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DEPRESSÃO EM MÃES DE CRIANÇAS COM CARDIOPATIA

CONGÊNITA, QUE FORAM SUBMETIDAS À CIRURGIA


CARDIOVASCULAR.

INTRODUÇÃO

No Brasil, a predominância estimada de cardiopatia congênita é de 5,5:1000


nascidos vivos (Guitti, 2000). Apontada entre as mais austeras e perversas doenças
crônicas enfrentadas por crianças, a patologia é responsável por altos índices de
morbidade e mortalidade (Davis, Brown, Bekaman, & Campbell, 1998).
Seu espectro clínico amplo abrange desde deficiências que evoluem de forma
assintomática até aquelas que indicam sintomas complexos reunindo uma série de
malformações anatômicas e funcionais, presentes desde o nascimento da criança
(Pinheiro, da Justa Pinheiro, & Marinho, 2012).
O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico, com distintos níveis de
comprometimento para o paciente, sendo claras as implicações psicológicas aos
envolvidos (Aguiar, Lauritzen, Melo, Azevedo, & Assunção, 2003).
As cardiopatias podem ser diagnosticadas imediatamente após o nascimento da
criança, e nas ocorrências mais urgentes a efetuação de intervenções cirúrgicas é
aconselhada enquanto ainda bebês (Nieweglowski, 2004).
Além da confrontação com a circunstância do bebê ser portador de uma
cardiopatia, há a viabilidade da cronificação do quadro e imposição de cuidados
continuados. As doenças já refletem imprevistos, desordem do costumeiro e urgência no
enfrentamento do desconhecido (Lustosa, 2007). A doença crônica, por sua vez, suscita
ainda profundas mudanças no paciente e na família (Almeida e outros, 2006),
Na maior parte dos casos são as mulheres, mais especificamente as mães, que se
encarregam da posição de cuidadoras nas famílias. Elas permanecem mais tempo no
hospital e se relacionam mais com a equipe profissional. A relação mãe-bebê
compreende uma unidade funcional em que um é o suporte vital para propiciar o
equilíbrio do outro (Castro & Piccinini, 2002).
O cansaço, o tempo indeterminado de estada no espaço hospitalar e o estresse
relacionado a elementos de personalidade de cada mãe são capazes de motivar o
surgimento, manifestação ou intensificação de sintomas depressivos e ansiosos nessas
cuidadoras (Lima, 1999).
No contexto hospitalar, a passagem ou permanência em Unidade de Tratamento
Intensivo (UTI) pediátrica é fator imensamente estressante para o paciente e seus
familiares. O universo de UTI é marcado por normas rígidas, muita luz e barulho de
alarme dos monitores, restrição de horários de visitas e impasses de comunicação com a
equipe. Assim, é apontado demasiadamente impactante para as mães, sendo comum o
relato de insônia, falta de apetite, desconforto mental e depressão nas mães (Dittz e
outros, 2008).
Diante do exposto, é possível notar que a vivência, desde o recebimento do
diagnóstico de cardiopatia congênita até a hospitalização em UTICP e tratamento
cirúrgico do filho, é definida por abundante sofrimento emocional das mães, o que
comprova a importância de um suporte emocional que as amparem na travessia desse
período, para que possam atingir a aceitação e superação do momento, minimizando
consequências emocionais, sendo necessário, então, o cuidado integral não só do
paciente, mas também da mãe (Pavão et al, 2016).

Palavras-chave: 1. Depressão 2. Ansiedade 3. Cardiopatia congênita. 4. Maternidade 5.


Mãe 6. Cardiopata.

JUSTIFICATIVA.

Segundo Kohlsdorf, diversas pesquisas que averiguam como os cuidadores


enfrentam a enfermidade pediátrica mostraram que esses sofrem uma imensa dose de
eventos estressores.
A confirmação do diagnóstico, as alterações no estilo de vida tanto do paciente
quanto da família, o medo da morte, consultas regulares, absenteísmo escolar, anuência
a nova terapêutica medicamentosa e seus efeitos colaterais, hospitalizações frequentes
tanto para realização de exames quanto procedimentos invasivos, limitações das
atividades físicas, a permanência na UTI no pós-operatório, a privação de sono, barulho
de aparelhos, separação entre a criança e família, além da dependência são elementos
estressores que promoverão as mais fartas variações emocionais (Paiva, 1998).
O método de tratamento da cardiopatia congênita é permeado por inúmeras
internações, podendo ser experimentada como uma circunstância estressante pelos
acompanhantes (Yoshihara e outros 2005).
Há numerosos estudos ressaltando pacientes adultos, porém, os casos de
pacientes pediátricos e seus cuidadores pouco tem sido averiguado.
Nesse cenário, a psicologia e seus profissionais assumem papel fundamental na
compreensão e entendimento desta temática, pois podem assessorar diretamente o
progresso da qualidade de vida dos pacientes e suas famílias, por desfrutar de
mecanismos para apurar, analisar e, posteriormente, conceber intervenções específicas
com o propósito de reduzir o efeito negativo causado pela situação. Ademais, o vigente
estudo conseguirá proporcionar subsídios para que os profissionais de saúde ativos com
esses indivíduos sejam capazes de possibilitar um acolhimento empático, além de
viabilizar a adequação de intervenções psicológicas e ações de humanização na unidade.

OBJETIVO.

Este estudo tem por objetivo averiguar a ocorrência de sintomatologia


depressiva, considerando os níveis de ansiedade e desesperança em mães de bebês
cardiopatas em processo pós-cirúrgico, internados em UTI pediátrica do Hospital da
Criança e Maternidade de São José do Rio Preto – São Paulo.

METODOLOGIA.

A instituição sede em que este estudo foi feito é uma Unidade de Terapia
Intensiva de um hospital tido como referência regional no diagnóstico e tratamento de
doenças cardíacas infantis.
O estudo será preliminarmente autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Hospital da Criança e Maternidade de São José do Rio Preto - São Paulo. Todas as
participantes assinarão o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A amostra será
instituída por conveniência com todas as mães de bebês que estiverem internados na
UTI.
Refere-se a um estudo descritivo, exploratório, de corte transversal e abordagem
quantitativa.
Três instrumentos das Escalas Beck (Cunha, 2001) serão empregados em
conjunto, dado que, depressão e ansiedade muitas vezes coincidem e são vinculadas à
desesperança: inventários de depressão (BDI), de ansiedade (BAI) e de desesperança
(BHS). Desenvolver-se-á uma investigação com os subsequentes pontos de corte: para
sintomas depressivos será utilizado o ponto de corte maior ou igual a 12; para
categorização de sintomas ansiosos o ponto de corte será maior ou igual a 10; e para a
desesperança, utilizar-se-á ponto de corte igual ou maior que 5.
Consoante o manual DSM-IV (APA, 2002) os sintomas graves podem debilitar a
vida do sujeito e interferir na aptidão de autocuidado e de autossustentação da vida, os
sintomas moderados exprimem prejuízo na ocupação, apontando problemas para
executar ou efetivar tarefas obrigatórias, habituais ou rotineiras e os sintomas leves
assinalam perda no lazer e na vida social; e os considerados mínimos não são
discrepantes.

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