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COMPLEMENTARISMO OU IGUALITARISMO: O QUE DIZ AS ESCRITURAS?

Nilton Mota de Oliveira*

RESUMO
Neste artigo vamos estudar e analisar o papel da mulher e do homem no corpo de
Cristo. Analisaremos o pensamento feminista e sua influência na igreja e na
sociedade, e como isso afetou e ainda afeta o entendimento cristão sobre o papel da
mulher e do homem. Faremos uma análise de textos bíblicos para tentarmos
entender o que as Escrituras nos dizem a respeito desse assunto. Não tentaremos
abordar o assunto com a máxima profundidade, mas buscaremos de forma sucinta
elencar pontos importantes da discussão entre complementaristas e igualitaristas.

PALAVRAS-CHAVE
Complementarismo; Feminismo; Mulher; Homem; Igualdade; Auxiliadora;

INTRODUÇÃO
As escrituras ensinam que Deus fez o homem e a mulher iguais em valor e
dignidade, (Gn 1), mas Ele deu papéis distintos para ambos (Gn 2), isso é
basicamente o que ensina o pensamento complementarista. De outro lado temos o
pensamento igualitarista que ensina que o homem e a mulher foram criados em
condição de igualdade não fazendo distinção entre eles e seus respectivos papeis. A
controvérsia existente entre complementarismo e igualitarismo se dá na questão do
papel autoritativo da mulher, ou seja, a mulher pode ou não exercer autoridade
sobre o homem? Responder essa pergunta será a tentativa desse artigo.

MOVIMENTO FEMINISTA

No século XVI uma escritora francesa chamada Christine de Pizan (1364 -


1430), escreveu um livro intitulado “Cidade das Mulheres”, onde defende a igualdade

*
Estudante do segundo ano no curso de Bacharel em Teologia no Seminário Presbiteriano Brasil Central
Extensão Rondônia (2019 a 2023). Endereço: Rua João Batista Neto, 2356. Jardim Nova Brasília – Ji-paraná –
Ro. E-mail: niltom_2@hotmail.com
de direitos entre o homem e a mulher, por causa dessa obra, Christine é
considerada por muitos como a pioneira do pensamento feminista.
Mas é por volta do século XVIII com a eclosão da Revolução Francesa,
Revolução Industrial e o advento do iluminismo, que o pensamento feminista toma
força e invade a Europa e o mundo. A força desse movimento se torna ainda maior
quando se une a partidos de esquerda da época. Devido a essa junção com partidos
políticos de esquerda, o movimento feminista conseguiu avançar seus ideais, como
a instituição do divórcio, direito a voto, entre outros.
Na década de 1930 e 1940, com os homens lutando em guerras e as mulheres
se vendo forçadas a trabalharem para sustentar suas famílias, cresceram ainda mais
as lutas feministas por igualdade civil.
O feminismo foi instituído no mundo de forma gradual, pois seus pensamentos
e ideais não eram bem vistos pela sociedade e por isso não podiam ser impostos de
forma abrupta. Dessa forma o movimento passou por três fases distintas: A primeira
que compreende o final do século XIX é chamado de “Sufrágio”, onde as lutas se
concentraram nos direitos ao voto. A segunda fase iniciada na segunda metade da
década de 60, o movimento direcionou a sua luta em busca do direito pela igualdade
jurídica e social da mulher. A terceira fase deu-se na década de 90 e era um
aperfeiçoamento e aprofundamento da segunda fase, ou seja, seus esforços se
concentraram em aprofundar ainda mais os direitos pela igualdade jurídica e social.1

MOVIMENTO FEMINISTA CRISTÃO

O movimento feminista não limitou seu alcance apenas nas áreas sociais e
civis da sociedade, ele adentrou também a área religiosa e reinterpretou costumes e
práticas que antes eram consideradas impraticáveis pela igreja.
Foi após Katherine Bliss escrever o livro The Service and Status of Women in
the Church (O Trabalho e o Status da Mulher na Igreja, 1952), que o movimento
“feminista cristão” teve inicio. No livro Katherine escreveu que, na igreja, a mulher
exercia apenas papéis de auxiliar em escolas dominicais e em vários tipos de
missões evangelísticas. Mas Katherine dizia que as mulheres tinham o direito de

1
WIKIPEDIA. História do Feminismo. [artigo]. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_feminismo#cite_ref-Suffragettes_to_Grrls_11-0>. Acesso
em: 22 mai. 2020.
exercer papéis de liderança e destaque, como pregações em culto solene e
principalmente na ordenação feminina para o pastorado. Esse livro serviu para os
ativistas cristãos, juntamente com o movimento feminista secular, como munição
para implantar essas ideias também no âmbito religioso. Foi em 1961 que as
feministas tiveram uma grande vitória quando o Concílio Mundial das Igrejas
convocam uma reunião para debater o assunto. 2
Em seu artigo intitulado “Feminismo cristão como tudo começou”. O reverendo
Augustus Nicodemus Lopes diz o seguinte:

A atenção sobre os papéis do homem e da mulher dentro da Igreja se tornou mais


intenso na medida em que o movimento secular das mulheres foi ganhando força. Ainda
em 1961 o Concílio Mundial de Igrejas distribuiu um panfleto intitulado Quanto à
Ordenação de Mulheres, chamando as igrejas afiliadas para um “re-exame de suas
tradições e leis canônicas”. Várias denominações começaram a aceitar que o
cristianismo havia incorporado em seus valores uma atitude patriarcal dominante da
cultura de suas origens. Muitos católicos, metodistas, batistas, episcopais,
presbiterianos, congregacionais e luteranos concordaram: a mulher na Igreja precisa
libertação. Com esta conclusão em mente, de que a mulher precisava de libertação
dentro da Igreja, estabeleceu-se um curso de ação que tinha como alvo abrir as
avenidas para o ministério ordenado das mulheres tanto quanto para os homens.3

A igreja, que em épocas passadas influenciava o mundo a sua volta, agora


está sobre a influência do mundo, nesse caso, do feminismo.
Com o argumento de que a mulher estava presa a um sistema patriarcal e
opressor, o movimento feminista consegue seus adeptos dentro das igrejas e fazem
com que seus ideais de lutas, que antes estavam no campo secular, entrem para o
campo religioso, influenciando assim a parte que deveria oferecer maior resistência
ao movimento.
A maioria, senão todos, os igualitaristas que defendem a posição de que a
mulher deve ser igual aos homens sem nenhuma distinção, como mencionamos na
introdução desse artigo, argumentam essas defesas com base no pensamento
feminista.
Como cristãos, somos guiados pelos ensinamentos revelacionais de Cristo
contidos na Escritura, e é nela que baseamos toda a nossa doutrina, por isso não
podemos deixar de analisar o que as Sagradas Escrituras dizem a respeito do

2
LOPES, Augustus Nicodemus. Feminismo Cristão Como Tudo Começou. [Artigo]. Disponível em: <
http://tempora-mores.blogspot.com/2011/12/o-feminismo-cristao-como-tudo-comecou.html>. Acesso em: 20
mai. 2020.
3
Lopes, 2011, < http://tempora-mores.blogspot.com/2011/12/o-feminismo-cristao-como-tudo-comecou.html>.
Acesso em: 20 mai. 2020.
ensino complementarista e igualitarista, é o que faremos na segunda parte desse
artigo.

O QUE DIZ AS ESCRITURAS:

Como dito na primeira parte desse artigo, nosso pensamento tem que estar
cativo às Escrituras, das quais tiramos nosso entendimento sobre como a igreja
deve agir em todas as circunstâncias, por isso vamos analisar alguns textos bíblicos
em busca de uma resposta coerente sobre o assunto. Afinal, o que as Escrituras
dizem sobre o papel da mulher no corpo de Cristo?
O texto que gera discussões entre igualitaristas e complementaristas é sem
dúvida o de (1 Timóteo 2.11-15) e (1 Coríntios 14.33-35) onde o apóstolo Paulo fala
sobre como a mulher deve se portar no culto público, e qual deve ser o seu papel
em ralação ao ensino. Concentraremos nossa atenção no texto de 1Timóteo.
Em seu comentário sobre a carta de Paulo à 1Timóteo, João Calvino diz o
seguinte:

A mulher aprenda em quietude. Havendo tratado do vestuário, ele agora passa a falar da
modéstia que as mulheres devem demonstrar nas santas assembleias. E, antes de tudo,
ele as convida a aprenderem em quietude; pois o termo quietude significa silêncio, para
que não presumissem falar em público, ideia que imediatamente torna mais explícita,
proibindo-as de ensinar.4

Um pouco mais adiante na análise, Calvino completa:

Não permito, porém, que uma mulher ensine. Paulo não está falando das mulheres em
seu dever de instruir sua família; está apenas excluindo-as do ofício do sacro magistério
[a munere docendi], o qual Deus confiou exclusivamente aos homens. 5

Paulo, segundo relatou Calvino, não está proibindo a mulher de ensinar, mas
sim de exercer autoridade através do ensino, pois essa autoridade foi dada a Deus
para ser exercida pelos homens (1Coríntios 11). Portanto a mulher pode ensinar os
seus filhos em casa sem que isso fira a ordem natural da liderança.
Essa interpretação de Calvino favorece o lado complementarista, pois defende
que foge à naturalidade, a mulher assumir o papel de liderança, compreendendo
assim a não ordenação de mulheres ao ministério pastoral. A mulher então passa a
assumir um papel que complementa a liderança do homem na igreja, ponto esse
rejeitado pelos igualitaristas.

4
CALVINO, João. Pastorais: Série Comentários Bíblicos. 1ª ed. São Paulo: Editora Fiel, 2009, p. 70
5
CALVINO, 2009, p. 70.
Utilizando (Gálatas 3:286), os igualitaristas reforçam a ideia de que a mulher e o
homem são iguais e não há distinção de papéis entre ambos. Defendem que no
princípio Deus criou o homem e a mulher perfeitos e lhes deu autoridade idênticas
para governar a criação, e que na queda essa igualdade de liderança foi perdida e
em Cristo ela foi novamente restaurada, e segundo eles Paulo defende essa ideia
nesse texto. Em contrapartida os complementaristas rebatem dizendo que o texto
não fala de igualdade de papeis e sim de igualdade no que se refere a salvação.
Quando Paulo diz que em Cristo somos todos iguais, ele está se referindo a
salvação, ou seja, que a salvação alcançará a todos sem distinção de raça (Gregos
ou Judeus), status social (escravos ou livres) ou sexo (homens ou mulheres).
Outro argumento utilizado comumente contra os complementaristas é o fato de
haver na bíblia mulheres que exerciam autoridades sobre os homens, como Débora
por exemplo.
Nesse ponto Calvino novamente nos traz uma luz:

Se porventura alguém desafiar esta disposição, citando o caso de Débora [Jz 4.4] e de
outras mulheres sobre quem lemos que Deus, em determinado tempo, as designou para
governar o povo, a resposta óbvia é que os atos extraordinários de Deus não anulam
as regras ordinárias, às quais ele quer que nos sujeitemos. Por conseguinte, se em
determinado tempo as mulheres exerceram o ofício de profetisas e mestras, e foram
levadas a agir assim pelo Espírito de Deus, Aquele que está acima da lei pode proceder
assim; sendo, porém, um caso extraordinário, não se conflita com a norma constante e
costumeira.7 (meu grifo)

Na visão de Calvino, esses casos são excepcionais, e fogem da regra habitual


da Lei de Deus. Calvino apela para a Soberania de Deus dizendo que Ele tem
autoridade suficiente, para de forma excepcional, colocar uma mulher em um status
de liderança. Mas isso não anula o fato de que não devemos nos basear em
exceções, mas sim na regra geral.
O contexto histórico da igreja em Éfeso também traz fortes discussões e
debates sobre o assunto. Os igualitaristas dizem que o texto de 1 Timóteo 3, não
deve ser usado como argumento para impedir a liderança feminina na igreja. Por se
tratar de uma orientação exclusiva de Paulo para a igreja de Éfeso, pastoreada por
Timóteo. Segundo o pensamento igualitarista o referido texto não pode ser usado

6
“Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque
todos vós sois um em Cristo Jesus”.
7
CALVINO, 2009, p. 70.
como argumento para definir regras e normas para todas as igrejas. 8 Para dar base
a esse argumento os igualitaristas dizem que naquela época, várias heresias
estavam sendo ensinadas nas igrejas, e a maioria dessas heresias eram ensinadas
por mulheres, para evitar isso, Paulo então proíbe as mulheres, da igreja pastoreada
por Timóteo, de ensinarem e exercerem autoridade. Mas essa proibição não se
estende às outras igrejas lideradas por Paulo, pois se tratava de um ensinamento
exclusivo para os Efésios.
Os complementaristas não negam o contexto e dizem que provavelmente
naquela época existiam algumas mulheres que estavam pervertendo o ensino dos
apóstolos, mas negam que esse motivo indica que Paulo estava fazendo uma
orientação exclusiva para os Gálatas.
Segundo os complementaristas Paulo proibia a mulher de ensinar com a
intenção de protegê-la e não colocar sobre ela um fardo que não era delas, mas sim
dos homens. Em resumo, Paulo estava dizendo que ao colocarmos sobre a mulher a
responsabilidade que cabe ao homem estamos fazendo um grande mal, tanto para a
igreja, quanto para as mulheres em si. E o fato de já existir um histórico de heresias
praticado por líderes femininas, só reforçou a decisão de Paulo.
Willian Hendriksen, em seu comentário sobre o livro de 1Timóteo ele diz:

Embora estas palavras e as paralelas de 1 Coríntios 14:33-35 possam soar como pouco
amistosas, na verdade são precisamente o oposto. Aliás, expressam o sentimento de
terna simpatia e de compreensão básica. Significam que a mulher não deve entrar na
esfera de atividade para a qual a força de sua própria criação não é apta. Que a ave
não tente viver debaixo d’água. Que o peixe não tente viver em terra seca. Que a mulher
não queira exercer autoridade sobre o homem, instruindo-o nos cultos públicos. Por
amor a ela e para o bem-estar espiritual da igreja, proíbe-se essa pecaminosa
intromissão na autoridade divina.9 (Meu grifo)

Hendriksen diz também que Paulo não poderia tomar outra atitude a não ser
ensinar que a mulher está sobre a autoridade do homem, pois ele estava obrigado
como apóstolo, a defender a Lei de Deus ensinada no Pentateuco, em especial
Gênesis 3:16. Ele diz:
Paulo não pode permitir outra coisa. Ele não pode permiti-lo, porque a santa lei de Deus
não o permite (1Co 14.34). Essa santa lei é sua vontade expressa no Pentateuco,
particularmente na história da criação da mulher e de sua queda (ver especialmente Gn

8
WARE, Bruce. Um Resumo das Posições Igualitaristas e Complementaristas. [Artigo]. Disponível em: <
https://reformados21.com.br/2018/04/28/um-resumo-das-posicoes-igualitarista-e-complementarista-1-2/>.
Acesso em: 20 mai. 2020.
9
HENDRIKSEN, William. Comentário no Novo Testamento: 1º e 2º Timóteo e Tito. 2ª ed. São Paulo: Cultura
Cristã, 2011, p. 139. 140..
2.18–25; 3.16). Daí, ensinar, isto é, pregar de um modo oficial e, desse modo,
exercer autoridade sobre o homem pela proclamação da Palavra no culto público,
dominá-lo, é algo impróprio para a mulher. Ela não deve assumir o papel de
mestre.10 (Meu grifo).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos que diante dos fatos apresentados, o pensamento


complementarista tende a ser mais coerente com as Escrituras que o pensamento
igualitarista. Como vimos, os igualitaristas se baseiam mais em um movimento social
que defende bandeiras anticristãs, como o aborto, do que nas Escrituras. A sua
nascente vem do feminismo e não das Sagradas Letras. O complementarismo tende
a ser mais bíblico, seus pensamentos são defendidos pelos pais da igreja, incluindo
o apostolo Paulo, e podem ser facilmente deduzidos das Escrituras.
Para sermos honestos, não devemos generalizar achando que todos que
defendem a ordenação feminina são adeptos dos pensamentos feministas. Como o
próprio Augustus Nicodemus disse na conclusão de seu artigo:

É claro que nem todos os que defendem a ordenação de mulheres concordam com tudo
que se contém na agenda do movimento feminista cristão. É preciso deixar isto muito
claro. Conheço pessoalmente diversos irmãos preciosos que são a favor da ordenação
de mulheres ao pastorado, mas que repudiam as demais teses do movimento feminista
radical. O que estou descrevendo aqui principalmente é a postura dos radicais dentro do
feminismo evangélico.11 (Meu grifo)

A Bíblia nos ensina que a mulher nasceu para complementar o papel do


homem, nasceu para ser a sua ajudadora idônea. “Disse mais o Senhor Deus: Não
é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.
Gênesis 2:18” (Meu grifo). E para o bem da mulher e da igreja devemos obedecer a
ordem estabelecida pela criação.
Calvino utiliza duras, mas verdadeiras palavras ao dizer em seu comentário: “E
assim, para uma mulher usurpar o direito de ensinar seria o mesmo que confundir a
terra e o céu. É por isso que ele lhes ordena a permanecerem dentro dos limites de
sua condição feminina.”12

10
HENDRIKSEN, 2011, P 139. 140.
11
Lopes, 2011, < http://tempora-mores.blogspot.com/2011/12/o-feminismo-cristao-como-tudo-comecou.html>.
Acesso em: 20 mai. 2020.
12
CALVINO, 2009, p 71
Inegavelmente existe uma influência muito forte do feminismo moderno no
posicionamento de alguns igualitaristas, por isso devemos rejeitar essas ideias e
todas as outras que contrariam os ensinamentos Bíblicos, pelo bem da igreja e para
a Glória de Deus.
COMPLEMENTARISM OR EQUALITARISM: WHAT DO THE SCRIPTURES SAY?

ABSTRACT
In this article we will study and analyze the role of women and men in the
body of Christ. We will look at feminist thinking and its influence on the church and
society, and how it has affected and still affects Christian understanding of the role of
women and men. We will do an analysis of biblical texts to try to understand what the
Scriptures tell us about this subject. We will not try to approach the subject with the
utmost depth, but we will succinctly seek to list important points of the discussion
between complementary and egalitarians.

KEYWORDS
Complementarism; Feminism; Woman; Man; Equality; Helper;

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