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Osteomielite Hematogenica Aguda PDF
Osteomielite Hematogenica Aguda PDF
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■ INTRODUÇÃO
A osteomielite é um processo inflamatório, agudo ou crônico, do tecido ósseo e de
estruturas adjacentes, causado principalmente por microrganismos bacterianos.
Pode, ocasionalmente, ter outros agentes, como os fungos, vírus ou parasitas. As
infecções ósseas agudas representam muitas vezes um desafio diagnóstico,
principalmente quando acometem a criança.1
Trata-se de processo potencialmente grave, em que os sinais e sintomas iniciais
podem ser muito discretos, a causa da dor ou claudicação muitas vezes não é
evidente e o diagnós!co diferencial é di"cil.1 É preciso um alto grau de suspeição
desta alteração para que o diagnós!co seja o mais precoce possível, e medidas mais
conservadoras possam ser adotadas.
A via pela qual a população pediátrica adquire com mais frequência uma
infecção óssea é a hematogênica, porém, deve-se estar alerta para
osteomielites por con!guidade ou por inoculação direta, principalmente nas
fraturas expostas, que são, infelizmente, cada vez mais comuns nos acidentes
que envolvem crianças ou durante a prá!ca de esportes radicais. O agente
e!ológico mais comum é o Staphylococus aureus, mas, como mencionado,
outros !pos de bactérias, vírus, fungos ou parasitas podem estar envolvidos.
■ OBJETIVOS
Ao final da leitura deste ar!go, o leitor será capaz de:
ATIVIDADES
■ ESQUEMA CONCEITUAL
■ FISIOPATOLOGIA
A osteomielite geralmente tem início na região metafisária do osso, onde existe um
fluxo sanguíneo lento nos vasos sinusoidais, que são ramificações da artéria
nutrícia. A infecção causa uma lesão metafisária inicial e se espalha para o espaço
subperiosteal, provocando uma reação periosteal, que é um dos primeiros sinais
visíveis em uma radiografia. Com a progressão da infecção, a região medular é
acome!da.5
Segundo os estudos de Trueta, de 1959, haveria 3 !pos de osteomielite aguda, de
acordo com a idade:5
Figura 1 — No desenvolvimento da
osteomielite, o aumento do volume leva a
um extravasamento com reação periosteal.
A fise impede inicialmente a propagação
para a epífise, porém, caso o processo não
seja interrompido, ocorre acome!mento
generalizado, inclusive para a região
diafisária.
Fonte: Adaptada de Tachdjian (1990).6
ATIVIDADES
■ CLASSIFICAÇÃO
De acordo com a evolução da doença, pode-se classificar a ostemielite como:
aguda,
subaguda,
crônica.
Streptococcus pyogenes;
Streptococcus viridans;
Haemophilus influenzae;
Pseudomonas aeruginosa.
ATIVIDADE
ATIVIDADES
A) V — F — V — F
B) F — F — V — V
C) F — V — F — F
D) V — F — V — F
Confira aqui a resposta
a localização;
o grau de infecção;
a duração do processo;
a idade;
a resistência do paciente.
ATIVIDADE
Radiografia
A avaliação radiográfica do segmento acome!do, incluindo as ar!culações proximal
e distal, na suspeita clínica de osteomielite hematogênica aguda, é importante para
o direcionamento do diagnós!co, bem como para exclusão de outras afecções
locais.13
No entanto, a demora entre 10 e 21 dias para que uma lesão óssea seja visível em
um exame radiográfico simples demanda outros métodos, como a cin!lografia e a
ressonância magné!ca, para o diagnós!co precoce da osteomielite na sua fase
aguda.
Cintilografia óssea
O uso de gálio pode ter uma maior especificidade, por haver uma ligação aos
leucócitos polimorfonucleares, presentes em um processo infeccioso. Entretanto,
deve-se lembrar que mesmo assim pode não haver um aumento evidente da
concentração do radioisótopo por haver trombose ou compressão vascular,
impedindo a chegada do marcador no local afetado.4 Uma outra modalidade de
cin!lografia envolve o uso de leucócitos marcados com o fármaco índio, que parece
ser bastante ú!l para a elucidação diagnós!ca de osteomielite de difícil
localização.14 Infelizmente, esse é um recurso de uso muito limitado no nosso
meio.
ATIVIDADES
Tomografia computadorizada
Ultrassonografia
A ultrassonografia (US) tem indicação na avaliação da osteomielite por sua
capacidade de detecção de espessamentos e abcessos subperiosteais, bem como
de quebra da con!nuidade cor!cal.16 É um método que:
é de baixo custo;
não é invasivo;
não u!liza radiação ionizante;
não necessita de sedação durante a sua realização.
Como limitações da US, podem ser citadas sua baixa especificidade, ser operador
dependente e a impossibilidade de avaliar a medula óssea e detalhar alterações da
cor!cal óssea.
LEMBRAR
Mah e colaboradores demonstraram 3 fases dis!ntas da osteomielite na
ultrassonografia:16
1. edema profundo;
2. elevação do periósteo;
3. erosão da cor!cal (visível após uma semana).
Exames laboratoriais
Entre os exames laboratoriais indicados para avaliação das infecções
musculoesquelé!cas, são usados:
hemograma completo;
velocidade de hemossedimentação (VHS);
proteína C-rea!va (PCR);
hemocultura.
A VHS é a velocidade na qual a hemácia sedimentada cai no plasma e depende da
concentração sérica de fibrinogênio. Está elevada entre as 48 e 72 horas do início
da infecção e diminui lentamente durante o processo de cura da infecção.
ATIVIDADES
18. O exame que tem como caracterís!cas ser de baixo custo, não ser
invasivo, não u!lizar radiação ionizante e não necessitar de sedação durante
a sua realização é:
A) a cin!lografia óssea.
B) a RNM.
C) a US.
D) a TC.
Confira aqui a resposta
Antibioticoterapia
A an!bio!coterapia deve ser iniciada precocemente de forma empírica com
an!bió!co de largo espectro, de acordo com a faixa etária e incidência de
resistência bacteriana na comunidade em questão.
Preferencialmente, a primeira dose do an!microbiano é administrada via
endovenosa, imediatamente após a coleta de material para cultura (sangue e/ou
material de punção). Nossa droga de escolha para o tratamento da osteomielite é a
oxacilina, que deve ser associada ou não com outras drogas, principalmente
aminoglicosídeos, quando se procura cobrir bactérias Gram-nega!vas.
Tratamento cirúrgico
Quando existe a possibilidade de intervenção precoce, a osteomielite aguda pode
ser tratada exclusivamente com an!bió!cos, uma vez que evolua com a melhora
rápida dos sinais locais e sistêmicos. No entanto, é muito raro conseguir estabelecer
o diagnós!co e tratamento nas primeiras 24–48 horas, quando ainda não há
formação de coleções. Geralmente, os casos já chegam com alguns dias de evolução
e há necessidade de alguma forma de abordagem cirúrgica.
A intervenção cirúrgica estará sempre indicada quando não houver resposta ao
tratamento medicamentoso ou o início do tratamento for tardio com formação de
abscesso ou sequestro, evitando, assim, acome!mento mais extenso com danos
irreversíveis ao osso.
Na abordagem cirúrgica, deve-se ter cautela para evitar maiores danos aos
tecidos. A Figura 6 apresenta um fluxograma de conduta no caso de falha do
tratamento conservador ou quando o diagnós!co é mais tardio e requer
drenagem cirúrgica.
Figura 6 — Fluxograma de drenagem cirúrgica.
Fonte: Elaborada pelo autor.
Muitas vezes, na abordagem cirúrgica precoce, a simples abertura de alguns
orifícios na região metafisária permite que as condições circulatórias melhorem, e o
an!bió!co tenha uma penetração mais ampla. Esses ori"cios permitem também que
seja feita uma lavagem com soro fisiológico.
No caso de saída de pus, uma lavagem mais ampla com curetagem é recomendada.
Para isso, abre-se uma janela e, com controle visual e auxílio do intensificador de
imagem (radioscopia), procede-se a limpeza e remoção de todos os tecidos
desvitalizados. Recomenda-se evitar estender a curetagem desnecessariamente por
todo o canal medular, para manter a viabilidade óssea.
A limpeza com cureta deve ser cuidadosa e limitada à área acome!da. Como o
osso acome!do por uma osteomielite já está fragilizado, a janela aberta para a
curetagem deve ser a menor possível para que se consiga curetar a área
acome!da. As Figuras 7A–D apresentam uma sequência de procedimentos
realizados em paciente com osteomielite hematogênica aguda da #bia
esquerda.
da curva térmica;
dos sinais locais;
da dosagem periódica da PCR;
da VHS.
O paciente deverá permanecer internado enquanto necessitar de an!bió!cos por
via endovenosa e até apresentar melhora clínica e normalização dos sinais clínicos e
laboratoriais. A evolução para artrite séptica deve ser diagnos!cada prontamente e
indicada artrotomia de urgência com irrigação abundante da ar!culação.23
No envolvimento da metáfise proximal do fêmur, mesmo quando o diagnós!co é
feito precocemente e não existem sinais de abscesso, alguns autores preconizam a
descompressão cirúrgica dessa região devido ao alto risco de artrite séptica do
quadril por con!guidade e necrose avascular da cabeça do fêmur.3
ATIVIDADES
Tumores ósseos
No sarcoma de Ewing, o aspecto radiológico #pico é em “casca de cebola”, mas
pode ser confundido com o levantamento periostal da osteomielite hematogênica
aguda. Biópsia pode ser necessária para confirmar o diagnós!co.
Artrite séptica
Além dos sinais e sintomas na região metafisária do segmento acome!do, o quadro
álgico pode limitar os movimentos ar!culares intensamente. Nos casos de artrite
sép!ca, a punção ar!cular evidencia a presença de pus. Deve-se lembrar que,
muitas vezes, as duas condições ocorrem quase simultaneamente, como nos
quadros de osteoartrite infecciosa, quando a osteomielite a!nge regiões
metafisárias intra-ar!culares, como o colo do fêmur.
Leucemia
No que se refere à leucemia, ao se realizar o diagnós!co diferencial da osteomielite
hematogênica aguda, deve-se:
ATIVIDADES
23. Assinale a alterna!va correta no que se refere ao diagnós!co diferencial da
osteomielite hematogênica aguda.
A) O aspecto radiológico do sarcoma de Ewing apresenta áreas de
destruição do padrão trabecular normal.
B) Nos casos poliartrite reumá!ca aguda, a punção ar!cular evidencia a
presença de pus.
C) Na poliartrite reumá!ca aguda, pode-se considerar episódios de
sangramento.
D) A necrose avascular é uma das complicações mais preocupantes da
osteomielite hematogênica aguda.
Confira aqui a resposta
■ CASO CLÍNICO
ATIVIDADE
A) V — F — V
B) F — V — V
C) F — V — F
D) V — F — F
Confira aqui a resposta
■ CONCLUSÃO
A osteomielite na criança é uma doença grave que requer um diagnós!co precoce
para evitar maiores danos ao esqueleto imaturo. Além da própria gravidade dos
casos de infecção óssea, a demora em estabelecer o diagnós!co e a tenta!va de
seguir “receitas de bolo” ao se ins!tuir o tratamento são fatores que elevam as
complicações dessa afecção.
Deve-se enfa!zar também que os casos de infecção não devem ser delegados aos
médicos menos experientes, prá!ca algumas vezes observada por se considerar que
as cirurgias para osteomielite são menos nobres do que procedimentos mais
complexos da Ortopedia.
Assim, para evitar muitas das complicações, são de suma importância o diagnós!co
precoce e a rápida ins!tuição da terapêu!ca, lembrando que os an!bió!cos apenas
servem como tratamento isolado quando ainda não estão presentes as alterações
ósseas visíveis à radiografia.
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