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In: O olhar distanciado

p. 206

"fundamente. Por muito hetereclóticas que possam ser noções como as de fonema e
a de proibição do incesto, a concepção que eu viria a ter da segunda inspirou-se no
papel atribuído pelos linguistas à primeira. Como o fonema, meio sem significação
própria para formar significações, a proibição do incesto deveria vir a surgir-me
como a charneira entre dois domínios. À articulação do som e do sentido
correspondia assim, num outro plano, a da natureza e da cultura. E, tal como o
fonema como forma é dado em todas as línguas a título de meio universal pelo qual
se instaura a comunicação linguística, a proibição do incesto, universalmente
presente se nos ativermos à sua expressão negativa, constitui, ela também, uma
forma vazia mas indispensável para que se torne, ao mesmos tempo, possível e
necessária a articulação dos grupos biológicos numa rede de troca que os põe em
comunicação. A significação das regras de aliança, indistinguível quando as
estudamos separadamente, não pode surgir senão opondo-as umas às outras, da
mesma maneira que a realidade do fonema não reside na sua individualidade
fónica...
... sublinharem o papel que cabe, na produção da linguagem (mas também na de
todos os sistemas simbólicos), à actividade inconsciente do espírito. Com efeito,
é somente com a condição de reconhecer que a linguagem, como qual quer outra
instituição social, pressupõe funções mentais operando ao nível inconsciente, que se
pode ficar em posição de esperar, para além da continuidade dos fenômenos, a
descontinuidade dos «princípios organizadores» (p. 30) que escapam normalmente
à consciência do sujeito falante ou pensante. A descoberta destes princípios, e
sobretudo a da sua descontinuidade, deveria abrir a via ao progresso da linguística e
das outras ciências do homem no seu rasto.

O inconsciente - ou o seu limiar - nessas operações que dizem respeito à língua e


outros sistemas simbólicos. Inconsciente e limiar pressupostos para essas
compreensões. Por ai?
p. 207
... «os elementos da língua permanecem no limiar do nosso desígnio reflectido.
reflectido. Como dizem os filósofos, a actividade lingüística funciona sem se
conhecer»

p. 208 - ... sistema composto por elementos que são, ao mesmo tempo, significantes
e vazios de significação

Relação entre análise linguística e dos mitos - se compõe de elementos combinados


entre si para formar significações, sem nada significarem por si mesmos quando são
tomados isoladamente.

p. 209 - fonemas: opositivos, relativos, negativos - valor distintivo (discriminatório?) -


essas características, pergunta-se LS, ressurgem nos mitemas? elementos de
construção do discurso mítico que, também eles, são entidades ao mesmo tempo
opositivas, relativas e negativas; signos diferenciais, puros e vazios». pode recobrir
os conteúdos ideais mais diversos...
- Mitemas e fonemas: aguadeiros...
"... ninguém, vendo aparecer o Sol num mito, poderá preconceber a sua
individualidade, a sua natureza e as suas funções. É somente das relações de
correlação e de oposição que ele mantém, no seio do mito, com outros mitemas que
se pode destacar uma significação. Esta não pertence propriamente a nenhum
mitema; resulta da sua combinação"
p. 210 - limites da analogia.
Mito como discurso próprio que se desloca do uso corrente da língua

"Um mito propõe uma grelha, somente definível pelas suas regras de construção.
Para os participantes numa cultura a que respeite o mito, esta grelha confere um
sentido, não ao próprio mito, mas a todo o resto: ou seja, às imagens do Mundo,
da sociedade e da sua história, das quais os membros do grupo têm mais ou
menos claramente consciência, bem como das interrogações que lhes lançam
esses diversos objectos. Em geral, esses dados esparsos falham ao unirem-se e,
na maior parte das vezes, contrapõem-se. A matriz da inteligibilidade fornecida
pelo mito permite articulá-los num todo coerente. Diga-se de passagem, que
este papel atribuído ao mito vai ao encontro daquele que um Baudelaire poderia
atribuir à música. (???)

P. BAIXO: simbolismo P. ALTO: do mito; rel. de


fonético;leis neuro- semelhança, não de
psicológicas; contiguidade contiguidade; simbolismo
dada, semelhança falta semântico

Nível da língua (um de seus extremos, marcado pelo vazio) em que a mitologia
dobra a língua ao seu uso, é a relação de semelhança que está presente — ao
contrário das suas palavras, os mitos de povos diferentes parecem-se —, mas a
relação de contiguidade desmorona-se pois como já se viu, não existe qualquer laço
necessário entre o mito, como forma de significação, e os significados concretos a
que ele pode vir a ser aplicado. Simetria entre simbolismo fonético e semântico -
correspondem a exigências mentais do mesmo tipo - viradas ao corpo, à sociedade
e ao Mundo.

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