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Capitulo sexto - Santo Agostinhe & 2 ape ‘05 miiltiplos derivaram do Uno (ou de algu- mas realidades originérias)? Por que e como, do Ser que nao pode nao ser, nasceu tam. bem o devir, que implica a passagem de ser a ndo ser e vice-versa? Ao tentar resolver esses problemas, ne- rnhum dos antigos fildsofos chegou ao con- ceito de criagao, que, como sabemos, € de origem biblica. Os Plat6nicos foram os fi- I6sofos que chegaram as posicies menos distantes do criacionismo. Entretanto, mes mo assim, ainda permaneceu significati- va a distancia entre suas posicdes ¢ 0 criacionismo biblico. No Tinteu, Platao ha- via introduzido a figura do demiurgo. En- tretanto, embora sendo racional, livre motivada pela causa do bem, a atividade do demiurgo é gravemente limitada, tanto cima como abaixo dele. Acima do demiur- go esta o mundo das Idéias, que 0 trans cende ¢ no qual ele se inspira como em um ‘modelos abaixo, a0 contrario, esta a chora ‘ou matéria informe, também eterna como as Idéias e como o proprio demiurgo. A ‘obra do demiurgo, portanto, é obra de fa- bricagao e nao de criagdo, porque pressu poe como preexistente e independente aqui- lo de que se vale para construir o mundo. Plotino, no entanto, deduziu as Idéias € a prdpria matéria do’ Uno, muito engenho- samente, do modo como vimos. Todavia, seu impulso o levou aos limites de um ver” dadeiro acosmismo e, oportunamente re- formadas, suas categorias poderiam servir para interpretar a dialética trinitéria, mas nao para interpretar a criagio do mundo. A solugio criacionista, que, para Agos tinho, a0 mesmo tempo verdade de fee de razio, revela-se de uma clareza exemplar. A criagao das coisas se dé do nada (ex niilo), ou seja, nao da substincia de Deus nem de algo que preexista (a f6rmula que posterior- mente se tornaria canénica seria ex nibilo sui et subiect). Com efeito, explica Agost mho, uma realidade pode derivar de outra de tres modos: 4) por geracdo, caso em que deriva da propria substancia do gerador como o filho deriva do pai, constituindo algo de idéntico a0 gerador; 5) por fabricagao, caso em que a coisa tue fabricada deriva de algo preexistente fora lo fabricante (de uma matéria), como ocor- re com todas as coisas que o homem produzs ©) por eriagao a partir do nada absoluto, ou seja, nao da propria substancia nem de uma substancia externa 95 da Patristica © homem sabe “gerar” (0s filhos) ¢ sabe “produzir” (os artefacta), mas nao sabe “eriar”, porque é um ser finito. Deus “gera” de sua propria substancia o Filho, que, como tal, €idéntico ao Pai, a0 passo que “cria” 0 cosmo do nada. Portanto, ha diferenca enorme entre “criagdo” © “geragio”, porque, diferente- mente da primeira, esta ultima pressupoe 0 vir (a ser) por outorga de ser por parte do criador para “aquilo que absolutamente nao existia”. E tal acao é “dom divino” gratui- to, devido 4 livre vontade e 3 bondade de Deus, além de sua infinita poténcia. ‘Ao criar o mundo do nada, Deus criow, juntamente com 0 mundo, o proprio tem: po. Com efeito, 0 tempo esta estrutural- mente ligado a6 movimento; mas nao ha movimento antes do mundo, s6 com 0 mundo. Esta tese ja fora (quase literalmente) antecipada por Platio no Timeu, mas em Agostinho ela simplesmente é melhor fu damentada e melhor explicada. Assim, tes do mundo” nao havia um “antes tem- poral”, porque nao havia tempo: 0 que havia (alids, Seria necessario dizer “ha”) era o eter- no, que & como que um infinito presente temporal (sem transcorréncia nem distin- a0 de “antes” ¢ “depois”). Mas da ques- tio do tempo falaremos adiante. 7. A doutrina das Tdéias e das razdes seminais As Idéias tém um papel essencial na criagdo. Mas, de paradigmas absolutos fora eacima da mente do demiurgo, como eram em Platao, elas se transformam, como ja dissemos, em “pensamentos de Deus” ou também como “Verbo de Deus” Agostinho declara a teoria das Idéias como um pilar absolutamente fundamental ¢ irrenunciavel, porque esta intrinsecamen- te vinculada & doutrina da criacao. Deus, com efeito, criou o mundo con- forme a razao e, portanto, criou cada coisa conforme um modelo que ele préprio pro- duziu como seu pensamento, €as Idéias si0 justamente estes pensamentos-modelo de Deus,¢ como tas sio a verdadeira realidade, ‘ou seja, eternas ¢ imutaveis, ¢ por participa ao delas existem todas as coisas. 96 Mas Agostinho utiliza, para explicar a criagao, além da teoria das Idéias, tam- bém a teoria das “razdes seminais”, criada pelos Estoicos e posteriormente retomada € reelaborada em bases metafisicas por Plotino. A criagao do mundo ocorre de modo simultaneo. Mas Deus nao cria a to talidade das coisas possiveis como jé con: cretizadas: ee insere no criado as “sementes ou “germes” de todas as coisas possiveis, as quais, posteriormente, ao longo do. tem po, desenvalvem-se pouco a pouco, de vé- ios modos e com 0 concurso de vatias cir- cunstancias. Em suma: juentamente com a matéria, Deus criow virtualmente todas as possibili. Agostino em sua cela Tempera sobre lamina Sandro Botticelli (1445-1510). Terceira parte - A Patristica na dvea cultural de linguc lati dades de sua concretizagao, infiundindo nela, precisamente, as razdes seminais de cada coisa. A evolugao do mundo ao longo do tempo outra coisa no é do que a concre- tizagao € a realizagao de tais “ra7des semi nais” e, portanto, um prolongamento da agio criadora de Deus. © homem foi criado como “animal racional” e encontra-se no vértice do mun- do sensivel. Como ja vimos, a sua alma & imagem de Deus-Trindade. A alma é imortal. As provas da imortalidade sio em parte extraidas de Platao, mas em parte sio aprofundamentos agostinianos, co: mo, por exemplo, a prova que se baseia na Capitulo sexto - Sento Agostn autoconsciéncia, dela deduzindo a simpli- Cidade e a espiritualidade da propria alma ¢, portanto, a sua incorruptibilidade, ou en- tdo a prova que infere a imortalidade da alma da presenga nela da Verdade eterna: “Se a alma morresse, morreria também a Verdade” Agostinho fica na diivida quanto & so- lucao do problema do modo como as almas singulares sio geradas: isto é, se Deus ctia ca- da alma diretamente, ou se as criou todas em Adaoe de Ado sucessivamente se “trans- mitem” mediante os pais Agostinho parece ter nutrido simpatias por uma solugio “traducionista” deste lt mo tipo, embora entendida em nivel espiri- tual, que, a seu parecer, explicaria melhor a transmissio do pecado original. Mas tam- bém nao exclui a criagao direta. (6 8, A etemidade ea estrutura da temporalidade “0 que fazia Deus antes de eriar 0 céu € a terra?”. Essa foi a pergunta que levou Agostinho a uma analise do tempo € 0 con- duziu a solugdes geniais, que se tornaram muito famosas. Antes de Deus criar 0 céu ¢ a terra nao havia tempo e, portanto, como ja indicamos, nao se pode falar de um “antes” anterior criagio do tempo. O tempo é criacao de Deus e, por isso, a pergunta proposta ndo tem sentido, pois poe para Deus uma cate- goria que vale s6 para a criatura, cometen- do-se assim um erro estrutural. Com efeito, “tempo” e “eternidade” sao duas dimensoes incomensuraveis; muitos dos erros cometi dos pelos homens, quando falam de Deus, como na pergunta proposta acima, nascem da aplicacao indevida do conceito de tem- po ao eterno, que é coisa totalmente dife- rente de tempo. Mas o que é 0 tempo? O tempo implica passado, presente ¢ futuro, Mas o passado do & mais e o futuro nao é ainda. Eo presente, “se existisse sem- pre e nao transcorresse no passado, nao seria mais tempo, mas eternidade”. Na realida- de, o ser do presente é um continuo deixar de’ser, um tender continuamente ao nao-ser. Agostinho destaca que, na realidade, 0 tempo existe no espirito do homens, por- gue é no espirito do homem que se mantém 7 » © 0 apoges da Patvisticn presentes tanto 0 passado como o presente € 0 futuro. Mais propriamente, deveriamos dizer que “os tempos sio trés: 0 presente do pasado, o presente do presente ¢ 0 pre- sente do futuro. E, de qualquer forma, é em nosso espirito que se encontram esses, trés tempos, que nao sio vistos em outra parte: o presente do passado, vale dizer, a memria: 0 presente do presente, isto é, a intuigao; 0 presente do futuro, Ou seja, a espera Assim, embora tendo uma liga¢ao com © movimento, 0 tempo nao esté no movi: mento e nas coisas em movimento, mas sim na alma. Mais precisamente: conforme se revela estruturalmente ligado a memdria, A intuicao e & espera, o tempo pertence & alma, sendo predominantemente “uma ex- tensio da alma”, precisamente uma ex- tensio entre “memoria”, “intuigdo” e “es pera” Tal solugdo, em certa medida, jé havia sido antecipada por Arist6teles, mas Agosti- nho a desenvolve em sentido marcadamente tual, levando-a as suas tiltimas conse- 7 9. Omal 11 estatuto ontolgico Ao problema da criagao esta ligado 0 grande problema do mal, para o qual Agos tinho conseguiu apresentar uma explicacao gue constituiu ponto de referéncia durante séculos e ainda guarda a sua validade Se tudo provém de Deus, que é Bem, de onde provém o mal? Depois de ter sido vitima da explica- ao dualista maniquéia, como vimos, Agos- tinho encontrou em Plotino a chave para resolver a questo: 0 mal nao é um ser, mas deficiéncia e privacao de ser. Mas Agostinho aprofunda ainda mais a questo. O problema do mal pode ser exa- minado em trés planos: a) metafisico-on- tol6gico; b) moral; c) fisico. ‘a) Do ponto de vista metafisico-on- toldgico, nao existe mal no cosmo, mas ape- nas graus inferiores de ser em relagao a Deus, que dependem da finitude da coisa criada e dos diferentes niveis dessa finitude. Mas, mesmo aquilo que, numa considera ao superficial, parece um “defeito” (e, por- tanto, poderia parecer um mal), na realidade, 98 Terceira parte - A Pas 1a 6tica do universo visto em seu conjunto, desaparece. De fato, 0s graus inferiores do ser € as coisas finitas, mesmo as mais infi- mas, revelam-se momentos articulados de um grande conjunto harménico. Quando, por exemplo, julgamos que a existencia de Certos animais nocivos seja um “mal”, na realidade nés estamos medindo com o metro da nossa utilidade e da nossa vantagem con- tingente e, portanto, numa ética errada, Medida com 0 metro do todo, cada coisa, ‘mesmo aquela aparentemente mais insigni ficante, tem seu sentido e sua razao de ser e, portanto, constitui algo positivo. b) Ja. mal moral € 0 pecado. E 0 pe- cado depende da md vontade. Ea ma von- tade depende de qué? A resposta de Agosti nnho é bastante engenhosa. A mé vontade Go tem uma “causa eficiente”, mas, muito mais, uma “causa deficiente”. Por sua na- tureza, a vontade deveria tender a0 Bem supremo. Mas, como existem muitos bens criados e finitos, a vontade pode tender a eles ¢, subvertendo a ordem hierarquica, pode preferir a criatura a Deus, preferindo 5 bens inferiores aos bens superiores. Sen do assim, o mal deriva do fato de que nao ha um tinico Bem, mas muitos bens, consi tindo, precisamente, em uma escolha incor- reta entre esses bens. O mal moral, portan- to, € uma aversio a Deo e uma conversio ad creaturam, €a escolha de um ser inferior 20 invés do ser supremo. O fato de ter recebi- do de Deus uma vontade livre é um grande bem. O mal é 0 mau uso desse grande bem, que se da do modo que vimos. Por isso, Agostinho pode dizer: “O bem que esta em mim é obra tua, é teu dom; o mal em mim & ‘meu pecado”. ©) O mal fisico, como as doengas, os sofrimentos, 0s tormentos do espirito © a morte, tem’ significado bem preciso para quem filosofa na fé: € a conseqiiéncia do pecado original, ou seja, é uma conseqiié cia do mal moral. Na hist6ria da salvagio, porém, também ele tem um significado po- sitivo. 10. A vontade, a liberdade, a graca J4 acenamos ao papel que a “vonta- de” desempenha em Agostinho. Alias, ha tempo os estudiosos destacaram que foi exa- tamente com Agostinho que a vontade se impés 8 reflexao filoséfica, subvertendo a antropologia dos gregos ¢ Superando defi- nitivamente o antigo intelectualismo moral, seus pressupostos ¢ seus corolirios. A ator- mentada vida interior de santo Agostinho © sua formagao espiritual, realizada inteira- mente na cultura latina, que dava a voluntas um relevo desconhecido para os gregos, per- mitiram-lhe entender a mensagem biblica precisamente em sentido “voluntarista”, fora dos esquemas intelectualistas do mun’ do grego. De resto, Agostinho foi o primeiro es- critor a nos apresentar os conflitos da von- tade em termos precisos, como ja destaca- ‘mos: “Era eu que queria ¢ eu que nao queria era exatamente eu que nem queria plena- ‘mente, nem rejeitava plenamente. Por isso, lutava comigo mesmo e dilacerava-me a mim mesmo”, A liberdade é propria da vontade e nao da raz0, no sentido em que a entendiam os sregos. E assim se resolve 0 antigo parado- xo soctatico de que é impossivel conhecer 0 bem e fazer o mal. A razao pode conhecer 0 bem e a vontade pode rejeiti-lo, porque, embora pertencendo ao espirito humano, @ vontade é wma faculdade diferente da ra- 2do, tendo uma autonomia propria em re- lacao & razdo, embora seja a ela ligada. A razio conhece e a vontade escolhe, poden- do escolher até o irracional, ou seja, aquilo que nao esta em conformidade com a reta razio. E desse modo se explica a possibili- dade da aversio a Deo e da conversio ad creaturam. © pecado original foi um pecado de soberba, sendo o primeiro desvio da von- tade. O’arbitrio da vontade é verdadeira- mente livre, em sentido pleno, quando nao faz.o mal. Esta é, precisamente, a sua con- digo natural: assim ele foi dado ao homem originalmente. Mas, depois do pecado ori- ginal, a verdade se corrompeu e se enfra- queceu, tornando-se necessitada da graca divina. Conseqiientemente, 0 homem nao pode ser “autarquico” em sua vida moral: ele necessita de tal ajuda divina, Portanto, quando 0 homem procura viver retamente valendo-se unicamente de suas préprias forgas, sem ajuda da graga divina liberta- dora, entao ele é vencido pelo pecado; liber- ta-se do mal com o poder de crer na gra- ga que o salva, ¢ com a livre escolha dessa graca, Capitulo sexto - Santo Agostinhe & © apoges de Patristica 41. A “Cidade terrena” a “Cidade divina” O mal é amor a si mesmo (soberba), © bem é amor a Deus, [sso vale tanto para 0 homem como individuo quanto para 0 ho- mem que vive em comunidade com 0s ou tros. O conjunto dos homens que vivem para Deus constitui a Cidade celeste. Escreve Agostinho: “Dois amores diversos geram as duas cidades: © amor a si mesmo, levado até 0 desprezo por Deus, gerou a’ Cidade terrena; 0 amor a Deus, levado até o des- prezo por si, gerou a Cidade celeste. Aquela gloria-se de si mesma, esta de Deus. Aquela procura a gloria dos homens, esta tem por maxima gloria a Deus”. E ainda: “A Cida- de terrena & a cidade daqueles que vivem 99 segundo o homem; a divina é a daqueles que vivem segundo Deus” ‘As duas Cidades tém um corresponden- teno ceu, mais precisamente nas fileiras dos anjos rebeldes e dos que permaneceram figis a Deus. Na terra, essa correspondéncia re- velou-se em Caim e Abel: as duas persona- gens biblicas assumem assim o valor de sim- holos das duas Cidades. Nesta terra, 0 cidadao da Cidade terrena parece set 0 dominador, enquanto o cidadao da Cidade celeste é peregrino. Maso primeiro esta des- tinado a eterna danagio, enquanto o segun- do esta destinado 4 eterna salvagao. ‘Assim, a hist6ria adguire um sentido totalmente’ desconhecido para os gregos, como ja vimos: ela tem um principio, coma criagio, eum termo, com o fim do taundo, ou seja, com o juizo final e com a ressurrei- io, E’tem trés momentos intermediarios Na ilustrasio Ji mais antiga representagao de Agos que chegou até nds iremonta ao periodo entre o fim do sé. VI 08 inicios do see. VID. Conservase nna Biblioteca do Latrao, 100 essenciais, que marcam seu decurso: 0 peca- do original com suas conseqiiéncias, a espe- ra da vinda do Salvador e a encarnagio e paixao do Filho de Deus, com a constitui- Gao de sua Igreja, ‘Agostinho insiste muito, ao final da Cidade de Deus, na ressurreiga0. A carne res- suscitara integrada ¢ em certo sentido trans- figurada, mas continuard carne. A historia se coneluira com 0 Dia do Senhor, que sera como que 0 oitavo dia con- sagrado com a ressurreigao de Cristo e no qual se realizara, em sentido global, o re- Pouso eterno. | 92; A esséncia do homem De Socrates em diante, 0s fil6sofos gre- gos sempre disseram que 0 homem bom aguele que sabe e conhece, ¢ que o bem ea Virtude so ciéncia. Jé Agostinho diz, a0 contrario, que 0 homem bom é aquele que ama: aquele que ama aquilo que deve amar. Quando 0 amor do homem volta-se para Deus (amando os homens e as coisas em fungao de Deus), é charitas; quando, po- rém, volta-se para si mesmo, para o mundo e para as coisas do mundo, é cupiditas. Amar a si mesmo e aos homens nao segundo o juizo dos homens, mas segundo o juizo de Deus, significa amar do modo justo. Terceira parte - A Patristica na évea cultural de linge latins Agostinho apresenta também um crité- rio para o amor, coma distingao entre o utie 0 frui. Os bens finitos devem ser usados como meios ¢ nao ser transformados em objeto de fmuicao e deleite, como se fossem fins. E, assim, a virtude do homem, que os fildsofos gregos haviam determinado em fungao do conhecimento, € recalibrada por Agostinho em fungao do amor. A virtus é a ordo amoris, ou seja, 0 amar a si mesmo, os outros ¢ as coisas segundo a dignidade ontoldgica propria de cada um desses seres, no sentido que jé vimos. O proprio conhecimento da Verdade ¢ da Luz que ilumina a mente é expresso por Agostinho em termos de amor: “Quem co- mhece a Verdade conhece tal Luz, e quem conhece essa Luz conhece a eternidade. O amor é aquilo que conhece”. De resto, o filosofar nessa fé segundo a qual a eriagio e a redengo nasceram de um ato amoroso de doagio, devia levar necessa- riamente a essa reinterpretacio do homem, de sua hist6ria como individuo e de sua his- t6ria como cidadao, na perspectiva do amor. Essa frase lapidar resume a mensagem agostiniana, a guisa de sinal emblematico: pondus meum, amor meus (“0 meu peso est no meu amor”). A consisténcia do homem € dada pelo peso do seu amor, assim como pelo seu amor determina-se 0 seu destino terreno e ultraterreno. Nessa perspectiva, pode-se compreender muito bem a exorta~ so conclusiva de Agostinho: ama, et fac quod vis (ame, ¢ faga.o que quiser”). Capitulo sexto - Santo Agostinha © 9 apogen da Patvistica 10 A CENTRALIDADE DA TRINDADE DIVINA Mundo ‘Homem ~ todas as coisas tém unidade, ordem e forma ~ © homem é pessoa, isto é, in = estas caracteristicas sio vestigios que a dividuo irrepetivel Trindade deixou nas coisas ~ € imagem das trés Pessoas da ~ gracas a estas podemos remontar do Trindade e, com efeito, co mundo a Deus, a partir dos graus de per- nhece e ama feigio que existem no mundo ~ fem em si uma faculdade da vontade que é diferente da fa a culdade da razdo ~Avvontade livre €a que esco- Theo bem superior em ver do ~ 0 conjunto dos homens que vivem para Deus forma a Ci- TRINDADE dade celeste, 0 conjunto dos ~ implica a identidade substancial tas fies adele fervent ascent ~ © malo fem eat on ~a diferenca é apenas relacional oleae oaiesieeer celcou {o Pai tem o filho, fusio de um bem inferior com rare sali tim bem superior ‘ ener rin ~ Shomen conta sored Rerniee erie) Em simesmo a prova da ex A Trindade canteen a “ eee AMOR enquanto_ « enquanto_ Sumo ser, Sumo amor, Deus cria VERDADE Deus benefica enquanto Suma verdade, , Deus shomina , Criagao — 0 mundo é criado segundo a ' Amor azo ist & segundo as Ias- = no homey assim com paradigma que estio na men- Muminagao na Trindade, o amor é fede Deus = a almatem crtérios deconhe-__eatencial. A virtude, ~ €ex nibilo sui et subiecti isto | cimento tmutaveis © necessi- com eto, reduz-se& 6 Deus nao age sobre uma trios que Ihe vém de Deus ‘ordo amoris: amar a si substancia preexistente (sua | —amente de Deas tem em si ox |__mesmos, os outroseas ow externa Osi; mas cria do modelos imutiveis e eternos | cosas conforme sta nada (e ldéis) detodasas coisas, digmidade ontologica = Deusnaocria a totalidadedas ~ Deus, no momento dacriagio, — 0 amor perfeito & 0 coisas como jé atuadas, mas | participa ascoisasacapacda: doador, que tem em insere no criado as razdes se- de de manifestar-se pela ver- Cristo {0 Deus feito ‘minais das coisas, que poxco | dade, as mentes a capacida- homer) o vertce st a pouco se desenvolvem de de colhé-las remo

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