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Oito anos depois: os efeitos de sentido na representação

feminina no conteúdo da revista GQ

Ricardo Cruz, Diretor de Conteúdo da GQ Brasil diz:

“A missão da GQ Brasil é ser o guia essencial de estilo, cultura e lifestyle do


homem brasileiro sofisticado, oferecendo a ele, em diversas plataformas, o
melhor do universo masculino”.

Dessa forma a GQ em sua linha editorial direcionada para o homem, traz em


seu conteúdo temas de interesse sobre: cultura, moda e estilo, viagens,
gastronomia, política, economia e negócios, comportamento, internet e
tecnologia, esportes e automóveis.

Seu público alvo são homens que sabem consumir qualidade e buscam um
estilo de vida contemporâneo, a procura de saber viver bem, cuidando mais do
seu bem estar e saúde, além de consumirem entretenimento que agregam sua
bagagem de conhecimento. Através das viagens buscam um aprimoramento
cultural que também pode ser encontrado na gastronomia.

A qualidade de consumir bem do homem contemporâneo, pode ser adquiro nos


conteúdos de negócio e política, que consequentemente gera informações
úteis também à carreira que ensina como empreender e acompanhar o
mercado, sendo em investimentos pessoais como, automóveis e casa, até os
investimentos no mercado financeiro.

Uma das temáticas da revista é a respeito da “DIVERSIDADE DAS PAIXÕES


MASCULINAS”, que se conecta a todas linhas editorais da revista, mas
principalmente na paixão do homem pela mulher, seja ela uma paixão sexual,
pela beleza, por admiração ou por querer ser como uma mulher.

A partir de aspectos de cada edição da revista GQ, faremos uma comparação


entre a 1° capa da GQ no Brasil e a capa N°91 dezembro/janeiro 2019, para
contextualizar, falaremos do papel da mulher na sociedade no ano de 2011
para os dias atuais.
Introdução

Ainda em 2011 a mulher não tinha uma visibilidade tão grande na sociedade
como agora, ela ainda estava em segundo plano ou podemos dizer que ela se
encontrava nesta transição de segundo plano para primeiro até chegar nos dias
atuais.

As mulheres na primeira edição da revista, ainda se encontravam objetificada


pelo homem, com talentos apenas para satisfação, prazer e cuidados da casa.

Dessa forma a mulher era retratada por seus dotes de sedução, a sociedade
apontava o tipo de mulher ideal para um homem e mesmo quando iam falar da
conquista da mulher, como por exemplo uma conquista profissional,
relacionava esse salto na vida com sua beleza.

Nos dias atuais apesar das mulheres terem muito ainda a conquistar o modo
de retratar uma mulher se tornou muito diferente.

Em 8 anos percebemos que a mulher passou de seu 2° plano para 1° e hoje


ainda como antes é destaque nas capas de revista, mas de uma outra forma,
mostrando o poder da mulher em conquistar algo pelo seu esforço, pelo seu
mérito, e fala do poder que ela tem em ocupar o mesmo lugar que o homem.

Ainda retratada de forma sedutiva, a mulher ganhou outros poderes de


sedução além do corpo e rosto bonito, sua bagagem de conhecimento e o que
ela conquista através de seus esforços são pontos que a mulher mais sedutiva.
Manchetes - Capa Revista 2011

“Oscar Niemeyer aos 103 anos. A vida é ter uma mulher ao lado e seja o que Deus
Quiser”.

Essa primeira frase, interpretada em um primeiro momento parece dizer sobre


o homem se bastar apenas com uma mulher ao seu lado, mas se pararmos
para analisar a frase nos tempos em que foi dita, observa-se que na memória o
ter uma mulher ao lado significa que: atrás de um grande homem sempre há
uma grande mulher.

Podemos ver essa magnitude do poder de uma mulher por trás do homem
através das obras de Niemeyer.

O efeito de sentido produzido é que uma grande mulher, pode sim ser uma
grande mulher, mas ela só é uma grande mulher se está com um homem, fica
sempre em segundo plano, já o homem que no fim da vida, tem uma mulher
pra satisfazer seus desejos tem muito, porque a mulher é feita pra isso.

“Anja ou Sereia? Alessandra Ambrósio. Prenda sua respiração e mergulhe na vida nada
comum da top que conquistou o mundo.”

Anja ou Sereia se refere a poderes que uma mulher pode ter em vista que os
“objetos” usados para definir o que Alessandra Ambrósio pode ser se refere a
Deusas.

Anja no sentido angelical, no sentido doce do desejo, da conquista, também


podendo associa – lá a um cupido, ao mesmo tempo em que as asas brancas
do anjo (um acessório), possui a mesma cor do biquíni (acessório) de
Alessandra.

Sereia, mostra a força que ela pode ter, força gigante de sedução, mas
também força física de atração. A Sereia passa um ar mais arrojado, de uma
mulher mais agressiva, e o fato dela ter uma pistola presa na perna e estar com
os cabelos molhados, se associa a representação de uma Sereia, uma mulher
poderosa, misteriosa.
Podemos também associar a pose e acessórios de Alessandra ao filme Sr. E
Sra. Smith que traz em sua fotografia a atriz Angelina Jolie (Sra. Smith)
representada da mesma forma que Alessandra Ambrósio.

No filme Angelina era uma agente secreta, cheia de habilidades, com um


personalidade forte, sexy com um grande poder de sedução.

“Estilo: Upgrade Executivo. Meias, lenços e gravatas dão cor ao seu terno.”

Em uma das poucas manchetes destinadas ao homem sem citar a mulher, o


fato de ser um tipo de manchete pouco vista na revista ou vista em menor
quantidade, mostra que falar de moda pra homens ou assuntos para homens
sem citar as mulheres não são muito interessantes.

O próprio tamanho da letra (minúscula), já dá esse ar de desdém na matéria.


Manchetes - Capa Revista 2018/2019

“8° Prêmio Men of the Year 2018: Marina Ruy Barbosa o brilho da estrela + Kondzilla,
Alexandre Birman, Frederico Trajano e 13 nomes que marcaram o ano.”

2018 para 2019 são anos de representatividade, de pessoas empoderadas, de


bandeiras levantadas e conhecer quem são esses ícones ou ser um deles é o
novo status do momento.

Desde o ano de 2014, Marina Ruy Barbosa veio crescendo profissionalmente e


no final de 2018, atingiu o auge, como atriz, filantropa, mulher de negócios, a
queridinha de várias marcas do mundo, a nova namoradinha do país.

Levar o prêmio de Mulher do Ano pela GQ, é uma forma da revista mostrar seu
reconhecimento de mérito com a atriz e com todas as mulheres do país, é uma
forma também da revista reforçar que ela oferece ao seu público alvo, o que
ele quer ler.

Nesta nova etapa a revista agrega a seu portfólio de celebridades, ícones do


mundo popular como Kondzilla, que é um grande produtor do mundo Funk,
uma forma de tentar aproximar a revista do mundo real e atingir também
pessoas que não estão inseridas socialmente na classe A, mas almejam estar
lá, e consumir a revista é uma forma de se aproximar um pouco mais dessa
realidade.

“Maya Gabeira musa das ondas gigantes: “O Surfe feminino merece respeito”.

Não só o surfe feminino, mas as mulheres de forma geral merecem respeito.


A revista nessa manchete passa o efeito de sentido do quanto ela se
preocupada com a mulher e onde ela está.

Maya Gabeira é um ícone no surfe, mas podemos perceber que apesar de ter
evoluído em seus conceitos a revista ainda compara a mulher com o ícone
masculino.

Se a mesma manchete fosse sobre Gabriel Medina ou Pedro Scooby a


manchete não seria sobre eles merecerem ou não.
E é nessa manchete e também na manchete com a Marina, vemos que a
revista não é direcionada apenas do público masculino, ela tenta inserir a
mulher nesse público, com assuntos que as mulheres emporeradas dos dias
atuais também irão se interessar.

“Guia de Verão 2019: Os melhores vinhos de piscina + Fasano chega a Salvador + O


novo Beach Club que vai revolucionar punta + Alta Gastronomia na sua lancha +
Gadgets para turbinar seu churrasco + onde comer (bons) crudos em SP.”

Moda para homens ao passar das edições deixa de ser a “menor” manchete,
com o conteúdo mais chato e que poucos homens irão se interessar.

Os homens da atualidade são mais vorazes, buscam por novos


conhecimentos, por cultura, por boa comida, deixou de serem machões que
sabem de tudo e buscam por conhecimento, sem contar que moda deixou de
ser apenas o que vestimos e hoje se tornou estilo de vida.

As dicas para os homens se tornaram mais interessantes, com mais conteúdos


e que também agradam as mulheres.
Considerações Finais

Consideramos que alguns padrões da revista se mantem, como diagramação e


tipografia das letras, porém nesses oito anos, as cores e sua forma de
distribuição se tornaram melhores disposta, tirando o ar rústico e dando mais
elegância à revista, afirmando seu público alvo que seria homens de classe A
ou em um transição para classe A.

Após oito anos, nos dias atuais a revista não atinge apenas o público
masculino ou deixa que a mulher tenha um ar de estranheza com a revista, os
assuntos pautados também interessam as mulheres, principalmente mulheres
empreendedoras, independentes, empoderadas e insere as mulheres no seu
público consumidor e não só a mulher se torna novo público, mas também
pessoas de classe inferiores, mas que gostam de saber ou almejam um dia
chegar a classe A.

Com a mudança do tempo o que era importante em 2011 deixou de ser


importante ou melhor, o que não era importante em 2011 mas, é importante
para uma sociedade evoluir, em 2019 passa a ser reconhecida e a revista
adaptou seu estilo não apenas para se solidarizar com o momento, mas para
dizer que o conteúdo da revista acompanha o tempo, que apesar do passar
dos anos ainda desperta o interesse do leitor a continuar consumindo seu
conteúdo e está aberta a novos públicos.

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