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Teorico 1 PDF
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em Ciências Sociais
Material Teórico
Sociologia do Corpo
Revisão Textual:
Profa. Sandra Regina F. Moreira
Sociologia do Corpo
• Introdução
• O corpo como ‘lugar’
• O Corpo e a Cultura
• A prática da capoeiragem
• Considerações Finais
Leia atentamente o conteúdo desta Unidade, que lhe possibilitará conhecer a importância
do corpo como elemento de estudo das ciências sociais.
Você também encontrará nesta Unidade uma atividade composta por questões de múltipla
escolha, relacionada com o conteúdo estudado. Além disso, terá a oportunidade de trocar
conhecimentos e debater questões no fórum de discussão.
É extremante importante que você consulte os materiais complementares, pois são ricos
em informações, possibilitando-lhe o aprofundamento de seus estudos sobre este assunto.
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Unidade: Sociologia do Corpo
Contextualização
Para iniciar esta Unidade, a partir da imagem abaixo, reflita sobre a questão do corpo e a
gestualidade como expressões culturais que representam características da sociedade.
Pergunte-se:
»» Por que o gesto pode ter significados para grupos sociais?
»» O corpo reflete as características culturais de determinadas sociedades?
»» O balé ou a capoeira são expressões culturais que podem significar uma compreensão
de grupos e de fatos históricos?
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Introdução
A sociologia pode ser problematizada no sentido de evidenciar o corpo e a gestualidade
como lugar de produção do conhecimento. Nesta unidade vamos estudar o corpo como eixo
da relação do humano com o mundo e em vida coletiva. Veremos como o corpo pode ser
analisado à luz do tempo e do espaço.
O organismo estudado pelas ciências naturais serviu como base para as primeiras pesquisas
científicas na área das ciências humanas e sociais. Primeiramente com Augusto Comte e logo
depois com Durkheim, a sociedade também passou a ser vista, estudada e interpretada a partir
desta mesma ideia de ‘corpo’.
Para Durkheim, por exemplo, a sociedade funcionaria como um organismo vivo, onde
cada instituição que dele fizesse parte, representasse um órgão em funcionamento tal qual
ocorre com o corpo humano. Neste sentido, Durkheim procurou explicar que a sociedade
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Unidade: Sociologia do Corpo
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O Corpo e a Cultura
O homem vetruviano de Leonardo da Vinci anunciava o corpo como o Pode o corpo produzir cultura? Esta é nossa primeira
centro de muitas análises científicas.
questão.
A gestualidade: A gestualidade não deve ser reduzida a um dado mecânico, pois está
Importante! carregada de intenções, sentidos, direções, intensidades que compõem uma diversidade
de significações, a partir de diferentes contextos desenhados pela linguagem do corpo
em movimento, caracterizando uma relação sempre original e singular com o mundo
que se desdobra na produção do conhecimento, na história e na linguagem, nos códigos
culturais e que dão sentidos aos acontecimentos, marcando a gestualidade configurada
nas ações que se conectam com o mundo a partir dos símbolos construídos.
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Unidade: Sociologia do Corpo
O corpo e sua relação com o espaço, bem como toda a aprendizagem que absorve através
das relações culturais, possibilita que sejamos ‘desenhados’ e que ‘desenhemos’ nossa relação
com o mundo. Assim, construímos diferentes formas de sensibilidades, de gestualidades, de
percepções, que dão sentido às diversidades na existência humana, tencionando os fios da
pluralidade cultural e da singularidade dos sujeitos.
Se estamos explorando a ideia do corpo e gestualidade, é importante também considerarmos
redimensionar a compreensão do movimento como linguagem, cujo sentido é dado para
superarmos dissecações da vida e simplificações objetivas a partir de processos em direção à
razão, aqui chamados de processos ‘racionalizantes’.
A filosofia, desde sempre, busca a compreensão do ser humano no mundo, porém esta não
se dará no campo das ideias nem do pensamento, mas na experiência vivida, a qual inclui a
confluência da razão com o pensamento.
A existência é anterior ao pensamento, entretanto, é da natureza humana buscar conhecer
e explicar o mundo. Assim como é da ciência criar formas e possibilidades interpretativas,
ainda que parciais e provisórias.
Dito de outra forma, construímos a maneira de ser no mundo, compreender, pensar,
experimentar fenômenos, enfim, de produzir cultura.
O corpo é o nosso primeiro “instrumento” na medida em que é o primeiro meio técnico
de que nos valemos para construir relações com o mundo e atribuir sentidos às coisas, sendo,
portanto, o registrador e o transmissor da cultura.
Segundo explica Anthony Giddens (2004), a cultura de uma sociedade se faz tanto de
aspectos tangíveis quanto intangíveis.
Aspectos tangíveis da cultura são os objetos, os símbolos, a tecnologia, a arquitetura, os
monumentos etc. Já os aspectos intangíveis da cultura compreendem as crenças, os valores,
as ideias, os modos de ‘saber fazer’ etc.
Tais registros a que estamos nos referindo podem ser expressados pelo corpo através do
gesto. O gesto carrega significados específicos que nos permitem compreender, preservar
e transmitir valores, hábitos, sentimentos, normas, costumes; marcado por um processo de
incorporação da cultura, nas suas diversidades e pluralidades locais e temporais, na passagem
do signo à expressão.
De acordo com Pierre Bourdieu (2001), a esse conjunto de expressões e valores que
o corpo é capaz de transmitir e/ou transferir e desta forma criar e estabelecer diferenças
culturais, dá-se o nome de habitus.
O aprendizado compartilhado entre os grupos sociais, nas suas diferentes esferas, é
compreendido de forma diversa por cada indivíduo, pois este, como diz Pierre Bourdieu, é
portador de capital cultural de acordo com o habitus que permeia o universo de conhecimento
que lhe foi apresentado desde sempre.
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A transmissão do habitus, da qual trata Bourdieu, torna-se possível pelo processo de aprendizagem,
marcado pela natureza social do habitus na medida em que relaciona o corpo em sua forma material
às suas habilidades e aptidões, comunicando a partir do gesto. Essa comunicação se dá naturalmente
através dos canais sensoriais do corpo e não somente pela imitação.
O habitus “constitui o lugar de solidariedades duráveis, de fidelidades incoercíveis, (...)
fundadas em leis e laços incorporados, adesão visceral de um corpo socializado ao corpo social
que o fez e com o qual ele se faz corpo” (BOURDIEU, 2001 p. 176-177).
É assim, pelos conhecimentos e pela cultura transmitidos pela educação, que nos distinguimos dos
animais. Para irmos mais longe, o corpo permite ainda a transmissão oral de todos estes saberes.
As culturas que se tornaram mais evidentes na sua pluralidade a partir da globalização desde
a segunda metade do século XX, evidenciaram elementos da tradição. Tais elementos, em
contraste com a modernidade, se destacam ainda mais, criando um movimento de resistência
à homogeneização cultural.
Neste sentido podemos tomar como exemplo a cultura afro-brasileira, uma vez que o Brasil
nos oferece um grande leque para estudar as diversidades culturais.
Para sermos mais específicos, tomemos, como exemplo, a capoeira.
A capoeira é hoje um esporte praticado no mundo inteiro. Pretende-se fazê-la parte
dos jogos olímpicos, conforme será sugerido no evento de 2016 no Rio de Janeiro. Além
disso é reconhecida pelo IPHAN – Instituto do patrimônio histórico e artístico nacional –
como patrimônio cultural intangível, também reconhecida pela UNESCO como patrimônio
imaterial da humanidade.
Milhares de pessoas de todas as idades, raças, sexo e classes sociais, em países de todos os
continentes, praticam hoje a capoeira.
No entanto, pouco se discute sobre sua escrita histórica e social que oscilou entre a ilegalidade
e a legalidade.
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Unidade: Sociologia do Corpo
A prática da capoeiragem
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Um outro sentido que podemos abordar sobre a capoeira, é a sua prática pelas camadas
sociais mais desfavorecidas. Isso indica uma forma de movimentar o corpo, gesticular e se
expressar, com grande identificação com a cultura do negro e do pobre.
Também a capoeira foi, durante muito tempo, praticada pelos homens. Hoje já divide de forma
praticamente equilibrada o espaço da roda do jogo com mulheres e crianças de várias idades.
A resistente cultura afro-brasileira sobreviveu ao tempo, às perseguições, mortes, epidemias etc.,
atravessando séculos. Tudo isso só foi possível pela tradição oral transferida entre as gerações.
Vale ressaltar que a capoeira foi objeto de discriminação e muito pouco estudada
cientificamente até a primeira metade do século XX, aparecendo as primeiras pesquisas nos
anos 1940 em diante.
Com o tempo a capoeira foi sendo aprimorada e subdividida em modalidades: capoeira de
Angola e capoeira Regional.
É importante destacarmos que essas cisões nem sempre significam singularidades, mas às
vezes preconceitos, construções excludentes, afirmações de legitimidade e originalidade etc.
No que tange à organização da capoeira, podemos identificar que, de maneira geral, se
organiza em forma de um sistema. Existe uma articulação interna que é dada pelos seguintes
elementos: a roda, os toques musicais do berimbau, as músicas, a ginga e os movimentos
corporais dos estilos conhecidos, além das duas modalidades bem definidas: a capoeira
Regional e a capoeira Angola.
A roda de capoeira caracteriza-se como um espaço social, marcado pela dinâmica e
imprevisibilidade do jogo de corpo, na comunicação do gesto. Nesse espaço, o jogo de capoeira
estabelece-se na tensão e oposição entre dois oponentes que recebem o nome de ‘camaradas’.
O gesto flui no espaço/tempo revelando a energia e a criatividade dos movimentos quando a
luta/dança/jogo começa.
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Unidade: Sociologia do Corpo
Do ponto de vista simbólico, os cânticos nas rodas de capoeira cumprem algumas funções,
como por exemplo: função ritual, elemento mantedor das tradições e espaço dinâmico de
constante repensar dessa mesma história. O rito se manifesta com a participação de todos
os capoeiristas presentes no espaço da roda, os instrumentistas que se revezam, cantando e
batendo palmas.
A tradição cultural oral é marcante, fazendo-se presente tanto na forma como são passadas
as técnicas corporais, quanto nos movimentos através das narrativas históricas.
É preciso ainda considerar que, enquanto construção de uma coletividade, a técnica é revelada
socialmente pela tradição, permanecendo os gestos eficazes reorganizados pelo contexto social.
Nesse sentido significa dizer que, as formas de uso do corpo hoje ensinadas na capoeira não são as
mesmas experimentadas no passado. Um novo contexto social implica em outros usos e sentidos
para o corpo em movimento, bem como para o espaço que este corpo ocupa. Ainda que seja uma
tradição, nunca é igual nem ao que foi no passado, bem como no futuro, haverá novos elementos
incorporados. Portanto, podemos dizer que a tradição é efêmera.
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Levi-Strausss, chama a esses resíduos da cultura, esses estilos de jogar capoeira, de
bricolagem do gesto.
Para Levi-Strauss:
Bricolagem é um processo que se define basicamente pela ausência de um projeto.
Glossário Tem o papel de criar signos e significados utilizando-se de resíduos culturais
acabados, imprimindo-lhes rearranjos, reorganizações e operando com o fato
de trabalhar com elementos fragmentários já existentes.
A cultura enquanto um sistema aberto, que opera tanto pela repetição quanto pela
reorganização de sua estrutura, se faz presente na gestualidade do corpo no jogo da capoeira.
A inversão do corpo ao entrar na roda, o olhar do outro camarada durante o jogo, o diálogo
e a sedução no uso da gestualidade, bem como o arrebatamento exercido pela musicalidade
presente na roda, torna instáveis e vulneráveis as tentativas de uma predefinição no devir do
jogo. A gestualidade adquirida e disponível está aberta às experimentações.
Novas sequências de movimentos criadas pelos jogadores nas rodas de capoeira apresentam
infatigavelmente variações, uma vez que o capoeirista cria livremente, na hora, golpes de
ataque e de defesa, conforme seja o caso, que nunca foram previstos e sem nome específico
e que após o jogo ele próprio não se lembra mais do tipo de seu improviso.
O exemplo da capoeira abre espaço para pensarmos pela mesma perspectiva outras
tradições culturais que são transferidas e mantidas pelo gesto, ou seja, através do corpo. Neste
sentido, se juntam à capoeira, o samba, o forró, a congada e tantas outras expressões culturais
que fazem do corpo sua moradia.
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Unidade: Sociologia do Corpo
Considerações Finais
Fizemos aqui uma reflexão a respeito da capoeira e de sua função no organismo social.
É importante destacar que a capoeira é apenas um exemplo de que há todo um simbolismo,
uma representação que transmite um conhecimento em torno do que, a princípio, pareceria um
simples esporte. Assim também podemos pensar outros exemplos como as festas tradicionais,
os carnavais, o candomblé, a umbanda, enfim. Há um universo a ser explorado em torno do
corpo e sociedade, que aqui, apenas buscamos iniciar.
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Material Complementar
Sites:
O corpo – filosofia e educação:
http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788508114481
Introdução à sociologia
http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788508114740
Todos enriquecerão sua compreensão sobre a sociologia do corpo como tema de estudo em
ciências sociais.
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Unidade: Sociologia do Corpo
Referências
VIEIRA, Luis R. O jogo de capoeira: cultura popular no Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Sprint, 1998.
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Anotações
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