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Percepcao Social
Percepcao Social
Linha de Pesquisa
Políticas e Estratégias de Comunicação
ABRIL 2010
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Impacto de recursos mnemônicos na retenção de mensagens
corporativas
Suzel Figueiredo1
Resumo
O ambiente corporativo é, pela sua própria natureza, um espaço para o exercício da
persuasão. Modificar as opiniões de outras pessoas, argumentar, conduzir, submeter uns
as vontades de outros, tem sido, ao logo do tempo, atividades associadas à
comunicação.
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Suzel Figueiredo é mestranda da Escola de Comunicações e Artes da USP, Programa de Pós-graduação
em Ciências da Comunicação, na área de Interfaces sociais da comunicação, graduada em Comunicação
Social, com habilitação em Relações Públicas e pós-graduada em Pesquisa de Mercado, Mídia e Opinião
Pública, professora de pesquisa na Faculdade de Comunicação e Marketing da FAAP e diretora de
pesquisa do DATABERJE e da Ideafix Pesquisas Corporativas.
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O que diferencia as organizações, umas das outras, é a forma como decidem cumprir a
missão, ou em outras palavras, é como definem seu jeito de ser. E para que todos
estejam cientes deste jeito de ser, é necessário que os públicos de relacionamento da
organização sejam impactados pelas mensagens que traduzem esta intenção.
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Além dessas, outras quatro teorias são abordadas por STERNBERG: teoria do modelo,
teoria do protótipo, teoria da característica e teoria da descrição estrutural., descritas
resumidamente abaixo:
Teoria do modelo – nossas mentes armazenam uma grande base de modelos,
que são consultados para reconhecimento de padrões.
Teoria do protótipo – não é um modelo rígido e concreto, mas é altamente
representativo de um padrão.
Teoria da característica – relaciona as características de um padrão com
padrões armazenados na memória.
Teoria da descrição estrutural – que trata das referências e padrões de forma
tridimensional.
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justamente nesta categoria que se encaixam os valores corporativos, que serão
abordados mais adiante.
O termo atitude designa de certo modo, uma tendência para responder de forma
previsível ou característica. A personalidade também é usada para explicar as tendências
das pessoas para responderem de forma característica. (1975, p.341).
Três são as perspectivas principais das atitudes: as atitudes como respostas socialmente
aprendidas, as atitudes como funcionais e as atitudes como multicomponentes. (1975,
p.343). KATZ (1960, Apud 1975, p.344) segmenta as atitudes funcionais em quatro
funções básicas: a função utilitária, a função defensiva do ego, a função expressiva de
valor e a função do conhecimento.
Neste artigo será adotada para efeito de análise, a função expressiva de valor,
considerando a explicação de KATZ:
O conceito de atitude tem mais de 100 definições e embora sejam muitas as abordagens,
parece claro para os teóricos da psicologia social que “as atitudes constituem bons
preditores de comportamento.” (1975, p.393). Assim se é sabido que uma pessoa
valoriza a ética, pode-se inferir que ela terá simpatia por empresas que se apresentem
com este discurso.
As atitudes também servem para “dar uma ideia mais estável da realidade” e de “servir
de base para as situações sociais importantes” (1975, p.393). Isso sinaliza que o bem
estar social depende de constantes mudanças de atitude individuais em prol da
sociedade.
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Para efeito de análise da pesquisa aplicada, aqui será adotada a definição de
RODRIGUES para atitude social (1975, p.395)
“Atitude social refere-se a um sentimento pró ou contra um objeto social,
sendo que este pode ser uma pessoa, um acontecimento social ou
qualquer produto da atividade humana.”
Para o campo da psicologia social os valores são categorias gerais dotadas também de
componentes cognitivos, afetivos e predisponentes de comportamento, diferindo das
atitudes por sua generalidade. Uns poucos valores podem encerrar uma infinidade de
atitudes, como explica RODRIGUES (1975, p.404).
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“as cognições podem ser formal ou intuitivamente descritas como
qualquer conhecimento, opinião ou crença sobre o meio, sobre a própria
pessoa ou o seu comportamento.” (p. 356)
As cognições são simples itens de informação de que uma pessoa dispõe e elas podem
ou não estarem associadas entre si. Quando estão associadas são coerentes. Quando não,
são incoerentes ou dissonantes.
Traduzindo de forma simples, as atitudes são resultado do que a pessoa sabe, sente e
faz. Ocorre que nem sempre as atitudes são coerentes, ou seja, os componentes
cognitivo, afetivo e comportamental são divergentes. O indivíduo acredita (ou pensa
que acredita) em determinada ideia, mas age de forma distinta. Essas inconsistências são
facilmente percebidas no cotidiano e são explicadas por ROKEACH no conceito de
centralidade de um objeto atitudinal. (p.403), que relaciona as crenças às atitudes. Ele
classifica em crenças do tipo A, B, C e D, sendo a A não passível de controvérsia, B
invioláveis para o indivíduo, C é a crença na autoridade e a crença decorrente da
autoridade.
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Se as pessoas são induzidas a afirmar coisas em que não acreditam intimamente, o
resultado é uma mudança de atitude na direção do argumento. E a mudança de atitude,
segundo o autor, pode ser incentivada com mecanismos que sejam valiosos para o
indivíduo.
Assim, explica o autor, se alguém tem um bom motivo para mentir, provavelmente ele
mudará sua atitude. Mais ainda se este incentivo for de natureza financeira, ou seja,
quanto maior o incentivo, maior a possibilidade de mentir e menor a dissonância. Ainda
que possa parecer execrável, esta teoria foi testada pelos teóricos do incentivo (Brehm e
Cohen, 1962), comprovando que há forte relação entre mudança de atitude estimulada
pelo desejo de auferir vantagem financeira.
Como a maior parte de qualquer comunicação escrita ou falada visa a despertar certa
espécie de reação no destinatário, parece natural que muitas vezes esta reação provoque
mudança de atitude. BROWN (1963) aponta que durante séculos a verdade esteve
fortemente associada à autoridade, em outras palavras, ao Estado, à Igreja, ao poder
econômico. Ele explica que “ninguém pode criar emoções ainda não existentes e o
propagandista limita-se a evocar ou estimular as atitudes adequadas a seu fim entre
todas as existentes em seu público, atitudes essas que podem ser inatas, porem são
usualmente socialmente adquiridas” (1963, p.24).
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MEMÓRIA: O PROCEDIMENTO DO ATO DE LEMBRAR
A memória tem sido objeto de estudo de muitas disciplinas, mas a psicologia social tem
se ocupado em entender o que é lembrado. Neste campo, CATANIA (1999), apresenta
em sua obra, dois tipos de classificação: a de tempo de resgate da lembrança e a
natureza da lembrança.
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Dentre os recursos, ou pistas, está a conversão da mensagem em siglas, em rimas, em
lugares (loci) e este foi o recurso mnemônico que a empresa de energia elétrica utilizou
e que agora será relatado.
Em meados do ano de 2009, uma empresa de energia elétrica, sediada no estado de São
Paulo, contratou o instituto de pesquisas Ideafix Pesquisas Corporativas para realizar
um estudo de percepção dos funcionários sobre a comunicação interna da empresa. Para
efeito de relato, e preservando o acordo de confidencialidade, a empresa aqui será
tratada como LUZ.
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O perfil dos colaboradores é preponderantemente masculino (88,4%), maioria com
idade superior a 35 anos (76,2%), como demonstra o gráfico abaixo.
Gráfico 1
1,2% 0,7%
23,0%
31,4%
43,6%
Gráfico 2
0,5%
0,2% 1,2%
7,9%
37,1%
37,4%
15,6%
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Gráfico 3
20,3%
Muito informado(a)
Informado(a) 68,1%
11,1%
Pouco informado(a)
Gráfico 4
Ótimo 15,8%
Boa 67,8%
Regular 14,1%
Ruim 1,2%
Péssimo 1,0%
A pesquisa abordou uma série de temas, avaliou cada um dos meios de comunicação
interna e as relações entre as pessoas, porém estes resultados não serão relatados aqui. O
foco deste artigo é sobre a retenção das mensagens e uma pergunta específica foi feita
em relação à retenção dos valores corporativos.
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É importante ressaltar, neste ponto, que a empresa realizou campanhas de comunicação
interna, e que uma delas referia-se aos valores que a empresa LUZ acredita e dissemina
entre seus stakeholders, resgatando o conceito de já apresentado BALDISSERA,
utilizando-se de recursos simbólicos para propagar sua mensagem.
Questionados sobre quais são os valores da empresa LUZ, 58,7% dos colaboradores
souberam mencionar pelo menos um dos quatro valores que são: ética, excelência,
responsabilidade social e inovação, como demonstra o gráfico 5.
Gráfico 5
Ética 36,1%
Excelência 34,2%
Inovação 26,7%
Outros 32,7%
“Nosso presidente, quando falou sobre os valores disse que para não
esquecermos era só repetir ERIEX - ética, responsabilidade social, inovação e
excelência. E isso, o ERIEX, não saiu da cabeça das pessoas.”(gerente)
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Mesmo não tendo sido planejado pela equipe de comunicação e talvez tampouco pelo
próprio presidente, CATANIA explica que estes recursos mnemônicos recuperam a
informação. Lembrando os estágios de armazenamento, retenção e recuperação, o
ERIEX funciona como um gatilho para a memória.
Outra teoria que explica o fenômeno foi desenhada por Tichenor, Donohue e Olien, da
Universidade de Minessota, nos anos 70 e denominada Knowledge Gap, que indica que
o grau de aprendizagem ou retenção está vinculado ao grau de escolaridade. Pessoas
mais instruídas tem maior capacidade de absorver informações e associá-las a estruturas
cognitivas. O quadro abaixo demonstra como isto ocorreu na empresa LUZ, com maior
retenção da mensagem junto aos colaboradores mais escolarizados.
Tabela 1
Total Ensino Ensino Ensino Pós-
Médio Superior Superior Graduação
completo incompleto completo
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Como se observa nas informações da tabela, o índice de lembrança dos valores
corporativos está diretamente vinculado ao grau de escolaridade, numa variação de 38
pontos percentuais na lembrança do valor ética entre funcionários com ensino médio e
funcionários com pós-graduação.
CONCLUSÃO
O caso que ilustra este artigo demonstra a importância dos recursos mnemônicos para a
recuperação de mensagens no ambiente corporativo. As interfaces da comunicação com
a psicologia podem auxiliar o entendimento dos processos de retenção de mensagens.
No mundo contemporâneo, com o excesso de mensagens e o acirramento das disputas
pela atenção do receptor das mensagens corporativa, a psicologia social, particularmente
os estudos sobre a percepção, recepção, persuasão e memória, é uma aliada valiosa à
medida que explica os processos da mente humana.
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Referências bibliográficas
EAGLY E CHAIKEN. The psychology of attitudes. Fort Worth, TX: Harcourt Brace
Jovanovich, 1993.
HBJ HARRISON, Albert A.,).A Psicologia Como Ciência Social. São Paulo: Cultrix,
1975.
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