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Jeacl GOMBRICH ‘A “Fels Ei OR FAR © autre seitoraempeniaan-s para citar adequadnente dar 0 devide csito| ‘todos os decane ds dts ators de qualquer material tlizado nese iva. fispondo-se a poses acertos cas, inavertiamen wentiagso de algum dees tena sito omit. [No ¢responstildade da editors ner do autor events dao ow pers 1 psoas ou bens que tenhar oigem no uso desta pusicagao, Original tite: Te Sor of vt {© 1980, 1958, 1960, 1965, 172, 1978, 1984, 1989, 19 Phaidon Press Limited English ext © 1980, 1958, 1960, 1966, 1972, 1978, 1984, 1985, 1995 B.- Gombrich “This eon is published by LTC — Livros Técaicos = Ceaticos Editor Lida under ience from Phaidon Press Limited, Regent's Whar, All Saints Steet, London, NI9PA, UK. ww pain com Fit plished 1999, Reprinted 2002, 2007, 2009, 20102011 [LTC — Livtos Téeniose Cienificos Bator Lda “Travessa da Ouvion 11 Rio de ner, 2, 20040.040 Brasil ISBN 978-45.216-1185-1 Allright reserved No part ofthis publication may be reproduced stove in a reieval system ‘rita, in any form or By any means, eet, mechanics photocopying. ecording ‘rashes, without he per permission of Phaldon Press Limited Copyright © 1999 by Phaidon Press Limited LIC Liveos Teeniens e Chntiens Raitra Lida ‘ima editors tntegeante do GEN I Geupo Earl Nacional “ravessa da Ouvidor, 11 Rio de cz, RI" CEP 20040-010, ‘eles 21-3548.0770/ 11-S080-0770, se 21-3540-0896 et@grupogen com br sve tceior.com be iris exclusvos de vend da 16. ego em lingua potugvesaem todo tent asic ecrvados& LTC — Livts Teese Centicos Eator Lid Reservados todos os dit. proibida a duplicago ou eprodug deste volume, no todo ‘vem parte, so quiero por qualquer meios ettnico, mecnico, savas, TotocSpa stbuigo na internet ou ours) sem perso express da Editor. Printed in China CIP-BRASIL. CATALOGACAO.NA-FONTE, SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RI Gorin Ted, CGombvich, EH. (Ext Hans), 1909-2001 ‘Aisa Ja ate. H, Geis tad Alvaro Cube -[Reinpe) - Ro de Jani tc, 2011. ‘Teadogio de: The story of at, 16th ed ul ibiogaia ISBN 978-85.2161185-1 1. Ae isi, Titl, 05.3894, cpp 08 eDu409 INTRODUGAO Sobre ane ¢ artistas [Nad existe realmente a que se pos dar 0 nome Arce. Existem somente artista Outrora, eran homens que apanhavam im paonhade de terra colorida e com ela modelavam toseamente as formas de um bisio na parede dle uma eaverna hoje, alguns compram suas tintas e desenham carazes para tapumes; eles faziam ¢ fizem muitas outsscoiss. Nio prejuica ningun dh o nome de arte a todas ess ativdades, desde que se conserve em mente que tl palavea pode sigaiticar iss muito divers, em tempos e higares dlifeentes,e que Arte com A maitsculo nio existe. Na verde, Arte coms A raigsculo pasion a seralgo como um bicho-papo, como um ftiche Podemos esmagar um artista dizendo-Hhe que o que ele acaba de fazer pode ser excelente a teu modo, s6 que nio é "Arte" E podenios desconcertt ‘qualquer pessoa que ese) contemplando com delete una tls, declarando ‘ave aguilo que ela tanto aprecis nto & Arte mas uma coisi muito diferente [Na realdade, nio penso que existam quaisquerrazdes erradas para se sgosear cet esta om de uma tela, Algwém pode gostar de certa pisagem porque esta Ihe records a tera natal ou de am fetato porque the Jembra uni amigo. Nada hi de errado nisso. Todos nds, quando verios umn quadra, somos faealmente levados a recordar mile uma coisas que iluenciam 0 nosso agiado ou desagrado. Na medida em que ess lembrangas nos ajudam a fru do que vemos, nio temos por que nos preocupar, Sé qitando alguna -ecordacio irelevante nos torn preconceituoror, quando insirivamente voltamos as costs avin quad ‘magnifico de uma cena alpina porque mio gostamos de praticar © lpinismo, € que devemos soncar 0 ness intimo para desvendar as azBes para aaversio que estragam um prazer que, de outro modo, poderiamos ter tid, Existem razaes enradss para no se gostar de uma obra de arte, “Muitas pessoas apreciam ver em quadtos © que também Ihes a nna realdacle. Esta ai uma preferéneia muito natural, Tades gostamos do belo ‘exibido peli nateza ¢ somos gatos aos atins que o preserva em ss ‘obras. Aina, esis mesmos atias nio nos reriminariam pelo nosso gosto, ‘Quando Rubens, 6 grande pintor famengo, Fez um desenho rettatando set flho pequeno (Fig 1), estava por certo orgulhoso da beleza do garoto, ¢ {queria que también 0 admirseeioe. Mas es propensio para admirar‘o tema bonito e atraente & ascetivel de converter-se nim obsticulo, se nos levara fejetar obras que repreentam tm toma menos sedacor.O grande pincor leno Albrecht Diirer ceramente desenhou sua mie (Fig. 2) coma mesma 16 wwrncovcho dlevosto ¢ amor com sue Rabas desenow seu rechonchudogaroo, Seu tstudo da velhice desgatada por preoe , azendo-nos desviar or ahos do retato nto, se lutannes conta 4 repuls insintva, poderemor ser generosan ompensados, pois o desenlo de Diier, em su temendasincerdade, € una grande obra © problema & que gostos padres de beleza variamy muitisimo. As Figs. 5 6 foram pintadas no século XV, e amas representam anjos tocando alae. Muitos preferitio a obra italiana de Melozzo di For (Fig. 5), com sua cativante graciosidade e encante, do sew contemporinco flamengo Hans Merling (Fig 6). Eu pesoalmente gosto de ambas. Talvez se leve um pouco mais de tempo para descobrirabelezaintinseca do anjo ‘de Memling, mas assim que deisarmos de nos perurbar com sua destaiada ¢ linguida deselegincia, & posivel que o considersmosinfinitamente adorive Cis co (© que ocorre com a beleza mbm évilido par a expresio. De fio, aide &a expresso de uma figura no quadeo 0 que nos leva a gostar da ‘obra ou a detesti-a. Algumas pessoas preferem una expresso que elas entendam com fiildade e, poranto, que as comova profndantente Quando o pintor seisentia ieaéano Guido Reni retratow a cabeca de Cristo na cruz (Fig. 7), pretendia, sem vida, que o espectaor encontrsse naquele oso tou a agonia e toda a gléra da Paixio, Muita gente, a0 longo dos séculos subseqientes, hauru fora e console de tal representago do Salvador: O sentimento ali expresso & to soderosa ¢ tio claro que reproclgdes dessa ‘obra podem ser encontrads em capes de beta de estrada © em remotas ‘asa camponesis cujos moradores nada entendem de “Amt. Mas anda que sa intensa expresio de sentimento nos cative, no deveros, por iss, esprezar obna cua expresso talvezseju menos fil de entender, © artista italiano da Made Média que pinto 0 crucifixo (Fig 8) certamente alimentavasentimento to sneer sobre a Paisio quanto Reni, mas devemos aprender primeiro a conhecer os seus méoclos de descnho pata compreender-he os sentiments Depois de ackirimas o entendimento dessa ciferenteslinguagens, poderemos até prefer obras de arte com expressbes menos 6bvias do que a de Reni Assim como alguns preferem pessous que usam poues palates ¢ gestos, dexande algo para ser adivinhado, também hi os que gostam de pinturas ou esculkurs que deixem alguna coisa para conjeturare medltar. Nos periodos mais “primitives”, quando os artisas no eram tio habilidesos quanto hoje em representar rostosegestos Jnumanos, & tanto mais comovente, com freq, ver come tentatam, apesar dis, expressr os sentimentor que queriin transmit. ‘Neste ponto, porém, os prncipiantes geralmeate se defrontam com ‘outa dificuldade. Querem admira a pericia do asa em representa a¢ coisas tal como eles as vem. Gosta mais de pinsuras que “parecer re Nio nego, &claro, que essa & uma consideragio inportante. A pacg a habilidade que contribuem para a reproducio fil do mundo visivel So, por certo, dignas de admiracio, Grandes artitas do pasado dedcara ‘muito trabalho 3 execugio de pintueas em que todos os pormenores, ‘mesmo 0s miniseuls, etio meticulosamente registrados, O estudo de uua lebre na aquarela de Diirer (Fig. 9) constitu dos mais famoxo8 exemplos dessa amoros paciénci. Mas quem se steveria a dizer que © dlesenho de Rembrande de um elefante (Fig, 10) ¢ necessariamente menos perfeito porque mostra menos detalles? Na verde, Rembrandt era ® dotado de um tal poder de maga, que, com alguns tragos do seu gi, nos transite a semsaio da pele egousegoown do eleinte Mas no € o esquematsmo grfico que ahorrece princpalnent a psoas que gostm de quakosparecendo “reat Eas si ainda mas repels por obras que consideam incorretamentedesenbads,sobretudo «quando pertencerm 2 um periofo mais moderio em que o artista “ter a brigaeio de nio cometer semplhants desvios" De fato, mio hi mistrio nenhum a respeto desas distorges ds natureza, sobre a quas ainda fouvimos queias e protestos em dscasdesenvolvendo a arte moder Quem aprecia filmes de Disney ou l&histérias ems quadrinos sabe aco em. Fela aso, Sabe que, 3s vee, & certo descubat coisas de um modo dierent do que ehs se apreseutam 30s oso ohos, modifies ou dstore-las nim ou noutro semi. O camundongo Mickey no se parece ito com um camundongo verdadcito; no entant, as pessoas no escrevem carts indignadas as jas eniteando o compriment da cada de Mickey. Os que penetaty no mundo encatado de Disney no estio ” preocupados com a Ante com A mais, Nio assem a seus filmes mbna Rn armados dos mesiospreconcetos com gic vista una exposiie de ‘Boe 17 pita moder, Mar seu asta modemo deen agua ea sa SCHt™ — rani, eet aque o cere mapa, teapae de Ger (On, seja bi © que pensemos sobre atistas mouernos, uramente ter certezs de que possuem suficientes, ‘onhecimentos para desenbar “corretamente”. Se nio o fizem, sas rads dlevem ser muito semelhantes s de Walt Disney, A Fig, 11 mosets una ‘stampa de uma Histvis Nana ilstrada pelo famoxo pioneira do movimento modernist, Picasso, Por certo ninguém vai encontrar defeitos ness encantadora repretentagio de wina gana com seus fofospintos Mas, a0 desenbar um galo nove (Fig. 12), Pieisso nio se contentou en fazer a mera reprodugio da apattncia fica da ave Quis exprestat sta agressividade, sua insolénca e estupidez. Em ont pals, recorrtt caticatura, Mas que caricatura convincente Piciso criou! posdemos talopando, asstram a cortidas e cagads de montatia, deletaram-se com pinturase gravuras que mostram eavalos desflando, em plena carga em buatalha, ou correndo ates de galgos. Nenhumta deseas pessoas patece ter notado “o que realmente se vé" quando tum cavilo cote, Pinta € sravurs esportivas usualmente mostraram-nos de pemasestcadas em pleno vvb0— como Théodore Gericault, o grande pina francés do século XIX, 6s pintou numa fimoss representagio dis corridas no hipomo de Epsom (Fig. 13). Cerea de 50 anos mais tarde, quando a maquina foxogrifica foi suficientemente aperfeigoads para ober Fotografias de cavalos em ripido movimento, esis fotos provaram que tanta os pintres quanto o pablico ‘etavam erzados o tempo todo. Jamas um cavalo a galope se move do modo que nos patece tio “naturil". Quando as pemnas se erguem do chi, ‘movimentam-se alkemadamente para o impulso seguinte (Fig, 14). Se refletirmos por um instante, concluiremos que diiciknente o animal poderia avancar de outro modo, Entretanto, quando os pintores ‘comeraram a aplicar esa nova descoberta ¢ pintram cavalos correnda ‘como realmentte correm, choveram reclamagSes de que as imagens pareciam exquisitas,ertadas, Isso constitu, sem dvd, um exemplo extremo, mas ervos semelhantes no sio to ratos, em absoluto, como se poderiaimaginar. Todos ns somos inclinados 4 aceitar formas ou cores convencionais como ae inicss comets. Por vezes, as eriangas pensar que as estrelas devem ter 0 formato ester, embora naturalmente ndo 0 tenham. As fesvoas que insistem em que, num quadio, 0 eéu deve ser azul e a grama verde aio diferem muito dessa criangas, Indignam-se a0 ver outras cores nia tel tentarmos esquecer tudo o que ouvimes a respeito de grama verde € seu, ¢ lharmos 0 mundo com se tivéssemosacabado de chegar de outto planeta numa viagem de descoderta, vendo-o pela primeira vez, talvex coneluisemos que as coisis sia suscetveis de apresentar as cores mais surpreendentes. Ora, 0s pincores sentem, 3s vezes, como se estivesiem nest mn de descoberta. Queren: ver o mundo como uma novidade ¢ ejeltar todas as nogdes aceit came e magis amareladas on vermelhus, Nio & fil nos idéis preconcebidas, mas os aristas que melhor conseguem fize-lo produzem geralmente as obras mais excitanes, Fes & que nos ensinam a ver na natutezs novasbelezas de cuj existincia no tinhamos sequer leemos através dels, até mesmo todos 0 preconeeitos sobre a cor rosida da suspeitado, Se os aconpanharmos e apr uum lance de olhos para fora da nossa janela poderi converter-se numa INio existe maior obsticulo 3 fiuigio de grandes obras de arte do que 2 ‘nose relutincia em descartarhibitos e preconceitos. Uma pintura que representa de um modo imprevisto um tema conhecido & muitas vezes ‘ondenada sem outr izio mehor do que nie parecer certs. Quanto mais ‘eres tivermos visto uma histéva representa em arte, mais firmemente ror convenceremos de que ela deve ser sempre epresentada de forma semelhante, A respeito de tem biblicos, emt especial, os sentimentos sio passveis de se manifestarem com inusitads veeméncia, Embora saibamos «que as Escrituras nada nos dizem sobre a aparénciafsca de Jesus, e que Deus mio pode ser visalizado em forma humana, e apesar de aber terem sido os artistas do pasado que craram pela primeita vez as im gumas pesoas tendem a pensar que afatamiento {que nos acostumamos, dss formas tradicionais equvale a uma blast, De fo, foram ustalmente aqueles artists que leram as Bscrituras com a :maior devogaio e ewidado os que tentaran formar em suas mentes wn ‘quadro inteiramente original dos eventos da historia sagrada, Procuraram, tecer todas pinturas que tinham visto © imaginar como as cols deviam ser quando © Menina Jesus permanecia deitado na manjedoura € os pistoresvieram adori-Lo, ou {quando um pescador comegou a pregagio do evangelho, Reepetids vezes ocorrew que tas esforgos de um grande artis, Pa eum texto ago com chocaram e ititarm ps preconceituoss. Uni ‘scindalo” ipico dese género aque tabalhou por volta de 1600, de Recebe cle a encomenda de pintar win quadro de Sao Mateus para o altar de uma igreja em Roma, O sinto deveria ser reprodrido a escrever 0 ‘evangelho e, para mostrar que os ‘evangelhos ram a palavta de Deus, eta que haver no quadro tum anj inspirand a esrita (Caravaggio, que eft entio jovem artist altmente imaginative e decidido, pensou longamente sobre a provivel sitsagio de um velho e pobre ttabalhador, simples publicano, ao ter subitamente que se sentar para eserover um ivto.B, ssi, pintou um quad de Sio Mateus (Fig. 13) calvo € descalgo, os péssjos de tera, agartando desajeitadamente o enorme volume e fanzindo ansiosamente 0 ‘eenho sob 2 tensio da incomurn area de escrever. Ao lado do sao, pintou um jovem anjo que parece {gentilniente guia a msio do trata: ino de ua exianga. Quando C mor setia calocado, 2 peswons ve escandalizaram com que +chegado das alturas € ue jor como una professors faz com a svagio entregou o quadeo 3 gyeja, em ‘cnsideraram uma flta de respeito pelo santo. A pintura nio fi aceita, & Caravaggio teve que tentar de novo. Desta vez, ni0 corre riseos Manteve-s sobre o aspecto que um anjo e am santo deverinn ter Fig, 16). O resultado ainda & wm bom quacro, pois Caravaggio empenhou-se a fondo Figorosamente de acordo com as idéis convencionais da época «em torn-lo vivo e interessante, mas niio podemas deixar de sentir que © ‘nove trabalho foi menos vigoroso, menios honesto e sincero do que © Esta historia ilustra bem o dano que pode set causado por aqueles que repucliam e crticam obras de arte por motivo: ettados. Ey ainda mais importante, provi-nos que o que chamamos “obra de arte” nao & trate cde uma atividade misteriosa, mas objeto feito por seres huimanos para sereshumanos. Um quadro parece bem distante quando pende «moldurado e envidragado de uma parede. E em nortos museus & proibido — muito apropriadamente — tocar nos abjetos expostos. Contudo, originalmente eram feitos para sererstocados e manipulados, «ram motivo de barganha, de querela, de preocupasio. Lembremos fambém que cada uma de suas caracteriticas resultava da decisio pessoal do artista; que este podia ter meditado sobre eas e decidido alteri-hs repetidis vezes, que talveztivesse hesitado entre deixit aquela dtvore a0 findo ou pinti-la de novo na frente, que pod te-se send satisfeito com uma pincelada feliz criando um sibitoe inesperado brilho numa ‘nuver iluminada pelo sol, ¢ que relutantementeincluiu essa ov aquela figura por ia de um comprador. Pois a maioria da pintras © esculturas que hoje se alinham ao longo das paredes dos nossos mnuscus € sgaleras no se destinava a ser exibida como Atte, Foram feitas para umn ‘casio definida e um propésito determinado cue habitava a mente de, atista quando ps mos 3 obra, Por outro ldo, ess idéas sobre as quais nds, os de fora, usualmente nos preocupamos, idéas sobre beleza e expresso, eas raras vezes so citadas pelos artistas. Nem sempre foi assim, mas ocorre crsnte misitos culos ro pasado, e & 0 que voltou a ocorrer agora. Fin pate, isso se deve a que ‘os artistas sio, muitas vezes, pessoas timidas que consideram embaracoso. ‘war palavtas definitivas como “o Belo”. Senti-s-iam uns pedantes se tivessem que falar sobre a “expressio de emogOes” e war eichés semelhantes. Tais coisas do consideradas ponto pacifico pelos artistas, que acham intl discuti-hs, Ess é uma tazio,e, segindo parece, uma boa "zio, Mas hi outra, Nas preocupacdes eotidiansse eoneretas do artist, ‘esssidéias desempenham um papel muito mener do que as pessoas de fora, ppenso eu, suspetariams, Aquilo com que wnt arta e preocupa quando planeja seus quados, fiz seus esbogos ou se intesroga sobre se completou ‘1 no uma tela é algo muito mais dificil de conwerter em palavra. Talvez ele diga que se preocupa em sentir que a sa criagio est “certa”. Ors, somieite quando ententdemos 6 que ele quer dizer com essa modesta palavra, “certo”, & que comegamos a compreender 0 que os artistas realmente prociram, Penso que s6 podemos alimentar a esperanga de compreender iso se ‘hos apoiarmos em nossa expeviéncia particular. & claro, nio somos autistis, ¢ possivel nunca termos tentado pintar una tel, nem, elvez, tid 10 de fizé-lo. Mas iso mio significa, ncesatiamente, que na nos defrontemos com problemas anilogos iqueles uc, somado, consttuem a vida do artista. De fito, estou ansioso por provar que difcilmente se encontta uma 2essoa que nio tenha pelo menos conhecido de longe esse tipo de problema, mesmo que num grat muito modesto. Quem tiver alguma ver tentada compor uim buqué de flores, combinar ou mudar cores, aetescentar um pouco ali trar um pouca acoli teri experimentado essa estranha sensagzo de equilibrar formas € cores sem ser capaz de dizer exatamente que espécie de harmonia esti tentando obter. Presseatimos apenas que wma mancha de vetmelho aqui pode fizer grande diferenga, cu que este azul esti bom por si mesmo mas na com as outrascerese, de sibito, ama pequena haste de folhas verdes vai completar a combinacio “cera”. “Nio toque mais nis”, exclamamos, “agora ei perfeito!” Admito que nem todo muido tio cuidadoro quando se tata de um artanjo de flores, mas quase todos temos algo que queremos realizar na combinagio “certa", Pode ser apenas uma questio de encontiat cinto que combina com wma dleterminada roupa ou nada mais impressionante do que a proporgio correta de pudim e creme, digamos, no prato de um convidad, Em todos esses casos, por mas trsias que sejatn, podemios achar que ui cexcesso ou uma caréncia de mati perturba todo o equilibrio, ¢ que existe ‘uma Gnicarelagdo que € aque que deve se. AAs pessoas que se preocupan assim a respeito de flores, roupas ou apretentagio de pratos podemos chamar exageradamente meticulosss, por considerarmos que tas trivialidades nio justficam tamanka atengio. Mas ‘© que pode, is vezes, ser um rau hibito na vida cotidianae, por ‘conseqiéncia, quase sempre se suprime ou se esconde adquite vida propria no dominio da ate. Cuando se erata de harmonizat formas ou ccombinar cores, um artista deve ser “exageradamente meticuloso” ou ‘exigente ao extremo. Ele & capaz de ver diferencas de tonalidades e de texturas que difcilmente notaiamos. Além diso, sua tarefa & infiniaamente mais complexa do que qualquer uma das que possamos cexperimentar na vida cotiiana, Ele tem nto +6 de equilibrar duas ou tes cores, formas ou gostos, mas fer verdadeiros prodigios de migica com tum sem-niimero dessas coisas. Em sua tela, o artista coloca talvez 4s de matizes e formas cue Ihe cumpre equilibrar até tudo parecer ‘Uma mancha verde poders subitamente parecer amarela demais porque foi posta muito préxina de um azul forte —e le sente que estragou tudo, que existe uma nota dissonante no quadto e seri preciso recomegat. Pade softer uma verdadeita angistia por causa dese oblema, e ficat elletindo durante noites de ins6nia; postarse diante do ‘quadko o dia inteito Centando adicionar um toque de cor aqui ou ali, para fem seguida desfazer tido, emora eu e leitor pudéssemos nio notar diferenga algama entre um acabamento e outro. Mas assim que ele Cconsegui, t10 logo seu esforgo foi Finalmente coroado de éxito, nés todos sentinios que o artista reilzot algo iretocivel, ago a que nada pode ser acreseentado, algo que ests certo — um exemplo de perfeicio fem nosso mundo tio imperfeito Vejamos uma das famosas Madonas de Rafael: a “Virgem no prado por exemplo (Fig. 17). E bel, sem dvd, © ereantadora; a figs e Axdmiravelmente desenhads, ea expressio da Si suavemente 6 olhar nos dois meninos,& inesquet os eshogos de Ratiel para 0 serem eses os detalles que am pontos pacificos. O que Raftel procurou repetidamente eonsepair foi © equilibrio perfeico entre as figuras, uma relago exata que culminasse ‘num tado mais harmonios, No ripido eshoco do canto exquerdo, pensou n deixar o Menino Jesus eaminhar,ollando para ers e pars cima, a Virgem, pousindo Masse observarmos xo (Fig. 18), comegaremos a pereeber no 0 preocuparam. Para ele, tis agpectos Ce de dinego do oxo de Sia me, enguata se aan, E tntow diversas Pigdes pars cabera cami, em regents a0 movimento do Menino. Depo, deciiu dra vols es ¢ permit que Ek exguese ditam os olhos par aise, Tent anda otto tran, introdszno deta ver tim pequen So Joao: mas, em yg de o Menine Jo lat prs ee coloco- olhando prs fra do giao, Depo, outa tentative aparentemente, 0 artist impacenonse, eran a eabega do Menino ‘uta pois cferents Hass mia fas dese gener nose exer de csbogon nis iis bscou repeidanente encontrar o equi dese tes figs da clhor manta, Ma, sevolenmos a olar agora pra 2 bra relia, vemos que ee consegi ober, finmente, a solugio cera Tudo ta ela parece esta no Inga proprio,» posture a harmona que Rate oeve com ose das taba parece lo nats eeontines ge tl hes preannosatengo, Enact, jstmente esa harmonia toma a Beleza da Madona ainda mas es, ea dogura ds clang ainda as doce FE fscnante obser om anita exorano-se por lease 9 in dequd, mis the pergntneinos por qe fer io endo asi, iver le Rowe incapas de nos exper © anita no obec res fas. Ele simplemente io camitho a seguir verdad que alge arts ou «rtcon em eros prion, tear fr es pra ste fempre se comtou que aisas mediocre no conseguam nada quando tentavan aplicar ew les, 40 paw que o grandes neste pin dlesprer-ias ands asim, coneput ina nova expécie de harmonia em 1 pewara antes Quando o grade pinto ings Sir Josnon que ning Reynolds exphicou seus alunos da Royal Academy que 0 azul nio podia ‘ct inserido no primeizo plano de uma pintura mas reservado pata fndos Tonginguos pata as colina ase desvanccerem gradkalmente no horizonte, sr rival Gainsborough — segundo tera a histéria — reslvew provar que «ais regras académicas eram usualmente absurds,Pintow entio o famoso Menino de Azul”, eujo taje azul, em primeito plano ¢ no centro do ‘quadto, se destacatiunfintemente contra 0 clido castanho do findo, ‘A verdade é que € impossivel estabelecer regras dese gineto, pois nunca se pode saber de antemio que efeito 0 attita pretende obter. Ele pode até querer inroduzir uma nota estriduls, isonante, se porventura sentir que Jsso € 0 certo. Como nio existem regis para nos dizer quando um quadro fou uma estitua ests perfeita, geralmente &imposivelexplicar com paras cexatamente por que sentinyos estar diante de uma grande obra de arte, Mas 'sso no significa que esta obra é tio boa quanta aquela outta ou que nio se pode discutir questes cle gosto. No minimo, tis discussdes nos fazemt clhar 0s quadtos, e quanto mais olharmos pata eles, mais notaremos detalhes que nos escaparam antes. Comecamos a desenvalver uina sensibilidide parcular para a espécie de harmenia que cada geracio de artistas tenta realizar. Quanto maior for 3 nossa sensibilidade para ess hharmonias, mais dels desfrutaremos, e iso, fens a8 conts, € 0 que impor. O antigo adigio de que gosto nio se discute pode até ser verdadeiro, mas nio deve esconder 0 fato de que o gosto & suscetivel de desenvolvimento. iso & também una questio 4e experiéncl conn, que todos podemos comprovar em campos mais modestos, Para as pesoas que io estio habituadas a tomar chi, uma mistura pode ter exataiente 0 :mesmo sabor de outra. Masse dispuserem de tempo, vontade & ‘oportunidade para explorar quantos refinamentos podem exist, € possivel {que se convertam em auténticos omnoisies, eapazes de distinguit 0 tipo © a ‘miscura preferveis, e sew maior conlecimento certamente aumentars © prazer propiciado pelas misturas mais requintad Cumpre reconheccr que, i arte, 0 gosto & algo infinitamente ras complexo do que o pala no caso de aimentns ow bebidas, Nose tata apenas de una questio de descobrir viriose sis sabores; & algo mais srio ‘mais importante. Em iltima anise, nesas otras, os grandes mestres lentegaram-se por intero,sofferam por eas, sobre els suaram sangue e, 0 ‘minim, tim o direto de nos pedir que tentemos eompreender 0 que ‘quiseram realizar "Nunca se acaba de aprender no campo da ate, Hi sempre novas coisas 3 Adescobrir, As grandes obras artisticas parecem ter um aspecto diferente cada vver que nos colocamos diante dels. Parecem sr tio inexauriveis © imprevisiveis quanto seres humnanos de came e asso, E um mundo texcitante, com suas propria e extranhas leis, is propriasaventaras. Ninguém deve pensar que sabe tido a respeito dels, pois ninguém sabe. Talvez nada exist de mais importante do que iso: que, para nos deletarmos com essis obras, devemos ter umn eptito lev, pronto a caprar todo e qualquer indicio sgestivo e a reagir a tedas 2s harmonias ocultas; sobretudo, un espirto que mio esteja atavanado de palavas altisonantes ce fases fe hor nada saber sobre arte do que posstir lama espécie de meio conhecinento propicio ao esobism, O peri & ‘uigo fea. Existem pessoas, por exemplo, que spreenderam os pontos simples que tentei destacar neste capitulo, e que entendem haver grandes obras de arte destituidas de qualquer dis Sbviasqualiades de beleza de ‘expressio ou corregio de trago, mas ficam tio ongulhosis de seus ‘conhecimentos que fingem gosar somente daguelas que nio sio belas nem foram corretamente desenhadas. Estio sempre envolvidas pelo temor de ‘que as considerem pouco educadas se confessaem gosta de una obra que parece ser obviamente agradivel ow sobremodo comoyente. Acabam sendo ‘sabes que perdem sta verdadeita fuigio da arte e chamam "muito interessante” a tudo o que, na realidade, consideram um tanto epulsiv. Eu detestaria ser responsivel por qualquer equivaco desses. Melhor seria no ser acreditado a acreditarem em mim de win modo tio super 'Nos capitulos que se seguem examinarei a hisria da arte, que & 8 hiseria da construgdo, da feitura de quadros e da realizacio de estas. Penso que conheceralgo dessa historia nos ajuda a compreendler por que 08 tists tabalham de uma determinada maneira ou tém em mira 3 abtengio de certos efeitos. £, sobretudo, um excelente modo de exercitarmas oF rnosss olhos para as caracterist-a pariculares das obras de atte e, por conseguinte, de aumentarmos s nossa sensbiidade para ot mais sutis rmatizes de diferenga. Talvez sea ese 0 nico modo de se aprender a destrutar uma obra de ate per, Contudo, todos os caminhos oferecem ‘seus perigos. As vezes encontramos pessoas caminhando por unta galeria de are, catilogo na mio. Sempre gue param diance de um quaco, buscam pressurosimente o niimero. Podemos observi-as folheando seus livros, assim que encontsam 0 titulo ou 6 nome da obra, seguem em frente, NE fara diferenga nenhuma se tivesem ficado em casa, pois mal olharam para ‘© quadro. Apenas checaram o aatilogo, £ uma espécie de curto-cicuito ‘mental que nada tema ver com 6 prazer que um quadro pode produit. ‘As pessoas que adquiriram akgom eonhecimento de histria da arte arriscam-re, algunas vezes, acai numa armadilha semelhante, Quando vvéem uma obra de arte nio parm para olhi-la, prefeindo sondar a ‘meméria em busca de um rétula apropriado, Podem ter ouvido que Rembrande era fimoso por seu chisosuro — que & 0 terme técnico italiane para designa 0 jogo de Iuz esombra —, de maneira que meneian Sabiamente a cabega quando vem um Rembrandt, murmieam “'maravihoso diamscun” e passim logo a0 quad seguinte. Quero ser init franco a respeita dest perga de semiconhecimento © esnabiamo, pois todos somos suscetiveis de aicumbir tis tentagdes,e um livro como este poder aumenti-ls. Eu gostaria de ajuda a abrir olhos, nio a solar lingvs. False com argica sobre arte nio & diffe, porque as palaveas que os ‘critics ws tém sco empregalas em tantos contextos diferentes que perderam toda a precio, Mas olhar um quadro com olhos de novidhde e venturat-se numa viggem de descoberta & uma els muito mais dic fembors também mais compensidora.E incaleuivel © que se pode wazer de volt de semethante jomada

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