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DISSERTAÇÃO-Pe - JOVENCIO-Em Curso - 2022
DISSERTAÇÃO-Pe - JOVENCIO-Em Curso - 2022
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Os conflitos armados contínuos em Moçambique e a consolidação da Paz
efectiva.
Supervisor:
Msc Mputu Mpia
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Índice
Declaração..................................................................................................................................................
Dedicatória.................................................................................................................................................
Agradecimento..........................................................................................................................................
Resumo....................................................................................................................................................viii
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO.................................................................................................................
1.1 Introdução........................................................................................................................................
1.2 Problematização...............................................................................................................................
1.3 Objectivos........................................................................................................................................
2.2. Paz......................................................................................................................................................
iii
2.3. Reconciliação.....................................................................................................................................
REFERÊNCIAS Bibliográficas.................................................................................................................
iv
Declaração
Eu Jovêncio Vieira Culibena, declaro por minha honra que este trabalho de Dissertação é da
minha autoria, resultado da minha própria pesquisa sob orientação do regulamento académico
da Universidade Católica de Moçambique. O seu conteúdo é original e todas as fontes
consultadas estão devidamente citadas no texto, de acordo com as normas APA, e nas
referências bibliográficas. Declaro ainda que nunca foi apresentado em alguma instituição de
ensino como trabalho avaliativo para a obtenção de qualquer grau académico.
________________________________________
Jovêncio Vieira Culibena
v
Quelimane, Outubro de 2022
_______________________________________________
Supervisor
______________________________________________
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Dedicatória
Dedico este trabalho ao meu pai Vieira Culibena Ajuja, à Minha irmã Graciela Vieira
Culibena, aos meus tios Pierino Culibena Ajuja e Horácio Culibena Ajuja, ambos de feliz
memória, que não tiveram a honra de viver este momento de conquista; à minha mãe Anjurda
Remédio Malaleia, mulher sempre presente na vida dos filhos para dar acompanhamento aos
seus passos.
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Agradecimento
Meu sentimento de gratidão manifesta-se ao Deus altíssimo pela bênção, protecção em
momento de escuridão e por prover energia e sabedoria para discernir o bem do fútil.
Endereço também a minha gratidão ao Msc Mputu Mpia pela paciência, perseverança e
vontade de orientar o desenvolvimento deste trabalho de pesquisa. A todos os docentes
facilitadores dos módulos de Mestrado em Ciência Política, Governação e Relações
Internacionais, se endereçam os meus agradecimentos; Meu agradecimento é extensivo aos
colegas da turma pelo apoio moral. Não deixo também de reconhecer a abertura do Bispo
Diocesano, Dom Hilário da Cruz Massinga, em permitir que o plano de estudo seguisse o seu
curso, e o gradeço especialmente por depositar a confiança em mim. Na lista dos agradecidos,
consta também o Msc Gaudêncio Material Álves, o então coordenador do curso e actual
Director Adjunto Pedagógico, que se tornou fonte de inspiração para concepção do tema deste
trabalho. E agradeço de igual modo a direcção da Faculdade de Ciências Sociais e Políticas,
aos meus irmãos e a todos os que directa ou indirectamente deram o seu contributo para a
elaboração deste trabalho.
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Resumo
O presente estudo discute sobre os contínuos conflitos que se registam em Moçambique após
a assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma, em 1992. A paz é tida como um bem maior
que a população inteira de uma nação almeja. Os conflitos armados que se fazem sentir
ameaçam e perturbam a paz e a segurança da população. É por isso que o presente trabalho
apresenta-se com os objectivos de: compreender os conflitos armados em Moçambique,
Identificar as causas dos conflitos armados, que continuam a perturbar o bem-estar da
população, Analisar as consequências dos conflitos armados, identificar as razões da não
consolidação da paz em Moçambique e descrever possíveis caminhos para a consolidação da
paz efectiva. Perante estas situações apresentadas, no que concerne ao problema identificado,
vale explicar que o estudo é desenvolvido com base no método de estudo de carácter
exploratório conjugado com o carácter explicativo, com a abordagem de natureza qualitativa.
A recolha de dados é efectuada através da entrevista semi-estruturada que conduz aos
resultados que levam a concluir que a paz é um valor social que deve ser preservado e que a
reconciliação é um dos caminhos para a manutenção da paz. Ademais, para garantir o
processo da consolidação da paz, é preciso olhar para as razões que estiveram na origem dos
conflitos.
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Abstract
This study discusses the ongoing conflicts in Mozambique after the signing of the General
Peace Agreement in Rome in 1992. Peace is regarded as a greater good that the entire
population of a nation craves for. The armed conflicts that take place threaten and disturb the
peace and security of the population. This is why the present paper is presented with the
objectives of: To identify the causes of the armed conflicts in Mozambique, which continue to
disturb the well-being of the population. In view of these situations presented, with regard to
the problem identified, it is worth explaining that the study is developed on the basis of the
study method of an exploratory nature combined with an explanatory nature, with an
approach of a qualitative nature. Data is collected through semi-structured interviews that lead
to the conclusion that peace is a social value that must be preserved and that reconciliation is
one of the ways to maintain peace.
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CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
1.1 Introdução
Depois de muitos anos vividos em terror de guerra fratricida, os moçambicanos
chegam a um consenso de buscar caminhos para o alcance da paz, pois o próprio povo já se
sentia cansado de tanto sofrimento. Foram 3 (três) acordos assinados com o mesmo objectivo
de garantir a segurança e a tranquilidade do povo; em 1992 foi assinado o Acordo Geral de
Paz (AGP), em Roma, em 2014 foi assinado o Acordo de Cessar Fogo (ACF) em Maputo e
em 2019 assinado o Acordo de Paz e Reconciliação de Maputo (APRM).
A paz é a base e o bem maior que força as autoridades governamentais a optar por um
diálogo fraterno no sentido de achar solução para as diferenças. Não se verificando os frutos
dos acordos assinados por três vezes em nome da garantia de segurança e tranquilidade do
povo moçambicano, nasce a preocupação de procurar saber as razões da contínua presença de
hostilidades e a não consolidação da paz.
É neste contexto que, iluminado por esta situação da continuidade dos conflitos,
desenvolve-se este estudo subordinado ao tema Os conflitos armados contínuos em
Moçambique e a consolidação da Paz Efectiva . Considerando que Moçambique é um país
que passou por vários estágios de conflitos e busca da Paz, é oportuno fazer uma pesquisa
nestes moldes para perceber o que está por trás dos contínuos conflitos armados que
perturbam a paz alcançada com muito sacrifício através do Acordo Geral de Paz (AGP) de
1992, em Roma. Ou por outra, uma vez alcançada a paz em Moçambique, verifica-se a
reincidência de conflitos cada vez mais ameaçadores colocando em perigo a vida das pessoas,
bens e o desenvolvimento sócio- económico.
À primeira vista, quem observa a realidade do relacionamento entre os membros da
máquina governativa de Moçambique e o maior partido da oposição, fica logo com a ideia de
que a reconciliação é o factor fundamental para que a paz seja consolidada. Mas para não se
cair no erro da dedução optou-se por se fazer uma pesquisa que favoreça uma resposta cabal à
preocupação.
Este estudo foi desenvolvido em quatro capítulos. O primeiro dedica-se à apresentação
dos elementos introdutórios como a própria introdução, a problematização, os objectivos a
alcançar e as questões de partida referentes ao problema em causa.
No segundo capítulo, são abordados assuntos que se referem ao marco teórico.
Fundamentando-se nos diversos autores, são apresentados pontos de vista dos estudiosos
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sobre alguns conceitos básicos achados necessários para o desenvolvimento do presente
estudo.
O terceiro capítulo centra-se nos procedimentos metodológicos nos quais são
explicados os passos seguidos para a efectivação do estudo e as técnicas usadas para a recolha
de dados e a consequente análise.
O quarto capítulo e o último está mais voltado para a análise dos dados. Após a
recolha das informações necessárias procede-se a respectiva análise e interpretação. É a etapa
da finalização do estudo, pois nela são apresentadas as respostas às questões de partida ligadas
aos objectivos. Por último segue a conclusão a que se chegou após o estudo e as possíveis
recomendações ou sugestões.
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1.2 Problematização
Desde que eclodiu a guerra de 16 anos em Moçambique, a que Dom Jaime chamou de
“guerra fratricida”, o maior anseio que pairava nos pensamentos e sentimentos dos
moçambicanos era o alcance da Paz. Foi uma guerra que causou muita destruição de
infraestruturas e vidas humanas, chegando a colocar as pessoas em condições desumanas.
Quando Joaquim Alberto Chissano assumiu a presidência do país, o seu objectivo foi garantir
que os moçambicanos experimentassem a sensação de viver em Paz tendo começado com o
processo da negociação para a assinatura do Acordo Geral de Paz.
Este processo foi auxiliado pelo empenho de diversos órgãos, tendo-se destacado a
Igreja Católica, o Conselho Cristão de Moçambique, a Comunidade Sant’Egídio e outros
órgãos da sociedade civil. Antes de ser atacado o pacote central da assinatura, era preciso
criar-se condições de diálogo entre as partes lideradas por Afonso Marceta Macacho
Dlhakama presidente da RENAMO e Joaquim Alberto Chissano, presidente da então
República Popular de Moçambique.
A primeira condição para a efectivação deste diálogo era a reconciliação entre as duas
partes. É neste contexto que Gonçalves (2014) citado por Sapato num artigo de comentário
sobre a obra A Paz dos moçambicanos, refere que os moçambicanos “se convenceram que
podiam resolver o problema das suas lágrimas e recuperar a alegria de viver através de um
processo próprio de reconciliação nacional.” Neste sentido, o processo de busca pela paz não
se devia desligar da ideia da reconciliação que possibilitaria o encontro entre as partes de
modo a dialogar para traçar os caminhos pelos quais se deve percorrer para se chegar à paz
efectiva.
Assim sendo, tendo-se descoberto que o diálogo e reconciliação eram imprescindíveis
para marcar os passos para a paz, eis porque várias organizações e as confissões religiosas,
deixando de lado as suas diferenças, propuseram-se a unir-se à causa da paz lançando-se ao
campo da busca da reconciliação nacional.
O primeiro passo executado foi a reconciliação do governo com as confissões
religiosas. De acordo com Gonçalves (2014), foi o presidente daquele Governo
revolucionário, Samora Moisés Machel, que terá convocado uma reunião entre “a Direcção
máxima do Partido e do Estado com as confissões religiosas existentes em Moçambique”(p.
35). O objectivo da referida reunião era o de reconciliar primeiro o governo com as religiões,
para que todos pudessem trabalhar em conjunto por uma mesma causa, a busca da Paz.
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Diga-se que não foi assim tão fácil a concretização deste plano da reconciliação, posto
que o próprio presidente continuava a ter um olhar desconfiante para as confissões religiosas.
É por isso que ao longo da reunião, depois da apresentação de todos os pontos de vista de
cada grupo participante, proferiu um discurso que, no entender de dom Jaime Gonçalves,
soava como um ataque directo à Igreja Católica, sendo esta considerada como aliada ao
colonialismo. E do mesmo modo é vista também como aliada ao “bandido armado”, quando
propõe uma negociação com os inimigos:
“Ouvimos aqui, há insinuações mesmo aqui dentro: apregoar a necessidade de haver
concórdia e paz entre todos os moçambicanos. Nós, moçambicanos de várias
tendências, estamos aqui dentro. Quem são esses outros? Que maneira é essa de
abordar o problema (pela Igreja Católica)? Isso significa claramente que esses
elementos, (da Igreja Católica romana) propõem a concórdia com bandidos armados.
Alguns pensam que os bandidos armados constituem oposição ao Estado e para se
alcançar a paz é necessário chegar a um acordo com eles. Esta é a filosofia dos que
apregoam a concórdia e a paz entre todos os moçambicanos” (Gonçalves, 2014, p.
39).
1.3 Objectivos
1.3.1 Objectivo Geral
Compreender os conflitos armados em Moçambique e o processo da consolidação da
Paz.
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1.5 Justificativa e relevância do estudo
De acordo com Oliveira (2011), a justificativa compreende a apresentação de forma
clara e objectiva das razões que fundamentam a pesquisa. Na mesma linha de pensamento,
Silva e Menezes (2005), sustenta esta teoria entendendo a justificativa como o processo de
reflexão sobre “o porquê” da realização da pesquisa procurando identificar as razões da
preferência pelo tema escolhido e sua importância em relação a outros temas. Olhando para o
que estes autores defendem sobre a justificativa, percebe-se que nesta etapa o pesquisador tem
o dever de explicar as razões que o levaram a escolher o tema e relação que existe entre ele e
o assunto a ser desenvolvido. É importante que, para a apresentação da justificativa, seja
questionado se o tema é relevante ou não, e se é relevante, porquê a relevância. É necessário
também explicar quais os pontos positivos, as vantagens e benefícios que o estudo poderá
proporcionar.
Assim, o que nos leva a fazer um trabalho de pesquisa sobre este aspecto dos conflitos
armados contínuos em Moçambique e a consolidação da paz efectiva é o facto de se registar
guerras contínuas em Moçambique após a assinatura do AGP em 1992.
Após a assinatura do Acordo Geral de Paz, novamente surgiram conflitos que
puseram em causa o desenvolvimento do país e a própria vida dos moçambicanos. Uma
análise sobre essa oscilação da paz nos faz pensar que, talvez, algo terá falhado no trato e
cumprimento das condições plasmadas nos protocolos. Assim, com este estudo vemos a
oportunidade de despertar a atenção dos moçambicanos e das partes envolvidas no processo
da negociação e assinatura dos acordos de Paz.
A escolha deste tema é motivada, do ponto de vista pessoal, pela preocupação de ver
os moçambicanos continuamente clamarem pela paz, uma vez já assinado o acordo que devia
garantir a paz. O surgimento de conflitos pós-eleitorais e as hostilidades registadas no centro
do país, suscitam um questionamento sobre a seriedade da paz em Moçambique. O desejo de
encontrar uma resposta sobre estes questionamentos que a maioria da população
moçambicana faz, levou-nos a conduzir um estudo com este tema.
É pertinente estudar sobre “Os conflitos armados contínuos em Moçambique e a
consolidação da Paz”, na medida em que, de acordo com o problema em causa, vai ajudar,
sob o ponto de vista sociopolítico, a ver em que estágio se encontra o processo de paz em
Moçambique e que rumo está a seguir. Já que, de acordo com Weimer (2020), “a
reconciliação nunca foi plenamente abraçada pelas autoridades”, o estudo possibilitará
compreender por que motivos esta reconciliação nunca foi plenamente aceite. Pretende-se,
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com este estudo, encontrar as causas que fazem com que a reconciliação seja ainda algo por se
concretizar na plenitude.
Depois que Moçambique teve uma experiência de 21 anos de paz, após a assinatura
do AGP em Roma, o povo voltou à experiência anterior de conflitos jamais desejada. Houve a
necessidade de se desenvolver mais outros processos de negociação para a assinatura de
novos outros acordos. Isso suscita uma análise em relação ao rumo que tenha tomado o
processo de 1992 e, também suscita um questionamento referente a seriedade no cumprimento
dos itens acordados no diálogo. E se o conflito retomou, isso revela que o processo de
reconciliação não tenha sido assumido na íntegra, quer por parte das autoridades
governamentais como também por parte da sociedade civil.
Sendo um projecto relevante, importa sublinhar que não é o primeiro estudo a ser feito
e, possivelmente não será o último, pois, pela sua relevância, haverá alguém que se interesse
por desenvolver o mesmo assunto noutra perspectiva. Ao terminar este estudo, espera-se que
traga benefícios na área académica contribuindo consideravelmente para outras e posteriores
pesquisas. Poderá trazer novos conhecimentos e uma nova forma de visão sobre os contornos
do processo da paz em Moçambique.
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CAPÍTULO II: MARCO TEÓRICO
Neste capítulo apresentam-se as definições que se acham mais consentâneas para o
entendimento das palavras-chave desta pesquisa.
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2.1.3.2. Visão de relações humanas
A segunda visão que é a de relações humanas é originária de uma escola que defende
que o conflito é natural e por consequência inevitável. Enquanto a visão tradicionalista
recomendava evitar a todo custo, esta segunda visão vê como um esforço inútil procurar evitar
o conflito. Se é inevitável, então o único remédio é aceitá-lo e tê-lo, em algumas ocasiões,
como benefício para o bom desempenho do grupo.
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Laura Colares, os conflitos serão distinguidos em: Conflitos Intrapessoais, aqueles que
ocorrem com a própria pessoa, isto é, são internos ao indivíduo; Conflitos Interpessoais,
aqueles que acontecem entre duas ou mais pessoas; Conflitos Intra-grupais, que são aqueles
que surgem dentro de um grupo, ou seja, são conflitos que acontecem entre pessoas
constituintes de um mesmo grupo; os Conflitos Intergrupais, são aqueles que ocorrem entre
grupos diferentes, podem dois ou mais grupos com visões diferentes sobre alguma realidade.
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projectos contrários de outra parte. Neste caso a primeira parte vê-se desafiada e em risco de
não atingir as metas desejadas. É neste contexto que surgem os conflitos.
De forma generalizada entende-se que os conflitos estão ligados ao poder e o
surgimento destes regista-se quando os objectivos desejados para a manifestação deste poder
são combatidos por outra parte que deseja manifestar o seu poder.
Além destes elementos apresentados como as causas dos conflitos, pode-se ter em
consideração a desconfiança entre as partes, quando não transparência na execução de uma
certa tarefa que exija prestação de conta. Os conflitos anteriores mal resolvidos ou não
resolvidos podem originar conflitos posteriores, pois eles já existem num estado latente
esperando apenas uma causa imediata para a sua explosão.
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resultados desejados, é aí que se chega a recorrer-se a armas para originar uma revolução com
o objectivo de forçar a outra parte a ceder aos interesses dos que se sentem insatisfeito. A isto
chamar-se-á de conflito armado. Um exemplo claro desse tipo de conflitos sociais é aquele
descrito por Marx e Engels (1982), em que os envolvidos são duas classes opostas: homens
livres e escravos, ou seja, homens opressores e homens oprimidos. Estas classes
desencadeiam uma luta entre si em que os objectivos são colectivos. Enquanto os burgueses
pretendem manter o seu regime de governação, os proletários pretendem revolucionar a
sociedade dando origem a um novo modelo de sociedade.
Silva (2011) apresenta-nos um outro exemplo de conflito social recorrendo aos factos
decorridos na Inglaterra no século XVII. Os burgueses que cresciam comercialmente e
ensaiando a sua ascensão política manifestam o seu descontentamento contra as actuações do
governo monárquico. É neste contexto em que surgem os descontentamentos dos
comaponeses que contestam o absolutismo que era um obstáculo para o desenvolvimento
comum.
Para dar solução a esta agitação, de acordo com Marcos José Diniz Silva, o filósofo
Thomas Hobbes aparece como um árbitro deste conflito entre a burqguesia e a monarquia,
propondo um modelo de sociedade em que a vida de ninguém deverá correr perigo. Pois no
estado de natureza em que os homens viviam, segundo Hobbes (1983) citado por Silva
(2011), estão numa situação de luta de todos contra todos, não havendo desta forma a noção
de justiça e de injustiça. Por não haver noção destas realidades, também os conceitos Bem e
Mal não encontram espaço nestas circunstâncias porque não há um poder comum para manter
a ordem.
2.2. Paz
Na tentativa de definir a paz, a Conferência Episcopal de Moçambique, sustenta que a
paz “evoca geralmente um estado de espírito, ausência de perturbações e agitação”. Assim
concebe a CEM sobre a Paz, mas também esta é a visão e a compreensão de muitas pessoas.
A paz vista como o oposto da guerra.
A visão da Paz como o oposto da guerra, está também patente nos pensamentos de
Raboco (2019), ao afirmar que “a ideia Paz como ausência de guerra, conduz à percepção de
que se há guerra é porque não há paz e se há paz, não há guerra” (Raboco, 2019 p. 40). Esta
visão não se contrapõe àquela apresentada pela Conferência Episcopal de Moçambique.
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Se a Paz vai ser vista como algo oposto à guerra, isto significa que enquanto não se
notar sinais de violência ou de guerra, o povo será visto como estando a viver em paz, o que
não é verdade. Pois existem situações em que não havendo guerra, como descrevem os bispos,
regista-se falta de paz, mesmo que não tenha sido declarada uma guerra.
A paz não pode ser vista numa perspectiva muito restrita. A visão do conceito de paz
precisa de ser alargada de maneira a enquadrar a questão da responsabilidade de todos os
cidadãos no processo de manutenção e cultura da paz.
Silva (2002), para definir a Paz olha para dois polos opostos nos quais se situam dois
termos antagónicos: num polo a Paz e no outro a Guerra. Portanto, a paz e a guerra são
realidades que não podem coabitar, já que são realidades antagónicas.
Na perspectiva de oposição dos polos paz e guerra, Johan Galtung (citado em Silva,
2002), ao tentar definir a paz, olha para a negatividade e a positividade do conceito paz. Daí a
origem das terminologias Paz negativa e Paz positiva. A paz negativa seria a “mera ausência
da guerra, o que não elimina a predisposição para ela ou a violência estrutural da sociedade”.
O que significa que na paz positiva verifica-se o calar das armas, mas no fundo há condições
para que a qualquer momento a guerra possa eclodir. A isto poderia chamar-se de Paz armada.
Ao contrário da Paz negativa, a Positiva “implica ajuda mútua, educação e interdependência
dos povos. A paz positiva vem a ser não somente uma forma de prevenção contra a guerra,
mas a construção de uma sociedade melhor, na qual mais pessoas comungam do espaço
social”.
Na visão de Galtung, a paz positiva seria resultado de uma busca contínua de esforços
para a manutenção de boas relações interpessoais. A ajuda mútua e a educação dos povos são
armas ricas para evitar um descontentamento entre os membros de uma mesma sociedade, e
assim evita-se a eclosão de um possível conflito.
Para Sapato (2018), a Paz não deve ser apenas entendida como o calar das armas ou
ausência de conflitos. A paz pode ser também a sensação de calma e tranquilidade num
ambiente em que não se regista o ruído das armas:
“A Paz que as pessoas ao nosso redor imaginam é aquela sensação que traz calma,
tranquilidade, bem-estar, algum tipo de contentamento no dia-a-dia. Acontece que
esse tipo de Paz pode ter diversas origens. O uso de algumas substâncias
entorpecentes, por exemplo, podem dar à pessoa a sensação de calmaria, autocontrole,
submissão. É o caso de bebidas alcoólicas, para alguns, de cigarros para outros, ou até
mesmo outros tipos de droga. Música também pode ser um excelente recurso para
fazer com que alguém fique calmo. Uma boa prosa com amigos, um passeio
contemplando a natureza” (Sapato, 2018 p. 50).
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O que se pretende dizer com esta visão acima referenciada é que, algumas vezes as
pessoas têm uma ilusão de estar a viver num ambiente de paz quando na realidade não se trata
de uma paz efectiva. Posto que, as drogas podem também fazer pensar que se está em Paz. O
mesmo poder-se-ia dizer da paz no seio de uma sociedade. O calar das armas pode fazer
pensar que tenha-se alcançado a Paz que todos os homens anseiam, mas precisa-se entender
que externamente os homens podem abandonar as armas e interiormente ainda manter
guardado o ódio, o rancor, o desejo de vingança de uns contra os outros.
Portanto, não se pode falar de Paz olhando apenas na vertente do calar das armas, mas
deve-se olhar em todos os âmbitos que o homem se manifesta para garantir a sua
sobrevivência.
Aron (2002) entende a paz como a “suspensão, mais ou menos durável, das
modalidades violentas da rivalidade entre os Estados”. Na visão de Raymond Aron, há paz
quando, no intercâmbio ou nas relações entre as nações, não há manifestação de formas
militares de luta. Neste caso, tudo o que seja ameaça à paz deve estar longe do alcance dos
homens. Só assim se pode falar de paz.
Pureza (2000), no seu artigo Estudos sobre a Paz e Cultura da Paz, apresenta uma
visão ampliada do conceito de paz, inspirado por Johan Galtung. Partindo das terminologias
Paz Negativa ou ausência de guerra e Paz Positiva ou comunidade humana integrada e
harmónica, olha para a questão da violência da qual surgem os conceitos violência pessoal ou
directa e a violência estrutural que resulta da desigualdade de poder e injustiça social.
O terceiro conceito que completa os dois primeiros é a violência cultural, que é aquela
que se traduz no sistema de normas e comportamentos que legitimam socialmente a violência
directa e a violência estrutural. Para opor a esta apresentação das três formas de violência, foi
sintetizado o conceito de paz na fórmula seguinte de Galtung: Paz = paz directa + paz
estrutural + paz cultural. Segundo o entender de José Manuel Pureza, inspirado por Galtung, a
paz positiva directa consiste na bondade física e verbal, que é boa para o corpo, a mente e o
espírito pessoal e do outro. Este tipo de paz é geralmente orientado para a sobrevivência, o
bem-estar, a liberdade e a identidade;
2.3. Reconciliação
A Reconciliação é um conceito vasto e imprescindível na vida do homem que pretende
fazer um estilo de vida comunitária. Pois difícil é viver na companhia de alguém por um
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longo período sem ter desentendimentos. E para evitar que esses desentendimentos arruínem a
vida dos membros da comunidade ou sociedade, vale cultivar o espírito de reconciliação para
que o diálogo permaneça contínuo.
Na tentativa de definir a Reconciliação, várias abordagens são atribuídas ao conceito,
posto que há falta de consenso. Bueno (2015), olhando para as definições de vários autores,
alguns dos quais ele menciona os nomes na sua abordagem, (Lederach, 2001; Bar-Siman-Tov,
2004), entende que ela “revela-se como processo”. Pois, Lederach (2001), citado por Bueno
(2015), acha que a reconciliação, por consistir na mudança e redefinição das relações entre as
pessoas, “dá-se de forma processual”. É por isso que Bueno vai olha-la como um processo.
Porque trata-se de um processo de mudança e redefinição das relações interpessoais, o
reconhecimento e aceitação mútua, atitudes positivas e consideração dos interesses uns dos
outros, são elementos que caracterizam a reconciliação para que chegue a efectivar-se.
Na compreensão de António (2013), a reconciliação pressupõe um processo de
reaproximação. Visto que a reconciliação denota uma reaproximação, ela carrega um
significado moral que implica a reunificação de pessoas ou de coisas cujo destino era estar
juntas e por algum motivo encontram-se separadas. Culturalmente falando, o ser humano está
feito para viver em sociedade, unido aos irmãos com quem compartilha a mesma natureza
humana. Por isso mesmo, quando há uma ruptura dos laços de relação por qualquer motivo
que seja, há necessidade de renovação das relações anteriores. É aqui que a reconciliação tem
sentido.
O dicionário de língua portuguesa define a reconciliação como “restabelecimento das
relações entre pessoas que andavam desavindas” (Dicionário de Língua portuguesa, 1992
p.1407). O verbo reconciliar, do qual deriva o substantivo reconciliação, significa restabelecer
a paz e as boas relações entre pessoas que se tinham malquistado. Novamente volta-se à
noção de renovação dos laços rompidos por alguma razão, como forma de cuidar para que a
ligação entre pessoas humanas não deixe de ser um valor cultural.
Como que a concordar com as abordagens anteriores, Sapato (2018), começa por
recorrer à origem etimológica do termo reconciliação a fim de chegar à sua compreensão.
Parte do prefixo re que denota repetição e segue para o verbo latino conciliare que significa
‘vir juntos’ ou ‘reunir’.
A III Semana nacional de Fé e esperança entende que a palavra reconciliação “vem do
verbo conciliar que significa concordar ou estar de acordo”. Logo, se conciliar significa estar
de acordo, então reconciliação poderá significar estar de acordo novamente. Isto nos remete a
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uma relação que anteriormente estava bem, por alguma razão houve uma ruptura e pretende-
se reatar os laços desfeitos. É aqui que entra a palavra reconciliação para significar voltar a
estar novamente de acordo.
Na tentativa de conceituação da reconciliação, (Lederach, 1997; Bloomfield et al.,
2003 citados por Bueno, 2015) defendem que a reconciliação se necessita em sociedades que
experimentaram conflitos internos violentos e prolongados e que esses conflitos tenham
deixado marcas da perda da confiança, transmissão dos traumas e ressentimentos entre
gerações e finalmente marcas do esforço de autoafirmação da identidade de cada grupo que
origina a negação de uns aos outros.
É inegável que a reconciliação seja um processo, de acordo com a defesa de Bueno
(2015), um processo que não acontece de um dia para o outro. É um processo que segue uma
dinâmica com um determinado objectivo a ser alcançado que é a construção e a cura das
feridas criadas pelo conflito. Apesar da ambiguidade no modo de se entender a reconciliação,
há que considerar que a maioria dos autores fazem transparecer a ideia de um reatamento de
laços que existiram e que, por algum motivo, foram rompidos. Um reatamento que implica o
recomeço das relações com um novo compromisso de aceitação mútua. Neste sentido, desde a
origem etimológica do conceito até a visão dos vários autores, fica claro que a reconciliação
visa um reencontro entre as partes separadas.
2.4. Confiança
Para falar da confiança, Gustavo Miranda António (2013), não define como ela é
entendida, mas explica como se manifesta uma pessoa que confia:
“Quando confiamos em alguém, nós estamos sempre em certa medida vulneráveis,
mas nós somos capazes de aceitar a nossa vulnerabilidade devido à nossa relativa
confiança de que, mesmo na ausência de certeza quanto ao que pode ocorrer em dada
situação, os outros estão propensos a agir bem, ou decentemente, em relação a nós”
(P. 79).
O autor vai mais longe ao explicar que a confiança envolve expectativas normativas
compartilhadas. Confia-se em alguém não porque se está confiante na regularidade do seu
comportamento, mas também confia-se em alguém quando há convicção de que entre as
razões que o levam a agir de certa forma, está por trás um comprometimento com os valores.
Então é este comprometimento com os valores que leva o indivíduo a depositar a confiança
em certa pessoa.
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Neste contexto, ao falar-se do processo de reconciliação, a confiança não ficaria de
fora visto que ela é um elemento importante para a concretização do desejo de ambas as
partes que pretendem reconciliar-se, acreditando que cada uma delas assumirá com
responsabilidade o seu compromisso.
No entendimento de Limeira e Carneiro (2019), a confiança é uma segurança íntima
baseada na crença de que uma relação é sustentável e que o outro é consistente. Se a
confiança é segurança íntima baseada na crença daquilo que se vive, significa que ela é gerada
ao longo de todo o processo de conhecimento e vivência da relação entre as partes envolvidas
na relação.
19
constantes e os actores envolvidos são do mesmo Estado, como também os conflitos ocorrem
dentro do mesmo território nacional, então poder-se-á classificar seus conflitos como
domésticos.
Uma vez sabido que os conflitos podem ser classificados em nacionais e
internacionais, há que saber também que os conflitos internacionais podem ser classificados
segundo as suas causas. Nesta perspectiva, Waltz (2004), na sua clássica obra, O Homem, o
Estado e a Guerra, apresenta três níveis de análise através dos quais são encontradas as
causas da guerra.
Assim sendo, temos o nível individual, em que se olha mais para as características
individuais e psicológicas dos líderes estadistas que se tornam elementos importantes para
influenciar nas decisões na arena internacional. No nível doméstico ou nacional são
relacionados os conflitos internacionais com a estrutura interna de um Estado. Nesse
relacionamento, as estruturas como sociedade, cultura e instituições são tidas como os
elementos influenciadores nas acções estatais. E nesse sistema, a posição de cada Estado é
que constitui um factor determinante do modo como o Estado agirá no plano externo.
É nesta perspectiva que o antigo Secretário Geral da ONU, Cofi Anan, no seu discurso
citado por Ribeiro (2010, p.6), refere que “desde 1970 houve mais de 30 guerras em África, as
quais na sua maioria tiveram origem em conflitos internos”. E os conflitos internos
geralmente costumam ser provocados por uma revolta de alguns descontentes que não se
conformam com a maneira de governar da autoridade no poder.
Note-se que a guerra fria influenciou e contribuiu bastante para o surgimento das
guerras inter-estatais e guerras internas. Pois as super-potências de então, Estados Unidos da
América e a União das Repúblicas Soviéticas Socialistas, em consequência das suas
pretensões de mostrar o seu poderio económico criando assim rivalidades entre elas,
financiavam os líderes africanos e ofereciam armas para que estes investissem em guerras de
modo que africanos estando em guerra entre si as potências tiveram o caminho aberto para
exploração dos recursos naturais.
Neste contexto em que os líderes africanos se distraem com as guerras e se deixam
corromper com as ofertas estrangeiras, alimentam um espírito de corrupção. Porém, quando as
super-potências se retiram do terreno africano com o sessar da guerra fria, os líderes africanos
mergulhados na corrupção, ficaram mais voltados para si mesmos do que com as necessidades
da maioria da população. Um ambiente desagradável se instala, pois de acordo com a
descrição de Ribeiro (2010), diversos governos africanos começaram a enfrentar situação de
contestação por parte da população, questionamento a respeito da legitimidade da sua
autoridade e uma pressão para o regime democrático.
Com as revoltas populares, os conflitos que eram inter-estatais passaram para conflitos
internos e tornaram-se violentos. Como observa Edgar Marcos de Bastos Ribeiro, os conflitos
desse género, resultantes de revoltas, são pouco sofisticados porque os combatentes não são
militares treinados, mas grupos soltos de rebeldes e até crianças recrutadas à força.
21
ambiente de corrupção e as populações revoltadas questionaram a sua legitimidade, então
pode-se entender que os conflitos resultem da má governação.
Para Ribeiro (2010), os conflitos resultam da perda de autoridade do Estado originada
pela má governação, a corrupção exacerbada que causa a degradação da economia, a
insegurança do Estado, a falta de serviços básicos e infra-estruturas para a acomodação da
população e a incapacidade de garantir o bem-estar das populações. Outros factores que
podem estar por trás dos conflitos são as políticas de divisão regional ou discriminação étnica
e social que origina frustração por parte de alguns grupos mal situados na sociedade ou que se
sentem excluídos na vida do Estado pois os seus ideais, as suas opiniões são vistas como
ameaça.
Serge, Markus e Xavier (2002), apresentam outros factores que constituem causas dos
conflitos internos em África. Na sua visão, o controlo dos recursos económicos fixado nas
mãos de uma minoria do aparelho do Estado em detrimento da maioria da população pode
estar na base do nascimento dos conflitos; a instabilidade regional provocada pelos
movimentos de refugiados que procuram abrigo nos países vizinhos, aumenta a pressão sobre
o governo chegando, algumas vezes, a provocar conflitos nas zonas fronteiriças. Este factor
não deve ser descartado, pois esses conflitos fronteiriços irão alastrar-se até atingir todo o
Estado.
Ligado ao movimento dos refugiados está a questão das alterações demográficas.
Segundo Serge, Markus e Xavier (2002) o crescimento populacional em algumas áreas, talvez
provocado pelas migrações que podem ser para as cidades ou para o campo, origina uma
concorrência pela terra e recursos naturais provocando um desequilíbrio que causa tensões
agravadas pela pobreza e desemprego exagerado.
De forma sumária fica claro que os conflitos em África, na sua maioria, são
consequência da má governação de líderes que preocupados em saciar a si mesmos criam um
divisionismo no seio da sociedade originando desta feita revoltas por parte dos insatisfeitos
com a forma de governação.
22
independência em 1975 e da paz em 1992 com a assinatura do Acordo Geral de Paz em
Roma. Seguiram-se outros dois acordos assinados em 2014 e em 2019 respectivamente.
A assinatura sucessiva dos acordos de paz mostra que Moçambique experimentou um
período longo de conflitos armados desde o período colonial. Abaixo uma descrição dos
diferentes conflitos armados pelos quais Moçambique passou até a assinatura do Acordo de
Paz e Reconciliação de Maputo (APRM) de 2019.
23
em Cabo Delgado, que consistiu no massacre de 600 pessoas pelas forças policiais
portuguesas quando se dirigiam ao posto administrativo para reclamar a independência.
Na óptica de Muiuane (2006), esta reclamação da independência, era uma
manifestação pacífica à qual os portugueses reagiram de maneira brutal em 16 de Junho de
1960, tirando a vida de mais de 500 moçambicanos. Muiuane recorda com muita tristeza que
o massacre demonstrou que qualquer tentativa de alcançar a independência de forma pacífica
seria inútil e ineficaz, de maneira que o único caminho seguro que garantiria o retorno do país
aos moçambicanos seria “a força, a violência revolucionária, a luta armada”. É neste contexto
que Moçambique vê-se envolvido num primeiro conflito interno para combater o
colonialismo português.
24
com a assinatura dos Acordos de Lusaka, em 07 de Setembro de 1974, pondo fim à guerra de
10 anos. É nesta perspectiva que Carlos Mussa afirma que ficou acordada a instituição de um
governo de transição, talvez como fruto das negociações, constituído por representantes da
FRELIMO e de Portugal.
25
Coelho (2006) apresenta como principais variáveis que concorrem para o surgimento de
guerras civis a pobreza, a distância temporal em relação a um conflito anterior, a dominância
étnica e a instabilidade política. Estes antecedentes encontram enquadramento na situação de
Moçambique no que diz respeito ao processo do fim da guerra de libertação e o início da
guerra civil. Quanto a questão da pobreza é evidente que Moçambique está na lista dos países
mais pobres. A segunda variável que tem a ver com a distância temporal dos acontecimentos,
o autor João Paulo Borges Coelho, explica que se existir menos tempo entre um conflito
anterior e os acontecimentos futuros, maior é a probabilidade de surgimento de uma guerra
civil. E os factos de Moçambique confirmam isto. Dois anos após o fim da guerra de
libertação, começa a guerra civil entre o Governo da FRELIMO e os dissidentes que
constituíram a RENAMO.
A terceira variável é referente a dinâmica étnica em que, no caso de Moçambique, o
grupo envolvido na luta de libertação é maioritariamente do centro e norte, mas a liderança da
FRELIMO é dominada por pessoas do sul. E presume-se que isso tenha causado dissidências
regionais no movimento que conduziram à eclosão da guerra civil. E a quarta e última
variável é a instabilidade política. No que se refere a esta variável, de acordo com o autor
acima citado, após a luta armada, Moçambique caracterizou-se por assumir um regime não
democrático cujo seu processo de repressão dos traidores originou o MNR (Mozambique
National Resistence), tornando-se, assim, um movimento constituído por dissidentes do
movimento de libertação.
De acordo com Meneses (2015), a eclosão da guerra civil foi motivada por
antecedentes que começaram a manifestar-se ainda no contexto da luta contra o colonialismo.
Maria Paula Meneses olha para o surgimento de contradições políticas, militares e
administrativas no seio da própria FRELIMO, que causaram a morte de muitos membros do
movimento como é o caso de Eduardo Mondlane, como um dos factores antecedentes. Foram
estas divergências internas que originaram dois projectos distintos ligados a condução da luta
e os projectos a desenvolver após a independência.
O crescimento das divergências motivou Uria Simango, o então Vice-Presidente do
movimento de libertação, a apresentar algumas críticas aos ideais da FRELIMO que buscava
radicalizar a revolução. Segundo Meneses (2015), Uria Simango observava que a FRELIMO
ainda não estava devidamente preparada para combater os portugueses e seus aliados e ao
mesmo tempo travar uma guerra contra uma classe burguesa nacional. Era sua preocupação
questionar o espírito de “deixa andar” que se tinha instalado no Comité Central, denunciar a
26
presença maioritária de pessoas do sul na liderança da FRELIMO, que era urgente remover.
Esta atitude de Simango foi interpretada como a voz do inimigo interno ao serviço do
colonialismo e, como consequência, foi expulso da partido.
Outro elemento menos importante que entra na lista dos antecedentes da guerra civil é
a atitude da FRELIMO de se autoproclamar como único representante do povo e declarar total
intolerância face a qualquer tentativa de oposição vista como inimiga.
Além destes antecedentes, podem ser destacadas causas externas e internas. Das
externas
27
Os ataques que marcaram o início do conflito armado em 2013, em Moçambique,
foram antecedidos por vários acontecimentos que se supõe terem contribuído profundamente
para a eclosão dos mesmos.
Após a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) ter vencido às eleições de
1999, a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO) insatisfeita com o resultado e,
baseando-se na alegada falta de transparência, põe-se a protestar. Em consequência disso,
segundo a DW África (2014), mais de 40 civis foram mortos em tumulto ligado ao protesto
dos resultados das eleições. Além deste facto, em 2009 o presidente da RENAMO, Afonso
Dhlakama, profere uma ameaça pública com o pretexto de voltar a desencadear uma guerra
caso voltasse a perder as eleições que estavam prestes a realizar-se.
Em 2012, quando o país completava 20 anos de paz, celebrava-se o 20º aniversário do
AGP, situação que aumentou a insatisfação da RENAMO, como descreve a DW África
(2014). Isto significa que para a RENAMO não fazia sentido celebrar o 20º aniversário do
AGP enquanto os assuntos acordados não estavam a ser implementados. A RENAMO começa
a exigir ter “mais acesso às instituições do Estado, às Forças Armadas e à Comissão Nacional
de Eleições (CNE)”.
No mesmo ano em que se celebrava o 20º aniversário do AGP e a RENAMO
manifestava a sua reclamação, segundo Chaimite (2014), começam as primeiras tentativas de
negociação com o Governo cujo objectivo era a discussão sobre o pacote eleitoral que a
própria RENAMO considerava estar mais favorável ao partido FRELIMO. Estavm inclusas
também na lista da discussão, as questões ligadas à integração dos ex-guerrilheiros da
RENAMO nas Forças Armadas de Moçambique (FADM) e a despartidarização do aparelho
de Estado.
Facto curioso é que o processo das negociações ocorre em paralelo com a tensão
política que se convertia em tensão militar. E concretizando-se a violência, desde então, foram
registando-se mortes de civis, policiais e militares da RENAMO, como se lê na descrição de
Egídio Chaimite em que um ataque ocorrido em Abril de 2013 na esquadra da polícia em
Muxúnguè causa a morte de quatro policiais e um militante do maior partido da oposição.
Deste ataque em diante seguem-se situações que deixaram o país num caus preocupando toda
sociedade civil. De ataque a esquadra passou-se para ataque a pessoas civis e autocarros na
Estrada Nacional:
“No mesmo período começam os ataques na Estrada Nacional Nº 1. Autocarros e
Camiões são incendiados. O paiol de Save, no distrito de Dondo, província de Sofala,
é atacado. Militares e civis são mortos nas incursões. Os discursos belicistas
28
intensificam-se, sobretudo quando se aproximava o período de realização das quartas
eleições autárquicas do país” (Chaimite, 2014).
29
Chaimite (2014) aponta questões de intolerância política, a exclusão, o aumento da
pobreza e das desigualdades entre as classes sociais como as possíveis causas da eclosão da
tensão político-militar de 2013. É verdade que o nosso autor fala da intolerância política,
porém é preciso ter-se em consideração também a questão da intolerância da liberdade de
expressão.
Situação ligada aos factores que causaram a instabilidade política e social em 2013 é a
exclusão dos partidos pequenos do mundo político. Egídio Chaimite fala de marginalização e
exclusão dos mesmos partidos do campo político moçambicano. Porque esta atitude de
exclusão afectava também a RENAMO, esta viu-se obrigada a buscar novas estratégias na
tentativa de encontrar lugar que a acomodasse.
Das estratégias achadas pela RENAMO, regista-se a negociação com o governo
moçambicano, segundo descreve Egídio Chaimite, para discutir o pacote eleitoral que muito
favorece a FRELIMO comparativamente com a RENAMO.
Segundo nos descreve Vines (2019), por volta do ano 2009, no mês de Maio, Afonso
Dhlakama, havia-se deslocado para a província de Nampula, onde fixara residência. Mas em
2012, sai de Nampula para Gorongoza onde se instala em Satunjira. Como se pode notar, a
permanência de Dhlakama em Nampula, o torna distante dos seus simpatizantes e o seu poder
se enfraquece gradualmente. A única forma viável de voltar a consolidar o seu poder e
reconquistar a sua popularidade e a capacidade de negociação com o governo moçambicano
era regressando ao centro e monitorar uma violência armada a figuras específicas, como relata
Alex Vines. Este pode ser um dos factores que conduziram à eclosão dos ataques no centro do
país.
Apesar de todos estes factores acima referenciados, que se tornaram a causa do
surgimento do conflito armado em 2013, não deve deixar-se de considerar um elemento muito
importante que impulsionou e motivou o começo dos ataques: a existência de forças residuais
da RENAMO, com o conhecimento do governo moçambicano, cujo pretexto era de garantir a
segurança ou a guarda do presidente do partido. Pois, no entender de Darch (2018), sabendo
eles que tinham à sua disposição armas, não tardaram em recorrer a elas e começar
imediatamente os ataques como forma de pressionar o governo a ceder as suas vontades.
Esta apreciação é também apresentada por Vines (2019), segundo a qual “muitos
observadores ficaram surpreendidos com a facilidade da RENAMO em rearmar”. A análise
feita em torno desta situação pela Força Moçambicana para Investigação de Crime e
Reinserção Social (FOMICRES), dita que entre três e quatro milhões de armas estavam em
30
circulação no fim da guerra em 1992. A razão é que a prioridade da ONU no processo de paz
de 1992 não era o desarmamento, mas sim o desmantelamento das estruturas do comando da
RENAMO e a sua reintegração na vida social. Segundo Vines (2019) o apoio da Operação
das Nações Unidas em Moçambique (ONUMOZ) era no sentido de transformar a RENAMO
num partido político para concorrer as eleições de 1994. E para justificar este erro de se ter
deixado milhões de armas em circulação, Aldo Ajello, representante da ONU considera que o
seu receio era de que o desarmamento forçado pudesse minar o processo de paz que estava em
curso.
Outra razão que se tornou um dos principais impulsionadores do retorno ao conflito
em 2013 por parte da RENAMO foi a reclamação da RENAMO no sentido de ter a concessão
dos benefícios de pensões aos seus soldados, reclamação foi oposta pela FRELIMO. Mas a
mesma reclamação ressurgiu nas eleições municipais de 2003 nas presidenciais de 2004 que,
também por parte da FRELIMO, não teve acolhimento; por isso em 2013 é retomada a mesma
discussão e torna-se um impulsionador para o retorno ao conflito armado.
31
divisionismo do país, reflecte também o receio de perder as receitas advindas dos impostos
das províncias.
Na descrição de Alex Vines, o Estado receberia a metade dos impostos das províncias
sobre minerais, gás e petróleo extraído nas províncias:
Havia dois aspectos particularmente controversos do projecto de lei: os chefes de
postos administrativos e localidades seriam nomeados pelo novo ‘presidente da
província’ e as províncias dariam ao Estado metade de todos os impostos sobre
minerais, gás e petróleo extraídos na província. Nominalmente, a RENAMO,
através das administrações provinciais obteria receitas de algumas das províncias
mais ricas do país, nomeadamente Nampula, Zambézia, Tete, Manica e Sofala
(Vines 2019, p.17).
Tudo isto revela que a RENAMO já havia estudado a lição e calculado o quanto
arrecadaria das receitas para o sustento do seu partido. É de imaginar que num intervalo de
um ou dois mandatos em que a RENAMO estivesse no poder nessas províncias ganhas, teria
acumulado fundos suficientes para a sua manutenção económica. Por outro lado a FRELIMO
se sente ameaçada com esta situação porque a metade das receitas dos impostos não valeriam
a nada para o Estado.
A proposta de lei apresentada por Afonso Dhlakama podia parecer nova, mas um olhar
profundo mostra tratava-se de uma renovação e recordação do que estava plasmado na
legislação na década de 90. Segundo Darch (2018), tinha sido aprovada legislação que
possibilitava a devolução de poderes específicos a autoridades locais eleitas. Esta legislação
não foi do agrado da FRELIMO porque na linha dos seus conservadores, isto seria uma
tentativa de perda de controlo daquilo que sempre proclamaram como unidade nacional.
Um aspecto a ter em consideração, que leva a FRELIMO a não ver com bons olhos
esta ideia da descentralização, é o facto de atingir a ideologia deste partido em relação a
Moçambique como um Estado unitário concebido desde os tempos de luta pela libertação.
33
facilidade em se obterem armas e munição e ausência de policiamento adequado
Na linha dos impactos que a guerra pode causar, Bumbieirs et all (2022), observam
que a guerra propicia o surgimento de inúmeros tipos de violações dos direitos humanos
ferindo, desta forma, a dignidade humana de muitas pessoas privadas das condições básicas
de sobrevivência como por exemplo a falta de moradias, saúde, educação e alimentação. Em
unanimidade com Eduarda Hamann-Nielebock e Ilona Szabó de Carvalho, enquanto analistas
da guerra e seus impactos sobre a população civil, destacam a guerra Russo Ucraniana que,
em menos de dois meses, vitimou cerca de 5 264 civis, com 2 345 mortos e 2 919 feridos.
Estes números são assustadores quando se fala de morte de civis, pois são pessoas inocentes
que sofrem as consequências das guerras causadas por pessoas gananciosas.
Em relação as infraestruturas, há que destacar
34
mundo político fornecendo chaves para a resolução de conflitos. Começa por esclarecer o
entendimento sobre a manutenção da paz que consiste num processo de criação de uma
distância entre as partes antagónicas com a mediação de uma terceira parte. Poderia entender-
se como que a distância sendo resultado da presença da terceira pessoa que está a fazer as
mediações.
O segundo conceito que Johan Galtung desenvolve tem a ver com o restabelecimento
da paz, que é um discurso mais abrangente ligado a resolução de conflitos. Este conceito está
mais voltado para a preservação da própria paz e para o actor que se envolve directamente no
processo de conflitos.
Olhando com mais profundidade, o autor observa que a manutenção da paz não
satisfazia aos seus anseios porque na abordagem deste conceito entende-se o conflito como
interrupção do status quo, e que a solução para a situação do conflito era o retorno ao status
quo. O restabelecimento da paz também não correspondia aos anseios da sua proposta, pois
considera como uma solução estreita e elitista com uma negligência quanto aos factores
estruturais necessários para uma paz sustentável.
E para corrigir essas lacunas, propõe uma nova abordagem sobre a paz introduzindo o
novo conceito de Consolidação da Paz. Contrariamente aos outros primeiros dois conceitos, a
manutenção da paz e o restabelecimento da paz, este último conceito parece ser o mais seguro
porque vai atrás das causas directas, estruturais e culturais da violência. No lugar de criar um
distanciamento entre as partes antagónicas, procura aproximar mais as partes para ajudar a
descobrir as causas e assim trabalhar na base para a solução do problema.
A valorização do conceito da consolidação da paz consiste no facto de ter sido adotado
pelas Nações Unidas na sua missão da agenda para a paz.
35
Segurança, como também testemunhou a vitória do liberalismo e a sua enfase nos direitos
humanos e na democracia.
O segundo factor está ligado ao aumento dramático dos conflitos violentos que atingia
cerca de 50 países nos vários continentes, de acordo com Wallensteen & Sollenberg (2001:
632) citados por Cravo (2017), que ganhou visibilidade e proeminência na agenda
internacional. Finalmente, o terceiro factor diz respeito à natureza dos tais conflitos como as
guerras civis de contestação do poder estatal centralizado, que criou, no Ocidente, uma
opinião pública favorável ao intervencionismo, pois estas guerras eram consideradas
devastadoras, imorais, com efeitos desestabilizadores do sistema regional e internacional.
Estes três factores contribuíram sobremaneira para o avanço da agenda internacional.
Broutros-Ghali encarou as guerras como se fossem da comunidade internacional cabendo a
esta organização a responsabilidade de responder com muita determinação a esta preocupação
mundial. É assim que o Secretário das Nações Unidas avançou uma proposta que visava
enfrentar os desafios da Paz e da segurança depois da Guerra Fria. E estes desafios eram
consubstanciado na Agenda para a Paz de 1992.
Porque a proposta do Secretário das NU visava enfrentar os desafios da Paz e
segurança após a Guerra Fria, que era uma proposta sustentada pela Agenda para a Paz, é
importante sublinhar que, segundo Cravo (2017), o Secretário das NU adiantou também as
estratégias que facilitariam a actuação deste órgão: a diplomacia preventiva, conhecida por
preventive diplomacy, o restabelecimento da paz, a manutenção da paz e, finalmente, a
consolidação da paz.
A primeira estratégia procurava prevenir que uma situação de conflitos adormecida
chegasse a evoluir a ponto de tornar-se uma violência de facto e também procurava conter que
esta violência tornada de facto, não se alastrasse para outras áreas geográficas e até grupos
sociais.
A segunda estratégia, que é o restabelecimento da paz, tinha como objectivo dar apoio
às partes em conflito nas negociações da paz, fazendo uso dos instrumentos pacíficos.
A terceira estratégia, a manutenção da paz, era de envio de forças militares das NU,
Capacetes Azuis, para o terreno em conflito após o acordo entre as partes conflituosas a fim
de garantir que o processo de paz fosse efectivamente cumprido.
A quarta e última estratégia, que constitui uma grande novidade no vocabulário das
acções das NU é o conceito de consolidação da paz pós-conflito. No discurso de Teresa
Almeida Cravo sobre esta quarta estratégia que facilitaria a actuação das NU no processo de
36
busca de paz para os países em conflito, entende-se que a consolidação da paz é definida pelas
NU como “ações para identificar e apoiar estruturas que fortaleçam e solidifiquem a paz, de
forma a evitar um retorno ao conflito”.
37
3.2. Universo Populacional
De acordo com Richardison (1999), universo ou população é o conjunto de elementos
que possuem determinadas características. Usualmente fala-se de população ao se referir a
todos os habitantes de um determinado lugar.
Assim o universo da população deste estudo engloba pessoas de nacionalidade moçambicana
que viveram o período do conflito armado de 16 anos, assistiram à experiência do Acordo
Geral de Paz e o processo de reconciliação em Moçambique.
3.3 Instrumentos e Técnicas de Recolha de dados
Oliveira (2011), define as técnicas de colecta de dados como um conjunto de regras
utilizadas por uma ciência. No processo da colecta de dados uma variedade de técnicas é
usada, sendo as mais recorrentes: a entrevista, o questionário, a observação e a pesquisa
documental.
Entrevista – Tida como uma das principais técnicas de colecta de dados, é definida
como uma conversa interpessoal realizada entre o pesquisador e a pessoa entrevistada para
obtenção de informações sobre o assunto.
Por esta razão, para o desenvolvimento desta pesquisa adoptou-se a técnica da
entrevista a fim de estabelecer um contacto directo com a fonte (a pessoa entrevistada). Este
contacto permitirá a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, pensam, crêem
e esperam.
Esta técnica é importante porque permite desenvolver uma estreita relação entre as
pessoas facilitando a recolha exaustivamente das informações. Será uma opinião pessoal do
entrevistado referente ao problema da continuidade dos conflitos em Moçambique e a
fragilidade da paz.
Marcani e Lakatos (2003), na sua análise, observam que em qualquer investigação
nunca se utiliza apenas uma técnica, mas são combinadas duas ou mais técnicas usando-as em
simultâneo. Por este motivo, nesta pesquisa, para alé da técnica de entrevista, recorrer-se-á à
técnica de questionário que será definida a seguir.
Guião de entrevista – Instrumento de colecta de dados efectuado através de um
conjunto de perguntas dirigidas ao entrevistado. Esta técnica não exige que o pesquisador
esteja presente no lugar da entrevista. Bastará enviar o questionário à pessoa de quem se
pretende obter a informação. A escolha da técnica de questionário para combiná-la com a
entrevista, deve-se ao facto de apresentar algumas vantagens que favorecerão a economia do
tempo e dos custos das viagens, podendo-se obter uma quantidade considerável de dados para
38
o desenvolvimento do trabalho. Com esta técnica pode-se distribuir o questionário a muitas
pessoas em simultâneo podendo em pouco tempo obter muita informação.
39
Porque a preocupação é de verificar-se alguma mudança após o estudo, para formular
os resultados esperados, começamos por formular uma pergunta: o que vai mudar no país ou
na sociedade moçambicana, depois que eu concluir este estudo? A resposta a esta pergunta
será a formulação daquilo que se espera como resultados.
Temos então a ousadia de afirmar que após este estudo, espera-se que os
moçambicanos em geral tenham noção da importância da paz para Moçambique e para o
mundo inteiro. Pois, a paz sendo um bem comum, traz muitos benefícios à sociedade. A nação
tem a possibilidade de desenvolver através da livre circulação de pessoas e bens. Espera-se
que as causas que originam os conflitos em Moçambique sejam conhecidas e encontrada a
solução para elas. Conhecidas as consequência que podem advir dos conflitos os
moçambicanos terão que unir esforços de modo a evitar o surgimento de qualquer conflito,
pois estes destroem pessoas e bens, reduzindo o país à pobreza.
40
CAPÍTULO IV: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE
DADOS
4.1. Codificação dos entrevistados
41
Tabela 1
1. Na sua maneira de ver, qual tem sido a causa dos conflitos armados em
Moçambique?
DPR As causas dos conflitos armados são várias:
a) Passam pela desigualdade de distribuição de riquezas, pois não há razão
para Moçambique continuar a ser pobre;
b) Falta de implementação clara de políticas do Estado para o povo;
c) Falta do cumprimento integral dos acordos assinados entre a FRELIMO e
a RENAMO. Havia acordo de que devia se formar um exército único de 30
mil homens, mas foram absolvidos poucos e em pouco tempo foram
desmobilizados;
d) A partidarização das instituições do Estado.
DPF Três são as principais causas dos conflitos:
a) Ganância económico-financeira;
b) Luta pelo poder;
c) Ausência da real fé em Deus;
DMDM Nós combatemos o colonialismo dos brancos e acabou, mas entramos num
novo colonialismo, o dos pretos. Mesmo com a independência, havia
racismo e tribalismo e isto constitui a causa dos conflitos em Moçambique.
SC A causa dos conflitos armados em Moçambique é:
a) A busca desenfreada dos recursos naturais cuja exploração está
volta da para o benefício individual de alguns moçambicanos;
b) Falta de equilíbrio na distribuição das riquezas pelo país inteiro;
c) Espírito de cultivo de tribalismo ou regionalismo;
d) Falta de diálogo e consulta no acto da implementação das
políticas públicas.
MLTD Na minha maneira de ver a realidade é que a causa dos conflitos armados em
Moçambique é a ambição do poder politico, económico e social dos líderes.
Tabela 2
42
2. Pode dizer algumas consequências dos conflitos armados em Moçambique?
DPR As consequências dos conflitos armados em Moçambique são:
a) Destruição global do país;
b) Miséria do povo humilde;
c) Perda de vidas humanas;
d) Revitalização do ódio, rancor e vingança entre os moçambicanos.
DPF a) Acomodação da corrupção, porque ninguém faz o trabalho de controlo;
b) Fome e nudez;
c) Deslocados internos e externos ao excesso;
d) Perda de credibilidade noutros países e comunidades.
DPM Há várias consequências:
Podemos mencionar as doenças, a falta de emprego, a corrupção pois muitos
jovens formados ficam marginalizados sem encontrar emprego, assassinatos
desnecessários; temos matéria prima que poderia ajudar-nos a enriquecer o
nosso país, mas não estamos a saber gerir ou não estamos a conseguir
aproveitar. Os investidores deviam investir mais para os nossos filhos terem
emprego.
43
Tabela 3
3. Que impacto têm os conflitos armados no processo de desenvolvimento num
determinado Estado.
DPR O impacto dos conflitos armados é negativo, pois a consequência principal
dos conflitos armados é a destruição global, o que retarda o desenvolvimento
de qualquer Estado.
DPF Os conflitos têm muitos impactos e na sua maioria negativos; assindo sendo
podemos mencionar algumas situações que fazem com que o impacto seja
negativo:
a) Destruição de indústrias;
b) Destruição de escola;
c) Destruição de estradas e pontes;
d) Deslocação de pessoas e bens para locais inapropriados;
DPM A guerra nunca foi benéfica para a vida humana; ela aumenta a desgraça; a
guerra destrói tudo e causa o deslocamento de pessoas. Os conflitos trazem
retrocesso no país e provocam desconfiança entre as pessoas.
Tabela 4
4. Moçambique assinou o Acordo Geral de Paz em 1992. O que acha que fragiliza
a paz no País?
44
DPR O que fragiliza a Paz no país é o não cumprimento do que foi acordado nos
acordos de 1992; P. ex. nas questões militares; questões eleitorais; questões
de segurança dos altos quadros da RENAMO.
DPF O que fragiliza a paz em Moçambique é a falta de confiança entre as partes
partidárias; é o incumprimento da palavra no que se refere aos acordos
assinados; a quebra do contacto.
MLTD O que fragiliza a paz no país tem ligação com as causas dos conflitos: que é
a questão da ambição do poder politico, económico, e social de algumas
pessoas.
Tabela 5
5. Que caminhos seguir para consolidar a Paz em Moçambique?
45
e)Termos processos eleitorais credíveis;
f)Que a liberdade de expressão não seja posta em causa.
Tabela 6
6. Acha que a reconciliação pode ser a chave para a consolidação da Paz em
Moçambique? Se sim, explica porquê.
DPR Sim. A chave para a consolidação da Paz em Moçambique é a reconciliação.
Mas isso só pode acontecer se a verdade for expressa realmente, isto é,
quando o que é planificado for executado de cordo com o planificado. Não
porque Moçambique muitas vezes não é sério, mas porque em outras
situações, os governantes tratam o povo como crianças sem noção do que
está acontecer no país.
46
DPF Se a reconciliação fosse considerada como algo sério, teria sido a chave para
a consolidação da paz. A reconciliação é importante porque ela muda a
maneira de pensar das pessoas; afasta a desconfiança e garante que haja
entendimento entre as partes.
DPM A reconciliação é o ponto fundamental para a manutenção e consolidação da
paz, porém esta reconciliação deve ser acompanhada por um bom espírito de
diálogo que faça com que as partes se entendam e discutam em pé de
igualdade em torno dos projectos de desenvolvimento do país.
SC É, sim a chave para a consolidação da paz, todavia não fiquemos limitados
apenas à questão da reconciliação. Devemos saber que a reconciliação só,
não basta. É preciso reconhecer que o que impede a consolidação da paz é
mais uma questão gananciosa de riqueza e poder do que política.
MLTD Sim, a reconciliação pode ser a solução chave para a consolidação da paz em
Moçambique. Porém, é necessário que os próprios moçambicanos se abram
ao diálogo para que o processo de reconciliação seja efectivo.
Tabela 7
7. Como falar da reconciliação num ambiente de conflitos político-militar?
DPM É preciso que o governo aceite criar um único exército militar. Não se pode
falar de reconciliação num ambiente onde há dois exércitos militares como
resultado de desconfiança, pois a desconfiança provoca medo entre as
pessoas.
SC Não se pode falar de reconciliação num ambiente em que não se sabe
resolver as diferenças através de diálogo. Se as pessoas tiverem as armas
47
como seu único recurso para solucionar os problemas ou para afaztar o
oponente, numca haverá condições para falar de reconciliação.
MLTD Falar de reconciliação num ambiente de conflitos politico-militares é
impossível enquanto os moçambicanos não abandonarem a ideia do uso da
força armada como recurso para resolver os desentendimentos.
Tabela 8
8. Que recomendações deixa para que a Paz se efective por meio da
reconciliação?
DPF Quando a reconciliação não se efectivar, não temos a paz efectiva. O DDR
está interrompido. Depois de Tete, parou. Na Zambézia ainda não começou.
Deve se verificar a desmobilização total da RENAMO e seu enquadramento.
Enquanto isso não acontecer, a reconciliação e a consolidação da Paz não
será efectiva. É preciso que se efective a reconciliação. É preciso que haja a
consideração dos direitos humanos. Que não haja perseguição aos membros
da oposição. Que haja oportunidades iguais de financiamento de projectos,
pois os projectos de quem é da oposição não são aprovados.
DPM Para a paz ser efectiva é preciso haver confiança entre as pessoas;
É preciso saber ouvir as propostas de outras pessoas;
É preciso fazer-se esforço para que haja reconciliação de modo que a paz
seja efectiva.
O governo deve pôr mãos à obra e começar a cumprir com o DDR e observar
48
todo o protocolo. Houve uma lista, sim, para a integração dos homens da
RENAMO, mas o que se nota é que a FRELIMO ainda tem desconfiaça.
SC
MLTD É necessário que os moçambicanos cultivem o espírito de diálogo em vez de
pautarem pela Guerra; o diálogo é a melhor via para ultrapassar os conflitos.
49
Se havia essa preocupação de impor a democracia, significa que o regime marxista
adoptado pelo Governo da FRELIMO que acabara de se tornar independente não estava a
satisfazer os anseios do povo. O mesmo se diga a respeito do governo constituído após o
AGP. Se 21 anos após o AGP foram retomados os conflitos armados pelos mesmos grupos
que o haviam assinado, significa que a democracia ainda era incompleta e não superava as
espectativas do povo.
Para o recomeço do conflito, 21 anos após o AGP, foram listadas, pelos nossos
entrevistados, como causas as questões económico-financeiras que originaram, por parte de
algumas pessoas, a ganância e a luta pelo poder. A desigualdade na distribuição de riquezas é
também apontada como um dos factores que contribuíram para a retoma dos conflitos, pois
sendo Moçambique um país rico em recursos naturais, não havia razão para continuar a ter
uma maioria populacional pobre e uma minoria elitista rica.
Considera-se também como estando na origem do conflito a falta de implementação
clara das políticas do Estado para o povo, a falta do cumprimento integral dos acordos
assinados entre a FRELIMO e a RENAMO, pois uma das condições que constavam no acordo
era a formação de um exército único de 30 mil homens, mas a prática mostrou que foram
absolvidos poucos homens da RENAMO e em pouco tempo foram desmobilizados; claro, isto
originaria descontentamento por parte de qualquer grupo que fosse; e tenha-se em conta
também a partidarização das instituições do Estado.
Darch (2018), sustenta a sua tese das causas dos conflitos após o AGP, afirmando que
“a estrutura administrativa continuava altamente centralizada, num sistema em que, na
verdade, o vencedor arrecada tudo, e o aumento da exploração de recursos minerais
significativos criou, na elite, grandes espectativas de acesso a rendas excepcionais”.
Rocca (2012), sublinha a lentidão do processo de desmobilização dos mais de 100 mil
homens dos dois lados que estavam nas matas a espera da sua solicitação, a amotinação de
centenas de soldados que cansados de esperar exigiam a sua desmobilização imediata.
A opinião dos nossos entrevistados é reforçada por Chaimite (2014) ao apontar como
causas do surgimento dos conflitos no centro do país questões ligadas a falta de intolerância
política, a exclusão, o aumento da pobreza e das desigualdades entre as classes sociais. Na
linha da intolerância inclui-se também a questão da intolerância da liberdade de expressão.
No cruzamento destas visões todas dos nossos entrevistados e dos autores
mencionados, sobre as causas do surgimento dos conflitos armados após o AGP, percebe-se
50
que houve uma falta de seriedade no cumprimento do acordado, ou mesmo a falta de interesse
em reconhecer a legitimidade das exigências da oposição.
Pelo que se observa no dia-a-dia da nossa sociedade moçambicana, é que a
partidarização das instituições do Estado revela um neocolonialismo entre os moçambicanos,
visto que mesmo com a independência, conquistada dos portugueses, há um grupo ou uma
classe de moçambicanos que é privilegiada e tem as portas das oportunidades abertas para
qualquer situação, desde que se identifique como membro do partido no poder. A busca
desenfreada dos recursos naturais cuja exploração está voltada para o benefício individual de
alguns moçambicanos, favorece o enriquecimento de apenas a uma classe da minoria,
considerada elitista, que provoca revolta entre os moçambicanos irmãos. Com o AGP
esperava-se que a distribuição das riquezas fosse equitativa e as oportunidades fossem abertas
para todos os moçambicanos.
Porque a assinatura do AGP ditou a realização das eleições multipartidárias, esperava-
se que outros partidos participassem activamente na implementação das políticas de
desenvolvimento do país. Contrariamente a este modo de pensar, verificou-se uma atitude de
marginalização e exclusão dos partidos pequenos do campo político moçambicano, como
descreve Egídio Chaimite, acima citado. Esta atitude de exclusão afectava também a
RENAMO, que se viu obrigada a buscar novas estratégias de actuação na tentativa de
encontrar lugar que a acomodasse.
Segundo Darch (2019), a liderança da RENAMO e os seus apoiantes, foram excluídos
do acesso ao poder político a nível nacional e local. A aproximação das eleições presidenciais
e legislativas de 2014, associada a esta exclusão, motivou o retorno às matas, em 2013, dos
homens da RENAMO que não tinham sido desmobilizados na totalidade. Fica aqui enfatizado
que a excluão foi a causa mais marcante e determinante para o retorno aos conflitos, pois
Vines (2019) observa que, apesar de 87% dos soldados desmobilizados terem já sido
integrados na sociedade, alguns combatentes da RENAMO, reclamavam o facto de terem sido
excluídos dos benefícios completos da reintegração, como é o caso das pensões de reforma.
E ligado a estas questões de exclusão dos benefícios completos da reintegração, a
própria Resistência Nacional de Moçambique solicitou a concessão dos benefícios aos seus
soldados, pedido que foi rejeitado pela Frente de Libertação de Moçambique. Alex Vines acha
que este foi um dos principais impulsionadores para o retorno ao conflito em 2013. O facto da
não desmobilização total dos homens da RENAMO, pode-se considerar como um erro visto
pela oposição como uma janela aberta para lograr os seus intentos. E acima de tudo é negada
51
à Renamo, a concessão daquilo que o partido da oposição considera como direito dos seus
soldados, neste caso, os poucos desmobilizados. A RENAMO aproveitou-se desta pequena
falha para usar o grupo residual, de forma estratégica, causando um terror para pressionar o
governo a ceder as suas exigências. Estas e outras causas contribuíram para o retorno aos
conflitos armados, mesmo conscientes da existência de um acordo que garantia a paz.
4.4.2. As consequências dos conflitos armados no contexto moçambicano
Os conflitos armados no seio da sociedade civil, além de criar danos materiais,
também causa danos humanos e, de modo particular, em vidas de civis. Moçambique sendo
um país que experimentou a guerra armada em várias etapas, não está isento destes impactos
de que faremos referência a seguir.
Enquanto os simpatizantes da maior oposição considera como consequências dos
conflitos armados em Moçambique a miséria do povo humilde, perda de vidas humanas, a
revitalização do ódio, rancor e vingança entre os moçambicanos e a destruição global do país,
a Frelimo fala da acomodação da corrupção, porque ninguém se dá tempo para manter o
controlo do circuito estatal, fala da fome, origem de deslocados internos e externos em
excesso, perda de credibilidade noutros países e comunidades.
Nos relatos de Den Bergh (2010), regista-se que a guerra civil entre a RENAMO e o
Governo da FRELIMO já tinha causado cerca de um milhão de mortos e cinco milhões de
refugiados e pessoas deslocadas, sem deixar de fazer referência ao estado de total destruição
em que se encontrava o país. Pois a guerra tinha reduzido o país a destroços, descreve Lúcia
Van den Bergh, e no meio de toda a confusão a população civil era a maior vítima: “Nós, a
população, éramos as vítimas. A RENAMO não combatia o Governo nem a tropa; lutava
contra nós, o povo”.
Rocca (2012), descreve a Renamo como o actor que pretendia sabotar totalmente a
economia do governo da Frelimo através da destruição. Roberto Morozzo Della Rocca faz
referência também aos relatos feitos pelos missionários nas dioceses católicas de Quelimane e
Nampula, relatos nos quais é descrito um terror causado por violências, raptos, roubos,
represálias e execuções efectuadas contra a população civil.
52
Segundo Bumbieirs et all (2022), a guerra propicia o surgimento de inúmeros tipos de
violações dos direitos humanos ferindo, desta forma, a dignidade humana de muitas pessoas
privadas das condições básicas de sobrevivência como por exemplo a falta de moradias,
saúde, educação e alimentação.
53
reaproximação ou reunificação de pessoas cujo destino era estar juntas e, por algum motivo,
encontram-se separadas.
Com o propósito de saber mais sobre esta relação entre a reconciliação e a
consolidação da paz colhemos, dos nossos entrevistados da Renamo, que a chave para a
consolidação da Paz em Moçambique é a reconciliação. Mas esta só pode acontecer quando o
que é planificado for executado de cordo com o planificado. Não porque Moçambique não
seja sério, mas porque em algumas situações, os governantes tratam o povo como crianças
sem noção do que está a acontecer no país.
Ao contrário da Renamo, os deputados do partido no poder defendem a necessidade de
se considerar a reconciliação como algo sério. Pois para eles a consolidação da paz seria
possível se a reconciliação fosse assumida com seriedade. Consideram que a reconciliação é
importante porque ela muda a maneira de pensar das pessoas, afasta a desconfiança e garante
que haja entendimento entre as partes.
O entendimento dos Deputados do MDM revela que a reconciliação é o ponto
fundamental para a manutenção e consolidação da paz, porém esta reconciliação deve ser
acompanhada por um bom espírito de diálogo que faça com que as partes se entendam e
discutam em pé de igualdade em torno dos projectos de desenvolvimento do país.
A Sociedade civil vê a reconciliação como a chave para a consolidação da paz, todavia
chama à atenção para que não se fique limitado apenas à questão da reconciliação. Para eles é
preciso que se saiba que a reconciliação só, não basta. É imperioso ter a consciência de que o
que impede a consolidação da paz é mais uma questão gananciosa de riqueza e poder do que
uma questão política. E os militares alegam que a reconciliação pode ser a chave-mágica para
a consolidação da paz em Moçambique. Porém, é necessário que os próprios moçambicanos
se abram ao diálogo para que o processo de reconciliação seja efectivo.
Com base na literatura pode se fundamentar o que os entrevistados apresentam como
percepção sobre a possibilidade da consolidação da paz.
Por esta razão Weimer (2020) olha para a reconciliação não somente como um
processo de construção da paz pós-conflito implicando um reencontro, mas olha-a também na
perspectiva de acerto de contas tendo como base a justiça.
Para Den Bergh (2012), a reconciliação deve ter como passos precedentes a amnistia,
processo em que os crimes de morte de civis não devem ser imputados a nenhuma das partes,
pois se começasse o processo da acusação não se encontraria quem aceitasse ser o culpado
dos crimes visto que nos dois lados beligerantes houve disparo de armas e, essas armas
54
mataram pessoas. Portanto, abrir um processo criminoso contra a RENAMO significaria abrir
também um processo contra o governo da FRELIMO.
No cruzamento das várias formas de entender a relação entre a reconciliação e a
consolidação da paz, percebe-se que há uma ideia comum. A ideia comum consiste no facto
da consolidação da paz depender da reconciliação entre as partes conflitantes. Se a
reconciliação é entendida como um processo de renovação dos laços rompidos, então ao
serem renovados os laços para que as partes voltem a conviver, será necessário que tenham
presente a seriedade no cumprimento dos planos.
Um aspecto que deve ser tido em consideração é o valor da reconciliação. Pois ela é
tão valiosa porque quando bem efectivada muda a maneira de pensar das pessoas, afasta a
desconfiança e garante que haja entendimento entre as partes. A abertura ao diálogo deve
estar na base da reconciliação pois só dialogando é que se pode dissipar os mal-entendidos
entre as partes. E dissipadas as dúvidas e as desconfianças, as pessoas que compõem as partes
em conflito voltarão a estar novamente de acordo.
A reconciliação, sendo um processo que visa criar condições para um possível
reencontro, exige renúncia a sentimentos de ódio e vingança para que possa haver a aceitação
mútua. Nesta tentativa de trazer o elemento justiça para a efectivação da reconciliação, fica a
responsabilidade de implementação de um esforço para a cura dos traumas e feridas criadas
pelo conflito sem acusação entre as partes. Esta responsabilidade passa pela promoção da
coesão social, pois o conflito certamente terá criado brechas no tecido social, feridas que
precisam ser suturadas; construção do Estado através da reforma democrática da
administração pública e das forças de segurança, considerando que é uma reconciliação pós-
conflitos militares. A reforma democrática é necessária porque com o espírito de
partidarização do poder público, a democracia perde o seu verdadeiro sentido.
A reconciliação deve ser um processo contínuo e a longo prazo que garanta a
reconstrução e reforma social, fazendo com que as relações sociais sejam redefinidas e
minimizados todos os possíveis riscos de uma futura violência. Se a responsabilidade social
for assumida com seriedade abrirá o caminho para a consolidação da paz, olhando ao que os
entrevistados fizeram referência. Para o sucesso do processo de reconciliação no seio dos
moçambicanos, é necessária a manifestação do espírito do perdão. Daqui resulta a questão da
amnistia que é tida por Weimer e Bueno (2020) como um eixo crucial no processo
moçambicano para a efectivação da reconciliação e consequentemente o alcance da paz.
55
A amnistia permite os indivíduos partilharem o mesmo espaço social e promover a
reintegração dos excluídos, evitando a possibilidade de retorno à violência. A ligação da
amnistia à reconciliação evita a mútua acusação e motiva para a aceitação da reconciliação.
Por isso, na tentativa de facilitar a mediação e garantir o processo da reconciliação
para que a paz seja uma realidade em Moçambique, Della Rocca (2012) declara não ser
escândalo comprar a paz como um supremo bem quando se deixa encontrar nos mercados. É
nesta óptica que, de acordo com Della Rocca (2012), “a comunidade internacional, com os
meios financeiros que não lhe faltavam, canalizou cerca de um milhar de milhão de dólares
para Moçambique entre 1993 e 1994 para favorecer as actividades de manutenção da paz e a
transição do país para as eleições multipartidárias”.
Podemos assumir que a paz foi comprada por uma razão justa. A reconciliação foi
resultado de uma cegueira propositada pelo próprio povo para não voltar mais a ver o mal
acontecer.
56
Os relatos de Darch (2018) revelam que, apesar do AGP ter sido um sucesso em 1992,
houve dificuldades e insucesso no processo da busca da reconciliação. Pois, num sentido
largo, a reconciliação implicaria deixar para trás os ressentimentos do passado e olhar para
frente buscando novos projectos. Mas, como descreve Colin Darch, “uma reconciliação mais
alargada no sentido social e quase teológico de deixar os ressentimentos do passado num
espírito de perdão recíproco, revelou-se muito mais difícil de alcançar”.
Então aqui encontramos o que poderíamos considerar como razões da fragilidade da
reconciliação. Após a proclamação da independência, o projecto de unidade que juntava todas
as forças moçambicanas por uma única causa da liberdade, foi ofuscado pela desigualdade
social e económica. Além da desigualdade, a ideia da supremacia do partido tornou-se mais
sonante que a liberdade do povo, por isso era impensável o estabelecimento de um sistema
democrático em que o povo tivesse espaço de opinar.
Tona-se difícil falar de reconciliação numa situação em que a busca desenfreada pelo
poder torna-se a principal preocupação dos lideres chegando a alcançar-se a qualquer custo. A
falta de tolerância para a oposição faz com que haja poucas oportunidades para a
reconciliação. Outra razão que se pode ter como mais forte é que Moçambique não conseguiu
fazer a mudança para um sistema de governação em que os adversários políticos podem ser
vistos como coparticipantes na implementação das políticas de desenvolvimento. Por outras
palavras pode-se dizer que ainda é difícil uma aceitação de críticas, resolução pacífica das
diferenças ideológicas considerando-se desta forma o adversário político como uma ameaça e
não como um compatriota.
Neste sentido, considerando que a Paz foi comprada, segundo Della Rocca (2012),
temos motivos suficientes para afirmar que a reconciliação não foi completa e nem o AGP foi
fruto de uma verdadeira reconciliação entre as partes adversárias.
57
que para haver caminhos reais que conduzam para a consolidação da paz deve-se saber,
primeiro, que a Paz não é só o calar das armas. Por isso o processo da consolidação da paz
deve começar pela conscientização do próprio homem sobre a necessidade de trabalhar para a
sua manutenção.
Outros entrevistados consideram que para consolidar a paz é preciso seguir aminhos
como a diminuição da corrupção, abertura de espaço para que outros tenham oportunidades e
direitos iguais como moçambicanos, aceitação de propostas de outros moçambicanos, mesmo
que sejam da oposição e partilhar os mesmos ideais para o desenvolvimento do país. Não
ficou esquecida a questão do diálogo contínuo como um dos caminhos mais sonantes.
Neves (2010) entende que as condições para uma paz sustentável, que viria a constituir
uma paz consolidada, variam de caso para caso. Porém, nos países emergentes de conflitos, as
condições para uma paz consolidada incluem “a reintegração social de ex-combatentes, a
criação de instituições administrativas, judiciárias de segurança e de protecção aos direitos
humanos, o restabelecimento do estado de direito e de serviços básicos essenciais”.
Moçambique não foge deste processo todo. Pois, tendo o país passado por várias
experiências de conflitos resultantes de descontentamento da maioria populacional, ainda que
representada por um partido opositores, deve tirar lições de todas as situações que conduziram
o país a várias negociações que originaram três acordos de paz. E esta paz precisa ser
acarinhada através da criação de condições que previnam o retorno à guerra.
5. CONCLUSÃO
60
e luta pelo poder, desigualdade na distribuição de riquezas, falta de implementação clara das
políticas do Estado para o povo, incumprimento integral dos acordos assinados, intolerância
política e na exclusão, cabe ao partido no poder valorizar a dignidade do povo moçambicano,
ouvir o seu clamor e atender a estas preocupações para garantir que não haja mais motivos
para o retorno à violência.
Não faltou negligência por parte de quem tinha o poder e a autoridade de cumprir o
que fora estabelecido nos protocolos do acordo. Pois uma vez estabelecido, o Governo não
devia agir de forma contrária aos termos dos Protocolos. Por outro lado, a RENAMO, uma
vez tornado um partido político, devia deixar de combater pela força das armas e buscar
contribuir para o desenvolvimento do país através de discussão de ideias. O que queremos
entender aqui é que as duas parte têm responsabilidade no que diz respeito ao recomeço dos
conflitos armados em Moçambique.
No que se refere a análise das consequências dos conflitos armados e de modo
particular em Moçambique, questão que está ligada ao segundo objectivo da pesquisa,
chegou-se a conclusão de que os conflitos armados quando instalados no seio de uma
sociedade, além de causar danos materiais causam também danos humanos e, especialmente,
em civis. Por isso entende-se que a guerra propicia o surgimento de inúmeros tipos de
violações dos direitos humanos, ferindo desta forma a dignidade da pessoa humana. É por esta
razão que se conclui que a guerra nunca foi benéfica para a vida humana porque ela aumenta a
desgraça, suscita desconfiança entre as pessoas e é responsável pelo alto índice de
desemprego por causa da destruição de indústrias e fuga dos investidores empresariais.
Assim, o impacto dos conflitos armados, de forma sintética, pode ser considerado como
negativo em relação ao processo de desenvolvimento de um determinado Estado e, de modo
particular, para o Estado moçambicano.
Era suposto que um país tido como referência de manutenção da paz por 20 anos,
tivesse atingido também um nível de desenvolvimento considerável que tirasse o seu povo da
pobreza, mas contrariamente a isto verifica-se um crescimento gradual da pobreza e para
agravar a situação os beligerantes investem mais na destruição de infraestruturas, estradas,
carros e outros bens da população causando com isso um terror no seio da população. Os
comerciantes não podem circular livremente para importar ou exportar a sua mercadoria, sob
risco de perder tudo, os empresários abandonam os seus negócios, as suas empresas e fogem
das regiões de investimento, causando com isso um agudizado índice de desemprego.
61
Um Estado cuja meta da sua política era acabar com a pobreza absoluta, quando se
desvia do seu plano e pauta pela guerra revela incompetência dos seus governantes. Por isso
todo o esforço possível devia ser envidado para garantir a manutenção da paz que
possibilitaria o desenvolvimento do país e não quebra de uma paz conquistada com muito
sacrifício.
Sobre as razões da não consolidação da paz em Moçambique, depois de cruzadas as
ideias dos envolvidos no estudo e as colectadas nas fontes bibliográficas conclui-se que são
várias as opiniões resultantes da observação e análise da situação da paz em Moçambique.
Porém, na base de todas as análises está a questão da falha da reconciliação que não foi
completa. A chave para a consolidação da paz em Moçambique é a reconciliação, mas esta só
pode acontecer onde há abertura de espaço para o diálogo. A falta de espaço para o diálogo,
condena o país a uma governação autocrática em que ninguém pode questionar nem opinar
sobre as políticas de governação e de desenvolvimento do país. A falta de diálogo distancia as
partes em conflito e reforça a desconfiança entre ambas.
Um outro aspecto a ter em consideração sobre o processo da consolidação da paz é
seriedade na implementação o que foi planificado. Por isso se a reconciliação é fruto do
reatamento dos laços rompidos, então esta deve ser assumida com seriedade. Quando após a
reconciliação as partes voltam a entrar novamente em conflito, significa que esta não foi
assumida com seriedade e simplesmente foi uma encenação para distrair os que têm um olhar
crítico.
Basicamente, como conclusão das análises sobre este processo da consolidação da paz,
pode-se listar uma série de irregularidades que dificultam a consolidação da paz: a falta de
diálogo entre as partes assinantes dos acordos, a falta de seriedade na aplicação do que foi
estabelecido ou acordado, o espírito ganancioso do poder, pois uma pequena elite pretende
manter-se perpetuamente no poder, ainda que a fama da governação não seja boa. E
geralmente a consolidação caminha com a manutenção da paz. Por isso se não há preocupação
de rever os passos para garantir uma paz segura e sustentável não se pode falar da
possibilidade da consolidação da paz. É nesta perspectiva que se diz que não se pode falar da
consolidação da paz em Moçambique prescindindo daqueles que foram os elementos que
determinaram o surgimento da guerra e que devem ser resolvidos com urgência.
A quarta e última consideração final a que se chega depois de efectuado o estudo é
referente aos possíveis caminhos a serem seguidos para a consolidação da paz. Visto que foi
possível descobrir algumas situações que inviabilizam a consolidação da paz, como é o caso
62
da falha do processo da reconciliação que foi incompleto, falta de abertura ao diálogo, falta de
seriedade na implementação das políticas públicas, partidarização das instituições públicas,
má distribuição das riquezas, é imperioso que se comece a trabalhar para colmatar os erros
cometidos anteriormente e garantir que a paz, fruto de três acordos consecutivos, seja efectiva
e consolidada.
O que se deve saber é que a paz não é somente o calar das armas. A paz tem uma
compreensão mais ampla que envolve a vida toda da pessoa. E por isso para consolidação da
paz é preciso que se tenha como caminho uma governação justa e transparente em que a
nomeação dos profissionais do Estado a altos cargos seja por competência e não por afinidade
de sangue, corrupção ou camaradagem partidária.
De forma resumida, para que a lista dos possíveis caminhos para a consolidação da paz
não seja vasta pode-se falar da necessidade da criação de condições para uma paz que seja
auto-sustentável. As condições para este fim passam pela garantia da reintegração social de
ex-combatentes, permitindo com isso a garantia da cidadania através da flexibilização do
processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração. Não se pode garantir a cidadania
enquanto não se criar condições para o povo suprir as necessidades básicas como a saúde,
alimentação e habitação.
Importa ressaltar que, os partidos políticos no lugar de andarem distanciados uns dos
outros e, de modo particular, do partido no poder fazendo-se acusações desnecessária nas
sessões da Assembleia da República, deviam priorizar mais o diálogo social e ter sempre
presente a reconciliação como ponto de referência para a manutenção e consolidação da paz.
Neste âmbito da busca de caminhos para a consolidação da paz em Moçambique, a principal
solução que o presente estudo aponta como chave para a superação das dificuldades da
consolidação da paz é a cultura de um tipo de diálogo que seja franco e edificador a fim de
possibilitar a participação de todos os moçambicanos na construção e desenvolvimento do
país.
A reconciliação para ter o verdadeiro sentido de renovação das relações deverá ser
apimentado pela abertura ao diálogo onde cada parte terá a oportunidade de apresentar a sua
opinião. E a reconciliação para que chegue a ser verdadeiramente o garante de uma paz
sustentável deve ser de uma iniciativa própria e de consciência limpa. Pois pelo modo como o
processo das negociações para a paz foi conduzido, percebe-se que houve imposição ou
exigência de certas condições para as partes se aceitarem mutuamente. Isto significa que o não
cumprimento e não criação destas condições, implica um retorno imediato à guerra. Nestas
63
circunstâncias a paz fica refém de algumas pessoas que se preocupam apenas com o seu
próprio bem e não olham para o bem da maioria.
Este estudo conduziu à constatação de que o Acordo Geral de Paz não resolveu
definitivamente os problemas entre a RENAMO e a FRELIMO, e as causas que conduziram à
eclosão da guerra civil não foram sanadas completamente. A prova disto foi o retorno à
violência em 2013 como uma das estratégias para exigir a satisfação do estabelecido no
acordo de paz. Com isso pode-se pensar, sim, que a paz foi comprada e uma vez esgotado o
dinheiro da compra, os vendedores exigem mais. Por isso a reconciliação é ainda um processo
inacabado que necessita de mais investimento para que seja efectivada na verdade. A
reconciliação entre as partes não deve ser compulsiva, mas de livre iniciativa.
A assinatura do Acordo Geral de Paz forçou a criação de uma assembleia da
reconciliação, mas sem bases morais pois os deputados estão continuamente amarrados
passado fazendo-se acusações sem fim, o que não revela um espírito reconciliado.
6. RECOMENDAÇÕES
Após se discorrer sobre esta temática dos conflitos armados contínuos em
Moçambique e a consolidação da paz efectiva e chegar-se aos resultados esperados, de acordo
com os objectivos traçados, apresentam-se as possíveis recomendações para a melhoria da
situação da fragilidade da paz em Moçambique e possíveis futuros estudos em torno do
mesmo assunto a serem desenvolvidos por outros pesquisadores interessados na matéria:
Que os moçambicanos tenham a cultura do respeito da dignidade da pessoa
humana;
Que os governantes saibam ouvir e atender às preocupações do seu povo;
Que os partidos saibam resolver as suas diferenças recorrendo ao diálogo e não
à violência;
Que sejam criadas condições para a livre circulação dos pessoas e bens para os
vários pontos do país;
Que haja mais investimento no processo da reconciliação para uma maior
aceitação entre os moçambicanos;
Que as partes em conflito respeitem os protocolos assinados e observem
escrupulosamente para evitar um possível retorno aos conflitos;
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