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LIMA, Kelline Christine de - Projeto Tralala - 2011
LIMA, Kelline Christine de - Projeto Tralala - 2011
PROJETO TRALALÁ:
PRÁTICAS MUSICAIS POR MEIO DO CANTO CORAL EM ESCOLAS
DA REDE MUNICIPAL DE NATAL
NATAL – RN
2011
1
PROJETO TRALALÁ:
PRÁTICAS MUSICAIS POR MEIO DO CANTO CORAL EM ESCOLAS
DA REDE MUNICIPAL DE NATAL
NATAL – RN
2011
2
68 f.: il.
PROJETO TRALALÁ:
PRÁTICAS MUSICAIS POR MEIO DO CANTO CORAL EM ESCOLAS
DA REDE MUNICIPAL DE NATAL
BANCA EXAMINADORA
_________________________________
______________________________
______________________________
NATAL-RN
2011
4
AGRADECIMENTO
Agradeço primeiramente a “Deus”, meu Pai e Senhor, pelo dom da vida e pela força
que faz despertar em mim em cada amanhecer.
Agradeço aos meus pais Carlos Alberto e Terezinha Paulino (in memória), por todo
amor e esforço dispensado em minha educação e formação.
A minha tia Maria de Fátima pela confiança em mim e por todas as palavras de
incentivo.
Aos meus filhos Caio e Karla por todo amor.
Aos meus irmãos Carlos Alessandro, Marco Rodrigo e Júlio César pela união.
Aos meus tios Walter e Mágnos, por serem tão presentes em minha vida.
A Sra Noilde Ramalho (in memória), diretora da Escola Doméstica de Natal, por todos
os ensinamentos passados.
Aos meus queridos professores: Wilma, Eliene, Zélia, Maria da Paz, Amires, Vera,
Pontes, Adailton, Ivani Bastos, Alcir enfim a todos que contribuíram para a minha formação.
Aos meus primeiros professores de música: Isméria Maria e Glênio Maciel.
As professoras Ângela Maria e Cristiane Otutumi que me deram a base para a
construção deste trabalho com as suas disciplinas: canto coral e atividades II.
A todos os meus professores da faculdade em especial a amiga e Mestra Cleide Alves,
por toda a cooperação na construção desse trabalho.
Ao Padre Pedro Ferreira, por todos os ensinamentos valiosos passados nestes muitos
anos de convívio em coro.
A todos os meus amigos coralistas, em especial aos contraltos, por todas as
experiências maravilhosas em grupo e pela sublime afinação.
Ao meu orientador prof. Dr. Jean Joubert de Freitas Mendes pela disponibilidade e
atenção.
Aos meus colegas de turma em especial Diego Bezerra, Maria Cristina, Caio Hígor,
Kaíque Paulo, Anne Charlyenne, Denice Maria e Adriano Bento por todos os momentos
compartilhados, pela amizade e companheirismo.
As minhas amigas Zuleika e Cristina Nagahama por toda força e incentivo.
Aos meus colegas de trabalho João Evangelista e Osiel Lobo pela ajuda valiosa no
material de metodologia de pesquisa.
6
Yehudi Menuhin
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RESUMO
A presente monografia tem como objetivo analisar as práticas desenvolvidas em três corais infantis
das Escolas da Rede Pública Municipal de Natal que fazem parte do Projeto Tralalá, projeto que visa a
formação de corais infantis nesta comunidade escolar. O intuito deste trabalho é, por meio da
aplicação de questionários aos coordenadores/regentes que encontram-se a frente dos coros
investigados, apontar as diferentes práticas de educação musical por meio do canto coral que
acontecem nestes corais que apesar de seguirem as diretrizes do projeto, e terem o mesmo intuito,
diferem em alguns pontos. O presente trabalho, além de apontar possíveis falhas e propostas de
melhorias, ressalta pontos importantes para o sucesso da atividade. Foram notadas diferentes maneiras
de formação musical usadas nessas escolas, considerando o material humano, crianças e professores
de música. Foi possível perceber ainda a situação precária de algumas escolas e que, em consequência
disso, as chances de educação são desproporcionais. Além disso, observamos a grande importância do
projeto para o desenvolvimento do autoconhecimento da criança em aspectos como o seu corpo, sua
voz, sua capacidade de colaboração com os demais, incluindo o desenvolvimento de uma pequena
habilidade para a criação estética. Sob outra ótica o projeto também pode ser visto como um
estimulador para a criação de novos coros e formação de platéias.
ABSTRACT
This paper aims to analyze the activities developed in three children’s choirs in Public Schools of the
City of Natal that are parto f the Tralala Project, which aims the creation of children’s choirs in this
school community. The aim of this work is to point out, trough the application of questionnaires with
coordinators/conductors that are ahead of the investigated choirs, the different music education
practices that occur through choir singing despite following the guidelines of the project, and have the
same goals, differ in some points. The present work point out some possible failures and make
proposals of improvements and also highlights important aspects for the success of this activity. We
noticed different ways of musical teaching in these schools, considering the human material, children
and music teachers. It was still possible to see the plight of some schools and as a consequence, the
chances of education are disproportionate. Furthermore, we note the great importance of the project
for the development of the children’s self-consciousness in aspects such as their own body, voice,
ability to collaborate with others, including the development of a small ability to create beauty. From
another perspective the project can also be seen as stimulator for the creation of new choirs and
audiences.
LISTA DE ABREVIATURAS
CD - Compact Disc
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
1. CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO............................................................................. 14
1.1 Escolha do tema................................................................................................ 16
1.2 Trabalho de campo............................................................................................ 17
5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 43
6. REFERÊNCIAS...................................................................................................... 45
7. APÊNDICES........................................................................................................... 47
Apêndice A............................................................................................................. 47
Apêndice B.............................................................................................................. 49
Apêndice C.............................................................................................................. 51
Apêndice D............................................................................................................. 52
Apêndice E.............................................................................................................. 54
Apêndice F.............................................................................................................. 55
Apêndice G............................................................................................................. 56
Apêndice H............................................................................................................. 57
Apêndice I............................................................................................................... 58
Apêndice J............................................................................................................... 59
Apêndice K............................................................................................................. 60
Apêndice L.............................................................................................................. 61
13
ANEXOS .................................................................................................................... 62
Anexo A.................................................................................................................. 62
Anexo B.................................................................................................................. 63
Anexo C.................................................................................................................. 64
Anexo D................................................................................................................. 65
Anexo E.................................................................................................................. 66
Anexo F.................................................................................................................. 67
Anexo G.................................................................................................................. 68
14
CAPÍTULO 1
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo observar as diferentes práticas de educação musical
em três corais infantis da Rede Municipal, pertencentes ao Projeto Tralalá, com base nos
relatos dos coordenadores que se encontram a frente desses grupos.
Por ser uma atividade desenvolvida em grupo, o canto coral ajuda no processo de
sociabilização da criança permitindo um aumento da criatividade e da auto-expressão assim
como, desenvolvendo o senso crítico, estético e humanitário, pontos importantes na formação
do caráter humano.
Segundo Ellmerich Luiz (1964, p.199) “coral (do grego “khoros”) é o conjunto a
várias vozes, com ou sem acompanhamento, sendo os componentes profissionais ou pelo
menos instruídos na arte vocal”. Tal definição não se encaixa quando aplicada ao contexto do
nosso trabalho, visto que o mesmo enquadra uma realidade que a cada dia torna-se mais
comum em nossa sociedade, e que é foco do presente estudo: a formação de coros infantis em
Escolas Públicas. Crianças que por meio do canto iniciam-se na música e têm sua base de
educação musical nos experimentos com a voz e o corpo, por meio basicamente da percepção.
A partir da percepção inerente a todo ser humano, percebemos o mundo das mais
variadas formas, dependendo do contexto no qual estamos incluídos, e também das
experiências vivenciadas no transcorrer de nossas vidas. É por meio da percepção que
formamos a nossa identidade e o nosso caráter. Segundo Granja (2006) “a percepção humana
é um processo que traz em si não apenas as manifestações sensoriais, mas também a
significação dessas manifestações” (GRANJA, 2006, p. 47). Precisamos constituir valores aos
sentidos, por meio das experiências. Perceber o mundo, as cores, os sons é fundamental para
que possamos formar nossos conceitos, opiniões e gostos. Segundo Marina (1995) “Perceber
é dar significado a um estímulo” (MARINA, 1995, p. 45)
A percepção está ligada aos significados e é a partir dela que passamos a valorizar
um objeto, uma música ou uma idéia. É com base nela, que criamos conceitos, construímos
valores e a nossa identidade. Quanto mais exercitamos a percepção, mais ampliamos os
nossos sentidos e inteligência.
Cantar é antes de tudo perceber. Segundo Santaella (1993; 2001) “olho e ouvido são
os órgãos dos sentidos mais diretamente ligados ao cérebro” (SANTAELLA, 1993; 2001) e
15
estes são as janelas de nossa percepção. No canto, ouvir é extremamente necessário. O ato de
ouvir vem em primeiro lugar: ouvir e tentar reproduzir. Deve ter sido assim com o primeiro
homem que, ao perceber um som provavelmente vindo da natureza, tentou reproduzi-lo. Esse
instante se repete com a criança: ouvir, repetir e dar significado a este som através de sua
percepção e experiências. Segundo Menuhim (1990) “A música é a nossa mais antiga forma
de arte, começa com a voz e com a nossa necessidade de se dar aos outros” (MENUHIN;
DAVIS, 1990, p. 1). Desde o período pré-histórico, achados arqueológicos (como os da
Caverna de Cogul na Espanha 1) nos levam a tirar estas conclusões, de que o homem desde os
mais remotos tempos já fazia uso de diversos materiais (ossos, madeira, pedras, corpo e a voz)
com a intenção de produzir sons e criar meios para comunicar-se. O homem construía a partir
de sua percepção seus significados sonoros. Provavelmente estes sons não eram usados com
fins estéticos ou contemplativos, mas como toda a arte da pré-história, com uma intenção
funcional, ligada a cerimônias e rituais.
O som está presente em nossas vidas antes de nos tornarmos seres conscientes. O
ritmo nos acompanha desde o ventre materno, nos batimentos cardíacos da mãe, no nosso
coração, em nossa respiração, no mundo que nos circunda, mesmo quando não temos uma
concepção do que ele seja, e nenhum significado tenha sido dado a ele por nós. Segundo
Menuhin (1990) “alguns hospitais experimentam aquietar os bebês recém-nascidos fazendo-
os ouvir gravações do batimento cardíaco humano, constatando em certos casos, que os bebês
se tranqüilizam e se acalmam ao ponto de esquecerem de respirar” (MENUHIM; DAVIS,
1990, p. 3). O som do coração lhes reportam ao ventre materno. Mesmo inconscientemente,
existe uma percepção e associação desse som que transfere à criança a lembrança daquele
ambiente confortável de segurança e aconchego.
Fora desse mundo ritmado pelo batimento de um coração, a audição passa a
desenvolver-se e as experiências sonoras aumentam dia após dia afetando nossas emoções,
sensações, unindo-se aos outros sentidos, criando relações, significados e chegando ao ápice
deste primeiro processo que é a capacidade não só de ouvir e perceber os sons, mas de
produzi-los. O primeiro veículo dessa produção sonora é a voz. É a partir dessa comunicação
sonora que a música passa a existir em nossas vidas, resultado da cultura na qual estamos
inseridos, das vivências e de uma gama de fatores que vão influenciar no nosso modo de fazer
e ouvir música.
1
Dança de Cogul – registro de pintura rupestre datada do período neolítico.
16
No canto coral o papel do regente, é de suma importância para que o coro trilhe a
construção do perfil do grupo e de cada componente em particular. No Projeto aqui abordado
este papel é intensificador visto que esta experiência sonora para a maioria dessas crianças
significa o seu primeiro fazer musical. O regente tem esse papel facilitador que transforma o
desejo musical em realidade nas vozes daquele grupo, participando ativamente da construção
do fazer musical dessas crianças a partir do estímulo da percepção. Ao valorizar cada
componente em particular, é também responsável pela significação desses valores que fazem
parte dessa complexa trama que é a formação do ser humano e de seus potenciais. Segundo
Gainza (1988) “musicalizar é tornar um indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro,
promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas da índole musical” (GAINZA, 1998, p. 101).
A visão de cada regente é única, pois o mesmo em particular une suas experiências
às necessidades vistas em cada grupo assumido. De acordo com Granja (2006) “A percepção
não é um processo passivo à espera de um estímulo externo que o conduza. A percepção
humana é dirigida pelo sujeito, orientada segundo um projeto, uma intencionalidade”
(GRANJA, 2006, p. 52-53). A junção e trocas de informações é essencial para que a música
aconteça de acordo com suas especificidades, construindo a identidade do coro, do cantor e
alcançando seus objetivos musicais, valorizando as experiências por meio inicialmente das
percepções.
Um ditado popular diz “Quem canta, seus males espanta”! Acredito que toda pessoa
que teve o mínimo contato com a música coral seja cantando, regendo ou mesmo assistindo,
desenvolva uma simpatia por esta prática.
Devido a minha profissão como coralista onde me encontro desde os 17 anos,
observo nessa atividade benefícios para quem dela participa. Deste modo, resolvi investigar o
Coral Sons da Terra por este desenvolver regularmente, nas Escolas da Rede Municipal de
Natal, concertos didático-pedagógicos na área do canto coral, agindo como formador de
platéias. Dentro dessa ação tivemos o conhecimento sobre o Projeto Tralalá fato que nos
levou a um novo foco visto que a atividade coral no projeto acontece nas escolas de forma
continuada, favorecendo a esses alunos os benefícios que o canto pode proporcionar: um
despertar musical, uma vivência com um novo tipo de música, assim como conhecimentos
sobre sua voz, seu corpo e as potencialidades que cada um encerra. Além de propiciar a
integração da criança na sociedade por meio das apresentações feitas em grupo. Essa ação
17
entra em acordo com o pensamento de Sekeff (2007) quando esta educadora musical comenta
que “o acesso à música, enquanto bem cultural da humanidade, favorece ao educando uma
integração ao mundo e propicia o seu desenvolvimento como ser social” (SEKEFF, 2007, p.
145).
Sabemos que a música em muitas regiões do Brasil passou certo tempo, afastada de
nossas escolas. Resgatando a história musical brasileira, as idas e vindas dessa prática em
nossos currículos escolares, podemos hoje avaliar o impacto que esta ausência criou em
crianças, jovens e adultos. Com a Lei nº 11.769 de 18 de agosto de 2008 que altera a Lei nº
9.394 de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) para dispor a
obrigatoriedade do ensino da música na educação básica, é trazida uma nova realidade para as
escolas, onde surgem oportunidades de se fazer música, usando os mais variados meios de
construção musical e o canto coral é uma valiosa ferramenta, visto que trabalha o ser de forma
conjunta e ao mesmo tempo única. Cada componente tem a oportunidade de se descobrir na
sua voz, nas suas potencialidades e num espírito de união partilhar suas experiências em
grupo.
Antônio Severiano às 15:30h (Apêndice F), bairro do conjunto Pirangí, local onde
aconteceram 2 concertos didáticos do coral Sons da Terra.
A este coral foram dispensadas mais 2 visitas com intuito de observar os concertos
didáticos e entrevistar as componentes: dia 15 de junho de 2011, ensaio geral que antecedeu
os concertos didáticos do mês de junho no prédio da SEJUC às 19:30h e no dia 16 de junho
de 2011 aos concertos na Escola Municipal Professor Zuza, bairro de Dix-Sept Rosado
14:00h (Apêndice G) e Escola Municipal São Francisco de Assis às 15:30h (Apêndice H),
bairro de Nazaré .
As entrevistas com a regente/coordenadora Rosângela Albuquerque foram feitas em
2 momentos: dia 12 de maio de 2011, onde foram abordadas as questões sobre o coral Sons
da Terra, e no dia 17 de outubro de 2011 com questões referentes ao Projeto Tralalá.
Quanto as escolas envolvidas no projeto Tralalá e que são o foco desta pesquisa
foram feitas 3 entrevistas com os regentes/coordenadores e quatro visitas assim distribuídas:
dia 07 de outubro de 2011 às 9:00h, visita a Escola Maria Cristina no bairro de Felipe
Camarão (Apêndice I), 13 de outubro de 2011 visita a Escola Ascendino de Almeida ás
15:00h bairro de Pitimbú (Apêndice J), 17 de outubro de 2011 ás 09:00h ida a apresentação
do Coral Tralalá do Ascendino de Almeida na XIII MARCO, Leitura e Escrita: Formação do
Pesquisador no Campus da UFRN (Apêndice K) e dia 18 de outubro de 2011 visita a Escola
Santa Catarina ás 13:30h no bairro de Santa Catarina (Apêndice L).
Esta monografia está organizada em 4 Capítulos. No capítulo 1 é feita a introdução
em que há a exposição dos objetivos e justificativa da pesquisa. O capítulo 2 trata acerca do
Coral Sons da Terra, coro esse que foi o incentivador do Projeto Tralalá. O capítulo 3 é
dedicado ao Tralalá com base nas informações do projeto de criação no ano de 2003 e na
coleta de dados por meio de questionários aplicados aos envolvidos nesta ação, subdividindo-
se em 3 sub-tópicos dedicados ao estudo da atuação das praticas desenvolvidas em 3 das 5
escolas onde o mesmo acontece e que compreendem realidades diferentes, e também
localizações diferentes: Zona Sul, Oeste e Norte da grande Natal. No capítulo 4, contrastamos
as escolas estudadas observando como se desenvolve as atividades coral dentro de cada
instituição, ressaltando as diferentes visões dos regentes/coordenadores que se encontram a
frente do projeto, observando as diferenças em suas práticas no ensino da educação musical
por meio da atividade coral e as divergências dessas práticas, assim como possíveis mudanças
na atuação do projeto dentro desses 8 anos de existência por meio da ação individual de cada
regente/coordenador. Com a conclusão encerramos o nosso trabalho com as considerações
finais, apontando as contribuições do projeto para os alunos participantes e para a sociedade.
19
CAPÍTULO 2
O interesse pelo Projeto Tralalá surgiu após pesquisa realizada junto ao Coral Sons
da Terra, coro da Secretaria Municipal de Educação da cidade de Natal que vem
desenvolvendo desde 1990 um trabalho nas Escolas da Rede Municipal, promovendo
Concertos Didáticos com o objetivo de despertar na comunidade escolar o gosto pela música
coral e assim a formação de platéias no âmbito do canto coral. Partindo da premissa que para
toda ação existe uma reação, vemos o projeto aqui estudado como um despertar para o
trabalho musical, desempenhado por esse coro. Por esse motivo, é relevante falarmos da
história desse coral e suas ações que resultaram em uma nova forma de se abordar a música
em algumas Escolas da Prefeitura da cidade de Natal que optaram pelo Projeto Tralalá,
utilizando a prática coral como um dos meios de musicalização dos seus alunos.
O coral Sons da Terra foi fundado em setembro de 1991, trata-se de um coro
exclusivamente feminino e é composto por funcionárias da rede municipal de Natal, em sua
maioria educadoras, totalizando 25 componentes: a regente, 10 sopranos, 9 mezzo-sopranos e
6 contraltos. A sua regente Rosângela Albuquerque, encontra-se a frente do coral desde a sua
fundação e foi a responsável pela primeira formação do coral quando ocorreu o deslocamento
dos componentes do antigo madrigal da UFRN na época (1990), para a Secretaria Municipal
de Educação. Rosângela era cantora do madrigal e viu a oportunidade de iniciar um coral na
Secretaria de Educação, aproveitando o grupo da escola de música que acabara de se desfazer.
Trazendo um coro já formado para a secretaria seria um meio de despertar o interesse dos
funcionários municipais em ingressarem no coral.
Esta primeira fase do Sons da Terra durou um ano. Tinha uma formação mista de 32
componentes e era regido pelo professor Glênio Maciel 2, mas como a maioria dos
componentes não tinha nenhum vínculo profissional com a prefeitura, começaram a surgir
alguns impasses que levaram ao fim do coral. Não querendo desistir do seu projeto,
Rosângela continuou com um pequeno grupo vocal, agora como regente, ensaiando nos
mesmos dias do antigo coral: segundas e quartas-feiras a noite mantendo desta forma uma
pequena chama do canto coral viva na instituição. Enquanto isso na secretaria tramitava um
2
Professor de música da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
20
3
Professor de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
21
FIGURA 1 – Concerto Didático na Escola Municipal FIGURA 2 – Concerto Didático na Escola Municipal
Arnaldo Monteiro dia 28/04/11. Professor Zuza dia 17/06/11.
“De Coro e Alma” (1989-1997). No ano de 1997 foi escolhida para o cargo de presidente da
Ordem dos Músicos do Brasil- Conselho Regional do RN, sendo a primeira mulher a ocupar
este cargo. Foi reeleita duas vezes e permaneceu no cargo até 1999.
Sua atuação como regente se deu em diversos coros da cidade de Natal onde muitos
deles foram criados pela própria, dentre eles: o dos Correios, da Guarda Municipal,
DETRAN, ANASPS/INSS, da Secretaria Estadual de Administração, Escola FREINET, entre
outros. No momento rege o “Coral Sons da Terra” parte integrante desse trabalho e o Coral do
SEBRAE/RN. A mesma também coordena o Encontro Nacional de Coros da Cidade de Natal
(ENCONAT) que acontece no período de novembro.
Atualmente o coral ensaia nas segundas e quartas-feiras das 19h30min as 22h00min
no prédio da CEMURE (Centro Municipal de Referência em Educação Aloísio Alves)
localizado na Avenida Coronel Estevam, ao lado da rodoviária Estadual, no bairro de Nossa
Senhora de Nazaré.
Na dinâmica de ensaios existe sempre a preocupação por parte da regente em trazer
ao grupo inovações para não correr o risco da rotina do ensaio tornar-se enfadonha.
Basicamente a seqüência das práticas no ensaio é: o relaxamento, o aquecimento vocal e por
fim o estudo das partituras. Dinâmicas de grupo também são usadas com o fim de sanar
eventuais problemas internos que possam afetar o coro, assim como os exercícios voltados
para a expressão corporal visto que em suas apresentações, principalmente com as crianças o
uso do corpo está sempre presente na interação com as músicas e o público. Nos ensaios são
trabalhadas a percepção rítmica e sonora, a técnica vocal, a afinação e a expressão corporal
das componentes; pontos importantes na formação musical das coristas.
24
FIGURA 6 – Ensaio geral dia 15/06/11 no prédio do FIGURA 7 – Momento de ensaio das coreografias,
CEMURE (Centro Municipal de Referência em CEMURE dia 15/06/11.
Educação Aluísio Alves).
Além dos concertos didáticos, o coral conta com uma agenda de apresentações
mensais em vários âmbitos da sociedade e também em outros estados do país, levando o
nosso jeito de fazer música para além das fronteiras potiguares. “O nosso repertório é
composto de músicas eruditas, populares, regional nordestina, folclóricas e infantis, bem
acessíveis ao nosso público alvo” comenta a regente Rosângela Albuquerque.
Em 2004, o coro gravou um CD com coletâneas de hinos, com destaque para o Hino
a Natal, de composição do ex-secretário de educação do Município, Professor Waldson
Pinheiro (ver encarte em Anexo C).
O trabalho desempenhado por esse coro é apaixonante e poderia ser estudado por
várias óticas, porém, direcionamos nosso trabalho ao Projeto Tralalá, fruto dessa ação
desenvolvida nas escolas, por se encontrar mais diretamente ligado a área de Educação
Musical.
25
CAPÍTULO 3
Dentre as principais metas do projeto estaria a formação de oito corais nas escolas:
Ascendino Henrique de Almeida, Otto de Brito Guerra, Emanuel Bezerra, Carlos Belo
Moreno, Antonio Severiano, Emília Ramos, Ulisses de Góis e Berilo Wanderley com a
participação desses coros nos eventos programados pelo SME e outras instituições e no
ENCONAT- Encontro de Corais da Cidade do Natal.
As ações e atividades, envolvidas na manutenção do projeto, seriam feitas por meio
das reuniões com professores e com os dirigentes das escolas participantes, unindo-se em prol
do planejamento das ações a serem desenvolvidas, divulgação do projeto, seleção do
repertório e o acompanhamento sistemático a todas as escolas.
Para que o projeto acontecesse em cada escola seria necessário um professor de artes
habilitado em música (do qual 8 horas/aula seria dedicado ao projeto) e quarenta alunos na
faixa etária de 7 aos 10 anos. A coordenação do Setor de Cultura e Desporto, responsável pelo
projeto, ficou a cargo na época das professoras Rosângela Albuquerque e Maria de Fátima
Mendonça.
A princípio, os recursos materiais para o funcionamento do projeto em cada escola
seriam: a aquisição de um armário de aço com chave, instrumentos de bandinha rítmica,
fardamento oficial (Fornecido pelo SME), fardamento opcional (Escola), CD Player,
instrumento harmônico: teclado ou violão elétrico, caixa amplificada e sala ambiente.
A avaliação do projeto seria feita por meio do acompanhamento das atividades
propostas e da observação contínua dos envolvidos na ação, como também do resultado a ser
apresentado.
O resultado desse projeto vem sendo acompanhado em vários eventos internos das
escolas de origem, em convites vindos de outras escolas, instituições filantrópicas, empresas
privadas e nos concertos natalinos promovidos por alguns Shoppings Centers de nossa cidade.
Destacamos a participação dos coros infantis no ENCONAT- Encontro de Corais da
Cidade do Natal, realizado anualmente no mês de Novembro, onde é dedicada uma tarde aos
coros infantis de nossa cidade, denominada sessão infanto-juvenil. Com a intenção de
divulgar o trabalho desenvolvido nos coros infantis que compõem o projeto, propiciando a
chance de integração entre os corais e a troca de experiências. Outra ação importante que vem
acontecendo também nesse âmbito de divulgação e integração dos corais infantis é o Projeto
Tralalando que é realizado no Centro de Referência do Professor no mês de outubro desde o
ano de 2007 e visa promover a integração e intercâmbio cultural dos grupos participantes,
contribuir para o crescimento do movimento coral infantil em nossa cidade, além de
desenvolver a sociabilidade do aluno com o estímulo da apreciação do canto coral investindo
27
assim na formação de platéias voltadas para esse gênero musical. A primeira edição ocorreu
nos dias 01 e 02 outubro de 2007, a segunda nos dias 18 e 19 de outubro de 2009 e a edição
desse ano acontecerá durante a realização do ENCONAT e se chamará: Tralalando no
ENCONAT ( ANEXO F e G).
Atualmente o projeto acontece em cinco Escolas Municipais de Natal: Ascendino
Henrique de Almeida (Pitimbú), Maria Cristina Osório Tavares (Felipe Camarão), Santa
Catarina (Santa Catarina), Almerinda Bezerra Furtado (Guarapes) e Celestino Pimentel
(Cidade da Esperança), sob a coordenação dos respectivos professores de música : Fábio
Cruz, Ana Lúcia Carneiro, Silvinha Oliveira, Gueidson Lima e Nicodemos. A coordenação
do projeto está a cargo da Professora Rosângela Albuquerque.
Durante estes oito anos várias Escolas Municipais fizeram parte do Tralalá, mas
algumas não conseguiram desenvolver o projeto, dentre elas tivemos a Escola Mareci Gomes,
Berilo Wanderley e Emília Ramos que não prosseguiram no projeto devido ao remanejamento
dos professores responsáveis por motivos particulares. Nesse ponto chegamos ao principal
entrave na aplicação e desenvolvimento do projeto que seria o número reduzido de
professores habilitados em música nas escolas, o que dificulta a substituição de um ou outro
professor que tenha que se afastar por qualquer motivo que seja. Segundo Rosângela
coordenadora do projeto:
3.1. Escola Municipal Ascendino Henrique de Almeida- Projeto Tralalá- Coral Tralalá.
FIGURA 8: Ensaio do Coral Tralalá, Escola FIGURA 9: Ensaio do Coral Tralalá, Escola
Ascendino de Almeida, dia 18/10/11- Regente Ascendino de Almeida, dia 18/10/11-Momento
Fábio Cruz. de leitura das músicas.
A escolha dos componentes do coral se dá com base em uma lista feita pelas
professoras de cada turma onde são colocados os nomes dos interessados em participar do
coro, após isso é feito um sorteio para o preenchimento das vagas. O regente não utiliza teste
apenas a classificação das vozes com os sorteados e afirma que em 99% dos casos de crianças
desafinadas que mostram o interesse em participarem do coral, com o tempo obtêm êxito e se
afinam com as outras vozes.
Além do Tralalá, dos outros dois corais e do Festival Ascendino de Almeida, a escola
conta com aulas de música dentro da disciplina de Artes. Quanto aos planejamentos das ações
30
Quanto à continuidade da música na vida dos alunos que participaram dos projetos na
escola, sabe-se de ex-cantores querendo formar bandas com amigos, outros cantando em suas
atuais escolas, igrejas e compondo músicas.
O trabalho aqui desenvolvido dentro do Projeto deu frutos dentro da própria escola
como vimos com a criação de outros coros e da participação em massa no Festival de Música
31
onde são mostradas várias composições feitas com a colaboração dos alunos, professores e
regente. Tal ação estimula e desperta a criatividade e o prazer em cantar tanto nos alunos
como em toda comunidade escolar que se deleita com as criativas composições e com bela
interpretação dada pelo coro a estas canções.
3.2. Escola Municipal Professora Maria Cristina Osório - Projeto Tralalá - Coral Canto
e Encanto.
limitações das vozes de seus cantores e ser capaz de identificar sinais de cansaço e
desinteresse no seu grupo, procurando sempre meios de tornar divertido o aprender
(SCHIMITI, 2003).
FIGURA 11- Ensaio do coral Canto e Encanto dia FIGURA 12-Ensaio do coral Canto e Encanto dia
07/10/11, na Escola Maria Cristina- Exercícios 07/10/10, na Escola Maria Cristina-Regente Ana
respiratórios. Lúcia.
Segundo a regente, o projeto tem uma importância bastante significativa na vida das
crianças que dele participam, não só das crianças, mas de seus familiares que acabam se
envolvendo desde o teste até as apresentações participando do processo de aprendizagem das
músicas em casa, prestigiando as apresentações, apreciando.
Na visão da regente, as melhorias no projeto vão se dar por meio da capacitação dos
regentes envolvidos assim como a conscientização nas escolhas dos repertórios infantis e a
ampliação de ações voltadas para eventos que incluam coros infantis.
Hoje, na escola, o projeto não é a única alternativa de experimentação musical dos
alunos. Tem-se a flauta doce e nos 3ºs anos os alunos têm música como componente
curricular obrigatório em sala de aula.
Existem vários relatos de continuidade na música dos componentes que participaram
do projeto, dentre eles a ação que acontece dentro da própria escola com o coral formado por
ex-alunos que continuam ensaiando regularmente dentre outros que se encontram na Escola
de Música da UFRN, uns mais que se engajaram em outros projetos como: o de flauta do
projeto Vida e Movimento, Conexão Felipe Camarão, Banda de Música da Fundação
Bradesco entre outros mais.
É certo afirmar que o coral aqui pesquisado devido aos resultados alcançados durante
a atuação do projeto, trata-se de um espaço de motivação, inclusão social e integração. A
partir das ações desenvolvidas pela regente que não só trabalha junto aos alunos, mas também
entre os familiares, a comunidade escolar e a sociedade, incluindo e tecendo uma teia de
relações em volta desse trabalho, vemos que a motivação está presente em cada etapa, desde o
trabalho vocal de seus pequenos cantores por meio da atividade vocal em grupo resultando no
prazer de cantar e apresentar-se em público, quanto na interação com os familiares e escola, a
partir do momento que as etapas do trabalho são acompanhadas de perto pelos familiares dos
componentes e pela escola e pelos demais patrocinadores, além do público que prestigia as
apresentações em diversos espaços e ambientes no qual o coral se apresenta.
Segundo Herzberg (MAXIMIANO, 2004), a motivação concretiza-se a partir da
presença de fatores extrínsecos e intrínsecos. Já para Maslow (apud MAXIMIANO, 2004), a
motivação ocorre a partir do cumprimento das necessidades do indivíduo. Dessa forma o
regente tem o papel motivador dentro do grupo, no papel facilitador, a partir das metas
estabelecidas cobra os resultados, divulga o conhecimento, valoriza a educação, patrocina as
boas idéias e sempre busca o consenso do grupo (AMATO NETO, 2005).
35
3.3. Escola Municipal Santa Catarina- Projeto Tralalá- Coral Pequenos Trovadores.
A Escola Municipal Santa Catarina está localizada na Rua Profª Maria Arlete Lima
Nascimento s/n, bairro de Santa Catarina, Zona Norte de Natal. O Projeto Tralalá está atuante
na escola há 5 anos e há 3 vem sendo coordenado pela professora Silvinha Oliveira que é
formada em Educação Artística com habilitação em Música.
A fundação do coral neste âmbito se deu por meio da diretora da escola com a antiga
professora de artes Ana Lúcia Carneiro de Azevedo que hoje se encontra a frente do Projeto
Tralalá na Escola Maria Cristina e que também é alvo de pesquisa no presente trabalho.
Das 20 horas de carga horária da professora Sílvia, 4 horas são destinadas ao projeto,
ou seja, 4 horas a menos do que o projeto exige. O grupo é composto por 25 crianças, (10
meninos e 15 meninas) com a faixa etária dos 7 aos 11 anos de idade.
A escolha do repertório do coral se dá por meio de um consenso entre a regente e os
alunos. Um processo de escuta onde tanto os alunos levam músicas que gostariam de cantar
quanto à regente disponibiliza a audição de novas canções para que haja a escolha do
repertório. A professora afirma: “procuro músicas que despertem neles valores, onde eles
possam utilizá-los no dia-a-dia. Músicas que os ajudem a se expressar e utilizo o corpo para
auxiliar nessa expressão (SILVINHA, 2011). Quanto a escuta Granja comenta (2006): “Por
meio de uma escuta atenta o ouvinte pode ampliar o seu repertório de “relações sonoras”
conhecidas. Quanto maior for seu repertório, melhor será sua compreensão musical.
(GRANJA, 2006, p.67)
A dinâmica de ensaios se inicia sempre com aquecimento corporal (alongamentos) e
vocal, depois se passa para a leitura das músicas, principalmente as que impõem mais
dificuldade. Os ensaios acontecem duas vezes por semana quando não há eventualidades, nas
terças e quintas-feiras, no horário das 13 às 15:00h. As apresentações acontecem dentro da
própria escola, como em outras escolas da comunidade, festas de formaturas infantis,
comemorações escolares, no ENCONAT (Tralalando), no fim de ano na árvore com o Coral
Sons da Terra, na MARCO e igrejas. O fardamento fica por conta do PDE. Quanto a
freqüência das apresentações variam, às vezes passa-se meses sem que haja uma apresentação
sequer, e por vezes surgem várias apresentações em um único mês.
36
continuidade de música na vida dos estudantes é de ex alunos que, a pedidos, após saírem da
escola continuam freqüentando os ensaios do coral.
Observando o ensaio ao ar livre, percebe-se as dificuldades já citadas pela regente
como: a falta de uma sala apropriada, o silêncio e materiais de apoio pedagógicos que sejam
usados como suporte durante os ensaios. É certo afirmar que os problemas físicos dificultam a
aplicação do projeto nessa instituição, além da carga horária reduzida da regente que
impossibilita explorar o potencial do grupo.
Apesar de todos estes fatos que contam negativamente, é notório o entusiasmo e
interesse dos alunos em cantar e participarem ativamente do ensaio, mesmo em condições
pouco apropriadas, as crianças respondem positivamente aos exercícios e parecem ter uma
boa aprendizagem quanto ao repertório musical.
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CAPÍTULO 4
O canto coral favorece práticas bem sucedidas de educação musical, não só pelo
aspecto socializador, mas por despertar a sensibilidade afetiva em seus participantes e a
elevação da auto-estima. Avaliando a aprendizagem musical em grupo, percebemos que
praticamente todas as dificuldades enfrentadas são compartilhadas, o que evita os
desestímulos e as frustrações. A partir do momento que se enxerga no outro as dificuldades
que também são suas, fica mais fácil vencer em conjunto, criando uma atmosfera de
cumplicidade e aceitação de si e do próximo. Outro fator importante de motivação são as
músicas executadas em grupo que por mais simples que sejam, trazem grande satisfação ao
aluno que vê sua capacidade de superação em cada repertório vencido.
A partir da proposta do projeto, o ensino nestes espaços é contextualizado com o
universo sociocultural dos seus alunos, guiado pelas concepções pedagógicas dos seus
coordenadores que levam em consideração as múltiplas realidades dos alunos assim como os
contextos e as particularidades do seu grupo no momento de trabalhar a música coral.
Dentre os benefícios observados pelos coordenadores dos corais aqui pesquisados, no
que se refere aos seus componentes, podemos destacar: o desenvolvimento da disciplina, a
socialização, a consciência corporal, a desinibição, a elevação da auto-estima assim como
uma significativa melhora do comportamento tanto em casa quanto no ambiente escolar por
parte destes. Quanto a importância para a comunidade escolar, podemos enfatizar a
participação das famílias nas apresentações e o envolvimento em massa da comunidade
escolar nos eventos em que o coral participa, quando estes têm a oportunidade de desfrutar
momentos de experiências estéticas que vivificam o ambiente escolar.
O projeto Tralalá segue um propósito, o de disseminar a arte coral nas escolas da
Rede Pública Municipal de Natal. Sem fugir a intencionalidade da ação, cada espaço em que
ocorre a aplicabilidade deste projeto, deve ser observado em particular, visto que, as
diferenças existentes em todo o meio, é que vão ditar o sucesso ou não de uma ação. A
respeito disso Souza (2004) aponta: “E nós professores, não estamos diante de alunos iguais,
mas de jovens ou crianças que são singulares e heterogêneos socioculturalmente, e imersos na
complexidade da vida humana” (SOUZA, 2004, p. 10). Mesmo que a intenção seja a mesma,
o processo irá se desenvolver de diferentes formas: seja no espaço que acontece os ensaios,
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nos meios que dispõem cada professor para trabalhar as potencialidades dos seus alunos, no
repertório escolhido enfim, tudo vai depender de uma série de fatores que diferentemente vão
agir e chegar a um fim proposto ou não. Segundo Queiroz,
cada aluno, além da letra digitada um CD contendo o repertório para que eles possam ouvir
em casa as músicas, fato este que na visão da regente, auxilia a memorização das músicas e
ajuda na afinação do grupo.
A idade do grupo também é um fator importante no momento em que se avalia um
repertório ou a interação entre os componentes. O tempo irá permitir uma relação mais
próxima entre os componentes e o regente favorecendo a dinâmica dos ensaios. Dentro do
grupo o tempo e as experiências vivenciadas em conjunto vão favorecer o processo de
sociabilização e com ele o cumprimento de várias etapas que ditam o amadurecimento de um
grupo.
A música faz parte da grade curricular das 3 escolas, sendo que em 2 (Ascendino de
Almeida e Maria Cristina), encontramos outros grupos musicais (corais) que foram criados
logo após a inserção do Tralalá nestes espaços. Na Escola Maria Cristina além do já citado se
tem o ensino da flauta doce e no Ascendino de Almeida temos o Festival de Música.
O relato de continuidade dos alunos na música, após saírem do projeto, é presente em
todas as 3 escolas, seja a continuidade em outras instituições ou no coral Tralalá, como
acontece na Escola Santa Catarina.
Quanto as dificuldades para o desenvolvimento do projeto em cada espaço em
particular, registramos as seguintes observações: No Ascendino de Almeida o problema
encontra-se na distância da escola da casa dos alunos fato que favorece a diminuição do
numero de componentes no projeto. No Maria Cristina a maior dificuldade está ligada ao
apoio financeiro para custear fardamentos, transporte o que impossibilita a ida do grupo a
alguns eventos e no Santa Catarina a dificuldade encontra-se na ausência de um espaço físico,
uma sala onde se possa ensaiar, favorecendo o silêncio e a concentração, pontos tão
importantes nesta atividade.
Com exceção da Escola Santa Catarina que elegeu como prioridade para melhoria do
projeto a construção de um espaço destinado a música onde esta possa trabalhar
tranquilamente com seu grupo e o aumento de sua carga horária de 4 para 8 horas, os outros 2
regentes apostaram na capacitação dos regentes e no aumento do número de planejamentos
direcionados para esta ação que incluam cursos voltados para este fim e que contemplem as
trocas de experiências entre os envolvidos, além do apoio financeiro por parte da Secretaria,
ponto fundamental no planejamento e desenvolvimento do projeto.
O espaço onde acontece a ação, a aquisição de materiais como fardamento e materiais
de apoio e a carga horária dos professores, são fatores que influenciam no desenvolvimento
do projeto, mas que não dependem dos professores/regentes. A responsabilidade dessas
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5. CONCLUSÃO
criação de grupos representantes desta arte, assim como favorece a participação dos grupos
em encontros divulgando os potenciais culturais do nosso estado.
Tendo em vista a nossa atual realidade educativa, é relevante a iniciativa de projetos
que contemplem a música coral nas escolas, a prática esta ligada ao desenvolvimento da
criatividade estética e emocional tão importante na formação humana que contribui para a
recuperação da ação educativa e cultural dos indivíduos, formando cidadãos críticos e
atuantes culturalmente na sociedade.
45
REFERÊNCIAS
BARHAM, T.J.; NELSON, D.L. The boy’s changing voice: New solutions for today’s
choral teacher. CPP/ Belwin, Inc. Miami, Florida, 1991.
GAINZA, Violeta Hemsky de. Estudos de Psicopedagogia Musical. São Paulo: Summus
Editorial, 1988.
QUEIROZ, Luis Ricardo Silva. A música como fenômeno sociocultural: perspectivas para
uma educação musical abrangente. In: MARINHO, Vanildo Mousinho; QUEIROZ, Luis
Ricardo Silva (Orgs.). Contexturas: O ensino das artes em diferentes espaços. João Pessoa:
Editora Universitária/ UFPB, 2005.
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à administração. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2004.
MENUHIN, Yehudi; DAVIS, Curtis W. A música do homem. São Paulo: Martins fontes,
1981.
SANTAELLA, L. A percepção: uma teoria semiótica. 2. ed. São Paulo: Experimento, 1993.
SEKEFF, Maria de Lourdes. Da Música –seus usos e recursos. São Paulo: UNESP, 2007.
SILVINHA. Entrevista concedida à autora em 18 de Outubro de 2011. Gravação em formato
digital.
46
SOUZA, J. Educação musical e práticas sociais. Revista ABEM. Porto Alegre, nº10, p.07-11,
2004.
SWANWICK, Keith. Ensinando música musicalmente. Trad. Alda Oliveira e Ana Cristina
Tourinho. São Paulo: moderna, 2003.
47
APÊNDICES
ESCOLA DE MÚSICA-EMUFRN
* Este questionário tem como objetivo coletar dados sobre a regente do Coral da
Prefeitura Municipal de Natal “Sons da Terra”, para a pesquisa de monografia
sobre o referido coral.
Entrevistado (a):________________________________________________
15 – Quais critérios você usa para a seleção das componentes do coral? Esse
critério mudou com o tempo?
20 – Na sua opinião qual a importância do canto coral para a sociedade e que papel
o “Sons da Terra” desempenha nesse âmbito?
21 – Na sua opinião que benéficos o canto traz para a vida das coralistas?
26 – Na sua opinião qual o ganho real para o público contemplado pelo concerto
didático?
ESCOLA DE MÚSICA-EMUFRN
Entrevistado (a):________________________________________________
Profissão:______________________________________________________
Data:_____________
5 – Suas expectativas mudaram quanto ao coral do tempo que você nele até hoje?
7 – Você acha que o coral contribuiu de alguma forma para o seu crescimento
pessoal ou profissional?
10– Você sentiu algum tipo de dificuldade quando ingressou no coral? Se sim,
conseguiu superar? Como?
17 – Quanto aos concertos didáticos que vocês atuam, na sua opinião qual o ganho
real para o público e para o coral?
19 – Você acha que o coral contribuiu para o seu crescimento musical? Por quê?
ESCOLA DE MÚSICA-EMUFRN
* Este questionário tem como objetivo coletar dados sobre o Projeto Tralalá, por
meio de informações fornecidas pelo coordenador do projeto, para a pesquisa de
monografia sobre o referido projeto.
Entrevistado (a):________________________________________________
Local:_________________________________________Data:_____________
ESCOLA DE MÚSICA-EMUFRN
* Este questionário tem como objetivo coletar dados sobre o Projeto Tralalá ,por
meio de informações fornecidas pelo coordenador do coral entrevistado, para a
pesquisa de monografia sobre o referido projeto.
Entrevistado (a):________________________________________________
19- O repertório seguido é o mesmo para todas as escolas ou diferem entre si?
21- Para você qual a importância desse projeto para a comunidade escolar e as
crianças que dele participam em particular?
APÊNDICE I: Visita a Escola Maria Cristina- Coral Canto e Encanto dia 07/10/2011.
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ANEXOS
ANEXO D: Apresentações do coral Canto e Encanto no Midway Mall dia 06 de dezembro de 2007,
Projeto Árvore dos Sonhos e no ENCONAT dia 15 de novembro de 2008.
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PROGRAMAÇÃO
PROGRAMAÇÃO