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Riosdeterraseaguas PDF
Riosdeterraseaguas PDF
ISBN 978-85-7691-087-9
CDD: 709.05
BELÉM - 2009
FUNDAÇÃO INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA
PRESIDENTE
Marlene Coeli Vianna
VICE-PRESIDENTE
Édson Raymundo Pinheiro de Souza Franco
GERENTE GERAL
Odília Solange Salbé Reis
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
REITOR
Édson Raymundo Pinheiro de Souza Franco
VICE-REITOR
Antonio de Carvalho Vaz Pereira
PRÓ-REITOR DE ENSINO
Mário Francisco Guzzo
DIRETORA ADMINISTRATIVA
Etiane Borges Arruda
UNAMA – “Campus” Alcindo Cacela: Av. Alcindo Cacela, 287, 66060-902 – Belém – Pará.
Fone: (91) 40009-300. Fax: (91) 3225-3909.
PROJETO RIOS DE TERRAS E ÁGUAS: NAVEGAR É PRECISO
COORDENAÇÃO TÉCNICA
Marisa de Oliveira Mokarzel
PESQUISA E TEXTO
Janice Shirley Souza Lima
Marisa de Oliveira Mokarzel
Simone de Oliveira Moura
PROJETO EDITORIAL
Projeto Gráfico: Melissa Barbery e Danielle Valente
Editoração Eletrônica e Diagramação: Melissa Barbery
Ficha Catalográfica e Normatização Catalográfica: Maria Miranda
Revisão de originais: Iraneide Souza Silva
Revisão final: Janice Lima, Marisa Mokarzel e Simone Moura
Impressão: Grafica Supercores
Tiragem: 1000 exemplares
Fotografias : Armando Queiroz, Jocatos, Kamara Kó, Lila Bemerguy, Lise Lobato, Marco Antonio Serrão, Mariano
Klautau Filho, Miguel Chikaoka, Octávio Cardoso, Paula Sampaio, Tina Vieira, Val Sampaio.
Armando Queiroz, Elieni Tenório, Jocatos, Lise Lobato, Mariano Klautau Filho, Mestre
Amadeu, Nina Abreu, Guilherme Carvalho da Silva (morador da Comunidade
Quilombola Abacatal), Paula Sampaio, Renata Maués, Zenaide Paiva.
O RIO DA MINHA CIDADE
Emanuel Matos
O projeto Rio de Terras e Águas: navegar é preciso traz como uma de suas
propostas documentar e difundir a obra de seis artistas do Pará, de linguagem e expressão
próprias, pessoais, diferentes uma de outra mas cujas raízes se encontram dentro de uma
órbita comum – a da cultura local. É nessa órbita que eles buscam suas referências, e
é a partir dela que buscam resgatar a memória, o patrimônio, e, ao mesmo tempo, se
lançam no rumo do contemporâneo. Além disso, o projeto se propõe a produzir material
educacional destinado não apenas a difundir esse trabalho, mas contribuir para fazer da
arte um instrumento de inclusão social.
O projeto foi contemplado no edital do Programa Petrobras Cultural, no
capítulo dedicado à formação e educação pelas artes. Através desta linha de patrocínio, a
Petrobras estimula projetos cujo objetivo seja ampliar as possibilidades de recepção das
artes e das manifestações culturais, privilegiando a educação. Ou seja: não se trata apenas
de patrocinar a arte e a sua difusão, mas também de transformar obras artísticas em
ferramentas para educadores, além de contribuir para a produção de material educacional.
Maior empresa brasileira, a Petrobras é também a maior patrocinadora das artes
e da cultura em nosso país.Através de uma política cultural com bases sólidas e princípios
rígidos, a Petrobras norteia sua concessão de patrocínio para a mais ampla gama possível
de ações, de tal forma que não apenas a produção mas também o resgate, a recuperação
e a difusão das artes sejam incentivadas ao máximo. E, assim, propicia ao cidadão a
possibilidade de ir além do contato com a obra dos nossos artistas e nela se reconhecer,
reconhecer sua própria identidade, sentir que essa obra de arte integra o seu patrimônio
pessoal e o patrimônio de todos nós.
A missão primordial da Petrobras é contribuir para o desenvolvimento do Brasil.
Apoiar de forma decidida, permanente e cristalina as nossas artes e a nossa cultura é
parte desse nosso compromisso.
Petrobras
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A Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia – FIDESA, entidade
privada sem fins lucrativos, foi instituída, em 1997, com o objetivo de fomentar atividades
de pesquisa, extensão e de capacitação de recursos humanos, especialmente na
Amazônia, e o de promover o ensino à distância e atividades artístico-culturais, visando
o desenvolvimento da qualidade de vida e o saber do homem da Região.
As ações da FIDESA são garantidas a partir da execução de Programas e Projetos,
realizados através de convênios e contratos com entidades parceiras. Dentre estes, se
destacam o Programa de Desenvolvimento Científico, Tecnológico e Social - PDCTS e o
Programa de Fomento à Capacitação Docente e Técnica - PFCDT.
Foi no âmbito do PDCTS que se consolidou a parceria da Fundação para a
realização do Projeto Rios de Terras e Águas: navegar é preciso.Tendo em vista o objetivo
para o qual o projeto foi executado esta parceria foi de fundamental importância para o
cumprimento da missão a que a FIDESA está destinada.
A missão da Fundação corrobora o pensamento dos criadores do Projeto, pois
considera que todas as formas de expressão cultural são válidas para que a sociedade
brasileira mantenha a sua identidade, que é caracterizada pelas diversidades dos vários
povos que constituem a demografia do Brasil.
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As autoras deste belo trabalho, na escolha do título revelaram inspiração na obra
de Fernando Pessoa. No entanto, deram tanta vida ao seu conteúdo que não parece
coerente completar o pensamento do poeta e dizer: “viver não é preciso.”
Janice, Marisa e Simone, navegaram e mergulharam profundamente nos rios de
imaginação e criação de seis artistas contemporâneos do Pará, descobrindo e revelando
suas trajetórias com a sensibilidade peculiar que impregna a alma dos amantes da cultura
e das artes.
Deste especial mergulho brotaram, além do livro educativo que contempla uma
interessante proposta pedagógica de arte-educação, um documentário vivo e pungente,
com imagens e depoimentos dos artistas, colhidos em seus ambientes de vida e criação.
Para a Universidade da Amazônia é gratificante divulgar o resultado de uma
pesquisa executada com tanto esmero e competência, promovendo a disseminação do
conhecimento produzido e contribuindo para o desenvolvimento da educação, na área
das artes e da cultura, no contexto do patrimônio material e imaterial que integram a
memória e a história da nossa sociedade.
O reconhecimento da Universidade se estende aos artistas Armando Queiroz,
Elieni Tenório, Jocatos, Lise Lobato, Mariano Klautau Filho e Paula Sampaio, que não
apenas permitiram o acesso e a divulgação de suas obras, mas se envolveram, se doaram
ao trabalho, com tamanha generosidade.
O compromisso da Universidade da Amazônia com a educação, através da arte
e da cultura, é uma marca deixada pela professora Graça Landeira, que certa feita nos
declarou: “a vida sem arte, não tem sentido!”
Em homenagem a ela, que deve estar navegando em rios infinitos, desejamos
que, em cada um dos leitores desta obra, brilhe a luz da beleza com a qual ela conseguia
enxergar a arte, a vida e as pessoas.
Núbia Maciel
Pró-Reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão - UNAMA
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É com imensa satisfação que oferecemos o resultado de uma iniciativa singular
e inovadora em que a Arte Contemporânea do Pará é presenteada com um estudo
voltado para a democratização dos saberes artísticos/estéticos no âmbito dos espaços
educativos e culturais.
A competência e seriedade com que o material educativo foi produzido revelam
o compromisso das educadoras/pesquisadoras em garantir um ensino de Arte com
qualidade contemplando questões patrimoniais, culturais e artísticas dos seis artistas
selecionados. Sendo este um momento ímpar para a multiplicidade de ações curriculares
imprescindíveis no ensinar/aprender Arte na atualidade.
O envolvimento das instituições culturais com a universidade na produção deste
estudo sinaliza um marco para ampliar o acesso as obras de cada artista e garantir
caminhos possíveis no processo de alfabetização cultural, tão necessário em tempos de
globalização.
A proposta do material educativo e seus desdobramentos de utilização no ato de
educar irão possibilitar múltiplos olhares e significados sobre a arte paraense, ampliando
caminhos possíveis à construção de conhecimentos.
A sensibilidade investigativa de cada educador e agente cultural será a ferramenta
necessária para a utilização deste material.
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RIOS DE TERRAS E ÁGUAS: NAVEGAR É PRECISO
um projeto educativo sobre arte e patrimônio cultural
O projeto Rios deTerras e Águas: navegar é preciso foi selecionado e financiado pelo
Programa Petrobras Cultural na categoria Formação/Educação para as Artes: Materiais e
Documentação.Teve como proponente a Fundação Instituto para o Desenvolvimento da
Amazônia (FIDESA) e como parceira beneficiária a Universidade da Amazônia (UNAMA).
O projeto foi idealizado e elaborado pelas professoras e pesquisadoras Janice Lima,
coordenadora de arte e educação, Marisa Mokarzel, coordenadora técnica e Simone
Moura, coordenadora de apoio e produção.
O objetivo do Rios de Terras e Águas: navegar é preciso foi documentar e difundir
a obra de seis artistas do Pará, que se encontram interligadas por questões patrimoniais,
culturais e artísticas e apresentam-se em um contexto cultural local, em que estes buscam
suas referências, articulando-as ao espaço mais amplo da arte contemporânea.
Os seis artistas se inserem em um campo identitário diversificado, no qual se
discutem questões relativas à memória da cidade observada por Mariano Klautau Filho, o
patrimônio imaterial representado pela festa religiosa do Círio interpretada por Jocatos,
a memória dos remanescentes dos quilombos captada pelas lentes de Paula Sampaio e
a cerâmica marajoara, herança ancestral indígena, reinventada por Lise Lobato. Nestas
discussões também se inclui a questão de gênero, que pode ser identificada nas imagens
criadas por Elieni Tenório e o processo lúdico provocado pelos tradicionais brinquedos
de miriti, que ganham grandes dimensões e readquirem novos significados nas propostas
de intervenção de Armando Queiroz.
Para a compreensão do projeto que pretendeu desenvolver questões sobre a arte
contemporânea do Pará, foram realizados materiais de apoio aos educadores e agentes
culturais, compostos por: um livro educativo, contendo imagens e textos referentes
aos artistas, sua obra e os referenciais culturais por eles utilizados, e uma proposta
pedagógica; um documentário em mídia digital (DVD), mantendo o mesmo princípio que
rege o livro e 12 pranchas compostas com imagens da obra de cada artista e do ambiente
que serve de referencial.
Os materiais educativos de apoio aos educadores e agentes culturais foram
lançados em uma exposição formada por 16 painéis coloridos, idealizados para circular
em universidades, escolas públicas e privadas, comunidades e outras instituições.
Com este material educativo pretendeu-se, então, promover uma rede que
possibilitasse as indagações a respeito não somente das questões de arte contemporânea,
mas também culturais e patrimoniais, provocando diálogos com diferentes áreas do
conhecimento.
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O material foi previsto para ser utilizado por representantes do ensino formal e
não formal (universidades, colégios, secretarias municipais e estaduais, museus, centros
comunitários e centros culturais). Nos municípios do Pará: Belém,Ananindeua,Abaetetuba
e Santa Izabel foram realizadas oficinas de capacitação para uso do material com 12
grupos formados, cada um, por 40 pessoas, totalizando 480 educadores.
A intenção foi associar a produção artística ao contexto cultural, no qual o artista
vai buscar as suas referências, para que, no contato com a obra, o cidadão possa se
reconhecer e a distância entre ele, a arte e o patrimônio cultural se torne cada vez
menor.
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Fig 1: Objeto criado por Armando Queiroz em 1997, que integrou sua exposição individual Sermões.
Foto: Armando Queiroz.
A voz suave, o gesto gentil se contrapõe à ironia que muitas vezes percorre
os trabalhos de Armando Queiroz. Atento à realidade política e social de seu país,
preocupado com o patrimônio cultural de sua cidade, o artista desenvolve um pensamento
plural, que não se detém apenas em uma categoria de arte. Apesar de admirar formas
artísticas mais tradicionais como a pintura e o desenho, costuma se expressar através
de objetos, intervenções urbanas, performances e vídeos. Aos quinze anos realizou um
autorretrato e, adulto, se perguntou se naquele desenho já havia uma intenção de arte.
Este mesmo desenho integra o vídeo Retratos Vivos, resultante da Bolsa de Pesquisa do
Instituto de Artes do Pará (IAP), com a qual foi contemplado em 2007.
Para Queiroz (2008), “arte é vida, fundamentalmente”1, considera que o artista
compreende realidades e as devolve em trabalho artístico. O autorretrato é apenas
um exemplo de um olhar sobre si mesmo, que se inscreveu na memória e encontra-se
vinculado à própria história de vida de quem o concebeu. Anos depois, incorporado a
outra obra, o desenho ganha novo significado, sem perder os traços do momento vivido,
registrado no papel.
A trajetória artística de Armando Queiroz tem início em 1993, quando sua obra
é selecionada no II Salão Paraense de Arte Contemporânea (SPAC). Trata-se de uma
espécie de oratório de madeira, adornado com fitas coloridas; no pequeno altar, ao invés
da santa ou santo, encontra-se uma minúscula garrafa dourada de coca-cola. Esta obra
provocou uma reação espontânea do público: de repente alguém amarrou dinheiro na
fita e fez um pedido; em seguida, várias pessoas repetiram o ato, e assim a obra adquiriu
um novo formato e tornou-se interativa, mesmo não sendo esta a intenção do artista.
Esta obra inicial de Queiroz já delineava o começo do caminho artístico voltado
para pequenos objetos, provenientes de armarinhos e casas de bricabraque. Com o
olhar de lince, Armando costuma percorrer as variadas mercadorias e pinçar miudezas
inusitadas para compor a coleção que lhe serve de matéria para a construção do objeto
artístico. A admiração que sente por Marcel Duchamp é perceptível nessas pequenas
obras em que se apropria de objetos prontos (ready-made), produzidos pela indústria, e
os desloca da sua função habitual para ocupar o campo da arte.
1. Este depoimento consta da entrevista concedida para o Projeto Rios de Terras e Água: navegar é preciso, gravado
para o vídeo, em 2008.
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Um dos objetos mais significativos criados por Armando Queiroz, em 1997, para
integrar a sua exposição individual Sermões, em homenagem ao Padre Antonio Vieira, é
um prato, no qual estão impressos quatro escudos da Cruz de Malta e no centro contém
um globo e um garfo (Fig. 1). Para o crítico Paulo Herkenhoff (2005, p. 29) a obra “[...] é o
testemunho das navegações portuguesas pelos quatro cantos do mundo”; considera que
o “[...] garfo abocanha o globo em alusão à voracidade do conquistador europeu sobre
as novas terras”2. Esta obra pode ser vista como um exemplo, entre tantos outros, do
sentido político e histórico que Queiroz pode dotar os seus trabalhos.
A crítica ácida e poética enunciada pelo artista, também está presente mais
adiante quando seus trabalhos crescem em escala. Uma de suas primeiras intervenções
foi realizada em 2002, no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), por ocasião
do Salão das Águas. O trabalho, que já havia sido pensado no workshop coordenado por
Rubens Matuck, teve como referência a praia de Porto Arthur, em Mosqueiro, na qual
observou as construções de currais artesanais de pesca e as associou ao encurralamento
a que o homem hoje se encontra submetido. Tendo como base a forma circular dos
currais de pesca, mandou construir um gradil metálico de portas pantográficas com
cinco metros de diâmetro (Fig. 2) e colocou-o em um lago artificial desativado, existente
na Universidade.
Fig. 2: Curral Urbano, criado para o Salão das Águas, em 2002, e apresentado no espaço livre do campus da
Universidade Federal do Pará. Foto: Armando Queiroz.
2. No Arte Pará 2005 esta obra foi exposta em uma sala de cunho político ao lado da obra O Filho Bastardo, de Adriana
Varejão, que também se refere à conquista colonial.
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Fig. 3: Abaetetuba, cidade ribeirinha que gira em torno do comércio entre as ilhas circunvizinhas e a Feira situada
próximo ao rio. Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó.
3.Armando Queiroz preocupa-se com a memória de sua produção, por isso registra todo o seu processo e classifica-o por
ano, categoria de arte, exposição. Depois o armazena em um CD. Os depoimentos contidos neste parágrafo estão gravados
em um CD, de 24 de junho de 2005, e apresentam-se no item 4, Instalação e Intervenção, Subitem Salão das Águas.
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Nasceu em Abaetetuba João de Jesus Paes Loureiro, poeta, que ocupou
importantes cargos no governo municipal e estadual, contribuindo com o processo
educativo e cultural do Estado. O poeta é, portanto, uma importante testemunha do
que os barcos representam, não somente para Abaetetuba, mas para toda a Amazônia.
Confirma: “[...] um conjunto característico da visualidade amazônica é formada pelos
barcos. É a dança das cores. As embarcações, na região mapeada de rios, assumem as
mais diferentes funções de sobrevivência, transporte e lazer”4 (LOUREIRO, 2000, p. 382).
Não é à toa que os barcos estão na lista dos brinquedos de miriti mais
tradicionais, que não podem faltar, seja durante o Círio, seja durante o Festival de Miriti
– MIRITIFEST, ou na casa dos artesãos, onde se pode encontrar os diferentes tipos de
brinquedos como o soca-soca, os pombinhos, a cobra e o tatu. Zé do Barco, o Jessé, que
vende peixe salgado na Feira da Beira, diferente dos outros artesãos, especializou-se em
um único brinquedo: o barco. O Zé é amigo de Armando Queiroz e foi um dos artesãos
que o ajudou em suas criações com o miriti.
Fig. 4: Os brinquedos de miriti vendidos na girândola por ocasião do Círio ou do Festival do Miriti.
Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó.
4. João de Jesus Paes Loureiro, além de ter sido Secretário de Educação do Município e Secretário de Cultura do
Estado, foi o criador do Instituto de Artes do Pará (IAP), que vem a ser uma das mais importantes instituições que
investem no processo artístico através das Bolsas de Pesquisa. A citação foi retirada de um texto de grande importân-
cia histórica: Fontes do Olhar, que serviu de base para a Fundação Nacional de Arte (FUNARTE), realizar, com Osmar
Pinheiro e Luiz Braga, o mapeamento da “visualidade amazônica”, nos anos 1980.
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O interesse de Queiroz pelo
miriti vem da infância, quando, por
ocasião do Círio de Nazaré,observava
com curiosidade as girândolas
(Fig. 4) repletas dos mais variados
brinquedos. Ficava maravilhado
com a profusão de cores, intrigado
com a fragilidade daqueles objetos
com os quais brincava com tanto Fig. 5: Ilha próxima a Abaetetuba, onde se encontra o
cuidado, mas duravam tão pouco. Na miritizeiro. Foto: Armando Queiroz.
verdade, o miriti é macio, facilita o entalhe, mas é muito frágil; provém do miritizeiro,
palmeira encontrada na várzea amazônica, que pode ter várias utilidades. Alguns artesãos
consideram-na abençoada, pois dela aproveita-se tudo, do fruto pode-se fazer mingau,
suco, creme, doce e até bronzeador. Da flor produz-se o licor, da folha constrói-se o
chapéu e do talo criam-se os brinquedos e muitos outros produtos.
A palmeira é encontrada nas ilhas dos arredores (Fig. 5); o fornecedor vende os
blocos que vêm com aproximadamente 100 talos, que já se encontram tratados, mas
necessitam ser secados. O movimento entre as ilhas e Abetetuba é intenso. Grande parte
da vida dos abaetetubenses gira em torno de uma grande feira à beira do rio Maratauíra,
um dos afluentes do rio Tocantins. É intenso o trânsito comercial. Há um posto fluvial
para abastecer as embarcações que também navegam carregadas, além do miriti, de açaí,
pupunha, bacuri e outros produtos.
O cenário da Feira da Beira é constituído pelo vai-e-vem de transeuntes, de
mototaxis e taxiciclistas (Fig.6). Na Feira há milhares de barraquinhas que vendem peixe
e camarão salgado, frutas, rosquinhas, uma variedade de produtos alimentícios, panelas,
instrumentos de trabalho, redes, roupas, enfim, uma infinidade de coisas. Nas lojinhas,
que se confundem no embaralhar de cores, pode-se encontrar também uma série
de produtos e até um Salão de Beleza, que enumera a lista de serviços: corte, luzes,
relaxamento, pintura e hidratação.
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Fig. 7: Mestre Amadeu, um dos principais artesãos do miriti, vendendo os brinquedos criados por ele com a
colaboração de membros da sua família. Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó.
Bem próximo à Feira, pode-se avistar o Mercado Municipal de Peixe, onde trabalha
o Mestre Amadeu (Fig. 7), que vende peixe, mas tem como grande paixão o brinquedo
de miriti. O título de Mestre adquiriu pela presteza e exímia habilidade com que entalha
o miriti e cria os brinquedos para serem vendidos, principalmente no Círio. Como
presidente da Associação de Artesanato de Brinquedo de Miriti revela que no Círio de
2008 foram vendidas em torno de 38.000 peças, confeccionadas por vários artesãos.
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O brinquedo que considera
mais fácil de fazer é a cobra e o
que mais gosta de criar é o casal de
pombinhos. Conta que começou a se
interessar pelo artesanato de miriti
quando foi acompanhar a mãe para
realizar uma cirurgia em Belém, na
época do Círio. Ao se deparar com
a Praça do Carmo, colorida com
os trabalhos dos artesãos, ficou
Fig. 8: Um dos objetos de grandes proporções, em miriti,
maravilhado e solicitou uma graça a criado em 2003 por Armando Queiroz, em parceria com os
Nossa Senhora de Nazaré: pediu a artesãos. Foto: Armando Queiroz.
5. Este depoimento de Mestre Amadeu foi obtido durante as gravações do vídeo para o Projeto Rios de Terras e Águas:
navegar é preciso, em Abaetetuba, no dia 17 de janeiro de 2009.
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Para Armando Queiroz, Abaetetuba, mesmo sendo uma cidade próxima de
Belém, tem um significado próprio, um perfil diferenciado, conquistado com o miriti.
Compreendendo esses significados culturais que dotam de uma identidade o lugar, quando é
contemplado, em 2003, pela primeira vez, com a Bolsa de Criação Artística do IAP, continua
a trabalhar, paralelamente, junto com os artesãos, os objetos de miriti – e alguns desses
objetos foram concebidos a partir das conversas realizadas nos barracões de Abaetetuba.
Todavia, o projeto Possibilidades do Miriti como elemento plástico contemporâneo, idealizado
em função da Bolsa do IAP, tem como produto final uma exposição que parte não do
objeto de miriti, mas do fruto do miritizeiro, mais precisamente da cor interna do fruto.
Fig. 9: Instalação na Sala dos Espelhos, realizada no Museu Histórico do Estado do Pará, em 2003, como resultado do
Projeto Possibilidades do Miriti como elemento plástico contemporâneo. Foto: Armando Queiroz.
A mostra é dividida em duas salas: a dos Espelhos e a Amarela (Figs. 9 e 10). Nesta
última, o que predomina é a cor de ouro. A luz. A partir desse momento, o artista reverte
o conceito mais tradicional de produto, comumente associado ao miriti, e concentra-se no
que à primeira vista encontra-se invisível, está por dentro do fruto, que é o amarelo. Coloca
em discussão um dado pictórico: a cor; um dado fotográfico: a luz. A instalação realizada
no Museu Histórico do Estado do Pará (MHEP) é acompanhada pelos sons recolhidos das
fabriquetas de miriti, pela película amarela fixada nos vidros. Tem como foco central uma
garrafa de plástico. Dentro, uma lâmpada. Como resultado, o que se vê é o amarelo banhar
a sala, confundir-se com a luz que vem da rua e penetra o ambiente. A solução simples,
desprovida de grandes artifícios, revela-se mágica, provoca “[...] a interrelação entre duas
realidades distintas: o cotidiano da cidade e o espaço museal”6.
6. Quando lhe foi enviado o texto para confirmar alguns dados, Queiroz enviou por e-mail esta explicação datada de
02 de fevereiro de 2009.
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Na Sala dos Espelhos ficavam
seis módulos revestidos com vidros
espelhados sobre os quais a imagem do
vídeo Anima 2 refletia e se multiplicava,
invadindo a sala, espalhando-se pelos
corpos dos visitantes, pelas paredes,
fragmentando-se no espaço. Eram
imagens das ilhas circunvizinhas de
Fig. 10: Instalação da Sala Amarela, resultante da Bolsa de Abaetetuba, com seus miritizeiros, que
Pesquisa do IAP, realizada em 2003, com garrafa plástica e
filtro amarelo, remetendo à cor interna do fruto de miriti. se misturavam à imagem daquela que
Foto: Armando Queiroz.
Queiroz elege como “a guardiã do
poder transformador da natureza”7.Trata-se de D. Nina Abreu, uma das mais prestigiadas
e criativas artesãs do miriti, que antes adorava criar bonecas de pano, até que o comércio
popular de R$ 1,99 retirou-lhe a possibilidade de subsistência. O miriti então prevaleceu
em sua vida e de forma inventiva rompeu com a tradição do uso exclusivo da pintura,
adicionando tecidos às roupas de alguns bonecos de miriti. Dona Nina também foi
responsável pela criação de um novo objeto que se popularizou: o pato dentro do
paneiro, reproduzindo a forma como são vendidos, antes de transformarem-se no prato
principal do almoço do Círio: o pato no tucupi.
O vídeo e a instalação estreitaram ainda mais os laços de Armando Queiroz
com Abaetetuba e com a cultura do miriti. Dos objetos criados paralelamente, que
vinham sendo feitos, ou idealizados desde 2002, um foi mostrado no IAP, no período da
exposição da Bolsa – o objeto híbrido: GaiolaBarco. O outro, uma espécie de maquete da
cidade de Belém8 (Fig. 11), participou da exposição Amazônia BR, em São Paulo, no Sesc-
Pompéia. Esta maquete, feita em miriti,
que representa o olhar do caboclo
sobre a cidade, o artista a concebeu
como se fosse um grande jogo, uma
espécie de tabuleiro impregnado pelo
olhar de quem vê a cidade através dos
rios.Trata-se de uma visão cabocla. Com
esta obra o artista realiza uma reflexão
sobre a relação entre Belém e as cidades
ribeirinhas, ao mesmo tempo em que
Fig. 11: Maquete da cidade de Belém, idealizada por
privilegia o ponto de vista daquele que Armando Queiroz e realizada em parceria com os
percebe a cidade através das águas e com artesãos de Abaetetuba. Esta obra foi apresentada na
exposição Amazônia BR no Sesc Pompéia, em São Paulo.
suas mãos constrói a Belém imaginária. Foto: Armando Queiroz.
7.Afirmativa de Armando Queiroz que se encontra registrada no CD gravado em 06 de agosto de 2006, no item 6.Anima 2003.
8. Esta maquete também foi exposta em Belém, no Arte Pará 2007.
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Fig. 12: A Gaiolabarco e os pássaros de miriti em grandes dimensões, apresentados no Festival de L’OH, em Paris,
França, em 2005. Foto: Armando Queiroz.
Fig. 13: Galeria de retratos de cidadãos abaetetubenses, realizada no Festival de L’OH, em Paris, França, em 2005.
Foto: Armando Queiroz.
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Armando Queiroz, que já expôs em duas cidades da Alemanha, Wiesbaden e
Nürnberg, em 2005 leva os objetos de miriti para a França, durante o Festival de L’Oh,
evento que estava inserido na programação do Ano do Brasil na França. Sem usar
a cor, em parceria com os artesãos, cria pássaros e cobras em grandes dimensões.
Leva, ainda, para a capital francesa, o objeto híbrido GaiolaBarco (Fig.12), vindo das
experiências anteriores. Com esse conjunto de objetos espalhados pelo jardim francês,
o artista entrelaça o elemento contemporâneo com a manifestação proveniente de
uma tradição cultural que integra a identidade amazônica.
Neste mesmo jardim, na fachada do Teatro Maison-Alfort (Fig. 13), Queiroz
afixa a galeria de retratos de cidadãos abaetetubenses, trabalho que originalmente foi
realizado no Mercado Municipal de Carne de Abaetetuba (Fig 14), como resultado da
participação de Queiroz no projeto Tridimensionais II, promovido pelo IAP e coordenado
por Ary Peres, em 2003. Esta intervenção foi criada a partir de uma visita que o artista
fez à residência de um ex-prefeito de Abaetetuba. Lá encontrou uma Galeria de Honra,
representação de notáveis, que, em geral, encontra-se em repartições públicas, e não
em uma residência particular. Por esta razão, Armando estranhou quando entrou na
sala do ex-prefeito e se deparou com a Galeria formada por retratos de ex-políticos,
ou pessoas que ocuparam cargos importantes na cidade.
Ao criar a Galeria de Honra no Mercado, mantendo o mesmo desenho da
Galeria encontrada na casa do ex-prefeito, o artista realizou um deslocamento
contextual, devolveu ao espaço público um tipo de representação que, singularmente,
ocupara o espaço privado. Mas, ao invés de prestigiados políticos, montou a coleção
de notáveis com o cidadão comum ou com figuras ilustres da cultura popular, como
Mestre Amadeu. Transferida para Paris, a Galeria não possui o mesmo significado,
apesar das fisionomias dos retratados e dos brinquedos de miriti comportarem os
traços identitários do lugar de onde vieram.
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Este trânsito cultural proposto no Ano do Brasil na França por Armando Queiroz
revela a preocupação com as fronteiras culturais que cada vez mais se diluem; com um
patrimônio que o artista sabe da importância e da necessidade de se preservar. Loureiro
(2000, p. 376), o poeta nascido na “capital mundial do artesanato de miriti”, ao analisar
a transformação cultural da Amazônia, traduz o posicionamento reflexivo de Queiroz:
O miriti é apenas uma das vertentes do conjunto de obras que Armando Queiroz
realiza. Percebe-se, ao longo de sua trajetória, uma diversidade de manifestações, em
algumas delas se sobressai o trânsito entre o popular e o erudito, em outras, o que
prevalece é a subjetividade. Existem também as obras em que as questões patrimoniais e
as da especificidade da arte se evidenciam. Mas, independente da vertente que prepondere,
há um eixo de pensamentos e ações que interligam os diferentes caminhos, provenientes
do envolvimento do artista com a arte, com o patrimônio, com a cidade, com a vida.
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Perfil de Armando Queiroz
Exposições Individuais
2003
ANIMA, Museu do Estado do Pará, Belém (PA)
2002
Confluências, Galeria Theodoro Braga, Belém (PA)
2001
Objetos, Galeria Sandra Rezende,Vitória (ES)
1997
Sermões, Pe. Antônio Vieira, Galeria de Arte da UNAMA, Belém (PA)
Projeto Macunaíma, Galeria Macunaíma, Rio de Janeiro (RJ)
1995
Identidade Interior, primeira individual, Galeria Theodoro Braga,
Belém (PA)
Exposições Coletivas
2008
Contiguidades, Museu Histórico do Estado do Pará, Belém (PA)
Obranome II, Museu Nacional do Conjunto Cultural da República,
Brasília (DF)
Poética da Percepção: questões da fenomenologia na arte brasileira, Museu
de Arte Moderna, Rio de Janeiro (RJ)
Arte Pará 2008, artista convidado, Belém (PA)
2007
Exposição de vídeos da série Estudos em vídeoarte Corpo toma Corpo:
o corpo como intermediador entre a vida e a arte, resultado da Bolsa de
Criação Artística do Instituto de Artes do Pará (IAP)
Arte Pará 2007, Belém (PA)
2006
Projeto Fio da Meada, Site Specific no mercado do Ver-o-Peso, 25º Arte
Pará, Belém (PA)
Casarão Fórum Landi, Site specific Belém (PA)
2005
Intervenção urbana no Festival de L’oh! Programação oficial do Ano do Brasil na França Maison-
Alfort, Paris (França)
Rede Emergente, FUNARTE, Rio de Janeiro (RJ)
Projeto Lâmina, Site Specific no Mercado de Carne Bolonha, 24º Arte Pará, Belém (PA)
2004
Salão UniversidArte, Faculdade do Pará (FAP), Belém (PA)
A mão do Lugar, intervenção urbana no bar São Jorge, Belém (PA)
2003
Evidências, promovida pela Kunsthaus de Wiesbaden e Associação dos Artistas Plásticos do Pará
(AAPP),Wiesbaden (Alemanha); como resultado do workshop Projetos Tridimensionais II, promovido
pelo Instituto de Artes do Pará (IAP), Belém (PA)
2002
Exposição de resultados do Workshop Art in Progress, Nürnberg (Alemanha)
Banquete das Orações, como artista convidado para exposição inaugural do Laboratório das Artes,
Espaço Cultural Casa das 11 Janelas, Belém (PA)
2001
Intercâmbio, Galeria Theodoro Braga, Belém (PA)
Exposição de resultados do Workshop Terra dos Rios, Galeria de Arte da UNAMA, Belém (PA)
Artista convidado do Salão de Pequenos Formatos para a itinerância em Curitiba (PR)
2000
Salão Arte Pará Dois Mil, Belém (PA)
IX Salão Municipal de Artes Plásticas (SAMAP), João Pessoa (PB)
26º Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte: O Brasil Amanhã, Museu de Arte da Pampulha, Belo
Horizonte (MG)
Projeto Prima Obra 2000 – FUNARTE, Brasília (DF)
7º Salão Nacional Victor Meirelles, Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis (SC)
Dezcaminhos – Galeria Fidanza – Museu de Arte Sacra, Belém (PA)
1999
II Workshop UFPA, Campus da Universidade Federal do Pará, Belém (PA)
1998
Artista convidado do Arte Pará 98, Museu do Estado do Pará – MEP (PA)
1997
Coletiva do Projeto Macunaíma, Galeria Macunaíma, Rio de Janeiro (RJ)
1996
II Salão de Pequenos Formatos, Galeria de Arte da UNAMA, Belém (PA)
De longe, de perto: olhares – VII Semana de Cultura Alemã, Galeria Theodoro Braga, Belém (PA)
1994
III Salão Paraense de Arte Contemporânea (SPAC), Belém (PA)
XIII Salão Arte Pará, Belém (PA)
1993
II Salão Paraense de Arte Contemporânea (SPAC), Belém (PA)
XII Salão Arte Pará, Belém (PA)
Prêmios
2009
Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas 2009-2010
2007
Prêmio Aquisitivo, XIII Salão de Pequenos Formatos, Belém (PA)
2006
Prêmio Aquisitivo, XII Salão de Pequenos Formatos, Belém (PA)
2004
Grande Prêmio, I Salão UniversidArte, Faculdade do Pará – FAP, Belém (PA)
2003
Prêmio Especial Graça Landeira, IX Salão de Pequenos Formatos, UNAMA, Belém (PA)
2000
Prêmio Espaço Arte Pará Dois Mil (Operai dell’art e della Vita), promovido pela Fundação Romulo
Maiorana, Belém (PA)
Obras em Acervos
Espaço Cultural Casa das Onze Janelas
Estacon
Galeria Graça Landeira da UNAMA
Fundação Romulo Maiorana
Faculdade do Pará (FAP)
Museu da Universidade Federal do Pará
Dr. Jorge Alex
Michael Arnegger
Milton Kanashiro
Marisa Mokarzel
Atelier
Av. Nazaré 444/152. Belém – Pará – Brasil.
Telefones: (91)3241.7410 / (91)8129.2018
E-mail: queirozarmando@ig.com.br
Título: Ateliê de Costura
Ano: 1997
Técnica: Mista sobre Tela
Dimensões: 1,00 m x 0,75 m
Acervo da artista
“Depois de cortar e modelar, a pintura
de Elieni Tenório é a segunda pele. Essa
roupa, mais que cobrir ou velar, revela
sentidos do corpo. O molde, com suas
linhas e pontilhados, ajusta imagem e
desejo. A roupa seria uma espécie de
arquitetura do ser”.
Paulo Herkenhoff
41
Título: Por Ela
Ano: 2001
Técnica: Pintura sobre tela
Dimensões: 1,00 m x 0,75 m
Acervo da artista
42
Na pintura de Elieni Tenório, a figura feminina quase sempre ocupa o centro, às
vezes isolada na geometria de um cubo, círculo ou retângulo, expondo sensualidade na
imponderável janela ou arena espelhada, e, também, quando a cena ganha atmosfera
familiar com álbuns de retratos de recatadas mulheres em seu cotidiano.
O certo é que a artista segue em busca da essência feminina e a revela em cenas
religiosas e profanas, comuns e incomuns. A pintura denominada Por Ela, fez parte da
exposição Nós, soluço que desata realizada em Santarém, município paraense localizado
na região conhecida como Baixo Amazonas, em 2001.
Em Por Ela pode-se observar a figura feminina exposta, numa atitude sensual/
sexual. Metade do seu corpo sai por uma suposta janela e é amparado por cabeças
masculinas, cujos olhos estão encobertos por óculos escuros. Porém, trata-se de uma
janela ou de um portarretratos? Há, nessa pintura, uma justaposição, cujo paradoxo
desmancha as fronteiras entre o imaginário e o mundo real, e, deste modo, coloca em
questão relações entre arte e vida.
No jogo de ambivalência janela/portarretrato proposto pela artista é
necessário que entendamos a arte além da representação do real, e, principalmente,
como a possibilidade de criação de novas e inusitadas realidades.
De frente para o cubo transparente que a contém, um homem com a cabeça
inclinada para baixo, sentado sobre um outro cubo transparente, encontra-se numa
posição enigmática. Seria o marido ou o amante traído? Ou ainda, seria um voyeur que
cansou de observá-la?
Para o jornalista e crítico de Arte, Cláudio de La Roque Leal (2003):
Desde sua mostra “Suburbano Coração” (1998), uma leitura do
sentimento do povo mais simples, do povo do subúrbio, a artista está
cada vez mais interada e interessada nesses sentimentos que afloram
nas prostitutas e nos homens debruçados sobre a mesa de bilhar.
Elieni não abandonou a condição da mulher, ao contrário, questiona
cada vez mais, como se em uma página policial de jornal, por que essas
mulheres são sempre as eternas vítimas? Afirma categoricamente
que se os homens matam por “contrato”, por terras, bebedeira: as
mulheres matam por dor, humilhação. Assim, enquanto os homens
matam desconhecidos; pelos maus-tratos, pelo amor, mulheres matam
seus amantes, suas amigas, seus filhos, como Medeia que por vingança
assassina os dois filhos do homem que ama e que abandonou.
Na tela Pela própria natureza, mais uma vez as personagens têm os olhos encobertos
por óculos escuros. Parecem dizer que nós, espectadores, não precisamos vê-los, mas
senti-los perscrutando nossas intenções, pois, como afirma Didi-Huberman (1998, p. 29):
“O que vemos só vale – só vive – em nossos olhos pelo que nos olha. Inelutável, porém,
é a cisão que separa dentro de nós o que vemos daquilo que nos olha”.
Pelas mãos de Elieni, os bastidores usados pelas bordadeiras, nessa obra,
transformam-se em lentes/janelas por onde se vê a intimidade da mulher que se multiplica
e assume várias vidas, histórias, como a atriz vivendo seus papéis.
43
Título: Pela própria natureza
Ano: 2002
Técnica: Mista sobre tela com bastidor
Dimensões: 53 cm x 73 cm
Acervo da artista
44
Mas, quando a artista fala dessa gravura diz que o título faz referência a uma frase
muito utilizada em determinada época, em que se reportava às pessoas que querem
mostrar às outras que são diferentes do que verdadeiramente são, ou seja, que vivem
de aparências. Para essas pessoas usava-se a seguinte frase: “Fulano só quer ser o que a
folhinha não marca”. Portanto, há nessa imagem uma crítica sutil às falsas aparências, ao
mesmo tempo em que a idéia de calendário nos faz lembrar que, como o tempo, tudo
passa, inclusive a beleza física.
No processo de produção, uma fina camada de entretela é colada sobre a folha de
jornal e sobre ela a imagem é gravada, por meio da técnica de xilogravura. Na cena, em
trajes de banho, as personagens parecem participar de um alegre dia de verão, à beira-
mar ou à borda de uma piscina.
45
Pode ser também uma cena posada para uma campanha publicitária, uma vez que
na parte inferior da imagem se observa um código de barras, o que pode representar a
venda dos produtos que os modelos estão portando: roupas de banho e óculos escuros.
Entretanto, a imagem pode também estar representando o narcisismo de homens
e mulheres, a venda da beleza, a competição entre meninos e meninas de programa.Todas
essas possibilidades, além de outras, podem ser cogitadas como interpretação dessa
imagem, numa contínua revelação de sentidos.
Da representação figurativa da mulher, Elieni parte para a elaboração de artefatos
relacionados com o seu universo. Nesse momento, quando começa a se desvencilhar da
figuração da forma feminina propriamente dita, se dá conta de que estava falando de si o
tempo todo. É como afirma a curadora Lídia Souza: “A arte é sua catarse, seu começo-
meio de vida. Nela se aglutina o poder do devir, a reverência e a irreverência, a liberdade
de divinizar-se e humanizar-se, sem censura” (SOUZA, 2006, p. 3).
A artista prossegue compondo um singular vestuário. Na fase da série Vestida de
Obsessão outros elementos foram agregados na composição desses objetos, como flores
e debruns feitos em crochê, contudo, na série seguinte, denominada Sobre a Pele, Elieni
já não os utiliza.
A princípio, vale-se dos moldes como suportes. As linhas do molde, instrumento
de trabalho das costureiras, ora se cruzam ora seguem paralelas, um labirinto para os
olhos leigos, não obstante, um mapa do corpo que será vestido para a costureira e uma
cartografia da alma feminina para a artista.
Sobre a folha do molde de revistas de figurino, Elieni esboça as peças, um desenho
minucioso, pelo qual vai projetando cortes, costuras e volumes que serão posteriormente
modelados em tecidos previamente preparados.
46
Detalhe de processo de criação. Detalhe de processo de criação.
Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó. Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó.
Livros/diários da artista.
Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó.
47
48 Objetos em processo de criação.
Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó.
Instalação Sobre a Pele
Ano: 2008
Fotos: Marco Antônio Serrão
Acervo da artista
O curador Paulo Herkenhoff (2006, p. 187) fala desse vestuário que parece
confundir-se com a própria pele:
A pintura de Elieni Tenório se põe como um couro estendido. É uma
panóplia do corpo (ou o corpo mesmo representado), [panóplia =
armadura]. A pintura é pele decorticada como molde da segunda
pele [a roupa]. O corpo fragmentado costura uma totalidade que
identifica hipóteses de vestígio do sujeito.
49
Instalação Sobre a Pele
Ano: 2008
Fotos: Marco Antônio Serrão
Acervo da artista
50
Instalação Sobre a Pele
Ano: 2008
Fotos: Marco Antônio Serrão
Acervo da artista
51
Perfil de Elieni Tenório
Exposições Individuais
2008
Universo da Mulher. Galeria de Arte do SESC/DOCA, Belém (PA)
Obsessão. Galeria Bellevue-Saal,Wiesbaden – Alemanha
2007
Linhas, Agulhas e Moldes – A arquitetura do ser. Galeria 237 e ESMAC,
Belém (PA)
2006
Objeto do Desejo. Galeria de Arte do SESC, Belém (PA)
Entrelinhas. Espaço Cultural do Banco da Amazônia, Belém (PA)
2005
Pinturas e Gravuras. Galeria de Arte Elf, Belém (PA)
Ponto a Ponto. Galeria Caleidoscópio, Belém (PA)
2004
Vestida de Obsessão. Museu Histórico do Estado do Pará (Sala Manuel
Pastana), Belém (PA)
2003
Mostra de Pinturas (Sob Medidas, Nos Bastidores, Olhar, Reflexos, Espelhos e
Outras Segundas Intenções). Galeria de Arte Elf, Belém (PA)
2002
Por Ela. Belém Vivo/Remix, Belém (PA)
Nos Bastidores da Vida. Galeria de Arte do SESC, Belém (PA)
Essência do Feminino. Galeria de Arte da Sala Vip Valeverde Turismo, Belém
(PA)
Nos Tempos do Apagão: aventuras e desventuras. Galeria de Arte do SESC,
Ananindeua (PA)
Sob Medida. Museu Histórico do Estado do Pará (Sala Manuel Pastana),
Belém (PA)
Corpo. Galeria de Arte do SESC, Ananindeua (PA)
2001
O Silêncio que Evoca. Galeria de Arte do SESC, Araxá, Macapá (AP)
Nós, soluço que desata. Galeria de Arte Tapajós, Santarém (PA)
O Olhar que Plasma. Café Imaginário, Belém (PA)
2000
Reflexos. Galeria de Arte Graça Landeira (UNAMA), Belém (PA)
O Silêncio que Evoca. Galeria Theodoro Braga, CENTUR, Belém (PA)
1999
Espelhos da Alma. Galeria Theodoro Braga, CENTUR, Belém (PA)
Vivências. Espaço Cultural do SESC, Belém (PA)
1998
Suburbano Coração. Museu de Arte CCBEU, Belém (PA)
Exposições Coletivas
2007
XIV Bienal Internacional de Arte de Vila Nova de Cerveira, Portugal
1ª Bienal Internacional de Sorocaba, São Paulo (SP)
4ª Bienal de Gravura de Santo André, São Paulo (SP)
16º Encontro de Artes Plásticas de Atibaia (SP)
XXVI Salão Arte Pará. Fundação Rômulo Maiorana, Belém (PA)
2º Salão da Vida. Memorial dos Povos, Belém (PA)
Arraial de Todos os Tempos. Galeria Theodoro Braga – CENTUR, Belém (PA)
Meu Anjo. Espaço Cultural do Banco da Amazônia, Belém (PA)
Minha Visão de Fé. Estação Gourmet, Belém (PA)
Acervo Onze Janelas [Gravuras no Pará]. Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, Belém (PA)
2006
8ª Bienal Naifs do Brasil (Entreculturas).Artista convidada da Mostra Matrizes Populares, Piracicaba (SP)
XII Salão UNAMA de Pequenos Formatos. Galeria de Arte Graça Landeira (UNAMA), Belém (PA)
Metavisão. Galeria Theodoro Braga – CENTUR, Belém (PA)
Sublimes rios, místicas águas. Espaço Cultural Banco da Amazônia, Belém (PA)
Traços e transições revisitadas. Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, Belém (PA)
2005
XI Salão UNAMA de Pequenos Formatos. Galeria de Arte Graça Landeira (UNAMA), Belém (PA)
Salão da Vida. Museu Histórico do Estado do Pará (MHEP), Belém (PA)
Seis Sentidos. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Belém (PA)
2004
X Salão UNAMA de Pequenos Formatos. Galeria de Arte Graça Landeira (UNAMA), Belém (PA)
2003
XII Salão de Artes Plásticas de Atibaia (SP)
XXII Salão Arte Pará. Fundação Rômulo Maiorana, Belém (PA)
Luzes da Amazônia. Palacete Bolonha, Belém (PA)
Carnaval, Estandartes, Alegorias e Endereços. Museu de Arte CCBEU (MABEU), Belém (PA)
Da cor do Sangue. Galeria Municipal de Arte, Belém (PA)
Traços e Transições. Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, Belém (PA)
Contágios.V Encontro Anual da Associação dos Artistas Plásticos do Pará. Museu Histórico do Estado
do Pará. Belém (PA)
Evidências. Kunsthaus,Wiesbaden, Alemanha
Gravura.com. Coletiva de artistas paraenses. Espaço Cultural Banco da Amazônia, Belém (PA)
2002
4º Salão de Arte SESC. Araxá, Macapá (AP)
XXI Salão Arte Pará. Fundação Rômulo Maiorana, Belém (PA)
5 x 4. Espaço Cultural da Lectus, Belém (PA)
Ases de Copas x Damas de Ouro. Espaço Cultural Banco da Amazônia, Belém (PA)
IV Encontro dos Artistas Plásticos do Pará. Museu Histórico do Estado do Pará, Belém (PA)
Aviação. 29º Aniversário da Infraero. Exposição de obras de artistas da Associação dos Artistas Plásticos
do Pará (APPA). Aeroporto Internacional de Belém. Infraero e APPA. Belém (PA)
Apagão: luzes e travas. Museu de Arte CCBEU (MABEU), Belém (PA)
2001
8º Salão de Artes Cidade de Itajaí (SC)
XIII Salão de Artes Plásticas, Praia Grande (SP)
2º Salão de Artes Plásticas Jaguariaíva (PR)
33º Salão de Arte Contemporâneo de Piracicaba (SP)
X SAMAP - Salão Municipal de Artes Plásticas, João Pessoa (PB)
Arte Verão. Galeria Debret, Belém (PA)
Intercâmbio. Galeria Theodoro Braga (CENTUR), Belém (PA)
Ver Belém II. Galeria de Arte Debret, Belém (PA)
Todos Nós. Galeria Theodoro Braga (CENTUR), Belém (PA)
2000
IX SAMAP - Salão Municipal de Artes Plásticas, João Pessoa (PB)
VI Salão UNAMA de Pequenos Formatos. Galeria de Arte Graça Landeira (UNAMA), Belém (PA)
1º Salão de Artes Plásticas de Pato Branco (PR)
XXV Salão de Artes Plásticas de Jacarezinho (PR)
XIX Salão Arte Pará. Fundação Rômulo Maiorana, Belém (PA)
32º Salão de Arte Contemporâneo de Piracicaba (SP)
Dezcaminhos. Projeto Dezigual. Galeria Fidanza, Belém (PA)
Circuito Visual Coleção de Artes Visuais do MEP. Museu do Estado do Pará (MEP), Belém (PA)
Movimento Contemporâneo no Salão Tannewald, Caxias do Sul (RS)
Projeto Prima Obra 2000. Galeria da Funarte, Brasília (DF)
Movimento Contemporâneo Centro Municipal de Cultura do Balneário Camboriú (SC)
Novos Contemporâneos. Galeria do Centro Cultural de Santa Catarina, São Paulo (SP)
Intimação. Museu Judiciário do Pará, Belém (PA)
Entremeio. III Encontro da APPA. Museu de Arte de Belém (MABE), Belém (PA)
Arte no Goeldi. Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém (PA)
Ver Belém. Galeria de Arte Debret, Belém (PA)
1999
XVIII Salão Arte Pará. Fundação Rômulo Maiorana, Belém (PA)
31º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba (SP)
I Salão Internacional de Minigravura.Vitória (ES)
Mapeando poéticas – confirmação revelação de talentos. Galeria Municipal de Arte. Belém (PA)
Brasil Quinhentos Anos de Arte. Fundação Cultural Brasil/Portugal. São Paulo (SP)
Contemporaneidade Alemã/Brasileira. Fundação Cultural de Blumenau; Museu de Arte de Joinville e
Museu de Itajaí (SC)
Na Passagem da Corda. II Encontro da APPA, Museu de Arte de Belém, Belém (PA)
29ª Coletiva do Centro Cultural Tao Sigulda, São Paulo (SP)
1998
IV Salão UNAMA de Pequenos Formatos. Galeria de Arte Graça Landeira da UNAMA, Belém (PA)
IV Salão de Arte. Museu Naval da Amazônia, Belém (PA)
Mapeando Poéticas - Confirmações Revelação de Talentos. Galeria Municipal de Arte, Belém (PA)
Marcando Trilhas – Xilogravura. Galeria Municipal de Arte, Belém (PA)
V Mostra de Arte da AAEPA. Museu da UFPa, Belém (PA)
Círio: Caminhos da Fé. Museu Histórico do Estado do Pará (MHEP), Belém (PA)
Prêmios e Distinções
2006
XXV Salão Arte Pará. Fundação Rômulo Maiorana, Belém (PA). 2º Grande Prêmio
6º Salão de Arte SESC. Araxá – Macapá (AP). Prêmio Incentivo
2005
XXIV Salão Arte Pará. Fundação Romulo Maiorana, Belém (PA). Prêmio Aquisição
2004
XXIII Salão Arte Pará. Fundação Romulo Maiorana, Belém (PA). Prêmio Aquisição
2002
XV Salão de Artes Plásticas “Francisco Cimino”. Amparo (SP). Menção Honrosa
2001
VII Salão Unama de Pequenos Formatos, Belém (PA). Aquisição
2000
XIV Salão de Artes Plásticas “Francisco Ciniro”. Amparo (SP). Prêmio de Bronze
1999
V Salão Unama de Pequenos Formatos. Belém (PA). Aquisição
7º Salão de Arte Cidade de Itajaí (SC). 3º Lugar
II Salão de Artes Plásticas Volkswagen Clube. São Bernardo do Campo (SP), Prêmio Especial e Medalha
de Ouro
V Salão de Arte Museu Naval da Amazônia. Belém (PA). Prêmio Medalha de Prata
1998
Concurso Pintura Mural. SEMEC – CEAL e FUMBEL, Belém (PA). 1º Lugar
II Salão de Artes Plásticas da Base Aérea de Belém. Belém (PA). Prêmio Aquisição
1997
VI Salão de Arte “Primeiros Passos”. Museu de Arte CCBEU, Belém (PA) – 1º Lugar
I Salão de Artes Plásticas da Base Aérea de Belém, Belém (PA). Medalha de Ouro
Obras em Acervos
Museu Histórico do Estado do Pará (MHEP), Belém (PA)
Museu de Arte de Belém (MABE), Belém (PA)
Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA), Belém (PA)
Museu de Arte CCBEU (MABEU), Belém (PA)
Museu de Arte Contemporânea da Bienal de Vila Nova de Cerveira, Portugal
Espaço Cultural Banco da Amazônia, Belém (PA)
Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, Belém (PA)
Secretaria de Estado de Cultura de Wiesbaden, Alemanha
Universidade da Amazônia – Casa da Memória, Belém (PA)
Pinacoteca Municipal de Atibaia (SP)
Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura – Fortaleza – CE
Fundação Rômulo Maiorana, Belém (PA)
Instituto de Artes do Pará, Belém (PA)
Galeria Elf (Gileno Chaves), Belém (PA)
Estacon (Lutfala Bitar), Belém (PA)
Atelier
Residencial Ipuan, Rua A, nº 38. Marambaia. CEP: 66.615-760. Belém – Pará – Brasil.
Telefones: (91)3231.5515 / (91)8142.8502
E-mail: elienitenorio@yahoo.com.br
Fig 1: O cotidiano do bairro do Guamá, com o comércio informal e o vai e vem de pessoas.
Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó.
Jocatos criou seu nome artístico a partir da junção das primeiras sílabas de
seu nome de nascimento: João Carlos Torres da Silva, sendo que o último sobrenome
cedeu apenas a sua letra inicial. O inquieto imaginário do artista o acompanha nos atos
cotidianos, na casa de dois andares repleta de objetos. No térreo, uma mesa sempre
posta, cuidadosamente arrumada, à espera de convidados ou organizada para alguma
celebração, talvez a da própria vida. A casa em que mora foi por ele projetada é herança
de um bairro no qual sempre habitou. Lugar onde se encontram as recordações da
infância, os amigos, feiras, prédios e ruas que conhece em detalhes, tem afeição, constitui
o universo que o identifica. Na concepção de Garcia Canclini (2000, p. 190):
Ter uma identidade seria, antes de tudo, ter um país, uma cidade ou
um bairro, uma entidade em que tudo que é compartilhado pelos que
habitam esse lugar se tomasse idêntico ou intercambiável. Nesses
territórios a identidade é posta em cena, celebrada nas festas e
dramatizadas também nos rituais cotidianos1.
1. Esta concepção de Nestor Garcia Canclini, relativa à identidade, encaixa-se perfeitamente a Jocatos, descreve a
profunda relação que o artista tem com o seu país, com sua cidade, com o seu bairro.
2. Este bairro encontra-se organizado no 8º Distrito Administrativo de Belém, juntamente com o Jurunas, Cremação,
Canudos, Terra Firme e Condor.
59
Para Jocatos, trata-se de um bairro que não dorme. No burburinho da noite já
brilhou a Estrela do Norte, gafieira muito frequentada e que recebeu inúmeros casais de
dançarinos que talvez também tenham exibido seus passos nos salões do Clube Onze
Bandeirinhas. Durante a noite, bem mais cedo, o artista diz ser possível avistar a lamparina
anunciando o vendedor de pamonhas e de cascalho. Seja noite, seja dia, os contrastes
sobressaem-se. O cotidiano, aparentemente impregnado de hábitos interioranos, divide
espaço com os traços da globalização.
Na diversidade cultural, no entanto, predomina o universo da cultura popular,
as cores fortes inscritas no trânsito caótico de informações e no vai-e-vem (Fig.1)
constante, que preenche de dinamismo comércios e ruas. A poluição sonora e a poluição
visual misturam-se ao cheiro bom das ervas vendidas na Feira do Guamá. Movimentam-
se, residem no bairro, famílias vindas de outras cidades brasileiras, principalmente do
Maranhão, que convivem com aquelas que ali nasceram, e juntas passam a construir a
história do lugar. Essas imagens acompanham o dia-a-dia do artista que enuncia:
Fig 2: O som que percorre o bairro, preenche com a diversidade sonora os vários recantos do Guamá. Foto: Miguel
Chikaoka/Kamara Kó.
3. Esta afirmativa encontra-se entre os materiais cedidos pelo artista. Trata-se de um documento intitulado Trajetórias,
composto de imagens e textos organizados por Jocatos.
60
O olhar esmerado capta as cenas, que,
retidas na retina, são devolvidas em forma de
arte. Jocatos (Fig.3) é um artista multifacetado,
cria instalações, objetos, realiza intervenções
urbanas, mas é a gravura que lhe fornece
um pensamento norteador dos múltiplos
segmentos da prática artística. O processo
criativo, seja qual for, traz o princípio da
gravura, técnica empregada por grandes
artistas como Albert Dürer, Rembrandt e
Francisco Goya. No Brasil torna-se popular
com as ilustrações da literatura de cordel e
ganha destaque no meio artístico com Lasar
Segall, Oswaldo Goeldi e Lívio Abramo.
No universo da arte, Jocatos,
primeiramente, dedica-se à xilogravura e
à gravura em metal, com uso de matrizes
tradicionais e impressão sobre papel. As feiras
Fig 3: Jocatos em seu ateliê, durante seu processo de
e mercados do bairro fornecem o material criação. Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó.
temático. A tacacazeira é uma das figuras
emblemáticas que o artista, conhecendo muito bem o seu ofício, registra com singeleza e apuro
técnico.Trata-se de uma série de personagens percebidos no cotidiano, construídos com suaves
linhas, traçadas com ponta-seca, com cortes de goiva, que dão forma às delicadas histórias.
Fig 4: Panorâmica do ateliê do artista com os inúmeros instrumentos. Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó.
61
As experimentações, contudo, logo surgem e o ato de gravar perde a tradição da
multiplicidade para dar lugar a gravura híbrida ou única, na qual a matriz pode ser a própria
obra. Emergem como tema, nesse momento, as cartografias, os acidentes geográficos,
mas, desta vez, o que fica demarcado é o lugar, o homem se ausenta da imagem. Os rios
transformam-se em símbolos cartográficos, armazenados em caixas de madeira como se
fossem jóias (Fig. 5), mapas antigos, abstrações. No entanto, composto por material pouco
nobre, o suporte onde o artista crava a imagem é peculiar, tem sua função alterada. A
lata de sardinha, utilizada pelo artista, já não serve para acondicionar pequenos peixes,
foi transportada para o campo artístico. Transformou-se em gravura-objeto, tornando-se
única, revertendo o processo da reprodutibilidade.
Os estabelecimentos de vendas, a feira e os mercados são importantes fontes
fornecedoras dos suportes não usuais que o artista utiliza em seu processo artístico. Não
apenas as latas de sardinha integram o espaço da arte, mas também as latas de goiabada e
margarina, que Jocatos recorta, dobra, crava as ferramentas, perfura transformando-as ora
no que denomina de gravura-objeto, ora em escultura. As latas emprestam suas cores e
estampas, para logo depois serem modificadas, ganharem texturas e diferentes formas.
Mesmo dedicando-se às experimentações, o artista segue realizando a gravura
tradicional e nos novos trabalhos permanecem os vestígios do gravurista, neles, distingue-
se o princípio artístico que questiona a reprodução e repensa o conceito de gravura. A
inquietação conduz Jocatos à tridimensionalidade. Mas, as latas não são o único suporte
advindo da indústria que o artista se apropria. As imagens também podem ser gravadas
em caixas de papelão, que talvez tenham armazenado a própria lata de sardinha ou outro
produto proveniente de uma indústria qualquer.
Fig 5: Gravuras guardadas em caixas, como se fossem jóias. Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó.
62
Fig 6: Made in Gravura, instalação de 2004, formada com caixas de papelão. Foto: Jocatos.
63
Fig 7: Intervenção realizada em frente ao Grupo Escolar Estadual Frei Daniel, no Guamá. Com 360 latas de manteiga
Nossa Senhora de Nazaré, em 2000. Foto: Jocatos.
O Círio, que significa imensas velas de cera, tem origem em Portugal e está
relacionado a uma pequena aldeia de pescadores e ao fidalgo D. Fuas Roupinho, um dos
auxiliares do rei D. Afonso Henriques, que Nossa Senhora de Nazaré salvou de cair no
abismo. Em Belém, integra uma lenda muito semelhante a outras de cunho religioso:
remete à imagem de Nossa Senhora encontrada pelo caboclo Plácido no caminho de
Vigia para Belém, às margens do igarapé Murutucu. Esta imagem que foi levada para casa
por Plácido, mas sempre retornava para o local onde havia sido achada. A notícia se
espalhou e o governador resolveu então levá-la para o palácio do governo, deixando-a
sob a guarda de soldados.Todavia, a imagem retornou ao igarapé. Plácido, então, ali mesmo
ergueu uma ermida para acolher a santa, justamente o local onde atualmente se encontra
a basílica de Nossa Senhora de Nazaré.
Quase um século depois, em 1793, a imagem (Fig. 9) foi trasladada para a capela
do palácio do governo, para no dia seguinte prosseguir em meio à procissão, dando
início ao primeiro Círio de Nossa Senhora de Nazaré, quando os fiéis novamente a
conduziram ao lugar onde foi encontrada pela primeira vez, ou seja, a ermida construída
por Plácido, a atual basílica de Nazaré.
Considerado um bem cultural de natureza imaterial, após 211 anos de realização,
o Círio é declarado patrimônio cultural brasileiro, em 05 de outubro de 2004 (IPHAN,
2004), ficando registrado no Livro das Celebrações, instituído no Decreto Federal Nº.
3.551 (BRASIL, 2000). Este reconhecimento confirma a valorização de um bem que
integra a identidade cultural da cidade, e é celebrado tanto nos atos cotidianos mais
simples, como no almoço servido após a procissão, em que se destacam os pratos típicos
como o pato no tucupi e a maniçoba, até as festas populares que acontecem no
período que antecede e sucede a procissão de domingo.
64
Fig 8: Durante o Círio: o mar de promesseiros e devotos de Nossa Senhora de Nazaré. Foto: Miguel Chikaoka/
Kamara Kó.
Algumas latas que Jocatos incorpora aos seus trabalhos estão relacionadas com
a tradição do Círio, com a identidade cultural da cidade. Não é à toa que o artista
elege as latas de manteiga que possuem a imagem da Virgem para construir muitas das
suas instalações e realizar intervenções públicas. Fabricadas em Goiás, essas latas são
encontradas no supermercado do bairro do Guamá. Depois de usadas, também são
utilizadas pela população para outras funções como vender amendoim, cascalho, servir
de depósito para arroz, farinha e carvão, além de funcionarem como vasos, os quais
muitas vezes são usados para vender flores, próximo ao cemitério.
Cortando, perfurando e martelando essas latas, tão caras aos moradores do bairro,
Jocatos cria algo com teor artístico e, neste instante, como foi dito, a lata transforma-se
em gravura. Contudo, sai do plano
para a tridimensionalidade (Fig. 10 e
11), transformando-se em objetos
sacros constituídos por cores
fortes. São candelabros, oratórios,
ícones sagrados que se articulam,
dotando de significado religioso a
instalação. Na mostra Ofertório, que
o artista realiza em 2001, na capela
do Museu Histórico do Estado do
Fig 9: O papel picado em homenagem à passagem de Nossa
Pará (MHEP), o popular e o religioso Senhora de Nazaré em sua Berlinda adornada de flores. Momento
se entrelaçam. mais esperado do Círio. Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó.
65
A lata de manteiga Nossa Senhora de Nazaré cede sua imagem a 45 peças formadas
por relicários, ostensórios e castiçais que ocupam o altar e as dependências da capela.
Em relação à exposição, Jocatos (2001) afirma: “[...] o sacro é algo que está presente no
meu trabalho há algum tempo. Participei, por exemplo, do projeto Arte e Paixão, que
era realizado durante a Semana Santa, no Centur. Considero um desafio desenvolver um
trabalho a partir de um tema estabelecido” 4. No Ofertório, o artista trabalha um tema
sacro que estabelece para si mesmo.
Fig 10: Objetos criados por Jocatos com a lata de Fig 11: Oratório para João e Maria, instalação realizada
manteiga que traz a imagem de Nossa Senhora de Naz- na Capela do Museu Histórico do Estado do Pará, 2001.
aré. Foto: Jocatos. Foto: Jocatos.
Jocatos dedica essa exposição a seus pais, que se chamam João e Maria, nomes
que remetem aos personagens bíblicos, fornecendo, assim, um duplo sentido à sua
dedicatória. Mantendo-se fiel ao seu bairro, o artista ultrapassa as fronteiras, não tanto
por ter compartilhado com João e Maria os rituais cotidianos do Guamá, louvado os
santos, participado das festas profanas, mas por colocar em cena a identidade que não se
limita ao bairro, mas estende-se à cidade e a todos os lugares nos quais se sobressaem: a
cultura popular, e a devoção religiosa mesclada às manifestações profanas.
Para Jocatos, o Círio é um momento de reflexão, faz parte da cultura do paraense.
Considera naturais as mudanças no ritual da procissão, que vêm ocorrendo ao longo dos
anos, pois acredita que as manifestações culturais não são estáticas, alteram-se com o tempo.
Em determinadas intervenções a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, impressa
na lata, permanece intacta e há uma associação mais direta com a própria procissão. Ainda
em 2001, Jocatos realiza duas intervenções, uma na calçada do MHEP, outra na Estação
das Docas (Fig. 12). Na primeira, o artista utilizou 1500 latas. Na segunda, com o irônico
título de Made in Maria, realiza a intervenção com 2.680 latas e mais dois containers. As
latas formam um cortejo, e se dirigem ao interior do container onde se encontra um altar.
O tema religioso integra-se à mobilidade e incerteza de um não-lugar. O container é
utilizado para transportar coisas, mercadorias, e não se pode esquecer que na região
portuária transitam navios, barcos e vários tipos de navegações. Trata-se de um lugar
66
de ir e vir, de trânsito constante. A expressão internacional “made in” identifica o lugar
de onde procede a mercadoria e simbolicamente refere-se ao universo santo de Maria
como Fátima, em Portugal, Guadalupe, no México, Aparecida, em São Paulo, lugares de fé
e onde se comercializam os produtos religiosos.
No mundo atual, o intenso fluxo de pessoas e coisas tendem a alterar rapidamente
os traços culturais de um lugar. Será que Made in Maria, ainda identifica a manifestação
religiosa que há tantos anos ocorre no Norte do país? A divulgação massiva pelos meios
eletrônicos, a constante e crescente presença de turistas, até que ponto descaracteriza o
ritual de celebração do Círio de Nazaré? As interrogações são muitas e a obra do artista
torna-se aberta, permitindo que questões artísticas, sociais e culturais emerjam.
No Arte Pará de 2006, Jocatos experimenta um novo espaço próximo ao rio,
que também está relacionado com o trânsito incessante de pessoas e mercadorias: o
Ver-o-Peso, um símbolo identitário da cidade, presente nos cartões postais, nas imagens
de pintores e fotógrafos, nas narrativas de escritores, na voz do poeta. O artista cria a
instalação Compartilhar, quando, em parceria com os feirantes, disponibiliza as latas para
ocuparem o Mercado de Ferro, as prateleiras, o ambiente dos vendedores de peixes.
Desta vez, o objeto impregna-se do cheiro forte, do pitiú, que ainda insiste em ficar,
mesmo depois da lavagem do mercado no final do dia.
Um ano antes, em 2005, quando recebe o Grande Prêmio no Arte Pará, o artista
propõe Transumância (Fig.13 e14), uma obra que mais uma vez tangencia o campo
da sociologia e da antropologia. Jocatos, com minúcia, transpõe para o Salão um altar e
o ambiente em que se encontrava na casa de uma moradora do bairro da Sacramenta5:
Fig 12: Intervenção/instalação Made in Maria, realizada na Estação das Docas, em 2001, com a utilização de dois
containers. Foto: Jocatos.
67
Dona Orlandina Lima Oliveira. Em contrapartida, o artista instala no lugar do altar de
Dona Orlandina, outro por ele realizado. Desta forma, o que fazia parte do cotidiano
vai para o espaço da arte e o que era arte vai para o espaço do cotidiano. Com esta
ação, Paulo Herkenhoff (2005, p.15) considera que “[...] Jocatos ironiza o virtuosismo
da representação veraz através de minúcia transumância [...]. Sua dupla metáfora é a
procissão do Círio (migração periódica da Santa e dos seus fiéis) e o Arte Pará (montras
como migração periódica da arte)”.
O gesto, a dupla instalação promove a locomoção do próprio visitante que, para
ver a obra em sua completude, precisa transitar pelos dois lugares, a casa de Dona
Orlandina e o Museu Histórico do Estado do Pará, onde se encontra a mostra de arte, a
obra de Jocatos. Há uma preocupação com o lugar religioso e com o lugar da memória.
O hábito simples de homenagear os santos, colocando o altar na entrada da casa, ainda
persiste em alguns bairros. Mas, com a transumância cultural, o rebanho pode migrar
para outra religião, ou tomar outra atitude desprovida de religiosidade. Costumes
antigos podem desaparecer a qualquer momento. Com a recriação do altar no espaço
do museu, o artista permite que o altar de Dona Orlandina migre para a memória, na
qual ficará registrado o altar caseiro, construído para abençoar a família, agradecer as
graças alcançadas.
Atento à vida pulsante do bairro do Guamá, em 2008, quando é contemplado com a
Bolsa do Instituto de Artes do Pará, Jocatos retoma mais claramente a questão da memória.
Com o projeto Profissão, arte e vida: dos pés à cabeça, o artista preocupa-se em mapear as
profissões em extinção, como a de sapateiro e barbeiro. Constrói o seu trabalho a partir
Fig 13: Varanda da casa de Dona Ondina (Dina), onde se encontrava o altar. Foto: Jocatos.
68
Fig 14: Reprodução exata da varanda da casa de Dona Orlandina (Dina), Transumância, instalação que foi o Grande
Prêmio do Arte Pará de 2005. Foto: Jocatos.
da parceria firmada com o Sr. Eutaciano (o sapateiro), que exerce sua função há 50 anos, e
Sr. José (o barbeiro), que pratica o seu ofício há 35 anos. Com os dois, negocia os objetos,
troca os instrumentos. O artista adota o seguinte procedimento: fica com material usado,
que traz os vestígios de quem os utilizou, e presenteia os dois profissionais com novos
instrumentos para ficarem no lugar daquele que agora lhe pertence. A idéia é reproduzir o
ambiente de trabalho do sapateiro e barbeiro, uma vez que ambos já pertencem à história
do bairro.
Na instalação criada a partir da reprodução do ambiente de trabalho dos dois
profissionais, pode-se perceber a estética que envolve o arranjo e as combinações dos
objetos cotidianos. São os próprios instrumentos de trabalho que adornam o ambiente
da barbearia e do quiosque onde se conserta sapatos. Jocatos, em sua obra, mistura as
diferentes estéticas, a que vem do sapateiro e do barbeiro com a das gravuras objetos,
realizadas a partir das latas.
Trata-se de um território de vizinhança e afetos, de um local no qual o próprio artista
se encontra, vive o dia a dia. O deslocamento de territórios, provocado pela troca de objetos
com os dois profissionais e com a reconfiguração dos ambientes, expositivo e de trabalho,
o artista reelabora o valor simbólico dos instrumentos, do ato de uso e de troca. Com esse
procedimento, a arte tangencia o campo social e da cultura. Situando-se no espaço micro de
um bairro, o artista extrapola as cercanias urbanas e passa a se localizar na cidade, no país,
inserindo-se no processo local-global.
69
Paes Loureiro, analisando a arte realizada por Jocatos, afirma que “[...] cada obra
adquire singela universalidade e a simbologia própria da arte. Sendo particularíssima em
sua temática, é universalíssima nas técnicas e no modo de construção formal” 6. A arte
proposta por Jocatos em um lugar específico, ganha universalidade, a obra passa a se
constituir com o material e o imaterial de uma pequena comunidade, o simbólico, no
entanto, vai muito além do território que delimita o bairro, o artista inscreve sua obra ao
mesmo tempo na história e no mundo contemporâneo.
6. Esta afirmativa consta do texto digitado de Paes Loureiro denominado João Carlos Torres da Silva: fragmentos do eterno,
entregue pelo artista.
70
Perfil de Jocatos
Exposições Individuais
2004
Elf Galeria de arte – Belém (PA)
2003
Dans La grande salle Du CLAE - Marseill e França
2002
Val de Almeida Jr. Galeria de arte – São Paulo (SP)
2001
Capela do Palácio Lauro Sodré – MAP – Belém (PA)
Elf Galeria de Arte- Belém (PA)
2000
Espaço Cultural Yázigi - Vitória (ES)
1999
Galeria de Arte do CCBEU, Belém (PA)
1998
Galeria de Arte do SESC, em Macapá (AP)
1996
Elf Galeria de Arte, Belém (PA)
Galeria de Arte da UNAMA, Belém (PA)
1991
Galeria Theodoro Braga/CENTUR, Belém (PA)
1989
Espaço Cultural Petrobras, Rio de Janeiro (RJ)
1984
Galeria Theodoro Braga/CENTUR, Belém (PA)
Exposições Coletivas
2008
Profissão, Arte Vida: dos pés à cabeça, Fórum Landi, resultado da Bolsa de
Pesquisa do Instituto de Artes do Pará, Belém (PA)
Contigüidades, Museu Histórico do Estado do Pará (MHEP), Belém (PA)
2007
Bienal Náifs do Brasil, Entre Culturas, SESC, Piracicaba (SP)
2006
10º Bienal Nacional de Santos, Santos (SP)
2005
Arte Pará 2005, Belém (PA)
Cadre De L’Année do Brésil em France
2002
VII Bienal Internacional de Grabado, Centro Cultural Caixanova, Caixanova, Espanha
2001
Todos Nós, Associação dos Artistas Plásticos do Pará (AAPP), Galeria Theodoro Braga, Belém (PA)
I Bienal Internacional de Gravura do Douro, Câmara Municipal de Alijó, Alijó, Portugal
2000
I Mostra Internacional de Mini Gravura,Vitória (ES)
IX Salão Municipal de Artes Plásticas (SAMAP), Núcleo de Arte Contemporânea de João Pessoa
(PB)
XIV Encuentro de Mini Expresión - Universidade Panamá
1999
V Salão UNAMA de Pequenos Formatos, Belém (PA)
X Salão Latino-Americano de Artes Plásticas de Santa Maria, Santa Maria (RS)
Salão de Artes Plásticas Amazônia/99, Centro de Arte Chaminé – Manaus (AM)
1998
VIII Salão Latino-Americano de Artes Plásticas, de Santa Maria -, Santa Maria (RS)
30º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, Piracicaba (SP)
1997
III Salão UNAMA de Pequenos Formatos, Belém (PA)
57º Salão Paranaense, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba (PR)
1996
1º Salão de Artes Plásticas do SESC, Macapá (AP)
1994
III Salão Paraense de Arte Contemporânea (SPAC), Belém (PA)
1989
1º Salão Municipal de Agosto, Belém (PA)
1984
III Salão Arte Pará, Belém (PA)
1983
Bienal de São Paulo. Parque do Ibirapuera, São Paulo (SP)
Prêmios
2005
Grande Prêmio, Arte Pará 2005, Belém (PA)
2000
Prêmio Exposição Individual, I Mostra Internacional de Mini Gravura,Vitória (ES)
Grande Prêmio, IX Salão Municipal de Artes Plásticas (SAMAP), do Núcleo de Arte
Contemporânea de João Pessoa (PB)
1999
Prêmio Aquisição,V Salão UNAMA de Pequenos Formatos, Belém (PA)
1º Prêmio, X Salão Latino-Americano de Artes Plásticas de Santa Maria, Santa Maria (RS)
Grande Prêmio. Salão de Artes Plásticas Amazônia/99, Centro de Arte Chaminé, Manaus (AM)
1998
1º Prêmio,VIII Salão Latino-Americano de Artes Plásticas, de Santa Maria, Santa Maria (RS)
2º Prêmio, 30º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, Piracicaba (SP)
Prêmio Aquisição, Exposição itinerante: Projeto Tempo Passado/Tempo Presente, Belém (PA), Manaus
(AM), Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ), Almada, Portugal
1997
Prêmio Aquisição, III Salão UNAMA de Pequenos Formatos, Belém (PA)
2º Prêmio, 57º Salão Paranaense, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba (PR)
1996
Grande Prêmio, 1º Salão de Artes Plásticas do SESC/Macapá (AP)
1994
Prêmio Aquisição, III Salão Paraense de Arte Contemporânea, Belém (PA)
1989
1º Prêmio (Gravura), 1º Salão Municipal de Agosto, Belém (PA)
1987
1º Prêmio (Gravura), Artista da capa Museu da UFPA, Belém(PA)
1986
1º Prêmio, Spala Editora, “Patrimônio Cultural da Humanidade, Brasília (DF)
4º Prêmio, III Salão Arte Pará, Belém (PA)
Obras em Acervos
Casa das Artes Plásticas “Miguel Dutra”, Piracicaba (SP)
Centro de Artes Chaminé, Manaus (AM)
Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura-“Patrícia Galvão”(MAC), Santos (SP)
Casa da Cultura – Pinacoteca Municipal, Amparo (SP)
Coleccción de Mini Expresión-Patrimônio Cultural de La Universidad de Panamá
Embaixada do Chile – Sede da ONU, Washington (USA)
Fundação Curro Velho, Belém (PA)
Galeria UNAMA Graça Landeira, Belém (PA)
Museu do Estado do Pará (MEP), Belém (PA)
Museu de Arte de Belém (MABE), Belém (PA)
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) (RJ)
Museu de Arte Contemporânea do Paraná(MAC), Curitiba (PR)
Museu de Arte de Santa Catarina (MASC), Florianópolis (SC)
Museu de Artes de Santa Maria (MASM), Santa Maria (RS)
Museu de Arte Brasil-Estados Unidos (MABEU), Belém (PA)
Museu de Ate do Espírito Santo,Vitória (ES)
Museo de Arte Contemporânea - Universidad de Chile (MAC)
Museo de Belas Artes do Paraguai
NAC- Núcleo de Arte Contemporânea, João Pessoa (PB)
Núcleo de Gravura de Alijó - Câmara Municipal de Alijó, Portugal
Núcleo de Gravura de Évora - Museu de Évora, Portugal
Atelier
Trav. Dr. Liberato de Castro, 405. CEP: 66075-420 Belém – Pará – Brasil.
Telefones: (91) 3087.3444 / (91) 9986.6820
E-mail: jocatos@yahoo.com.br
Artejocato.blogspot.com
Ilha do Marajó. Foto: Lila Bemerguy/Kamara Kó.
77
fazia desenhos de plantas rasteiras, como a melissa, o junco, o mururé, a margarida, dos
peixes da região, como o pirarucu, o acari, o tamoatá, a traíra, e dos fragmentos cerâmicos
arqueológicos repletos de grafismos e apliques antropomorfos e zoomorfos
que se encontram aflorados da terra.
O lugar a conquistara desde então e ela o tomou para si. Rios, lagos, búfalos,
pássaros, vaqueiros que produziam suas próprias cordas em pequenos teares feitas de
couro de boi, pessoas que vivem ou viveram ali, deixando testemunhos e evidências de
sua existência.
78
Superfície do sítio arqueológico Guajará. Fotos: Lise Lobato.
79
A exposição, realizada em 2001, era composta por 18
telas de dimensões variadas, todas em monocromia branca
com texturas e volumes conseguidos por meio do uso de
tecido, linha, massa corrida, gaze, atadura, gesso, cola e tinta
(LOBATO, 2005, p. 63), materiais que formam relevos e abrem
incisões no branco da tela, assim como as incisões existentes
na cerâmica arqueológica observada pela artista.
Ao olhar ligeiro e desatento de um observador que
não conhece seu percurso, a referência da cerâmica indígena
nas pinturas de Lise pode não estar tão evidente, por isso, é
preciso não buscar o óbvio, como mostra a tela Sem título, de
2002, na qual os grafismos e as formas da cerâmica aparecem
Sem Título
reelaborados como cicatrizes em uma pele, marcas gravadas
Ano: 2002 na memória da artista e reveladas em sua obra.
Técnica: Mista sobre tela
Dimensões: 1,20 x 0,60 m
Acervo da artista
Sem Título
Ano: 2003
Técnica: Mista sobre tela
Dimensões: 50 x 50 cm
Acervo da artista
80
Em 2002 realizou mais duas exposições individuais, intituladas Sob o Branco e O
Silêncio do Branco, nas quais a monocromia permanece norteando sua produção. Sobre o
assunto, a curadora de arte Lídia Souza (2002) comenta:
Os volumes e alto-relevos presentes nas telas parecem cada vez mais querer ir
além do bidimensional. Na instalação O que tu guardas?, realizada em 2004, Lise apresenta
52 objetos elaborados a partir de pedaços de tecidos e linha. O branco mantém-se como
a cor imperante em sua produção, mas é possível notar sutis desenhos feitos com finos
traços pretos de signos da cerâmica marajoara que parecem por vezes se esconder, por
vezes se mostrar agregados a estas obras.
Os objetos que compõem essa instalação remontam a uma cena muito conhecida
por Lise Lobato. A artista conta que no Marajó costuma encontrar, vez por outra,
caminhando nos campos da região, áreas que foram escavadas, muitas vezes ilegalmente,
para retirada dos artefatos arqueológicos e que a imagem que se formava na terra algum
tempo após o término dessas escavações é a de buracos com várias camadas internas.
Na pintura Sem título, de 2003, é possível notar o aparecimento desses elementos com
formas ovais, dispostos em diferentes pontos da superfície da tela, que representam a
terra deflorada por pessoas sem formação profissional adequada que agem com o intuito
de saquear vestígios arqueológicos de grande valor para o patrimônio cultural da ilha.
81
Obras, em detalhe e conjunto, que compuseram a instalação O que tu guardas?.
Dimensões: 15 x 10 cm cada. Fotos: Lise Lobato
Por outro lado, a forma oval dos objetos que compõem a instalação em muito
remete à possível representação do órgão sexual feminino. Para a artista, inicialmente,
não houve intencionalidade em estabelecer essa semelhança formal, mas, para nós,
fruidores de sua obra, cabe buscar o que não está dito, suscitar questões, refletir sobre
o que está posto diante de nossos sentidos: o que guardam estes objetos? Seria algo
de valor ou talvez um segredo? Nogueira (2004, p. 2) diz que os objetos, por si só, são
contadores de histórias, funcionam como veículo de transmissão cultural e emocional.
A artista apresenta este conjunto de objetos com uma simples pergunta: O que
tu guardas? Seria esta pergunta tão simples assim de responder? O que você responderia?
A idéia de guardar algo remete ao ato de selecionar, de forma consciente ou espontânea,
coisas, objetos, fatos, momentos vividos que possuem relevância na vida de quem os
guarda. A memória do indivíduo é elaborada num processo de escolha das lembranças a
serem guardadas ao longo da vida.
82
Lise expõe suas memórias e as ressignifica a partir da relação construída com
artefatos que testemunharam a existência de pessoas que viveram ali há centenas de
anos. Ela diz:“É uma memória arqueológica, uma arqueologia afetiva dos meus fragmentos
com fragmentos de outras vidas” (LOBATO, 2005, p. 75).
Essa busca da artista por escavar memórias acabou levando-a a mais um caminho
dentro de sua produção, foi ao remexer nos armários do pai, que ficavam na fazenda
em Cachoeira do Arari, que encontrou as facas produzidas por ele em vida. Em sua
arqueologia afetiva, Lise finda por se deparar com objetos cotidianos repletos das mais
diversas significações.
Os instrumentos cortantes criados com a função de auxiliar o trabalhador que
executa seu ofício, seja este qual for, ou simplesmente construídos para deleite de quem
os produz, ganham outra dimensão, transfiguram-se em objetos de arte. Nogueira (2004,
p. 2) afirma que: “Só os objetos transcendem a fronteira do tempo e do espaço. Uma
materialidade que é caracterizada pela permanência, mas não pela imobilidade. [...] um
mesmo objeto pode adquirir diversos significados em mais de um contexto ou lugar”. A
artista desloca as facas de seu ambiente de origem e as reapresenta ao mundo.
Instalação As Facas de Meu Pai expostas no Salão Arte Pará. Foto: Lise Lobato
Trata-se da instalação As Facas de Meu Pai composta por cento e seis facas
produzidas ao longo da vida do Sr. Adalberto, pai de Lise. A obra foi selecionada para o
Salão Arte Pará 2005 e, no ano seguinte, fez parte da exposição Manobras Radicais, no
Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo.
Para o curador do Salão Arte Pará neste ano, Paulo Herkenhoff (2005):
83
Objetos que compõem a memória individual e familiar da artista servem como
propulsores em seu processo de criação, porém não se reduzem a tal, são geradores de
outros questionamentos, outras interpretações. “Funcionarão estes como uma espécie
de reservatório das nossas memórias individuais ou colectivas? [...] Até que ponto são os
objectos manifestações de nossas identidades?” (NOGUEIRA, 2004, p. 1).
A instalação As Facas de Meu Pai conota a um saber/fazer comum aos moradores
do Marajó, refere-se ao patrimônio intelectual de um grupo social que tem em suas vidas
histórias como a do pai de Lise que, juntas, ajudam a construir a memória e a cultura
deste grupo e a compor suas identidades.
Da apropriação literal das facas pertencentes ao pai utilizadas como verdadeiros
ready-mades, Lise Lobato em sua produção artística, apropria-se também dos
fragmentos de cerâmica visíveis na superfície do sítio arqueológico Guajará, não apenas
em seus desenhos ou pinturas, mas de uma outra maneira, recriando-os.
No ano de 2006 é contemplada com a Bolsa de Pesquisa, Experimentação e
Criação Artística do Instituto de Arte do Pará e realiza a instalação Meu Quintal é do
Mundo formada por um vídeo e mais vinte objetos produzidos em cerâmica branca e
terracota.
Além dos fragmentos arqueológicos com grafismos, outro tipo de vestígio
cerâmico comumente visto pela artista à flor da terra são os apliques com formas
humanas e de animais. O que estes apliques representavam para a sociedade que os
produziu? Que função tinham? Enfeitar as bordas de um vaso ou uma tigela? Homenagear
um deus ou divindade? Decorar uma urna funerária?
É impossível ter certeza, mas a ciência que estuda estes e outros vestígios
deixados pelos seres humanos ao longo de sua existência, a arqueologia, busca entender
como estas pessoas viviam, quais eram seus costumes, como se organizavam em grupo,
como enterravam seus mortos, dentre outros aspectos.
Lise não é uma arqueóloga, ela é uma artista e procura entender esses artefatos
buscando as informações fornecidas pela arqueologia, mas principalmente, partindo da
construção de um olhar poético sobre estes vestígios.
84
O processo de criação da instalação inicia com o registro, ela fotografou e desenhou
esses apliques antropozoomorfos de dimensões diminutas, em média 4 cm e, em seguida,
os recriou, redimensionando-os para aproximadamente 35 cm de largura cada. Os vinte
objetos foram expostos em uma sala agrupados e dispostos na parede. Ao fundo, foi
projetado o vídeo composto por fotografias do percurso do Rio Arari, passando pelo
lago Arari e pela fazenda Guajarás, até a chegada ao sítio arqueológico Guajará e trechos
de poesias sobre o Marajó escritas pela artista.
Lise Lobato
85
Foto: Lise Lobato Ilha do Marajó. Foto: Paula Sampaio/Kamara Kó.
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Exposição Nas Águas do Arari. Fotos: Lise Lobato.
Em seu percurso, Lise Lobato parte de trabalhos nos quais predominam volumes,
incisões e texturas sobre a tela das pinturas produzidas. Aos poucos, elementos figurativos
vão sendo agregados, figuras que remetem a representações humanas ou de animais na
cerâmica arqueológica tornam-se protagonistas e a artista, num percurso inverso, vai da
representação abstrata até a relação limítrofe entre o desenho científico e o artístico
dos peixes do Marajó, construindo uma poética permeada de memórias.
87
Perfil de Lise Lobato
Exposições Individuais
2008
Nas Águas do Arari. Espaço Cultural do Banco da Amazônia, Belém
(PA)
2006
Meu Quintal é do Mundo. Espaço Cultural Casa das Onze Janelas,
Belém (PA)
2004
O que Tu Guardas? Galeria Municipal de Arte, Belém (PA)
2002
Sob o Branco. Espaço Cultural do SESC, Belém (PA)
O Silêncio do Branco. Galeria Theodoro Braga, CENTUR, Belém (PA)
2001
Quarta Ocupação. Espaço Cultural do SESC, Belém (PA)
Exposições Coletivas
2010
Vive – Arte.Villafranca de los Barros, Espanha
2009
Vive – Arte.Villafranca de los Barros, Espanha
2008
Artista convidada da XIV Exposição Internacional de Artes Plásticas de
Vendas Novas, Portugal
2007
I Salão Internacional de Artes Plásticas de São João da Madeira, Portugal
2006
Metavisão. Galeria Theodoro Braga, CENTUR, Belém (PA)
Manobras Radicais. Banco do Brasil, São Paulo (SP)
2005
XI Exposição Internacional de Artes Plásticas de Vendas Novas, Portugal
Salão Arte Pará. Belém (PA)
2003
XII Bienal Internacional de Arte de Vila Nova de Cerveira, Portugal
XI Salão Municipal de Artes Plásticas de João Pessoa (PB)
I Salão de Arte Rios das Ostras, Rio de Janeiro (RJ)
Da Cor do Sangue. Galeria Municipal de Arte, Belém (PA)
2002
Salão Arte Pará. Belém (PA)
IV Encontro dos Artistas Plásticos do Pará. Museu do Estado do Pará, Belém (PA)
2001
Salão Arte Pará. Belém (PA)
Extremos. Espaço Cultural do Banco da Amazônia, Belém (PA)
Prêmios e Bolsas
2008
Prêmio Banco da Amazônia de Artes Visuais, do Banco da Amazônia, Belém (PA)
2006
Bolsa de Pesquisa, Experimentação e Criação Artística do Instituto de Artes do Pará, Belém (PA)
2004
Prêmio Guaraciaba Nardez – III Bienal de Arte Contemporânea de Mato Grosso, Cuiabá (MT)
2002
Bolsa de Manutenção do Processo de Criação Artística do Instituto de Artes do Pará, Belém (PA)
Obras em Acervos
Espaço Cultural do SESC – PA
Espaço Cultural do Banco da Amazônia – PA
Acervo Museológico – SECULT/SIM – PA
Galeria de Arte Graça Landeira – UNAMA – PA
Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves – PA
Fundação Rios das Ostras de Cultura – RJ
Fundação de Cultura de João Pessoa – FUNJOPE – PB
Banco do Estado do Pará – PA
Museu de Arte de Belém – MABE – PA
Atelier
Av. Almirante Barroso, 71 – bloco A 702. São Brás.
CEP 66090-000 – Belém – Pará – Brasil
E-mail: lobatolise@yahoo.com.br
Fones: (91) 3246 7638 | 9117 2474
Patrimônio arquitetônico de Belém. Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó.
“Seria esta, enfim, a realidade da fotografia:
uma realidade moldável em sua produção,
fluida em sua recepção, plena de verdades
explícitas (análogas, sua realidade exterior)
e de segredos implícitos (sua história
particular, sua realidade interior), documental,
porém imaginária”.
Boris Kossoy
Mariano Klautau Filho cria cidades. Em suas fotografias ele as inventa. Recorta-as,
monta e desmonta, as reconstrói. Cidades escuras ou repletas de luzes, vazias, silenciosas,
acolhedoras, com habitantes, uns pacatos, solitários, outros atrevidos, despudorados,
vistas de longe, de fora, e também vistas de dentro, do interior das salas e quartos ou
pelas janelas e clarabóias que deixam a luz entrar.
Durante quase três décadas como fotógrafo, Mariano Klautau Filho tem estado
intimamente ligado à fotografia urbana. Ao longo de seu percurso vem construindo
diferentes abordagens sobre o tema e mantém um aspecto marcante em suas obras e
em sua postura como artista e professor: a relação com o patrimônio arquitetônico das
cidades que ele elege como cenário para suas propostas.
93
Bairro Cidade Velha. Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó.
94
Belém, capital do estado do Pará, cidade onde nasceu e habita atualmente, foi
o ponto de partida para tais questionamentos. Fundada há quase quatrocentos anos,
com uma população de 1.424.124 habitantes (IBGE, 2008), hoje é a segunda cidade mais
populosa da região Norte.
Desde o começo de sua carreira, iniciada em 1980, Mariano esteve atuante no
cenário da fotografia em Belém. Começou a fotografar com a câmera que ganhou de
presente da mãe. Nesta década, participou dos grupos e movimentos embrionários de
criação da Associação FotoAtiva, integrou diversas exposições e projetos coletivos
e se graduou em Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade Federal do Pará.
Foi na Cidade Velha, bairro que abriga o surgimento da cidade de Belém, onde
Mariano começou a produzir algumas das imagens que anos mais tarde deram origem à
sua primeira exposição individual.
Considerado o centro histórico de Belém, é na Cidade Velha que se encontram
muitos prédios com características do período colonial. Localizam-se ali a primeira rua,
a catedral metropolitana, diversas igrejas, casarões, museus, praças, assim como o Forte
do Presépio, marco da fundação da cidade.
Paisagens da Janela, título da primeira mostra individual do artista realizada
em 1988, era composta por vinte e seis fotografias em preto e branco, imagens que,
semelhantemente às criadas pelo fotógrafo francês Eugène Atget, da cidade de Paris no
início do século XX, mostram ruas desertas e prédios antigos, sem a presença humana,
característica incoerente com a realidade das duas cidades no período fotografado.
Ambos recriam a cidade-objeto de seus interesses à maneira que lhes convém.
Cenas de Belém, que parecem fazer um vôo pela cidade sob céu claro, a luz
intensa do sol, enquadramentos amplos, chegando até o interior das casas com paisagens
vistas em contraluz, imagens repletas de detalhes da arquitetura e da história local que,
para além de seu valor estético, denunciam também a inquietação do artista em relação
a preservação do patrimônio arquitetônico ali representado.
A preocupação de Mariano nascera de suas andanças pelo bairro e das relações
perceptivas que estabelecera com a cidade. Para ele, é possível construir por meio
da percepção diferentes mapas da cidade, a noção de deslocamento no espaço, os
caminhos percorridos no dia-a-dia levam à elaboração de um mapa mental do lugar
vivido. Já as relações estabelecidas ao longo desses percursos podem gerar um outro
mapa, desta vez afetivo. Foi observando esta cidade e entendendo-a como memória para
além de sua concretude que o artista afirmou em entrevista sobre seu trabalho:
95
Neste período, segundo Mokarzel (2009, p.4), a produção artística local ainda estava
voltada para a chamada visualidade amazônica que tinha como referência a exuberância
da paisagem natural e ribeirinha da região. Para Mariano é difícil ser um fotógrafo urbano
na Amazônia; sua fotografia trazia um recorte mais intimista da metrópole e passava a
compor junto com o trabalho de outros artistas uma outra Belém, de uma Amazônia
contemporânea e urbana.
No início da década de 1990, quatro fotógrafos, ao se reunirem para formar o
grupo Caixa de Pandora e realizar a primeira de seis exposições subsequentes, decidiram
adotar uma postura diferenciada em relação à imagem fotográfica. Formado por Cláudia
Leão, Flávia Mutran, Mariano Klautau Filho e Orlando Maneschy
96
fachadas das casas, naquela janela semicerrada, [...] no movimento da rua que vejo nesta
vista fotográfica, enfim, que escapa à minha compreensão?” (KOSSOY, 2002, p. 57).
Percebe-se uma cidade repleta de arranha-céus, vista de dentro de um apartamento,
porém, a maneira como esta cidade foi apreendida pelo fotógrafo suscita em quem a vê a
ligeira impressão de estar lá, dentro da sala, observando as luzes da noite. Essa sensação
de ser projetado para o interior das imagens é reforçada quando o homem parcialmente
despido que surge ao lado de uma mulher distraída parece olhar de forma surpresa na
direção de quem observa a foto. Serão eles amantes? O que estão conversando? “[...] a
fotografia esconde dentro de si uma trama, um mistério” (KOSSOY, 2002, p. 57)
Há uma dinâmica nos acontecimentos; primeiro, cenas da cidade observada de
dentro do apartamento e, então, eles aparecem juntos, depois a mulher está sentada
sozinha, novamente os dois reaparecem e, por fim, ela permanece em pé, sozinha,
olhando algo. Na última foto, novamente a cidade agora vista de dentro de um carro em
movimento. Terá ele ido embora?
Não há uma única resposta. Nem mesmo uma única pergunta. Há brechas, espaços
negros deixados entre as cenas que funcionam como lacunas a serem preenchidas.
Pessoas que parecem ter saído de um filme ou de uma história em quadrinhos e estão ali
para viverem personagens de histórias possíveis. Para Boris Kossoy (2002, p. 38),
Fotografando não mais apenas sua cidade natal, mas também outros centros
urbanos pelos quais transitava nos anos de 1990, Mariano continuou a desenvolver sua
produção também fora do grupo Caixa de Pandora. Dez anos depois de Paisagens na
Janela, realizou em São Paulo, cidade onde estava morando na época, em Belém e no ano
seguinte, em Curitiba, sua segunda exposição individual chamada Sincronicidades. Manteve
a opção por trabalhar com a fotografia em preto e branco e apresentou dezesseis
imagens que compunham, segundo ele, um ensaio sobre o ambiente urbano construído
a partir da paisagem de diversas cidades.
97
Coisa nossa
Max Martins
Falavas do estranho e da hipnose
dos riscos na toalha
Falavas de mim, eu
a te segurar em mim, minado
pelo inferno da linguagem
Ou a paixão
então
quase indizível na sua glória
tímida
98
Sobre a exposição Sincronicidades, o pesquisador e crítico de fotografia Rubens
Fernandes Júnior (1998) afirma:
Nos anos 2000, o fotógrafo inicia um extenso projeto intitulado Entre Duas
Memórias, composto de trabalhos de materialidades diferentes e que continua sendo
desenvolvido até hoje. Neste mesmo período surge paralelamente a série fotográfica
Matéria Memória, que marca o começo de sua incursão pelo colorido e o retorno às
questões da memória da cidade. As fotografias, apresentadas em dípticos horizontais
ou verticais, foram produzidas em cor e também em preto e branco, sendo estas
manipuladas em laboratório.
Percebe-se um novo olhar de Mariano sobre as questões tratadas em Paisagens
da Janela, sua primeira exposição, uma retomada da discussão sobre o patrimônio
arquitetônico e a memória da cidade, agora de forma expandida. Se porventura as
fotografias demonstravam resquícios de uma identidade específica das cidades, não
interessa mais identificar qual cidade está sendo retratada. A identidade do espaço
urbano se diluiu, o que resta é o ser urbanita imerso em uma fisionomia comum a todas
as cidades: a do desaparecimento da paisagem.
99
São fotografias que mostram lugares deteriorados pelo tempo, interiores de
casas, paredes que têm sua pintura descascada, portas e janelas fechadas por muros de
tijolo e cimento, personagens que transitam nessas paisagens – interiores e exteriores –
e as observam através de frestas de janelas, de dentro de si mesmas.
Na fotografia a seguir, da série Matéria Memória, um homem aparece ante uma
janela observando algo. A imagem levemente desfocada e intimista revela um momento da
vida privada, o compartimento da casa, talvez um quarto, é visto em perspectiva. Apesar
da semelhança cromática com a foto colocada ao lado, a relação que se estabelece entre
as duas pode ser tida como de extremo contraste. À direita, uma parede com as marcas
que delineiam a existência pretérita de uma casa, o indício da ausência.
100
Finisterra – Hoppe 1. Ano: 2004. Acervo do artista.
101
Fotografias que compõem a instalação Entre. Acervo do artista.
Instalação Entre apresentada na ocupação Prestes Maia. Foto: Tina Vieira. Acervo do artista.
O lugar onde ocorreu a exposição paralela trata-se de uma imensa ocupação habitada
pelo Movimento dos Sem-Teto do Centro/MSTC. Lá, a instalação do artista paraense
ganhou “[...] um caráter político-social, afinal, a porta cimentada é a própria representação
do impedimento de não poder ter um lugar para morar” (KLAUTAU FILHO, 2007, p. 8).
Neste mesmo ano, Entre foi mostrada no Salão Arte Pará e adquiriu uma outra
dimensão semântica. Instalada no antigo necrotério, localizado no Mercado do Ver-o-Peso,
em Belém, as quatorze fotografias em tamanho quase real suscitaram a discussão acerca
do desenho urbano atual e do descaso com o patrimônio cultural da cidade, estabelecendo
“[...] um contraponto à idealização da paisagem, da cidade aberta que não existe mais, e
que está impedida literalmente de se abrir, ter sua passagem, seu fluxo, seu movimento”
(KLAUTAU FILHO, 2006).
102
Instalação Entre apresentada no antigo necrotério em Belém. Foto: Octávio Cardoso. Acervo do artista.
Instalação Entre apresentada no antigo necrotério em Belém. Foto: Octávio Cardoso. Acervo do artista.
103
Instalação Entre apresentada no presídio em Ushuaia. Foto:Val Sampaio. Acervo do artista.
104
Perfil de Mariano Klautau Filho
Exposições Individuais
2009
Finisterra. Fotoclub uruguaio, Montevidéu, Uruguai
2008/2009
Finisterra. Sala Valdir Sarubbi, Espaço Cultural Casa das Onze Janelas,
Belém (PA)
2008
Finisterra. Museu Histórico do Estado do Pará, Belém (PA)
1999
Sincronicidades. Museu da Fotografia, Solar do Barão, Curitiba (PR)
1998
Sincronicidades. Museu da Imagem e do Som, São Paulo (SP)
Sincronicidades. Galeria Fidanza, Belém (PA)
1988
Paisagens da Janela. Galeria Ângelus, Belém (PA)
Exposições Coletivas
2009
Ecuatorial. Sala José Merquior, Centro Cultural Brasil, México, Cidade
do México (DF)
Da Gênese Convulsiva. Micasa, São Paulo (SP)
Fotoativa Pará - Cartografias Contemporâneas. SESC Santana, São Paulo
(SP)
Realidades Imprecisas. SESC Pinheiros, São Paulo (SP)
2008
Finisterra_Carta Aérea. Instalação com Val Sampaio – Kunsthaus,
Wiesbaden, Alemanha
II FestFotoPoa. Festival Internacional de Fotografia, Porto Alegre (RS)
2007
Bienal del Fin Del Mundo. Ushuaia, Argentina.
2006
Veracidade. Museu de Arte Moderna, São Paulo (SP)
Salão Arte Pará. Intervenção Pública no Mercado do Ver-o-Peso, Belém (PA)
IX Bienal de Havana. Havana, Cuba
Desidentidad. Mostra de arte brasileira contemporânea, IVAM,Valência, Espanha
Caixa de Pandora. Laboratório das Artes, Casa das Onze Janelas, Belém (PA)
2005
Une Certaine Amazonie.Villes Fragiles, Mediatheque John Lennon, La Courneuve, Paris, França
La Collection Paiva. Théâtre de la photografie et de l’ image, Nice, França
2003
Ponto de Fuga. Área Livre, Galeria Marta Traba, Memorial da América Latina, São Paulo (SP)
Fotografia Contemporânea Paraense - Panorama 80/90. Casa das Onze Janelas, Belém (PA)
Fish Eye.Tactilebosch Project, Cardiff,Wales
2002
Noites Brancas. Sala Manoel Pastana, Museu do Estado do Pará, Belém (PA)
2001
Noites Brancas. Galeria do Museu de Arte Brasil-Estados Unidos, Belém (PA)
2000
Rumos Visuais. Itaú Cultural, São Paulo (SP)
Brasilianas: fotógrafos de Belém do Pará. Centro Português de Fotografia, Porto, Portugal
A Casa de Todos. Projeto Linha Imaginária, Museu Mineiro, Belo Horizonte (MG)
1999
Amazônia: O Olhar sem Fronteiras. Instituto Cultural Brasil-Alemanha, Berlim, Alemanha
Amazônia: O Olhar sem Fronteiras. Instituto Brasileiro-Equatoriano, Quito, Equador
1998
II Bienal Internacional de Fotografia da Cidade de Curitiba. Mostra Brasil, Curitiba (PR)
Fotografia Contemporânea do Pará - Novas Visões. Universidade Federal Fluminense, Niterói (RJ)
Fotografia Contemporânea do Pará - Novas Visões. FUNARTE, Rio de Janeiro (RJ)
Coletiva Fuji. Galeria Fuji, São Paulo (SP)
1997
II Salão de Fotografia do CCBEU. Galeria do CCBEU, Belém (PA)
1996
Fotos Brésil - O Brasil e a fotografia de autor. Espace Culturel Jorge Amado, Paris, França
Espaços Urbanos. Galeria da FUNARTE, Rio de Janeiro (RJ)
Caixa de Pandora. Liceu de Artes e Ofícios, Curitiba (PR)
Caixa de Pandora. Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais, Ouro Preto (MG)
1995
FotoAtiva 10 anos. Galeria da FUNARTE, Rio de Janeiro (RJ)
1994
Caixa de Pandora. Itaú Galeria, Brasília (DF)
1993
Caixa de Pandora. Galeria Theodoro Braga, CENTUR, Belém (PA)
Prêmios e Bolsas
2009
Bolsa Ipiranga de Fotografia, Fundação Ipiranga, Belém (PA)
2007
Grande Prêmio – Salão Arte Pará, Belém (PA)
2001
Grande Prêmio de Fotografia – Salão Arte Pará, Belém (PA)
Obras em Acervos
Fundação Biblioteca Nacional – RJ
Museu de Fotografia da Cidade de Curitiba
Museu do Estado do Pará
Museu de Arte Brasil-Estados Unidos
Coleção Milton Kanashiro
Museu de Arte Moderna de São Paulo
Coleção Joaquim Paiva
Atelier
Travessa Padre Prudêncio 334. Bairro da Campina.
CEP 66019-080 – Belém – Pará – Brasil
E-mail: marianokf@uol.com.br
Fones: (91) 3242 5124 | 8871 9521
Rodovia Transamazônica, Medicilândia (PA), 1994. Acervo: Paula Sampaio.
Paula Sampaio transita tão naturalmente por caminhos cheios de obstáculos, sem
ter ao certo onde vai pousar, que é como se tivesse certeza de um lugar acolhedor,
sempre à sua espera. Ao se aventurar em lugares desconhecidos, parece que a estrada
está entranhada na alma dessa fotógrafa andarilha.
Atualmente, Paula Sampaio é repórter fotográfica do jornal O Liberal, em Belém
(PA), paralelamente trabalha para diversas instituições e órgãos de imprensa como
fotojornalista, e continua desenvolvendo seus projetos de fotografia autoral.
A formação na área de Jornalismo exerce uma forte influência na produção
fotográfica de Paula Sampaio. Não obstante, é inegável que o fato de ter morado na
meninice nas rodovias Transamazônica e Belém-Brasília também influencie esse desejo
de percorrer e fotografar estradas e pessoas.
Um desses projetos autorais é o Antônios e Cândidas têm sonhos de sorte que Paula
Sampaio vem realizando desde 1990, nas rodovias: Transamazônica (BR 230) e Belém-
Brasília (BR 010), por meio do qual documenta as migrações na Amazônia.
111
Belém-Brasília, como é conhecida no trecho
que vai de Estreito (MA) a Belém (PA), é a
rodovia federal BR-010 que inicia na cidade
de Brasília (DF), passa pelos estados de
Goiás, Tocantins e Maranhão e termina em
Belém (PA). Mas, oficialmente é denominada
de Bernardo Sayão, em homenagem ao
engenheiro responsável que, não obstante,
não chegou a vê-la pronta, falecendo durante
sua construção, que iniciou no governo de
Juscelino Kubstchek e foi concluída em 1974.
Acervo: Paula Sampaio
112
A narrativa de Antônio,
morador da rodovia
Tr a n s a m a z ô n i c a ,
recolhida pela fotógrafa
nos dá a dimensão da
relação entre homem
e lugar, o homem em
busca de seu território:
“A testemunha da terra
é a pedra [...] a pedra do
INCRA, ela é acreditada
porque ela é federal”.
Francisco da Costa, 73 anos, paraense. Morador quilombola da localidade de Abacatal, em Ananindeua (PA), 2004. Narrativa
sobre a Rodovia Belém-Brasília.Acervo: Paula Sampaio.
113
A fotógrafa faculta a voz a quem de direito e deixa que o espectador perceba e
compreenda a maneira como cada fotografado e fotografada vê a si mesmo e a si mesma.
Desta forma, apreende e retrata a visão pessoal de cada um, de cada uma, enfatizando
a interpretação que fazem de si mesmos e de si mesmas, dos fatos e do cotidiano das
localidades onde vivem.
Outro importante trabalho de Paula Sampaio é o ensaio Refúgio, que nasceu de
sua participação no projeto Terra de Negro, parceria entre o Programa Raízes e o Instituto
de Arte do Pará (IAP). Esse programa, cujo objetivo é valorizar e divulgar a cultura de
remanescentes de quilombos no Pará, registrou no período de 2003 a 2006, cerca de
400 grupos nos municípios de: Abaetetuba, Acará, Ananindeua, Baião, Mocajuba, Oeiras
do Pará e Santa Izabel.
De acordo com Rodrigues (2004):
114
Na foto anterior a fotógrafa capturou a forte expressão dos rostos das mulheres,
remanescentes quilombolas, em uma de suas danças tradicionais. Um acessório do
vestuário dessas mulheres sobressai na fotografia – o turbante.
Como traje feminino, o turbante ou torço, denominado “pano-de-cabeça” no
linguajar dos terreiros de candomblé, faz referência direta ao continente africano.
Contudo, inúmeras camadas de significados e índices de procedência permeiam a história
desse acessório que faz parte da indumentária feminina, e também, masculina em algumas
culturas.
O torso pode assumir um caráter utilitário, servindo para apoiar balaios e
tabuleiros, ou, se utilizado na cozinha, para proteger os alimentos da possível queda de
cabelos, e ainda, os próprios cabelos do cheiro dos alimentos e do óleo das frituras.
No entanto, conforme Martini (2007, p. 47): “O turbante africano tampouco tinha
finalidade simplesmente utilitária”. Pesquisando em Griebel (1995 apud MARTINI, 2007,
p. 47), a autora encontra a referência de que a diversidade de usos do turbante servia
como forma de distinção e de identificação entre povos africanos ocidentais e que seu
uso se tornou popular por volta do século XVIII.
Na história do vestuário feminino brasileiro, o uso do turbante, embora muitas
vezes recebendo uma conotação exótica, advinda de interpretações eurocêntricas, faz
parte da formação da tradição da matriz afro-brasileira. Na luta pela legalização da terra
e proteção de seus territórios, os grupos quilombolas mergulham no passado em busca
de suas referências para emergirem no presente em sua resistência cultural. O turbante
é uma dessas referências que serve ao mesmo tempo para identificá-los e diferenciá-los.
115
Fizemos um recorte no ensaio Refúgios para apresentar e aprofundar um pouco
mais a compreensão do trabalho de Paula Sampaio sobre os grupos quilombolas que
registrou. Os municípios escolhidos foram Santa Izabel do Pará e Ananindeua.
Santa Izabel de Macapazinho, ou apenas Macapazinho como é conhecida, ocupa
uma área de 68,7834 hectares, onde vivem 33 famílias. Conforme informações do Instituto
de Terras do Pará (TRECCANI, 2008), o grupo recebeu título da terra em 13 de maio de
2008. Na busca pelo título da terra esses grupos se organizaram e aos poucos retomam,
criam e recriam sua cultura. Boa Vista do Itá é uma área onde atualmente habitam cerca
de 30 famílias.
Localidade Santa Izabel de Macapazinho, Santa Izabel (PA), 2004. Acervo: Paula Sampaio.
116
A história de Abacatal começa com o Engenho do Uriboca, propriedade do Conde
Coma Mello, localizado às margens do igarapé Uriboquinha, município de Ananindeua.
Contam os atuais moradores, que o Conde deixou essas terras como herança para as
três filhas que teve com a escrava Olímpia.
As filhas do Conde Mello com Olímpia, que se chamavam Maria do Ó Rosa
de Moraes, Maria Filistina Barbosa e Maria Margarida Rodrigues da Costa ficaram
conhecidas como as “Três Marias”, das quais muitos moradores de Abacatal dizem ser
seus descendentes, e, portanto, os verdadeiros herdeiros dessas terras que, apesar de
legalizada em 1710, conforme relato de Raimundo Cardoso (apud RODRIGUES, 2004), foi
necessário que estes lutassem muito por sua titulação, pois o documento de legalização
se perdeu.
Os moradores contam também que nos anos 1998 e 1999, o genro de um dos
moradores se denominou único titular das terras e passou a cobrar uma taxa sobre a
renda dos outros moradores. Depois passou a impedir que vendessem os produtos que
cultivavam no local, e, por último, vendeu as terras para uma empresa. Nesse momento
a luta tornou-se mais acirrada na tentativa de impedir que as casas fossem derrubadas.
Porém, muitas residências, e até a escola, vieram ao chão.
“Caminho das Pedras” é uma referência na memória coletiva dos moradores de
Abacatal. Eles contam que antigamente, como não havia estradas, a ida e a vinda de Belém
eram feitas de barco, saindo e chegando pelo igarapé Uriboquinha. Para não sujar os pés
de lama o Conde mandou que os escravos forrassem com pedras o caminho entre as
margens do igarapé e sua casa.
Para os atuais moradores, o “Caminho das Pedras” é um dado concreto da
história local, um bem que precisa ser protegido, por isso, recentemente reconstruíram
uma parte desse caminho que devido ao tempo e ao uso indevido de algumas pessoas,
encontrava-se em péssimo estado de conservação.
Para sobreviverem, as famílias de Abacatal exercem várias atividades econômicas,
entre elas, a produção de carvão e a agricultura de subsistência, cujos derivados,
principalmente da mandioca, polpas de frutas e carvão são vendidos em feiras próximas.
Como afirma Herkenhoff (2006, p. 143):
O ensaio Nós faz parte também da produção autoral de Paula Sampaio. Nesta
série, homens e mulheres apresentam-se com seus rostos ocultados e confundidos com
elementos da natureza ou com outras “coisas do mundo”, termo usado pela fotógrafa.
117
118
Série Nós. Santa Izabel (PA), 2004. Acervo: Paula Sampaio.
120
Para Castro (2007, p. 3): “Podemos
compreender o bairro a partir do que
seu nome evoca. A Campina projeta
o velho bairro da Cidade como seu
antípoda. Belém foi dicotômica no
século XVII. A Cidade era segura,
fechada e absoluta. A Campina era
o espaço a conquistar, a expansão a
fazer, o espaço livre para o comércio,
a feira, a troca e o encontro com o
diferente. A Cidade era a soberba
dos conquistadores e a Campina a
humildade do desbravamento, da
exploração, do medo da mata e de
sua escuridão. A Cidade era positiva,
sensata, centrada. A Campina era
perdição, conquista, aventura”. Em
outro ponto do seu texto, Castro
(2007, p.3) continua: “Quando a
O Complexo do Ver-o-Peso compõe- antiga Campina transformou-se
se, além da feira que acontece todas em Comércio e a nova Campina se
as manhãs, em Belém, onde são espraiou sobre essas novas terras,
comercializados produtos diversos: abriu-se, na morfologia urbana de
frutas, legumes, ervas medicinais, Belém, como uma zona transitória,
artesanato, amuletos, dentre outros, um espaço tangencialmente de
de obras arquitetônicas imponentes fronteira, dado a toda sorte de
como: o Mercado de Ferro (mercado ruptura social. É essa nova Campina
de peixe), com suas quatro torres em que passou a abrigar a zona
escamas feitas em zinco, projetado por meretrícia e boêmia, o comércio
Henrique La Rocque e fabricado por não-convencional e as primeiras
uma empresa estrangeira, em 1901; o escolas de samba de Belém”.
Mercado Municipal de Carne; o Solar
da Beira, onde funcionava o posto de
fiscalização e tributos, atualmente
transformado em espaço cultural; a
Praça do relógio; a Praça dos Velames
e o Palacete Bolonha. (COELHO;
MORAES, 1996). Um espaço de sabores,
cheiros e saberes diversos que atrai o
olhar curioso do turista e encanta a
todos, como nos belos versos de José
Ildone:
121
O tabloide veiculou as histórias dos moradores e frequentadores do bairro da
Campina, além de imagens produzidas pela fotógrafa e artigos assinados por pessoas
convidadas (Cláudia Leão, Fábio Castro, Janice Lima, Mariano Klautau Filho, Regina
Maneschy e Rose Silveira), tratando de questões relacionadas com a memória, o
patrimônio cultural e as representações sociais.
Para Sampaio (2007) essas imagens, histórias e artigos “[...] nos possibilitam refletir
sobre esse território urbano devastado pelo descaso público e a violência cotidiana. Mas
que, apesar de tudo, teima em existir, pulsando em quem e no que resistiu aqui”.
O projeto iniciou com o levantamento das narrativas orais acerca das memórias do
bairro e histórias de vida dos freqüentadores e moradores do bairro da Campina. Depois
de expor a proposta às pessoas, Paula Sampaio as convidava para serem fotografadas no
porão 619 da Travessa Frutuoso Guimarães. E para isto solicitava que levassem objetos
com os quais gostariam de ser fotografadas.
122
Os artefatos, que também podemos chamar de cultura material, têm essa capacidade
de revelar traços de nossas identidades e de representar nossas memórias, talvez, por isso
mesmo, tenhamos uma relação emocional com os objetos que nos pertencem. O fato de
serem resultado da criação intelectual e do trabalho criativo do ser humano faz com que
estes funcionem como mediadores das relações humanas (NOGUEIRA, 2004).
A possibilidade que os objetos têm de transpor as fronteiras do tempo e do espaço
torna-os móveis e, ao mesmo tempo, permanentes, pois estes circulam nas sociedades
adquirindo diversos significados (carga simbólica agregada) em mais de um contexto ou
lugar ao longo de um tempo impreciso de duração, podendo servir como fontes primárias
de conhecimento, portanto, evidências históricas.
Mas é evidente que Paula Sampaio,
ao propor todo esse processo, reconhece
a importantíssima função da memória
coletiva em nossa sociedade, propondo o
compartilhamento de lembranças e fazendo
aflorar o sentido de pertencimento nos
moradores e frequentadores do bairro da
Campina. A fotógrafa sabe que a memória
coletiva garante o sentimento de identidade
do indivíduo e esta faz parte de uma memória
compartilhada, além do campo histórico, no
campo simbólico.
Assim, Sampaio nos faz lembrar como
Kramer (1993, p.48), que “[...] a ameaça que
pesa sobre a humanidade é a da perda da
memória, é a do esquecimento administrado
Livro de assinaturas, cartas, bilhetes, delicadezas
em um mundo administrado, que faz com que recebidas da comunidade da Campina durante o
período de realização do projeto. Acervo: Paula
os vencidos de hoje não mais se lembrem da Sampaio.
história de ontem”.
Para realizar a exposição Sampaio precisou fazer uma reforma no porão de sua casa,
preparando-o para receber as fotografias e outros objetos, acervos das famílias do bairro
da Campina, que participaram intensamente de todas as etapas, inclusive da montagem e
manutenção da mostra, num verdadeiro esforço e entusiasmo coletivo.
A exposição ganhou um aspecto rizomático, ou seja, a cada dia ela se apresentava
de um jeito. Os moradores iam lá e trocavam os objetos e fotos, pois uma história puxava
outra num processo cartográfico de memórias, em que um objeto evocava a lembrança de
outro, a fotografia de uma personagem exigia a presença de outro.
123
A exposição montada no Porão.
Acervo: Paula Sampaio.
124
Perfil de Paula Sampaio
Exposições Individuais
2005/2006
Antônios e Cândidas têm Sonhos de Sorte. Galerias da FNAC. São Paulo,
Brasília e Rio de Janeiro
2005
Une Certaine Amazonie. Centre de Promotion du Livre de Jeunesse et
Fotoativa. Bibkiothèque Lois Aragon e Jules Vallès. França
Exposições Coletivas
2008
Arte pela Amazônia. Fundação Bienal de São Paulo. Pavilhão Cicillio
Matarazzo, São Paulo (SP)
Contigüidades. Museu Histórico do Estado do Pará, Belém (PA)
Brazilian Photographers Exhibition (The Photographic Society of Japão),
Japão
2006
Bienal Internacional de Artes Visuais, Liège (Bélgica)
Manobras Radicais. Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo (SP)
XV Salão Arte Pará. Fundação Rômulo Maiorana, Belém (PA). Convidada
2005
Amrik – Presença Árabe na América do Sul. Ministério das Relações
Exteriores. Brasília e São Paulo (Brasil); Quito (Equador); New York
(EUA)
2003
Fotografia Contemporânea Paraense – Panorama 80/90. Espaço Cultural
Casa das Onze Janelas. Petrobras; Governo do Estado do Pará (Secult);
Associação Amigos dos Museus do Pará, Belém (PA)
2002
Humanity Photo Award’s. Beijin (China)
XXI Salão Arte Pará. Tema: Mestres Modernistas: Poéticas da Forma e
da Cor. Belém (PA) Convidada
2000
Brasiliana. Centro Português de Fotografia. Cidade do Porto (Portugal)
Brasil – 100 fotógrafos retratam o cotidiano do país em 24 horas. Museu
da Imagem e do Som. São Paulo (SP)
1999
Amazônia, o olhar sem fronteiras, Funarte/Secult, no Instituto Cultural
Brasileiro em Berlim (Alemanha) e Instituto Brasileiro Equatoriano
de Cultura em Quito (Equador)
1998
Los Derechos Humanos de las Mujeres y contra ala Violência – Tafos. Galeria da Sede das Nações
Unidas. New York (EUA) e Quito (Equador)
Amazônicas – Instituto Cultural Itaú, São Paulo (SP)
II Fotonorte, Amazônia, o olhar sem fronteiras, Funarte/SECULT, Museu Histórico do Estado do
Pará
1997
Visyons – The Unicef House Exhibition Gallery, New York, Germany e Greece
1996
XV Salão Arte Pará – Fundação Rômulo Maiorana. Belém (PA). Convidada
Novas Travessias: Recent Photografic Art From Brazil. The Photographer’s Gallery. Londres, Inglaterra
Fotos Brésil Recent Photografic Art From Brazil. Espaço Jorge Amado da Embaixada do Brasil em Paris
e na Galeris Elysée, em Lyon – França
1995
III Salão de Arte Fotográfica. Galeria Canizares, Salvador (BA)
Fotoativa 10 Anos. Galeria Funarte, Rio de Janeiro (RJ)
Com Ojos de Mujer – IV Conferência Mundial da Mulher, Beijin – China
Congresso de Imprensa Católica em Grauz, Áustria
1994
Novos Fotógrafos – Fundação Cultural de Curitiba (PR)
1993
Fotografia Brasileira Contemporânea – Década de 50 a 90. SESC Pompéia, São Paulo (SP)
Prêmios
2008
Prêmio Secult de Fotografia-Primeiro lugar. Secretaria de Cultura do Estado (PA)
2006
Prêmio Porto Seguro Brasil de Fotografia para a série “Nós”. São Paulo (SP)
2003
Prêmio Jornalista Amigo da Criança (ANDI/FENAJ). Brasília (DF)
1997
Mother Jones Internacional Fund for Documentary Photography para o Projeto “Fronteiras”
(Mother Jones Awards), EUA
1996
Concurso Internacional “Imagens do Futuro: Crianças e Adolescentes da América Latina”,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul em parceria com a Unicef. 2º Lugar
1994
XIII Salão Arte Pará. Fundação Rômulo Maiorana, Belém (PA). Prêmio Aquisição
1992
Concurso Nacional de Reportagens e Fotografias. Ministério da Saúde/FENAJ, Brasília (DF). 1º
Lugar na categoria Fotografia.
Distinções
2008
Prêmio Rodrigo Melo de Andrade Franco. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN). (Categoria Salvaguarda de Bens de Natureza Imaterial), Projeto “Folhas Impressas”.
Finalista. Certificado de Classificação em nível regional, Brasília (DF)
2007/2008
Prêmio Conrado Wessel. Finalista na Categoria Ensaio Fotográfico, São Paulo (SP)
1998
III Prêmio Nacional de Fotografia, Funarte, Rio de Janeiro (RJ). Menção Honrosa para o Projeto
“Fronteiras”
“Humanity Photo Award’s 98”, Beijin (China). Menção Honrosa
1995
II Salão FINEP de Fotojornalismo, Rio de Janeiro (RJ). Menção Honrosa
1993
Salão Nacional de Fotografias – Racismo e Discriminação. Instituto Marc Chagall, Porto Alegre
(RS) – Menção Honrosa
2008/2009
Projeto No início foi o mar. Bolsa de estímulo à criação artística-fotográfica. Funarte, Rio de Janeiro
(RJ). Em curso
2007
Projeto No Porão. Bolsa Ipiranga de Artes Visuais, Belém (PA)
2004
Projeto Antônios e Cândidas têm sonhos de sorte – Fragmentos do cotidiano. Bolsa Vitae de Pesquisa
em Arte. Fundação Vitae, São Paulo (SP)
1993
Projeto Transamazônica: a fronteira do sonho. IV Prêmio Marc Ferrez de Fotografia Funarte, Rio
de Janeiro (RJ)
Obras em Acervos
Museu de Arte Moderna (MAM), São Paulo (SP)
Museu de Arte de São Paulo (MASP), Coleção PIRELLI, São Paulo (SP)
Fundação Biblioteca Nacional de Arte e Cultura, Rio de Janeiro (RJ)
Fotoativa. Belém (PA)
Ministério das Relações Exteriores/Itamaraty, Brasília (DF)
Banco de dados Itaú Cultural, São Paulo (SP)
Núcleo Amigos da Fotografia (NAFOTO), São Paulo (SP)
Coleção Joaquim Paiva
Contato
carissimaps@gmail.com
Uma proposta é sempre uma aposta em algo que se acredita, mas sua característica
primordial é a flexibilidade para as discordâncias, mudanças e complementações.Tomando
esse princípio como referência, o projeto Rios de Terras e Águas: navegar é preciso se propôs
a pesquisar a produção e o processo de criação de seis artistas paraenses, e apresenta,
também, uma possibilidade de ensino e aprendizagem sobre esses artistas e sua produção,
relacionada com o contexto cultural no qual se movem e buscam referências.
O acesso aos resultados das pesquisas, na maioria dos casos, fica limitado ao
mundo acadêmico e não chega a importantes segmentos, como a educação escolarizada,
por exemplo. O que nos estimulou a realização deste projeto foi essa lacuna no ensino
de arte da educação básica, pois foi observado que a maioria dos professores não
incorpora a arte contemporânea aos seus projetos de ensino, assim como, a arte e a
cultura produzidas na própria região ainda são menos presentes nesses programas.
Os conhecimentos dos povos tradicionais, como os grupos quilombolas, indígenas,
ribeirinhos e outros, também são raramente abordados, e o fato é que o paraense não
tem tido durante a vida escolar a oportunidade de conhecer a cultura e a arte produzidas
no seu estado.
Portanto, como proposta educativa contextualizada, esta se fundamenta na
descentralização da perspectiva eminentemente universalista, deslocando-se para temas
e questões que hoje pedem atenção urgente da sociedade, como as questões de gênero,
quilombola e outras relativas à diversidade cultural, em busca do reconhecimento e
respeito às diferenças.
Considerando que os seis artistas escolhidos: Armando Queiroz, Elieni Tenório,
Jocatos, Lise Lobato, Mariano Klautau Filho e Paula Sampaio têm em comum na produção
de seus trabalhos referências significativas desse universo cultural, esta proposta
transversaliza assuntos tais como: identidades culturais, memória coletiva,
patrimônio cultural, diversidade cultural, sem, contudo, deixar de levar em
consideração os aspectos inerentes à própria arte.
Dois desses artistas, Paula Sampaio e Mariano Klautau Filho, trabalham com a
fotografia. Respeitadas as características de produção de cada um, a técnica apurada
e a pesquisa autoral são marcantes em seus percursos. De Paula Sampaio recortamos
um tema para trabalhar com maior profundidade: os grupos quilombolas, sua luta pela
titulação da terra e busca identitária. Na obra de Mariano Klautau Filho pinçamos os
ensaios que têm como tema o patrimônio arquitetônico de Belém, representado nas
portas e janelas que vão sendo fechadas, cegadas pela sociedade que paulatinamente vai
apagando seu patrimônio.
Jocatos e Elieni Tenório vêm de uma trajetória marcada pelo ato de plasmar;
o primeiro na gravura e a segunda na pintura, e, sem abandonar totalmente esses
processos, transitam atualmente pelo universo dos objetos e instalações. Da obra de
Jocatos selecionamos algumas que tratam do tema “Círio de Nazaré”, essa celebração
130
que faz parte do calendário e da alma paraense. Jocatos pesquisa materiais corriqueiros
que viram suportes para a obra ou a própria obra. As latas de manteiga da marca “Nossa
Senhora de Nazaré” entraram na relação que vem estabelecendo com o Círio de Nazaré.
No trabalho de Elieni o interesse centralizou-se no tema principal de sua obra: o universo
feminino e o tratamento plástico/visual que marca o seu processo.
A cultura pré-histórica marajoara vem sendo o motivo da pesquisa artística de
Lise Lobato, que faz em sua obra referência à cerâmica arqueológica encontrada no
Marajó.
De Armando Queiroz foi escolhido o trabalho que vem realizando com o
miriti, em parceria com os artesãos de Abaetetuba; trata-se de um discurso visual que
dessacraliza a arte e desmancha as fronteiras entre esta e o artesanato.
Além dos textos apresentados na primeira parte deste livro e o documentário
em formato digital (DVD), compõe a proposta educativa a seguir uma galeria imagética
formada de 12 pranchas contendo: imagens de obras dos artistas, do contexto cultural
de sua produção, e pequenos textos e poesias de outros autores no verso para suscitar
outras leituras intertextuais.
O objetivo é proporcionar a(o) professor(a) de arte, a(o) educador(a) de espaços
culturais e de associações comunitárias: a formação de um acervo de imagens, narrativas
orais e artigos escritos, elaborados pelas pesquisadoras e com a ativa participação das
artistas e dos artistas acerca de sua produção e da cultura paraense, de modo a ampliar
as possibilidades de inserção da arte contemporânea paraense e da cultura local nos
processos educacionais.
Deste modo, as propostas que seguem são sugestões que cada educador(a) pode se
apropriar, ampliar e adequar à realidade de sua sala de aula e às suas turmas.
131
Proposta 1
Figuras antropomórficas e retratos
Exercício intertextual com as obras de Paula Sampaio e de Lise Lobato
A necessidade que o ser humano tem de se expressar apontada por Paulo Freire
(2001) parece unir-se então à necessidade de se representar teorizada por Tomaz Tadeu
da Silva (2007). Juntas, essas duas necessidades humanas impulsionam o ser humano a se
expressar gráfica e visualmente, criando figuras representativas de sua imagem.
Se o homem pré-histórico já criava figuras à sua imagem, podemos observar ao
longo da história da arte que a figura humana também é um tema recorrente. Entre o
final da Idade Média e o século XVII a arte retratista se emancipa. É a partir do século
XV que, além dos príncipes, alto clero e nobreza, outros grupos sociais passam a ser
retratados, como os comerciantes, os artesãos e os artistas.
Desenvolvem-se vários tipos de retratos, o de “casais”, o de “família”, o de “corpo
inteiro”, em geral reservado aos príncipes ou a nobreza; o “retrato individual”, que tinha
como função retratar figuras públicas, marcando sua posição social, enquanto o “retrato
em grupo” simbolizava a posição social de órgãos coletivos como guildas e associações
comerciais (Schneider, 1997).
Na arte moderna, Pablo Picasso, Vincent Van Gogh, Ismael Nery e Tarsila do
Amaral, só para citar alguns artistas, pintaram retratos e autorretratos. Sendo assim, o
retrato é uma fonte de representações simbólicas sobre os indivíduos, que acontece de
acordo com a proposta do artista, ou seja, sobre a maneira como propõe apresentar o
retratado em seu contexto.
Lise Lobato presentifica suas memórias de infância fazendo referências em sua
obra às figuras antropomórficas que se apresentam nos vestígios arqueológicos do
Marajó (Prancha 1). O arquipélago do Marajó (Prancha 2), lugar onde a artista nasceu
e passou sua infância, é o seu celeiro de memórias afetivas, com suas paisagens, sítios
arqueológicos e convivência com a natureza.
132
Prancha 1
Prancha 2
133
Prancha 3
134
Como vimos no texto sobre o trabalho de Paula Sampaio, as pessoas fotografadas
na série Nós têm a face ocultada por “coisas do mundo”. Na prancha 3 vemos a imagem
de um homem de costas. Da cintura para baixo, este se confunde com o tronco cortado
de uma árvore. Homem e natureza encontram-se perfeitamente ligados como se um
fosse extensão do outro. O que temos nessa imagem é uma reapresentação, uma efígie:
homem-natureza.
Com base neste pequeno texto, nos artigos sobre Lise Lobato e Paula Sampaio,
e nas pranchas 1, 2 e 3 o(a) educador(a) pode realizar com os(as) estudantes ou
participantes de seu projeto, as ações a seguir.
Leituras intertextuais
135
Exercitando processos de criação artística
3. Peça-lhes que componham outro retrato em que a face esteja ocultada por um
objeto ou elemento da natureza que represente seu modo de viver, de entender
e conviver com a natureza e outras coisas do cotidiano.
136
Exercício 2: Como o futuro nos decifraria?
Objeto ou outra Local onde foi Data em que foi Material de que
evidência encontrado achado é feito
137
Proposta 2
O gênero feminino na cultura e na arte
Exercício intertextual com as obras de Elieni Tenório e de Paula Sampaio
Leituras intertextuais
As histórias de vida das duas artistas oferecem subsídios para a compreensão da sua
arte. Solicite à turma que identifique nas imagens, informações da vida das artistas, que
se relacionam com suas referidas obras.
138
Prancha 4
Prancha 5
139
Exercitando processos de criação artística
Para exercitar processos de criação com a turma, você pode lançar mão de uma
das técnicas utilizadas pelas artistas e depois orientá-la sobre como proceder solicite a
produção de um exercício.
Por exemplo, sobre o diálogo estabelecido acerca da questão de gênero, é
interessante solicitar que a turma observe a mulher contemporânea, como ela vive, se
comporta perante a sociedade, em que trabalha, seu cotidiano e como se veste.
A partir desse diálogo, realize as seguintes ações, para as quais os(as) estudantes
e o(a) professor(a) deverão eleger e providenciar os materiais necessários, ou seja, o
planejamento deve ser feito com a turma para que os estudantes e as estudantes tenham
a oportunidade de fazer escolhas e de selecionar materiais disponíveis em suas próprias
casas, como retalhos de tecidos e sobras de aviamentos: botões, linhas, rendas, entretelas
e muitos outros.
Materiais como: cola branca, papelão, tesoura dentre outros, também serão
necessários. Ao lançar mão de materiais descartados, o(a) professor(a) deverá suscitar o
debate sobre consumo, moda e meio ambiente.
1. Peça à turma que componha um exercício, por meio da técnica escolhida, que
represente a mulher contemporânea;
140
Exercício 2: Vestuário feminino em diferentes contextos sociais e culturais
2. Organize a turma em grupos de até três estudantes e solicite que façam uma
pesquisa sobre o papel da mulher nesses grupos sociais. Se não for possível visitá-
los, peça que pesquisem na internet, livros, revistas, jornais e outros meios.
3. Cada equipe deverá fazer um painel com imagens recortadas de revistas, retiradas
da internet ou desenhadas por eles, sobre os diversos aspectos do cotidiano da
mulher nessas etnias ou grupos sociais.
4. Exponha os resultados na sala e solicite que cada grupo apresente o seu trabalho.
Provoque um diálogo com a turma sobre diversidade cultural e respeito às
diferenças.
2. Oriente para escolherem uma pessoa da dupla para se deitar sobre o papel em
uma posição ou pose por ela escolhida. O(a) outro(a) estudante deverá desenhar
com a caneta o contorno do(da) primeiro(a). Quando este grupo acabar, peça
para inverterem os papéis entregando-lhes outra folha de papel para que o
contorno do(da) outro(a) participante seja desenhado. O tamanho da sala ou do
espaço necessário para este exercício depende do número de estudantes.
4. Após a leitura e observação das imagens, peça aos estudantes que componham,
por meio do desenho, da pintura e da colagem de recortes de revistas, folhas secas
descartadas da natureza, pedaços de tecidos e outros, a indumentária (roupas,
acessórios e outros objetos) da imagem formada pelo seu corpo no papel. Cada
um terá a tarefa de transformar esse esboço em uma figura feminina conforme a
indumentária da cultura à qual faz parte.
141
5. Em seguida, peça para recortarem as imagens das mulheres sem danificarem a
parte de fora do contorno.
6. Proponha à turma que planeje e execute uma instalação. Para isto vocês deverão
escolher e preparar minuciosamente o espaço para a mesma (a Prancha 6 é um
exemplo de instalação).
7. Se possível, reserve na escola duas salas conjugadas, salas vizinhas que tenham
entre si uma porta de comunicação. Na primeira sala monte com a turma a
primeira parte da instalação, colando as partes de fora do contorno, formando
várias paredes, de modo que para entrar na outra sala o público tenha que entrar
pelas aberturas deixadas pelos contornos dos corpos dos estudantes e das
estudantes.
142
Prancha 6
143
Proposta 3
A cidade como patrimônio cultural
Exercício intertextual com as obras de Mariano Klautau Filho,
Armando Queiroz e Jocatos
144
Leituras intertextuais
Prancha 12
145
Exercitando processos de criação artística
1. Organize grupos de até três estudantes e peça-lhes que elaborem uma lista para
cada tipo de bem (natural, material e imaterial) com base na conversa anterior.
2. Cada grupo deverá escolher um lugar perto de casa que ache bem cuidado e
bonito. Solicite aos grupos que o desenhem com detalhes e o pintem. Em seguida
peça-lhes que escolham um lugar com problemas de degradação, poluição ou
destruição para que o desenhem e o pintem também.
4. Peça a cada grupo para elaborar uma proposta de solução para a área que está
com problemas de degradação. Essa proposta deverá ser apresentada ao longo
de uma carta escrita por eles às autoridades competentes do município, a fim de
mostrar as vantagens de um lugar bem cuidado, assim como os prejuízos causados
à sociedade, em muitos casos, repleta de lugares degradados. Peça que narrem
fatos ocorridos em seu cotidiano que revelem essas situações. Coloque junto
com a carta as pinturas e os desenhos produzidos e encaminhe-os à direção da
escola e outras autoridades.
OBS: Este exercício foi inspirado na proposta Desenhando e sonhando cidades do Caderno de Estudos do
Professor Abre as asas sobre nós, Projeto Arte BR (INSTITUTO ARTE NA ESCOLA).
Prancha 7
146
Sobre o brinquedo de miriti como expressão cultural
Nas atuais políticas públicas brasileiras para a cultura foi criado um instrumento
para promover o reconhecimento e a valorização do patrimônio cultural imaterial: o
Registro do Patrimônio Cultural Imaterial. O pedido de Registro pode ser feito por
instituições vinculadas ao Ministério da Cultura, Secretarias de Estado e Municípios,
comunidades e associações civis.
Além da continuidade do uso dos Livros de Tombo instituídos anteriormente no
Decreto-Lei Nº. 25 (BRASIL, 1937), que registram os bens móveis e imóveis considerados
patrimônio histórico e artístico nacional pelo Decreto Federal Nº. 3.551 (BRASIL,
2000), foram criados os Livros de Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, que
passam a registrar: Saberes (conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano
das comunidades, como, por exemplo, cestaria, arte plumária, cerâmica, redes, e outros);
Celebrações (rituais e festas relativos à vivência coletiva do trabalho, da religiosidade,
do entretenimento e de outras práticas da vida social, como, por exemplo, rituais de
nascimento, funerários, festa do milho e outros); Formas de Expressão (manifestações
literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas, como, por exemplo, pintura corporal, danças,
cantos); Lugares (mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram
e reproduzem práticas culturais coletivas, como, por exemplo, capelas, terreiros, lugares de
pesca, feiras, mercados).
O brinquedo de miriti, se o pensarrmos apenas como resultado do trabalho do
artesão, apresenta aspectos plásticos e lúdicos, podendo ser considerado uma forma
de expressão, um bem de ordem emocional, pelo conteúdo e valor simbólicos a ele
atribuídos.
Contudo, se observarmos o seu processo de elaboração, desde a forma de tratar
a matéria-prima, a criação e formas de manejar as ferramentas de trabalho e finalmente
elaborar os brinquedos, podemos considerá-lo um saber, um bem de ordem intelectual.
147
2. Solicite que eles pesquisem sobre esses fazeres e saberes entrevistando pessoas
no próprio bairro. Forneça um pequeno roteiro com as seguintes perguntas e
oriente-os a fazer a entrevista. Se possível peça que fotografem a pessoa exercendo
o ofício juntamente com os seus instrumentos e os resultados do trabalho.
Prancha 9
148
Prancha 8
149
Sobre o Círio de Nazaré como celebração religiosa e manifestação cultural
1. Escolha uma celebração, ritual ou outro tipo de manifestação cultural que reúna
em sua cidade muitas pessoas. Converse com os(as) estudantes sobre o assunto,
procurando extrair deles(as) informações sobre quando e onde acontece, quem
participa, como é a preparação, quais as indumentárias usadas, quais as comidas e
bebidas consumidas neste período, quanto tempo dura e o que é celebrado. No
diálogo, relacione com a celebração do Círio de Nazaré (ver Prancha 10).
2. Oriente os(as) estudantes a criarem, por meio do desenho e tendo como suporte
o papel cartão ou Kraft de boa gramatura, um personagem dessa manifestação
para em seguida recortá-lo. Usando jornais, revistas, retalhos de tecido, tesoura
e cola, peça-lhes que produzam a indumentária e os adereços para acrescentar
a esse personagem. Posteriormente peça-lhes para recortá-los e colá-los nos
respectivos personagens. Solicite que colem no verso do personagem uma vareta
de madeira (palito de churrasco) com aproximadamente vinte centímetros,
possibilitando segurá-lo com uma das mãos.
150
Prancha 11
Prancha 10
151
Sobre a linguagem fotográfica
Sobre a fotografia é importante ressaltar que esta não é apenas o registro literal
das imagens percebido pelo olho humano, mas, principalmente, daquilo que o fotógrafo
deseja representar. A representação fotográfica permite ao fotógrafo perceber um
determinado assunto e escolher o quê, quando e como fotografar.
O modo particular de perceber, escolher e capturar a imagem é que vai determinar
se a foto produzida exerce no observador as funções sociais teorizadas por Barthes
(1984, p. 48-49) de “[...] informar, representar, surpreender, fazer significar, dar vontade”.
E, conforme o autor é papel do observador reconhecê-la com maior ou menor prazer.
Entretanto, a qualidade da leitura que o(a) observador(a) pode fazer de uma
fotografia é determinada também pelo conhecimento que este ou esta tenha da linguagem
fotográfica. Para qualificar as leituras de imagens fotográficas dos(das) estudantes, é
fundamental que o(a) professor(a) trabalhe com estes ou estas os principais elementos
da linguagem fotográfica. O quadro abaixo e os exercícios seguintes poderão ajudar
nesse sentido.
OBS: Este quadro foi transposto do Material de Apoio Educativo para o Trabalho do professor
com Arte. Núcleo de Educação. XXIV Bienal de São Paulo (1998).
152
Experimente com seus alunos visualizar na Prancha 7 os principais elementos da
linguagem fotográfica. Para isto, use o recurso da Janela Fotográfica que segue.
2. Oriente os(as) estudantes a elaborarem suas próprias janelas em papel Kraft ou papel
cartão.
153
4. Organize o grupo em equipes de dois ou três estudantes e oriente-os a criarem cenas
para exercitarem a visualização do enquadramento com a janela fotográfica. Peça que
discutam entre si as escolhas de enquadramento.
5. Faça uma avaliação sucinta com os(as) estudantes procurando perceber o que eles e
elas apreenderam durante a experiência. Complemente, lembrando que o fotógrafo ou a
fotógrafa quando vai fazer uma foto, seleciona aquilo que quer fotografar.
1. Divida a turma em grupos de até três estudantes e peça-lhes para observarem a cidade
durante uma semana, fotografando situações, manifestações culturais, religiosas e fazendo
anotações sobre o que ocorreu, com data e descrição dos lugares onde estas aconteceram.
Se não for possível fotografar solicite que desenhem.
2. Ao retornarem com os resultados, prepare com eles e elas o diário, organizando-o por
assuntos, como: problemas ambientais, manifestações culturais, patrimônio arquitetônico,
etc. Insira imagens, trechos de textos de aspectos relevantes produzidos nos outros
exercícios realizados.
OBS: Este exercício foi inspirado na proposta Um diário da cidade do Caderno de Estudos do Professor
Abre as asas sobre nós, Projeto Arte BR (INSTITUTO ARTE NA ESCOLA).
154
REFERÊNCIAS
BARTHES, Roland. A câmara clara. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
_______. Decreto Federal Nº. 3.551. Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial.
Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. Presidência da República. Brasília, 4 de
agosto de 2000.
CASTRO, Fábio Fonseca de. Algumas notas sobre o bairro da Campina. In: SAMPAIO,
Paula (Ed.). Folha da Campina: histórias e imagens do bairro da Campina. Belém:
Fundação Ipiranga, 2007. (Projeto No Porão. Bolsa Ipiranga de Artes Visuais).
DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora
34, 1998.
155
FERNANDES JUNIOR, Rubens. Sincronicidades. In: Sincronicidades. Belém/São
Paulo: Museu de Arte Sacra/Museu da Imagem e do Som, 1998. (Catálogo).
FREIRE, Paulo; FREIRE, Ana Maria Araújo. (Org.). Pedagogia dos sonhos
possíveis. São Paulo: UNESP, 2001.
______. A carne é forte (depois do corpo). In: Arte Pará 2006. Belém: Fundação
Romulo Maiorana, 2006. (Catálogo).
______. Arte Pará 2005. Belém: Fundação Romulo Maiorana, 2005. (Catálogo).
______. As Facas de Meu Pai. In: Arte Pará 2005. Belém: Fundação Romulo
Maiorana, 2005. (Texto contido na etiqueta da obra).
INSTITUTO Arte na Escola. Projeto Arte BR. Caderno de Estudos do Professor Abre
as Asas Sobre Nós. São Paulo: Instituto Arte na Escola; Petrobras.
156
KLAUTAU FILHO, José Mariano. Em busca da Belém fluida. Reportagem. In: O Liberal.
Caderno Cartaz,Variedade, 2001.
KLAUTAU FILHO, José Mariano. In: Realidades Imprecisas. São Paulo: SESC
Pinheiros, 2009. (Texto de apresentação da obra).
KRAMER, Sônia. Por entre as pedras: arma e sonho na escola. São Paulo: Ática,
1993.
LEAL, Cláudio de La Roque. Já diria Noel: quem acha vive se perdendo. Belém, 2006.
(Artigo digitalizado, acervo de Elieni Tenório).
LOBATO, Lise Dacier. Signos da Amazônia: na minha vida, no meu quintal. Belém:
Universidade Federal do Pará (UFPA), 2005. (Monografia de Especialização).
LOUREIRO, João de Jesus Paes. Fontes do Olhar. In: Obras Reunidas. São Paulo:
Escrituras, 2000.V. 3.
______. A cultura Amazônica e múltiplas vozes. In: Obras Reunidas. São Paulo:
Escrituras, 2000.V. 3.
______. Nas Águas do Arari. In: Nas Águas do Arari. Belém: Espaço Cultural do
Banco da Amazônia, 2008. (Catálogo)
157
MORAIS, Frederico. Tridimensionalidade: arte brasileira do século XX. São Paulo:
Itaú Cultural; Casac & Naify, 1999.
PEREIRA, Edithe. Arte Rupestre na Amazônia. In: Arte da Terra: Resgate da Cultura
Material e Iconográfica do Pará. Belém: SEBRAE, 1999.
XXIV BIENAL de São Paulo. Núcleo Educação. Material de apoio educativo para
o trabalho do professor com arte. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo,
1998.
158
Glossário
Artefato – todo e qualquer objeto produzido pelo ser humano, para ser usado como
ferramenta, utensílio, adorno etc.
Assemblage – designa obras de arte que são criadas com fragmentos de vários tipos
de materiais, inclusive lixo doméstico. Este termo também já foi utilizado para definir
algumas fotomontagens e instalações que eram formadas pela aglomeração de materiais.
Associação FotoAtiva – Associação instituída no início dos anos 1980, como espaço
dedicado à formação na área da fotografia, tendo à frente, desde a sua criação, o fotógrafo
Miguel Chikaoka.
159
a Igreja da Sé de onde sairá no dia seguinte dando início ao Círio.Antes também ocorrem
as manifestações profanas do Auto do Círio, a Festa da Chiquita e a Feira do Miriti que
se prolonga até alguns dias depois da procissão. Durante todo o período que se estende
até quinze dias após o Círio, há um arraial, situado próximo à Basílica de Nazaré.
Curadoria – é o trabalho exercido pelo profissional da área de arte, cujo papel é pensar
e eleger o conceito e os critérios a serem utilizados na produção de uma exposição
de Arte. Com base nesses aspectos, o curador ou a curadora cria um texto visual ao
selecionar e organizar as obras, os textos e o ambiente da exposição.
Debrum – fita que se costura dobrada sobre a orla de um tecido para guarnecê-lo ou
segurar-lhe a trama.
Escavação – processo utilizado como parte da pesquisa em arqueologia, que visa conhecer
a ocupação humana num determinado local, denominado sítio arqueológico, através da
retirada sistemática do solo com objetivo de estudar os vestígios ali conservados.
Ex-líbris – expressão latina que serve para designar uma pequena imagem carimbada,
colada ou impressa em um livro para identificar a propriedade do mesmo. Encontra-
se, em geral, na contracapa ou folha de rosto. A inscrição é formada por um logotipo,
brasão, monograma ou desenho que pode trazer a palavra ex-líbris seguida do nome do
proprietário.
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Fotografia autoral – é a fotografia que representa a expressão pessoal do fotógrafo.
Neste caso, o autor não precisa se preocupar como no fotojornalismo, com a objetividade
do registro de fatos, ou como na fotografia publicitária, com a sua utilidade.
Fruidor – é aquele que pode desfrutar prazerosamente algo. No caso da obra de arte,
é o espectador que se encontra diante da obra, desfrutando uma relação mais próxima
com a arte, de usufruto e prazer.
Girândola – suporte de miriti, em formato de cruz, que o vendedor apoia nos ombros e
com ele percorre a cidade durante as festividades do Círio de Nazaré. A girândola ao ficar
repleta de variados brinquedos, parece mais um buquê de diferentes cores.
Incisão – técnica de decoração em que se usa uma ferramenta de ponta aguda para
riscar a argila e produzir o desenho na cerâmica.
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Instalação – manifestação artística que tem como diretriz um conceito e caracteriza-se
pela inserção no ambiente, de uma obra composta por vários elementos, sendo possível
utilizar diferentes linguagens e suportes.
Maniçoba – comida semelhante à feijoada, que em vez do feijão é feita com a maniva,
folha da mandioca e cozida durante vários dias, também servida no almoço do Círio.
Assemelha-se à feijoada porque à maniva cozida são adicionados diversos ingredientes
comuns à feijoada, como: chouriço, linguiça, paio, charque, orelha e pé de porco.
Não-lugar – termo utilizado por Augé (2001) para designar lugares de passagem nos
quais há grande circulação de coisas e pessoas.
Percepção – é o ato de conhecer o mundo, objetos e pessoas à nossa volta por meio
dos sentidos (audição, visão, gustação, tato e olfato) e da noção de tempo e espaço.
Pitiú – termo próprio da Amazônia para designar o odor forte que neste caso vem do
peixe.
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Plasmar – dar a forma; modelar.
Porta cega – termo utilizado para designar portas vedadas com cimento ou outro
material, normalmente encontradas em imóveis desabitados e degradados, para evitar a
entrada nos mesmo.
Ready-made – nome com o qual Marcel Duchamp designou os objetos que retirou
do campo da indústria e os colocou no campo da arte. O primeiro dos ready-made foi
uma roda de bicicleta sobre um banco. Na classificação de Duchamp existe o “semi ready-
made”. O objeto em que o artista realiza alguma interferência; o ready-made puro, em que
o objeto apresenta-se tal como é, como veio da fábrica; e, finalmente o objet trouvé, que
seria um objeto proveniente de uma escolha estética, diferenciando-se do ready-made,
escolhido por acaso e não por exercício de gosto.
Ruge-ruge – barulho produzido por qualquer coisa que range ou roça; ruídos
produzidos por roupas que roçam ou se arrastam pelo chão.
Suporte – é a base que recebe a intervenção do artista: papel, tecido, madeira e muitos
outros.
Sutura – operação que consiste na junção e costura das duas partes de uma ferida
aberta. No texto sobre Elieni Tenório, essa palavra é usada metaforicamente.
Terra preta – tipo de solo de cor escura, formado ao longo do tempo devido à ação
humana e onde se encontram sinais da cultura e das atividades exercidas pelos nossos
antepassados.
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Tucupi – líquido amarelo proveniente da mandioca, no qual o pato é servido no almoço
do Círio e, em geral, nos dias de festas.
Voyeur – alguém que assiste para a sua satisfação e prazer, e sem ser visto, a uma cena
erótica; atitude daquele que observa algo que lhe dá prazer, sem ser visto.
Xilogravura – técnica artística que se realiza pelo ato de gravar. O desenho é feito
por meio da incisão em uma superfície de madeira, com um instrumento chamado goiva.
Em seguida, usa-se um pequeno rolo de pintura para passar a tinta sobre a madeira, não
dando tempo para que a mesma seque, e então, imprime-se a madeira sobre o papel.
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PATROCÍNIO
REALIZAÇÃO
Prancha 6: Detalhe da instalação Sobre a Pele, de Elieni Tenório.
Foto: Marco Antônio Serrão.
Acervo: Elieni Tenório.
Olha lá
Vai passando
A procissão se arrastando
Que nem cobra
Pelo chão
As pessoas
Que nela vão passando
Acreditam nas coisas
Lá do céu
As mulheres cantando
Tiram versos
Os homens escutando
Tiram o chapéu
Gilberto Gil