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Texto 1 - Comunicao Animal e Linguagem Humana
Texto 1 - Comunicao Animal e Linguagem Humana
Direção:
Prof. ISAAC NICOLAU SALUM
(da Universidade de São Paulo)
PROBLEMAS
DE LINGÜÍSTICA
GERAL
tradução de
MARIA DA GLÓRIA NOVAK
e
LUIZA NERI
FICHA CATALOGRAFICA
76-1049 CDD-410
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As diferenças são, porém-6-Eoll_siderá~ei~.-~-l!.Í.Y..Qam.__ a _t_(=>_l!!!!r
empregado numa colônia de insetos; e pela primeira vez pode- consciên:aa.-·doque-cârãcteríza realmente a linguagem l:i.Umana.
mos imaginar o funcioname.nto de. uma. :~linguagem" animal. Â-=:i)rffiiei'rã; 'essenciâl,
e está mensagem .das ___ abelhas
Pode ser'l:ítilassinalar de leve aquilo em que ela é 0-U não é uma consiste íri[efra:riiente I1à'élança, sem intervenção de um ªparelho
linguagem, e o modo como essas observações _sobre as abelhas "vocal'', enquanto não.há linguagem sem ·voz?--oa.r·surge o_:t_!!_a
ajudam a definir, por semelhança ou por contrast~, ·;,;-·lingu..a- · diferença, que é de ordem fisica. A. comurilcã_ção n~~~~~l!lª_s,
gem humana. ílãõ-;üd.ô voc.~l ina.sgestüal, efetua-se necessariamente em con-
As abelhas mostram-se capazes de produzir e de compreen- diçõe~ que permitem percepção visual, sob a luz do dia;_pão
der uma verdadeira mensagem, que encerra inúmeros dados. pode ocorrer na obscuridade. A linguagem humana conhe-
Podem, pois, registrar relações de posição e de distância; podem ce essa limitação.
conservá-las na "memória"; podem comunicá-las simbolizando-as Uma diferença capital aparece também na_!ituaçã.Q_ em que
por diversos comportamentos somáticos. O fato notável consiste se dá a comunicação. A mensagem das abelhas não provoca
inicialmente em que manifestam aptidão para simbolizar: há, nenhuma resposta do ambiente mas apenas uma certa conduta,
mesmo, uma correspondência "convencional" entre seu compor- que não é uma resposta. Isso significa que as abelhas não co-
tamento e o dado que traduz. Essa correspondência é percebida nhecem o diálogo, que é a condição da linguagem humana.
pelas outras abelhas nos iermos em que lhes é transmitida e se Falamos com outros que falam, essa é a realidade humana. Isso
torna em motor de ação. Até aqui. encontramos,. nas abelhas, revela um novo contraste. Porque não há diálogo para as·abelhas,
.,l§_g~óprias condições sem as q-uaisnenim~;; ii11guagem é possí- a comunicação se refere apenas a um certo dado objetivo. Não
vel .-=-a-capaciâãde-õe-füfifiülace. de··nnerprehir .Ulll "signo" pode haver comunicação relativa a um dado "lingüístico"; não
que remete à uma certa ''realidade", a memória da experiência só por haver resposta, sendo a resposta uma reação lingüís-
e a aptidão para decompô-la. tica a outra manifestação lingüística; mas também no sentido
A mensagem transmitida contém três dados, os únicos iden- de que a mensagem de uma abelha não pode ser reproduzida
tificáveis até aqui: Gl-. .existênci.a._9_~_!!JJ1ª-fQnte ..de. alimento, a suª' por outra que não tenha visto ela mesma os fatos que a primeira
distância e a sua Esses elementos poderiam ordenar-se anuncia. Não se comprovou que uma. abelha vá, por exemplo,
de-maneira um pouco diferente. A dança em circulo indica sim- l~var .a outra colmeia a mensagem que recebeu na sua, o que
plesmente a presença do achado, determinando que está a pe- seria uma forma de transmissão ou de retransmissão. Vê-se a
. quena distância. Funda-se sobre o princípio mecânico do "tudo diferença da linguagem humana, em que, no diálogo, a referência
ou nada". A outra dança formula verdadeiramente uma comu- à experiência objetiva e a reação à manifestação lingüistica se
nicação; desta vez, é a existência do alimento que está implícita
misturam livremente, ao infmito. A I!~TI:!<!._!!ão gQnstrói uma
nos dois dados (distância, -direção) expressamente enunciados.
Vêem-se aqui muitos pontos de semelhança com a linguagem mensagem a partir d~__ ()2-ltra..IJ:l~g~~..: Cada Ulp~Ue,
humana. Esses processos põem em ação um simbolismo verda- alertadas jeládança da primeira, saem e vão alimentar-se no
deiro embora rudimentar, pelo qual dados objetivos são trans- pontoi~dlêàdo~ ;ep~Õ:<:i,iiz 'qúando ~olta a mesma _informaç~o,
postos em gestos formalizados, que comportam elementos variá- não a partir da primeira mensag~m, mas à partir da realidade
veis e de "significação" ronstante. Além disso, a situação e a· que acaba de comprovar. Ora, o caráter da linguagem é 0 de
fuEY..~jo__as_de_JJ.!!!_~JLI?--ª.l!~~~m,. no sentic!(). cie.~qu~~{~t~ji1ã 'propiciar um substituto da ~:lg)~riêí1eia que seja adequado para
e. yªJi_gg__.!).g_jnterioL.de.uma...comunidade--determirmQ~!_e de que -~
ser transmitiào sem fim no tempo e no espaço, o que o ttptco
· · - · , · .."<"'"
cada membm..dessa_comunidade tem aptidões para.empregâAo do nosso simbolismo e o fundamento da tradição lingüística.
ou comp!~~ndê-lo nos mesmos termos.
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Se considerarmos agora o conteúdo da mensagem, será fácil nos parece o mais apropriado para definir o modo de comuni-
observarmos que se refere sempre e somente a um dado, o ali- cação empregado pelas abelhas; I!ão é uma linguagem, é um
mento, e que as únicas variantes que comporta são relativas a código de sinais. Todos os caracteres resultam disso: a_[xid~
dados especiais. É evidente o contraste com o ilimitado dos -~Ô-cont:m!d.Q. a in.Yªtütbilidade..IDl.Jil~ a...r~a..a.J.Jma.
conteúdos da linguagem humana. Além disso, a conduta que única.....sit.wl&fi!l. a. na1JJ.r.QZ.a.inde.c.cunp.uoivcl.dn.J;:rumciado, a..s.ua.
significa a mensagem das abelhas denota um simbolismo par- tJJ;lpsmi~ilaterru•. É no entanto significativo o fato de que
ticular que consiste num decalque da situação objetiva, da única esse -código, única forma de "linguagem" que se pôde até hoje
situação que possibilita uma mensagem, sem nenhHma variação descobrir entre os animais, seja próprio de insetos que vivem em
ou transposição possível. Ora, na linguagem humana, o símbolo sociedade. É também a sociedade que é a condição da linguagem.
em geral não configura os dados das experiências, no sentido de Esclarecer indiretamente as condições da linguagem humana e
que não há relação necessária entre a referência objetiva e a do simbolismo que. supõe não é o menor interesse das descober-
forma lingüística. Haveria muitas distinções para fazer aqui sob tas de K. von ·Frisch - além das revelações que nos trazem sobre
o aspecto do simbolismo humano, cuja natureza e cujo funciona- o mundo dos insetos. É possível que o progresso das pesquisas
mento foram pouco estudados. A diferença, porém, subsiste. nos faça penetrar mais fundo na compreensão dos impulsos e
Um último caráter da comunicação das abelhas a opõe for- das modalidades desse tipo de comunicação, mas o haver esta-
temente às línguas humanas. ~ mensagem das abelhas não se belectdo que ele existe e qual é e como funciona já significa que
de.ixa analisar._]'~-ªº Jhe_S.J.2Qdemos~"!~~~~~m~lJ!~Q_clQ gl()~~l, veremos melhor onde começa a linguagem e como se delimita
ligando-se a única diferença à posição espacial do objeto relatado. . o homcm( 23 l.
§.imP-~lLPQ!~m, decompor esse conteúdo nos seus elementos
a
formadores, nos se~s-"moifêinas-'';de manéi1:a fazer correspon-
der cada •um desses morfeinas-a urii--elemênto do enunciado.
A lingnagern .. huJUan.a. _g_:uacteriza-se_ jusfami:mte aí. ·caaa enun-
ciado se reduz aelement;~- cl~e se deii~~~-~~;;:;_t,TD.arlívtêinente
segundo regras definidas, de modo que u.m numero
reduzido de morfemas permite um número consideráverde-ê()m-
binações de onde nasce a variedade da linguagem humana,
que é a capacidade de dizer tudo. Uma análise·· ii:l<ús·--aproliúi-
dada da linguagem mostra que esses modernas, elementos de
significação, se resolvem, por sua vez, em fonemas, elementos
articulatórios destituídos de significação, ainda menos numero-
sos, cuja reunião seletiva e distintiva fornece as unidades signi-
ficantes. Esses fonemas "vazios", organizados em sistemas, formam
a base de todas as línguas. Está claro que a linguagem das abelhas 1
não permite isolar semelhantes -constitüTD.tes; não sé- iedl!z·~-ele- 1
mentos identificáveis e distintivos. 1
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