You are on page 1of 9
INTERPRETAR A CRIANCA” Tacques-Atain Maen Pass) “jam@lacanianeset (Qual stu dara proxima Jornada do Insti de (Enfant que aconteceré em 2015? © que me gio foi wna coisa muito simples. Tendo passado muito tempo, a0 longo de vrios anos, para chegar ao langamento do Seminario 6 de Lacan, minha ideia era de ‘que manteriamos esta Jornada 3 sombra, ov 3 luz do Deseo e sua interpreta Poderamos, ent, colocae ‘A crianga esa itespretago" Assim ogarfamos com 4 equivocidade: € a crianga quem interpreta 6 mundo e, 20 mesmo tempo, ela € intes- pretads, A meu ver, sto acaretaria win dispeio excessiva dos tabalhos. Minha prefe- ‘cia foi dar uma diego clara a fim de que os tabalhos nao fiquem muito dispersos «, portant, colacar 0 verbo no Infinitive seguido de seu complemento: Interpret 3 cinnci” FE simples e mo 6 comm, Naa se wiz muito a expresso “interpreta a exam ‘porque com ela no se est muito convicto de que interpreta © psicanalista instrumento _Ao mesma tempo, € preciso escober uma alternativa 8 perpétua expresso “Psica: nilise com erlangas.£ preciso encontrar uta coisa, “Quando alguém diz a psicandlise ‘om? riangas’, no s tata do ‘com’ lacasano, aquele que aparece, por exemplo, em “Kan comm Sade", mas um ‘com’ instrumental “Lacan repete ito no Seminario, mas no s6, quando remese a Arist: "O bomen, pensa com sus alm’. E ele explica que ess como’ é um intrumento. Remeto a Sobre fama, que Lacan havia comentado,¢ mais especialmente uma passgem que em contr prt ele mo ca, na qual Arsteles di “A alma como a mo, 0 serve par alguma ‘sa. como uma prensa, Io fiz pensar incsve no que Heidegger chama de “sera, ‘que € 0 ser do utenslio, ou do insiumento, do qual ele fz uma teria essencial em sua Ops aeminno72 2 ago 205 ‘ntologia¢ na sua erica da ontoogia. © préiprio Lacan, no filme “Teevisor, «m que usa a expresso “a gente se analisa com ee”, em relagio ao analsa, ele faz um esto com a mio. Eu me perguntava como caracerizar esse eto. N30 se tata dem pr Jogo, € mais uma espécie de encaixe bastante curioso realmente 6 unalista instrumento, no momento Quanclo se tata de criangas, & 0 analista que é um instrumento, Deveriamos dizer: ‘A erianga com 0 analista’ Mas, justamente, isto no daria um titulo muito bom, pois nfo seria realmente claro e tampouco incsivo. O analista certamente é um insteumento, mas quando se tata de criangas, € af que recuamos também. Fo que constitu a diferenga da andlise com a crianga: ela se serve menos disto que 0 adulto. © analista € menos istrumento, ele & inciativas do que bem com 0 coneeito de insttumento, pois somos brigado a tomar iniciativas. © instrumento € obrigado a tomar my com 0 adulto, Isto inclusive vai mui cereados por instrumentos que tomam iniciativas, Desde o momento em que voces ligam, © GPS, ele comeca logo a dar ordens, Da sinalizacio a transformagio Interpretar a crianea seria a ocasiio de refletir sobre nossa pritca, no para nor- ‘malizi-la ou estandardizi-la, mas como troca de experiéncias, Seri que realmente inter- pretamos? Ha terapeutas que duvidam disto... BE, sobretudo, isto nos obrigaria a sair da intespretagio segunclo © modelo da traducio, do deciframento, Nao se deve esquecer {que Lacan reduziu 0 termo freudiano inconsciente, em relagio a0 modo como Freud 0 ‘taduziu. Hle disse que © mantinha porque era a tridicio, que de fato do termo filasser substituiria um dia 0 de inconsciente, Em relacio & interpretago, acontece algo dessa ordem. f um termo tradicional, As pessoas dizem para si: S40 psicanalistas, eles interpre~ ‘am. Mas, evidentemente, nossa pratica interpretativa estd para além disso, precisamente quando diz respeito 2 erianga. Hla deve ser diferenciada do modelo texto cifrado/ texto claro. De certo modo, entra na interpretago tudo © que tem valor de mensagem ou até de sinal enviado, O que se espera € que uma dessas mensagens tena um valor de trans formacio, Finalmente, a interpretaco, se a tomamos na sua maior extensto, isto vai da sinalizagio & wansformacdo, Estamos no entre-ois A.crianca entre 0 enunciado ¢ a emunciacao © graf de Lacan, seria preciso comecar a se interessar por ele novamente, Quan- do fiz um seminario para os de menos de trinta anos, pelo menos a maior parte, percebi Ops Lass 17 “ Mago 2016 que ndo 0 conheciam, € que tinbam até uma certa difculdade de entrar no grafo de Lacan, Ora, ainda que depois tenham surgido os quatro discursos et, grafo de Lacan. permanece, nio esti de modo algum ultrapassado. Lacan continuow a seferi-se a cle, mesmo que em certos pontos as definigdes tenhuam mudado, ‘Voces encontrar no capitulo 1, que intitulel “O sonho da pequena Anna’ sonho bastante conhecido, esta afiemacio de Lacan: “A crianca esti, em suma, inteiramente ‘apturada no jogo entre as duas liahas™. Digamos, entre 0s dois patamares. Ele di isto sobre a cranga, para um momento especfico, mas poderiamos da-he um valor maior. «rang na medida em que é tomada no jogo entre enunciado & enunciag2o. HA rmuitas ‘coisis de Lacan que vao neste sentido, em particular n0 comego do capitulo V, onde ‘ee diz: "Na crianca, ainda nao esti acabado, precipitado pela estrutura, Algo ainda nao se diferenciow na estrutura™. © contexto indica que algo remete a dlistinga0 do ‘ut do cenunciado © do ‘eu’ da enunciagio, ainda mais porque se encontra, pelo menos duas ‘eres, 0 Semindirio, o exemplo que se tornou céebre pelo Seminario LE: “Teno txés imaos: Paul, Ernest e ex*, Por um lad, 0 sujet conta-se como ‘um na sétie, na classe dos imaos — de fato, ele € um imo, portanto, se contamos os inmaos, ele € um dos {és imtos, io € indiscutivel ~e, por outro, no consegue distinguir 0 que ele € como um, mas um sozinbo, O sujeito da enunciagd0 aqui é 0 um sozinho, aquele que fala e se ‘conta. Ai, pode-se opor a ‘um’ que conta na colegio daqueles que tém a qualidade de jimaos, aqueles que tem esse predicado, a0 ‘um sozinho’, que & um ‘um’ que se conta- biliza e, a0 far8o, no estd mais no espeticulo do mundo, De certo modo, ele € uma especie de ‘menos um, 0 ‘um sozinho!, A partir do momento em que refleimos sobre esse exemplo, estamos disnte das Gitimas elaboragbes de Lacan sobre 0 ‘Um sozinho! ‘que procure’ desenvolver no dikimo curso que fiz Nossa rede: 0 grafo Por outro ldo, a grande dignilade desse grafo & 6 modo mais apreensivel, mas rmucesno’ ~ segundo a expressio que emprego em meu blog" para zombar dos moder- os da estrutura, porque & uma forma em rede. O formato mais chique e mais econd- ico dos quatro discursos permutativos nio tem esse elemento de conectividad. Entd0, sv atualidade vem. ‘No jomnal Ze Monde de ontem’, em duas paginas, fol anuaciado 0 milagre pelo qual colocaram em dia a rede do modo bisico que mostra que 0 cérebro nunca esta fem repouso, Mas a ideia de que hi uma atividade cerebral permanente ji esti pre sente, ¢ pode ser enconteada nos cletroencefalogramas do final dos anos 1920. Isto ji era conhecido. E no estou remontando a Descartes, que dia: "A alma sempre op aan 72 8 Mago 216 Ascola Brasileira de Psivanilise-Seyio Baia pensi"®, Ea tradiglo filosofica. A parte isto, as pesquisas ‘mudernas’ sobre 0 que os americanos chamam de default made network, ou rede em modo basico, existem ha teinta anos... Nao vejo descoberta especial que justifeasia a atengio de todos. O que ‘querem alcancar com isso? ¥ mais econdmico dizer que se tata de uma estrutura re- ticular, semelhante aquela que Lacan apresenta no grafo. claro que Lacan conhecia 48 pesquists da 6poca sobre a estrutura matemdtica do eétebro. Ele reflett na inicio sobre a cibernética. Mesmo seu esquema Lé um esquema elétrico em que elementos se imerpoem Dizendo de outro modo, a reflexio em rede pertence 2 esséncia do lacanismo, E podemos dizer: “O que voeés chamam de rede, 0 defaull mode network, pata n6s € 0 srafo de Lacan’ Para prosseguir nesse sentido, repetem-nos a vontace que a imagiologia aédica seria ‘A’ descoberta. Digitando no Google “imagiologin médica, encontret esta definigio: “Seu objetivo eriar uma representacio visual inteligivel de uma informa de cariter médico’, Iso &a imagiologia Diante da imagilogia médica, poderiamos co- locar a tnqusteria psicanalitca. A finguisteriapsicanalitica sera definida como “expres- so linguistica mais ou menos inteligivel de ume informacto de cariter psicanalitio’ Fles tém a imagiologia médica, nés temos a foguisierta psianalitica. Além do mais, & ‘menos onerosa para a previdénca social Cinco iniciativas Situar 0 ideal do ex ‘Qual é 0 contesdo da informagio que nos interessa? Grosso modo, é uma mensa- estar. Mas, sem dtvida, isto nfo 6 suficientemente cienti- tar negativo, tbe Negative Well- gem de sofrimento ou de mal fico. Precisemos entio que € uma mensagem de bem Being— nuh, Fm relagdo 2 crianga, no se consideram apenas as mensagens de bem-estar nega- tivo do sujcto, mas as mensagens de bem-estar neyativo 2 sua volta: 0 mal-estar prove: niente dos pais, dos vizinhos, da escola. Se, para os adultos, tiramos 0 pé do acelerador, para as criancas, levamos em conta as mensagens que vém do entorno, justamente Porque ha algo que mio precipitou, no sentido de Lacan, na relacao entre o svjeito do cenunciadlo e 0 da enunciagio, E 0 que no precipitou? Nao falamos de interior ‘pois nao se tem Id muita certeza de que haja um interior, mas na tradigo analitca, fala- se de introjegio. Quando isso precipitou, pode-se dizer que ideal do eu foi introjetado. [Na ctianga, 0 ideal do eu passeia por fora, © que pode explicar que se leve em conta as copinides do entorno. Interpretaros pals ‘Um primeiro sentido a dar a “Intepretar a crianca”é, eno, “interpreta os pais. ‘Vamos dar um pouco de dignidade a isto examinando seriamenteo lugar que Ihe ar -buimos, Em ger a-se um pouco rapidamente de como alguéim teve de se haver com © pal, com mae, que por sua vez nio eram If muito normals ete, Cristalizemos este ‘eonceto, CCapturar na rede Fm seguid, ho primeino patamar do grafo, em que o que Lacan chamava na paca de necessidades recebe a marca da linguagem e ande 0 eéaligo do Outro deve ‘dominar e neuiralizaressas necessdades, fazé-as passar pelos desiadeiros do signil> ‘ante. Na clinica das criangas hi efetivamente 0 sujeito que nao respeita 0 eédigo, no passa pelo cédigo. Nesse momento somos confrontados com seus gritos, suas jaculages. (© problema que encontramos aqui é de capt, Como eaprura algo do sujeto nesse “codigo”? O analista se encontra em posie20 de validar 0 cédigo do Outso, valida 25, regis , digtmos que ai, “interpretar a evianea’ & da oedem da captura, Vamos tentar cencootrar exemplos dessus capeuras Extrairo tema [No patamar superior do grafo, Lacan emprega 0 termo S barrado (3) para designar um momento de consitigio do syjeito, momento que ele transformari na definicio ‘essenctal do sujet. Na época, 0 $ estava, mesmo assim, reservado& fantasia. Sem is, 1 sujeito & um sujito faante que, uma vez que funcione a etapa seguinte, deve surge pata assumise como um entre outos sets falantes. Esse miliplo & de ceta form a condigto de sua existéncia como sujet fakin. Ora, pode acontecer de a crianga estar cembalsamada pelos signifcantes do Quto, E a, tereeiro modo da interpretago que se pexleria distingui,“interpretara crianga’, €“extair sujeito’ Isto deve ser diferencado dla captura da necessidade cetcar a alucinagao [No capitulo IV do Semin, dedicado a sono da peqvena Anna, voces tem uma apresensacio bastante ples, que Lacan complica mais tarde, mas bastame i, das relagdes do principio de prazer com 0 principio de wealidade, process primirio e secun- rio", & para Freud a ela de fundo que Lacan eetomari ao colocar suas propria ree vas quando dia: “1 realldade se constr sobre um fundo de alucinagao préva". Como © processo secundro vai colocar 4 prova 0 que acontece no proceso prio asseyurat tama fungao cries, uma Fungo de julgamento em relaglo ao proceso primsrio? paca 72 7 age 2016 ra, na prétiea com as criangas, hd casos em que existe uma espécie de break down do processo secundirio, Ha um modo da interpretagao que é, de cesta forma criticar a alucinagao, mas também € preciso fazé-lo da boa maneira, Poderiamos dar miil- tiplos exemplos disto. De fato, a psicandlise ensina, apesar de tudo, uma certa manobra, Existem duas priticas diferentes dessa critica da alucinagao, Ou se faz. papel de *guardiao dla realidade™, como Lacan se exprimiri mais tarde, o psicanalista fazendo ‘como se assumisse 0 processo secundiri, 0 julgamento ete, ou ele ensina a1 manobeat ‘alucinagio, isto 6, comuniea um procedimento, Nesses cas0s, poderiamos desenvolver interpretar a erianga’ como um “comunicar um procedimento’, especialmente para 0 sujeto alucinado, Hii evidentemente um momento muito importante, que Lacan isola nesse Semind- rio, que € 0 momento do secalcamento, quando ele opde, no que chama de situagies iniciais, o momento em que o sujeto pensa que © Outro sabe todos os seus pensimen- tos, na medida em que eles estio no lugar do Outro, e o momento em que ele descobre que 0 Outro niio sabe, & deste modo que o contetide do recaleamento entra no ciente. De qualquer forma, & uma via, um vestigio: esse fato de que o Outro no queira reconhecer algo, & aquilo mesmo por meio do qual o inconsciente se abre, ese abre para recolher 0 niio-reconhecido. TWadudo: ees W Meceles do Prato, Op Lasniana 72 8 Mago 2016 Notas + tern Sud Jas do oie de Ea, ye Molla, sad, da 25 de mae 08 to ‘Salto por isnt Dune ean By) Teno po gana em anc, hp. verte lac 03 Smt ae Leds meson, ce pangs Abia ls Ps aos de a Nannie cere char fei. NE pra cones bee as, 2 193839). Os. Ina no 6 Oe ra Ta elope Ro ere aa le ‘roe 93). time dation ren pa Rar Ds, Pas: Ramiro, eset, MCW. Fete, a: alias, 5701 Laci 205) Simin, Bo op pt id, pa ac). Simin, fe op p92 2 le A dae nto p/p ole 2030/2Vae domi ctendere< cole asin M213) «Qe fie cere qui ne i en etn, od sea, 2 mao de 3 tc de id, 2. 10 Desc, RUD. Mans mtophsqs Pas: rman, 1 Laan. GM ee ea pete Ann Le Sma Be ee, p95300 13 tacan. J. (B.D pcan emu res coma ean Our cr Ri de acon ahr Ei, pe Copp Lacan 2°72 » Mao 2016

You might also like