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LIVRO Abuso Sexual Contra Criancas e Ado PDF
LIVRO Abuso Sexual Contra Criancas e Ado PDF
Luís a F H abigzang
Su má r io
Apr e s e n t a ç ã o ....................................................................................9
Pr e f á c io ........................................................................................... 13
In t r o d u ç ã o ......................................................................................15
Pa r t e I - Co n c e it u a n d o o a b u s o s e x u a l n a
INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA
De f in iç õ e s e d in â mic a d o a b u s o s e x u a l ....................................... 1 9
Da d o s e pid e mio l ó g ic o s ...................................................................3 7
Co n s e q u ê n c ia s d o a b u s o s e x u a l pa r a c r ia n ç a s e
ADOLESCENTES..................................................................................................... 4 5
A ÉTICA E A in t e r d is c ipl in a r id a d e : a s pe c t o s
f u n d a me n t a is pa r a a in t e r v e n ç ã o ............................................... 6 1
Mo d a l id a d e s t e r a pê u t ic a s e q u e s t õ e s c l ín ic a s .......................... 6 9
Te r a pia c o g n it iv o -c o mpo r t a me n t a l e m a b u s o
SEXUAL INFANTIL ................................................................................................ 8 1
Pa r t e I I - In t e r v in d o e m a b u s o s e x u a l n a
INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA.................................................... 91
Av a l ia ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a : u m r e l a t o d e
EXPERIÊNCIA.......................................................................................................... 9 3
A intervenção.......................................................................... 93
A valiação diagnostica individual...................................... 94
G rupoterapia cognitivo-com portam ental...........................96
R eavaliação diagnostica individual................................... 98
8 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
Pa r t e HI - An a l is a n d o a in t e r v e n ç ã o e m a b u s o
SE X U A L N A IN FÂ N C IA E N A A D O L E SC Ê N C IA .................... 9 9
Re s u l t a d o s d a in t e r v e n ç ã o ....................................................... 1 0 1
R esultados da avaliação diagnóstica individual................... 101
G rupoterapia......................................................................... 111
R esultados da reavaliação diagnóstica.................................. 140
Dis c u s s ã o d o s r e s u l t a d o s ...........................................................1 4 4
Pa r t e I V - Co n s id e r a ç õ e s f in a is ............................................. 1 4 9
Co n s id e r a ç õ e s f in a is ................................................................... 1 5 1
Re f e r ê n c ia s b ib l io g r á f ic a s ......................................................... 1 5 5
An e x o s ............................................................................................ 1 6 5
An e x o A .......................................................................... 1 6 7
An e x o B ...........................................................................1 6 9
An e x o C .......................................................................... 1 7 3
Apr e s e n t a ç ã o
este não devem ser m eram ente “transplantados” para a realidade atual,
na qual os protagonistas, o contexto e as relações interpessoais são
substituídos por entidades, que fazem parte da experiência diária das
fam ílias brasileiras.
O abuso sexual expõe crianças, adolescentes e fam ílias a um a
luta diária por sobrevivência e segurança. O conhecim ento profundo
dessa realidade, de seus valores e de seu cotidiano deve ser um
com prom isso do profissional que se dedica a seu estudo. H abigzang
e C am inha propiciam um cam inho bastante prom issor para alcançar
tal conhecim ento.
pode ser feito para resolver o problem a; por ser um assunto tabu; por
não saber o que fazer (C ohen, 1997).
M esm o que a m aioria dos casos de abuso sexual envolvendo
crianças raram ente seja revelada, devido a culpa, vergonha e tolerância
da vítim a, há outros fatores que geram essa condição - com o, por
exem plo, a relutância de alguns m édicos em reconhecer o problem a
e relatá-lo, a insistência de tribunais em regras estritas de evidência e
o m edo da dissolução da fam ília, se for descoberto o abuso.
Possivelm ente, um a das principais questões que levam os profissionais
de saúde a negar e a subestim ar a severidade e a extensão do abuso
sexual é o fato de ele significar a violação de tabus sociais - com o o
incesto -, despertando sentim entos de raiva e desconforto nos próprios
agentes de saúde (Fum iss, 1993; Z avaschi e cols., 1991).
O abuso sexual contra crianças ou adolescentes é, portanto, um
fenôm eno que envolve variáveis com plexas na caracterização de sua
dinâm ica. Por esta razão, é considerado um problem a m ultidisciplinar,
requerendo um a estreita cooperação de diferentes profissionais. C om o
questão legal e terapêutica, requer, por parte de todos os profissionais
envolvidos, o conhecim ento dos aspectos crim inais e de proteção da
criança, assim com o dos psicológicos (Fum iss, 1993).
Da d o s e pid e mio l ó g ic o s
A
form as:
ser afetadas pela experiência de abuso sexual de diferentes
algum as apresentam efeitos m ínim os ou nenhum efeito
aparente, enquanto outras desenvolvem severos problem as
em ocionais, sociais e/ou psiquiátricos (H eflin & D eblinger, 1999;
Sayw itz, M annarino, B erliner & s C ohen, 2000). O im pacto do abuso
sexual está relacionado com fatores intrínsecos à criança, tais com o,
vulnerabilidade e resiliência (tem peram ento, resposta ao nível de
desenvolvim ento neuropsicológico), e com a existência de fatores de
risco e proteção extrínsecos (recursos sociais, funcionam ento fam iliar,
recursos em ocionais dos cuidadores e recursos financeiros, incluindo
acesso ao tratam ento). A lgum as conseqüências negativas são
exacerbadas em crianças que não dispõem de um a rede de apoio social
e afetiva (Sayw itz, M annarino, B erliner & C ohen, 2000).
B rito e K oller (1999) destacam três aspectos de um desenvol
vim ento adaptado: presença de um a rede de apoio social e afetiva,
coesão fam iliar e ausência de conflito, e características individuais,
tais com o autonom ia e auto-estim a. A rede de apoio social é definido
com o o conjunto de sistem as e de pessoas significativas que com põem
os elos de relacionam ento existentes e percebidos pelo indivíduo. A
esse construto foi, recentem ente, agregado o elem ento afetivo, em
função da im portância do afeto para a construção e a m anutenção do
apoio. D essa form a, a possibilidade de se desenvolver adaptativam ente
e de dispor de recursos que increm entem os determ inantes acim a
46 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
IN T E R V E N Ç Ã O
e foi finalizado com entrevistas para com unicar o fim do tratam ento.
C om a autorização dos pais, todas as crianças, com m ais de seis anos,
foram entrevistadas, além de pais ou cuidadores não abusivos.
Q uestionários padronizados foram utilizados nas avaliações inicial e
final. A divisão da am ostra nos dois tipos de tratam ento (terapia
fam iliar ou terapia fam iliar m ais grupoterapia com as crianças) foi
estabelecida aleatoriam ente. Os program as de tratam ento foram
descritos pelos autores da seguinte form a:
O s resultados do grupo controle não variaram m uito nos dois tem pos,
o que com prova a eficácia da grupoterapia para m eninas com idade
entre nove e doze anos (M cG ain & M ckinzey, 1995).
Sayw itz, M annarino, B erliner e C ohen (2000) ressaltam que
poucos estudos controlados têm sido realizados para avaliar os
resultados de tratam entos com crianças vítim as de abuso sexual. Para
os autores, isso ocorre por causa de um a série de obstáculos, tais
com o:
IN F A N T IL
In t e r v in d o e m a bu s o s e x u a l n a
IN F Â N C IA E N A A D O L E S C Ê N C IA
Av a l ia ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a :
U M R E L A T O D E E X P E R IÊ N C IA
A in te r v e n ç ã o
A am ostra do estudo foi com posta por treze m eninas com idades
entre nove e dezesseis anos vítim as de abuso sexual. O critério de
inclusão na am ostra foi a presença de pelo m enos um episódio de
abuso na história das participantes - situações de assédio sexual,
carícias em partes íntim as do corpo, m anipulação de genitais, sexo
oral e genital.
D oze m eninas sofreram abuso sexual intrafam iliar e um a foi
vítim a de exploração sexual. N o prim eiro grupo, os abusadores foram :
padrasto (nove casos), tio (dois casos) e irm ão (um caso). N o caso de
abuso extrafam iliar, foi constatado que a m ãe estava envolvida na
exploração sexual da m enina. T odos os casos já haviam sido notifi
cados aos órgãos de proteção a crianças e a adolescentes. Q uando
chegaram ao program a, oito m eninas estavam convivendo com as
fam ílias e cinco estavam abrigadas com o m edida de proteção. D urante
as entrevistas de avaliação individual verificou-se que um a das
94 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
garotas, que residia com a fam ília, estava exposta a situações sexual
m ente abusivas, o que foi notificado ao C onselho T utelar, que deter
m inou sua condução ao abrigo - um a vez que nenhum fam iliar
dem onstrou interesse em cuidar dela.
A s participantes foram encam inhadas para tratam ento psicote-
rápico por diferentes instituições: C onselho T utelar (dois casos),
Juizado da Infância e Juventude (um caso), abrigos (cinco casos),
escola (um caso) e fam iliares (quatro casos). T odas foram incluídas
no estudo m ediante o consentim ento livre e inform ado, protocolado
com o norm a de atendim ento do PIPA S, assinado pelos responsáveis
legais e pelas próprias m eninas.
A s jovens foram atendidas em dois grupos, com postos pela
ordem de chegada ao program a. O prim eiro ocorreu em 2001, com
seis participantes, e o segundo grupo aconteceu em 2002, com sete
participantes.
A intervenção foi dividida em três etapas: avaliação diagnóstica
individual, grupoterapia cognitivo-com portam ental e reavaliação
diagnóstica individual.
fam ília incestuosa. A lém disso, tam bém foram investigadas possíveis
alterações com portam entais e sintom as psicopatológicos decorrentes
do abuso que podem não haver sido relatados pela criança.
Segundo Flores e C am inha (1994), o diagnóstico para abuso
sexual é realizado a partir dos seguintes critérios:
Grupoterapia cognitivo-comportamental
A grupoterapia cognitivo-com portam ental teve com o objetivos:
1) cessar a exposição da criança ou do adolescente ao evento
estressante; 2) abordar terapeuticam ente a experiência traum ática,
com a recuperação e a reestruturação sem ântica da m em ória trau
m ática; 3) construir estratégias cognitivas e com portam entais
funcionais para lidar com as reações psicológicas e fisiológicas
relativas ao traum a; 4) desenvolver estratégias cognitivo-com por-
tam entais de autoproteção; 5) potencializar a proteção externa
(fam iliares e/ou cuidadores) para a criança (H abigzang & C am inha,
2002a, 2002b).
Lu ís a E Ha b ig z a n g & Re n a t o M. Ca min h a 97
An a l is a n d o a in t e r v e n ç ã o
E M A B U S O S E X U A L N A IN F Â N C IA E
N A A D O L E S C Ê N C IA
Re s u l t a d o s d a in t e r v e n ç ã o
O grupo 1 (G l) foi com posto por seis m eninas com idade entre
nove e catorze anos - cinco estavam em um abrigo, responsável pelo
encam inham ento para psicoterapia, e um a residia com a m ãe, tendo
sido encam inhada para o PIPA S pela escola que suspeitou que a
m enina estava sendo vítim a de abusos sexuais.
D aiana* tinha treze anos e m orava com a m ãe e o padrasto, até
a escola com eçar a suspeitar que poderia estar sendo vítim a de
abusos sexuais. E la vinha dim inuindo consideravelm ente seu
rendim ento escolar e estava sem pre isolada do restante da turm a.
C onselho T utelar foi acionado, decidindo pelo encam inham ento das
m eninas ao abrigo. C onform e o relato delas, os abusos incluíam
carícias e beijos nos genitais, tanto da parte delas, quanto da parte
do tio. A s m eninas disseram que ele pedia que m antivessem a relação
em segredo, pois algo de m uito ruim podería acontecer a toda a
fam ília, caso a tia soubesse. E las m antiveram o segredo durante
seis anos. T atiana e Paula estavam com dificuldades escolares e
apresentavam quadro de T E PT . T atiana tam bém tinha sintom as
dissociativos sérios, e identificaram -se sintom as de depressão em
Paula. T atiana estava m uito triste e tem ia que os tios fizessem algo
contra elas. Paula sentia m uita raiva do tio e da tia, que não acreditou
nelas. C om freqüência, Paula revelava seu desejo de m orrer, em bora
não tivesse planos de suicídio e afirm asse não ter coragem para tal.
A s duas revelaram sentir culpa por ter m antido o abuso em segredo
durante tanto tem po.
D aniela, de onze anos, estava no m esm o abrigo em que T atiana
e Paula m oravam . R evelou que o padrasto batia m uito nela e que
tentou pegá-la duas vezes, correndo sem roupas atrás dela. T inha
cicatrizes no corpo e no rosto das surras que levou do padrasto.
Segundo ela, pediu ajuda à m ãe e esta nada fez, duvidando dos
abusos por parte do m arido. D aniela, então, solicitou o auxílio de
um a vizinha, que denunciou a situação ao C onselho T utelar. Segundo
a diretoria do abrigo, D aniela foi para lá por decisão do C T , já que
a m ãe optou em ficar com o m arido. A m enina apresentava quadro
de T E PT e episódios de intenso m edo. T am bém tinha dificuldade
para se concentrar nas atividades escolares. D aniela expressou
sentim entos de culpa, tristeza e raiva por estar afastada da m ãe e
dos irm ãos, e revelou o desejo de que a m ãe ainda iria se separar do
padrasto e levá-la de volta ao convívio fam iliar. N o entanto, a m ãe
de D aniela nunca buscou inform ações sobre a filha junto ao C T , e
não tinha conhecim ento de onde a m enina estava vivendo, por
m edidas de proteção.
104 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
Joana tinha dezesseis anos e veio acom panhada pela m ãe, que
estava desesperada com a revelação de abuso da filha. E la vivia com
a m ãe e o padrasto, quando este tentou m anter relações sexuais com
ela duas vezes. N a prim eira, Joana estava dorm indo quando sentiu
um a m ão tocando suas pernas debaixo das cobertas, com o quarto
totalm ente escuro. E la gritou e correu para o quarto da m ãe. O padrasto
disse que só havia ido buscar o cachorrinho de Joana para colocá-lo
na cozinha. N a segunda vez, a garota estava sozinha em casa com o
padrasto, quando ele a agarrou e a atirou na cam a. E la disse que ele
lhe bateu no rosto e tentou tirar sua roupa. D epois de algum tem po de
luta, segundo a m enina, ela conseguiu escapar e fugiu para a casa da
vizinha que a socorreu. Q uando a m ãe chegou em casa e soube do
ocorrido, fugiu com a filha para outra cidade, onde passaram a m orar
com a tia. Joana disse que o padrasto estava sem pre bêbado e desde
m uito pequena o via agredindo fisicam ente sua m ãe. D isse que
desejava que ele m orresse, após ser torturado. D urante as entrevistas
de avaliação, Joana descreveu em detalhes rituais de tortura e fez
desenhos sobre assassinatos. E la apresentava sintom as de T E PT e
sintom as dissociativos, descrevendo episódios nos quais rom pia com
a realidade, pois segundo ela, esta era insuportável. R elatou que sentia
ódio pelo ocorrido e tinha idéias fixas de vingança. D izia que não
tinha am igos nem nam orado e tam pouco fazia questão de ter. A m ãe
contou que ela passava horas lendo ou desenhando, e gostava de
brincar de bonecas com crianças bem m enores do que ela. N o decorrer
da avaliação, foi revelado que Joana já havia planejado suicídio um
tem po antes.
M ariana tinha quinze anos e veio acom panhada pela avó, com
quem estava m orando devido aos abusos físicos, psicológicos e
sexuais do padrasto. Segundo a garota, a m ãe preferiu ficar com o
padrasto, em bora tivesse conhecim ento do que ele fazia com a filha,
já que m ais de um a vez presenciara o m arido fazendo carícias nela.
108 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
S in to m a s d e T E P T M e n in a s G 1 M e n in a s G 2
(« = 6) (n=7)
angústia nas lem branças traum áticas 6 6
fuga: sentim entos, pensam entos, 5 7
locais, situações
lem branças/im agens intrusas 6 7
dificuldade de concentração 5 7
sentim ento de estar sozinha, 2 6
separada, alienada
com portam ento de reconstituição 3 1
hipervigilância 3 3
lapsos de m em ória 2 0
interesse reduzido em atividades habituais 1 1
ao futuro
A lte r a ç ã o c o m p o r ta m e n ta l M e n in a s G 1 M e n in a s G 2
(/* = 6) (« = 7 )
falta de apetite 2 0
aum ento de apetite 0 1
atraso do desenvolvim ento 1 1
(C ognitivo; m otor; afetivo)
atuação tipo M entiras e furtos 0 3
atuação sexual 0 1
perda de peso 1 1
abandono de hábitos lúdicos 1 0
com portam ento suicida 0 5
uso de m aconha 0 2
G r u p o te r a p ia
I a sessão
Rapport . Incluiu apresentação dos terapeutas coordenadores e
todas as inform ações necessárias sobre o funcionam ento do grupo,
tais com o: dia dos encontros, horários, tem po de duração, etc.
D inâm ica de apresentação. Foi realizada um a dinâm ica de grupo
que favoreceu a apresentação e a caracterização das participantes,
envolvendo a realização de entrevistas entre as m eninas. A s perguntas
m ais freqüentes foram : nom e, idade, onde m ora, onde estuda, o que
gosta de fazer. D epois, as inform ações obtidas nas entrevistas foram
apresentadas no grupo.
Identidade do grupo. O passo seguinte foi conversar com as
m eninas do grupo sobre o porquê de estarem reunidas, abordando quais
experiências de vida as trouxeram para o atendim ento (cabe lem brar
que as m eninas foram individualm ente preparadas para o grupo). N esse
m om ento, discutiu-se no grupo o que é um abuso sexual, pois as
112 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
E fundam ental que a identidade do grupo seja com preendida por todas
as participantes para que se possa introduzir os objetivos do tratam ento.
Se elas não trouxerem a questão do abuso, é im portante que os terapeutas
expliquem que a razão de estarem reunidas é o fato de terem tido
experiências de abuso sexual. R evelações sobre as situações de abuso
são com uns nesse m om ento, em bora a abordagem m ais específica do
abuso esteja program ada para a segunda sessão. N o prim eiro encontro
foi escolhido um nom e para caracterizar o grupo, com o “m eninas
secretas” e “m eninas superpoderosas” (nom es escolhidos pelos grupos
G 1 e G 2, respectivam ente).
Apresentação dos objetivos. Os terapeutas verificaram as
expectativas das m eninas com relação ao grupo e com partilharam
com elas os objetivos de trabalho. Foi realizado um painel para
verificar o que as m eninas esperavam . E ntre as principais idéias
apresentadas, surgiram as seguintes: “aprender a lidar com o que
aconteceu”, “entender por que isso aconteceu com igo”, “que cada
um a de nós consiga resolver seu problem a e que sejam os am igas”,
“sair na rua sem achar que está todo m undo te olhando e te julgando,
sem saber o que realm ente aconteceu”, “esquecer o abuso”, “não
falar m uito do abuso”, “aprender a conviver com o problem a”. T odas
as idéias foram discutidas no grupo a partir dos seguintes objetivos:
• terapêutico: m inim izar os efeitos do evento traum ático na
vida das participantes;
terapeutas explicaram que quando falam os de algo que nos incom oda e
nos faz sofrer, podem os sentir alívio e construir novas m aneiras de lidar
com isso, e que, por essa razão, o grupo estava ali, para que um a pudesse
ajudar a outra, já que passaram por experiências sem elhantes. E las
esclareceram que, para atingir objetivos com o entender o que aconteceu
e aprender a lidar com o abuso, seria preciso falar sobre a experiência e
que o fato não se apagaria por com pleto da m em ória, m as que trabalhariam
para m udar o que as lem branças representavam em suas vidas. A s m eninas
precisavam com preender que o grupo constitui um espaço seguro para
falar das experiências abusivas a fim de que pudessem aprender m aneiras
de lidar com as conseqüências no dia-a-dia.
2 a sessão
Estabelecim ento de confiança. R ealizaram -se dinâm icas para
estim ular a confiança e a coesão entre os m em bros do grupo. Por
exem plo, “cam inhada em confiança” (Sm ith, 1996), na qual as
m eninas foram divididas em duplas, e um a delas vendou os olhos
para ser conduzida em um a cam inhada pela sua com panheira. D epois
os papéis se inverteram . N o final da técnica exploram os os sentim entos
e os pensam entos com relação à atividade realizada, buscando
salientar o quanto é im portante ter alguém para confiar quando
enfrentam os algum a dificuldade. R eforçou-se a idéia de que o grupo
constituía um espaço seguro e possível para expor as experiências
sexualm ente abusivas a que foram subm etidas.
Relato das situações abusivas. A s participantes foram convi
dadas a revelar as experiências de abuso sexual de form a verbal, escrita
ou desenhada. B uscou-se com preender a dinâm ica dos abusos, os
rituais dissociativos, a freqüência, a duração, a intensidade, o segredo
e a coerção. Paula relatou: “A m inha vida não é com o a m aioria das
gurias que tem no m eu colégio. Q uando eu ia para a escola m e sentia
um a m enina m uito triste, porque tudo aquilo que estava acontecendo
com igo não era certo. Por que só com igo e não com as outras m eninas
que passavam por m im .” ( sic )
114 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
M ariana relatou: “Foi m uito bom ter contado o que m eu padrasto fez
com igo e não ter passado por m entirosa, com o ele disse que iria
acontecer no dia em que eu contasse isso a alguém .” T odas as m eninas,
de am bos os grupos, m anifestaram sentir alívio em com partilhar o
abuso e constatar que ninguém ali as julgou de form a negativa.
3 a sessão
Reações da fam ília. Foram abordadas as reações, da fam ília e das
dem ais pessoas significativas, diante da revelação. M uitas vezes as
m eninas falaram do fato de terem sido responsabilizadas pelo ocorrido
e pela desestruturação da fam ília. O utras vezes, relataram que tentaram
contar o que acontecia a alguém , m as que não tinham credibilidade.
A s m eninas abrigadas queixaram -se da falta que sentiam dos irm ãos e
da m ágoa com relação às m ães que não acreditaram nelas.
M inhas fam ílias. “D esenho de m inha fam ília ou de m inhas
fam ílias ou cuidadores atuais” (Sm ith, 1996). E ste foi um dispositivo
interessante para abordar as m udanças na configuração fam iliar. A s
participantes desenharam sua fam ília antes e depois da revelação, e
depois com entaram as produções.
M apeam ento das m udanças. B uscou-se conhecer e com preender
as m udanças ocorridas na vida das m eninas depois das situações
abusivas e da quebra do segredo. N o G 1, no qual cinco m eninas estavam
institucionalizadas, verificou-se que o abrigo era entendido com o
punição, o que reforçava a crença de que eram culpadas pelo abuso.
D urante a sessão, G abriela, que estava na casa abrigo, perguntou a
D aiana, que m orava com a m ãe, porque ela pôde ficar em casa. D aiana
respondeu que a m ãe havia m andado o padrasto em bora, m as que tinha
m edo de ficar em casa, porque pensava que ele viria seqüestrá-la para
cum prir as am eaças. E ntão D aniela disse: “É ruim ficar longe de casa,
m as pelo m enos agora a gente está segura. T em os um lugar para m orar
e ninguém abusa da gente.” A lém das m udanças na configuração
fam iliar, as m eninas apontaram alterações na vida escolar (dim inuição
do rendim ento), m aior agressividade com os outros, desconfiança das
116 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
pessoas e o sentim ento de ser diferente das outras pessoas, que as levava
a buscar um distanciam ento. V anessa disse que achava que todos que
olhavam para ela sabiam que ela havia sofrido abuso e que detestava
que a olhassem por causa disso. A coordenação perguntou se, caso se
cruzassem na rua, elas identificariam um as às outras com o vítim as de
abuso sexual sem o relato de cada um a sobre a experiência. T odas
riram e disseram que não im aginariam isso apenas se olhando. Foi
levantada, então a possibilidade de que as pessoas podem olhar para
elas nas ruas por outros m otivos. V anessa riu e disse: “À s vezes tenho
idéias absurdas e é bom falar sobre elas no grupo para ver que são
bobagens da m inha cabeça.”
Im plicações afetivas. O m odelo priorizou a abordagem do afeto,
dos sentim entos de culpa e do resgate das explicações alternativas
trabalhadas anteriorm ente sobre as situações de abuso. A questão da
culpa foi retom ada diversas vezes, pois essa crença disfuncional
geralm ente estava bastante arraigada nas pacientes.
4 a sessão
Psicoeducação quanto ao m odelo cognitivo-com portam ental.
O m odelo foi introduzido com o jogo “o que são em oções”, no qual
o grupo ligava colunas de situações cotidianas às reações afetivas
correspondentes. Foram trabalhadas diversas em oções, com o m edo,
raiva, tristeza, culpa e alegria, por m eio de cartões com “carinhas”
que as representavam . E sse dispositivo possibilita aprender a
discrim inar em oções e nom eá-las de acordo com as situações
cotidianas. Inicialm ente, abordam os as em oções em situações gerais,
e depois focalizam os as em oções relacionadas à experiência de abuso
sexual, com o objetivo de am pliar o repertório afetivo. A s em oções
citadas em com um pelas pacientes foram raiva, ódio, m edo e culpa.
O abusador. A bordaram -se afetos e pensam entos com relação
ao abusador. U m dispositivo utilizado para isso foi a construção do
abusador em m assa de m odelar e a realização de role play com ele
(K nell & R um a, 1999). E ssa técnica proporcionou um a evasão de
Lu ís a E Ha b ig z a n g & Re n a t o M. Ca min h a 117
5 a sessão
Psicoeducação quanto ao m odelo cognitivo-com portam ental.
Foi introduzida a com preensão do pensam ento com o lem brança, idéia
ou im agem que passa pela nossa cabeça e que m uitas vezes é
involuntário (pensam ento autom ático). Foi trabalhada a noção de que
nossos pensam entos estão relacionados ao m odo com o nos sentim os.
R etom ando os m onitoram entos extra-sessão, nos quais foram
registradas situações e em oções, verificaram -se quais foram os
pensam entos associados. Para facilitar a com preensão, utilizam os a
técnica de role play com três personagens: a situação, o pensam ento
e o afeto. E las foram divididas em pequenos subgrupos, que ensaiaram
a dram atização dos personagens para depois apresentar para o grupo.
A s m eninas que estavam assistindo identificam qual foi a situação, o
pensam ento e a em oção.
N o G l, foi dram atizada um a situação registrada, na qual D aiana
atendia um telefonem a e identificava a voz do padrasto. E la lem brou
de cenas do abuso e das am eaças, o que desencadeou em oções com o
m edo e raiva intensos. O utro grupo dram atizou um a situação em que
G abriela estava dentro de um ônibus que passou em frente a um local
onde havia sido abusada. A situação desencadeou lem branças do abuso,
que a deixaram m uito triste, fazendo-a chorar com pulsivam ente.
N o G 2, os pensam entos foram trabalhados através de um a
atividade escrita na qual as m eninas descreviam o que significou para
elas ter vi vendado situações de abuso sexual. E las escreveram sobre
as m udanças que perceberam em si m esm as e quais pensam entos e
sentim entos m udaram com relação à tríade cognitiva (com o elas se
vêem , com o vêem os outros e com o vêem o futuro). D epois, as m eninas
leram para o grupo suas produções escritas e identificaram sem elhanças
de sentim entos e pensam entos com relação ao abuso. L uciana relatou:
Lu ís a E Ha b ig z a n g & Re n a t o M. Ca min h a 119
6 a sessão
Psicoeducação quanto ao m odelo cognitivo-com portam ental.
Foi trabalhada a com preensão de que os pensam entos e os afetos
estão relacionados com nossos com portam entos e podem provocar
reações físicas. N esse m om ento foi introduzida a abordagem integral
do m odelo cognitivo-com portam ental. U tilizaram -se os registros da
tarefa extra-sessão para verificar quais foram os com portam entos e
as alterações fisiológicas associados às em oções e aos pensam entos
identificados. Para integrar o m odelo cognitivo-com portam ental
utlizou-se a construção de histórias em quadrinhos a partir de situações
relatadas pelo grupo, assim com o quebra-cabeças ilustrativos.
Psicoeducação quanto ao problem a. E videnciou-se o quanto
situações-problem a e pensam entos, afetos, com portam entos e reações
120 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
7 a sessão
O ficina de educação sexual. E ssa oficina foi interdisciplinar,
contando com a participação de alunos de enferm agem . O objetivo foi
abordar as alterações naturais sofridas pelo corpo fem inino na puberdade
122 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
8 a sessão
Treino de inoculação de estresse . O T IE foi utilizado com o
dispositivo para ativar a m em ória traum ática e detalhar os estím ulos
desencadeantes de lem branças intrusivas, possibilitando à pessoa um a
sensação de controle da intensidade das em oções associadas. N esse
processo, o paciente apresenta, de form a gradual, as situações abusivas
experienciadas e o terapeuta faz um a m ediação, para que a m em ória
possa ser alterada sem anticam ente, ou seja, a m em ória é
reinterpretada, ressignificada. A m ediação é realizada por m eio de
Lu ís a E Ha b ig z a n g & Re n a t o M. Ca min h a 123
9 a sessão
Treino de inoculação de estresse e reestruturação cognitivo-
com portam ental. R ealizou-se o treinam ento de substituição de
m em órias e com portam entos a partir do detalham ento gradual das
situações abusivas, a fim de enfrentar lem branças traum áticas.
Inicialm ente, as m eninas foram convidadas a fechar os olhos e
im aginar um a situação agradável. O grupo recebeu a instrução de
im aginar o lugar e o que estava acontecendo com detalhes incluindo
sons, cheiros e dem ais sensações. E m seguida, foi pedido que
escrevessem ou desenhassem a cena agradável construída em suas
cabeças. D epois foi solicitado que im aginassem um a gaveta dentro
da cabeça e que guardassem a situação boa dentro dela. E ntão, as
m eninas foram instruídas a lem brar de algum a cena do abuso, algum
m om ento m arcante, tam bém com detalhes. E las escreveram a cena
lem brada e leram para o grupo. Finalm ente, foi explicado que dentro
de nossa cabeça existe um a coisa cham ada m em ória na qual ficam
registradas todas nossas experiências, que a lem brança traum ática
está “guardada em um a gaveta que abre sem que a gente queira” e é
im possível deletá-la da m em ória com o fazem os no com putador. E ntão
explicam os que é possível aprender a lidar com essas lem branças
quando a gaveta abre; um a m aneira é abrir a gaveta da situação
agradável e substituir um a im agem pela outra. A substituição é treinada
com o grupo até que todas as m eninas experim entem pelo m enos
um a vez a troca da cena do abuso por um a cena agradável.
O s registros do abuso inicialm ente foram bastante superficiais.
D aiana: “T enho m uitas lem branças do que m e aconteceu. L em bro de
várias coisas. V ejo-m e apanhando outra vez, ele está m e xingando.
T alvez seja por isso que não consigo ver ninguém m e xingar que já
fico estourada. V ejo ele ‘de carne e osso’, em m inhas lem branças,
quebrando as coisas dentro de casa e quase batendo em m inha m ãe
Lu ís a E Ha b ig z a n g & Re n a t o M. Ca min h a 125
10 a sessão
Treino de inoculação de estresse e reestruturação cognitivo-
com portam ental. C ontinuou-se com o trabalho terapêutico de detalhar
as situações abusivas e desenvolver as estratégias cognitivas e
com portam entais para lidar com a m em ória traum ática.
A s m eninas produziram textos com riquezas de detalhes sobre
cenas do abuso sexual que foram terapeuticam ente abordados. D aiana
escreveu: “U m a das lem branças piores que tenho é de quando ele m e
pegava e m e jogava na cam a. E le com eçava a tirar m inha roupa e,
com o m e debatia m uito, não querendo aquilo, ele com eçava a m e
bater na cara. Sem pre m e m achucava m uito e, não tendo com o m e
defender, aí é que ele m e m achucava ainda m ais. Isso acontecia em
m inha casa, na cam a de m inha m ãe. G eralm ente isso ocorria quando
126 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
ela não estava em casa e quase sem pre em dias chuvosos, porque a
porta ficava fechada e ninguém desconfiava. O único barulho que eu
escutava era a voz dele m e xingando. T alvez seja por isso que não
gosto m uito de ficar em casa, principalm ente sozinha.” O registro de
T atiana foi o seguinte: “A conteceu na garagem , encostado ao carro.
N ão tinha barulho, estávam os sozinhos. T inha cheiro de gasolina.
E le estava passando a m ão no m eu corpo, e quando m e segurava
dizia que não era para eu contar aquilo para ninguém , senão ele faria
coisa pior. E u sem pre dizia que nunca iria contar porque ficava com
m edo de que ele prejudicasse a m inha fam ília.” M ariana relatou:
“L em bro que tinha oito anos e eu e m eu padrasto estávam os em casa,
sentados na sala, quando ele tirou toda a roupa e com eçou a m e apertar
e a m e acariciar com as m ãos. C om eçou a se m asturbar e a gem er.
D epois pegou m inha m ão e fez eu acariciar o seu pênis. A í tirou
m inha roupa e com eçou a beijar todo m eu corpo, quando m eu tio
chegou e bateu na porta. E ntão ele m andou eu m e vestir e correu para
o banheiro dizendo para eu abrir a porta.”
A s m eninas aprenderam a responder de form a funcional a essas
lem branças através do auto-questionam ento de evidências. U tilizaram
a técnica do stop para frear os pensam entos autom áticos e verificar
que o abuso não estava m ais acontecendo e agora elas estavam
seguras. A construção de cartões de enfrentam ento foi um recurso
utilizado para lidar com situações suscitadoras de ansiedade.
11 a sessão
Treino de inoculação de estresse e reestruturação cognitivo-
com portam ental. Foi realizado o detalham ento do “pior m om ento”
relativo ao abuso e o ensaio cognitivo e com portam ental das
estratégias para lidar com as lem branças traum áticas.
M anejos contingenciais. D iscutiu-se com o situações
anteriorm ente estressantes do cotidiano estavam sendo m anejadas.
As m eninas relataram com o estavam lidando com situações
provocadoras de ansiedade. D aiana, por exem plo, estava m exendo
Lu ís a F. Ha b ig z a n g & Re n a t o M. Ca min h a 127
com facas sem sentir m edo. V anessa descobriu que ouvindo m úsica
e cantando era m ais fácil lavar a louça e C am ila percebeu que escrever
poesias a distraia de pensam entos ruins. A freqüência das lem branças
era sem analm ente m onitorada. Foi verificado que elas dim inuíam a
cada sessão.
12 a sessão
Treino de habilidades sociais focado em m edidas protetivas.
R ealizou-se a construção coletiva e o treino de repertório cognitivo-
com portam ental para evitar situações de risco e saber com o agir, caso
ocorressem novas tentativas de abuso. Inicialm ente, trabalhou-se com
as m eninas a im portância de dizer não. Para isso, foram verificadas
as crenças delas sobre o que significa dizer não a alguém e com o se
sentem ao dizer não. Paula disse que tem dificuldades em dizer não
porque pensa que a pessoa ficará brava e deixará de gostar dela.
Q uestionam os as evidências dessa crença e ensaiam os com o dizer
não em situações gerais, com o, por exem plo, recusar um sorvete, até
chegai' a possíveis futuros abusos. O s ensaios cognitivos e com por-
tam entais foram em pregados através de dram atizações. T am bém foram
construídas e ensaiadas estratégias para lidar com situações nas quais
identifiquem risco de abuso sexual, e definiu-se a quem elas poderíam
recorrer para pedir ajuda. U m exem plo disso foi D aiana, que revelou
sentir-se em perigo porque o padrasto estava livre e peram bulava pelo
bairro onde m orava. A m enina relatou que tinha m edo de que ele a
perseguisse até a escola e a raptasse, cum prindo a am eaça de m atá-la
por ter quebrado o segredo. A lém de encam inhar um relatório dessa
situação ao Juizado da Infância e Juventude e ao C onselho T utelar,
construím os, com o auxílio do grupo, estratégias para reduzir os riscos
de D aiana. Ficou com binado que ela iria à escola acom panhada de
alguém e que, ao perceber a presença do padrasto nas proxim idades,
com unicaria ao guarda e ligaria para sua m ãe.
Adulto-referência. C ada m enina indicou um adulto-referência
a quem ela poderia recorrer caso avaliasse situações reais ou
128 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
13 a sessão
Oficina do ECA. O vídeo E statuto do Futuro foi apresentado e
realizou-se um debate com esclarecim entos sobre os direitos das
crianças e dos adolescentes. O grupo assistiu ao film e e depois apontou
os aspectos que lhe cham ou a atenção. Foi distribuído um exem plar
do estatuto para cada criança, com a explicação de que se tratava de
um a lei. Falou-se dos direitos fundam entais das crianças e dos
adolescentes e explorou-se a lei que aborda a questão dos m aus-tratos
e das penalidades previstas para perpetração de abuso sexual infantil.
R essaltou-se quais são os órgãos de defesa de crianças e adolescentes
e a função de cada um . A im portância de denunciar situações de
descum prim ento da lei aos C onselhos T utelares foi reforçada. Foram
fornecidos endereços e telefones desses órgãos. N o final, o grupo foi
convidado a construir um painel sobre o que aprenderam na sessão
com o feedback.
R ole Play de audiência. Foi realizado o ensaio de um a situação
de depoim ento em tribunal (obrigatória em casos que estão na Justiça).
Isto foi fundam ental porque as m eninas possuíam m uitas dúvidas quanto
aos procedim entos. R elataram o receio de ficar nervosas e não conseguir
dizer ao juiz o que aconteceu. T am bém apresentaram questões sobre o
que seria im portante falar e quem estaria presente no local. O s terapeutas
fizeram um esquem a no quadro com a representação espacial do local,
identificando quem são as pessoas que estariam presentes. U m aspecto
com unicado, e que reduziu a ansiedade das m eninas, é de que o abusador
pode ser retirado do local de depoim ento enquanto a criança ou
adolescente relata o ocorrido. O s exercícios de relaxam ento para
controle da ansiedade foram retom ados. E m seguida, distribuím os os
papéis (juiz, advogados de defesa e acusação, etc.) entre as m eninas
para sim ular a situação. T odas ensaiaram seus depoim entos recebendo
ajuda do restante do grupo. D efiniram -se os term os que cada paciente
Lu ís a E Ha b ig z a n g & Re n a t o M. Ca min h a 129
se sentia à vontade para usar -por exem plo, D aiana perguntou se podería
referir que foi m olestada pelo padrasto. A s m eninas revelaram sentir
vergonha de falar os nom es dos genitais para o juiz e por esta razão foi
fundam ental que cada um a escolhesse os term os que iriam em pregar.
D urante os processos grupoterápicos, acom panham os as m eninas nas
audiências e, em alguns casos, fom os consultados pelo Juiz da Infância
e Juventude.
14 a sessão
Oficina de psicomotricidade . Foram trabalhados exercícios de
psicom otricidade, coordenados por alunos da E ducação Física,
visando: a reintegração do esquem a percepto-corporal; o corpo
enquanto fonte tanto de prazer com o de desprazer; a transm issão de
afeto via corpo; a discrim inação de afeto sexualizado e não sexua-
lizado. O s exercícios trabalhados perm itiram a percepção desses
fatores e da noção de pertencim ento e gerenciam ento do corpo e da
sexualidade das participantes do grupo.
A s técnicas utilizadas foram : apresentação com um palito de
fósforo, sím bolos que identificam (jogo no qual se cham a a pessoa
pelo m ovim ento que ela se identifica ou som ), técnica do ursinho
(em círculo passar um ursinho e fazer algo com ele, depois fazer isso
com a colega ao lado), nó hum ano (entrelaçam os braços e depois
tentam desenrolar sem largar as m ãos) e dança com olhos vendados.
N o final, foi proposto um a “volta à calm a” através da percepção da
letra de um a m úsica e do corpo, com relaxam ento, observando a
respiração e as sensações.
15 a sessão
Feedbacks oficina de psicomotricidade. Foram exploradas as
inform ações cognitivas, afetivas, com portam entais e fisiológicas
geradas pelo trabalho com o corpo, situações de conforto e des
conforto, de prazer e desprazer físico; m ediação m etacognitiva das
inform ações e das crenças acionadas no trabalho com o corpo;
130 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
16 a sessão
Prevenção à recaída. Foi verificada a eficácia do repertório
cognitivo-com portam ental aprendido no gerenciam ento de situações
de estresse, reais ou presum idas, por m eio de dram atizações no grupo.
T am bém foi realizado um jogo para retom ar as estratégias construídas
ao longo do processo terapêutico.
N o G 1 cada, dupla recebeu um balão com um a pergunta dentro.
A s questões foram as seguintes:
17 a sessão
Perspectivas com relação ao futuro. N esta sessão, trabalhou-se
especificam ente as perspectivas das m eninas com relação ao futuro.
N o G l, utilizou-se um jogo no qual as m eninas eram convidadas a se
im aginar daqui a cinco, dez, quinze e vinte e cinco anos. A s
participantes do G 2 sugeriram fazer um “bate papo” ao ar livre sobre
nam oro, casam ento e planos profissionais. Para esse bate papo,
organizaram um piquenique, com pratos preparados por elas m esm as.
E m am bos os grupos, verificou-se o desejo delas de casar e ter um a
fam ília. A lgum as m anifestaram a vontade de ser m ãe, outras disseram
que filhos dão m uito trabalho. T odas as que falaram que gostariam
de ter filhos dem onstraram preocupação com as condições econôm icas
para sustentá-los e poder dar aquilo que elas não tiveram . E ressaltaram
que não basta suprir as necessidades m ateriais, m as é im portante dar
bons estudos e carinho. Segundo elas, os filhos devem ser criados
com m uito am or e conversa, precisam de abertura para que possam
contar as coisas, e é m uito im portante acreditar neles. A s m eninas
relataram que não perm itirão que seus m aridos agridam fisicam ente
nem elas nem seus filhos. T am bém disseram que ele deverá ser
trabalhador e não poderá beber.
A lém da constituição de um a fam ília, as m eninas falaram sobre
as profissões que pretendem seguir. N o G l, m uitas pretendiam ser
professoras. N o G 2, surgiram várias profissões, entre elas pediatria,
direito, adm inistração de em presas, arquitetura e veterinária. A s
m eninas perguntaram sobre o funcionam ento das universidades,
sistem as de bolsas de estudos e carga horária necessária. Segundo
elas, precisarão trabalhar e estudar ao m esm o tem po, um a vez que as
fam ílias não têm condições de pagar um a universidade.
A s m eninas do G 2 conversaram m uito sobre nam oro. A lgum as
falaram que às vezes sentem vergonha dos nam orados e que têm m edo
Lu ís a E Ha b ig z a n g & Re n a t o M. Ca min h a 133
do dia em que terão relações sexuais com eles. C ertas crenças foram
discutidas, e C arolina disse: “Q uando a gente encontrar um nam orado
que a gente goste de verdade vai ser bom transar, porque vai ser a
gente que vai decidir com quem e quando isso tem que acontecer. E
isso é diferente do abuso, que foi contra nossa vontade.” V anessa
com plem entou dizendo que se sente à vontade com o nam orado porque
eles se conhecem bem , conversam m uito e ele a respeita, o que faz
toda a diferença. Foram retom ados cuidados básicos com o uso de
preservativos e a im portância de consultar um ginecologista quando
decidirem ter relações sexuais com os nam orados.
T odas as m eninas, de am bos os grupos, dem onstraram ter planos
para o futuro e esperanças de que boas experiências lhes estejam reservadas.
18 a sessão
Oficina de psicomotricidade . C ontinuidade do encontro anterior.
N esse m om ento, foram aprofundados exercícios de percepção e
integração de esquem a corporal, e feedback, ao final da sessão, para
avaliação dos objetivos trabalhados na oficina.
E ntre as atividades desenvolvidas, destacaram -se: brincadeiras
livres com bolas e am endoins grandes de borracha, jogo de vôlei no
qual a rede era um a das participantes, dança da cadeira na qual o que
era excluído era som ente a cadeira, cam inhada em duplas com m ãos
dadas, pés encostados, costas com costas e bochecha com bochecha.
O utras brincadeiras foram propostas, com o a do rádio, na qual
um a m enina de cada dupla era o rádio e a outra deveria descobrir
qual parte do corpo da com panheira representava o botão para ligá-
lo e desligá-lo. O rádio, quando ligado, deveria cantar. D epois, em
vez de rádio, elas passaram a representar robôs. T am bém brincaram
de m assa de m odelar, na qual um a m enina era a m assa e outra a
artista plástica. O s papéis foram invertidos em seguida. D epois de
prontas as obras de arte, as outras artistas visitavam a exposição. A
m esm a proposta foi realizada em trios e finalm ente todo o grupo foi
m assa de m odelar do coordenador da atividade.
134 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
19 a sessão
Resumo de metas. N esse m om ento, foram resgatadas, com as
m eninas, as m etas traçadas no início da grupoterapia e com partilhados
os dados de evolução do grupo.
Registro de mudanças. Foi solicitada às m eninas um a auto-
avaliação, por escrito, do seu processo de m udança e de com o eram
suas vidas antes e depois de participar do grupo. A s avaliações das
m eninas do G 1 foram as seguintes:
D aiana: “A ntes eu era um a pessoa perturbada, com m edo e sem
paciência, e isso m e trazia m uitas conseqüências, tanto em casa com o
na escola. Pensava que com o nem eu m e ajudava, ninguém conseguiría
m e ajudar. M as isto m udou. H oje m e vejo com o um a pessoa norm al,
porque superei m eus m edos, tenho m ais paciência, e isso faz m e sentir
m elhor na escola e em casa. O grupo m e ajudou m uito, pois foi nesse
lugar que com partilhei tudo o que sentia, e sinto, por ter passado um a
experiência horrível. E foi passando por essa experiência que conheci
pessoas legais, que com preendem o que sinto. Se m e transform ei em
um a pessoa m ais m adura foi por causa das Meninas Secretas, que
m e ajudaram e m e com preenderam .”
D aniela: “A ntes eu era triste, não era calm a. N ão conseguia
fazer as tarefas da sala de aula e tirava nota baixa no boletim . D epois
no paraíso do PIPA S, fiquei m ais alegre, brinquei m ais. T am bém
não tirei m ais nota baixa. N ão chorei m ais e consigo fazer m elhor
m eus tem as.”
T atiana: “E u era um a m enina m uito triste, solitária, vivia m uito
m agoada, m e odiava, ficava com raiva de m im m esm a. D epois que
passei a vir ao grupo, com ecei a m e sentir m ais alegre. T am bém
percebi que o grupo não só passou a m e fazer esquecer as coisas que
eu passei, com o tam bém m e fez abrir os olhos e esticar a boca para
sorrir, porque antes ficava de olhos fechados e de boca calada. N ão
contava nada porque ficava com m edo. H oje eu gostaria de agradecer
às pessoas que m e tiraram da casa do hom em que m arcou a m inha
vida e às Meninas Secretas que m e ajudaram m uito.”
Lu ís a E Ha b ig z a n g & Re n a t o M. Ca min h a 135
20 a sessão
O últim o encontro foi com binado com cada grupo. A s m eninas
foram convidadas a planejar a últim a sessão com os terapeutas. A s
Lu ís a E Ha b ig z a n g & Re n a t o M. Ca min h a 137
(n = 6) (n = 6 ) (n = 7) (n = 7)
traum áticas
locais, situações
dificuldade de concentração 5 1 7 0
separada, alienada
irritabilidade ou raiva 2 0 7 1
hipervigilância 3 1 3 0
lapsos de m em ória 2 0 0 0
interesse reduzido em 1 0 1 0
atividades habituais
respeito ao futuro
144 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
(» = 6 ) (n = 6 ) (« = 7 ) (« = 7 )
ansiedade generalizada 2 1 3 1
transtorno do sono 3 0 4 0
na escola
fugas do lar 2 0 4 0
fadiga 2 0 2 0
isolam ento 2 0 6 0
falta de apetite 2 0 0 0
atuação sexual 0 0 1 1
perda de peso 1 0 1 0
uso de m aconha 0 0 2 0
D is c u s s ã o d o s r e s u lta d o s
Co n s id e r a ç õ e s f in a is
Co n s id e r a ç õ e s f in a is
por
O
um a
fenôm eno de violência com plexo, desencadeado e m antido
série de variáveis fam iliares e sociais. A incidência
epidem iológica apontada pelas pesquisas é alta, e os dados revelam apenas
parcialm ente o problem a. E sta categoria de m aus-tratos é um grave
problem a de saúde pública devido às conseqüências negativas para o
indivíduo ao longo do seu desenvolvim ento cognitivo, afetivo,
com portam ental e social. A lém disso, é um problem a jurídico, pois viola
o E statuto da C riança e do A dolescente (L ei Federal n° 8069/ 1990).
A s intervenções em casos de abuso sexual devem contem plar a
com plexidade do fenôm eno. A interdisciplinaridade e o trabalho em
rede são fundam entais para que a intervenção seja eficaz, m inim izando
o im pacto negativo que a experiência produz nas vítim as. D essa form a,
a capacitação dos profissionais das áreas de saúde, educação e jurídica,
para identificar e intervir com qualidade é m uito im portante, assim
com o a necessidade de m aior investim ento em pesquisas sobre
tratam ento e prevenção.
C om relação ao tratam ento, torna-se urgente no B rasil o
desenvolvim ento de estudos controlados para verificar a eficácia de
m odalidades terapêuticas para a vítim a, para o agressor e para a
fam ília. E xiste pouca produção científica em nível nacional com
relação ao tratam ento de casos envolvendo abuso sexual. O s estudos
existentes apontam a dinâm ica, a incidência e as conseqüências do
152 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
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An e x o s
An e x o A
I n íc io :
• Rapport (apresentação);
M e io :
F im :
• colocar-se disponível.
P r o to c o lo d e A te n d im e n to d e A b u s o S e x u a l
C h e c k -L is t
A lte r a ç õ e s C o m p o r ta m e n ta is - A b u s o S e x u a l
T r a n s to r n o d o s o n o P e rd a d e p e so
A tr a s o d o d e s e n v o lv im e n to D is tú r b io s a lim e n ta r e s
A tu a ç ã o s e x u a l M e n tir a s , f u r to s
A n s ie d a d e g e n e r a liz a d a C o m p o r ta m e n to s u ic id a
M u d a n ç a d e c o m p o r ta m e n to I s o la m e n to
n a e s c o la
F u g a d o c o n ta to f ís ic o A b a n d o n o d e a n tig o s h á b ito s lú d ic o s
E p is ó d io s d e m e d o o u p â n ic o A b a n d o n o d e a n tig o s la ç o s a f e tiv o s
F u g a s d o la r F a d ig a
P r o s titu iç ã o A lc o o lis m o /d r o g a d iç ã o
E m b o ta m e n to a f e tiv o ( in d if e r e n ç a ) C o n f u s ã o d e id e n tid a d e /
r e la c io n a m e n to
170 Ab u s o s e x u a l c o n t r a c r ia n ç a s e a d o l e s c e n t e s : c o n c e it u a ç ã o e in t e r v e n ç ã o c l ín ic a
T r a n s to r n o d e E s tr e s s e P ó s -T r a u m á tic o (T E P T ) - Indicadores
r e e x p e r im e n ta ç ã o d o s e n to r p e c im e n to e s ta d o d e e x c ita ç ã o
fe n ô m e n o s e v ita ç ã o p s ic o ló g ic a a u m e n ta d a
in tru sa s p e n sa m e n to s, d o rm ir
lo c a is, situ a ç õ e s
e m a tiv id a d e s h a b itu a is
Jo g o s re p e titiv o s S e n tim e n to d e e sta r D ific u ld a d e d e
so z in h o , se p a ra d o , c o n c e n tra ç ã o
a lie n a d o
L a p so s d e m e m ó ria R e sp o sta e x a g e ra d a d e
A n g ú stia n a s le m b ra n ç a s so b re ssa lto
tra u m á tic a s
P e rd a d e h a b ilid a d e s já R e sp o sta a u tô n o m a a
a d q u irid a s le m b ra n ç a s tra u m á tic a í
A lte ra ç ã o n a o rie n ta ç ã o
c o m re sp e ito a o fu tu ro
S o lid e z d o d ia g n ó s tic o d e a b u s o
Check-List FA M ÍL IA Protocolo:
I n d ic a d o r e s d e A b u s o I n tr a fa m ilia r
P a i a lc o o lis ta
P a i v io le n to , v ítim a d e a b u s o f ís ic o e m s u a f a m ília d e o r ig e m
P a i d e s c o n f ia d o , a u to r itá r io , e x c e s s iv a m e n te p u r ita n o o u v io le n to
M ã e p a s s iv a , a u s e n te , d is ta n te e in c a p a z d e im p o r - s e a o p a i
q u a n d o n e c e s s á r io
F ilh a d e s e m p e n h a n d o o p a p e l d e m ã e
F ilh a p s e u d o m a d u r a
P a is c o m r e la ç ã o s e x u a l p e r tu r b a d a o u in e x is te n te
P r e s e n ç a d e p a d r a s to n a f a m ília
P a i f ic a p o r te m p o p r o lo n g a d o c o m a s c r ia n ç a s e a s s u m e o p a p e l d e m ã e
F ilh a q u e f o g e d e c a s a , p r o m ís c u a , a u to d e s tr u tiv a o u q u e u s a d r o g a s
C r ia n ç a s q u e s e is o la m , s e m a m ig o s , s e m v ín c u lo p r ó x im o c o m n in g u é m
C o m p o r ta m e n to s e x u a l im p r ó p r io p a r a a id a d e
P a is q u e s e o p õ e m a a u to r iz a r u m a e n tr e v is ta d e u m p r o f is s io n a l a
s ó s c o m s u a f ilh a
P a i, m ã e o u a m b o s v ítim a s d e a b u s o s e x u a l n a in f â n c ia
P a is q u e f o r a m n e g lig e n c ia d o s o u d e s p r o te g id o s n a in f â n c ia
C iú m e e x a g e r a d o d o p a i e m r e la ç ã o à f ilh a a d o le s c e n te
P a is q u e a c a r ic ia m o s f ilh o s d e m o d o a v io la r a p r iv a c id a d e s e x u a l
P a is q u e e x ig e m c a r íc ia s ín tim a s d o f ilh o
O b s e r v a ç õ e s a d ic io n a is
An e x o C