, temperato e limitato da aleune regole di prova legale, che dis ongono 1 limit di ammissibilta il grado ai efficacia di aleuni mezei di prova ‘Tradugso livre: "Nasce assim um regime das provas complexo, no qual prevalece 6 principia da live conviegao da jz, temperado e limitade por algumas regras de pro- ‘va legal, que disciplinam os lnutes de admissiblidade e o grau de efiedeia de alguns meio de prova”. x70 Dhenis Cruz Madeira Uma decisdo que desconsidere, ao seu embasamento, os argumentos producidas pelas partes no iter pracedimental sera inconsitcional @ rigor, ndo serd sequer promunciamento jurisdiional, tendo em vista que Ihe faltaria a necesséria legitimidade [...)°™. Somente assim o sistema da persuasio racional pode ser enca- rado e empregado no atual paradigma constitucional. Porém, infelizmen- te, a maioria dos processualistas brasileiros desconhece as repercussdes praticas do principio constitucional do contraditério frente ao sistema probatério, limitando-se a dizer que, por um lado, o sistema da persuasio racional confere liberdade ao julgador quanto & apreciagao dos instrumen- tos de prova, ¢, por outro, que para que tal liberdade exista, basta que 0 decididor fundamente sua decisio™. Por certo, tal concepgao nao € sufi- ciente para tragar um sistema probat6rio adequado ao Estado Democriti- co de Direito, porquanto se torna imperioso salientar que a base motiva~ cional da decisto € compartilhada, nao sendo mais atributo exclusivo do julgador, Na atual teoria da prova,a valoragdo corresponde & percepgio de existéncia do elemento de prova nos autos (forma cartular ou eletrdnica), a0 asso que a valorizagdo consiste o apontamento da importancia do elemento de prova para a conclusio do provimento, isso implicando uma andlise téc- nica, ldgica e juridica do que vem a representar aquele instrumento de prova para a sentenga e o objeto litigioso. Por isso & que a “valoragdo ¢ 0 ato de ‘apreensao intelectiva do elemento de prova e a valorizagéto & 0 ato de en- tendimento legal dos conteiidos dos elementos de prova”™” Repise-se que tal valoracio e valorizacao, no atual modelo cog- nitivo, nao é feita somente pelo julgador, mas também pelas partes, vez que as alegagdes dessas ihimas em toro da prova vinculam o julgador quando da prolatago da sentenga, sendo inequivoco que o juiz. deve pas- sar pelos argumentos das partes, ainda que para rejeiga0, na fundamenta- do decisional. Mostra-se oportuna a transcrigo: E necessirio que 0 observador se encaminke para a valotizagio da prova, comparando os dversos elementos de prova da estraura pro- Cedimental, numa escala gradativa de relevancia,fxando sua convic- © LAL, André Cordeiro. O contraditério ¢ a fundamentagio das decisis no drei- to processual democratic. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p. 1045 2 Lem, p98 © LEAL, Rosemito Pe TOR, 3004. p. 188 a Teoria geral do processo, 5. ed, Sio Paulo: Thomson- Procesto de Conhecimento ¢ Cognieao im edo nos pontos do texto probaticio que a lei indicar como preferenci- ais « quaisquer outros argumentos ou articulagées produzidas pelas partes" Veja-se que Francesco Camelutti, muito antes do movimento constitucionalista evidenciado na década de oitenta, j4 acenava para a importincia da participagao das partes em toro das provas, dando a se- guinte ligdo: [..] quem assiste ao espetdculo de um processo, vé as partes com seus uxiliares; vé os jufzes com os seus, € 0 que mais v8? Fregitentemente vé outros homens, a quem as partes e os jutczes inter- rogam ¢ escutam. Ou as partes e os jutzes léem papéis ou livros, ow observam objetos: um campo, um edificia, um modelo de navio, uma amostra tira de um lote de mercadoria, e assim sucessivamente. Nao resta diivida de que estes homens ¢ estas coisas sao um quid com 0 ‘qual, assim como com as outras partes e com o drgdo judicial, forma- se 0 processo; €, portanto, um elemento deste Pergunte-se a um advogado que nome se dé a este terceiro género de elemento, ele responderd que se chama provas’”. Percebe-se que o processualista italiano, muito antes dos contor- nos teGricos que tragam 0 Direito Democritico contemporaneo, como grant- de cientista que era, esbogava (apenas um esbogo, frise-se) a importncia da atuagdo das partes em tomo da valoragao ¢ valorizagdo das provas. Na valoragao e valorizagdo das provas, 0 aspecto psicoligico ou a singular inteligéncia do julgador™ ngo sdo fatores preponderantes, vez que hi que se sopesar, pela via argumentativa, a valoragao e valorizagao das provas feitas pelas partes. A atividade cognitiva do julgador, como precitado, é provocada e delimitada pela atividade cognitiva das partes. ‘Aligs, na atualidade, nao se pode conceber outra forma de cog- igo sobre as provas, porquanto 0 Direito Democritico rejeita a partici- pagdo solipsista do agente governativo, in casu, do juiz. Com rario Cale mon de Passos rememorou: LEAL, Rosemiro Perea. Teoria geral do processo. S. ed. Sio Paulo: Thomson- TOB, 3004. p. 188, CARNELUTTI, Francesco, Sistema de direito processual civil. 1, ed. Tradugéo de Filtomar Mastin: Oliveita, Sao Paulo: Classik Book, 2008. . 2, p. 495. (Negsto nosso). De modo distinto, dentre dezenas de processualistas de peso, pode-se apontar: WA~ TANABE, Kamo, Da cognigio no processo civil, 2. ed. Campinas: Bookseller 2000, p. 38-60, PATXAO JUNIOR, Mantel Galdino da. Teoria geral do processo Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 249. m Dhenis Cruz Madeira Poderemos dizer que se esté na moda (ou estava, quando alcangou seu auge a critica marxista ao Estado de Direito Democratico) em- prestar-se tal primazia ao coletivo e ao sovial a ponto de quase se as- Jfixiar 0 pessoal ¢ 0 individual, sobrevive como postulado essencial a0 Estado de Direito Democrética a eliminagao de todo e qualquer se- thor e 0 impedir-se a concentrasdo de poder num sé individuo ow in dividuos, seja no espago privado, seja no setor publico™ Nao pode o julgador, na fundamentagao da sentenga, agir como se uma prova ou uma alegagao da parte inexistisse. E defeso ao juiz, ao seu livre alvedrio, escolher qual ou tal instrumento de prova ser utilizado no provimento, com a rejeigao silenciosa de outros, constantes nos autos cartulares ou eletrOnicos. Se quiser atuar de forma demoeritica e prolatar uma decisio legitima, deve o julgador passar por todas as alegacoes das partes e por todas as provas jungidas, ainda que nao valorize um ou outro argumento, um ou outro instrumento de prova. Como sobredito, devem as partes Se apresentar como co-autoras do provimento, Nessa linha, com a experiéncia de um advogado militante, Ro- semiro Pereira Leal reflexiona: © que mais se lamenta, na pritica, é 0 julgador escusar-se de valorar 4 prova, isto é, sequer dizer que vi a prova nos autos, motivando in- terposi¢do de embargos declaratérios que, muitas vezes, também ndo sao lidos pelo julgador ow sido interpretados como procrastinatérios, mesmo se sabendo que a parte precisa pré-questionar aspectos di bios do procedimento para Ihe ensejar a devolutibilidade recursal das (questées ao conhecimento dos niveis superiores de jurisdigdo™. %* PASSOS, 1.1. Calmon de. Direito, poder, Justiga e processo: julgando os que nos jvlgam. 1, ed, 4 tit. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 92 %© LEAL, Rosemito Perera. Teoria geral do processo, 5. ed. Sio Paulo: Thomson- TOR, 2004p. 188. Mostranrse acertados os dizeres do eminente processualista mix neo. Veja-se que a expressio “niveis superiores de jursdigao”,empregada ao final do techo transerto, $6 pode ser entendida com “niveis superiores de competéncia jo- ‘ssdicional", ver que, como hem sabe e ensina o grande profestor, a janstigSo € uma fungio estaial de atvagao dos conteddos da lei, enquanto que a competéncia € uma parcela da junsdigio atbufda a cada drgio estatal (ou, como diz na pagina 201 da bra clada, a competéncia é uma “eypectalizagao da atlvidade juisdicional”). A jue ‘edigio € una, sendo que o qe existe € uma conpeténcia para instrugao ¢jolgamen- to1em primeira instineta (de atninuigf via de rega, dos juizassingulares) e come peténciarecursal (de atnbuigdo dos tsbunas, quae sempre). Do mesimo modo, quate fags pnelpos recutsais, mostranse mais acertado diet daplo grau de compeiencia, {do que emspregar a ditundida expressio duplo grau de jursdigdo. 0 que se depre- fede da ligao de Diele ose Coelho Nunes (0 recurso como possibilidade juridico- dliscursiva das garantias do contraditério e da ampla defesa, Belo Horzonte, 2003. 184f. Dissenagéo. (Mestrado em Dist Processual), Pontificia Universidade Procesto de Conhecimento ¢ Cognieao 173 A atividade cognitiva do juiz.¢ das partes, no que tange &s pro- vas, quase sempre gira em tomo da demonstragao da ocorréncia de fatos que geram efeitos juridicos titeis ao discurso processual ¢ & formagio do provimento, Se uma parte quer fixar uma alegagdo factual, quet faz8-lo porque aquele fato alegado Ihe interessa, ou melhor, é-Ihe favordvel se for valorizado em sentenca. Por tudo isso, percebe-se que Piero Calamandrei se equivocou ao tentar encontrar semelhancas entre a atividade processual do julgador ¢ a atividade realizada pelo historiador™’, pois esse iltimo, diferentemen- te do juiz, apresenta a sua versio dos fatos do passado, enquanto o julga- dor nao traz.a sua versdo, mas a extrai das alegagdes das partes, das tes- temmunhas e dos instrumentos de provas. O juiz. no deve reconstituir 03 fatos, mas, apreciar as alegagdes e instrumentos de provas consoante a processualidade juridi: Calamandrei afirmou que tanto os juizes como os historiadores dao aos fatos certa qualificagao e, muito embora tenha afirmado que os critérios de investigagao dos dois sejam distintos™, a comparagao reali- CCat6lica de Minas Gerais. p. 106. Também encontrado em sua obra: Direito Const tucional ao Recurso ~ da teoria geral dos recursos, das reformas processuais ¢ dda comparticipacao nas decisies. Rio de Janeizo: Lumen Juris, 2006), verbis:"O sentido do daplo grau de jursdigdo nao se encontra realmente ligade a possbilidade de existéncia de vrasjurisdigdes, ou seja, de diversas atividades pelas quais o Fs lado, com eficicia vinculativa lena, elimina a lide, declarando e/ou realizando o di reito em concreto e/ou de diversas atividades desenvolvidas pelos Sredos judicidrios predispostos ttutela das direitos, Essa diversidade nao possvel, uma vez que a jc risdicdo é una, qualquer que seja 0 confit a se resolver, mesmo que seus Srgios, Seu graus e seus atos sejim plirimos. Bessa forma, o term duplo grau de jurist {edo ndo seria 0 mais perfeito, apesar de tradicionalmente ser assim denominado, ois este diz respeito a wma pluralidade de graus de competéncia, permitinde wm di ‘plo grau de cognigio julgamento. O duplo grau poder-sesia denominar, assim, co ‘mo tm ‘dupio juizo sobre 0 meérito\, de forma a permittr que para cada demanda se: Jam permiidas dias decisies vilidas ¢ completas proferidas pro juitos dversos. As sim, permite-set@o-somente a decisdo om segunda grau de questoes jd decididas em primeira”. Registtese que Rosemito Pereira Leal (Relativizagio inconstitucional a coisa julgada ~ Tematica processual e reflexdes juridicas. Belo Horizonte: De! Rey, 2008. p. 21, in fine) também emprega a locugio “duplo grau de competéncia" (© ‘nde de "urisdigda”) em obra mais recente Disse o processualista italiano: “Es corriente enire los procesalistas, especialmente ela sistematica dela fase de cognicion, el uso de expresiones que aproxinan la ac lividad del juez.a la actividad del hstoriador. El juez. lo mismo quel historiador, est llamado a indagar sobre hechos del pasado ¥ a declarar la verdad de los mis ‘mos; del juce! como del historiador, se dice también que no debe levar a cabo una Tabor de fantasia, sino una obra de eleccign y de consiruccién sobre ‘datos’ preexis: tentes". (CALAMANDRET, Pieto, Estudios sobre el proceso civil, Traducao de ‘Santiago Seatis Melendo, Bucnas Aire: Bibliogesfia Argentina, 1945. p. 107), “ CALAMANDREL Piero. Estudios sobre el proceso civil. Tradugio de Santiago Sentis Melendo. Buenos Aires: Bibligritica Argentina, 1945. p. 108. Transcrevesse a4 Dhenis Cruz Madeira zada pelo processualista italiano ainda é impregnada de solipsismo, na medida em que 0 juiz seria o encarregado de impingir a (sua) verdade™? sobre a alegacao factual das partes. Em sentido préximo, Chiovenda, diferenciando a prova cientifi- ca da prova judicial, j4 havia consignado que “la investigacién del juez civil no es tan libre camo la del cientifico"™*. No entanto, Chiovenda, tal como Calamandrei, ndo conseguiu abandonar o solipsismo decisional. Contudo, ainda timidamente, Piero Calamandrei esbogou a im- prescindibilidade de limitagdo da atividade cognitiva do juiz frente as provas e a necessidade de se observar as normas processuais: Una vee ha establecido, tomando como guta las alegaciones de las partes, cules son las circunstancias singulares controvertidas sobre las que esté Hamado a indagar, el juez ni siquiera tiene libertad de u- tiliear para la realizacién de estas investigaciones los medios que su aagudeza le puede sugerir como més idéneos para conocer la verdad. Al llegar a este punto entra en juego otro principio fandamental del proceso, sesin el cual en juicio la verdad no puede ser declarada ci- ‘erta sino con la ayuda de determinados pracedimientos Idgicos cor- respondientes a algunos tipos fijados de antemano por la ley, que se denominan pruebas por excelencia, con lo cual queda dicho que la verdad conocida por el juez con medios no correspondientes a estos ‘esquemas no puede valer en juicio como verdad, por muy firme que sea su intima convieci6n, El principio ‘iudex secundum probata deci- dere debet’ significa, pues, no solamente que en juico la verdad no puede ser probada sino con aguelles procedimientos catalogados; $i: ino que significa, ademas, que cuando el juez posea de ciencia propia a fonte: “..para el juez son siempre criteriog estictamente jurdicos, mientras para L historiador seri erterios de naturaleza diversa..". Em ov%to pont, Piero Cae mandel (Estudios sobre el proceso civil. Tradugio de Santiago Seatis Melendo Buenos Aires: Bibliogrfica Argeatina, 1945, p. 111) afiema que ojuiz, na econstita- ido desses fatos do passado, esti limitado per bareras que o historiador desconbe- fe, pois ele se limita aos faror da causa ea leis Vigentes, in verbis: “EI juicto del ‘magistrado se apoya, como el del historiador, em el conocimiento de datos coneretos, {que son por una parte los hechos de la causa, y por otra las leyes vigentes en el oF ‘enamiento positive: pelo el campo deniro dei cual puede moverse para la investiga ‘dn de la certeza de estos datos histéricos ta actividad del juez.esté delimitado por barreras terminantes que el historiador ignara”. Percebe-se que © procestualista ae liano, embora ji tvesse tracejado a necessidade de delimitagdo juridica da atividade 4o julgador, ainda via a fungi judieante como um offcio solipsista, no qual valia a verdade solitariamente apontads pelo decididor. A concepsio de verdade a ser adotada na toria da prova democritica seré abordada po ilem 4.5. Também, indica-se nota de rodapé 24 (p. 21) da Capitulo 1 CHIOVENDA, Giuseppe. Frineipios de derecho procesal civil, Tradugso de Tose Casais y Santalé. Madnd: Reus, sd. v.2, p. 312. Procesto de Conhecimento ¢ Cognieao 175 ‘algtin conocimiento directo de los hechos controvertidos, o haya ad- 4quirido por ventura alguna noticia sobre los mismos fuera del proce- 50 y fuera de aquel catélogo oficial de los medios probatorios, debe- r olvidarse absolutamente de estas informaciones extraprocesales en el momento de la decisién’™”. Pelo trecho acima transcrito, percebe-se que o processualista i- taliano, mesmo entendendo que a cognigao era uma atividade exclusiva do julgador ¢ que tinha 0 mesmo a incumbéncia de buscar a (sua) verda- de, delineou alguma reagao contra a arbitrariedade. Not se que mesmo 0 solipsismo de Calamandrei rejeitava a possibilidade do julgador se valer de sua experiéncia individual pressuposta (nio extraida do discurso pro- cessual) para decidir. de sua experiénci Certamente, soaria estranho admitir que o juiz pudesse se valer , saber ou sensibilidade individual quando da atividade cognitiva, Um dos maiores estudiosos do tema, Kazuo Watanabe, em sen- Lido contrério ao aqui defendido, dé 0 seguinte exemplo: Assim & que, ndo raro, sao diferentes, por exemplo, no julgamento de uma agdo de indenizagdo por acidente automobilistico, a conelusdo de um magistrado que sabe dirigir eo pratica diariamente, ea solugdo de tum outro magistrado que jamais dirigiu um vetculo, pois a avaliagdo dos fatos depende de intimeros conhecimentos prévios a respeito das circunstancias que ordinariamente cercam um acidente. Aquele primei- ro juic € capaz de examinar 0 caso dentro do contexto global, conside- rando 0 que a experiéncia the sugere (fluxo de veiculos, ritmo de circu- lagao, habito dos motoristas, sistema de sinalizagao etc.), enquanto 0 segundo serd certamente levado a equacionar 0 caso ¢ a solucioné-lo na conformidade do critério abstrato e tedrico que o estuda do sistema Juridico the proporcionou, E conclui: Varios outros exemplos poderiam ser mencionados, no campo da avaliacao dos fatos ou no dmbito da in- terpretasdo das normas juridicas, mas seria isso despiciendo, pois se trata de verdade de percepgdo até intitiva™. Pelo exemplo transcrito, poder-se-ia agregar uma outra variante olvidada pelo insigne processualista de Sao Paulo: o juiz pode ser tanto bom quanto mau motorista, 0 que, nessa concepedo, também iria influir no julgamento, Nesse sentido, o exemplo trazido por Alexandre Freitas CALAMANDRET Piero, Estudios sobre el proceso civil. Tradugio de Santiago Sentis Melendo. Buenos Aires: ibliogrica Argentina, 1945. p. 114. (Negnto nosso) WATANABE, Kazuo, Da eognigd0 no processo civil, 2. ed, Campinas: Bookseller, 2000. p61 16 Dhenis Cruz Madeira ‘CAmara mostra-se acertado™’, Justamente por isso, e por nao ser mais possivel a exigéncia de uma autoridade sensivel, sdbia, intuitiva e experi- ente, é que tais elementos metajuridicos nao podem ser utilizados como fundamentagao do provimento, a nao ser que se queira exigir das partes uma esdrixula investigacao acerca da vida pessoal do juiz para fins de argumentacao processual. Decerto, um fundamento nao extraido da plataforma procedi- mental, como o é a experiéncia ou qualidade individual do magistrado, imprestvel & motivagao do provimento, eis que nao se oferta a critica, tornando a decisio ilegitima juridicamente A valoragio € valorizagao so inerentes a0 processo, especial- mente 20 processo cognitive, & medida que o Direito atua por preten- sdes”", ¢ essas, suscitadas procedimentalmente, séo continuamente anali- sadas ¢ aquilatadas pelas partes e pelo juiz Como delineado no capitulo anterior™", jurisdig4o e cognigao s6 sao exercitadas de forma legitima se observarem 0 devido pracesso, razi0 pela qual os principios institutivos do processo so inafastaveis regentes da instrugao probatéria, Preciso € Couture ao destacar a importincia do contraditério ¢ da fiscalizagao conjunta do juiz.€ das partes quanto & pro- dugdo de prova: “El procedimiento de la prueba no es sino una manifes tacién particular del contradictorio, Como no se concibe el proceso sin debate, tampoco se puede concebir que una parte produzca una prueba ssin una rigurosa fiscalizacién del juez y del adversario”™ E, em ligao valiosa, diz mais o grande mestre uruguaio: Una prueba que se ha producido a espaldas del otro litigante, por re- ‘gla general es ineficaz. El cimulo de normas del procedimiento pro- atorio es un conjunto de garantias para que la contraparte pueda % Poder-se-ia também transerever um exemplo tsrido por Alexandre Freitas Cémara (Ligoes de Direito Processual Civil. 10 ed. rev. ¢ atval, Rio de Taneizo: Lurnen Jus, 2004. v. 1, p. 394): "foo imagine se um caso em que seja fundamental convencer @ Juiz que a cor da camisa do réw era lilés. Ocorre que, por ser dalténico, o magisira- ‘do emxerga ali uma blusa azul. 0 daltonismo do juiz ndo tem, obviamente, 0 condo (calterara cor da camisa, que continua a ser lilés $8 CARNELUTTI, Francesco, Sistema de direito processual civil. |. ed. Tradugtio de Tilton Martins Oliveira, Sao Paulo: Classik Book, 2000. v.2, p. 496. Capitulo I inttulado Da cognigéo jurisdicional na Democracia, COUTURE, Eduardo J, Fundamentos del derecho procesal civil. Buenos Aires: Depalma, 1974. p.253, Tradugio: “O procedimento da prova nto ¢ sendo uma mani Jestasio particular de contradtério. Como nao se concebe processo sem debate, ‘io-pouco se pode conceber que uma parte preduza uma prova sem uma rigerosa Jfiscalizacdo do juiz edo adversirio Procesto de Conhecimento ¢ Cognieao Ww ‘cumplir su obra de fiscalizacién. El principio dominante en esta mate- ria er el de que toda ta prucha se produce con ingerencia posible oposicién de la parte a la que eventualmente puede perjudicar® Dessarte, a fiscalizagio da produgdo de provas © 0 comparti- Ihamento constante da atividade cognitiva constituem grande salto epis- temoldgico trazido pelo Direito Democrético e que foram antevistos, em leves tragos, por alguns processualistas do pasado, obviamente, por a- queles que j& esbogavam a importncia constitucional do processo. No Estado Democritico de Direito, que é regido pelo principio da Legalidade e da Supremacia da Constituigo, mostra-se impreseindivel a formulagao de um sistema probatério erguido sobte bases normativas™ que garantam a participagao das partes numa condigao ideal de fala, tanto na produgao, quanto na valorizagao dos instrumentos de prova, Por isso, quanto a relago entre a cognigao jurisdicional ea prova, mostra-se apropriado afirmar: O modelo cognitive pressupse a observancia do principio da legalidade, como um sistema probatério que garanta o devido processo legal, 0 on raditério, a ampla defesa ¢ a isonomia. Destarte, 0 processo de conke. cimento, que é denominado proceso comum no cfvel, ¢ processo acusa trio no direito penal, decorre do sistema de prova da persuasio racio: nal, que possui bases normativas e inadmite os excesso das provas le- {gais, bem como a liberdade absolura de valoragdo, que embasaram 0 rocesso inquisitive o dispositivo, respectivamente™ Destaca-se que o sistema da persuasio racional, no atual para- digma, nao implica a livre valorago das provas ¢ muito menos, o retorno ao sistema da prova legal. Na cognigao democritica, 0 juiz néo possui plena liberdade de valorizago das provas, porquanto é limitado pela Constituicdo, pelas leis infraconstitucionais®® ¢ pelas argumentagées % COUTURE, Eduardo J. Fundamentos del derecho procesal civil. Buenos Aires: De- palma, 1974p, 283, Tradugto: "Uma prova que se produc ds costs do outro ligante, ‘por regra sera, é iefica. O cimlo de normas do procedimento probatério € wm cor jumto de garantias para que a coniraparte possa cumprir sua obra de fiscaizagdo. O principio dominante nesta matérea &0 de que toda prova se prodica com ingeréncia € Dpossiblidade de oposigdo da parte a que eventualmente possaprejudicar” CE BASTONE, Juliana de Carvalho. Processo de conhecimento ¢ teoria da prov ~ implicagées I6gicas. In LEAL, Rosemizo Peeeira. Estudos continuados de teoria do processo, Porto Alegre: Sintese, 2000. v. 1, p.99 dem, side © Opviamente, fase aqui somente das leis ifraconstitucionais compativeis cam a tual principiologiaconsttucional. As Teis que se chocam com 0 texto constitucional ‘io podem ser aplicadas 178 Dhenis Cruz Madeira trazidas pelas partes aos autos (cartulares ou eletténicos). Todo esse complexo modelo cognitivo existe para delimitar a influéncia exercida pelos instrumentos de prova jungidos aos autos sobre a deciséo final a ser prolatada. Hodiernamente, “A prova procedimental (existéncia de proce- dimento) & direito-garantia inafastavel da cogni¢do, porque somente a interpretagdo volitiva das autocracias ou democracias imperfeitas € que afasta a prova, em sua plenitude tedrica, em troca des devaneios e idea- ‘eaes judicantes”™” 4.4 APROVACOMO FATOR DE VISIBILIDADE DA ARGUMENTACAO JURIDICA Diferentemente do que dizia Francesco Carnelutti™, as provas no tém a finalidade de fixar os fatos no processo, mas sim, as alegardes factuais no discurso processual procedimentalizado. Os fatos nao so fixados, ¢ sim, as alegagies. As alegagées factuais nfo provadas, no Direito Democritico, sao alegagdes inexistentes, motivo pelo qual nao podem servir de suporte para a conclusio da decisio. A mera alega¢ao factual, portanto, perde sua visibilidade juridica, Se a prova, em regra, visa a demonstrar a ocorréncia de um fato alegado, este, considerado existente (via instrumento de prova ofertado 20 contraditério ou pela formagio de um ponto™ processual), deve ser re- wy EAL, Rosemiro Pereira. Teoria geral do processo, 5. ed. Séo Paulo: Thomson- TOR, 2004 p 188 ° CARNELUTTL, Francesco. La prucba civil. Tradugio de Neceto-Alealé Zamora Buenos Aires: Depalma, 1982. p.d-S, Porém, saliente-xe que o processalista italiae no (Cf Sistema de direito processual civil. 1, ed. Tradugdo de Hiltomae Martins O- Iilveira S40 Paulo; Classik Book, 2000. v. 2, p. 498), em outta obra e deforma tini- da, desenha também a importineia da ajirmagdo fete A prova. Nao abandona, cone tudo, sua preferéncia peo fae Recorde-se que a ponto processual 6 aqueleem tomo do qual nfo divergem as partes, ‘Asst, por exemplo,o demandante pode legae um fata o denndado, em contest ‘0, nao disordar do sesmo, tendo-S entio um ponto processual(alegaa facta ine Conizoversa). Porém, se 0 demandado vem a discordar do ato alegado pelo deman- ante, temese entfo uma questdo processual(alegagio factual controvertida), em or fo da qual versarés prodicZo de provas. No caso do ponto processus, considera-se © {ao alegado como provado, enduanto que na questio processual cxige-se dilaga0 probatéra, Em breve andlisesobze o ponto ea questi, sugere-se: WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flivio Renato Coscia de; TALAMINI, Eduardo, Curso ae vvangado de processo civil: ‘coria geral do processo de conhecimento. 7. ed, tev. © tal Séo Paulo: Revista dos Tribunals, 2005. . 1, p. 385.

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