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PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO: QUATRO EXEMPLOS EDIFICANTES

Luiz Roberto Zuüani*

RESUMO

O autor analisa quatro modelos de planejamento


participativo. Os resultados obtidos nos exem­
plos citados, demonstram seu valor, e eficácia.

É razoável reconhecer que num sistema não são os únicos, e podem, em determinadas
organizacional vários aspectos merecem ser situações, serem conciliáveis e interdependen­
analisados em profundidade, como, por exem­ tes.
plo, a estrutura, a tecnologia e, o mais impor­ Expressões populares como “O Homem
tante, as pessoas. Assim sendo, podemos pen­ não existe, coexiste” ou então “O Homem não
sar: (1) na filosofia; (2) nos objetivos; (3) na sua é uma ilha”, ou ainda a tão conhecida “Uma
estrutura; (4) nas pessoas de que se compõem andorinha só, não faz verão” nos dão testemu­
as organizações; (5) nos seus aspectos tecno­ nhos que o ser humano é gregário, social e que
lógicos e da informação; (6) nos aspectos polí­ é capaz de grandes feitos e com resultados sa­
ticos; (7) nos aspectos pedagógicos; (8) nos re­ tisfatórios, quando há o trabalho cooperativo.
cursos financeiros; (9) no estilo de administra­ Participar, integrar, cooperar tendo em vis­
ção, e outros aspectos que poderiam ser tam­ ta o bem comum, tem sido a preocupação de
bém relevantes a curto, médio e longo prazos. filósofos, sociólogos, psicólogos, políticos, pro­
Leavitt (1982) afirma que "as organiza­ fessores, havendo uma significativa literatura a
ções podem ser consideradas como conjuntos respeito. Porém, esse resultado não é conse­
vivos de sistemas ligados entre si e destinados guido aleatoriamente. Faz-se necessário seu
a executar tarefas complicadas’' planejamento. Planejar a participação comuni­
É muito provável que os estilos de admi­ tária pode soar estranho à primeira vista. Mas,
nistração por objetivos, a comportamentalista, a se aprofundarmos um pouco o seu significado,
funcionalista, a tecnicista, a taylorista e a parti­ vemos que é imprescindível que assim seja,
cipante sejam amplamente superados nos pró­ pois o trabalho participativo exige intercâmbio
ximos anos. Não obstante, estes seis enfoques profundo entre as pessoas envolvidas. A finali-

* Professor Assistente do Departamento de Organização e Aplicação Desportiva da EEFUSP

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dade fundamental da união comunitária é pre­ psicológicas favoráveis ao bom desempenho
parar o indivíduo para um desempenho satisfa­ das funções da equipe escolar.
tório na sua vida de integrante da sociedade. Para tal, foram estabelecidas metas nos
Ao verificarmos as tentativas de um tra­ campos administrativo, pedagógico, político,
balho comunitário em nosso país, percebemos assistencial e usadas estratégias onde a parti­
logo a grande dificuldade de seu êxito, pois se cipação dos alunos, professores, funcionários e
tem pouca tradição neste campo. Afirmamos instituições públicas e privadas fosse efetiva.
que é uma falha de base, sendo mesmo histó­ Foi usado um esquema de prioridade e o
rica e cultural. Tomamos por exemplo a institui­ processo foi desenvolvido levando em conside­
ção Escola: desde suas origens foi e continua ração todas as dificuldades e aspectos negati­
sendo centrada nas atividades do professor e vos impostos pelo próprio sistema escolar.
pouco nas atividades dos alunos e, menos ain­ As dificuldades foram muitas. Muita luta
da, nas atividades em conjunto com a comuni­ foi travada contra a inércia, incredulidade, má
dade, apesar da participação ser uma necessi­ vontade, falta de confiança e crédito dos pro­
dade básica. O homem não nasce sabendo par­ fessores, pais, alunos e membros da comuni­
ticipar. A participação é uma habilidade que se dade envolvidos no processo.
aprende e se aperfeiçoa, como podemos auferir Estes entraves foram superados à medida
dos quatro "Modelos” que tomamos como que a comunidade se conscientizou dos benefí­
exemplos para ilustrar as nossas afirmações e cios advindos do trabalho participativo e os re­
dos quais fazemos um pequeno resumo: sultados foram altamente satisfatórios.
1. Planejamento participativo a partir da Escola
- Escola Estadual de Primeiro Grau Escritor
'Julio Atlas’ , no Grande ABC-SP MODELO N9 2
2. Planejamento participativo a partir das ativi­
dades físicas - Escola Estadual de Primeiro Resumo: Planejamento participativo par­
e Segundo Graus "Madame Curie” - La tir das atividades físicas” -
Seyne Sur Mer/França. Escola Estadual de Primeiro e
3. Planejamento participativo a partir da cola­ Segundo Grau “Madame Curie”
boração voluntária ACMs (Associação Cristã - La Seyne Sur Mer - França.
de Moços). Experiência realizada pelo Prof.
4. Planejamento participativo na empresa - Auguste Listello.
Teoria Z - Cooperação espontânea como
fruto de um relacionamento holístico - A experiência do Prof. Listello, realizada
Japão. nessa escola, teve dois momentos significati­
vos:
MODELO N9 1 19 - Considerou a classe como a célula bási­
ca do planejamento do ensino e se utili­
Resumo: Planejamento participativo a zou das atividades físicas, esportivas e
partir da Escola - Escola Esta­ de lazer como meio de integração e edu­
dual de Primeiro Grau “Julio cação.
Atlas” - São Bernardo do Cam­ 29 - Enfoca também o Clube de lazer que se
po, SP utiliza do espaço físico da escola para
Experiência realizada pela Prof§ reunião da comunidade, pais de alunos
llca Oliveira de Almeida Vianna. e os próprios alunos fora do horário das
aulas.
O presente "modelo” enfoca um trabalho O esquema de funcionamento das clas­
sustentado pelo tripé: Escola-Família-Comuni- ses é o seguinte: Exemplo: Classe de 40 alu­
dade, no sentido de melhorar as condições físi­ nos:
cas da escola, fazer melhor uso dos recursos 1 - Formação de quatro equipes de dez alu­
da comunidade próximos à área da Escola, nos.
melhorar o nível de saúde, higiene, alimenta­ 2 - Cada equipe tem um assistente que será
ção, nível educacional e propiciar condições o auxiliar do professor.

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3 - Cada classe terá um responsável que será A A.C.M. (Associação Cristã de Moços),
o elemento de ligação entre a sua classe hoje uma instituição internacional, pois possui
e as outras e entre os professores de to­ sedes em 96 países, foi criada em Londres em
das as outras disciplinas. 1844 e visa união fraterna e cristã através de
4 - Dois clubes de classe. atividades que vão desde a prática organizada
Dentro da classe o aluno tem oportunida­ dos esportes, às mais variadas manifestações
de de assumir responsabilidades em relação ao de arte, ciências, de ação comunitária e de me­
grupo, desenvolvendo o espírito de cooperação ditação espiritual.
e o reconhecimento de que através de um tra­ A orientação geral, filosófica dessa nobre
balho pessoal poderá contribuir para o bem es­ Instituição, é responsabilidade dos colaborado­
tar do grupo, na resolução de problemas da Es­ res voluntários e dos Secretários profissionais.
cola. Os secretários profissionais dão orientação téc­
O esquema de funcionamento do Clube nica e assessoramento. Também têm a tarefa
de Lazer: de recrutar e preparar colaboradores de vários
1 - Comitê-diretor. níveis.
2 - Relação de todas as seções do clube e de O colaborador voluntário poderá ou não
seus presidentes. pertencer ao quadro de sócios, dependendo do
3 - Alunos responsáveis por vários setores. seu interesse e tempo disponível. Poderá ser
4 - Colaboradores externos e internos. um empresário, um comerciante, um profissio­
O Clube de Lazer conta também com um nal liberal, um educador, um técnico, um jovem
Animador-Coordenador cuja tarefa é muito im­ estudante, um aposentado, um trabalhador.
portante pois terá autoridade administrativa e
deverá ser um elemento de grande capacidade, Os colaboradores voluntários têm várias
energia e amor a sua profissão. funções e atribuições específicas e bem defini­
O Clube de Lazer visa entre outras coisas das. A ele compete:
1 - A representação de seu próprio grupo.
a:
2 - A representação da comunidade a que
1 - Preencher o tempo livre das crianças da
ele pertence.
comunidade;
3 - Votar como sócio eleitor da ACM.
2 - Dar oportunidade de descobrir o meio e
4 - Aprovar o orçamento.
praticar atividades de caráter esportivo,
5 - Representar oficialmente a ACM.
artístico, cultural e vocacional profissional;
6 - Designar comissões.
3 - Educar para o lazer através do lazer.
4 - Realizar visitar às Instituições da Comuni­ 7 - Buscar recursos financeiros.
8 - Autorizar gastos específicos.
dade, passeios, excursões de atração cul­
9 - Aprovar planos de ação e relatórios.
tural e de lazer;
10 - Fixar cotas sociais e preços de serviços.
5 - Tornar possível a tomada de consciência
11 - Assinar documentos oficiais da ACM.
de sua realidade social. Através de visitas
12 - Interpretar a Associação junto à comuni­
às empresas;
dade.
6 - Favorecer a orientação profissional.
No Clube de Lazer é imprescindível a co­ O voluntário representa para o movimento
laboração da comunidade local, do Ministério acemista a abertura de novas idéias, adequa­
da Educação, da Secretarias de Educação, Es­ ção da ACM ao meio ambiente, divisão de res­
porte e Lazer, da Direção do estabelecimento ponsabilidades e multiplicação de trabalho. O
de ensino, dos Professores de Educação Física processo de preparar voluntários é muito mais
e das demais disciplinas. do que ensinar técnicas. A preparação dos vo­
luntários se inicia, no momento em que se es­
clarecem os conceitos relativos ao voluntariado
MODELO N2 3 e os objetivos da ACM. Enfatizar que a partir
Resumo: Planejamento participativo a deste pensar inicial os próprios voluntários de­
partir da colaboração voluntária vem participar, pois sua preparação começa
- A.C.Ms - Associações Cristãs com sua atuação na elaboração dos programas
de Moços. e da forma e conteúdo dos mesmos.

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MODELO N? 4 senvolve através do grupo de trabalho. Dessa
“intimidade” nasce a integração, anulando as
Resumo: Planejamento participativo na ações desonestas e egoísticas.
empresa - Teoria Z - Coopera­ Os relacionamentos holísticos são uma
ção espontânea como fruto de conseqüência e não uma causa de integração
um relacionamento holístico - organizacional. Ajudam a manter a natureza
Japão. igualitária da organização por reunir superiores
Como um dos objetivos principais de e subordinados (em jogos, atividades recreati­
qualquer empresa é a produtividade, tem havi­ vas, atividades filantrópicas ou sociais) como
do muito preocupação com a sua melhoria em iguais temporários, e assim demonstrar que a
diversos países. O Japão tem se salientado distância entre eles não é grande e nem in­
pela alta produtividade de suas empresas e transponível.
tem sido alvo de estudo por parte de muitos A teoria Z demonstra, com seus resulta­
especialistas. dos, que o trabalho em equipe (cooperativo e
A Teoria Z - de autoria de William Ouchi participante) é o caminho que os japoneses en­
- apresenta um sistema administrativo basea­ contraram, e impressionaram o mundo ociden­
do em cooperação e participação que tem por tal com sua alta produtividade.
finalidade o aumento da produtividade sem
violentação, sem exploração e de uma forma CONCLUSÕES
holística.
A motivação para a cooperação é a base 1. O planejamento participativo na famí­
da filosofia da Teoria Z. Suas principais carac­ lia, nas escolas e nas organizações parece ser
terísticas são: estabilidade no emprego, con­ uma das mais promissoras vias pelas quais se
fiança, lealdade, relacionamentos pessoais ín­ procura atingir novas formas de concretização
timos, condições de trabalho humanizadas, dos ideais democráticos.
ação conjunta e igualitarismo. 2. A participação é um dos caminhos
O processo de administração participativa, mais seguros de realização pessoal e social, na
uma vez iniciado, é em grande parte auto-sus- família, na escola e nas organizações.
tentado, porque apela para os valores básicos 3. Para os autores referenciados a parti­
de todos envolvidos. cipação comunitária não é gerada esponta­
Outro ponto importante do sistema é a neamente; ela deve ser planejada, liderada,
tomada de decisão coletiva. Todos os que sen­ conquistada, desejada, consciente e crítica.
tirão seu efeito estarão envolvidos no processo 4. O planejamento participativo nos qua­
de decisão. Isso é conseguido através de um tro exemplos citados, caracteriza-se pelo res­
entrosamento íntimo dos comportamentos indi­ peito ao ser humano, pelo trabalho em equipe,
viduais. Não há somente relações de trabalho, e no empenho de todos, na busca de soluções
mas também a vida social do indivíduo se de­ dos problemas comuns.

ABSTRACT

Participative planning has been shown to achieve


good results either in school settings and in big
business. The author describes four models of
participative planning in order to show its value
and its efficacy.

20 Rev. Paul. Educ. Fis., 2(3): 1 7 - 2 1 , dez. 1988


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO CRISTÃ DE MOÇOS. O papel OUCHI, W. Teoria Z: como as empresas


do voluntário e do profissional. São Paulo, podem enfrentar o desafio japones. São
1980. Paulo, Fundo Educativo-Brasileiro, 1982.
LEAVITT H.J. Psicologia para administrado­ VIANNA, I.O.A. Planejamento participativo na
res. São Paulo, Cultrix, 1972. Escola. São Paulo, EPU, 1986.
LISTELLO, A. Educação pelas atividades físi­
cas, desportivas e de lazer. 3 ed. São -

Paulo, EPU, 1984.

Recebido para publicação em: setembro/88

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