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REVISTA DE DEBATES DA FUNDAÇÃO VERDE HERBERT DANIEL Nº 40 - Ano 11 - Jan/Fev/Mar - 2023

O PV e o exercício da democracia: a eterna evolução de um partido de vanguarda

Artigos: O futuro dos partidos políticos, como rejuvenescer Solo Fértil: Da cereja ao bolo,
o partido, atrair mais mulheres e diversidade e um jeito verde Fernando Gabeira
de fazer comunicação
Verdes em Ação: Reinventando
Entrevista: José Luiz Penna, presidente nacional do PV o PV e Agenda Legislativa (OPA)

Nesta edição: André Fraga, Bruna Caldas, Carla Piranda, Eduardo Brandão, Fabiano Carnevale, Fernando Gabeira, Ivanilson
Gomes, José Carlos Lima, José Luiz Penna, Jovino Cândido da Silva, Lohanna França, Luciano Frontelle, Marcelo Bluma,
Marco Antônio Mröz, Mariana Almada, Mariana Perin, Osvander Valadão, Priscila Manso, Rayssa Tomaz, Regina Gonçalves,
Vera Motta, Wal Lima

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2
editorial
É hora de renascer. Renascer o pensamento e a ideologia verde. De ampliar os horizon-
tes e abrir novas portas. E por quê? Porque o momento é outro, bem diferente daquele
de 37 anos atrás, quando o Partido Verde nasceu no Brasil. É hora de voar por outros
ares, com os pés no presente e atenção no futuro – futuro do Brasil, do povo brasileiro,
do planeta. E o que está aí incluído? A sobrevivência de cada um dos brasileiros e da
humanidade.

Por isso, esta edição da Pensar Verde é voltada para o necessário e difícil debate da
renovação do PV. Difícil porque são muitos os pensamentos, as ideias, os quereres –
que precisam ser unificados ou harmonizados, saindo do querer individual. Necessário
porque é assim que a sigla se apresenta: “PV, um partido necessário” – mas, para isso, é
preciso ser necessário de fato.

O importante é não fugir da discussão levantada por nossa matéria de capa, “O PV e o


exercício da democracia: a eterna evolução de um partido de vanguarda”. Nela, Ivanilson
Gomes (PV-BA), Carla Piranda (PV-RJ), Osvander Valadão (PV-MG), Vera Motta (PV-SP),
André Fraga (PV-BA), Eduardo Brandão (PV-DF), Fabiano Carnevale (PV-RJ), Jovino
Cândido da Silva (PV-SP), Bruna Caldas (PV-RJ), Regina Gonçalves (PV-SP) e Marco
Antônio Mröz (PV-SP) expõem as suas opiniões e falam sobre a proposta Reinventando
o Partido Verde, em andamento.

O tema da mudança prossegue nos três artigos. No primeiro deles, o diretor-executivo


da Fundação Verde Herbert Daniel, José Carlos Lima, e o presidente do PV-MS,
Marcelo Bluma, escrevem sobre “O futuro dos partidos políticos”. No segundo, “PV de
todas e de todos: como rejuvenescer o partido, atrair mais mulheres e diversidade?”,
Lohanna França, deputada estadual pelo PV-MG, Mariana Almada, que foi candidata a
deputada distrital em 2022 pelo PV-DF, e Luciano Frontelle, diretor executivo da Plant-
for-the-Planet Brasil, falam sobre o que é preciso para atrair mais jovens, mulheres e
diversidade para o PV.

Por fim, Mariana Perin, secretária Nacional de Comunicação do PV, Rayssa Tomaz, as-
sessora da Liderança do PV na Câmara dos Deputados, Priscila Manso, secretária de
Comunicação do PV em Vitória (ES), e a jornalista Wal Lima apresentam o artigo “Um
jeito verde de fazer comunicação”.

Na entrevista pingue-pongue, o presidente nacional do Partido Verde, José Luiz Penna,


fala sobre o momento do partido no Brasil, o que é preciso para que se desenvolva, quais
mudanças devem ocorrer, o que trava o crescimento e como ele vê a proposta Reinven-
tando o PV.

A proposta, aliás, pode ser conhecida na seção Verdes em Ação, onde também pode
ser encontrada a Agenda Legislativa Ambiental, do Observatório de Políticas Ambien-
tais (OPA). E “Da cereja ao bolo” é o texto de Fernando Gabeira na seção Solo Fértil.
Já a coluna Coleta Seletiva traz dicas de filmes e de livros sobre o tema política. Tudo
para ajudar a renovar os pensamentos, arejar as ideias e trazer propostas e soluções
para um futuro não apenas de sobrevivência do partido, mas também de crescimento
e ascensão.

Boa leitura!
Conselho Editorial

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Pensar Verde

vo c ê s ab i a?
A política verde surgiu na Tasmânia em 1972 com o estabelecimento do United Tasmania Group, o primeiro Partido Ver-
de do mundo, que evoluiu para se tornar os verdes da Tasmânia. Atualmente, existem mais de cem partidos verdes em
todo o planeta. São mais de dez idiomas diferentes e mais de 400 parlamentares verdes.

Fontes: greens.org.au/tas e globalgreens.org/

expediente
Fundação Verde Herbert Daniel

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Presidente Conselho Editorial
Ivanilson Gomes dos Santos Ivanilson Gomes dos Santos, José Luiz Penna,
José Carlos Lima da Costa
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Jovino Cândido da Silva
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Marco Antonio Mröz
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A FVHD foi criada em setembro de 2007 com o objetivo
Diretor-Executivo: José Carlos Lima da Costa de promover a doutrinação política do Partido Verde.
Diretor-Financeiro: Osvander Rodrigues Valadão

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Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

sumário
06
O PV e o exercício da democracia:
a eterna evolução de um partido
de vanguarda

14 Um pouco
da história do PV

18 Verdes pelo mundo

22 O futuro dos partidos políticos


José Carlos Lima e Marcelo de Moura Bluma

26 PV de todas e de todos: como rejuvenescer o parti-


do, atrair mais mulheres e diversidade?
Lohanna França, Mariana Almada e Luciano Frontelle

32 Um jeito verde de fazer comunicação


Mariana Perin, Rayssa Tomaz, Priscila Manso
e Wal Lima

36 entrevista
José Luiz Penna

40 verdes em ação
Conheça o projeto Reinventando
o Partido Verde

42 verdes em ação
Observatório de Políticas Ambientais
apresenta Agenda Legislativa Ambiental

46 solo fértil
Da cereja ao bolo

48 coleta seletiva
Aprender sobre política nunca é demais

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Pensar Verde

O PV e o
exercício da
democracia:
a eterna
evolução de
um partido
de vanguarda Por Caroline Cardoso

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Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

José Luiz Penna sário que seja atualizado para as questões planetárias
do momento, como as emergências climáticas.”

Em seu ponto de vista, também é importante esta-


belecer uma conexão internacional, uma discussão
com os partidos verdes não só da Europa mas tam-
bém do mundo todo. “Isso é necessário para que a
gente possa atrair para o partido pessoas que pen-
sam como a gente, que defendem as mesmas teses.”

Para Ivanilson, essas pessoas, infelizmente, “não se


sentem muito confortáveis” no PV. “Precisamos des-
Fotos: Pró Empresa cobrir qual é o motivo disso e só vamos descobrir se
nos sentarmos para debater de forma absolutamen-
te transparente, madura, propositiva.” Esse seria
o caminho para fazer com que “o PV volte a ser um
Um partido inovador em sua origem, ocorrida há 37
partido protagonista das suas ideias e bandeiras”.
anos, que traz em seu ideário pautas que foram consi-
deradas à frente do tempo e que hoje são fundamen-
Além de todos os entrevistados para esta matéria,
tais, o cerne dos debates não apenas no Brasil, mas
três artigos debatem essa necessária renovação do
também no mundo, não pode estagnar. Por isso, mais
partido. No primeiro deles, o diretor-executivo da
uma vez, imbuído do exercício da plena democracia,
Fundação Verde, José Carlos Lima, e o presidente
o Partido Verde decide debater mais que seu Estatuto
do PV-MS, Marcelo Bluma, escrevem sobre “O fu-
e Programa: decide repensar sua forma de ser e de es-
turo dos partidos políticos”. Para eles, “a sociedade
tar no cenário social e político-partidário brasileiro.
civil organizada em pautas, cansada de bater em
portas fechadas, perdeu o interesse de ser represen-
Há tempos se fala nessa necessária mudança e
tada pelos partidos políticos e passou a vê-los apenas
muitos são os que discutem o assunto. Por isso, a
como instrumentos eleitorais, porta de entrada para
Pensar Verde foi ouvir integrantes do partido.
cargos eletivos”.
Ivanilson Gomes (PV-BA), Carla Piranda (PV-RJ),
Osvander Valadão (PV-MG), Vera Motta (PV-SP),
Esse motivo eleva ainda mais a urgência por mudan-
André Fraga (PV-BA), Eduardo Brandão (PV-DF),
ças, por uma renovação partidária. Para completar,
Fabiano Carnevale (PV-RJ), Jovino Cândido da Silva
“mantida a legislação atual, a perspectiva para o sis-
(PV-SP), Bruna Caldas (PV-RJ), Regina Gonçalves
tema partidário brasileiro é de forte compactação,
(PV-SP) e Marco Antônio Mröz (PV-SP) conversaram
restando poucos partidos com representação no
conosco e expuseram seus pontos de vista sobre este
Congresso Nacional”.
momento por que passa a agremiação e, também,
sobre uma proposta atualmente em andamento: a
Ou seja, há muito a ser debatido, revisto. A seguir,
Reinventando o Partido Verde, um dos temas de
alimentamos ainda mais essa discussão e explica-
nossa seção Verdes em Ação.
mos como surgiu a Reinventando o Partido Verde:
O presidente nacional do PV, José Luiz Penna, nosso
entrevistado desta edição, apoia a proposta. “Claro Ivanilson Gomes
que apoio, porque se a gente não admitir uma eterna
evolução, se for para ficar repetindo, aí a inanição é
fatal. E acho que nós temos gana para repensar, reno-
var. A nossa distinção na política terá sempre que ser
o anticonservadorismo.”

Para o presidente do Conselho Curador da Fundação


Verde Herbert Daniel, Ivanilson Gomes, a proposta é
interessante. Para ele, é necessário criar comissões te-
máticas de discussão tanto do Estatuto quanto do Pro-
grama. “Embora o Programa seja vanguardista, é neces-
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Pensar Verde

por que o PV precisa se reinventar? Em que ele deve Regina Gonçalves


se reinventar? É esse mesmo o caminho ou o certo
seria renovar, repensar, aprimorar, evoluir, reor-
ganizar, rever, analisar, revisar, adequar? No final,
tudo leva à mudança.

Mudanças significativas
não são novidades para os
verdes no Brasil
A proposta consiste na elaboração de um novo Esta-
tuto com ampla participação dos filiados em todos os Primeiro, tentou-se uma série de pequenas altera-
níveis (municipal, estadual e nacional). A execução, ções estatutárias. A proposta de “uma eleição inter-
de acordo com Carla Piranda, presidente do PV-RJ na para que os filiados elegessem as executivas e ti-
e secretária Nacional de Organização, foi dividida vessem maior participação” foi colocada em votação.
em sete fases. Depois de aceita internamente, os se- Esse processo deu mais ou menos certo, pois alguns
cretários de Organização começaram a trabalhar. A estados fizeram e outros não.
aprovação do texto final está prevista para meados
de setembro, durante a Convenção Nacional do PV. É importante destacar que esta não é a primeira vez
que os verdes propõem uma alteração significativa
na organização do partido, que sempre busca ino-
“O PV é um instrumento da ecologia var. Regina Gonçalves conta que, em 1999, as verdes
política. Sua existência não é um fim em começaram a sentir necessidade de um espaço no
si mesmo e só faz sentido na medida em partido para tratar especificamente de pautas das
que sirva para fazer avançar suas ideias mulheres. E assim nasceu a ideia de uma Secretaria
e programa na sociedade, transformando Nacional da Mulher (PV Mulher), que incentivaria a
concretamente a realidade.” criação de e daria suporte a secretarias estaduais e
municipais.
Programa do Partido Verde,
1º § do 1º Princípio
“Mesmo com uma veia ambiental,
não discutíamos direitos básicos,
Inicialmente, a ideia da Reinventando o PV foi de- principalmente a participação feminina
batida com os secretários estaduais de Organização na política, em cargos eletivos ou mesmo
Regina Gonçalves (PV-SP) e André Fraga (PV-BA), que na instância partidária. Não foi fácil. Na
apoiaram a iniciativa. Em seguida, o grupo pensou época, algumas entendiam que essa era
como ela poderia ser executada. uma pauta distante do partido. Por não
sofrerem discriminação, não conseguiam
ter a percepção de que não fazemos
política para nós mesmas; a gente faz
política por uma grande maioria que
não tem acesso à informação, que não
tem acesso a serviços. Não tinham a
percepção da importância de trazer para
dentro do partido temas de proximidade
do cotidiano de brasileiras e brasileiros,
além, óbvio, da discussão transversal
do desenvolvimento sustentável e da
preservação ambiental.”

Carla Piranda Regina Gonçalves (PV-SP)

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Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

De acordo com Regina, a tarefa foi árdua. Realizaram Osvander Valadão


22 convenções para discutir e aprofundar o enten-
dimento da temática. Várias pessoas achavam des-
necessário esse espaço exclusivo das mulheres: “No
entanto, conseguimos montar e criar esse espaço na-
cional. Chegando, posteriormente, aos estados e aos
municípios”. O resultado? A Secretaria Nacional do
PV Mulher foi criada em outubro de 2005.

Certamente, pontua Regina, as mulheres do PV não te-


riam logrado êxito com o deferimento do projeto pela
Direção Nacional do PV se não tivessem recebido apoio
de algumas e alguns dirigentes da época: Lurdinha (PV-
-SP), Dalva Lazaroni (PV-RJ), Daniela Carvalhais (PV-
-MG), Carla Piranda (PV-RJ), Ana Motta (PV-SP), Vera avançada, que esteja em sintonia com o tempo atual.
Motta (PV-SP), Maristela (PV-PB), Laura Beleza (PV- “A proposta do Reinventando o Partido Verde me
-MG), Alfredo Sirkis (PV-RJ), José Luiz Penna (PV), Ro- agrada em razão da necessidade de atualização da
berto Rocco (PV-RJ), Fernando Gabeira (PV-RJ), Marco nossa carta magna – Estatuto, Programa, Manifesto.
Antônio Mröz (PV-SP), Denis (PV-PB). Na verdade, temos um Programa muito bom, mas
que pede atualizações programáticas. Sendo, assim,
Esses são apenas dois exemplos de movimentos que um grande instrumento orientador para nossas
buscam pensar, discutir e implementar o aprimora- ações políticas.”
mento interno do PV. Não desistiram no passado e
conseguiram. Agora, não será diferente. O objetivo Regina Gonçalves também está entre os que reco-
de resgatar o vigor do partido é mais forte. nhecem a necessidade de “o PV se reinventar e se re-
conectar com a sociedade brasileira”, principalmen-
te em um momento de grave ameaça à democracia e
de cenário político em que as principais bandeiras
Reinventar o PV. Por que do Partido Verde foram diretamente afetadas pela
sim? Por que não? política devastadora do governo de Jair Bolsonaro.

Existem várias motivações para repensar o PV. Há a Para o vereador e secretário de Organização André
visão, para muitos, de que o partido tem ficado mal Fraga (PV-BA), talvez essa seja uma última esperan-
nos cenários políticos, pois, de alguma forma, tem ça de que o PV se reinvente a partir da compreensão
sido mal representado. Além disso, há partidos mais do atual contexto político e das transformações so-
ousados, como o PSol, o Rede e o PT, trabalhando ati- ciais nos níveis global, regional e local. “O PV se co-
vamente no âmbito das principais bandeiras do PV. loca como um partido necessário e diferente, mas,
na prática, nos últimos anos, essa não é a realidade.
O partido envelheceu e, com ele, algumas de nossas
“O PV precisa se reinventar na capacidade ideias e práticas.”
de se conectar com a sociedade e voltar
a protagonizar debates temáticos e
programáticos dentro das agendas André Fraga
principais do partido, voltando a ser Por Marcelo
Gandra
um partido político que conversa com a
população e seus setores de forma ampla
e abrangente.”

Osvander Valadão

Para o diretor-financeiro da Fundação Verde e pre-


sidente do PV-MG, Osvander Valadão, é preciso
garantir uma forma de fazer política moderna e
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Pensar Verde

André também reivindica a criação de um calendário essa relação com os estados”, ressalta o presidente
fixo de encontros e congressos, estruturado e organi- do Conselho Curador da Fundação Verde.
zado de modo a promover a troca de ideias e a conexão
com a sociedade. E espera que haja mais transparência Para Ivanilson, dessa forma, não se consegue ajudar
das ações e do uso dos recursos de que o PV dispõe. na organização do partido nos estados. “Ficamos pa-
recendo um partido com ilhas isoladas, soltas, onde
A cossecretária estadual da Juventude Bruna Caldas a comunicação é feita apenas nas redes sociais. E
(PV-RJ) declara que todos os dias nos reinventamos isso é muito pouco para um partido que se propõe
e com a política não é diferente. Ela enfatiza o papel ser um partido pelo menos médio.”
crucial que o PV tem como precursor da política am-
biental no Brasil e no mundo, mas lembra que “agora
os tempos são outros e o PV continua precisando se Marco Antônico Mröz

reinventar”.

Bruna acredita que chegou o momento tão esperado


por ambientalistas e fundadores do partido, pois “o
mundo inteiro finalmente entende que existe uma
emergência climática e esse diálogo passa a ser de
interesse global”. Ivanilson Gomes entende que se
reinventar é exatamente o partido compreender esse
novo momento político.

Bruna Caldas
Acervo PV
Marco Antônio Mröz (PV-SP) afirma que até já per-
deu as contas de há quanto tempo está no partido,
mas entrou bem no começo. Ele avalia que o PV da-
quela época era mais “puro sangue, muito mais pro-
gramático” e se fez “à base de conceitos modernos e
muito diferenciados”.

Marco Antônio, que já foi vereador pelo PV em Ilha


Bela, São Paulo, destaca dois grandes motivos para o
partido se reinventar. Um deles é que o partido não
está chegando na ponta. “E o que é a ponta? São os
nossos legisladores. As coisas deveriam ser muda-
das através de lei.” A outra é que estar no PV “virou
“A gente precisa estabelecer internamente emprego para algumas pessoas e isso é muito ruim,
o ambiente de debates, de democracia é horrível, a pior coisa que podia acontecer”.
interna, de oportunidades para novos
dirigentes. A gente buscar internamente O ex-deputado federal Jovino Cândido da
entender qual o papel de cada dirigente, Silva (PV-SP) faz coro à necessidade de reinvenção
qual a sua função interna no partido do PV e avalia que o PV “está sem rumo faz muito
e de que forma esse resultado está tempo”, por isso se tornou “um partido desneces-
aparecendo.” sário”. Ele lamenta e se diz “muito decepcionado
com tudo”.
Ivanilson Gomes
Para ele, a ausência do PV no alto escalão do governo
Por outro lado, o partido também precisa ser prepa- que ajudou a eleger em 2022 foi “uma resposta durís-
rado para os processos eleitorais. “Infelizmente, o sima do PT” à “falta de visão e de responsabilidade do
partido não consegue fazer desse debate algo perma- partido” para, por exemplo, assumir o protagonismo
nente, só faz esse debate em período eleitoral, o que é da questão ambiental nos anos do governo Bolsona-
muito ruim, porque a gente não consegue estabelecer ro, praticamente “um grande cabo eleitoral do PV”.

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Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Jovino Cândido da Silva “Você pode ter vários nomes, mas você
não reinventa... Você vai reinventar a luz?
Você pode reinventar várias formas de
iluminação (LED, solar), mas você não vai
reinventar a luz. [...] O que que o Alfredo
Sirkis entenderia disso? Ele chamaria de
reinvenção? Acho que não.”

Vera Motta (PV-SP)

Mais ou menos na linha do que pensa Vera, o vice-


-presidente do PV, Eduardo Brandão (PV-DF), afir-
ma que “não queria uma reinvenção”. Para ele, exis-
“Depois de 37 anos, ajudamos a eleger um presi-
te a necessidade de adequações. Talvez atualizar o
dente do Brasil e ficamos de fora da vitrine. Não
Programa em alguns pontos. Ainda assim, ele aponta
participamos da festa. Isso tem um gosto amargo
as mesmas questões críticas elencadas por quem é
e eu espero que os encantados do PV entendam
favorável à proposta. “As questões de organização e
que é preciso trabalhar muito para termos um par-
planejamento, a própria gestão administrativa, eco-
tido necessário no Brasil.” E, depois de tudo isso,
nômica e partidária.”
a resposta do PV à ausência no primeiro escalão
do governo foi “bastante deplorável”, nas palavras
O fato é que, concordando ou não com a proposta
de Jovino.
Reinventando o PV, praticamente todos os mem-
bros do partido entrevistados para esta matéria ci-
taram a necessidade do exercício interno da demo-
Reinventar ou atualizar? cracia.

O que vale mesmo é a


Eduardo Brandão
democracia
Já para a secretária de Assuntos Jurídicos do PV,
Vera Motta (PV-SP), a escolha da palavra reinven-
tando foi infeliz, em especial por não ter passado por
uma “análise profunda” de todos no partido. Para
Vera, o PV não será reinventado, mas atualizado. E
isso, aponta ela, “já vem acontecendo”, pois “a políti-
ca é muito dinâmica, tudo muda a todo momento e
os partidos precisam se atualizar também”, porém
sempre levando em consideração que algumas ideias
são perenes.
Em 2018, em um evento do TSE, a advogada Ezikelly
Vera Motta
Barros afirmou que “a autonomia partidária não é
absoluta”, mesmo com as tentativas da Constitui-
ção Federal de 1988 e da Lei nº 9.096/1995 (Lei dos
Partidos Políticos) de barrar a interferência do Esta-
do, principalmente ideológica, na democracia inter-
na das agremiações.

Ezikelly enfatiza a necessidade de essa autonomia


(ideológica, eleitoral, administrativa e financeira)
ser discutida entre os membros dos partidos para
que todos cumpram a lei. “Autonomia não significa
soberania.”
11
Pensar Verde

Assim, para que um partido estabeleça um programa


e promova eleição para escolher seus dirigentes, é
imprescindível que haja democracia. Para que a oli-
garquização partidária e a falta de representativida-
de deixem de existir, é preciso que haja democracia.
Para que as convenções partidárias não sejam meras
reuniões com interesses predeterminados, é impres-
cindível que haja democracia.

Outro ponto importante a ser destacado é que pra-


ticamente todos os entrevistados para esta matéria
avaliaram os resultados indesejados para o PV nos
últimos pleitos como um reflexo do distanciamento
entre o partido e as bases. E esse é um ponto crucial
para o novo Estatuto.

Segundo o ministro do TSE Admar Gonzaga, “as


agremiações partidárias são pessoas jurídicas de di-
reito privado, mas com funções públicas”. Portanto,
em um partido, deve-se exercer a democracia inter-
namente por meio da igualdade de oportunidades.

Mais formação, diversidade,


protagonismo, descentrali-
zação...
Escrito em 1986, o Programa do PV é considerado
bastante inovador para a época. Mas é pensamento
de muitos integrantes do partido que o documento
precisa ser atualizado. Para isso, a Secretaria Nacio- Filiado há 20 anos, André Fraga critica o “modelo
nal de Organização vai trabalhar em conjunto com a extremamente centralizado, centralizador” adotado
Fundação Verde Herbert Daniel. pelo PV em suas ações. Segundo ele, embora um dos
pilares do partido seja o municipalismo, “essa nunca
Carla Piranda defende que o PV precisa urgentemen- foi uma prática” na agremiação. Ao contrário, con-
te começar a propor saídas para a injustiça climática, clui ele, pois não há diálogo com os municípios, com
principalmente em relação às mulheres, as primei- os poderes locais. “Na prática, não há um processo
ras a serem afetadas pela crise do clima. Para ela, o de escuta, de incentivo à participação dos diretórios
Partido Verde brasileiro tem todos os requisitos para municipais.”
ser exemplo para outros partidos verdes espalhados
pelo mundo. Ele poderia estar protagonizando lutas Bruna Caldas, filiada há oito anos e à frente da Se-
contra a destruição de povos indígenas e de seus ter- cretaria da Juventude do PV no Rio de Janeiro, con-
ritórios na Amazônia, por exemplo. sidera fundamental o partido abrir “mais espaço e
representatividade para mulheres, jovens, negros,
Também devia estar fortemente envolvido na cam- indígenas, LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência
panha da emergência climática, na implementação nas tomadas de decisão”. Dessa forma, o PV vai “sair
da economia criativa e do desenvolvimento susten- do campo das ideias e criar, de fato, políticas públi-
tável, na adoção da agenda ESG (Environmental, cas que beneficiem a população como um todo”.
Social and Corporate Governance – em português,
Ambiental, Social e Governança) em empresas bra- Bruna também enfatiza a importância de maior
sileiras. investimento em formação. Ela acredita que essa é

12
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

uma maneira de “criar uma geração de políticos com- “O partido precisa mudar a direção.
prometidos em exercer seus papeis da melhor forma Esse é um ponto fundamental. Nós
possível”. envelhecemos. Uma pessoa não pode
ocupar, por anos a fio, os mesmos cargos
Em todo esse processo, explica André, é muito im- diretivos de um partido. Não é algo
portante “ouvir a base, ouvir a sociedade e, claro, con- desejável e uma prática que não pode
vidar pessoas que não necessariamente são filiadas ser naturalizada. O partido precisa de
ao PV”, mas que, de alguma maneira, podem ajudar “o alternância.”
partido a fazer uma leitura do contexto” e “colaborar
com o desenho das estratégias” de atuação. Jovino Cândido da Silva (PV-SP)

Em relação ao Estatuto, a reeleição dentro do parti-


do é tida como um dos pontos mais críticos do atual Dessa maneira, além de os antigos filiados não serem
funcionamento. Em tese, pelo que está previsto no impelidos a concorrer e a votar para novos ocupan-
documento, o partido deveria estar fazendo reuniões tes, não chegam novos filiados para enriquecer e tra-
periódicas com os filiados em todos os níveis para in- zer frescor ao PV com outras experiências e ideias.
centivá-los a participar diretamente, pelo voto e pela
candidatura inclusive, nos assuntos do PV. Por todas essas razões, acredita-se que ficar fazen-
do emendas ao Estatuto seria contraproducente. O
André concorda. Aliás, para ele, é fundamental aca- ideal seria identificar e tratar as causas. Em termos
bar com a possibilidade de reeleição para cargos dire- legais, o Estatuto e o Programa não estão diretamen-
tivos do partido. Jovino Cândido da Silva, que atual- te conectados, mas uma das sugestões é que o Estatu-
mente é conselheiro da Fundação Verde Herbert to pudesse conter mecanismos que possibilitassem
Daniel, engrossa o coro. materializar as ideias do Programa.

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Pensar Verde

Um pouco
da história
do PV
Mesa de apresentação das ideias vanguardistas da nova agre-
miação, em 1986, no Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro

14
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

No Brasil, a primeira vez que usaram o nome Parti-


do Verde, inclusive com uma baleia como símbolo,
foi em 1982 na propaganda eleitoral do candidato
a deputado federal Hamilton Vilela de Magalhães
(PTB-PR).
O nome reapareceu somente em 1986, no início da
redemocratização, quando um grupo de jovens revo-
lucionários exilados na Europa nos anos 1970 e 1980,
durante da ditadura militar, e recém-anistiados co-
meçaram a retornar ao país.
Alguns desses brasileiros, influenciados pelo enga-
jamento na luta pelo meio ambiente, pelos direitos
humanos, pela justiça social, pela vida, traziam o ati-
vismo verde como bagagem. E, no primeiro mês de
1986, no Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro, reu-
niram-se para criar o Partido Verde.
Compunham a mesa de apresentação das ideias
vanguardistas da nova agremiação a atriz Lucélia
Santos, o jornalista Fernando Gabeira, o maestro
John Neschling, os escritores Alfredo Sirkis e Herbert
Daniel, o psicanalista Luiz Alberto Py, o professor
Carlos Minc e o engenheiro Guido Gelli. Assim foi
fundado, há 37 anos, o Partido Verde brasileiro.
Ainda em 1986, Fernando Gabeira, à época no PT,

“Já estamos por aqui pra acabar com a


disputou o governo do Estado do Rio de Janeiro em
uma campanha revolucionária em vários sentidos.

poluição nas praias!


Principalmente, porque o país tinha acabado de sair
de uma ditadura. Portanto, as pessoas estavam come-
morando a volta da democracia.
Essa campanha de Gabeira contou com grande par-
ticipação e mobilização popular e fez renascer a mi-

Chega
litância política. Dois momentos de destaque nesse
processo foram a passeata Fala, Mulher, na avenida

de jogar
Rio Branco, e o Abraço à Lagoa, em que milhares de
pessoas deram as mãos em torno da Lagoa Rodrigo
de Freitas.
Mesmo que o número de filiados não estivesse cres-
cendo, as ideias do PV continuavam atraindo as pes- seu voto
no lixo!
soas. O ideário ecológico de defesa da vida em todas
as suas manifestações, bastante inovador e arrojado,
ainda mais em um Brasil pós-ditadura, ganhou visi-
verde!
bilidade na mídia, nas universidades e escolas, nas Vota no
empresas e até em outros partidos políticos.
No final de 1988, até o líder seringueiro Chico
Mendes se juntou a milhares de manifestantes em
prol da Amazônia nas ruas do Rio de Janeiro. Infeliz-
Alfredo Sirkis em 1988, na campanha para a Alerj
mente, um mês depois, ele foi assassinado no Acre,
gerando uma onda de protestos internacionais. Fonte: PV.

15
Pensar Verde

O PV e a difusão da ecologia mas também com importante protagonismo polí-


tico local.
política no Brasil Os 12 valores do PV – ecologia, cidadania, democra-
cia, justiça social, liberdade, municipalismo, espiri-
Resguardar a vida dos biomas, das pessoas, dos tualidade, pacifismo, diversidade, internacionalismo,
animais, do planeta estava repercutindo não só in- cidadania feminina e saber –, os mesmos concebidos
ternacionalmente, mas também em território na- em 1986, são considerados avançados e atuais até hoje.
cional. Com isso, as preocupações ecológicas atin-
É que eles englobam as principais pautas em que o
giram mais pessoas e deixaram de ser bandeira de
partido vem atuando desde que foi fundado: desen-
uma minoria.
volvimento sustentável; defesa da democracia, dos
O PV foi ocupando outros espaços na política muni- direitos humanos, da diversidade, da liberdade, da
cipal e estadual, não só como um partido de mobili- justiça social, da economia verde e da Amazônia; pro-
zação e protesto ou de difusão da ecologia política, teção, valorização e preservação da vida.

Os 12 valores do Partido Verde


A ecologia A cidadania A democracia A justiça social

A liberdade O municipalismo A espiritualidade O pacifismo

A diversidade O internacionalismo A cidadania feminina O saber

16
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Em todo o planeta, os verdes têm se mobilizado Duas questões recentes e seriíssimas protagoni-
fortemente contra a crise climática, lutando para zadas pelo PV estimularam a base. De acordo com
que seus países mantenham e cumpram compro- André Fraga, o partido se articulou nacionalmente
missos ambientais firmados. Além disso, os verdes em 2012 para a campanha Veta, Dilma, lançada no
buscam mecanismos inovadores para mobilizar plenário da Câmara Federal pelo então líder do PV
pessoas, empresas e governos em prol do meio am- e presidente da Frente Parlamentar Ambientalista,
biente, da vida. deputado Sarney Filho (MA). O objetivo era pressio-
nar a presidenta a vetar o novo Código Florestal.
Aqui no Brasil, desde a década de 1990, o PV tem
desempenhado esse importante papel na luta para O PV também se articulou nacionalmente em 2019
que o país cumpra os acordos internacionais de re- contra a liberação de agrotóxicos pelo governo
dução das emissões de gases de efeito estufa, pro- Bolsonaro. O partido entrou com uma ação no
venientes sobretudo das queimadas na Amazônia e Supremo Tribunal Federal para questionar a
no Cerrado. Até o golpe de 2016 contra a presiden- liberação, na época, de mais de 200 agrotóxicos pelo
ta Dilma Rousseff (PT), vinha acumulando algumas Ministério da Agricultura. Mais uma vez, essa
conquistas. articulação movimentou a base.

Um rápido raio-x

O PV é considerado um partido médio – tem 356.189 filiados, de acordo com


dados de janeiro de 2023 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Como outros
partidos, o PV cresce nos anos de eleições municipais. Entretanto, ele tem
uma presença relativamente uniforme em todo o território nacional. Dados
do TSE apontam Tocantins como o estado de maior atuação do partido, com
699 filiados a cada cem mil eleitores.
Nacionalmente, desde 2014, entretanto, o partido não teve nenhum sena-
dor e nenhum governador eleito. Em 2018, 15 estados elegeram deputados
verdes, contudo não foi formada uma bancada expressiva; com exceção do
Amazonas, em que três dos 24 deputados estaduais eram do PV. Apenas
quatro deputados federais foram eleitos pelo partido: Célio Studart (PV-CE),
professor Israel (PV-DF), Leandre dal Ponce (PV-PR) e Enrico Misasi (PV-SP).
Segundo o TSE, nas Eleições 2020, o PV teve candidaturas em todos os esta-
dos, porém teve mais sucessos eleitorais em Minas Gerais e São Paulo. Nas
municipais, o partido concentrou tanto candidatos quanto eleitos no Paraná
e na Região Sudeste. No entanto, ainda que diminuta, marcou presença em
todas as outras unidades da federação. 
Os dados do TSE mostram que, nas eleições de 2022 para governador, o PV
obteve 702.948 (0,65%) votos. Para o Senado, o partido alcançou 475.597
(0,48%) votos válidos. Para a Câmara Federal, 902.212 (0,87%) votos válidos.
E a maior expressividade foi na disputa de vagas para as assembleias legisla-
tivas – 1.460.752 votos válidos ou 1,43% do total de votos válidos.

17
Pensar Verde

Verdes
pelo
mundo
Global Young Greens durante a COP 26
Fonte: globalyounggreens.org/

18
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

O primeiro partido com ideário verde de que se tem “Nem todos os partidos verdes brigam
registro é o australiano United Tasmanian Group pela saúde da mulher e pelo direito de a
(UTG), ligado ao movimento ambiental que emergia mulher dispor sobre o próprio corpo, ou
no início dos anos 1970. Em 1972, o UTG se reuniu pela legalização das drogas, porque têm
pela primeira vez para contestar uma eleição na As- medo de perder voto.”
sembleia da Tasmânia.
Carla Piranda (PV-RJ)
Inicialmente, o UTG era considerado um movimen-
to social devido à motivação ambiental e ao rápido
crescimento. Entre outras coisas, o grupo protestava Outra diferença entre o PV brasileiro e outros PVs
contra as formas de produção e de consumo da socie- é a capacidade de se unir ao menor sinal de ameaça
dade da época, que estavam pondo o meio ambiente externa, ainda que internamente esteja complicado.
em sério risco.  Carla Piranda, que coordena a Rede de Mulheres da
Global Greens, reconhece que, nesses momentos,
Isso o levou a ser considerado um dos movimentos “todo mundo bota suas vaidades e seus problemas
ambientais mais qualificados e avançados mundial- de lado, se junta e consegue combater juntos”.
mente. Mais tarde, o grupo se autodenominou Green
Party (Partido Verde) e foi o primeiro partido político O fato é que, para Marco Antônio, montar um parti-
no mundo a disputar eleições com uma plataforma do verde em qualquer sociedade é muito difícil, por-
ambiental. que o movimento verde é uma corrente diferenciada
de pensamento e, embora hoje esteja um pouco di-
Ao longo dos anos, o Green Party australiano inspi- ferente, as pessoas ainda têm dificuldade de enten-
rou muitas pessoas em várias partes do planeta, cul- der as questões da sustentabilidade. “A gente sofreu
minando na criação de outros partidos verdes pelo muito para chegar aonde a gente chegou.”
mundo. Atualmente, existem partidos verdes em
mais de 120 países, além de constituírem uma das
maiores bancadas no Parlamento europeu.
Inspirações do Brasil para
De acordo com o secretário de Assuntos Internacio-
nais da Fundação Verde, Marco Antônio Mröz (PV- o mundo e do mundo para o
-SP), existem muitos partidos verdes programatica-
mente bons. Cada um em um estágio de assimilação
Brasil
diferente. “Os partidos verdes da Europa são os mais
Para o secretário de Relações Internacionais Ad-
ideológicos, os mais organizados e os mais programá-
junto, Fabiano Carnevale, os verdes têm a grande
ticos, mas não necessariamente os melhores.”
virtude de antecipar as crises, fazendo o que ele
Ele explica que os partidos verdes também estão chama de “diálogos com os fins do mundo”. Assim,
agrupados globalmente em federações, de acordo sempre anteciparam debates que colocaram – e co-
com os continentes. O PV do Brasil e mais dez parti- locam – a Humanidade em perigo. “Foi assim com
dos verdes do continente americano compõem a Fe- a guerra fria e com a energia nuclear, agora é com
deração dos Partidos Verdes das Américas, fundada a crise climática. O diálogo da Humanidade com
em dezembro de 1997. A Federação de Partidos Ver- o ‘fim do mundo’ é permanente e os verdes sem-
des da África tem 19 partidos; a de Ásia e Pacífico tem pre conseguiram trazer esse debate para o espaço
14 e a dos verdes da Europa, 36. político.”
“Na América do Sul, somos os mais organizados, que Mas há críticas a uma postura atual dos verdes eu-
elegeram mais deputados, que têm mais trabalho ropeus que, de acordo com ele, hoje falam muito
acumulado. Existem muitos partidos grandes que do “Green New Deal”, que é um robusto plano para
não fizeram absolutamente nada nem tiveram suces- descarbonizar a economia. “Apesar de ser um esfor-
so eleitoral”, analisa Mröz. ço importantíssimo a curto e médio prazo, eu vejo o
plano como mais uma tentativa dos países ricos de
Uma diferença importante entre o PV daqui e os eu-
impor uma agenda ao resto do mundo, sem sequer
ropeus, por exemplo, é que o PV brasileiro não se ar-
nos escutar.”
ticula nacionalmente em defesa de pautas considera-
das tabu como a legalização da maconha e do aborto, Fabiano acredita não haver como um plano dura-
enquanto os europeus falam abertamente desses te- douro ser bem-sucedido sem encontrar formas
mas em suas campanhas eleitorais. de incorporar outras visões de mundo. “É preciso,

19
Pensar Verde

Fabiano Carnevale

por exemplo, escutar o que os povos indígenas


têm a dizer. O que os amplos movimentos de
agroecologia, de lutas pela terra e moradias
têm a dizer. Se a crise climática afeta princi-
palmente os mais vulneráveis, é preciso dar
voz a eles.” Por esse motivo, considera que
essa é uma tarefa à qual o PV brasileiro preci-
sa se dedicar e falar nos espaços verdes inter-
nacionais.

“Em que os PVs de outros países


podem nos inspirar é simples: na
construção de um plano de metas,
de um programa político unificado
e no fim da falsa dicotomia entre
dirigentes e parlamentares. Essas
são questões que os verdes
europeus já superaram e realizaram
há anos.”

Fabiano Carnevale

Mas Fabiano ressalta que a inspiração também


tem que ser sobre o que não copiar: “O debate iden-
titário importado sem critério dos EUA/Europa, o
ambientalismo elitista que responsabiliza mais as
pessoas do que as corporações pela crise climáti-
ca e as soluções simplistas que não confrontam os
meios de produção e consumo atuais”.
Global Greens: congresso em Dakar, em 2012
Fonte: globalgreens.org/

20
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Os verdes globais “Promover um conceito geral de


sustentabilidade, o qual protege e
restaura a integridade dos ecossistemas
Paralelamente à Conferência Rio 92, aconteceu uma
da Terra, com interesse especial para a
reunião entre membros de partidos verdes de todo o
biodiversidade e os processos naturais
mundo que deu origem, quase dez anos depois, em
que sustentam a vida; reconhece a
Camberra, na Austrália, à Global Greens, uma rede
inter-relação de todos os processos
internacional de partidos e movimentos políticos
ecológicos, sociais e econômicos;
verdes. Com sede em Bruxelas, na Bélgica, atualmen-
equilibra interesses individuais com
te a Global Greens é constituída pelas federações.
os interesses públicos; harmoniza
Os princípios dessa organização estão definidos na liberdade com responsabilidade; integra
Global Greens Charter (Carta dos Verdes Globais) diversidade com unidade; reconcilia
de 2001, atualizada no encontro de 2012 em Dakar, objetivos de curto com os de longo
no Senegal. Segundo a Global Greens, o documen- prazo.”
to estabelece os valores fundamentais de sabedoria
ecológica, justiça social, igualdade, liberdade, demo- Carta dos Verdes Globais
cracia participativa, não violência, sustentabilidade e (Dakar, 2012)
respeito pela diversidade.

Fontes:

Agência Câmara de Notícias

Carta Capital. Onde está o Partido Verde


no Brasil? 30 maio 2019.

CRUZ, Facundo. Radiografía de los par-


tidos y movimientos verdes. 11 ago. 2022.

Estatísticas das Eleições 2022 do Tribunal


Superior Eleitoral

European Greens

Evolução histórica dos partidos políticos

Fundação Verde Herbert Daniel

Global Greens

Partido Verde

PV Mulher

SILVA, Marcio Luiz. Atualidade do con-


ceito de democracia partidária. Brasília:
Unale, s/d.

URQUIETA, Luis. El avance de los Parti-


dos Verdes en América Latina. 3 out. 2010.

WALKER, P.F. The United Tasmania


Group. Honoris thesis. University of Tas-
mania, Austrália, 1987.

21
artigo
Pensar Verde

O futuro
dos partidos
políticos
Foto: Pró Empresa

José Carlos Marcelo


Lima de Moura Bluma
é diretor-executivo da Fundação Verde Her- é presidente do PV-MS, secretário de Admi-
bert Daniel, assessor da Presidência para nistração do PV e conselheiro da Fundação
Meio Ambiente e Clima no BNDES e presiden- Verde Herbert Daniel.
te do PV-PA.

Em novembro de 1965, o regime militar editou o Ato O bipartidarismo permaneceu no Brasil até 1979,
Institucional nº 2, que dissolveu os partidos políti- quando o Congresso Nacional aprovou a Lei Orgâ-
cos brasileiros e criou, artificialmente, o bipartida- nica dos Partidos Políticos, incluindo o substitutivo
rismo no país. que extinguiu a Arena e o MDB e permitiu o retorno
da liberdade partidária.
Foi criada a figura da organização que, para existir, ne-
cessitava ter 120 deputados federais e 20 senadores em De lá para cá, o universo dos partidos políticos brasi-
uma Câmara Federal composta por 350 deputados. leiros se alterou significativamente, uma vez que so-
freu um processo de intensa fragmentação, passando,
Assim, por força da regra, matematicamente era pos- atualmente, por um processo de forte compactação.
sível a existência de apenas duas organizações, sendo
elas a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movi- Nas eleições de 1982, primeira eleição após o seu re-
mento Democrático Brasileiro (MDB). torno, somente cinco partidos políticos possuíam
representantes na Câmara dos Deputados: o PDS
Na Arena, ficaram as lideranças da direita, conser- com 235 deputados; o PMDB com 200; o PDT com 23;
vadores e ex-udenistas, enquanto no MDB se ins- o PTB com 13 e o PT com oito.
creveram aqueles que não foram convidados para
participar da organização governista, bem como co- Oito anos mais tarde, nas eleições de 1990, 19 par-
munistas e trabalhadores. tidos elegeram representantes para a Câmara Fe-

22
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

deral, chegando ao máximo de fragmentação em Assim, a redução do número de partidos no país está
2018, quando 29 partidos elegeram deputados fe- sendo uma imposição da legislação eleitoral brasi-
derais para a Câmara. leira, que, eleição a eleição, força a diminuição das
agremiações partidárias, sendo a redução quantita-
Apesar da fragmentação atingir o seu mais alto pa- tiva operada por mecanismos legais, acompanhada
tamar, nesse ano entraram em vigência as deno- por uma ressignificação qualitativa operada pela so-
minadas cláusulas de desempenho, aprovadas por ciedade brasileira.
meio de uma Proposta de Emenda Constitucional
(PEC) em 2016, que passaram a operar para dimi- É incontroverso que esse processo de enxugamento
nuir a quantidade de partidos políticos representa- do quadro partidário iniciou-se como um antídoto
dos no Parlamento. à proliferação de legendas e com a judicialização da
política, sendo o fundamento do discurso evitar as
Juntou-se a essa inovação o fim das coligações pro- legendas de aluguel e aumentar a legitimidade, to-
porcionais, a partir das eleições municipais de 2020. mando por base dois parâmetros: o número percen-
tual de votos e as cadeiras conquistadas para o cargo
Os efeitos dessas inovações foram sentidos na última de deputado federal.
eleição, quando apenas 18 agremiações (federações e
partidos) conseguiram eleger representantes para a Sem recursos, tempo de rádio e televisão e sem po-
Câmara Federal, e somente 12 continuarão a mantê- der se coligar, o partido termina sem votos e sem
-los no Parlamento. eleitos, deixando de ter importância política, o que
lhe dificulta o crescimento e, por fim, a própria exis-
Considerando o aumento no patamar de votação tência, pois não atrai candidatos com chances e nem
exigido para as eleições federais de 2026, projeta- suporta os custos da sua própria manutenção – como
o pagamento de advogado, contador, publicitário,
-se que restará no Congresso Nacional em torno de
funcionário, espaço físico, presença nas redes so-
oito agremiações, entre federações partidárias e
ciais, atividades junto aos seus representados etc.
partidos políticos.

Manifestação do MDB contra a reforma partidária, no centro do Rio de Janeiro


Fonte: Memorial da Democracia/Rogério Reis - CPDoc JB

23
Pensar Verde

Legendas de aluguel
vão desaparecer
Para existir, sem esses mecanismos oficiais, o partido
precisaria ser sustentado por um forte movimento e
desejo de parte da sociedade para que representasse
suas causas, mas é notório no Brasil que os partidos
que se propõem a abraçar os anseios populares en-
contram outras barreiras a serem transpostas.

Isso porque a sociedade civil organizada em pautas,


cansada de bater em portas fechadas, perdeu o inte-
resse de ser representada pelos partidos políticos e
passou a vê-los apenas como instrumentos eleitorais,
porta de entrada para cargos eletivos.

As redes de organizações livres, democráticas e le-


gítimas da sociedade são porta-vozes de suas causas
e pelas quais interagem com o público e defendem
suas bandeiras.

Movimento negro, de mulheres, de causas ambien-


tais, de causas animais, de cultura alternativa, de in-
dígenas se relacionam com as instituições e cobram
dos eleitos diretamente, sem a intermediação das di-
reções partidárias.

Sem dúvida, as legendas de aluguel vão desaparecer,


alcançadas pelas imposições do sistema eleitoral
atual, mas é preocupante o desaparecimento de vá-
rias agremiações partidárias de vanguarda que são
porta-vozes de causas legítimas da sociedade, mas
que ainda não conseguiram alçar grandes voos junto
ao eleitorado.

Mantida a legislação atual, a perspectiva para o siste-


ma partidário brasileiro é de forte compactação, res-
tando poucos partidos com representação no Con-
gresso Nacional.

A considerar que no modelo brasileiro os partidos


políticos possuem o monopólio para a condução do
processo eleitoral, uma vez que não se permite candi-
daturas independentes, é necessário manter aceso o
debate quanto ao pluripartidarismo tupiniquim sob
pena de se produzir graves danos à democracia bra-
sileira.

24
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Convenção da Arena que escolheu Abreu Sodré para o governo de São Paulo, em 15 de julho de 1966
Fonte: Memorial da Democracia/CPDoc JB

25
artigo
Pensar Verde

PV de todas e
Nesse contexto, os princi-

de todos:
pais desafios que o governo
Lula terá pela frente serão:

como rejuvenescer
o partido, atrair
mais mulheres
e diversidade?
Lohanna França
é deputada estadual pelo PV-MG. Ao começar sua carreira polí-
tica, foi eleita a vereadora mais jovem da história de Divinópolis.
Também foi a mais votada da história da cidade. Suas principais
pautas são educação, meio ambiente e a luta das mulheres.

Mariana Almada
é professora, teóloga, fotógrafa e psicanalista e foi candidata a
deputada distrital em 2022 pelo PV-DF. É ativista na educação e
em movimentos feministas e antirracistas. Atua na Frente de Mu-
lheres Negras do DF e em Mulheres Negras Decidem.

Luciano Frontelle
é diretor executivo da Plant-for-the-Planet Brasil, assessor da
Fundação Barbara Pyle e voluntário no GT de Comunicação do
Partido Verde

26
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Por Lohanna França – Disputar uma eleição não é em suas bases como multiplicadores das iniciativas
uma tarefa fácil à primeira vista, principalmente do partido.
para as pessoas de grupos considerados minorias.
Ao longo dos anos, os debates sobre a presença das A eleição de 2024 será central para conseguirmos
mulheres, do público LGBTQIA+, de pessoas negras rejuvenescer o PV. Nós precisamos começar pelas
na política têm se mostrado primordiais para a cons- bases: elegendo vereadores. É muito difícil alguém
trução de políticas públicas para toda a comunidade. conseguir chegar à eleição como deputado estadual
Prova disso é que apenas 17,7% da Câmara Federal é ou federal sem apoio.
composta por mulheres, 24,6% são negros e apenas
3% pertencem à comunidade LGBTQIA+. É muito importante que o partido faça o apoio real
e não somente verbal: confiar na juventude, confiar
Quando escolhemos um partido, buscamos um local na negritude, nas mulheres, nas pessoas LGBTQIA+
que nos acolha, em que possamos defender nossas para cargos de liderança e posições de poder dentro
bandeiras e convicções e, acima de tudo, representar do partido, como diretorias e presidências.
a todos.
A questão do fundo partidário também se soma a
Assim, quando pensamos em rejuvenescer o partido isso e é essencial para que o apoio seja material e as
e atrair novos filiados, é preciso considerar também candidaturas sejam, de fato, viáveis. Não se faz uma
o papel dos mandatários do PV. Quantos projetos de candidatura somente com discursos. O discurso é
leis estão sendo feitos voltados à população negra, muito importante, mas também é muito importan-
aos jovens, às mulheres e às pessoas LGBTQIA+? te o mecanismo de financiamento, o jurídico e todo
Quais as políticas partidárias estão sendo construí- o apoio que o partido pode dar para os quadros, que
das em conjunto com as representações? são excelentes e podem mudar a nossa realidade
atual com nomes femininos, com nomes da juventu-
Para de fato rejuvenescer o partido é preciso dialogar de, com nomes da comunidade LGBTQIA+.
com os diversos segmentos. Chamar à mesa os mo-
vimentos estudantis, feministas, negros e a comu- Também é considerável que o partido contribua para
nidade LGBTQIA+. Identificar as lideranças desses a formação de lideranças, para que elas não entrem
segmentos para construir uma base sólida do PV, ga- e morram nadando no processo. Porque quando da-
rantindo estrutura, formação e apoio para a criação mos a formação para os candidatos na comunicação,
de diretórios municipais em parceria com os movi- nas orientações jurídicas, tudo isso é muito impor-
mentos e as representações existentes, que atuarão tante e capacita demais os pré-candidatos.
27
Pensar Verde

Um fator que me atraiu para o PV foi a compreensão tornável da coerência. Simplesmente não se pode
da importância dessa causa central para o nosso tem- falar em política verde sem falar também em diver-
po, que é a causa ambiental, conectada à sociabilida- sidade de militantes e, o que é importante, de mem-
de, à saúde, à economia, à arte, à espiritualidade e à bros das estruturas dirigentes.
política. O potencial de atração da proposta política
verde já foi maior entre os jovens. Não foi a nossa Nesse sentido, o que vemos é que a diversidade é pe-
causa que perdeu apelo. Pelo contrário: nunca se viu quena no PV não porque o partido assim o queira,
tanta urgência ambiental quanto no nosso período, mas porque ele está inserido no contexto partidário
a começar por questões macro como as climáticas, e brasileiro. A despeito de muitos e valorosos esfor-
continuando pelas questões locais como a defesa de ços, e de louváveis exceções, inclusive no PV, há ain-
uma economia sustentável nos estados brasileiros. da muito o que construir em termos de diversidade
interna no nosso partido, seja em termos de etnia e
O esforço educacional necessário, portanto, é fazer de condição socioeconômica, seja quanto ao gênero
com que essa urgência fique mais clara, assim como e à orientação sexual.
precisa ficar mais claro um elementar princípio do
ambientalismo, que é a articulação entre a ação local Comprometido constitutivamente com a causa antir-
e a conjuntura global, entre a militância individual e racista, com a defesa da cidadania LGBTQIA+, além da
a mobilização político-partidária. Ou seja: se os jo- luta pela igualdade de gênero, entre outras pautas que
vens, por força da educação, forem convencidos de afirmam o respeito e o valor da diversidade, o PV ocu-
que podem fazer a diferença, acredito que eles vão se pa no espectro político-partidário brasileiro um papel
juntar à causa. que o credencia a assumir posição importante, e até
central, a respeito do tema. E o partido será tanto mais
Também sabemos que há bem menos mulheres na po- eficiente nesse esforço quanto mais rápido agir.
lítica verde do que gostaríamos. É preciso dar uma face
também feminina a esse esforço de divulgação da polí- Considerando essa urgência, acredito que estraté-
tica verde, para que nela se reconheçam cada vez mais gias interessantes podem incluir o empoderamento
mulheres. E, para falar às mulheres, o PV deve aprender daqueles e daquelas que, no âmbito do partido, já
a se expressar a partir das expectativas delas. assumiram a bandeira da diversidade. Podem in-
cluir, ainda, a adesão do partido, por meio de suas
Tomo a liberdade de sugerir um letramento sobre o estruturas de direção, a todas as iniciativas sociais e
feminino no âmbito do PV. Desse esforço, pode resul- político-partidárias que já estão em campo na defesa
tar, quem sabe, uma série de peças como textos im- da ideia de ampliar a diversidade nos espaços insti-
pressos e material audiovisual capazes de dar sinto- tucionais e de poder.
nia fina à comunicação do partido com as mulheres.
Dessa forma, com ações urgentes e precisas, ganha-
Para um partido que já nasceu comprometido com a remos capilaridade e uma estrutura sólida, alcan-
proteção e a defesa da biodiversidade, tanto fora do çando mais pessoas, e, sem dúvida, cresceremos
Brasil quanto dentro dele, estruturar seu trabalho enquanto agremiação, ocupando o papel que o Par-
pelo respeito e pela busca da diversidade de mem- tido Verde, esse partido tão necessário e importante,
bros não é uma escolha e sim uma exigência incon- precisa e merece.

28
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Agora a luta precisa ser den- Não raramente, o Partido Verde inclui-se nesse con-
texto relacional humano. Por um lado, há os 12 valo-
tro da casa res que lhe são atribuídos – ecologia, cidadania, de-
mocracia, justiça social, liberdade, municipalismo,
espiritualidade, pacifismo, diversidade, internacio-
Por Mariana Almada – E rufem os tambores porque
nalismo, cidadania feminina, o saber; por outro, há
hoje convocaremos toda ancestralidade para teste-
os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, todos
munhar a mudança que queremos ver no mundo!
dialogando entre si e buscando assegurar os direitos
Convocar todos e todas que fazem parte da nossa
humanos, a política das boas relações, o cuidado com
história a compreender que somos parte de um todo,
o planeta e a diversidade. “ECO” é a bandeira que o
e que desde as primeiras manifestações em uma di-
partido sustenta, significa “casa”, e que possamos,
versidade sistêmica, dores, mortes, lutas, amores e
então, abraçar nossas causas sistêmicas e ancestrais
coragem chegaram até nós, e é sobre isso que vamos
como uma parte desse todo.
falar. Falamos de fortalecimento, de vínculos afetivos
e de prosperidade.
São nossos afetos, conquistas, discussões, cultura. É
a juventude, o levante feminista, as pessoas negras, é
É preciso preservar, garantir o futuro da mãe Gaia
a comunidade LGBTQIA+. E viva a diversidade!
e das espécies que dela fazem parte. Sustentabili-
dade é a palavra de ordem, e por onde começamos
Eis que um novo paradigma deve surgir dentro dos
a entender esse processo? Leonardo Boff (2010),
movimentos, e quiçá as pessoas possam entender
como teólogo, filósofo e membro da Iniciativa In-
que os sistemas coabitam, as relações coexistem, ou
ternacional da Carta da Terra, se apropria do ter-
desapareceremos existencialmente do Ecossistema
mo para fazer-nos entender que a sustentabilidade
que pulsa em nosso peito. Lutamos para fora. Agora,
“vive do equilíbrio dinâmico, aberto a novas incor-
a luta é dentro de cada ser e de cada coração que pul-
porações, e da capacidade de transformar o caos
sa para fazer o novo acontecer.
em novas ordens”; e nessa dinâmica em que o ser
humano está inserido, em meio às “interdepen-
É uma obrigação social e um desafio ético. Para
dências, redes e relações inclusivas, mutualidades
chegar a esse lugar de excelência, precisamos, como
e lógicas de cooperação que permitem que todos
diz Hooks (2019), “reaprender o passado, entender
os seres convivam, coevoluam e se ajudem mutua-
sua cultura e história, reconhecer seus ancestrais e
mente para se manterem vivos e garantir a biodi-
assumir a responsabilidade de ajudar outras pessoas
versidade.”
negras a descolonizar seus pensamentos”.
29
Pensar Verde

Como rejuvenescer
o partido
Por Luciano Frontelle – Há bastante tempo existem
discussões sobre como rejuvenescer o Partido Verde
no Brasil. Não só isso, mas também não é segredo e
nem é difícil de perceber que a maioria dos espaços
de direção são ocupados, em boa parte, por homens
brancos e de cabelos brancos. A média de idade da
Executiva Nacional é de 56 anos, de acordo com dados
oficiais. Obviamente podemos estender essa percep-
ção para a maioria dos espaços políticos no país.

Apesar de as mulheres representarem 53%1 do


eleitorado brasileiro, apenas 15% do total de car-
gos eletivos eram ocupados por elas em 2022. As
mesmas distorções, em níveis também absurdos,
acontecem com negros, indígenas, quilombolas
e LGBTQIA+. Isso não isenta o partido de adotar
uma mudança de rumos. Na verdade, deve ser visto
como uma oportunidade para que possamos pen-
sar coletivamente sobre como melhor representar
nossos 12 valores e a sociedade brasileira a partir
de nossos quadros.

A parte que me cabe é incentivar a discussão sobre as


juventudes no partido. Vou chegar a este ponto come-
çando com a minha jornada até a minha filiação.
eleitos – a candidatura foi colaborativa; éramos duas
O grêmio estudantil foi meu primeiro contato com pessoas, eu com as pautas ambiental e de juventu-
movimentos sociais. Eu tinha 14 anos, havia perdi- des e a Denise com as pautas de mulheres, empre-
do o pai não fazia muito tempo e vi naquele espaço go e negritude –, mas também gerar o debate sobre
uma motivação, um propósito. Começou como uma propostas que víamos como importantes e possíveis
válvula de escape, mas, no fim, se tornou um espaço de serem aplicadas a partir do Legislativo. Devido ao
de aprendizado e celebração. Participei dos proces- meu ativismo e às organizações com as quais traba-
sos do Estatuto da Juventude e estive na organização lhei, sabia que precisava me filiar a um partido que
de conferências estaduais de juventudes, até que, fi- levasse isso a sério, não como um acessório entre ou-
nalmente, pude celebrar com muitos amigos a con- tras pautas.
quista da PEC da Juventude.
O Partido Verde já foi vanguarda em muitos momentos
Nessa época, eu tinha uma percepção ruim sobre da nossa história. Foi sob a liderança do então deputa-
partidos, mesmo colaborando com muitas pessoas fi- do constituinte Fabio Feldmann, representando a cau-
liadas ou que até mesmo lideravam secretarias de ju- sa verde, que o capítulo ambientalista na constituição
ventude partidárias. Porém, acabei percebendo que, foi redigido. Mais que isso: existe uma Federação dos
no final das contas, o que eu fazia acabava girando em Partidos Verdes, que foi fundada aqui no Brasil durante
torno de tentar convencer alguém no Legislativo ou a Eco 922, onde ocorreu uma consolidação programáti-
no Executivo sobre algo que precisava ser feito. Ser ca entre todos os verdes no mundo.
filiado a um partido é uma exigência para disputar
esses espaços. Quando fui anunciar a pré-candidatura, usei como
argumentos não só os valores do partido, mas tam-
Dito isso, foi em 2016 que decidi que queria entrar bém o que já havia sido apresentado no plano de go-
para a disputa. O objetivo não era apenas sermos verno da candidatura à presidência em 2014, com
Eduardo Jorge.
30
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

a ocupar posições diretivas, isso mais especifica-


mente nos diretórios locais. E aqui eu estou falando
principalmente de pessoas de até 29 anos. Repre-
sentatividade importa. Se uma pessoa jovem não
vê seus semelhantes em um espaço, na maioria dos
casos, ela o abandona ou nem sequer se interessa em
participar.

Quantos jovens você vê em campeonatos de bocha?

Já ouvi muitas vezes que o Partido Verde agrega tanto


valor quanto uma marca, quase como uma grife. Isso
aproxima muitas pessoas inicialmente, principal-
mente quem tem uma relação histórica com a causa
ambientalista, mas, na minha experiência, os mo-
vimentos ambientalistas funcionam de uma forma
bem diferente da que presenciei – seja na metodolo-
gia de construção das prioridades ou até mesmo em
relação a quem acaba sendo convidado para disputar
pelo partido por questão muito mais “matemática”
do que alinhamento programático. E foi assim que
me vi constantemente sendo questionado sobre
outras pessoas que faziam parte da chapa, mas que
expressavam em suas redes ideias que propunham o
oposto do que defendíamos.

Muito importante termos mandatos eleitos, mas o


quanto isso, de fato, ajuda se essa pessoa manchar a
imagem do partido defendendo uma visão de socie-
O plano trazia um olhar qualificado para as pautas in-
dade que nós rejeitamos?
dígenas, mencionava políticas que defendessem a au-
tonomia das mulheres, a diversidade sexual, a justiça
Precisamos traçar estratégias para superar essas
social, o direito a uma vida sem violência e o direito
contrariedades. Nos últimos anos, vimos o quanto
das juventudes.
as juventudes lideraram as discussões climáticas,
tanto em manifestações globais quanto na internet.
A campanha foi árdua, mas, ao mesmo tempo, cheia
Em 2022, tivemos a maior delegação de jovens brasi-
de momentos bonitos de construção e escuta. Não
leiros em uma Conferência do Clima da ONU. Quan-
nos elegemos, e ainda assim conseguimos ver as con-
tas dessas pessoas se animariam a se filiar ao Partido
quistas de disputar uma campanha sem fazer parte
Verde ao invés de se filiar a outros, caso queiram dis-
de grupos que historicamente ocupam os espaços de
putar as eleições?
poder na cidade.
Sendo assim, acredito que nosso rejuvenescimen-
Tudo isso me ajudou a chegar ao ponto que quero
to passa pela criação de espaços para pensarmos
compartilhar com vocês, sobre o quanto a estrutura
na renovação da nossa presença nas bases, nos
que eu vivenciei poderia ter me afastado e por que eu
movimentos sociais, na internet e no acolhimento
sempre vi muita dificuldade em envolver outras pes-
de novas pessoas. Eu seguirei ajudando no processo
soas mais jovens no partido.
de sermos mais presentes nas discussões e liderando
conversas sobre nossa visão de país.
O ponto de partida é a liderança. Vejo que se as pes-
soas que estiverem à frente de diretórios forem aber-
tas a oportunizar um espaço mais acolhedor para
pessoas de todos os níveis de conhecimento políti- 1 - Eleições 2022: mulheres são a maioria do eleitorado brasileiro —
co-partidário, não só nos períodos de pré-campa- Tribunal Superior Eleitoral (tse.jus.br)
nha, a tendência é que mais pessoas se sintam aptas 2 - ECO-92 – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
31
artigo
Pensar Verde

Um jeito
verde de fazer
comunicação
Mariana Perin
é radialista, produtora cultural, atriz, feminista, especialista
em políticas culturais e de juventude e secretária Nacional de
Comunicação do PV.

Rayssa Tomaz
é jornalista, atua no meio ambiente no Distrito Federal e assessora
a Liderança do Partido Verde na Câmara dos Deputados.

Priscila Manso
é estrategista em Redes Sociais, foi a primeira representante
do PV no Conselho Nacional de Juventude e é secretária de
Comunicação do PV em Vitória (ES).

Wal Lima
é jornalista com MBA em Marketing Político Digital e atende o PV
(Pró Empresa).

32
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Comunicação é uma arte e hoje em dia está além do


simples ato de escrever ou falar, como se consolidou
ao longo das últimas décadas. Com o avanço da tecno-
logia, juntamente com o surgimento de internautas
cada vez mais exigentes, agora “dar like”, “repostar”
ou “twittar” se resume ao que for mais interessante
ao receptor, aumentando o desafio na hora de englo-
bar todas essas formas de se expressar e repassar os
valores de um partido político para a sociedade de
uma forma leve e descontraída.

Mas, apesar de desafiador, o Partido Verde vem re-


forçando cada vez mais a sua identidade nas redes
sociais, na criação de artes que valorizam a presença
feminina, de pessoas pretas, da comunidade LGB-
TQIAPN+, da causa animal e, claro, do nosso carro-
-chefe: o meio ambiente.

Nos últimos quatro anos, houve um crescimento de


mais de 100% nas divulgações do PV na imprensa.
Nosso Instagram teve um salto de 800 para mais de
12 mil seguidores de forma orgânica. Esses núme-
ros só foram possíveis devido ao trabalho coletivo
de uma pasta que, apesar de representada por uma
única pessoa, pôde contar com o apoio de um time
de profissionais e voluntários na mudança de identi-
dade e linguagem do partido.

E agora, além de trabalhar nosso branding (nossa


marca), também queremos fortalecer nosso endo-
marketing, que consiste em trabalhar a marca Parti-
do Verde, estimulando nossos militantes a vestirem
a camisa e inspirarem nossa sociedade sobre as nos-
sas vertentes, pois o que será de um projeto político
se ele não representa a sociedade e transforma pro-
blemas em pautas a serem discutidas?

“Queremos fortalecer nossa militância


em nossas redes sociais, encorajando-a
a ter orgulho de fazer parte do Partido
Verde”

Mariana Perin, secretária nacional de


Comunicação do PV

33
Pensar Verde

Inspirando lideranças
Hoje, o PV conta com nomes que representam sua
causa de forma ímpar. Lohanna França, Luana
Dhara, Leandro Grass, André Fraga, Cris Moraes,
Xênia Star, a nossa Bancada Verde e outras pessoas,
incluindo as coautoras deste artigo Mariana Perin e
Rayssa Tomaz, são vistos por nós como verdadeiros
influenciadores, não apenas com suas atitudes,
como parlamentares ou militantes, mas também
por respirarem política e terem como objetivo
implementá-la na vida de todas e todos.

Não podemos mais viver à sombra de Gabeira e


Eduardo Jorge de forma nostálgica. Por isso ques-
tionamos aqui: Quem serão nossos próximos desta-
ques? É papel do partido criar lideranças?

Mais que lutar pelos nossos 12 valores, queremos ins-


pirar a dona Maria de 65 anos, o seu João de 43 e o
Felipe de 20 sobre como é e o quanto é importante
pensar verde, levando a mensagem do que o PV re-
presenta para o mundo.

A política é uma atividade exclusiva da espécie


humana. E dela se desdobram todos os contextos de
uma vida em sociedade. Entender que essa prática
faz parte do cotidiano de todos nós, independente-
mente do rebuscamento de suas atuações, e tradu-
zir os anseios, expectativas, sonhos e aspirações em
ações partidárias são as missões do coletivo de comu-
nicação do partido.

Quanto mais ações, intervenções e projetos realiza-


dos pelos verdes Brasil afora, mais conteúdo teremos
para fortalecer a nossa marca e o nosso partido. Por
isso, convidamos vocês a se unirem a nós nesta reno-
vação, afinal, qualquer caminho a ser seguido parte
de uma coletividade. Sigam nossas redes, curtam,
comentem e compartilhem nossas ideias e ajudem a
fortalecer nossa legenda.

34
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

@pv43oficial /Partido Verde @partidoverde43 @partidoverde

Estamos na era dos influencers


“Eu enxergo três pontos que contribuíram para a nossa vitória e retomada
da democracia. Tivemos um candidato que é fã de Pantanal, a entrada do
influencer Felipe Neto e até Anitta fazendo campanha presidencial, o que
ofereceu um dinamismo na forma de comunicar e combater de forma bri-
lhante as fake news.”

Mariana Perin destacou o papel da comunicação na vitória de Lula

Fakenews cresceram 1.671%


Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgados em outubro de 2022
apontam que as denúncias contra fake news cresceram 1.671% em compara-
ção com 2020.

Com as disseminações dessas notícias falsas, os efeitos são devastadores ao


corroer a confiança dos cidadãos no governo e até mesmo levar ao ódio en-
tre diferentes grupos políticos.

35
entrevista
Pensar Verde

José Luiz
O que pensa

Penna

36
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

O presidente nacional do Partido Verde, José Luiz Penna, fala


sobre o momento do partido no Brasil, o que é preciso para que
se desenvolva, quais mudanças devem ocorrer, o que trava o
crescimento e como ele vê a proposta Reinventando o PV.

Foto: Pró Empresa Analisa, também, a atuação da sigla na eleição


do governo Lula: “Foi um marco, porque ninguém
acreditava, pelo histórico do PT, que o PT fosse fazer
alguma coisa ampla de fato. Então acho que o sinal
dado pela nossa luta para confeccionar a Federação
[Brasil da Esperança], com a nossa presença,
porque nós não somos do campo natural do PT
historicamente, foi um sinal muito poderoso para abrir
o leque necessário para ganharmos as eleições”.

Pensar Verde:
Como o senhor avalia o Partido Verde nesses 37
anos de história?

Penna:
Na verdade, foi uma luta de resistência, porque, di-
ferentemente de hoje, o assunto do meio ambiente,
os temas alternativos estavam todos fora da pauta da
sociedade. Então, era uma vida de apontar caminhos,
defender coisas que estavam fora do senso comum.
Foi uma luta heroica.

Pensar Verde:
O que o senhor destaca, qual foi o ponto forte do
partido nessas quase quatro décadas?

Penna:
Desde 1988, a gente influenciou a Constituição, hou-
ve uma abertura para isso. E depois teve a luta pelas
energias alternativas, o enfrentamento daquela épo-
ca em relação à energia nuclear, que parecia ser um
consenso mundial. E a proteção de sempre do nosso
parque florestal e hídrico, que continuam gravemente
37
Pensar Verde

afetados. Eu acho que aí nós contribuímos bastante. Penna:


Veja que coisa fantástica: hoje as crianças já nascem É porque a gente já está estabelecido na sociedade.
ecologistas, é impressionante. E a nossa agenda virou Antigamente, nós éramos uma proposta, um sinal.
a agenda da sociedade de uma maneira geral. E nós Agora não. Agora a gente faz parte da vida política
estamos justamente nesse ponto crítico em que nós do país. Nós estamos inseridos e aumentou a nossa
precisamos marcar qual será o nosso território, já que responsabilidade.
as premissas estão na sociedade.

Pensar Verde:
Pensar Verde: Está em andamento um processo que foi cha-
Como o senhor avalia o papel do PV na eleição do mado de Reinventando o PV. Como o senhor vê
presidente Lula? esse processo, como deve ser essa reinvenção,
como deve ser conduzida? O senhor apoia essa
mudança?
Penna:
Foi um marco, porque ninguém acreditava, pelo histó-
rico do PT, que o PT fosse fazer alguma coisa ampla de Penna:
fato. Então acho que o sinal dado pela nossa luta para Claro que apoio, porque se a gente não admitir
confeccionar a Federação [Brasil da Esperança], com uma eterna evolução, se for para ficar repetindo, aí
a nossa presença, porque nós não somos do campo a inanição é fatal. E acho que nós temos gana para
natural do PT historicamente, foi um sinal muito pode- repensar, renovar. A nossa distinção na política terá
roso para abrir o leque necessário para ganharmos as sempre que ser o anticonservadorismo, mesmo
eleições, porque o adversário estava com um embasa- porque soluções conservadoras jamais funciona-
mento muito grande de votos. ram aqui no Brasil.

Pensar Verde: Pensar Verde:


A direção do partido foi reconduzida recentemente, Como deveria ser essa renovação estruturalmente,
sem mudanças. Qual será o papel estratégico dessa em termos de Estatuto, de Programa?
nova fase da direção do PV?
Penna:
O partido deve ter gana para deixar entrar o pen-
Penna: samento, pois a sociedade está rediscutindo tudo,
Não teve uma nova direção. Todo mundo foi recondu- e é preciso ter pernas dentro do partido. Eu fico
zido. E por quê? Porque nós precisamos repensar o triste porque em muitos lugares você sente que
partido e repensar o partido não é uma luta fraticida. o pensamento está sendo barrado porque um
É um buscar consensos, trazer novas informações. Por espírito de autopreservação, às vezes, fica mais
exemplo, eu estou muito interessado nesse capítulo evidente do que a vontade de receber pessoas e
todo de luta do salário do operário, da luta sindical, instruções novas. Por exemplo, há coisas que eu
como serão as funções humanas daqui para a frente, não entendo. O movimento estudantil universitário
como se darão. Porque o partido só não pode perder o às vezes fica vinculado a ideários que se perderam
seu aspecto da inovação, o seu gosto pelo futuro e isso há um século. Deve haver alguma razão para que
não é conservador, ao contrário. Eu acho que, para isso aconteça, porque seria natural que os jovens
isso, nós estamos muito ambiciosos em relação a essa que estão aprendendo, discutindo o futuro, estives-
reestruturação, tanto do pensamento quanto da orga- sem mais próximos do Partido Verde.
nização como forma de atuação. Precisamos repensar.
Para isso, temos que ter paz. Por isso, a recondução,
pois é um processo longo de discussão. Pensar Verde:
O Brasil hoje está no centro da questão ambiental, de
diversos debates. O Partido Verde lá fora, em vários
Pensar Verde: países, tem crescido, tem ganhado corpo. E aqui ele
O que diferencia o Partido Verde de 1986 do PV de ainda não conseguiu esse protagonismo. O que é ne-
2023? cessário fazer para obter esse crescimento?
38
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Penna: é um ícone, um sujeito que pensa, um cara impor-


Na verdade, você tem uma pista. As forças políticas tante, para fazer um contraponto, disse assim: “Olha,
no Brasil são extremamente conservadoras. A gente é enquanto a gente não for comprar anúncio de jornal,
suspeito, em primeiro lugar. Por quê? Porque nós não nós não vamos ser notícia”. Então, eu acho que faz
vamos ficar com aquele procedimento tradicional. parte do nosso show.
A gente tem uma crítica ao patrimonialismo. A essa
coisa. Eu, por exemplo, não sei fazer isso. Aí, com o
negócio do PT, [a luta por] espaço. Eu digo que fazer Pensar Verde
política a gente quer. Agora, eu não vim aqui buscar Como o senhor acha que o PV deve agir diante do
“carguinho”, prêmio de consolação. Não. Eu não pres- novo governo? Já foi realizado um diálogo com a
to para essas coisas. E isso sai da linguagem usual. bancada do partido?

Existe um bloqueio. Eu compreendo isso. Porque


eles se organizam. A República era um anseio da Penna:
modernidade. No Brasil, ficou na mão dos conser- Tem que se compreender que a democracia é um
vadores escravagistas. O que havia de pior. Então, negócio muito difícil, é um exercício diário. Então,
é assim. você tem, no movimento político, um parlamen-
tar, o executivo e o partido, que são os dirigentes
e tal, e essa palavra horrorosa chamada militan-
Pensar Verde te. São perfis diferentes e atuações diferentes.
Então, um dos fatores para o PV crescer no país Então, como vai se comportar a bancada depende
seria conseguir romper com esse sistema político- da bancada. Claro que nós estamos conversando
-partidário instituído no Brasil? para afinar, do ponto de vista do conteúdo,
estamos tentando, porque, normalmente, cada
um é um. Um vem da área da educação; o outro
Penna: vem da área tal; e eles têm que achar uma linha,
Pois é, a gente luta. Por exemplo, nós somos parla- o que seria mais forte, consensual entre eles.
mentaristas. Aí, você tem esse regime que sobrevive Mas eu acho que é uma moçada boa. Teremos
no Brasil, o Presidencialismo de cooptação. Que coisa que observar a Federação. É um compromisso de
mais louca! E não adianta. Uma vez o Gabeira, que quatro anos.
39
verdes
Pensar Verde

em ação

Conheça o projeto
Reinventando
o Partido Verde
Foto: @ludeoli22

O final dos trabalhos será no início da primavera, na Convenção Nacional


do PV, em setembro, marcando o sonho de reflorescimento do partido

40
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Em linhas gerais, o Reinventando o PV propõe a ela- eleito um novo diretório estadual e, além de colo-
boração coletiva de um novo Estatuto para o partido. car em votação as próprias emendas, votar as pro-
Organizado em sete fases, a proposta começou a ser postas dos municípios.
executada em fevereiro deste ano com culminância
A sexta fase de execução do projeto consiste na for-
prevista para os dias 23, 24, 25 e 26 de setembro de
mação de um grupo de trabalho que represente to-
2023, durante a Convenção Nacional do partido.
das as forças da Executiva Nacional para planejar,
A primeira fase foi finalizada e consistia em uma conjuntamente, a Convenção Nacional prevista para
pesquisa sobre os vários partidos verdes no mundo. acontecer entre os dias 23 e 26 de setembro.
Até o final de fevereiro, esteve em andamento a fase
É importante frisar que, por ser o começo da Prima-
dois: a escrita de uma minuta do anteprojeto do novo
vera, o dia 23 de setembro foi escolhido como o iní-
Estatuto, elaborada por Carla Piranda, presidente do
cio da Convenção Nacional (sétima e última fase do
PV-RJ e secretária Nacional de Organização, e pelos
Reinventando o PV), visando aproximar o sonho de
secretários estaduais de Organização, principalmen-
reflorescimento do partido ao tom poético atribuído
te André Fraga (PV-BA) e Regina Gonçalves (PV-SP).
à estação das flores.
As outras cinco fases acontecerão até o final de se-
Nos quatro dias da convenção, vários grupos de tra-
tembro de 2023. A fase três teve início após o Carna-
balho estarão reunidos em diversas salas para discu-
val, com finalização prevista para metade deste mês
tir as minutas enviadas pelos estados. Ao final, será
(março). O objetivo é realizar duas reuniões on-line
votada a proposta de um novo Estatuto. Também
com cada estado: a primeira com a direção estadual
será eleito novo diretório e executiva nacionais.
e a segunda com a direção estadual e as direções mu-
nicipais. O objetivo é que as pessoas interessantes participem
das discussões, sejam atraídas e atuem para materia-
Todo esse processo nos estados vem sendo coorde-
lizar os objetivos do partido, traçados democrática e
nado pelos secretários estaduais de Organização. A
coletivamente, em função da defesa da vida, entendi-
ideia é que eles sejam fortalecidos e assumam o pro-
da em sua completude.
tagonismo perante os municípios, onde a minuta do
anteprojeto também está sendo debatida. A orienta- Comumente, ressalta Carla Piranda, as pessoas que-
ção é para que esses debates sejam abertos à partici- rem se aproximar dos partidos. Isso não ocorre tanto
pação de qualquer filiado. nas eleições gerais, mas na preparação das eleições
municipais muita gente se aproxima. O que, durante o
Em seguida, até 15 de junho, os municípios deverão
processo político de elaboração de um novo Estatuto, é
entregar suas propostas de emendas ao anteprojeto,
muito bom, pois as intenções das pessoas ficam mais
necessariamente obtidas em Convenção Municipal
nítidas e as chances de identificar potenciais lideran-
para votação do novo Estatuto e eleição de nova dire-
ças são maiores: “Nós achamos que, no meio desse pro-
toria. Essa é a quarta fase.
cesso, podemos conhecer muita gente interessante.
Na quinta fase, o mesmo processo deverá ser rea- É um ano de preparação de eleição municipal, então
lizado nos estados até 15 de agosto. O diretório a parte do projeto que fica nos municípios, de várias
estadual vai se reunir com filiados para levantar discussões e de votação, pode atrair gente interessante
sugestões, fazer correções, propor novas emendas para a chapa ou para o partido. A ideia é que, durante
ao anteprojeto. Depois, em convenção, deverá ser todo o processo, já tragamos pessoas novas”.

41
verdes
Pensar Verde

em ação
Observatório de
Políticas Ambientais
apresenta Agenda
Legislativa Ambiental
O Observatório de Políticas Ambientais (OPA), forma- e a repreensão aos desmatamentos e queimadas no
do por membros do Partido Verde e que colabora com Brasil, com ênfase aos biomas Amazônia, Pantanal e
a produção legislativa da bancada verde, elaborou a Cerrado. Podem contribuir, também, para o resgate
Agenda Legislativa Ambiental – PV. O documento da credibilidade da nação, com benefícios evidentes
traz as matérias a serem apreciadas no Congresso Na- ao meio ambiente e à saúde econômica, aumentando
cional que são de suma relevância para a consolidação o potencial de novos investimentos no Brasil.
de uma política ambiental brasileira sólida que dire-
cione a nação para um futuro sustentável. O conjunto de proposições para rejeição, considera-
das as últimas versões de pareceres e substitutivos
Entregue aos parlamentares do Partido Verde, a dos relatores, apresenta propostas danosas ao meio
agenda é um compilado de proposições que se en- ambiente, às comunidades tradicionais, aos povos
contram em tramitação nas casas legislativas e que, indígenas, aos remanescentes de quilombos, ao pa-
caso aprovadas ou rejeitadas, apresentarão benefí- trimônio histórico, cultural e arqueológico, o que
cios ou impactos diretos nas áreas de preservação, pode piorar ainda mais o atual quadro de baixa credi-
na manutenção dos recursos naturais e na qualidade bilidade e de poucos investimentos no país.
de vida da população.
Para gerar segurança jurídica e expandir o quadro de
Os projetos de lei são monitorados e categorizados investimentos, além de garantir a devida proteção ao
em: proposições de interesse para aprovação, propo- meio ambiente e às comunidades afetadas, é neces-
sições de interesse para rejeição e proposições que sário consolidar ferramentas como a compensação e
afetam a área ambiental. as multas ambientais, mitigando e minimizando os
impactos negativos.
São várias as razões que justificam a necessidade de
uma ação organizada no Congresso Nacional, a fim Por fim, as proposições de interesse para a área am-
de frear o avanço de legislações prejudiciais aos re- biental, mesmo sem uma relação direta com os temas
cursos naturais do país. Para além da revogação dos desmatamento e queimadas, influenciarão na me-
atos e normas infralegais previstos para o início do lhoria socioambiental e econômica do ambiente para
governo, a organização de uma agenda de trabalho investimentos no Brasil, ajudando a resgatar a credi-
– em parceria com os deputados da Federação Brasil bilidade do país e privilegiando a sustentabilidade ao
da Esperaça e de demais bancadas da base governis- impor regras mais claras que garantem a segurança
ta – consegue aprimorar a defesa do meio ambiente ambiental dos diversos processos produtivos.
e salvaguardar o arcabouço legislativo.
Seguem as proposições elencadas pelo Partido Ver-
As proposições de interesse para aprovação têm po- de como prioritárias para a próxima legislatura da
tencial de contribuir, diretamente, para o combate Câmara e do Senado Federal:
42
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Agência Brasil

Propostas de interesse para aprovação


Proposição Ementa

Insere dispositivos na Lei n.º 12.651, de 25 de maio de 2012, para proibir o desenvolvimento de atividades econômicas em áreas
PL 4933/20
queimadas, sem autorização.

Altera a Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
PL 3337/19
atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências, na seção dos crimes contra a flora - (Desmatamento Ilegal Zero).

PL 3893/19 Aumenta a pena do delito de impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação.

Altera a Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, para dispor sobre o aumento da pena para o manuseio de madeira ilegal e dá outras
PL 5125/19
providências.

Altera a redação do inciso V, do art. 6º, da Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981 e do § 1º, do art. 70, da Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de
PL 6289/19 1998, para incluir, de forma expressa, as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal no Sistema Nacional do Meio Ambiente -
Sisnama, bem como disciplinar o exercício das atividades de policiamento ambiental.

Altera o § 4º do art. 225 da Constituição Federal, para incluir o Cerrado e a Caatinga entre os biomas considerados patrimônio na-
PEC 504/10
cional.

PEC 37/2021 Altera o art. 5º, caput, acrescenta o inciso X ao art. 170 e o inciso VIII ao §1º do artigo 225 da Constituição Federal.

Altera o art. 2º da Lei n.º 11.343, de 23 de agosto de 2006, para viabilizar a comercialização de medicamentos que contenham extratos,
PL 399/2015
substratos ou partes da planta Cannabis sativa em sua formulação.

PL 3117/19 Dispõe sobre o regime de uso do bioma Cerrado, bem como da sua conservação, preservação, proteção, utilização e regeneração.

PL 9950/18 Dispõe sobre a conservação e o uso sustentável do bioma Pantanal e dá outras providências.

PL 5974/05 Dispõe sobre incentivos fiscais para projetos ambientais.

Define os serviços ambientais e prevê a transferência de recursos, monetários ou não, aos que ajudam a produzir ou conservar estes
PL 792/07
serviços.

Cria reserva do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal - FPE, para as unidades da Federação que abriguem, em seus
PL 351/02
territórios, unidades de conservação da natureza ou terras indígenas demarcadas.

Altera a Lei n.º 12.187, de 29 de dezembro de 2009, que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC, para acrescentar
PL 3308/15
as metas brasileiras de redução de emissões para os períodos posteriores a 2020, e dá outras providências.

Altera as Leis n.ºs 12.651, de 25 de maio de 2012, e 14.119, de 13 de janeiro de 2021, para disciplinar a intervenção e a implantação de
PL 3430/19
instalações necessárias à recuperação e à proteção de nascentes.

43
Pensar Verde

Proposição Ementa

Altera a Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
PL 383/11
atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.

Susta o Decreto n.º 9.806, de 28 de maio de 2019, que altera o Decreto n.º 99.274, de 6 de junho de 1990, para dispor sobre a composição
PDL 341/19
e o funcionamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama.

PL 4741/19 Estabelece diretrizes e objetivos para as políticas públicas de desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais.

Institui a Política Nacional de Incentivo à Agricultura de Precisão visando maior eficiência na aplicação de recursos e insumos de
PL 149/2019 produção, de forma a diminuir o desperdício, reduzir os custos de produção, aumentar a produtividade, a lucratividade e a garantir
a sustentabilidade ambiental.

SUG 34/15 Institui o desmatamento zero no país e dispõe sobre a proteção das florestas nativas.

PL 4670/20 Institui a Política de Acolhimento e Manejo de Animais Resgatados – AMAR.

PL 5490/20 Cria o Plano Nacional de Erradicação da Contaminação por Mercúrio, e dá outras providências.

PL 5131/2019 Dispõe sobre o estabelecimento de guia para o transporte de ouro e modifica as penas no crime de transporte de ouro ilegal.

Dispõe sobre normas gerais de proteção aos animais em situação de desastre e altera a Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (Lei dos
PL 2950/2019 - Crimes Ambientais), para tipificar crime de maus tratos a animais relacionado à ocorrência de desastre, e a Lei n.º 12.334, de 20 de
Senado setembro de 2010 (Lei de Segurança de Barragens), para incluir na Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) os cuidados
com animais vitimados por desastres.

Propostas de interesse para rejeição


Proposição Ementa

Dispõe sobre o licenciamento ambiental; regulamenta o inciso IV do § 1º do art. 225 da Constituição Federal; altera as Leis n.ºs
PL 3729/2004 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e 9.985, de 18 de julho de 2000; revoga dispositivo da Lei nº 7.661, de 16 de maio de 1988; e dá
outras providências.

Altera as Leis n.ºs 11.952, de 25 de junho de 2009, 14.133, de 1º de abril de 2021 (Lei de Licitações e Contratos Administrativos), e
PL 2633/ 2020
6.015, de 31 de dezembro de 1973, a fim de ampliar o alcance da regularização fundiária; e dá outras providências.

Regulamenta o § 1º do art. 176 e o § 3º do art. 231 da Constituição para estabelecer as condições específicas para a realização da
PL 191/2020 pesquisa e da lavra de recursos minerais e hidrocarbonetos e para o aproveitamento de recursos hídricos para geração de energia
elétrica em terras indígenas e institui a indenização pela restrição do usufruto de terras indígenas.

PL 6268/2016 Dispõe sobre a Política Nacional de Fauna e dá outras providências.

Regulamenta o § 6º do art. 231, da Constituição Federal de 1988, definindo os bens de relevante interesse público da União para
PLP 227/12
fins de demarcação de Terras Indígenas.

Altera o § 6º do art. 231 da Constituição Federal e acrescenta art. 67-A ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para
PEC 132/2015 permitir a indenização de possuidores de títulos dominiais relativos a áreas declaradas como indígenas e homologadas a partir
de 5 de outubro de 2013.

Regulamenta o art. 190, da Constituição Federal, altera o art. 1º, da Lei n.º 4.131, de 3 de setembro de 1962, o art. 1º da Lei n.º 5.868,
PL 4059/12
de 12 de dezembro de 1972 e o art. 6º Lei n.º 9.393, de 19 de dezembro de 1996 e dá outras providências.

Dispõe sobre o controle de material genético animal e sobre a obtenção e o fornecimento de clones de animais domésticos desti-
PL 5010/13
nados à produção de animais domésticos de interesse zootécnico e dá outras providências.

Tecnologias genéticas de restrição de uso Terminator. Altera dispositivos da Lei n.º 11.105, de 24 de março de 2005, para introduzir
PL 1117/15 disposições relativas às tecnologias genéticas de restrição de uso de variedade, e revoga o artigo 12 da Lei n.º 10.814, de 15 de
dezembro de 2003.

Paraquate - Susta a aplicação da Resolução - RDC n.º 177, de 21 de setembro de 2017, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
PDL 310/20 – ANVISA, que dispõe sobre a proibição do ingrediente ativo paraquate em produtos agrotóxicos no país e sobre as medidas tran-
sitórias de mitigação de riscos.

Dispõe sobre o licenciamento ambiental; regulamenta o inciso IV do § 1º do art. 225 da Constituição Federal; altera as Leis n.ºs
PL 2159/2021 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e 9.985, de 18 de julho de 2000; revoga dispositivo da Lei n.º 7.661, de 16 de maio de 1988; e dá
outras providências.

Altera a Lei n.º 11.952, de 25 de junho de 2009, que dispõe sobre a regularização fundiária das ocupações incidentes em terras si-
tuadas em áreas da União; a Lei n.º 8.666, de 21 de junho de 1993, que institui normas para licitações e contratos da administração
PL 510/2021 - pública; a Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro de 1973, que dispõe sobre os registros públicos; a Lei n.º 13.240, de 30 de dezembro de
Senado 2015, que dispõe sobre a administração, a alienação, a transferência de gestão de imóveis da União e seu uso para a constituição
de fundos; e a Lei n.º 10.304, de 5 de novembro de 2001, que transfere ao domínio dos Estados de Roraima e do Amapá terras per-
tencentes à União, a fim de ampliar o alcance da regularização fundiária e dar outras providências.

PL 490/2020 Altera a Lei n.º 6.001, de 19 de dezembro de 1973, que dispõe sobre o Estatuto do Índio.

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Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Propostas com impacto na área ambiental


Proposição Ementa

Susta a Resolução n.º 428, de 7 de outubro de 2020, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que permite a utiliza-
PDL 450/20
ção de estoque remanescente do agrotóxico paraquate.

PL 2117/11 Dispõe sobre a criação do Plano de Desenvolvimento Energético Integrado e do Fundo de Energia Alternativa.

Institui a Política Nacional para a Conservação e o Uso Sustentável do Bioma Marinho Brasileiro (PNCMar) e dá outras providên-
PL 6969/13
cias.

PL 1021/19 Altera o Decreto-Lei n.º 227, de 28 de fevereiro de 1967 - Código de Mineração e dá outras providências.

PL 6670/16 Institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos - PNARA, e dá outras providencias.

Altera a Lei n.º 9.605, de 12 fevereiro de 1998, a fim de agravar a pena do crime de maus-tratos de animais e tipificar o crime de
PL 269/19
abandono de animais.

PL 358/2019 Altera a Lei n.º 9.605, de 1998 (Lei de Crimes Ambientais), para dispor sobre o valor das multas em caso de desastre ambiental.

Dispõe sobre a ampliação das atribuições institucionais relacionadas à Política Energética Nacional com o objetivo de promover
PL 11247/18 o desenvolvimento da geração de energia elétrica a partir de fonte eólica localizada nas águas interiores, no mar territorial e na
zona econômica exclusiva e da geração de energia elétrica a partir de fonte solar fotovoltaica.

Institui a Política Nacional de Incentivo à Geração de Energia Solar Fotovoltaica Conectada a Sistemas de Eletromobilidade sobre
PL 6123/19 Trilhos (PNESET) para o transporte de passageiros por metrôs, trens, trólebus, veículos leves sobre trilhos (VLT) e monotrilhos
urbano e metropolitano; altera a Lei n.º 11.033/2004.

Altera a Lei n.º 12.305, de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, para equiparar a resíduos perigosos os
rejeitos de mineração depositados em barragens à jusante das quais existam comunidades que possam ser atingidas por seu
PL 357/19
eventual rompimento e para prever a utilização de instrumentos econômicos para a redução de geração e o aproveitamento
desses rejeitos e o desenvolvimento de tecnologias de maior ganho social e menor risco ambiental.

PL3764/20 Aumenta a pena de multa para crime de tráfico de animais e dispõe sobre a destinação de serpentes exóticas apreendidas.

PL 4951/19 Institui a Política Nacional de Incentivo à Proteção Animal e dá outras providências.

Dispõe sobre a proibição, em todo o território nacional, da apresentação, da manutenção e da utilização de animais em espetá-
PL 857/19
culos circenses.

PDL 57/20 Susta a aplicação do Convênio n.º 100/1997 - Confaz, que dispõe sobre o desconto de 60% do ICMS para agrotóxicos.

PL 2341/19 Dispõe sobre a Política Nacional de Incentivo ao Desenvolvimento da Apicultura e da Meliponicultura.

Institui a Política Nacional de Incentivo à Geração de Energia Solar Fotovoltaica Conectada a Sistemas de Eletromobilidade sobre
PL 6123/19 Trilhos (PNESET) para o transporte de passageiros por metrôs, trens, trólebus, veículos leves sobre trilhos (VLT) e monotrilhos
urbano e metropolitano; altera a Lei n.º 11.033/2004.

PL 215/2007 Institui o Código Federal de Bem-Estar Animal.

Agrava a pena cominada ao tipo penal do art. 29 da Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (Lei de Crimes Ambientais), que dispõe
PL 5762/2016
sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.

Altera a Lei n.º 12.334, de 20 de setembro de 2010, que estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens destinadas à
PL 1452/2019 acumulação de água para quaisquer usos, à disposição final ou temporária de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais,
para prever o reaproveitamento e a redução de rejeitos.

Dispõe sobre o registro dos circos perante o Poder Público Federal e o emprego de animais da fauna silvestre brasileira e exótica
PL 7291/2009
na atividade circense.

PL 3045/2021 Institui o Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ecoturismo (Fundeco), e dá outras providências.

PL 5399/2019 Dispõe sobre a criação de novas unidades de conservação marinhas até 2030.

Altera a Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e a Lei n.º 6.001, de 19 de dezembro de 1973, para reverter em benefício dos povos
PL 5467/2019
indígenas os valores arrecadados em pagamento de multas por infração ambiental cometida em terras indígenas.

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Pensar Verde

solo fértil

Da cereja
ao bolo
Fernando Gabeira

O mundo mudou. O Partido Verde preci-


sa mudar com ele para não ser mais uma
das espécies em extinção.

Quando surgiu, o PV e a política ambiental eram con- É possível falar de saúde ignorando o meio ambiente?
siderados coisas novas, um toque de modernidade. Tivemos uma pandemia que marcou o início do século.
Políticos gostavam de incorporar o partido às suas Possivelmente teremos outras e todas elas dependem
coligações ou mesmo mencioná-lo de passagem em da maneira como cuidamos do meio ambiente.
seus programas. O PV era a cereja do bolo.
É possível uma política industrial que abstraia a sus-
Mas a cereja hoje virou o próprio bolo. O aquecimen- tentabilidade, uma política urbana que ignore a neces-
to global transformou o meio ambiente no centro sidade de sobrevivência da cidade nos novos tempos?
das plataformas políticas de grandes países como os
EUA, a Alemanha e a França. Qual a conclusão de toda essa novidade? Não se
deve mais fazer programas de meio ambiente para
Transição energética, empregos verdes, preparação ser anexados aos chamados grandes programas de
dos grandes centros para que se tornem mais resi- governo. Os programas de governo é que devem se
lientes às mudanças climáticas, tudo isso passou a estruturar em torno do meio ambiente.
ser o ponto central da política de governo.
Portanto, o Partido Verde tem de abrir mão de sua
Uma grande mudança aconteceu na visão econômi- aspiração de apenas contribuir com algumas ideias
ca. Os recursos naturais eram vistos como acessórios ambientais e encarar a possibilidade real de gover-
no processo de produção, insumos retirados gratui- nar, pois depende de sua visão de mundo ampliada
tamente. Hoje, a economia vê os recursos naturais uma nova maneira de conduzir os negócios púbicos.
como a própria fonte de valor e países como o Brasil
podem fazer deles a base estratégica de seu futuro. Não entendam como uma proposta ambiciosa. É
apenas uma constatação da realidade e de suas de-
Não se fala mais de economia dissociada do meio mandas. Ou se aceita um novo tamanho para a inser-
ambiente. A própria política externa do Brasil, a ma- ção no mundo, ou se vive em um romântico passado,
neira como se coloca no mundo são definidas a partir sonhando com pequenos cargos, que, pelo menos,
dos seus imensos recursos naturais. reduzem os estragos da política oficial.
46
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Foto: Marcos Veras

47
Pensar Verde

c o l e t a s e l e tiva

Aprender
sobre
política
nunca
é demais
Política devia ser para todos e para
todas e em todos os dias do ano. E é,
mas nem percebemos, porque con-
fundimos a política do dia a dia, de
cada cidadão e cidadã, com a política
partidária. E não é por menos. A his-
tória nacional e a mundial mostram a
crueldade do mundo político-partidá-
rio. Isso não quer dizer que as pessoas
devam fugir desse meio. Pelo contrá-
rio. Devem ingressar nele e tentar mu-
dá-lo. Que tal aprender com a história
para entender um pouco por que esse
universo se move de maneira tão con-
troversa? O cinema pode ser uma boa
maneira de começar a enveredar e a
compreender esses meandros. Prefe-
re se aprofundar mais? Há livros sufi-
cientes para se montar uma verdadei-
ra biblioteca.

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Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Para ler

O Contrato Natural (Instituto Piaget, 1994) - É urgen-


te a escolha entre o prolongamento do combate feroz
que o ser humano tem feito à natureza e o início do
diálogo entre ambos. No limiar de uma luta de morte,
é necessário prever um contrato, realizar um acordo
entre os homens para preservar a Terra, com a qual a
humanidade precisa estabelecer paz para garantir a
própria sobrevivência.

Repensando o Partido Verde Brasileiro (Ateliê Edi-


torial, 2004) explica a ideologia verde e os cami-
nhos políticos que o partido propunha quando do
lançamento do livro. O autor, Tibor Rabóczkay,
argumenta que não há solução para problemas so-
ciais à custa do ambiente. Ele também aborda as
relações entre direita e esquerda e os dilemas do
“onguismo”. Ao final, discute algumas questões po-
lêmicas como a compatibilização entre cristianis-
mo e controle de natalidade.

Partidos Políticos no Brasil (1945-2000) (Zahar, 2000) Em O Príncipe (várias edições), um clássico sobre
é uma bora de referência, que organiza as informa- pensamento político, Maquiavel mostra como fun-
ções sobre a origem e o desempenho eleitoral dos ciona a ciência política. Discorre sobre os diferentes
partidos brasileiros após o fim do Estado Novo, du- tipos de Estado e ensina como um conquistar e man-
rante os anos do autoritarismo e na experiência de- ter o domínio sobre um Estado. Trata, ainda, das
mocrática contemporânea iniciada em 1985. virtudes que o governante deve adquirir e dos vícios
que deve evitar para se manter no poder.

Em Estado e democracia: Uma introdução ao estudo


da política (Zahar, 2021), misto de guia para inician-
tes e ensaio de interpretação do presente, os profes-
sores André Singer e Cicero Araujo e o pesquisador
Leonardo Belinelli combinam a sua longa experiência
de ensino da disciplina na Universidade de São Paulo
e a investigação teórica. Entre o nascimento da políti-
ca na Antiguidade clássica e o fantasma de um “tota-
litarismo neoliberal” nos dias correntes, os autores
apresentam a origem do Estado moderno, o impacto
do temido Leviatã, o clarão renovador das revoluções
democráticas, o horror do regime totalitário dos anos
1930 e o igualitarismo do pós-guerra. Hoje, quando es-
pectros regressivos voltam a apertar corações e men-
tes ao redor do mundo, é necessário concentração
para pensar e discernimento para agir politicamente
de modo a afastar os perigos que rondam – e retomar
o caminho da liberdade, da igualdade e da fraternidade
apontado mais de duzentos anos atrás.

49
Pensar Verde

Para assistir
No filme Curral (2020), disponível na Netflix, Joel é
um advogado que está na disputa para a eleição de ve-
readores na cidade de Gravatá, em Pernambuco. Ele
decide convidar seu antigo amigo Chico Caixa para
participar da campanha, angariando votos de um
bairro simples do município através da promessa
do fornecimento de água. Apesar de receoso, Chico
aceita, mas se vê atravessado por forças conflitantes
enquanto questiona a ética desse tipo de campanha. 

Baseado em fatos reais, Argentina, 1985 (2022) traz


a história verídica dos promotores públicos Julio
Strassera e Luis Moreno Ocampo, que ousaram in-
vestigar e processar a ditadura militar mais sangren-
ta da Argentina. O filme vem sendo aclamado por sua
força e pela história que o Brasil sequer pôde viver,
porque “Nós não enfrentamos o passado”, como bem
colocou a historiadora e escritora Heloisa Starling,
professora da UFMG. Disponível na Amazon Prime.

O filme No se passa no Chile, em 1988. Pressionado


pela comunidade internacional, o ditador Augusto
Pinochet aceita realizar um plebiscito nacional para
definir sua continuidade ou não no poder. Acredi-
tando que fosse uma oportunidade única de pôr fim
à ditadura, os líderes do governo resolvem contratar
René Saavedra (Gael García Bernal) para coordenar
a campanha contra a manutenção de Pinochet. Com
poucos recursos e sob a constante observação dos
agentes do governo, Saavedra consegue criar uma
campanha consistente que ajuda o país a se ver livre
da opressão governamental. O filme, de 2012, pode
ser assistido no Telecine.

Extemistas.br (2023) é uma série produzida pela Glo-


boplay que acompanha políticos, influenciadores e
militantes arrependidos para mostrar como a radi-
calização sequestrou o debate público no Brasil, cul-
minando nos atos antidemocráticos.

Democracia em vertigem, de Petra Costa (2019), retra-


ta um dos períodos mais dramáticos da história do
Brasil. No filme, o político e o pessoal estão entrela-
çados pela narração de Petra. Por meio de relatos de
seu complexo passado familiar e acesso sem prece-
dentes a líderes do passado e do presente, a cineasta
analisa a ascensão e a queda desses governantes e a
polarização de uma nação. O filme pode ser conferi-
do na Netflix.

50
Revista de debates da Fundação Verde Herbert Daniel

Jango, de 1984, é um documentário dirigido por Sil-


vio Tendler que retrata a história de João Goulart,
conhecido como Jango (1919 - 1976). A obra acom-
panha a sua entrada na política, o golpe e o exílio no
Uruguai. O documentário ainda reúne depoimentos
de personalidades brasileiras.

Em Getúlio (2014), os últimos dias do ex-presiden-


te do Brasil, Getúlio Vargas (Tony Ramos). Uma
crise é desencadeada após um atentado quase ma-
tar seu maior opositor, o jornalista Carlos Lacerda
(Alexandre Borges). O presidente é o principal sus-
peito como mandante do crime e a oposição quer ti-
rá-lo do poder, mas ele tenta defender sua inocência,
antes de cometer suicídio. Disponível na Netflix.

O filme Torre das Donzelas (2018), de Susanna Lira,


expõe as torturas sofridas pelas mulheres presas
durante o período da ditadura militar (1964 - 1985),
por meio do relato de pessoas que foram persegui-
das. Entre elas, está a ex-presidenta Dilma Roussef.
O filme pode ser assistido na GNT.

Em Bacurau (2019), pequeno vilarejo do sertão brasi-


leiro, os moradores descobrem que não constam mais
em nenhum mapa. A comunidade local está ameaçada
e sofre com falta de recursos básicos e de políticas pú-
blicas. O filme retrata o cenário desigual do país, com
foco na resistência popular – na Globoplay.

Uma noite de 12 anos, que pode ser assistido na


Netflix, se passa em 1973, no Uruguai. José Mujica
(Antonio de la Torre), Mauricio Rosencof (Chino
Darín) e Eleuterio Fernández Huidobro (Alfonso
Tort) são militantes dos Tupamaros, grupo que luta
contra a ditadura militar local. Eles são presos em
ações distintas e encarcerados junto a outros nove
companheiros, de forma que não possam sequer
falar um com o outro. Ao longo dos anos, o trio busca
meios de sobreviver não só à tortura, mas também
ao encarceramento que fez com que ficassem
completamente alheios à sociedade, sem a menor
ideia se um dia seriam soltos.

Como se filiar a um partido político? Quais são as


vantagens e desvantagens de se filiar a um partido
político no Brasil? Quais são as regras? O vídeo foi
produzido para as eleições de 2018, mas vale a dica.
Disponível em: http://www.politize.com.br/.

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“É preciso estabelecer vínculos entre as lutas pelo direito
à posse da terra com as lutas que buscam ecologicamente
definir uma nova relação com a Terra.”

Herbert Daniel

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