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Expressões Anti-Índigenas para Retirar Do Vocabulário PDF
Expressões Anti-Índigenas para Retirar Do Vocabulário PDF
CAMILA ANTUNES
ENSINO MÉDIO INTEGRADO
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EDUCAÇÃO EUROCENTRISTA
Na visão da antropóloga do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR, um dos fatores
centrais que estimula a população a continuar utilizando expressões pejorativas que desvalorizam
a cultura e os saberes indígenas é a educação eurocentrista.
“Dentro de uma escola não-indígena a gente não aprende a história completa. Temos
pouquíssimo conhecimento sobre a história pré-colonial, sobre como era a vida das populações
indígenas antes de 1500. Já entramos na vida escolar com essa perspectiva europeia, o que
significa que desde muito cedo nós aprendemos a entender que essas populações são do
passado, e que aquelas que sobreviveram são atrasadas e devem se aculturar, viver como os
brancos. Isso é fruto do colonialismo (da opressão de alguns povos sobre outros) e do
desconhecimento de como é a vida dessas populações.”
Raquel Teixeira, ilustradora do Quadrinistas Indígenas, coletivo que produziu uma cartilha
sobre termos racistas contra os povos originários, afirma que a discussão sobre a linguagem
empregada pelas pessoas para se referir aos indígenas é de extrema importância pois desperta a
curiosidade da sociedade para os diversos povos tradicionais presentes no Brasil, que resistem e
lutam pela perpetuação de suas culturas até hoje.
“Sempre tem alguém que não tem noção que tais termos são anti-indígenas justamente
porque nunca foi apresentado ao outro lado da discussão. Como você pode ter o questionamento
que tal termo é mal visto por uma cultura se você nunca foi apresentado de forma clara a tal
indagação? E essa falta de indagação é algo naturalizado até dentro de ambientes que deveriam
ser pontos de partida de discussões, como nas escolas. Se não há debates sobre povos
originários do Brasil, como as pessoas não-indígenas vão saber que no Brasil existem mais de
300 etnias, vivendo em todos os estados, em aldeias, quilombos e dentro das cidades?”,
questiona.
EXPRESSÕES
Tendo como base as conversas com Gabriela, Camila e Raquel, e a cartilha do coletivo
Quadrinistas Indígenas, o Plural reuniu oito termos e expressões depreciativas sobre os povos
originários para tirar do vocabulário. Confira:
Índio
Apesar de ser muito utilizado atualmente, o termo “índio”, quando empregado por pessoas
não-indígenas, carrega um imaginário estereotipado e perpetua ideias trazidas pela colonização.
Gabriela de Carvalho Freire explica que o termo é associado à chegada dos europeus no
Brasil. “Eles chegaram aqui e acharam que estavam nas Índias, por isso chamavam a população
originária de „índio‟.”
Uma alternativa para o termo é utilizar a palavra “indígena”, que, segundo Gabriela,
significa uma população originária, autóctone.
Tribo
O termo “tribo”, segundo a cartilha dos Quadrinistas Indígenas, remete a uma ideia de uma
população primitiva, sem organização ou capacidade. Além disso, carrega um imaginário
depreciativo de estereótipos e preconceitos.
Por isso, é preferível utilizar o termo “povo” ou, para se referir a um local ou território
“aldeia” ou “comunidade”.
Descobrimento do Brasil
O Brasil, evidentemente, não foi descoberto. Já havia milhões de povos nativos vivendo em
terras brasileiras antes dos colonizadores chegarem. No processo colonizador, essas populações
foram dizimadas, junto de suas culturas, línguas e costumes.
Por isso, falar em “descobrimento” do país, além de equivocado é fazer referência à
violência extrema cometida contra os povos originários e negros do Brasil.
Programa de índio
Comum no cotidiano das pessoas, a expressão “programa de índio” é outra forma de
associar as populações originárias a alguma atividade ou evento considerado chato, entediante.
“Essa expressão também é uma forma pejorativa de olhar para os costumes indígenas,
como se fossem coisas atrasadas e não interessantes”, afirma Gabriela.