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DOI: 10.5212/PraxEduc.v.6i1.

0012

ZABALA, Antoni; ARNAU, Laia. Como aprender e


ensinar competências. Tradução de Carlos Henrique
Lucas Lima. Porto Alegre: Artmed, 2010. 197 p.
Geraldina Porto Witter*

O tema do livro aqui resenhado surgiu na área dispor, na base, de conteúdos factuais, conceituais,
do trabalho e posteriormente alcançou a área edu- procedimentais e atitudinais. Esses conteúdos de-
cacional de maneira rápida e abrangente. É justa- vem viabilizar o planejamento de várias possibilida-
mente seu uso educacional que Antoni Zabala e Laia des de esquemas para atuação competente. Segun-
Arnau focalizam. Ambos lecionam na Universidade do Zabala e Arnau, a pessoa precisa selecionar um
de Barcelona. desses esquemas para usar, mas manter-se flexível
para uso de outro se for necessário. A escolha deve
O livro é composto por apresentação, 11 ca- levar em consideração a análise da situação que
pítulos, epílogo e glossário, sendo o último de uso gerou a necessidade de um comportamento compe-
prático. Na apresentação, o leitor fica informado de tente. Além disso, quadros com sínteses e figuras
aspectos gerais e questões básicas trabalhadas ao facilitam a compreensão das propostas apresenta-
longo dos capítulos. É estabelecido que: das.
A competência, no âmbito da educação escolar, No capítulo 3, os autores começam a entrela-
deve identificar o que qualquer pessoa necessita çar os vários aspectos do tema. Nele, descrevem as
para responder ao problema aos quais será expos- inter-relações entre habilidades e atitudes, impres-
ta ao longo da vida. Portanto, a competência con-
cindíveis para se alcançar a competência. São des-
sistirá na intervenção eficaz nos diferentes âmbitos
critas as características da escola tradicional, enfo-
da vida, mediante ações nas quais se mobilizam,
ao mesmo tempo e de maneira inter-relacionada, cadas as falsas dicotomias entre memorização vs.
componentes atitudinais, procedimentais e concei- compreensão; conhecimentos vs. procedimentos e
tuais. (p. 11). feitas sugestões sobre encaminhamentos mais pro-
dutivos.
Os autores acrescentam que qualquer com-
petência implica em conhecimentos relacionados a O termo competência representa a alternativa que
habilidades e atitudes. supera as dicotomias: memorizar e compreender;
conhecimentos e habilidades; teoria e prática [...]
O primeiro capítulo recupera aspectos que A melhoria da competência implica a capacidade
nortearam o surgimento e o uso de competências de refletir sobre sua aplicação e, para alcançá-la,
como propostas para superar as limitações detecta- é necessário o apoio do conhecimento teórico. (p.
das no ensino, buscando mudanças nos referenciais 49)
educacionais vigentes até o começo dos anos 70 do
Neste capítulo os autores expõem necessi-
século passado. Vale lembrar que no Brasil foram
dades estudadas no seguinte (capítulo 4), no qual
necessárias quase duas décadas a mais do que em
retomam o tema do objetivo essencial da educação
países europeus, mesmo os de tradição católica
por competência, que é o desenvolvimento pleno da
como a Espanha. Foram os países de tradição cal-
pessoa, e alertam que na literatura muitas expres-
vinista os primeiros a adotarem uma nova percep-
sões foram usadas, muito se discutiu e se discute
ção da matéria. Neste, como nos demais capítulos,
com relação aos papéis desempenhados pela esco-
o leitor encontra, nas margens esquerda e direita,
chamadas para aspectos relevantes da matéria que la, e que modismos substituem modismos, especial-
o texto apresenta. Também, em todos eles, o leitor mente no discurso pedagógico. O próprio uso das
encontra um quadro com questões práticas envol- competências pode cair nesse mesmo limbo se não
vendo os aspectos tratados no capítulo. for adequadamente trabalhado desde o estabeleci-
mento dos objetivos educacionais e dos sistemas
O capítulo seguinte começa por um esforço educacionais e escolar. Apresentam um quadro mui-
em definir, mais especificamente, competência. É to útil de como as finalidades da Educação são vis-
bem conduzido e traz também uma breve caracteri- tas por instituições como a ONU, pela Constituição
zação do processo desenvolvido para que a pessoa Espanhola, pela Declaração dos Direitos da Criança,
tenha uma ação competente diante de uma situação pela UNESCO e pelo Fórum de Dakar.
real. Os autores defendem que, para tanto é preciso
Os autores dão prosseguimento ao tema, no
capítulo 5, ao descreverem que no mundo escolar
* Professora emérita da Universidade Federal do Pará, do Centro as competências devem abarcar o âmbito social, in-
Universitário de João Pessoa e da Universidade Camilo Castelo terpessoal, pessoal e profissional. Vale dizer que é
Branco. E-mail: gwitter@uol.com.br

Práxis Educativa, Ponta Grossa, v.6, n.1, p. 133-134 , jan.-jun. 2011. Disponível em < http:/ / www.periodicos.uepg.br>
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um educar para a vida, portanto requer muito mais cios, aplicação, modelos de vivências em todas as
do que informar e compreender a informação. Ape- áreas, de modo que todas as disciplinas requeiram
nas deve-se fazer uma ressalva à pouca atenção agir conforme as atitudes e valores desejados.
dada à dimensão afetiva ou emocional das atitudes, No que concerne aos métodos de ensino (ca-
estando as cognitivas e comportamentais bem tra- pítulo 10), os autores indicam a necessidade de um
balhadas. Os autores acrescentam, no entanto, que enfoque globalizado. Essa é a matéria do penúlti-
embora haja variação conceitual quanto às compe- mo capítulo, no qual são expostos os critérios gerais
tências é denominador comum que devem abranger para as escolhas metodológicas:
todas as capacidades do ser humano.
No capítulo seguinte o leitor é chamado a • relacionados à necessidade de que as aprendiza-
atentar para o fato de que a aprendizagem de com- gens sejam mais significativas possível;
petências é sempre funcional, o que implica em dar • relacionados à complexidade da própria competên-
à aprendizagem o maior grau de relevância e fun- cia, especialmente, de todo o processo de atuação
cionalidade possível. Consequentemente, isso re- competente;
quer mudanças nos princípios psicopedagógicos e • relacionados ao caráter procedimental do processo
a análise estrutural das competências e respectivas de atuação competente;
aprendizagens de seus componentes (aprendiza- • relacionados às características dos componentes
gem de fatos, de conceitos, de procedimentos e de das competências. (p. 144).
atitudes). Enfocam vários aspectos correlatos decor- Além disso, os critérios precisam levar em
rentes do empenho do educador ao trabalhar dentro conta que desenvolver competências tem caráter
da proposta de desenvolvimento das competências interdisciplinar. É necessário também considerar as
nos seus alunos. variáveis da prática educacional, as sequências de
De acordo com os autores, para ensinar com- conhecimento, as relações interativas entre profes-
petências o ponto de partida deve ser trabalhar o sores e alunos e entre os alunos. São caracteriza-
contexto de situações e problemas reais (Capítulo dos na organização social da classe: o grande gru-
7). Zabala e Arnau lembram ainda que o ensino por po, as equipes heterogêneas fixas, as homogêneas
competências tem por características essenciais: a ou heterogêneas flexíveis e o trabalho individual.
relevância do que vai ser ensinado; a complexidade O espaço e o tempo, a organização do conteúdo e
da situação, possuir um caráter procedimental; e a os materiais a serem usados também representam
combinação dos componentes aprendidos conside- cuidados a serem tomados pelos responsáveis pelo
rando a funcionalidade. Isso implica em atender a ensino-aprendizagem.
critérios específicos sobre o significado do que vai
ser ensinado, de sua complexidade, dos procedi- A avaliação das competências é o tema tra-
mentos a serem usados e dos componentes envol- tado no último capítulo, no qual os autores lembram
vidos, bem como os compromissos a serem assumi- que a ênfase deve ser no tipo de avaliação cujos
dos. É imprescindível o envolvimento dos alunos e o resultados precisam ser considerados para enfocar
respeito aos diferentes ritmos de aprendizagem. a solução de problemas. Assim, explicitam que ela
deve ter um caráter prospectivo, além de propor que
Pelo exposto fica evidente que cuidar apenas seja avaliado se o aluno, diante de uma situação da
do conteúdo das disciplinas é insuficiente para que realidade, é capaz de solucionar e/ou propor um
o aluno aprenda competências. É o que os autores problema, analisar a situação, selecionar um esque-
procuram mostrar no capítulo 8. Destacam como di- ma para atuação e agir flexível e estrategicamente.
mensões geralmente relevantes a social, a interpes- Consideram imprescindível que os alunos frequen-
soal, a profissional. O ensino, tendo em vista o de- temente sejam informados de “como estão sendo
senvolvimento de competência, deve considerar os competentes”. (p. 180).
procedimentos metadisciplinares, interdisciplinares
e de cada disciplina individualmente. O núcleo de O epílogo é uma retomada da proposta como
disciplinas é um suporte ou núcleo para a organiza- uma nova oportunidade para a Educação. Inclui a
ção curricular. A análise do exercício profissional na formação docente; a estrutura, a organização e ges-
realidade oferece o conhecimento dos domínios de tão acadêmica; o envolvimento da escola-família-
conhecimentos e domínios de habilidades que pre- sociedade. Zabala e Arnau finalizam propondo “a
cisam compor as competências dos alunos que são escola como o órgão que projete, coordene e super-
formados para uma dada profissão. visione as ações educacionais realizadas nos âmbi-
tos formal, informal e não formal”. (p. 188).
O núcleo comum é tratado no capítulo seguin-
te. Como não há uma disciplina científica para tra- O livro é de leitura agradável. A bibliografia é
balhar as competências e seus componentes, essa adequada, mas poderia ser mais atual. Considerando
preocupação deve ser comum a todas as disciplinas. o nível e relevância do tema é obra útil para
É preciso considerar esses aspectos ao selecionar professores, administradores e pesquisadores que
as metodologias e estratégias de ensino a serem atuam em qualquer nível educacional e lecionem
usadas na prática educativa. O ensino inclui exercí- qualquer disciplina.

Práxis Educativa, Ponta Grossa, v.6, n.1, p. 133-134, jan.-jun. 2011. Disponível em < http:/ / www.periodicos.uepg.br>

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