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CITRONELA

Família: Poaceae

Gênero: Cymbopogon

Espécie: Cymbopogon nardus e Cymbopogon winterianus

Nomes populares: Capim-citronela, Citronela-do-ceilão, citronela-de-java

Farmacógeno: folha

Cymbopogon nardus, popularmente conhecida como Citronela ou capim-citronela, é uma


planta da família Poaceae1.

Figura 1: Citronela (Cymbopogon nardus)

Fonte: Google imagens

Existem duas espécies de citronela, Cymbopogon winterianus, popularmente conhecida


como citronela-de-java e Cymbopogon nardus, conhecida como citronela-de-ceilão.
Apesar de muito similares, apresentam algumas diferenças. C. winterianus possui raiz
curta, colmo alto, panícula aberta e gluma inferior com três nervuras distintas. Já a C.
nardus possui raiz profunda, colmo curto, panícula contraída e gluma inferior sem nervura
distinta.2

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Figura 2: Exsicata da Cymbopogon nardus Figura 3: Exsicata de Cymbopogon winterianus

Fonte: Reflora Fonte: Kew

É uma planta que se adapta bem ao clima tropical e subtropical e não se adapta bem às
temperaturas baixas, o excesso de chuva pode até afetar o teor de óleo essencial,
abaixando-o. É uma planta que necessita de luz e calor e se desenvolve bem em solos
permeáveis, férteis e sem umidade excessiva.6 O óleo essencial de citronela possui
coloração amarelada ou marrom-amarelada e cheiro característico bem marcante, o
cheiro é proporcionado, principalmente, pela presença de citronelal.5

ESTUDO ETNOFARMACOLÓGICO

Apesar de, no Brasil, não possuir nenhum medicamento fitoterápico à base de citronela,
seu uso popular é amplamente utilizado na produção de repelentes para mosquitos, pois
os afastam apenas e não os matam, consequentemente não afetam o equilíbrio
ambiental. Na cultura malaia, alguns usos descritos na medicina popular sem
embasamento científico ou experimentos, o óleo essencial pode ser utilizado em pequena
dose para “acalmar” o estômago e para ajudar na digestão, para estimular ou aumentar o
fluxo menstrual e pode ser usada também como uma infusão ou decocção para manter a
saúde em geral.3 Já na cultura tailandesa o uso de C. nardus no tratamento de úlceras
aftosas menores e lábios rachados; como abortivo e carminativo; no tratamento de
doenças gastrointestinais crônicas, distúrbios menstruais, e vômito são baseados em
eficácias descritas em livros de plantas medicinais.2

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Baseado em experimentos científicos apresenta atividade antimicrobiana, antioxidante,
antitripanosomal e antiviral.

COMPOSIÇÃO DO ÓLEO ESSENCIAL

Os principais compostos químicos encontrados no óleo essencial de citronela são


citronelal (33.06%), geraniol (28.40%), nerol (10.94%) e elemol (5.25%). Esse resultado
pode variar de estudo para estudo pois depende de fatores genéticos, idade da planta e
onde e quando foi colhida. No geral é composta majoritariamente de álcoois
monoterpênicos (40.77%) e aldeídos monoterpênicos (33.32%), mas também possui
hidrocarbonetos sesquiterpenos (9.38%), álcoois sesquiterpênicos (5.25%), ésteres
monoterpênicos (3.94%) e hidrocarbonetos monoterpênicos (3.69%). 4

Figura 4: Estrutura química dos compostos mais encontrados no óleo essencial de citronela

Fonte: De Gruyter

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TOXICIDADE

O Cymbopogon nardus apresenta citotoxicidade10, foi utilizado uma linhagem de


queratinócitos humanos que foram cultivadas em frascos plásticos Costar para a
realização dos testes e as células foram tripsinizadas e divididas para subculturas14. As
células foram expostas a concentrações crescentes do óleo essencial de citronela (de 50
a 1.000 µL.mL-1) e foi feito um ensaio de viabilidade que se baseia na redução do sal de
tetrazólio amarelo MTT pelo succinato desidrogenase mitocondrial, tendo um produto de
cor azul de formazan insolúvel.14 Apenas as células viáveis e com mitocôndrias ativas
reduzem o sal de tetrazólio amarelo MTT. Foi utilizado um espectrofotômetro e a
absorbância foi convertida para a porcentagem de viabilidade celular. A inibição pelas
diluições do óleo essencial foi calculada por:
I = (A0-A1/A0) x 100 e A1 a absorbância com o óleo essencial.

Sendo A0 a absorbância da reação de controle. O valor de IC50 foi escolhido como


marcador de citotoxicidade.14
Analisando a viabilidade da célula após exposta a diferentes concentrações do óleo
essencial de Cymbopogon nardus (Figura 5) e seus principais componentes é possível
perceber que em concentrações menores que 300 μl/mL a célula permanece viável,
considerando que para isso ela deve possuir viabilidade acima de 50%, dos constituintes
citados pertencentes a C. nardus, responsáveis majoritariamente por sua composição
(citronelal e geraniol) o citronelal é responsável por gerar a citotoxicidade da citronela. O
geraniol não apresentou citotoxicidade à célula até a concentração de 1000 μl/mL.. Em
concentrações inferiores a 400 μl/mL o óleo essencial de Cymbopogon nardus não
apresentou citotoxicidade.

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Figura 5: Viabilidade da célula em diferentes concentrações de óleo essencial de citronela

Fonte: KOBA, K.

Portanto, o Cymbopogon nardus não pode ser utilizado como medicamento, entretanto,
seu óleo essencial é amplamente utilizado como inseticida, sendo considerado seguro e
sem efeitos adversos significativos11. A toxicidade aguda do óleo essencial de citronela foi
maior que 5000 mg/Kg e a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos descartou
a possibilidade de toxicidade subcrônica12. Alguns estudos indicaram que o uso do óleo
essencial pode causar irritações na pele .
Em altas doses o óleo essencial do Cymbopogon nardus possivelmente apresenta
toxicidade para alguns insetos polinizadores, o que pode ser um problema12.

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EFICÁCIA

Dado a citotoxicidade que o Cymbopogon nardus possui, este não é utilizado como
medicamento. Dessa forma, uma de suas aplicações é como inseticida, devido a sua
atividade repelente garantida pelo óleo essencial de citronela, como por exemplo o
geraniol, e limoneno, o eugenol e o citronelol. Além disso, estudos observaram que 12,5%
do óleo essencial de Cymbopogon nardus é capaz de matar o carrapato de cavalo
(Anocentor nitens) e que 0,006% de citronela é utilizado com ingrediente dos produtos
inseticidas, porém o óleo essencial de citronela não se mostrou eficaz contra pragas de
homópteros e foi incapaz de repelir três espécies de barbeiros (Triatoma protracta, T.
recurva e T. Rubida). Outra atividade que o citronela possui é sua ação contra mosquitos,
foi observado que o óleo essencial de citronela na faixa de concentração de 0,05-15%,
sozinho ou em combinação com produtos naturais, mostrou boa propriedade repelente,
efetivo contra 24 mosquitos do Aedes, gêneros Anopheles, Armigeres, Culex e Monia.12
Também foi observado um potencial antifúngico do óleo essencial do Cymbopogon
nardus, constatou-se uma inibição do crescimento de fungos como o P. grisea, espécies
de Aspergillus e C. musae através da inibição da produção de esporos, entretanto esta
propriedade antifúngica é dependente da concentração de óleo essencial. Além dessas
ações, o Cymbopogon nardus possui baixa atividade antioxidante devido a falta de
compostos fenólicos, porém esse potencial varia de acordo com a forma de extração do
seu óleo essencial. Também foi observado uma forte atividade antibacteriana devido à
presença de os componentes elemol (9,1%), citronelol (10,4%), citronelal (16,9%) e nerol
(8%).12

MECANISMO DE AÇÃO

Sobre seu mecanismo de ação como inseticida, o óleo essencial de citronela age
promovendo uma forte excitação do sistema nervoso central do inseto e um bloqueio da
circulação de sódio nas células nervosas através da inibição do trifosfato de adenosina,
da acetilcolinesterase e do receptor ácido-amino butírico (GABA), provocando uma
paralisia no inseto.8
Já como potencial antioxidante e antibacteriana estudos in vitro foram feitos para
determinar tais ações e neles foram utilizados os métodos do consumo do radical DPPH e
da inibição da oxidação do sistema β-caroteno/ácido linoleico para mostrar o potencial

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antioxidante, para mostrar a ação antibacteriana foi feita uma avaliação por meio da
inoculação, pela técnica de macrodiluição em tubos.9
Concluindo assim que tais atividades se dão pela presença dos compostos geraniol
(monoterpeno alcoólico acíclico), citronelal (aldeído monoterpenóide) e citronelol
(monoterpeno acíclico natural). Porém ainda não se sabe o mecanismo de ação para tais
atividades.

INFORMAÇÃO ADICIONAL

Repelente caseiro a base de citronela de acordo com a medicina popular

Para o preparo do repelente caseiro é necessário:

● 200 gramas de citronela


● 1 litro de álcool 70%
● vasilha escura e com tampa

Modo de preparo:

● Corte as folhas de citronela em pedaços menores e misture com 1 ⁄ 2 litro de álcool


70% em uma vasilha escura e mantenha tampado por 8 dias em local seco e sem
iluminação.
● Deve-se agitar todos os dias, 2x ao dia.
● Após os 8 dias, coar as folhas e adicionar mais ½ litro de álcool.
● Essa preparação pode ser colocada em difusores ou frascos spray.

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CONCLUSÃO

Baseado nos estudos aqui apresentados é possível perceber que o citronelal e geraniol
são os compostos que compõem majoritariamente o óleo essencial de citronela e são
responsáveis por gerar grande parte dos seus efeitos, destacando a sua ação repelente,
inseticida e sanitizante. Há também estudos iniciais citando sua ação antimicrobiana,
antioxidante e antiviral, mas como não foram realizados muitos testes e nem houve o
desenvolvimento da pesquisa, não é possível garantir sua eficácia e se seu uso seria
seguro nessas condições.
Apesar de sua citotoxicidade comprovada e consequentemente ausência de
medicamentos registrados a base de citronela no Brasil, seu uso interno não deve ser
totalmente deslegitimado, pois apesar de não haver comprovação científica há relatos na
cultura tailandesa e malaia de uso eficaz como tratamento alternativo em diversas
situações. Sendo assim, se faz necessário o desenvolvimento e continuidade de estudos
para analisar esses resultados benéficos e verificar a possibilidade de seu uso além das
formas já existentes, e futuramente a viabilidade de uso interno e tópico no tratamento de
diversas doenças.

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REFERÊNCIAS

1. INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Capim Citronela.


s.l. s.d. Disponível em: https://www2.muz.ifsuldeminas.edu.br/plantasmedicinais/p28.html

2. NITANGSAM, N. Monograph of Cymbopogon nardus (L.) Rendle and Citronella Oil. Hat
Yai, Tailândia. 2012. Disponível em: 368077.pdf (psu.ac.th)

3. WEBMASTER. Malaysian Herbal Monograph. Malásia, 2022. Disponível em:


Cymbopogon nardus (L.) Rendle - GlobinMed

4. BAYALA, B. et al. Chemical composition, antioxidant, anti-inflammatory and


antiproliferative activities of the essential oil of Cymbopogon nardus, a plant used in
traditional medicine. Biomolecular Concepts. 2020. Disponível em:
https://www.degruyter.com/document/doi/10.1515/bmc-2020-0007/html#j_bmc-2020-0007
_ref_015_w2aab3b7c46b1b6b1ab2b2c15Aa. DOI: https://doi.org/10.1515/bmc-2020-0007

5. British pharmacopeia. Vol. 4. London: Medicines and Healthcare products Regulatory


Agency; 2020. Citronella Oil; p. 174-5.

6. FARMÁCIA VIVA DO CERPIS. Roda de Conversa sobre Plantas Medicinais.Distrito


Federal. nov. 2019. Disponível em: 4351d5ea-b3c7-0422-bdc4-8799c4ae6c71
(saude.df.gov.br)

7. Jowitt, J.F. Cymbopogon winterianus Jowitt ex Bor. Maha- Pangiri, 13 dez. 1908.
Disponível em:
http://specimens.kew.org/herbarium/K000245867?_gl=1*7z2elu*_ga*MjEwOTI1MDU0LjE2
NjQwNjgxODA.*_ga_ZVV2HHW7P6*MTY2NDA2ODE4MC4xLjAuMTY2NDA2ODE4MC4w
LjAuMA

8. CARNEIRO, Willian Vieira. Óleo essencial de citronela: Avaliação do seu potencial


como repelente veiculado em uma loção cremosa. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Farmácia) - Universidade de Federal da Paraíba, 2015. Disponível
em:
https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/1013/4/WVC09032016.pdf.
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