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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

FACULDADE DE TECNOLOGIA - FT
GEOGRAFIA URBANA

EMANUELLE SALES GOMES

Relatório sobre os textos passados na disciplina

Manaus
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
FACULDADE DE TECNOLOGIA - FT
GEOGRAFIA URBANA
EMANUELLE SALES GOMES

Relatório sobre os textos passados na disciplina

Trabalho apresentado na disciplina


Geografia Urbana como parte
dos requisitos necessários à obtenção de nota

Manaus
2022
Sumário

● Capitalismo e Urbanização_____________________________ p. 04
● Processos Espaciais e a Cidade ________________________ p. 09
● Espaço-Urbano: Notas Teórico-Metodológico_____________ p. 14
● Observações Sobre o Conceito de Cidade e Urbano________ p. 18
● Referências__________________________________________ p. 22
CAPITALISMO E URBANIZAÇÃO

Entender a cidade de hoje e apreender quais processos dão


conformação à complexidade de sua organização e explicam a
extensão da urbanização neste século, exige uma volta às suas origens
e a tentativa de reconstruir, ainda que de forma sintética, a sua
trajetória. As cidades nem sempre tiveram o tamanho e a importância
que têm hoje, se os primeiros aglomerados humanos nem sequer
podem ser considerados urbanos, e se em algum período da História os
homens nem sequer viviam aglomerados ou tinham moradia fixa.

A realização de um resgate histórico nos períodos Paleolítico, Mesolítico


e Neolítico para entender a formação das aldeias, forma embrionária
das cidades. O período paleolítico é marcado pela não fixação do
homem, pelo nomadismo enfim. Contudo, as suas primeiras
manifestações de interesse em se relacionar com algum lugar são deste
período, e podemos reconhecê-las por dois fatos. Primeiro, pela
respeitosa atenção que o homem paleolítico dispensava a seus mortos,
preocupando-se com que eles tivessem um lugar, uma "moradia".

A existência de um melhor suprimento de alimentos através da


domesticação dos animais, e da prática de se reproduzirem os vegetais
comestíveis por meio de mudas. Isto se deu há cerca de 15 mil anos e
todo esse processo foi muito lento, porque somente três ou quatro mil
anos mais tarde essas práticas se sistematizaram, através do plantio e
da domesticação de outras plantas com sementes, e da criação de
animais em rebanhos.

Fatores necessários para a existência das cidades: embutida na origem


da cidade há uma outra diferenciação, a social: ela exige uma
complexidade de organização social só possível com a divisão do
trabalho.

A cidade é mais que o aglomerado humano que se formou


historicamente num ponto do território, cuja razão de ser era o
desenvolvimento da agricultura e o sedentarismo e o
próprio desenvolvimento da agricultura, traços da aldeia, são
pré-condições indispensáveis, mas não suficientes, para as origens das
cidades.

As condições necessárias para a constituição da cidade:


- Criação de instituições sociais;
- Uma relação de dominação e de exploração;
- Uma sociedade de classes.

Há dificuldades de se precisar o momento da origem das primeiras


cidades. Contudo, os autores são unânimes em apontar que terá sido
provavelmente perto de 3500 a.C, seu aparecimento na Mesopotâmia
Essas cidades surgiram em regiões com predomínio de climas
semi-áridos, daí a necessidade de se fixarem perto dos rios, repartir a
água, repartir os escassos pastos, e proceder ao aproveitamento das
planícies inundáveis, ricas de húmus e propícias ao desenvolvimento da
agricultura.
As mais antigas cidades tinham em comum, além da localização nos
vales de grandes rios, uma organização dominante, de caráter
teocrático (o líder era rei e chefe espiritual), e um traço na sua
estruturação interna do espaço: a elite sempre morava no centro. Isto
servia tanto para facilitar o intercâmbio das idéias.
O aumento da importância das cidades da Mesopotâmia começou a
partir de 2500 a.C, quando estas cidades começaram a formar Estados
independentes. A Mesopotâmia foi, então, o centro da difusão do fato
urbano para o Egito Antigo (Mênfis e Tebas), vale do rio Indo
(Mohenjo-Daro), Mediterrâneo Oriental e interior da China (Pequim e
Hong-Chu).

Embora fossem resultado do social e do político enquanto processo, as


primeiras cidades tiveram suas localizações determinadas pelas
condições naturais, de um momento histórico, em que o
desenvolvimento técnico da humanidade ainda não permitia a
superação destas imposições.

As cidades na Antiguidade: A explicação para a origem do urbano está


no social e no político.

O longo período conhecido como Idade Média, o qual se estende do


século V ao XV, embora seja marcado por uma nova organização
econômica, social e política, o modo de produção feudal viveu
momentos diferentes, como aliás outros períodos da história e outros
modos de produção. Em outras palavras, podemos dizer que mesmo
que alguns períodos perpassam efetivamente um largo tempo na
história, há no bojo de todo modo de produção um processo de
desenvolvimento, decorrente de transformações econômicas, sociais e
políticas historicamente datadas.

O papel dos impérios na Urbanização, a cidade como centro de poder.


O Feudalismo e a desestruturação da rede urbana, um retrocesso na
urbanização que vinha se processando.
A principal característica do modo de produção feudal é sua base
econômica quase que exclusivamente agrícola. A nível do econômico,
esse modo de produção tinha sustentação em dois "pilares": a mudança
do caráter dos latifúndios e a instituição da servidão.
O modo de produção feudal assim organizado, estruturalmente, criou e
reproduziu as condições necessárias à economia quase exclusivamente
agrícola e intra feudo, e em contrapartida esvaziou definitivamente o
urbano de seu papel econômico e político, reduzindo as cidades
europeias a funções muito pouco expressivas.

As cidades de então tinham na sua estrutura as marcas desta


organização política, social e econômica. Foram construídos canais
para distribuir água em terras semi-áridas e para permitir o transporte de
produtos e matérias-primas a áreas um pouco mais distantes.
As cidades eram cercadas por muros e algumas tinham fossos, o que
individualiza de forma clara o espaço urbano, e facilitava a tarefa dos
governantes de defender seus governados de um ataque inimigo.
As formas predominantes eram de ruas e muros traçados
retilineamente, formando entre si, ângulos retos. O nosso exemplo —
Babilônia — era formado por um retângulo de 2500 m por 1500 m.

O Império Romano é sem dúvida o melhor exemplo de expansão da


urbanização na Antiguidade, por conta de um poder unificado. A vitória
dos romanos sobre os gregos da Itália e Sicília, e a anexação dos
impérios cartaginês e helenístico, permitiram a apropriação e o
aperfeiçoamento dos sistemas econômico e administrativo já
desenvolvidos por estes povos.
Além disso, o Império estendeu-se para a Europa Ocidental, permitindo
o desenvolvimento urbano em regiões habitadas por "bárbaros". No
noroeste europeu, ao norte dos Alpes, as primeiras cidades fundadas
tanto no vale do Reno (hoje, Alemanha), como na Britânia (hoje,
Inglaterra) e Gália (hoje, França e Bélgica) são romanas.
A consequência mais marcante da queda do Império Romano, porém,
foi, sem dúvida, a desarticulação da rede urbana. Na medida em que
não havia mais um poder político central, as relações interurbanas
enfraqueceram-se e em certas áreas desapareceram, pois caíram por
terra as leis que davam proteção ao comércio em todo o Império
(sobretudo da produção artesanal, inclusive mercadorias de luxo — a
produção alimentar não podia ser transportada a distâncias maiores), e
foram suspensos os recursos para a manutenção de estradas e portos,
anteriormente construídos e conservados para dar sustentação ao
poder imperial.
As primeiras cidades reduziam-se a centros de administração
eclesiástica, com papel econômico praticamente nulo, pois o pequeno
mercado de abrangência apenas local, não poderia ser considerado
como manifestação de um comércio efetivo. Tais cidades subsistiam às
custas dos tributos recolhidos nos latifúndios pertencentes ao
bispo e abades ali residentes.

O Renascimento Urbano e a conformação da urbanização sob o modo


de produção capitalista (Capitalismo Mercantil). A cidade como espaço
de suma importância, e a urbanização como processo expressivo e
extenso a nível mundial a partir do capitalismo.
O processo de retomada da urbanização, do renascimento das cidades,
foi possível pela reativação do comércio, enquanto atividade econômica
urbana. Ao se desenvolver, esse comércio foi criando as condições para
a estruturação do modo de produção capitalista e, simultaneamente, a
destruição dos pilares da economia feudal (o latifúndio, sua economia
fechada e a servidão).

O papel dos Estados Nacionais Absolutistas (a urbanização moderna):


Grande reforço do processo de urbanização. Este reforço decorreu do
fim do monopólio feudal sobre a produção alimentar e do fim do
monopólio sobre a produção manufatureira, estimulando as manufaturas
e enfraquecendo as corporações de ofício que limitavam a produção.
Além do mais, a formação dos Estados Nacionais Absolutistas permitiu
o adensamento populacional na medida em que o aparato
político-administrativo que dava amparo ao Estado propiciou o
aparecimento de uma burocracia numerosa e a formação de exércitos
permanentes.
PROCESSOS ESPACIAIS E A CIDADE

A cidade pode ser considerada, de acordo com Harvey, como a


expressão concreta de processos sociais na forma de um ambiente
fisico construido sobre o espaço geo gráfico. Expressão de processos
sociais, a cidade reflete as características da sociedade. Esta definição
tem o mérito da universalidade, quer em termos de tempo quer de
espaço, enquadrando tanto as cidades ceri monials da China antiga, as
cidades maia e azteca, como o burgo me dieval, a cidade colonial e a
metrópole moderna.

A metrópole moderna constitui-se em importante local de acumulação


de capital e onde as condições para a reprodução da força de trabalho
podem mais plena mente ser realizadas. Tais processos socials
produzem forma, movi mento e conteúdo sobre o espaço urbano,
originando a organização. espacial da metrópole. Esta organização
caracteriza-se por usos da terra. extremamente diferenciados tais como
o da área central, áreas indus triais e áreas residenciais diversas, e
pelas interações como fluxo de capital, migrações diárias entre local de
residência e local de trabalho, e deslocamento de consumidores, que
permitem integrar essas diferentes
partes.
Um conjunto de forças que atua ao longo do tempo e que permite
localizações, relocalizações e permanência das atividades e população
sobre o espaço urbano. São os processos espaciais responsáveis
imediatos pela organização espacial complexa que carac teriza a
metrópole moderna. Tais processos são postos em ação pelos atores
que modelam a organização do espaço, proprietários dos meios. de
produção, proprietários de terras, empresas imobiliárias e de cons
trução, associadas ou não ao grande capital, e o Estado, conforme
apontam, entre outros, Form, Harvey e Capel.

Os processos espaciais são os seguintes: centralização, descentrali


zação, coesão, segregação, invasão-sucessão e inércia, e foram
colocados. em evidência desde a segunda metade do século XIX e,
sobretudo, na primeira metade deste, por economistas como Hurd e
Haig, sociólogos da Escola de Ecologia Humana como Park e Mckenzie,
e geógrafos. urbanos como Colby. Constituem tais processos
excelentes descrições do que ocorre na cidade em termos de
organização e reorganização do espaço, ainda que se possa criticar
muitas das interpretações dadas. Neste aspecto acredita-se que é
necessário repensar em termos explicativos o que tais processos
descrevem.

A existência de uma área onde se concentram as principais atividades


comerciais e de serviços, bem como os terminais de transportes
interurbanos e intra-urbanos, esta área, conhecida como Área Central,
resulta do processo de centralização, indubitavelmente um produto da
economia. de mercado levado ao extremo pelo capitalismo industrial.

A localização dos terminais ferroviários fazia-se o mais próximo possível


um do outro, e próximo, onde havia, do terminal marítimo, garantindo,
assim, mini mização de deseconomias de transbordo.

Próximas a estes terminais vão se localizar aquelas atividades vol tadas


para o mundo exterior, comércio atacadista e depósitos, indústrias
nascentes e em expansão e serviços auxiliares. Estas atividades
criaram enorme mercado de trabalho na área, fazendo com que esta se
trans formasse também no foco de transportes intra-urbanos. A
emergente área central passou a desfrutar, assim, da máxima
acessibilidade dentro do espaço urbano. Esta acessibilidade foi
responsável pelos mais elevados preços da terra urbana que aí se
encontram, o que levou a uma com petição pelo uso da terra.
A concentração de atividades nesta área representa, pois, a maxi
mização de externalidades, seja de acessibilidade seja de aglomeração.
Do ponto de vista do capital, a área central constituía, na segunda
metade do século XIX e ainda hoje, para muitas atividades, uma locali
zação ótima, racional, que permitiria uma maximização de lucros.

A descentralização está também associada ao crescimento da cida de,


tanto demográfica como espacialmente, aumentando as distâncias entre
a área central e as novas áreas ocupadas. Neste caso, pode-se verificar
ou o aparecimento de firmas novas que já nascem descentralizadas ou
a criação de filiais de firmas localizadas centralmente. A
descentralização implica em uma diminuição relativa da acessi bilidade
da área central, e aumento relativo da acessibilidade de outros locais, à
qual está associado o desenvolvimento dos meios de transporte
intra-urbanos mais flexíveis, o caminhão e o automóvel. Alguns dos
locais periféricos ao centro tornam-se réplicas em menor escala da área
central, enquanto outros passam a concentrar indústrias, novas ou
descentralizadas, originando, respectivamente, subcentros comerciais e
áreas industriais não centrais.

O processo de Coesão foi descrito por Hurd em 1903, ao mostrar que


no setor varejista do centro da cidade há uma tendência de as lojas do
mesmo tipo se aglomerarem, apesar de não manterem negócios entre
si. Segundo Hurd, esta aglomeração forneceria garantias para todas as
lojas porque haveria em direção àquele setor uma atração maciça de
consumidores. A conseqüência deste processo de coesão é a criação
de áreas espe cializadas tanto no interior do centro de negócios, como
os distritos varejista, atacadista e financeiro, como em áreas não
centrais, onde aparecem distritos de grande concentração de
consultórios médicos, ou ruas especializadas no comércio de móveis ou
automóveis e auto peças 5 ou ainda em distritos industriais
especializados. É preciso, portanto, notar que o processo de coesão
pode se verificar simultanea mente com os processos de centralização e
descentralização, gerando o aparecimento de áreas especializadas
dentro do espaço urbano, tornando, assim, sua organização espacial
mais complexa.

O processo de segre gação refere-se especialmente à questão


residencial, relacionando-se muito mais, portanto, à reprodução da
força-de-trabalho. A segregação é um processo que origina a tendência
a uma organização espacial em áreas de "forte homogeneidade social
interna e de forte disparidade social entre elas". Em realidade, a
segregação parece constituir-se em uma projeção espacial do processo
de estruturação de classes, sua reprodução, e a produção de
residências na sociedade capitalista.

O processo de invasão-sucessão, está associado, sobretudo, à questão


residencial, ainda que possa afetar as atividades terciárias e industriais.
No espa ço urbano, há bairros que são habitados, durante um certo
período de tempo, por uma classe social, e que a partir de um certo
momento verifica-se a "invasão" de pessoas de outra classe social, via
de regra, de classe inferior àquela que ocupa o bairro. Inicia-se, então, a
saida da população preexistente e a chegada de novo contingente, ou o
processo de invasão-sucessão.

O processo de inércia interfere na organização espacial da cidade na


medida em que certos usos da terra permanecem em certos locais,
apesar das causas que justificaram a sua localização terem cessado de
atuar.
Esta inércia deve-se a uma série de fatores, entre eles aquilo que Firey
20 denomina de "simbolismo e sentimento", ou seja, a existência de
valores que levam à permanência de localizações e usos da terra que
não mais obedecem a uma racionalidade econômica. A
institucionalização da inércia, quando se verifica o "tombamento" de
áreas ou bairros, constitui um caso em extremo. Também fundamental
para a permanência de localizações e usos não-racionais, segundo a
ótica do capital, está a irregular difusão de informações e sua tradução
ao nível de indivíduos e grupos que percebem o meio ambiente de
modo particular, não apresentando um comportamento que reflita uma
raciona lidade econômica. Mas é preciso considerar que o processo de
inércia pode ter seus limites. A partir de um determinado momento,
deseconomias externas podem se ampliar levando a uma das
alternativas, fechamento ou relocalização. Na realidade, a inércia pode
ser, em muitos casos, entendida como uma decisão mais demorada na
relocalização, e isto pode depender da escala de tempo em que a
constatação do processo é feita.
ESPAÇO URBANO: NOTAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS

O espaço urbano aparece, no primeiro momento de sua apreensão,


como um fragmentado, caracterizado peIa justaposição de diferentes
paisagens e usos da terra. Na grande cidade capitalista estas paisagens
e usos originam um rico mosaico urbano constituido pelo núcleo central,
a zona periférica do centro,areas industriais, sub-centres terciarios,
areas residenciais distintas em termos de forma e conteúdo, como as
favelas e os condominios exclusivos, areas de lazer e, entre outras,
aquelas submetidas à especulação
visando a futura expansão

Essa framentação é decorrente da ação dos diversos agentes


modeladores que produzem e consomem espaço urbano: proprietários
dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais, proprietários
fundiários, promotores imobiliários, Estado e grupos sociais excluídos. A
ação desses agentes, que obedece a uma lógica que é
simultaneamente própria e geral, produz os diferentes fragmentos que
compõem o mosaico urbano.
Os estudos sobre a fragmentação do espaço urbano constituem uma
tradição na geografia urbana. Podem ser definidos como estudos sobre
o uso da terra. Têm sido realizados preponderantemente de acordo com
as abordagens positivista e positivista lógica.
Com articulação se quer dizer que cada uma das partes da cidade
mantém relações com as demais, ainda que sejam de natureza e
intensidade variáveis. Através da articulação o espaço urbano ganha
unidade, originando um conjunto articulado cujo foco de articulação tem
sido o núcleo central da cidade que, entre outras funções, realiza as de
gestão das atividades.

A articulação manifesta-se empiricamente através de fluxos de veículos


e de pessoas. Estão associados às operações de carga descarga de

mercadorias diversas, aos deslocamentos cotidianos entre áreas


residenciais e os diversos locais de trabalho, aos deslocamentos para
compra no centro da cidade ou nas lojas de bairro, às visitas aos
parentes e amigos, e às idas ao cinema, culto religioso, praia e parque,
entre outros. A articulação manifesta-se também de modo menos
visível.

Os estudos sobre articulação no âmbito do espaço urbano dizem


respeito a temas como o deslocamento de consumidores, a jornada
para o trabalho e as interações inter-industriais, entre outros. Têm sido
realizados com um cunho eminentemente funcionalista e, como no caso
dos estudos sobre fragmentação do espaço urbano, têm apresentado
fortes vinculações com o sistema de planejamento urbano. Contudo, a
temática em tela é passível de ser abordada através de outras matrizes
teórico-metodológicas.

É conveniente lembrar, contudo, que o espaço urbano é um reflexo


tanto de ações que se realizam no presente, como também daquelas
que se realizaram no passado e que deixaram suas marcas impressas
nas formas espaciais presentes. Nesse sentido o espaço urbano pode
ser o reflexo de uma sequência de formas espaciais que coexistem lado
a lado, cada uma sendo originária de um dado momento.
É conveniente também ressaltar dois outros aspectos. Em primeiro lugar
o espaço urbano capitalista é profundamente desigual: a desigualdade
constitui-se em característica própria do espaço urbano capitalista,
refletindo, de um lado, a desigualdade social expressa no acesso
desigual aos recursos básicos da vida e, de outro, as diferenças
locacionais das diversas atividades que se realizam na cidade. Em
segundo lugar, ressalte-se que por ser reflexo social e porque a
sociedade apresenta dinamismo, o espaço urbano é também mutável,
dispondo de uma mutabilidade que é complexa, com ritmos e natureza
diferenciados. Mas é preciso considerar que a cada transformação o
espaço urbano se mantém desigual, ainda que as formas espaciais e o
arranjo delas tenha sido alterado. Mantém-se, ainda, fragmentado e
articulado.

Aceitar o fato do espaço urbano ser simultaneamente reflexo e


condicionante social já implica na adoção de uma postura crítica, uma
postura fundamentada no materialismo histórico e dialético. Aceitar e
incorporar esse papel do espaço urbano nos nossos estudos é um
passo fundamental para a sua compreensão. É adotar a hipótese básica
de Henri Lefébvre sobre a natureza do espaço urbano.

Fragmentado, articulado, reflexo e condicionante social, o espaço


urbano é também o lugar onde os diferentes grupos sociais vivem e se
reproduzem. Isso envolve, de um lado, o cotidiano e o futuro. De outro,
envolve crenças, valores, mitos, utopias e conflitos criados no bojo da
sociedade de classes e, em parte projetados nas formas espaciais:
monumentos, lugares sagrados, uma rua especial, uma favela, lugares
de lazer, etc. Formas espaciais em relação às quais o homem
desenvolve sentimentos, cria laços de afeição ou delas desgota,
atribui-lhes a propriedade de proporcionar felicidade ou status, ou
associa-a fragmentação e a articulação do espaço urbano, seu caráter
de reflexo e condição social são vivenciados e valorados das mais
diferentes maneiras pelas pessoas. Mas o cotidiano e o futuro acham-se
enquadrados num contexto de fragmentação do espaço urbano.
Fragmentação na qual verificam-se sensíveis diferenças no que diz
respeito às condições de existência e reprodução do
social. Fortemente associada aos níveis de renda monetária, a
fragmentação do espaço urbano e sua consciência plena desembocam
em conflitos sociais como as greves operárias e particularmente os
denominados movimentos sociais urbanos. O espaço da cidade é
assim, e também, o cenário e o objeto das lutas sociais, pois estas
visam, afinal de contas, o direito à cidade, à cidadania plena e igual para
todos. O espaço urbano converte-se, assim, em campo de lutas. Este é
o sexto momento de sua apreensão.

Os movimentos sociais urbanos têm se constituído na via preferencial


de estudos sobre o espaço urbano enquanto campo de lutas.
Acreditamos, entretanto, que outras manifestações das lutas sociais
podem ser geograficamente estudadas, ampliando o temário dos
estudos sobre o espaço urbano visto como campo de lutas.

O espaço enquanto objetivação geográfica do estudo da cidade


apresenta várias facetas que permitem que seja estudado de modo
multivariado. Esta multivariabilidade constitui-se em uma riqueza que foi
gestada, de um lado, pela própria realidade e, de outro, pela prática dos
geógrafos.
OBSERVAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE CIDADE E URBANO

Gramaticalmente a palavra cidade é um substantivo, ou seja, uma


palavra que serve para nomear um objeto determinado e possui várias
acepções na lingua portuguesa. Pode significar "aglomeração humana
de certa importância, localizada numa área geográfica circunscrita e que
tem numerosas casas, próximas entre si, destinadas à moradia e/ou a
atividades culturais, mercantis, industriais, financeiras e a outras não
relacionadas com a exploração direta do solo"

Além desse sentido o dicionário Houaiss registra, também, derivações


por metonímia da palavra cidade, ou seja, decorrentes de outros.
sentidos que transcendem ao sentido semántico) normal da palavra
cidade. Vejamos alguns exemplos de metonimia. Na frase: A cidade
apresenta-se segregada, o sentido é de que a população da cidade se
encontra segregada. Já na frase: A cidade reformulou seu IPTU, a
palavra cidade assume o sentido de governo e de ente da administração
pública.

Quanto à palavra urbano, essa palavra é um adjetivo e serve, assim,


para caracterizar os seres ou os objetos nomeados pelo substantivo; ou
seja, serve para caracterizar o que foi nomeado. . Quando dissemos
transporte urbano e policiamento urbano, a palavra urbano qualifica o
tipo de transporte e o tipo de policiamento. Quando, porém, o adjetivo
que caracteriza o substantivo se torna o termo principal, ele deixa de ser
um adjetivo. passa a ser uma substantivação do adjetivo. É nessa
condição, de substantivação do adjetivo, que a palavra urbano será aqui
tratada.
Em relação à palavra cidade as metonimias não serão levadas em
conta, tanto quanto na palavra urbano a condição de adjetivo não foi
considerado. O que importa para a discussão do conceito de cidade e
urbano é o sentido semántico normal da palavra cidade e a condição de
substantivação do adjetivo na palavra urbano.

A discussão do conceito de cidade nos conduz a pensar na discussão


de um objeto que evoca várias idéias. Pensamos, por exemplo, na
cidade grega, na cidade comercial da Idade Média que fazia parte da
liga Hanseática, na cidade colonial brasileira e porque não, na São
Paulo de hoje. Já ao refletirmos sobre o conceito de urbano, esse é
visto mais como um fenômeno do que como objeto. Isso é comum aos
adjetivos que assumem o sentido gramatical de substantivos,
precedidos, em geral, de artigo, como é o caso de: o rural, o agrário, o
informal, o social, o espacial.

Tanto a cidade, como objeto, como o urbano, como fenómeno, se


situam no âmbito das reflexões sobre o espaço e a sociedade, pois são
produtos dessa relação; mais precisamente, são produzidos por
relações sociais determinadas historicamente.
A idéia de cidade é clara para todos, diferentemente da idéia de
urbano.
As angústias na discussão sobre o conceito de cidade diminuem
quando lembramos que embora o conceito seja um reflexo do real, ele é
infinitamente mais pobre que o real primeira observação e que não há
identidade entre o conceito e o real -quarta observação - Convém
recordar que o conceito deve refletir aquilo que é essencial, os aspectos
essenciais, as relações essenciais, enfim, a essência do objeto. Nesse
sentido, repetindo o que dissemos no inicio desse texto, a construção de
um conceito exige sempre um exercicio de captura do que é essencial
ao objeto que é motivo da reflexão.
O conteúdo do conceito de cidade já indica, portanto, dois termos para
sua definição: o de aglomeração e o de sedentarismo. Mas eles se
apresentam ainda insuficientes, pois um simples exemplo mostra a
necessidade de se buscar novos elementos para a apreensão da
essência do conteúdo do objeto a se conceituar, pois se assim não o
fosse estaríamos considerando muitas aldeias dos indios do Brasil como
cidades.

Na conceituação de cidade, excluindo se, portanto, a idéia que nega a


incorporação da população voltada às lides do campo, bem como a de
tamanho da população, mantém-se as idéias de aglomerado,
sedentarismo, mercado e administração pública, que parecem constituir
referências importantes na conceituação de cidade. A essas idéias é
fundamental recuperar a observação Pereira (2001) quando diz
claramente que muitas das dificuldades na compreensão do que vem. a
ser cidade decorre do fato dela ser enfocada de uma perspectiva
a-histórica. Menciona que a cidade depende de formas políticas e
sociais e que essas são produto de determinações sociais. São essas
forças que a caracterizam que lhe dão e individualidade. Esse autor
compara a palavra cidade com a palavra poço para ilustrar que
enquanto a cidade apresenta se agudamente variada, segundo lugares
e o momento histórico, o poço grande buraco, geralmente circular e
murado, cavado na terra a fim de atingir um lençol de água subterráneo
não se altera nem ao longo da história e nem segundo os lugares.

Podemos afirmar, seguramente, que muitos povoados no Brasil deram


origem às cidades. Mas cabe refletir um pouco sobre a questão da onde
surgiram os povoados? Muitos deles se originaram de locais fortificados
e postos militares, de aldeias e aldeamentos indígenas, de arraiais, de
corrutelas, de engenhos e usinas, de fazendas e bairros rurais, de
patrimônios e núcleos coloniais, de pousos de viajantes, de núcleos de
pescadores, de estabelecimentos industriais, de seringais, de vendas de
beira de estradas, de ancoradouros ás margens dos rios, de pontos de
passagens. em cursos d' água, de estações ferroviárias e de postos de
parada rodoviária, dentre tantas origens.
Ao falarmos em cidade no Brasil estamos nos referindo a um
aglomerado sedentário que se caracteriza pela presença de mercado
(troca) e que possui uma administração pública. Lembrando as sete
observações sobre os conceitos, vemos, claramente, que o conceito de
cidade no Brasil é posterior à própria constituição da cidade (primeira
observação), que esse conceito busca refletir o real (segunda
observação) sendo ao mesmo tempo objetivo e subjetivo; ou seja,
relativo a um conteúdo do real, mas também subjetivo, porque relaciona
ao pensamento sobre ele (terceira observação). Ainda, o conceito de
cidade é infinitamente mais pobre que o real ao qual ele se refere
(quarta observação) e existe em movimento (quinta observação), ou
seja, se altera segundo referências e segundo o tempo históricos
Referências

BELTRÃO SPOSITO, Maria Encarnação. Capitalismo e Urbanização. 10. ed. São Paulo:
Contexto, 2000.

CORRÊA , Roberto Lobato. Processos Espaciais e a Cidade. In: PROCESSOS


Espaciais e a Cidade. Rio de Janeiro: [s. n.], 2013. p. 100 - 110.

CORRÊA, Roberto Lobato. In: ESPAÇO URBANO: NOTAS


TEÓRICO-METODOLÓGICAS. Rio de Janeiro: [s. n.], 1993. p. 13 - 18.

LENCIONI, Sandra. Espaço e Tempo. OBSERVAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE


CIDADE E URBANO, São Paulo, p. 109 - 123, 2008.

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