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A TRIBUTAÇÃO DE RENDIMENTOS EM ESPÉCIE A TÍTULO DE

IRT EM ANGOLA
A FALTA DE REGULAMENTAÇÃO ESPECÍFICA NO CIRT
Por: Denilson Jota António1

RESUMO

Nas sociedades modernas, com formas de trabalho e de rendimento evoluídas, os


chamados rendimentos em espécie entendidos como formas não monetárias que as
empresas encontraram, de acordo com a legislação, de satisfazer as necessidades
pessoais dos seus trabalhadores e, assim servirem de complemento à remuneração
monetária atribuída, aos poucos distanciando-se das formas mais tradicionais, impõe-se
a existência de um sistema fiscal igualmente dinâmico, que se adapte a novas
realidades, de modos a evitar fugas ao fisco e que a tributação, de forma mais justa,
espelhe a capacidade contributiva dos sujeitos passivos das relações jurídico-tributárias

Neste trabalho, sob o tema “A Tributação de Rendimentos em Espécie a Título de IRT 1

em Angola - A Falta de regulamentação Específica no CIRT” abordamos o problema da


falta de regulamentação específica para a tributação de rendimentos em espécie, as
dificuldades que causa, bem como propostas de soluções que se mostram adequadas
para o problema.

Palavras-Chave: IRT; Rendimentos em Espécie; Tributação

1
Jurista, Mestrando em Direito Económico, Professor Assistente, Secretário da ECODIMA e Consultor
Jurídico e Advogado Estagiário na Sociedade de Advogados Edmundo Miguel e Associados.
E-mail: denilsonjotaantonio@gmail.com

Tel.: (+244) 924433461 / 998882019


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CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO
1. INTRODUÇÃO

O imposto sobre o rendimento do trabalho, é, em regra, um imposto que atenta para a


capacidade contributiva do sujeito passivo da relação jurídico-tributária. Com efeito, e
para que a tributação seja efectivamente segundo a capacidade contributiva estabelece-
se uma base de tributação larga, abrangendo variadíssimas, se não todas, as formas de
rendimento. É o que podemos depreender da incidência objectiva do Imposto Sobre o
Rendimento do Trabalho em Angola, nos termos do artigo 1.º da Lei n.º 18/14 de 22 de
Outubro Código do Imposto sobre o Rendimento do Trabalho e da Lei n.º 28/20 de 22
de Julho, Lei que Altera o Código do Imposto Sobre o Rendimento do Trabalho.

A base tributária, alargada nestes termos, é voltada, não só para expressar a real
capacidade contributiva dos sujeitos passivos, bem como evitar a possibilidade de fuga
ao fisco, através da manipulação aquando da classificação de determinados tipos de
renda.

2
Todavia, por lacuna voluntária ou involuntária, muitas formas de rendimento não
conhecem forma específica para a sua tributação, forma que importava haver pela
especificidade que se impõe, afastando-as do regime normal de tributação de IRT.

É caso do que acabamos de narrar a tributação de rendimentos em espécie, em que,


além da remuneração em numerário, podem ser conferidos aos trabalhadores bens
moveis ou imóveis, de utilização instantânea ou duradoura, ou qualquer outra forma de
vantagem em virtude do vínculo laboral existente.

Efectivamente, por se consubstanciar em benefícios oriundos do trabalho, atribuídos


pela entidade empregadora, estamos diante de um rendimento em espécie, todavia,
questiona-se deverá tal bem ser tributado nos mesmos termos em que são tributados os
salários ou outros rendimentos monetários ou há para tais formas de rendimento outra
forma de tributação?

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1.1. IMPORTÂNCIA DA PESQUISA

Os Estados modernos no geral, e Angola em particular, têm por base determinados


princípios que norteiam toda a actuação dos entes dotados de poderes públicos, bem
como a interacção entre os demais sujeitos de direito. Dentre os referidos princípios,
importa aqui e agora evidenciar o direito à propriedade priva.

Grosso modo, o direito a propriedade consiste na permissão normativa plena e exclusiva


para aproveitamento de uma coisa.2 E em virtude deste direito, recai sobre todos os
demais sujeitos de direito, tanto privados quanto públicos o dever jurídico negativo ou
de omissão, sendo vetado o direito de intromissão indevida na esfera patrimonial de
outrem, salvo expressa disposição legal em sentido diverso.

Dai que, os impostos, sendo uma forma legítima de restrição ou de afectação a


propriedade privada de outrem, obedecem o princípio da legalidade. Para que
determinada obrigação tributária, e consequente existência de posição activa do Estado
na relação jurídico-tributária seja tida como legítima, é necessária expressa
regulamentação legal neste sentido. 3

Com efeito, e para a defesa da propriedade privada, importa aferir em que termos o
Estado tem direitos tributários sobre bens ou rendimentos em espécie, para que tal
tributação não seja ávida como ilegítima intervenção na esfera e propriedade privada de
particulares.

Por outro lado, a devida regulamentação e tributação de rendimentos em espécie


aumenta as receitas tributárias do Estado, pois será mais um ponto a acrescentar na
matéria colectável, e eliminaria uma forma de fuga ao fisco, achegando-se assim, aos
conceitos de justiça contributiva

Outrossim, o estudo do tema pode contribuir para as opções político-legislativas,


orientando formas de resolver uma situação propiciada por uma lacuna legal. Poderá
igualmente contribuir cientificamente com a integração de uma lacuna bibliográfica,
pois, verifica-se escassa bibliografia abordando a questão, apesar da sua imponência.

2
Vide. MIGUEL, Edmundo; Lições e Práticas de Teoria Geral do Direito Civil; Luanda; 2018; pág 107

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1.2. PROBLEMATIZAÇÃO DA PESQUISA

Imaginemos, por exemplo, que determinado trabalhador tenha adquirido, a título de


rendimento em espécie, um veículo automóvel. O trabalhador em causa, aufere, como
rendimento em dinheiro o montante de AKZ 500.000, 00. O veículo, objecto de
aquisição, seja avaliado em AKZ 15.000.000,00. Ou ainda que tenha adquirido uma
residência no valor de 250.000.000,00.

Podemos facilmente depreender que tais bens não podem ser tributados nos moldes em
que são tributados os rendimentos em dinheiro. Primeiro, porque em regra, são
indivisíveis, não se pode retirar uma percentagem da casa ou do carro, para pagamento
de Imposto Sobre o Rendimento do Trabalho. Segundo, qualquer operação equiparável
aos termos mencionados retiraria a utilidade e a função do rendimento em espécie,
como por exemplo, vender-se o carro ou a casa para pagamento dos respectivos
Impostos.

Ficando por se responder, como se procede o pagamento dos Impostos Sobre


Rendimento do Trabalho, quando tal rendimento seja pago em espécie? 4

1.3. BREVE REFEÊNCIA SOBRE A METODOLOGIA E A ESTRUTURA DO


TRABALHO

Para responder a tal questão empreendemos em pesquisas documentais e bibliográficas


resultando no presente trabalho estruturado em quatro capítulos, sendo que no primeiro
trazemos questões introdutórias, no segundo apresentaremos a fundamentação teórica
falando sobre o quadro legal do imposto sobre o rendimento do trabalho em angola, no
terceiro capítulo abordamos sobre os rendimentos em espécie e a sua tributação em
outros ordenamentos jurídicos, e no quarto capítulo apresentaremos as nossas
conclusões e sugestões.

A metodologia escolhida para a pesquisa foi o método dedutivo. Temos como ponto de
partida a generalidade das leis, para chegar a conclusões de situações concretas da
relação jurídica tributária, emergentes da tributação de rendimentos em espécie, a título
de Imposto Sobre o Rendimento do Trabalho.

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2. RENDIMENTOS EM ESPÉCIE

Rendimentos em espécie são formas não monetárias que as empresas encontraram, de


acordo com a legislação, de satisfazer as necessidades pessoais dos seus trabalhadores e,
assim servirem de complemento à remuneração monetária atribuída.

No ordenamento jurídico angolano não existem dispositivos legais específicos que


regulam a tributação de rendimentos em espécie, analisemos o tratamento dado a esta
questão no ordenamento jurídico português.

Em sede de imposto sobre rendimentos em espécie em Portugal, revela particular


importância o artigo 24.º do CIRS, que aqui passamos a transcrever e a analisar as
situações que dele podem resultar

Decreto-Lei nº 198/2001 de 03-07-2001

________________________________________

CÓDIGO DO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DAS PESSOAS 5


SINGULARES

CAPÍTULO II - Determinação do rendimento colectável

SECÇÃO I - Regras gerais

----------

Artigo 24.º - Rendimentos em espécie

1 — A equivalência pecuniária dos rendimentos em espécie faz-se de acordo com


as seguintes regras, de aplicação sucessiva:

a) Pelo preço tabelado oficialmente;


b) Pela cotação oficial de compra;
c) Tratando-se de géneros, pela cotação de compra na bolsa de mercadorias de
Lisboa ou, não existindo essa cotação, pelo preço médio do respectivo ano ou do último
determinado e que constem da estiva camarária;

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d) Pelos preços de bens ou serviços homólogos publicados pelo Instituto
Nacional de Estatística;
e) Pelo valor de mercado, em condições de concorrência.

2 — Quando se tratar da utilização de habitação, o rendimento em espécie


corresponde à diferença entre o valor do respectivo uso e a importância paga a esse
título pelo beneficiário, observando- se na determinação daquele as regras seguintes:

a) O valor do uso é igual à renda suportada em substituição do beneficiário;


b) Não havendo renda, o valor do uso é igual ao valor da renda condicionada,
determinada segundo os critérios legais, não devendo, porém, exceder um sexto do total
das remunerações auferidas pelo beneficiário;
c) Quando para a situação em causa estiver fixado por lei subsídio de
residência ou equivalente quando não é fornecida casa de habitação, o valor de uso não
pode exceder, em qualquer caso, esse montante.

3 — No caso de empréstimos sem juros ou a taxa de juro reduzida, o rendimento 6


em espécie corresponde ao valor obtido por aplicação ao respectivo capital da diferença
entre a taxa de juro de referência para o tipo de operação em causa, publicada
anualmente por portaria do Ministro das Finanças, e a taxa de juro que eventualmente
seja suportada pelo beneficiário.

4 — Os ganhos referidos no n.º 7) da alínea b) do n.º 3 do artigo 2.º consideram-se


obtidos, respectivamente:

a) No momento do exercício da opção ou de direito de efeito equivalente,


correspondendo à diferença positiva entre o valor do bem ou direito nessa data e o preço
de exercício da opção, ou do direito, acrescido este do que eventualmente haja sido pago
pelo trabalhador ou membro de órgão social para aquisição da opção ou direito;
b) No momento da subscrição ou do exercício de direito de efeito equivalente,
correspondendo à diferença positiva entre o preço de subscrição ou de exercício do
direito de efeito equivalente para a generalidade dos subscritores ou dos titulares de tal
direito, ou, na ausência de outros subscritores ou titulares, o valor de mercado, e aquele

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pelo qual o trabalhador ou membro de órgão social o exerce, acrescido do preço que
eventualmente haja pago para aquisição do direito;
c) No momento da alienação ou da renúncia ao exercício, a favor da entidade
patronal, de opções, direitos de subscrição ou outros de efeito equivalente,
correspondendo à diferença positiva entre o preço ou o valor da vantagem económica
recebidos e o que eventualmente haja sido pago pelo trabalhador ou membro de órgão
social para aquisição das opções ou direitos;
d) No momento da recompra dos valores mobiliários ou direitos equiparados,
pela entidade patronal, correspondendo à diferença positiva entre o preço ou o valor da
vantagem económica recebidos e o quantitativo que tiver sido considerado como valor
daqueles bens ou direitos, nos termos da alínea a), ou como preço de subscrição ou de
exercício do direito para a generalidade dos subscritores ou dos titulares do direito, ou
valor de mercado, nos termos da alínea b).

5 — Quando se tratar da atribuição do uso de viatura automóvel pela entidade


patronal, o rendimento anual corresponde ao produto de 0,75% do seu custo de
aquisição ou produção pelo número de meses de utilização da mesma. 7

6 — No caso de aquisição de viatura pelo trabalhador ou membro de órgão social, o


rendimento corresponde à diferença positiva entre o respectivo valor médio de mercado
considerado pelas associações do sector automóvel e o somatório dos rendimentos
anuais tributados como rendimentos decorrentes da atribuição do uso com a importância
paga a título de preço de aquisição.

3.1. UTILIZAÇÃO DE HABITAÇÃO FORNECIDA PELA ENTIDADE


PATRONAL/SUBSÍDIO DE RESIDÊNCIA

O n.º 4 da alínea b) do n.º 3, do artigo 2.º do CIRS, dispõe que são considerados ainda
rendimentos do trabalho dependente os subsídios de residência ou equivalentes ou a
utilização de casa de habitação fornecida pela entidade patronal. Por sua vez, o n.º 2 do
artigo 24.º estabelece, nomeadamente, a forma de calcular o rendimento colectável na
esfera do trabalhador, estipulando que o rendimento em espécie corresponde à diferença
entre o valor do respectivo uso e a importância paga a esse título pelo beneficiário, e
que, não havendo renda, o valor do uso é igual ao valor da renda condicionada,

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determinada segundo os critérios legais, não devendo, porém, exceder um terço do total
das remunerações auferidas pelo beneficiário.

O valor de uso é a renda suportada em substituição do beneficiário. Não existindo renda,


o valor de uso é igual ao valor da renda condicionada, sendo que esta não deverá
exceder 1/3 do vencimento do colaborador.

Dado que se trata de um rendimento em espécie, não está sujeito a retenção na fonte,
conforme o disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 99.º do CIRS, devendo, contudo, o
respectivo valor constar do recibo de remuneração e da DMR com o código A63.

Note-se que este rendimento em espécie é alvo de tributação em sede da Segurança


Social, conforme o previsto na alínea m) do n.º 2 do artigo 46.º - Delimitação da base de
incidência contributiva, do Código dos Regimes Contributivos.

Tributação Artigo 24 nº 2 CIRS:

A tributação na esfera do trabalhador (em sede de IRS) corresponde à diferença entre o


valor do uso e a importância paga a esse título pelo beneficiário. 8

O valor de uso é a renda suportada em substituição do beneficiário. Não existindo renda,


o valor de uso é igual ao valor da renda condicionada, sendo que esta não deverá
exceder 1/3 do vencimento do colaborador

3.2. EMPRÉSTIMOS CONCEDIDOS PELA ENTIDADE PATRONAL SEM


JUROS OU A TAXA REDUZIDA

Em casos excepcionais e mediante contrato de mútuo, as empresas emprestam quantias


aos seus colaboradores, sem taxa de juro associada ou a taxa de juro reduzida.

De acordo com o disposto no n.º 5 da alínea b) do n.º 3 do artigo 2.º, do CIRS, são
também considerados rendimentos de trabalho dependente os resultantes de
empréstimos sem juros ou a taxa de juro inferior à de referência para o tipo de operação
em causa, concedidos ou suportados pela entidade patronal, com excepção dos que se
destinem à aquisição de habitação própria permanente de valor não superior a €
180.426,40 e cuja taxa não seja inferior a 70% da taxa mínima de proposta aplicável às

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operações principais de refinanciamento pelo Banco Central Europeu, ou de outra taxa
legalmente fixada como equivalente.

O cálculo do rendimento é feito do modo seguinte:

No caso de empréstimos concedidos pela entidade patronal sem juros ou a taxa de juro
reduzida, o rendimento é calculado subtraindo o resultado da aplicação ao respectivo
capital da taxa de juro que eventualmente seja suportada pelo beneficiário, ou

Ao resultado do valor obtido por aplicação a esse capital da taxa de juro de referência
para o tipo de operação em causa, publicada anualmente por portaria do membro do
Governo responsável pela área das finanças, ou

Na falta de publicação da portaria acima referida, 70% da taxa mínima de proposta


aplicável às operações principais de refinanciamento pelo Banco Central Europeu, ou de
outra taxa legalmente fixada como equivalente, do primeiro dia útil do ano a que
respeitam os rendimentos.

No caso de empréstimos concedidos ao trabalhador por outras entidades, o rendimento 9


corresponde à parte dos juros suportado pela entidade patronal.

Dado que se trata de um rendimento em espécie, o mesmo não está sujeito a retenção na
fonte (alínea a) do n.º 1 do artigo 99.º do CIRS), devendo o mesmo ser inscrito no
recibo de remuneração e constar da DMR, sob o código A64, assim como do
documento comprovativo das importâncias devidas no ano anterior, a entregar ao sujeito
passivo, até 20 de Janeiro de cada ano.

Este rendimento em espécie não está sujeito a tributação em segurança social, pois não
se encontra previsto no artigo 46.º do Código dos Regimes Contributivos

Tributação Artigo 24 nº 3 alínea a) CIRS:

Nestes casos, a tributação na esfera do trabalhador (em sede de IRS) é calculada pela
diferença entre a taxa de juro de referência para o tipo de operação praticada (publicada
anualmente em portaria pelo Ministro das Finanças) e a taxa de juro efectivamente
suportada pelo beneficiário (no caso de efectivamente existir).

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3.3. ATRIBUIÇÃO DO USO DE VIATURA AUTOMÓVEL PELA ENTIDADE
PATRONAL

Esta é das medidas mais utilizadas pelas empresas, com o objectivo de satisfazer as
necessidades dos colaboradores.

De acordo com o disposto no n.º 9 da alínea b) do n.º 3 do artigo 2.º do CIRS, são
também considerados rendimentos de trabalho dependente, os resultantes da utilização
pessoal pelo trabalhador ou membro de órgão social de viatura automóvel que gere
encargos para a entidade patronal, quando exista acordo escrito entre o trabalhador ou
membro do órgão social e a entidade patronal sobre a imputação àquele da referida
viatura automóvel.

A doutrina constante do Processo: 2364/2018, com despacho concordante da


Subdirectora Geral do IR, de 18-09-2018, clarifica que em sede de IRS, considera-se
rendimento de trabalho dependente, a título de remuneração acessória, o que resulta da
utilização pessoal pelo trabalhador de viatura automóvel que gere encargos para a
entidade patronal, quando exista acordo escrito entre o trabalhador e a entidade patronal 10
sobre a imputação àquele da referida viatura automóvel, de acordo com o estipulado na
subalínea 9) da alínea b) do n.º 3 do artigo 2.º do Código do IRS.

Por conseguinte, na esfera do trabalhador esse rendimento de trabalho dependente, que


tem a natureza de rendimento em espécie, é apurado anualmente nos termos do disposto
no n.º 5 do artigo 24.º do Código do IRS, ou seja, o rendimento anual corresponde ao
produto de 0,75 % do valor de mercado da viatura, reportado a 1 de Janeiro do ano em
causa, pelo número de meses de utilização da mesma.

Na determinação do rendimento, o n.º 7 do artigo 24.º considera como valor de mercado


o que corresponder à diferença entre o valor de aquisição e o produto desse valor pelo
coeficiente de desvalorização acumulada constante de tabela aprovada pela Portaria n.º
383/2003, de 14 de maio.

Como se trata de um rendimento em espécie, o mesmo não está sujeito a retenção


conforme determina o n.º 1 do artigo 99.º do CIRS, devendo, porém, constar do recibo
de remuneração e da DMR com o código A66.

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No que concerne à Segurança Social, de acordo com o disposto na alínea s) do n.º 2 do
artigo 46.º - Delimitação da base de incidência contributiva, e no n.º 1 do artigo 46.º-A –
Uso pessoal de viatura automóvel, ambos do Código dos Regimes Contributivos do
Sistema Previdencial de Segurança Social (CRCSPSS), integra a base de incidência
contributiva.

O n.º 4 do artigo 46.º-A estabelece que o valor sujeito a incidência contributiva


corresponde a 0,75% do custo de aquisição da viatura.

Não podemos deixar de salientar a dicotomia no que se refere à base de incidência para
efeitos de IRS e da Segurança Social. No caso do IRS o rendimento corresponde à
diferença entre o valor de aquisição e o produto desse valor pelo coeficiente de
desvalorização acumulada constante de tabela aprovada pela portaria n.º 383/2003, de
14 de maio.

Note-se que em qualquer caso, por forma a assegurar que a viatura adquirida pelo
trabalhador ou membro de órgão social mantenha um valor residual mínimo, da
aplicação do coeficiente de desvalorização constante da tabela, nunca poderá resultar 11
um valor inferior a 10% do seu valor de aquisição no ano da matrícula.

No que concerne à Segurança Social, o valor sujeito a incidência contributiva


corresponde a 0,75% do custo de aquisição da viatura, sem qualquer desvalorização,
independentemente do número de anos da mesma.

Aquisição pelo trabalhador ou membro de órgão social, por preço inferior ao valor de
mercado, de qualquer viatura que tenha originado encargos para a entidade patronal

De acordo com o disposto no n.º 10 da alínea b) do n.º 3 do artigo 2.º do CIRS, são
ainda considerados rendimentos do trabalho dependente os resultantes da aquisição pelo
trabalhador ou membro de órgão social, por preço inferior ao valor de mercado, de
qualquer viatura que tenha originado encargos para a entidade patronal.

Na determinação do rendimento, o n.º 6 do artigo 24.º estabelece que no caso de


aquisição de viatura pelo trabalhador ou membro de órgão social, o rendimento
corresponde à diferença positiva entre o respectivo valor de mercado e o somatório dos

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rendimentos anuais tributados como rendimentos decorrentes da atribuição do uso com
a importância paga a título de preço de aquisição.

Por sua vez, o n.º 7 deste artigo 24.º estabelece que na determinação dos rendimentos
previstos nos n.ºs 5 e 6, considera-se valor de mercado o que corresponder à diferença
entre o valor de aquisição e o produto desse valor pelo coeficiente de desvalorização
acumulada constante de tabela aprovada pela Portaria n.º 383/2003, de 14 de maio.

Salientamos, ainda, que de acordo com o n.º 13 do artigo 24.º, para efeitos do n.º 10 da
alínea b) do n.º 3, presume-se que a viatura foi adquirida pelo trabalhador ou membro
do órgão social, quando seja registada no seu nome, no de qualquer pessoa que integre o
seu agregado familiar ou no de outrem por si indicada, no prazo de dois anos a contar do
exercício em que a viatura deixou de originar encargos para a entidade patronal.

Como se trata de um rendimento em espécie, o mesmo não está sujeito a retenção na


fonte conforme determina o n.º 1 do artigo 99.º do CIRS, devendo, porém, constar do
recibo de remuneração e da DMR com o código A67.
12
Tributação Artigo 24 nº5 CIRS:

Aqui a tributação na esfera do trabalhador (em sede de IRS) é efectuada sobre o


rendimento anual que corresponderá ao produto de 0,75% sobre o valor de aquisição da
respectiva viatura.

3.4. ATRIBUIÇÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (NORMALMENTE,


ACÇÕES) A CONDIÇÕES VANTAJOSAS PARA OS TRABALHADORES OU
MEMBROS DE ÓRGÃOS SOCIAIS

Segundo o n.º 7 da alínea b) do n.º 3 do artigo 2.º são considerados rendimentos do


trabalho dependente dos ganhos derivados de planos de opções, de subscrição, de
atribuição ou outros de efeito equivalente, sobre valores mobiliários ou direitos
equiparados criados em benefício de trabalhadores ou de membros de órgãos sociais…

Não podemos, porém, deixar de ter em atenção o disposto no artigo 43.º-C – Incentivo
fiscal à aquisição de participações sociais pelos trabalhadores, do Estatuto dos
Benefícios Fiscais.

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A doutrina constante do processo 3545/2002, com despacho concordante do Sr.
Director-geral, de 2004-05–17, exarado no parecer n.º 44/2004, do Centro de Estudos
Fiscais, clarifica “que a subscrição de acções, pelos trabalhadores de determinada
sociedade, em condições privilegiadas (abaixo do valor de mercado), tem subjacente a
existência de um vínculo laboral, constituindo um benefício auferido em razão da
prestação do trabalho, sendo um rendimento do trabalho dependente enquadrável no
artigo 2.º, n.º 3, alínea b), n.º 7 do CIRS.

Nesta situação devem ser aplicadas as regras de tributação definidas para a categoria de
rendimentos do trabalho dependente havendo, no entanto, dispensa de retenção na fonte
do imposto, ao abrigo do artigo 99.º, n.º 1 do CIRS.”

De acordo com o disposto na alínea b) do n.º 4 do art.º 24º do CIRS, o momento em que
se consideram obtidos os ganhos, resultantes da aquisição das acções, é o da subscrição.

Note-se, porém, que os ganhos obtidos, posteriormente, com a alienação das acções
consubstanciam mais-valias a tributar de acordo com o regime geral e são constituídos
pela diferença entre o valor de realização e o valor de aquisição, tal como se encontra 13
previsto nos n.ºs 3 e 4 do artigo 10º do CIRS.

Atendendo de que se trata de um rendimento em espécie, e perdoe-se-nos a


redundância, o mesmo não está sujeito a retenção na fonte (alínea a) do n.º 1 do artigo
99.º do CIRS), devendo o mesmo ser inscrito no recibo de remuneração e constar da
DMR, sob o código A65, assim como do documento comprovativo das importâncias
devidas no ano anterior, a entregar ao sujeito passivo, até 20 de Janeiro de cada ano.

No que concerne à Segurança Social, nos termos do disposto na alínea j) do artigo 48.º -
Valores excluídos da base de incidência, do Código Contributivo, não integram a base
de incidência contributiva as importâncias respeitantes ao desconto concedido aos
trabalhadores na aquisição de acções da própria entidade empregadora.

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CAPÍTULO IV – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Na nossa singela investigação sobre a tributação de rendimentos em espécie a título de


Imposto sobre o Rendimento do Trabalho em Angola, concluímos que inexiste
regulamentação específica para o efeito, o que dificulta, inviabiliza ou mesmo impede a
tributação de tais rendimentos. Por outro lado, verifica-se com grande frequência a
classificação de rendimentos em espécie como sendo custos fiscalmente dedutíveis,
significando maior perda de receitas fiscais em benefício do Estado.

Iniciamos o nosso estudo sobre o Imposto Sobre o Rendimento do Trabalho em Angola,


pela sua incidência, grupos de tributação, taxas e demais questões imponentes para a sua
tributação, analisamos a teoria geral dos rendimentos em espécie e observamos, em sede
de estudos comparados, como outros Estados lidam com a tributação de rendimentos em
espécie, e verificamos que neles a tributação de rendimentos em espécie só se torna
possível pela existência de regras específicas sobre a sua aplicabilidade. Pois, os termos
gerais aplicáveis a remunerações em numerário, são de todo inaplicáveis aos
rendimentos em espécie.
14

Com efeito, somos de sugerir que, para eficácia da Tributação de rendimentos em


espécie em Angola, evitar fuga ao fisco pela concessão de vantagens aos trabalhadores
em natureza diversa, isto é, além do salário em numerário, e assim, concomitantemente,
aumentar as receitas fiscais do Estado, sejam criadas regras específicas que atendam a
falta de disposições legais para a Tributação de Rendimentos em espécie.

Tel.: (+244) 924433461 / 998882019


E-mail: denilsonjotaantonio@gmail.com
Urbanização Nova Vida – Rua n.º 48; prédio 32; Apt. n.º 13

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