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Mecanização da
colheita da cana, uma
nova perspectiva
à prevenção nos
canaviais
PROCESSO DE MECANIZAÇÃO REDUZ O CORTE MANUAL NO PAÍS, MAS EXIGE UMA NOVA
ABORDAGEM NA PREVENÇÃO DOS ACIDENTES
POR ADRIANE DO VALE | redacao@cipanet.com.br
FOTOS: ÚNICA, AGÊNCIA BRASIL, SXC E DIVULGAÇÃO

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A cana-de-açúcar é produzida dução, sem falar que é um dos maio-


no Brasil desde o período colonial res consumidores mundiais de açú-
e se transformou em uma das cultu- car e o governo tem programas para
ras mais rentáveis para a economia intensificar o uso do etanol como
nacional. O País é hoje o maior pro- combustível, desde a década de 70.
dutor mundial desta biomassa, além Mudanças tecnológicas também
de ser o maior produtor/exportador têm impactado os canaviais com
de açúcar e o segundo maior produ- vistas a uma maior produtividade e
tor de etanol, dois de seus principais preservação ambiental, o que reper-
derivados. cute diretamente nas condições de
Em 2011, o setor sucroalcoolei- trabalho. A mecanização, iniciada
ro foi responsável por aproximada- no preparo do solo e no plantio, nos
mente 2% do Produto Interno Bruto idos da década 60, a partir dos anos
(PIB) nacional e por 8% do PIB da 90 se estendeu para as demais fases
agricultura no Brasil. No ano pas- e nos últimos anos mais fortemente
sado, a produção de cana-de-açúcar atingiu a colheita, principalmente no
atingiu cerca de 560 milhões de to- Centro-Sul, com destaque para o Es-
neladas, sendo a região Centro-Sul tado de São Paulo.
responsável por aproximadamente É nesta fase da produção que os "As condições
90% do total produzido. acidentes de trabalho sempre ocorre-
E as perspectivas futuras são po- ram em maior número, pois sem má- de trabalho na
sitivas, apesar do setor não viver um quinas o corte é feito manualmente
de seus melhores momentos, graças por meio de facões ou podões, como produção de
aos impactos da crise econômica são conhecidos, em condições de cana-de-açúcar
mundial, levando o governo fede- altas temperaturas ou de chuva, na
ral a adotar medidas para aumentar presença de poeira, fuligem, animais sempre foram
a produtividade como elevar o per- peçonhentos e outros.
centual de etanol na gasolina de 20% As condições de trabalho na pro- uma das mais
para 25%, a partir de 1º de maio. dução de cana-de-açúcar sempre fo-
No entanto, até o final desta dé- ram uma das mais penosas, levando,
penosas..."
cada a frota de automóveis flex do inclusive, em 2009, o governo fede-
País deverá atingir 80%, políticas ral a lançar o “Compromisso Nacio-
para incentivar o consumo de bio- nal para Aperfeiçoar as Condições
combustíveis são estimuladas nos de Trabalho na Cana-de-Açúcar”,
mais diversos países do mundo e há que foi prorrogado até 30 de abril
uma maior demanda de açúcar, prin- deste ano, com vistas a garantir no-
cipalmente nos países emergentes, vos direitos e melhor qualidade de
o que reforça a tendência de cresci- vida para os trabalhadores.
mento. Fruto de um acordo tripartite
Com projeções favoráveis, em entre governo, trabalhadores e em-
função da busca mundial por ener- pregadores, o termo, de adesão vo-
gias renováveis, o Brasil se destaca luntária, previa uma série de ações
neste cenário, afinal possui condi- como a garantia das empresas em
ções ambientais favoráveis e gran- contratar diretamente os trabalha-
des extensões de terra disponíveis dores, eliminando a figura do atra-
para o plantio, em diferentes épocas vessador ou “gato”, a transparência
do ano, o que reduz os custos da pro- na aferição da produção, além de

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iniciativas voltadas à promoção da


saúde e segurança dos trabalhadores
e a reinserção ocupacional dos traba-
lhadores desempregados pelo avan-
ço da colheita mecanizada.
A implantação, o acompanha-
mento e a avaliação do Compro-
misso foram feitos pela Comissão
Nacional de Diálogo e Avaliação do
Compromisso Nacional, de compo-
sição tripartite, criada por decreto
em 24 de novembro de 2010.

CENÁRIO

Apesar dos avanços verificados


nos últimos anos nos canaviais brasi-
leiros graças, inclusive, à publicação
da NR-31 – Segurança e Saúde no
Trabalho na Agricultura, Pecuária, solo, seja na distribuição de mudas, Na colheita, a mecanização avan-
Silvicultura, Exploração Florestal e na adubação e aplicação de veneno çou nos últimos anos, principalmen-
Aquicultura, publicada em março de agrícola. Neste item, Meirelles abre te no Centro-Sul. No Nordeste, o
2005, ainda são encontradas condi- um parêntese e diz ter havido uma uso de máquinas é dificultado pelo
ções de trabalho bastante precárias redução significativa destes produ- tipo de topografia. Mas mesmo no
no que se refere aos alojamentos, Centro-Sul o corte manual continua
transporte e exposição aos riscos sendo feito e os acidentes ocorrem
ocupacionais. em função do uso do podão, utiliza-
Segundo o pesquisador da Fun- do no corte da planta, e do uso ina-
dacentro, Clóvis Meirelles, estima- dequado dos Equipamentos de Pro-
se no País mais de um milhão de teção Individul (EPIs), o que pode
trabalhadores envolvidos diretamen- ocasionar ferimentos e lesões graves
te na produção da cana-de-açúcar e nos membros superiores e inferiores.
os maiores produtores se encontram Além disso, o cortador realiza
no Centro-Sul, mais precisamente movimentos corporais que favore-
no Estado de São Paulo, sendo que Clóvis Meirelles, cem a adoção de posturas inadequa-
o Mato Grosso do Sul começa a se pesquisador da Fundacentro das, que podem levar ao surgimento
destacar com a instalação de usinas de doenças osteomusculares.
de açúcar e álcool e a região Nor- O pesquisador da Fundacentro
deste responde por 13,6% e 8,7% tos no controle de pragas, pois os explica que há dois tipos de cortes
da produção nacional de açúcar e de usineiros passaram a utilizar o con- manuais: o da cana crua e o da cana
etanol, respectivamente. trole biológico, por perceberem as queimada. Na cana crua com a palha,
Conforme o pesquisador, a maio- vantagens nos custos, além de vários geralmente utilizada para os toletes
ria das atividades em cana-de-açúcar países não aceitarem o açúcar produ- (pedaço de cana que contém uma ou
já é mecanizada, seja no preparo do zido com veneno agrícola. mais gemas. As raízes se originam de

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Legislações tentam reduzir as queimadas nos canaviais em função de seus malefícios para o meio
ambiente e para a saúde

uma faixa do tolete) de propagação para o meio ambiente, sendo assim,


das culturas seguintes, razão de não legislações com objetivo de reduzi-
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ser queimada, os trabalhadores entram la e/ou eliminá-la estão sendo esta-
na plantação se expondo às folhas da belecidas. No Estado de São Paulo,
cana que são extremamente cortantes a lei nº 11.241/2002, que previa sua
com risos de acidentes oculares. proibição gradativa até 2031, foi
Os índices são altíssimos, de antecipada por meio do Protocolo
acordo com Meirelles, chegam, em Agroambiental do Estado de São
alguns lugares, a 6% de perdas ocula- Paulo, firmado em 2007, entre go-
res, quando a média deveria girar em verno do Estado e União da Indús-
torno de 0,5% e outro fator de risco é tria de Cana-de-açúcar (Unica).
a grande quantidade de animais pe- Os novos prazos estabelecidos
çonhentos, abrigados nos canaviais são os seguintes: de 2021 para 2014
que podem picar os trabalhadores. nas áreas onde já é possível a colhei-
“Trata-se de um trabalho extrema- ta mecanizada e de 2031 para 2017
mente penoso, em que é necessário nas áreas em que não existe tecnolo-
espalhar toda a cana com o podão e gia adequada para a mecanização da
depois fazer o corte até 20 cm de al- colheita. Como a mecanização dis-
tura, bastante rente ao chão. E neste pensa a necessidade do uso do fogo,
corte além dos riscos, a produtivida- é possível perceber que o Protocolo
de é baixa pela sua dificuldade.” também contribuiu para acelerar o
Já a queima controlada da cana- processo no Estado de São Paulo.
de-açúcar é feita justamente para Matéria publicada no jornal Fo-
facilitar o trabalho dos cortadores lha de S.Paulo de Ribeirão Preto,
e aumentar a produtividade. No en- no dia 7 de maio, afirma que nesta
tanto, tem consequências negativas, região, um dos principais polos su-
tanto para a saúde da população croalcooleiros do Brasil, a mecani-
(problemas respiratórios) quanto zação atinge 64,7%, sendo que para

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cada dez hectares do produto corta- sanitárias adequadas, água potável e mentos quando constatado o seu des-
do, 4,6 foram queimados na última fresca durante toda a jornada, estrutu- cumprimento, bem como mediante o
safra. Enquanto que no Estado de ra adequada para refeição e descanso ajuizamento de ações civis públicas
São Paulo, a média de mecanização protegidos do sol e da chuva, repo- perante a Justiça do Trabalho, quan-
é de 72,6% e a região líder é a de São sição imediata dos EPIs danificados, do da constatação de irregularidades
Carlos e Araraquara, com 82,8%, na ferramentas de trabalho adequadas, que não foram objeto dos termos de
safra de 2012/2013. transporte seguro, proteção adequada ajuste de conduta.
Nas outras regiões do País, se- contra os efeitos danosos dos venenos A mecanização da produção da
gundo Meirelles, a queima da cana- agrícolas amplamente utilizados, en- cana-de-açúcar no Estado de Sergi-
de-açúcar ainda é a mesma da época tre outros. pe é bastante tímida, de acordo com
colonial, ou seja, os trabalhadores Bispo, se limitando basicamente ao
pegam um pouco da palha da cana, controle de pragas, sulcação, carre-
põem fogo e saem pelo canavial fa- gamento e transporte da cana.
zendo a queimada, no sistema fogo e Voltando ao Estado de São Pau-
contra fogo, para evitar que os talhões lo, Roberto Martins Figueiredo, en-
que interessam sejam queimados. genheiro agrônomo e de segurança
No Nordeste, onde esteve recen- do trabalho, coordenador do Grupo
temente e participou do “Estudo das Móvel de Fiscalização do Ministé-
Condições e Ambientes de Trabalho rio do Trabalho e Emprego em São
na Produção de Cana-de-Açúcar no Paulo, fala que a NR-31 trouxe mui-
Estado de Sergipe”, realizado pela tos benefícios para o trabalhador na
Manoel Adroaldo Bispo, procurador do
Fundacentro, Ministério do Traba- Ministério Público do Trabalho em Sergipe produção de cana-de-açúcar no esta-
lho e Emprego, Instituto Federal de do, pois é bastante abrangente, esta-
Sergipe (IFS), Federação dos Traba- belecendo critérios que vão desde a
lhadores na Agricultura (FETASE), Em relação ao cumprimento da proteção das máquinas, a aplicação
Secretarias de Estado da Saúde e da NR-31, o procurador diz ser apenas de veneno agrícola ao uso de EPIs.
Agricultura, Associação dos Planta- parcial. “O setor se preocupa bem Portanto, desde que foi publicada,
dores de Cana (ASPLANA), entre mais com o atendimento formal da
outras instituições, o pesquisador norma, ante os riscos da atuação re-
conta que o plantio da cana é feito pressiva do Ministério Público do
muito próximo aos povoados, sen- Trabalho e da fiscalização por parte
do que, em alguns, a separação é de do Ministério do Trabalho e Empre-
apenas uma rua, com isso sofrem go, do que com a sua efetiva imple-
bastante com os efeitos da fumaça mentação a fim de se alcançar o ideal
durante a queimada. de trabalho saudável e seguro.”
Segundo o procurador do Minis- Em função deste quadro, existe
tério Público do Trabalho em Sergipe um termo de ajuste de conduta fir-
(MPT/SE), Manoel Adroaldo Bispo, mado entre o MPT/SE e as seis usi- Roberto Martins Figueiredo, coordenador do
as condições de trabalho nos cana- nas do Estado desde o ano de 2009, Grupo Móvel de Fiscalização do MTE
viais do Estado são em regra precá- cujas obrigações são predominan-
rias, em certas situações degradantes, temente voltadas ao cumprimento
na medida em que os trabalhadores, eficaz da NR-31, havendo frequente em 2005, produziu grandes mudan-
por receberem salários por produção, verificação de cumprimento pelos ças e, principalmente, na produção
trabalham em ritmo acelerado, che- procuradores responsáveis pelos da cana-de-açúcar, primeira cultura
gando à exaustão e, nas frentes de tra- respectivos inquéritos civis e co- trabalhada pelo Grupo Móvel.
balho lhes são negados direitos legal- brança administrativa e/ou judicial Segundo Figueiredo, os usineiros
mente assegurados, como instalações das multas previstas em tais instru- buscam cumpri-la, no entanto, du-

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rante as fiscalizações não deixam de e, ainda, pela exposição a elevadas cas, como cortes, mutilações, lesões
ser encontrados desvios. “Temos vis- temperaturas. Estes fatores são de- nos olhos, picadas de animais peço-
to alguns problemas na aplicação de terminantes para que se tenha a per- nhentos e intoxicação por agrotóxi-
veneno agrícola. Nas frentes de apli- da precoce da capacidade laborativa cos, por exemplo.”
cadores muitas vezes não há abrigos destes trabalhadores. Para Borges, o Compromisso Na-
contra as intempéries, não há sanitá- Apesar das melhorias decorren- cional para Aperfeiçoar as Condições
rios, não há locais para lavarem as tes da NR-31, Borges comenta que de Trabalho na Cana-de-açúcar, lan-
mãos na hora do almoço, correndo o ainda podem ser encontrados proble- çado em 2009, pelo governo federal,
risco de contaminarem os alimentos, mas relacionados à ausência de am- foi uma experiência nova de diálogo
não há pausas e há transbordos irre- biente adequado para refeições ou social, inaugurada no Brasil a partir
gulares, mas se compararmos com o sem condições de higiene mínimas; do setor sucroalcooleiro. “A avalia-
que era visto antes da NR-31, melho- alojamentos inadequados; não for- ção desta experiência é positiva, pri-
rou muito.” necimento ou fornecimento de EPIs meiro por que estabeleceu uma rela-
Mesmo considerando os avanços inadequados; não disponibilização ção tripartite que permitiu, tanto que
obtidos nos últimos anos relativos de água potável e fresca, adequada a realidade dos trabalhadores do setor
à segurança e saúde, as relações de para o consumo humano; além dos fosse discutida como a construção de
trabalho no setor sucroalcooleiro problemas relativos às condições de soluções para a resolução destes pro-
nacional ainda continuam marcadas transporte dos trabalhadores. blemas. Além de representar um ins-
por atividades penosas e pela expo- trumento importante de divulgação
sição de trabalhadores a situações de dos direitos dos empregados do setor,
risco, na opinião de Elias D´Ângelo o compromisso proporcionou o apri-
Borges, secretário de Assalariados e moramento das relações entre a classe
Assalariadas Rurais da Confedera- patronal e os sindicatos de base, que
ção Nacional dos Trabalhadores na passaram a ter melhores condições de
Agricultura (Contag). atuação nas negociações coletivas de
Destaca-se, segundo ele, neste trabalho e nas ações de fiscalização”,
contexto, o trabalho à exaustão, con- enfatiza.
sequência direta do formato da re- O Compromisso Nacional tam-
muneração por produção estabeleci- bém foi importantíssimo, na visão de
Elias D´Ângelo Borges, secretário de
da no setor. “Este formato de remu- Assalariados e Assalariadas Rurais da Contag Borges, no combate à terceirização
neração faz com que apenas traba- ilegal e a contratação de mão de obra
lhadores que possuam um alto índice por pessoas interpostas, os “gatos”,
de produtividade sejam contratados responsáveis pela precarização ain-
pelas usinas. Este cenário se agravou da maior das relações de trabalho no
ainda mais nos últimos anos, sobre- Em relação aos acidentes de tra- setor. No âmbito das empresas que
tudo pelo processo de mecanização balho, o secretário lembra que o aderiram ao Compromisso Nacional,
que diminuiu expressivamente os Anuário Estatístico da Previdên- houve uma diminuição expressiva,
postos de trabalho, acirrando a dis- cia Social, em 2011, registrou 5.557, reduzindo à quase totalidade, a utili-
puta entre os trabalhadores, que se sendo que destes cerca de 851 foram zação da terceirização ilegal e a utili-
veem obrigados a produzir cada vez registrados sem a emissão da Co- zação dos “gatos” para arregimentar
mais sob pena de não conseguirem municação de Acidente de Trabalho trabalhadores.
colocação nos postos de trabalho (CAT). “O número de acidentes ain- Mas para a Contag, o Compro-
deste setor.” da é elevado, entretanto, com a sub- misso Nacional é um processo ainda
Outro aspecto a ser observado, notificação destes casos, este núme- em construção, pois pontos impor-
é a realização destas atividades em ro acaba sendo ocultado, e a maioria tantes não puderam ser negociados,
um ambiente desfavorável, marca- dos acidentes ainda são decorrentes como o fornecimento de alimentação
dos pela precariedade, insalubridade de situações designadas como típi- gratuita nos locais de trabalho. Além

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de verificadas algumas falhas como escolarização, qualificação e rein- damente 136 mil postos de trabalho
as relacionadas à elaboração e exe- serção produtiva dos trabalhadores, (formais) desapareceram no campo
cução de políticas públicas para os algo grave, de acordo com o secretá- em razão do processo de mecaniza-
empregados do setor, entre as quais: rio, pois nos últimos anos aproxima- ção do plantio e da colheita.

Compromissos assumidos pelas empresas em benefício


da segurança e saúde dos trabalhadores na produção
de cana-de-açúcar

Cerca de 250 empresas aderiram o • Realizar esforço, em conjunto • Manter, para o transporte de
Compromisso Nacional para Aperfei- com trabalhadores, para cons- trabalhadores, sistema de con-
çoar as Condições de Trabalho na Ca- cientizar os trabalhadores sobre trole de acordo com a NR-31
na-de-Açúcar. Elas foram submetidas a importância do uso dos EPIs; e as normas legais de trânsito,
a um mecanismo de verificação do que contemple:
cumprimento das práticas estabeleci- • Garantir a realização de duas
das, feita por meio de empresas de au- pausas coletivas por dia, sendo 1. Condição material dos ônibus
ditoria independentes, previamente uma no período da manhã e ou veículos adaptados;
credenciadas pela Comissão Nacional outra à tarde;
de Diálogo e Avaliação do Compro- 2. Registro e licenças dos veícu-
misso Nacional e as que comprova- • Rigor no exame admissional, los;
rem a regularidade em receberam o lançando mão de exames com-
selo Empresa Compromissada. Entre plementares sempre que o 3. Documentos e habilitação dos
as práticas estabelecidas se destacam: médico responsável entender condutores;
necessário;
• Assegurar alojamentos de boa 4. Inspeção periódica dos veícu-
qualidade e de acordo com os • Promover campanhas informa- los, uma sendo feita necessaria-
requisitos da NR-31, para os tivas aos trabalhadores no cor- mente antes do início da safra;
trabalhadores migrantes con- te manual da cana-de-açúcar
tratados em outras localidades sobre a importância da reidra- 5. Boas práticas na utilização dos
e que fiquem impossibilitados tação durantes os serviços de veículos e;
de retornar ao seu município campo, fornecendo gratuita-
de origem após a jornada de mente o soro hidrante a critério 6. Gestão de sistema de transporte.
trabalho; do médico da empresa;
• Adotar Plano de Auxílio Mútuo
• Adotar melhores práticas de • Adotar, orientar e difundir a em Emergência, com pactua-
gestão em saúde e segurança prática de ginástica laboral nas ção e integração local/regional
e valorizar a Comissão Interna atividades manuais de plantio de serviços privados e públi-
de Prevenção de Acidentes no e corte da cana-de-açúcar; cos;
Trabalho Rural (CIPATR);
• Melhorar as condições de aten- • Fornecer gratuitamente reci-
• Fornecer gratuitamente EPIs de dimento médico aos trabalha- piente térmico (marmita) que
boa qualidade com Certificado dores do cultivo manual da garanta condições de higiene
de Aprovação (CA); cana-de-açúcar em situações e manutenção de temperatura
de emergência; e;
• Realizar esforço, em conjunto
com trabalhadores, para ade- • Fornecer transporte seguro e • Assegurar, nas frentes de tra-
quação e melhoria de EPIs ao gratuito aos trabalhadores para balho, mesas e bancos para a
trabalho rural; as frentes de trabalho no campo; realização de refeições.

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IMPACTO DA MECANIZAÇÃO
NA COLHEITA DA CANA

O processo de mecanização das


lavouras de cana-de-açúcar não se
desenvolve de maneira uniforme
em todo o País, em razão das limi-
tações tecnológicas para o corte e
plantio da planta em determinadas
regiões, em função das caracterís-
ticas geográficas, como índice de
declividade e capacidade econô-
mica do produtor para adquirir as
máquinas.
De acordo com dados da Unica,
no Estado de São Paulo, a mecani-
zação no corte já atinge 73%, sen-
do a média no Centro-Sul de 80%.
Mas nas usinas novas construídas A utilização do corte mecânico des, mas nos Estados do Nordeste,
nesta região, principalmente no Sul no Estado de São Paulo e no Centro- segundo Clóvis Meirelles, em que
de Goiás e no Triângulo Mineiro a Sul como um todo, onde os terrenos 60%, 70% da cana plantada é feita
mecanização atinge os 100%. são plainos, não enfrenta dificulda- em áreas de aclive, torna-se muito

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difícil a utilização da mecanização campo e, para isso, muitos apontam ção tem trazido sérios riscos aos tra-
aos moldes do que se vê no Centro- a mecanização como saída. balhadores, pois em geral, trabalham
Sul e principalmente no Estado de Segundo Borges, não foi criada em turnos de 12 horas e há alternân-
São Paulo, apesar de já estar em qualquer alternativa de recolocação cia dos turnos diurnos e noturnos,
teste algumas máquinas importadas produtiva para os 136 mil trabalha- provocando estresse psíquico, além
próprias para estes terrenos. dores e trabalhadoras que perderam de outros distúrbios.
Neste processo, como já mencio- o emprego entre 2007 e 2011. “Mes- Desta forma, na opinião de Bor-
nado, um dos grandes impactos gera- mo a Constituição Federal estabele- ges, não pode ser atribuída somente
dos é o desemprego. O pesquisador cendo como obrigação do Estado a à mecanização a eliminação de ris-
da Fundacentro fala que uma máqui- proteção aos trabalhadores nos pro- cos e acidentes de trabalho, este fator
na substitui de 60 a 90 trabalhadores cessos de automação, isso não ocor- se dá somente se forem observadas
e só no Estado de São Paulo são por re e nem os empregadores têm es- as normas de segurança e as próprias
volta de 550 mil trabalhadores que tratégias para proteger efetivamente condições e limites do ser humano.
atuam no corte e detalha: “para ter estes trabalhadores e garantir, por “Pensar na mecanização como o
uma ideia, uma usina que tem 300 exemplo, a reinserção produtiva ou único instrumento de eliminação de
trabalhadores fixos durante os 12 recolocação profissional em outras riscos e redutor eficaz de acidentes
meses do ano, quando chega a época atividades. Esta ausência de prote- de trabalho é um grande equívoco,
do corte vai para quatro mil, cinco ção se agrava, quando se considera principalmente se considerarmos
mil trabalhadores, é uma massa mui- o próprio perfil do assalariado e da que em atividades mecanizadas há
to grande e a pergunta que se faz é: assalariada rural do setor, marcado anos, ainda persistem a existência de
o que fazer com estes trabalhadores, pelo analfabetismo, baixa escolari- diversos acidentes e adoecimento de
que em geral têm baixíssima escola- dade e qualificação, o que diminui trabalhadores.”
ridade?” consideravelmente as condições des- Clóvis Meirelles também salien-
Meirelles acredita ser necessário tes trabalhadores disputarem outros ta que do ponto de vista do acidente
um trabalho a longo prazo no sen- postos de trabalho”, afirma. de trabalho é um engano achar que
tido dos trabalhadores, que migram No que se refere à segurança e serão eliminados, pois a mecaniza-
de suas regiões na época da corte e saúde dos trabalhadores, o secretá- ção gera outros tipos que envolvem a
depois retornam, sejam inseridos em rio diz não poder desconsiderar que operação das máquinas. Dentre eles,
políticas de reforma agrária, para a mecanização favorece à seguran- cita a facilidade que têm de pegar
que permaneçam em suas cidades ça do trabalhador, entretanto, este fogo, em função da combinação po-
como agricultores. “Esse processo favorecimento apenas é garantido tencialmente perigosa de materiais
merece uma discussão mais abran- se a mecanização for acompanhada combustíveis presentes no ambiente
gente e não apenas políticas de re- da obediência às normas. “De nada (palha, óleo diesel e óleo hidráuli-
qualificação”, enfatiza. adianta, por exemplo, possibilitar co) com diversas fontes de ignição
Assim como o pesquisador da ao trabalhador operar uma máquina, (raios, partes aquecidas das máqui-
Fundacentro, o secretário de Assala- que observe todas as normas, garan- nas, atrito de componentes metálicos
riados e Assalariadas Rurais da Con- tindo conforto e segurança ao em- e outros). Afinal, as colheitadeiras
tag faz a mesma pergunta: o que será pregado e, mesmo assim, submetê-lo de cana trabalham em altas tempera-
feito com as centenas de milhares de a uma jornada exaustiva.” turas em meio aos materiais combus-
trabalhadores empregados do setor? De acordo com Maria Aparecida tíveis e o risco do incêndio se propa-
Apesar de reconhecer ser inquestio- de Moraes Silva, pesquisadora do gar pelo canavial é alto, colocando
nável que a atividades do plantio e Conselho Nacional de Desenvol- em risco, além do operador, todas as
do corte da cana-de-açúcar, no for- vimento Científico e Tecnológico pessoas envolvidas no processo, o
mato atual como são desenvolvidas (CNPq) e professora do Programa meio ambiente e a produtividade.
– remuneração por produção, traba- de Pós-Graduação em Sociologia Outro risco envolvido no corte
lho à exaustão e más condições de (PPGS) da Universidade Federal de mecanizado é a operação conhecida,
trabalho –, precisa ser superada no São Carlos (UFSCar), a mecaniza- conforme Meirelles, como “cata da

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RenovAção
Trata-se de um projeto em parceria economia, como horticultura, corte e costura os homens se sacrificavam para fazer e o
entre a Unica, a Federação dos Empregados e torneiro mecânico, selecionados a partir da projeto lhes dá a chance de terem uma nova
Rurais Assalariados do Estado de São Paulo demanda local. qualidade de vida.
(Faraesp), a Fundação Solidaridad e as
Os participantes dos cursos do projeto Desta forma, o projeto que surgiu
empresas da cadeia produtiva da cana-de-
RenovAção são indicados pelas próprias impulsionado pelo Protocolo Agroambiental
açúcar com apoio do Banco Interamericano
usinas onde são funcionários ou pelos do Estado de São Paulo busca reverter
de Desenvolvimento (BID), que tem por
sindicatos locais dos municípios canavieiros o quadro de desemprego gerado pela
objetivo dar treinamento especializado
em que o projeto atua. Durante o período do mecanização e suprir a falta de mão de obra
aos trabalhadores das seis maiores regiões
curso, os trabalhadores das usinas dedicam- qualificada que a nova realidade do setor
produtoras de cana-de-açúcar do Estado
se exclusivamente ao curso e continuam demanda.
de São Paulo: Ribeirão Preto, Piracicaba,
recebendo seus salários. As usinas parceiras,
Bauru, Araçatuba, São José do Rio Preto e Desde seu lançamento, em 2009 até
além do pagamento de seus funcionários,
Presidente Prudente, perante a crescente o final de 2012, o RenovAção capacitou
são responsáveis por seu transporte e
mecanização do setor. mais de 5.700 trabalhadores rurais em 30
alimentação.
diferentes cursos, que visam a requalificação
O RenovAção nasceu, em 2009, e foi
de profissionais oriundos do corte manual
concebido em dois módulos, um voltado para
da cana para novas funções, dentro e fora do
treinamentos em atividades mecanizadas
setor sucroenergético.
e outro direcionado aos integrantes das
comunidades envolvidas no processo. A Além de formar diretamente os
qualificação se dá por meio de cursos com trabalhadores, o projeto tem o papel
aulas práticas e teóricas oferecidos por de incentivar projetos de requalificação
escolas de reconhecida reputação. Os cursos, profissional nas próprias empresas do
muitos com a carga superior a 300 horas, setor. Em dois anos foram mais 16 mil
são selecionados com base nas demandas pessoas formadas pelas próprias usinas em
locais e visam à promoção do indivíduo cursos nos mesmos moldes do RenovAção.
de forma ampla e com maior integração Somadas as iniciativas do projeto com a
dos alunos na sociedade, incluindo desde replicação de cursos pelas usinas são mais
Maria Luiza Barbosa, gerente de Responsabili-
conceitos de cidadania até estímulos ao de 20 mil profissionais requalificados, além
dade Social Corporativa da Unica
empreendedorismo. de outras iniciativas nas comunidades.

O Módulo I requalifica trabalhadores O projeto apresenta um elevado índice


rurais para novas funções nas próprias Segundo Maria Luiza Barbosa, gerente de recolocação dos profissionais formados.
usinas, como operador de colhedora, de Responsabilidade Social Corporativa No setor, esta recolocação alcança 78% dos
eletricista, mecânico e motorista de da Unica, a mecanização no setor assusta trabalhadores. A inclusão de mulheres nos
caminhão. Já o Módulo II, é direcionado aos porque muitos trabalhadores perdem cursos é valorizada e o índice de participação
integrantes das comunidades envolvidas, emprego, mas tem seu lado positivo, pois feminina foi de 1,2% no primeiro ano para
forma profissionais para outras atividades da as máquinas passam a executar o que antes 12% no último ano.

bituca”. As máquinas cortam a cana Mesmo com a mecanização, o média nacional é de 8 a 9 toneladas e
e a jogam para cima do caminhão, só corte manual continua nas áreas em têm usinas que chegam a 12 tonela-
que muitas caem no processo. Desta que as máquinas não chegam, sendo das e o que é pior, o empregador in-
forma, após a passagem da máquina assim, o pagamento por produtivida- centiva o trabalhador a chegar a essas
um grupo de trabalhadores com uma de persiste como uma das causa dos 12 toneladas/dia. “Já vi casos que a
carreta tracionada por um trator pas- acidentes e até mesmo para compen- própria Comissão Interna de Preven-
sa recolhendo os restos de cana que sar as reduzidas áreas de corte manual ção de Acidentes do Trabalho Rural
ficam no chão e o jogam em cima os trabalhadores trabalham mais e (CIPATR) da usina ao invés de bata-
da carreta. Ao se deslocarem de uma consequentemente se expõem mais. lhar contra isso, propõe ao empresá-
área para outra, para não irem a pé, Meirelles conta que quando co- rio que dê um prêmio ao trabalhador
pois são grandes distâncias, pegam meçou a trabalhar nesta área, em que ultrapassar esta média, como um
“carona” no trator, algo proibido pe- 1975, a produtividade era de cinco radinho, um bicicleta, isto é, incenti-
los riscos de acidentes. toneladas por trabalhador/dia, hoje, a va a ocorrência de acidentes.”

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O Coordenador do Grupo Móvel iniciado no carregamento, a Pedra mentos internos, de acordo com as
de Fiscalização do MTE no Estado Agroindustrial realizou, no início da normas e leis vigentes, a fim de as-
de São Paulo, Roberto Martins Fi- década 70, experiências no corte de segurar que os profissionais tenham
gueiredo, menciona que com a me- cana, mas foi em 1976 que alcançou habilidades e experiências compatí-
canização a colheita ocorre em três o patamar de utilização de colheita veis com suas tarefas, operem suas
turnos e no noturno ocorrem muitos mecânica. Desde então, vem grada- máquinas identificando os riscos e
riscos, constados em fiscalizações tivamente ampliando o uso da me- ameaças presentes e tomem ações
realizadas, em função da fala de ilu- canização nas atividades agrícolas e que os eliminem ou controlem, além
minação e da grande quantidade de atualmente 98% de sua produção de de rediscutir os conceitos de segu-
poeira. “Na região de São José do da cana-de-açúcar é colhida meca- rança e saúde ocupacional, política
Rio Preto, por exemplo, o pessoal nicamente, sendo que na Usina Ipê, de manutenção preventiva e correti-
não tinha nem lanterna ou outras 100% do plantio e da colheita são va, entre outros.
condições de se deslocar 20 metros mecanizados. Antes de a mecanização ser im-
para ir ao banheiro.” Segundo o engenheiro de segu- plantada em praticamente em sua
Também são verificados aciden- rança do trabalho da empresa, An- totalidade, Oliveira menciona que
tes de trânsito com atropelamentos e derson de Oliveira, a mecanização devido à manipulação das ferramen-
já foram registrados casos de traba- levou a uma mudança de foco aos tas manuais cortantes, ao tipo de
lhadores que estavam dormindo de- profissionais da área de segurança ambiente e condições de trabalho,
baixo do trator durante à noite e os do trabalho, assim como promoveu os principais acidentes na colheita
operadores passaram por cima, pois o desenvolvimento de novas ferra- manual da cana eram os ferimentos
não os viram. mentas de controle das atividades cortantes; contusões devido à movi-
Figueiredo ainda destaca que nas para garantir a segurança de todos mentação no talhão; ferimentos nos
usinas onde as atividades atingem os funcionários envolvidos na meca- olhos ocasionados pelo contato com
praticamente 100% de mecanização nização, “tivemos uma mudança de as pontas da cana, capins e outros,
são mantidas uma ou duas frentes de cultura na maneira de garantir a saú- assim como picadas de animais pe-
trabalhadores para que façam os bi- de e segurança dos trabalhadores.” çonhentos.
cos, as piores atividades, entre elas Já com o avanço da mecaniza-
o corte da cana crua, em que os ris- ção (máquinas e seus implementos)
cos são muitos e a produção chega a os trabalhadores ficam expostos aos
ser 30% menor que no corte da cana riscos decorrentes do contato com
queimada. as partes móveis das máquinas que
podem causar lesões diversas; com
VIVÊNCIA os pontos de agarramento e partes
aquecidas, que em caso de incêndio
No mercado desde 1931, a Pedra e/ou explosão geram queimaduras;
Agroindustrial S.A tem como prin- quedas de nível elevado; prensa-
cipal atividade a produção de etanol, mentos e traumas devido às colisões
Anderson de Oliveira,
açúcar e energia elétrica a partir da engenheiro de segurança do trabalho entre máquinas e outros.
cana-de-açúcar. Possui quatro uni- No que se refere às doenças ocu-
dades produtoras, todas no Estado pacionais do período pós-mecani-
de São Paulo: Usina da Pedra, em zação, os cuidados estão voltados
Serrana; Usina Buriti, em Buritizal; Essa transformação atingiu cri- à prevenção da hipertensão arterial,
Usina Ibirá, em Santa Rosa de Vi- térios de seleção e contratação de doenças do aparelho locomotor
terbo; e Usina Ipê, em Nova Inde- novos funcionários; critérios para (LER/DORT), alterações cardiovas-
pendência. mudanças de função; incremen- culares, distúrbios e estresse.
Pioneira no processo de meca- to nos processos de treinamentos; No entanto, o Programa de
nização das atividades agrícolas, redefinição de políticas e procedi- Controle de Saúde Ocupacional

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(PMCSO), alicerçado nas políticas áveis são muitas e significativas, o para os treinamentos de segurança
implantadas, também atua na pre- que determina um planejamento e que são divididos em módulos por
venção das doenças musculoesque- gerenciamento mais detalhados com operação agrícola); sinalizações de
léticas; dermatites de contato alérgi- o objetivo de prevenir os acidentes e ordem geral; auditorias de não con-
cas e lesões agudas decorrentes de doenças do trabalho, fazendo valer o formidades e ações corretivas e pre-
acidentes do trabalho com cortes, termo ‘melhoria contínua’”, afirma. ventivas por meio do Sesmt, CIPA,
esmagamento, entre outros, além de A gestão de segurança e saúde CIPATR, gestão e outros. Além da
estresse térmico, câimbras, síncope do trabalho na Pedra Agroindustrial gestão da manutenção corretiva,
e fadiga pelo calor, insolação e into- é a mesma para o meio rural e in- preventiva e preditiva; aplicação de
xicações por agroquímicos. dustrial, se diferenciando na aplica- proteção em partes móveis; procedi-
O engenheiro concorda que os ção, em função das peculiaridades. mento para controle de energias pe-
avanços tecnológicos e científicos No caso das máquinas, mantém um rigosas, EPIs e outros.
nas atividades mecanizadas podem rol de pré-requisitos básicos de se- Como a empresa ainda utiliza
eliminar alguns riscos, mas criam gurança que é considerado no ato da o corte manual e outras atividades
novas condições perigosas no meio aquisição, manutenção e locação e relacionadas à mão de obra rural, o
rural, tais como ruído, presença de envolve: qualificação, habilitação, Sesmt desenvolve, segundo o técni-
inflamáveis, superfícies aquecidas, capacitação e autorização dos usu- co em segurança do trabalho, Van-
partes móveis, acesso às máqui- ários; comunicação visual e escrita, derlei da Silva Gusmão, uma série
nas e equipamentos, presença de folhetos informativos; análise preli- de atividades voltadas à prevenção
componentes pressurizados, novos minar de riscos agregada às ordens dos acidentes com foco na capaci-
aspectos ergonômicos, colisões, ca- de serviço (em papel ou via Palm); tação para as tarefas; uso de EPIs;
potamento, entre outros. “As vari- procedimentos operacionais (base ginástica laboral preparatória; pro-

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cedimentos operacionais/instruções das condições e ações abaixo das de mecanização, principalmente,


de trabalho; uso de uniformes e; boas técnicas. na abordagem dada no item 31.3.1
suplemento alimentar para os tra- Desta forma, existe uma busca (“(...) f) definir máquinas e equipa-
balhadores (farinha salgada, bebida contínua pelo aperfeiçoamento e, mentos cujos riscos de operação jus-
reidratante e bebida láctea). para isso, utilizam o slogan “Pen- tifiquem estudos e procedimentos
sar antes de Agir”. Também é em- para alteração de suas características
pregado o método do Diagrama de de fabricação ou de concepção.” De
Causas e Efeitos, o Método da Aná- acordo com o engenheiro, a impor-
lise de Árvores de Falhas (AAF) e tância da efetiva cobrança oficial
técnicas auxiliares como: lista de direcionada aos fabricantes de equi-
verificação (Checklist); registros e pamentos, além da responsabilidade
análise de ocorrências, formulários da própria empresa, se deve ao fato
e programas básicos para suporte de na concepção de uma máquina,
como as auditorias internas, diag- se fazer necessário a aplicação das
nósticos de segurança e indica- normas técnicas, para que as empre-
dores, assim como o Programa de sas que venham adquiri-las tenham
Vanderlei da Silva Gusmã Prevenção de Riscos Ambientais menor dificuldade em gerenciar os
(PPRA) e outros. riscos que a atividade mecanizada
Para o engenheiro de segurança proporciona.
do trabalho da Pedra Agroindustrial, Desta forma, a política de segu-
a NR-31 trouxe um grande avanço. rança e saúde ocupacional da Pedra
Também são realizadas audito- Em sua opinião, a modernização da Agroindustrial entende que a res-
rias internas por meio do Progra- legislação deve dar suporte e disci- ponsabilidade pela prevenção dos
ma de Avaliação de Segurança por plinar o grande desafio de reduzir acidentes é de toda a organização e
Observação, que avalia os seguintes os acidentes e as doenças ocupacio- o Serviço Especializado em Segu-
itens: princípios da NR-31; ocor- nais, e tanto os profissionais quanto rança e Saúde Rural é um elo desta
rência de acidentes e qualidade das as empresas necessitam acompanhar corrente, portanto, a cultura organi-
tarefas. As auditorias são mensais e esta dinâmica para atender às exi- zacional é que define o grau de efi-
aleatórias, realizadas pelos profis- gências desta transformação. ciência e o resultado esperado com a
sionais do Sesmt, em parceria com Mas ressalta ser clara a neces- promoção da segurança e saúde do
o líder da equipe auditada. sidade de adequação ou esclareci- trabalhador rural.
Gusmão explica que, buscam mentos de vários pontos da norma, O processo de mecanização da
adotar o equilíbrio entre as polí- para que os profissionais tenham colheita da cana-de-açúcar é irrever-
ticas presentes na organização e, segurança em atendê-la de forma sível e inevitável, mesmo porque,
para isso, são estabelecidos gru- plena. “Atualmente existem alguns em pleno século 21, manter o corte
pos internos multidisciplinares de pontos divergentes, com diversas manual nas condições precárias, ain-
trabalho para tratar os temas de interpretações ou de difícil opera- da não totalmente erradicadas nas
segurança como, por exemplo: gru- cionalização, o que dificulta em regiões produtoras, não condiz com
pos de estudos da NR-10 – Segu- muito a atuação”. Oliveira cita en- as pretensões do Brasil de entrar para
rança em Instalações e Serviços em tre os itens de dificuldade de cum- grupo de países desenvolvidos. No
Eletricidade, NR-12 – Máquinas primento da norma os relacionados entanto, como em qualquer mudança
e Equipamentos e outros, além de aos usos e costumes e a limitação há consequências positivas e negati-
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utilizar a metodologia da Análise da competência legal do SESTR vas, que, neste último caso, precisam
Preliminar de Risco (APR) com o para a realização dos programas de ser avaliadas, discutidas e contro-
foco na segurança consciente e com capacitação. ladas para realmente haver avanços
espírito profissional, visando sem- No entanto, destaca a colabo- do ponto de vista social, econômico,
pre à eliminação ou neutralização ração da NR-31 para o processo ambiental e prevencionista. cipa

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