You are on page 1of 21

1

A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO


CRIMINAL

RESUMO:
Almeja-se com este trabalho cientifico, fazer uma análise das possibilidades constitucionais
e infraconstitucionais do poder investigatório do Ministério Público na investigação criminal
abordando-se o papel deste órgão frente a Constituição Federal de 1988 e o sistema atual
de investigação pela polícia. Será também analisada a participação da polícia e do
Ministério Público juntos nas investigações criminais. E por último, será observada a
investigação criminal direta pelo Ministério Público, visto que a autoridade policial não possui
o monopólio sobre a investigação penal. A metodologia usada no processo de levantamento
dos conteúdos que deram fundamentos a este estudo foi a pesquisa documental , sempre
buscando nas fontes doutrinarias.

PALAVRAS-CHAVE: Investigação Criminal. Ministério Público. Polícia judiciária.

ABSTRACT:
Aims with this scientific work, to analyze the possibilities of constitutional and infra
investigative power of prosecutors in criminal investigations addressing the role of
this body in front of the Federal Constitution of 1988 and the current system of
investigation by the police. Will also review the participation of police and prosecutors
in criminal investigations together. And finally, will allow to direct criminal
investigation by prosecutors since the police authority does not have a monopoly on
the criminal investigation. The methodology used in the survey process the contents
which gave grounds for this study was a literature search, always seeking the
doctrinal sources.do resumo para idioma de divulgação internacional.

KEY-WORDS: Criminal Investigation. Prosecutors. Is not the monopoly of the police.

1. INTRODUÇÃO

O poder investigatório do Ministério Público doravante também denominado


MP é um tema que apresenta grande relevância jurídica e incansáveis discussões
doutrinárias no estado brasileiro. Sabendo-se que o Ministério Público é uma
instituição a serviço permanente da sociedade com o escopo de exigir, tanto em
juízo como fora dela, a reparação de toda e qualquer lesão a direitos
constitucionalmente protegidos, com a finalidade de resguardar a ordem jurídica
vigente.
O presente trabalho tem por objetivo analisar as possibilidades constitucionais
e infraconstitucionais do poder investigatório do Ministério Público na investigação
criminal. A relevância da pesquisa é demonstrar que a investigação presidida pelo
2

Ministério Público não vem diminuir e nem retirar da atividade policial suas
atribuições, mas auxiliar no combate aos crimes de maior gravidade, principalmente
naqueles que trazem enorme prejuízo à administração pública. Além de que, a
atuação em conjunto do Ministério Público e da Polícia é uma forma de desenvolver
uma investigação mais célere e precisa para melhor atende aos anseios da
sociedade, visando uma maior aplicação das leis e dos princípios de forma mais
justa.
O tema abordado foi desenvolvido através do método de pesquisa
documental consistindo na análise da Constituição Federal de 1988, nas leis
infraconstitucionais, das decisões do Supremo e no PEC 37 a pesquisa foi efetivada
com base na literatura existente sobre o instituto de investigação criminal realizada
pelo Ministério Público.

2. O Ministério Público na Constituição Federal de 1988


Nas lições de Silva (apud MORAES, 2008, p. 602), afirma que:
A instituição ocupa lugar cada vez mais destacado na organização do
estado, em virtude do alargamento de suas funções de proteção aos direitos
indisponíveis e de interesses coletivos tendo a Constituição Federal dado-
lhe relevo de instituição permanente e essencial à função jurisdicional, mas
que ontologicamente sua natureza a permanece exaustiva, sendo seus
membros agentes políticos e como tal, atuam com plena e total
independência funcional.

A Constituição Federal de 1988 proclama no caput do art. 127 que “O MP é


instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis”. O papel do MP é de acompanhar a evolução do direito,
conhecendo a realidade, nunca desvinculado dos problemas nacionais.
Com o novo perfil constitucional dado pela Constituição de 1988, esta
instituição converteu-se a assegurar a ordem jurídica e aos anseios dos interesses
da sociedade, recorrendo na justa expectativa de verem restaurados os direitos
sociais, além de ser o titular para promover ação penal.
Fazendo uma análise da Constituição de 1988, observa-se que no artigo 129
estão previstas as funções institucionais do MP, tratando-se de um rol
exemplificativo. Este órgão possui monopólio da ação penal pública (art. 129, I da
CF/88). O exercício do direito de agir do MP na sede processual penal constitui
3

inderrogável função a quem compete promover com absoluta exclusividade a ação


penal pública, sofrendo apenas uma exceção constitucionalmente autorizada (art. 5º,
LIX da CF), que admite ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal.
O Ministério Público zela pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos
serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição,
promovendo as medidas necessárias a sua garantia. Um agente público no uso de
suas atribuições transgride o direito à liberdade de um determinado indivíduo e o
prende ilegalmente fica permitido ao Ministério Público constitucionalmente
promover medidas necessárias para a garantia.
Com relação ao inciso III, do art. 129 da CF, observa-se que “o MP pode
presidir no âmbito cível as investigações, propondo ações civis públicas para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos”. Já em relação ao âmbito criminal, a investigação transparece
possível no texto constitucional. Pois sendo o Ministério Público o titular da ação
penal pública, não se pode negar a possibilidade de investigar diretamente as
infrações penais quando se faça necessário.
O MP tem a função de promover a ação de inconstitucionalidade ou
representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos
nesta Constituição com a atribuição de defender judicialmente os direitos e
interesses das populações indígenas.
O texto constitucional atribui ao Ministério Público o poder de expedir e
requisitar informações e documentos para instruídos, exercer outras funções que lhe
forem conferidos, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a
representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas (art. 129,VI e IX
CF/88). O Ministério Público tem a função institucional de requisitar diligências
investigatórias e a instauração de inquérito policial indicado os fundamentos jurídicos
de suas manifestações processuais (art. 129, VIII, CF/88).
Também compete ao Ministério Público exercer o controle externo da
atividade policial, tendo como consequência o dever de fiscalizar os atos da
autoridade policial e representar ao seu superior hierárquico sempre que detectar
alguma irregularidade. Deste modo, a fiscalização que o MP exerce, é sobre a
4

atividade fim da polícia, qual seja, a investigação policial com o escopo de apurar a
pratica de uma infração penal.
O destinatário das investigações policiais é o membro do MP e, por isso, tem
ele que exercer controle sobre as diligências que serão desempenhadas pela polícia
no sentido de determinar as que imprescindíveis para formação de sua opinio
delecti1.
2.1 Sistema Atual de investigação pela polícia
O modelo atual de investigação criminal, conduzido pela policia com o
distanciamento do MP, é visivelmente inadequado, no sistema brasileiro é o
delegado de polícia quem preside as investigações policiais, colhendo e
coordenando todos os trabalhos investigatórios, com o apoio de policiais e
investigadores. Depois de concluído o trabalho é encaminhado ao juízo, onde o
promotor de justiça tem acesso e analisa os autos e o material da investigação para
a formação da opinio deliciti (SANTIN, 2007).
O trabalho policial investigatório e direcionado à análise do MP e depois para
servir de base à apreciação perfunctória da autoridade judiciária, por ocasião do
recebimento da denúncia ou sua rejeição, para aferição de justa causa da ação
penal (SANTIN, 2007).
O promotor fica distante dos atos de captação do material probatório durante
a fase investigatória. Contentando-se com os dados trazidos pela autoridade policial,
o que é insatisfatório para a sua atuação e o futuro sucesso da ação penal. Pois, a
polícia investiga o que quer e como quer. É mínima a interferência do MP no
trabalho da polícia, não tem domínio sobre a fase preliminar (SANTIN, 2007).
Nos ensinamentos Dotti (apud SANTIN, 2007, p. 243) salientou que:
A transformação do Promotor em repassador da prova colhida pela polícia é
um problema permanente e tortuoso nas relações entre o MP, a policia e os
interesses sociais. Quando a investigação é mal dirigida ou se extravia de
rumo, verifica-se que ao titular da ação se sobrepõe o titular do inquérito, de
forma que a denúncia que deveria transmitir a convicção pessoal do agente
do MP, extraída de um contato direto com os meios de prova, se converte
na síntese de uma presunção de culpa decorrente da leitura das peças de
informação.
Nas lições de Santin (2007, p.243-244):
O relacionamento institucional entre a polícia e o Ministério Público é formal
e distante, sendo normalmente pequena a integração e cooperação entre
os órgãos. São raras as trocas de experiências e ideias entre polícia e
1
Opinio delecti (latim) – opinião a respeito do delito
5

Ministério Público sobre o andamento da investigação e principalmente em


relação aos rumos a serem tomados para o desfecho do trabalho de
pesquisa da autoria e materialidade, para uma rápida apresentação dos
elementos para a opinio delicti ou para o arquivamento do feito, por
ausência dos pressupostos legais para a movimentação da máquina
judiciária na apreciação da ação penal. Cada instituição trabalha isolada e
independentemente, com pouca integração e pequeno intercambio de
informações.

Considera Ferraz incompreensível não haja entre MP e a polícia um ambiente


comum de análise do inquérito policial, com o fim de aprimorar continuamente a
utilização prática desse instrumento de investigação 2.
A sociedade é a maior prejudicada com a distância entre as duas instituições
encarregadas da investigação e da ação penal, que critica a falha e o demorar da
investigação policial, sofrendo os efeitos da deficiente movimentação da máquina de
repressão estatal aos crimes (SANTIN, 2007).
As investigações policiais são insatisfatórias, demoradas e ineficientes, sendo
que a polícia não consegue apurar a maioria dos crimes, o que gerou desinteresses
da população no registro de ocorrências. O aprofundamento da participação do MP
na fase investigatória é medida adequada e indispensável. Não há outra saída, na
busca do interesse da sociedade na perfeita apuração dos fatos e condições para o
desencadeamento da ação peal, julgamento e a punição dos crimes (SANTIN,
2007).
2.2 Participação da Polícia e do Ministério Público juntos nas Investigações
Criminais
No âmbito penal, “o MP é a instituição de caráter público que representa o
Estado administração, expondo ao Estado – Juiz a pretensão punitiva” (CAPEZ,
2009, p.176). A CF atribui ao MP com exclusividade, a função de propor a ação
penal pública, seja ela condicionada ou incondicionada. No atual sistema, se
consideramos que é limitada a atuação do MP como um repassador das provas
obtidas pelas autoridades policiais, estamos diante de um problema que acaba
afetando as relações entre estes órgãos e o interesse social.
De tal sorte, deve ser lembrado que nenhum órgão está a salvo de desvios de
comportamentos e ilícitos cometidos pelos seus integrantes. Mas, ao analisar
2
FERRAZ, Antônio Augusto Mello e Camargo. “as relações entre o Ministério Público, a sociedade e os
poderes constituídos”, in Anais do II Congresso do Ministério Público do Estado de São Paulo, p.326, São Paulo,
imprensa Oficial, 1977.
6

diversos julgados dos Tribunais Superiores, podemos observar que os membros da


força policial sofrem mais intensamente efeitos de excesso e abusos de poderes.
Como no caso de um policial militar acusado de tortura, juntamente com outros
militares, a adolescentes presos, em que a investigação foi dirigida pelo MP. O
argumento utilizado pela defesa foi o pedido de arquivamento da Ação Penal
alegando que o promotor não teria legitimidade para proceder a coleta de novas
provas, nem para apurar fatos (HC nº 93930 do STF).
A Segunda Turma do STF afirmou que há legitimidade do MP na atividade
investigativa, e que a prática de tortura praticada por policias militares deve ser
investigadas por órgão que sobrepõe à instituição policial. Então, com a interferência
do MP nestas investigações diminuirá o quadro de abusos e corrupções na polícia,
podendo não eliminar por inteiro os desvios funcionais, mas reduzir certamente
estes índices.
Quando as investigações forem realizadas pelo MP deverá conter todas as
peças, termos de declaração, depoimentos, laudos periciais e demais subsídios
probatórios coligidos no curso da investigação, não podendo o MP sonegar,
selecionar ou deixar de juntar aos autos, quaisquer elementos de informação. São
regulados pelos princípios da legalidade, impessoalidade, publicidade, moralidade e
eficiência atendendo ao art. 37 da CF, agregando a eficiência a determinadas
investigações, preservando os interesses da população e do investigado. Não
desrespeitando o direito do investigado ao silêncio, nem ordenar a condução
coercitiva, nem constranger o réu a produzir provas contra si próprio e nem lhe
recusar o conhecimento das razões motivadores dos procedimentos investigatório.
Assim, é admissível que o MP e a Polícia atuem em conjunto nas
investigações, pois seria uma forma de desenvolver uma investigação mais célere e
precisa para melhor atender os anseios da sociedade visando uma maior aplicação
das leis e dos princípios de forma mais justa, de forma a combater a violência
generalizada. O MP possuindo uma maior participação nas investigações poderá
corrigir falhas no trabalho policial, bem como melhorar a qualidade dos elementos
investigatórios.
Muitas vezes são encontrados falhas nas atividades de investigação policial
que acabam atrasando na elucidação dos fatos criminosos dificultando a atuação
7

dos promotores na movimentação da ação penal. Então, em alguns casos, para


possibilitar uma maior celeridade da atividade investigativa, dever haver uma
aproximação dos trabalhos entre o MP e a polícia.
Observa-se nos ensinamentos de Santin (2007, p.303) que é perfeitamente
aceitável que os dois órgãos atuem na investigação:
A polícia fica encarregada das investigações normais e tradicionais e o
Ministério Público, titular da Ação Penal, incumbido subsidiariamente da
investigação preliminar em casos envolvendo crimes praticados por policias,
por autoridade governamentais, crimes financeiros, delitos de organização
criminosa, crimes contra os direitos humanos e outros que penal
importância dos autores ou das vitimas ou da repercussão social, clamor
público e do especial interesse dos meios de comunicação recomendam
uma especial atenção do Ministério Público, tendo em vista os reflexos que
possam proporcionar na sociedade na moralidade pública, no
funcionamento das instituições públicas e sociais, na prevenção e repressão
da atividade criminosa.
Em tais crimes as investigações normalmente são imperfeitas demoradas e
ineficazes, diminuindo sensivelmente as chances de futura ação penal
frutífera e procedente.

Fazendo uma análise de quando ocorre um crime de tortura, praticado por


policiais, com grande interesse e repercussão nos meios de comunicação,
recomenda uma rápida, impessoal e dinâmica atuação do MP, na descoberta da
autoria, documentação da materialidade e movimentação da ação penal, com as
medidas cautelares adequadas, para a preservação da integridade física e mental
da vítima e testemunhas, obtenção lícita dos meios de prova, no atendimento de
garantias constitucionais, e pronta resposta social 3.
O que seria ideal é que a Polícia e MP somem forças no trabalho de
investigação, deixando de lado eventuais divergências corporativas, para a melhoria
dos resultados da investigação preliminar e aumento das possibilidades de sucesso
da ação penal. A queda desses obstáculos poderá conscientizar os seus membros
de que a polícia ao lado do MP será mais respeitada: o MP junto com a policia será
mais eficiente. Tudo em benefício da sociedade (SANTIN, 2007).
Neste contexto, não vem enfatizar qual o órgão que trabalha melhor nas
investigações criminais, mas sim auxiliar um ao outro para melhor combater os
crimes de maior gravidade, principalmente aqueles que trazem enorme prejuízo a
administração pública. O MP não quer usurpar as funções do delegado, mas

3
SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p.303
8

contribuir de forma que as infrações ilícitas sejam apuradas de uma melhor forma
em favor de uma sociedade. Então, com a atuação em conjunto da polícia e do MP
vão desenvolver uma investigação mais célere e precisa para melhor atender aos
anseios da sociedade, visando uma maior aplicação das leis e dos princípios de
forma mais justa.
Diante de todo exposto verifica-se que ambos os órgãos devem somar as
forças de trabalho, deixando de lado as divergências existentes, para apresentar um
melhor resultado das investigações. Devendo atender aos anseios da sociedade,
caminhando em consonância com a ética institucional de cada órgão, trabalhando
com o sigilo nas investigações e o respeito à dignidade da pessoa humana.
Contudo, toda cooperação não exclui a autonomia do MP pra investigar.
2.3 Monopólio da Investigação Criminal pela Autoridade Policial?
O Ministério Público para oferecer denúncia, não depende de prévias
investigações penais promovidas pela polícia judiciária, desde que disponha, para
tanto, de elementos mínimos de informação fundados em base empírica idônea, sob
pena desempenho da gravíssima prerrogativa de acusar transformar-se em
exercício irresponsável de poder, convertendo, o procedimento penal, em inaceitável
instrução de arbítrio estatal4.
O art. 4º do CPP prevê que terá por fim a apuração das infrações penais e de
sua autoria e que não excluirá a de autoridades administrativas a quem por lei seja
cometida a mesma função. Presume-se que as investigações realizadas pelas
“autoridades administrativas” são alheias às autoridades policiais, geralmente quem
instaura são autoridades públicas que no bojo de suas atribuições legais e
administrativas, podem, em tese, instaurar procedimentos administrativos para
apuração de crimes entre outras diligências.
O constituinte e o nosso legislador infraconstitucional não concentraram nas
mãos da autoridade policial a titularidade exclusiva da investigação criminal. Em
nossa legislação é permitido o desenvolvimento de procedimentos administrativos,
destinados a apuração de infrações, fora do âmbito policial.
2.4 Teoria dos Poderes Implícitos

4
RTJ192/222-223, Rel. Min. Celso de Mello
9

Com base na doutrina norte americana, foi incorporado em nosso


ordenamento a teoria dos poderes implícitos, no qual estabelece: “a outorga de
competência expressa a determinado órgão estatal importa em deferimento
implícito, a esse mesmo órgão, dos meios necessários à integral realização dos fins
que lhe foram atribuídos”5.
Deve-se interpretar que quando a Constituição Federal acrescenta os meios
implicitamente decorrentes das atribuições explicitamente, devem também conceder
todos os meios necessários para a consecução de seus objetivos, estabelecendo
uma análise de razoabilidade e proporcionalidade.
Diante das competências implícitas, não poderíamos afastar a temática dos
poderes investigatórios do MP, entendendo-se que a denúncia pode ser
fundamentada em peças de informação obtida pelo promotor, sem a necessidade de
inquérito policial.
Segundo a Ministra do Supremo Tribunal Federal Ellen Graice:

É principio basilar da hermenêutica constitucional a dos ‘poderes implícitos’,


segundo o qual, quando a Constituição Federal concede os fins, dá os
meios. Se a atividade-fim – promoção da ação penal pública – foi outorgada
ao parquet em foro de privatividade, não haveria como não lhe oportunizar
a colheita de prova para tanto, já que o Código de Processo penal autoriza
que ‘peças de informações’ embasem a denúncia. Assim, reconheço a
possibilidade de, em algumas hipóteses, ser reconhecida a legitimidade da
promoção de atos de investigação por parte do Ministério Público,
mormente quando se verifique algum motivo que se revele autorizador de tal
investigação6.

Com este entendimento da Suprema Corte, subtende-se que a Constituição


Federal implicitamente conferiu que o poder de investigação criminal é compatível
com as funções ministeriais. Contudo, respeitando à Teoria dos Poderes Implícitos.
O MP é o titular privativamente da ação penal, enquanto o inquérito policial é
apenas um procedimento administrativo que influência em sua opinião, podendo o
promotor formá-la por seus próprios meios.
2.5 Normas Infraconstitucionais que admitem atuação do Ministério Público na
investigação
5
MS 26.547- MC/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23.05.2007, DJ de 29.05.2007
6
RE 535.478, rel. Min. Ellen Graice, j. 28.10.2008, DJE de 21.11.2008. disponível em:
http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/2911729/recurso-extraordinario-re-535478-sc-stf. Acesso em:
10.06.2011.
10

Sabendo-se que o MP é um órgão essencial à função jurisdicional do estado


e guardião da ordem democrática, na Constituição são encontrados indícios da
prerrogativa do MP nas investigações penais, contudo, neste diploma, não foi
instituído o monopólio da investigação à polícia judiciária. No ordenamento jurídico
pátrio também são encontrados outras leis que fundamentam a atuação do MP nas
investigações.
Fazendo uma análise do artigo 4º, § único do Código de Processo Penal,
observa-se que as funções investigatórias podem ser cometidas a outras
autoridades administrativas, aduz que caso as investigações fossem monopólio das
autoridades policiais, deveria ser desconsideradas as investigações livres,
realizadas por outros órgãos.
A Lei Orgânica do Ministério Público em seu artigo 26 aduz a legitimidade
para esta instituição conduzir suas próprias investigações, no inciso I do citado
artigo, observa-se que o MP poderá instaurar inquéritos civis e quaisquer outras
medidas e procedimentos que condizem com as suas funções. Segundo Rangel
(2009, p. 257), a possibilidade do MP investigar diretamente os fatos criminosos, “é
uma garantia constitucional da sociedade que tem o direito subjetivo público de
exigir do estado as medidas necessárias para reprimir e combater as condutas
lesivas à ordem jurídica”.
Já no artigo 27 da Lei 8.625/93, fortalece a necessidade da investigação dos
promotores na área criminal, desde que haja a necessidade da apuração do fato que
enquadre nas atribuições ministeriais.
O Estatuto da Criança e do Adolescente Lei nº 8.069/90, consagrou a
investigação direta do MP, em seu art. 179.
Art. 179 - Apresentado o adolescente, o representante do Ministério Público,
no mesmo dia e à vista do auto de apreensão, boletim de ocorrência ou
relatório policial, devidamente autuados pelo cartório judicial e com
informação sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e
informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais ou
responsável, vítima e testemunhas.

Outro dispositivo que legitima as atividades investigatórias por parte do


Ministério Público, encontra-se amparado na Lei nº 10.741/03 (Estatuto do Idoso),
segundo o art. 74:
Art. 74. Compete ao Ministério Público:
11

V - instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo:


a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso
de não comparecimento injustificado da pessoa notificada, requisitar
condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar;
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades
municipais, estaduais e federais, da administração direta e indireta, bem
como promover inspeções e diligências investigatórias;
c) requisitar informações e documentos particulares de instituições privadas;
VI - instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a
instauração de inquérito policial, para a apuração de ilícitos ou infrações às
normas de proteção ao idoso;
(..)
IX - requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de
saúde, educacionais e de assistência social, públicos, para o desempenho
de suas atribuições;

Na Lei dos crimes contra o Sistema Financeiro (Lei nº 7.492/86, art. 29),
dispõe que o órgão do Ministério Público Federal, sempre que julgar necessário
poderá requisitar, a qualquer autoridade, informação, documento ou diligencia
relativa à prova dos crimes previstos nesta lei.
Compete ao MP instaurar sindicâncias para apurar ilícitos penais, no art. 356,
§2º do Código Eleitoral7 e o art. 47 do CPP8. Na lei Complementar nº 75/93, prevê
sem restrições que no âmbito civil, diversas são as atividades investigatórias do MP,
destacamos os incisos I, II, IV, V,VI, VII e IX do art. 8º deste estatuto 9.
Afirma-se que no art. 3º da Lei nº 9.296/96 (Lei das Intercepções Telefônicas),
compreende como normal a atuação do promotor nas investigações no âmbito
criminal.

7
Art. 356. Todo cidadão que tiver conhecimento de infração penal dêste Código deverá comunicá-la
ao juiz eleitoral da zona onde a mesma se verificou.
§ 2º Se o Ministério Público julgar necessários maiores esclarecimentos e documentos
complementares ou outros elementos de convicção, deverá requisitá-los diretamente de quaisquer
autoridades ou funcionários que possam fornecê-los.
8
Art. 47.  Se o Ministério Público julgar necessários maiores esclarecimentos e documentos
complementares ou novos elementos de convicção, deverá requisitá-los, diretamente, de quaisquer
autoridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los.
9
Art. 8º Para o exercício de suas atribuições, o Ministério Público da União poderá, nos
procedimentos de sua competência:
        I - notificar testemunhas e requisitar sua condução coercitiva, no caso de ausência injustificada;
        II - requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades da Administração
Pública direta ou indireta;
      IV - requisitar informações e documentos a entidades privadas;
       V - realizar inspeções e diligências investigatórias;
      VI - ter livre acesso a qualquer local público ou privado, respeitadas as normas constitucionais
pertinentes à inviolabilidade do domicílio;
      VII - expedir notificações e intimações necessárias aos procedimentos e inquéritos que instaurar;
  IX - requisitar o auxílio de força policial.
12

2.6 Projeto de Emenda Constitucional n º 37/2011 – PEC 37


A Proposta de Emenda à Constituição Federal nº 37 de 2011, de autoria do
Deputado Federal Lourival Mendes e outros, pretendem acrescentar o §10 do art.
144 da Constituição Federal para delimitar a competência para investigações
criminais ás polícias federais e civis dos Estados e do Distrito Federal. Referida
proposta de emenda à Constituição pressupõe que o inquérito policial é o único
instrumento criminal que sofre o ordinário controle por parte do juiz e do Ministério
Público, um dos fatores importantes para a segurança das relações jurídicas no
âmbito processual penal. Como existe, falta de regras à atuação dos órgãos de
segurança pública nas investigações criminais, este tipo de procedimento tem
causado problemas ao processo penal jurídico brasileiro.
Esclarecer que o PEC vem definir a atribuição especificas das policias
judiciarias, para tanto, utiliza-se das lições de Alberto José Tavares Vieira da Silva
(2007):
Ao Ministério Público nacional são confiadas as atribuições multifárias de
destacado relevo, ressaindo entre tanta, a de fiscal da lei. A Investigação de
crimes, entretanto, não a está incluída no circulo de suas competências
legais. Apenas um segmento dessa honrada instituição entende em sentido
contrario, sem razão.
Não engradece nem fortalece o MP o exercício da atividade investigatória
de crimes, sem respaldo legal, revelador de perigoso arbítrio, a propiciar o
sepultamento de direito e garantias inalienáveis dos cidadãos.
O êxito das investigações depende de um cabedal de conhecimentos
técnico científicos de que não dispõe os integrantes do MP e seu corpo
funcional. As instituições policiais são as únicas que contam com pessoal
capacitado para investigar crimes e, dessarte cumprir com a missão que lhe
outorga o art. 144 da Constituição Federal.
Às policias sempre coube a árdua missão de travar contato direto com os
transgressores da lei penal, numa luta heroica, sem quartel, no decurso da
qual, no cumprimento de sagrado juramento profissional, muito se
sacrificam a própria vida na defesa da ordem pública e dos cidadãos
A Atuação integrada e independente do MP e das Policias garantirá o
sucesso da persecução penal, com vistas à realização da justiça e a
salvaguarda do bem comum10.

Para reforçar os argumentos favoráveis à PEC 37, em entrevista no Consultor


Jurídico o professor e Doutor Iven Granda da Silva afirmou:

Que a proposta seria a princípio desnecessária uma vez que “já está
implícita na atual Constituição esta prerrogativa exclusiva dos delegados”,
ele falar também que a Lei Maior divide as funções e que os delegados
agem como polícia judiciária. E estão a serviço, em primeiro lugar, do Poder

10
SILVA, Alberto José Tavares da. Investigação Criminal Competência. São Luis – Maranhão, 2007.
13

Judiciário, e não do MP ou da Advocacia, que são partes no inquérito


policial – processo preliminar e investigatório que deve ser presidido por
uma autoridade neutra, ouse já o delegado.11

O constitucionalista José Afonso da Silva se posicionou também favorável à


aprovação do Projeto de Emenda. Em uma consulta realizada pelo Instituto
Brasileiro de Ciências Criminais (IBCRIM) o professor afirmou que:

A questão posta pela consulta não é complicada nem demanda grandes


pesquisas doutrinarias, porque a Constituição Federal dá resposta precisa e
definitiva no sentido de que o MP não tem competência para realizar
investigação criminal direta. Assegura que o artigo 129 define as funções
institucionais do MP e lá não se encontra nada que autorize os membros da
instituição proceder a investigação criminal direta.12

Data vênia, aos ilustres juristas tais argumentos exposto pelos mesmos não
devem prosperar, senão vejamos que não consideraríamos o principio basilar da
hermenêutica constitucional dos poderes implícitos, subtende-se que a Constituição
Federal implicitamente conferiu que o poder de investigação criminal é compatível
com as funções ministeriais.
A PEC 37/2011 tende a ser uma ameaça à democracia e a própria sociedade,
pois caso a mesma entre em vigor reduzirá o número de órgão aptos a realizarem
investigação e fiscalização. Além de impedir o órgãos tais como a Receita Federal,
Controladoria –Geral da União, COAF (Conselho de Controle de Atividades
Financeiras), Banco Central, Previdência Social, IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis) além do próprio Ministério
Públicos.
A proposta não considera o fato de que as policias civis e federais não tem
capacidade operacional e muito menos dispõem de pessoal ou meios materiais
suficientes para levar adiante todas as notícias de crimes registradas. Os dados
estatísticos revelam que a maioria dos cidadãos que noticiam ilícitos à polícia não
tem retorno dos boletins de ocorrência que registram e, inúmeros sequer são
chamados a depor na fase policial.
Se a proposta for aprovada vão justamente de desencontro as decisões dos
Tribunais Superiores, inclusive a própria Suprema Corte que iniciou o julgamento de

11
http://www.conjur.com.br/2013-mar-30/juristas-afirmam-investigacao-criminal-exclusividade-policia
12
http://www.conjur.com.br/2013-mar-30/juristas-afirmam-investigacao-criminal-exclusividade-policia
14

vários Recursos Extraordinários cujo os acusados respondem por crimes de:


corrupção, tortura, violência policial e crimes de extermínio, em que os respectivos
processos contaram com a investigação do MP, nos casos em que a policia foi
omissa.
A PEC 37/2011, mais conhecida como PEC da impunidade, vem sendo
bastante discutida em todo território nacional. No dia 05 de abril de 2013 a
Associação Piauiense do Ministério Público reuniu com várias instituições, político,
promotores de justiça e a sociedade civil com o intuito de pedir apoio contra a PEC
da Impunidade13.
Na mesma reunião, ocorrido em Teresina participou o senhor Antônio
Cavalcanti de Oliveira Júnior Procurador Chefe Substituto da Procuradoria da
República do Piauí manifestou-se:

A PEC 37 mutila e fere mortalmente o MP brasileiro como agente


investigador. Todo projeto de lei nasce do anseio popular e não há apelo
popular para retirar do MP o poder investigatório, pelo contrario, o que
vermos é um clamou social para que as instituições investigadoras atuem
de forma sinergia14.

2.7 Atuação do Ministério Público na investigação criminal sob a visão do


Supremo Tribunal Federal
Antes do Supremo Tribunal Federal (STF) decidir sobre o tema, o STJ já
vinha manifestado entendimento no sentido de permitir a investigação por parte do
MP no seara criminal. Com base nesse entendimento do STJ, foi que a Ministra
Ellen Gracie decidiu o Recurso Extraordinário (nº 535.478-4 SC) 15, descrevendo em
seu voto que é perfeitamente possível que o órgão do MP promova a colheita de
determinados elementos de prova que demonstrem a existência da autoria e da
materialidade de determinado delito, ainda que a título excepcional, tal conclusão
não significa retirar da polícia judiciária as atribuições previstas constitucionalmente,
mas apenas harmonizar as normas constitucionais (art. 129 e 144) de modo a
13
http://www.apmp-pi.com/noticias/650/parlamentares-piauienses-declaram-apoio-contra-pec-da-
impunidade
14
http://www.apmp-pi.com/noticias/650/parlamentares-piauienses-declaram-apoio-contra-pec-da-
impunidade
15
RE nº 535.478-4 SC, rel. Ellen Graice, j. 21.11.2008, publicação 21.11.2008. Disponível em:
http://www.nacionaldedireito.com.br/jurisprudencia/48938/recurso-extraordin-rio-535478-4-santa-
catarina-direito-processual-penal-recurso-extraordin-rio-ma. Acesso em: 20.08.2011
15

compatibilizá-las para permitir não apenas a correta e regular aplicação dos fatos
supostamente delituosos, mas também a formação da opinio delicti.
Com a prática reiterada de determinados crimes em determinadas regiões do
nosso país acabam assombrando a sociedade que se sente desprotegida e acuada
face à falta de estrutura na política de segurança pública, ou até mesmo frente à
ineficiência do aparelho estatal de repressão frente à criminalidade cada vez mais
audaciosa. O respeito aos bens jurídicos, protegidos pela norma penal é,
primariamente, interesse de toda a coletividade, sendo manifesta a legitimidade do
Poder do Estado para a imposição da resposta penal, cuja efetividade atende a uma
necessidade social. Daí por que a ação penal é pública e atribuída ao MP.
Ao longo dos anos, o mundo do crime conta com a presença de pessoas
ilustres, detentoras de parcela do poder, que devido os cargos que ocupam,
associam-se a deliquentes para garantir-lhes a impunidade e gerar riquezas
indevidas. Com base, nisso a persecução penal por parte do Estado torna-se difícil,
porque o posicionamento e as diligências que deveriam e poderiam ser tomadas
acabam sendo frustradas, com o único objetivo prejudicar as atividades judiciais.
Surge então, o representante do MP com poderes que lhe são conferidos pelo Poder
Constituinte originário, cuja função de iniciar, privativamente, a competente
persecução penal.
Em março de 2009, a 2ª Turma do STF, posicionou-se pela possibilidade de
o MP realizar investigação criminal direta e em seguida oferecer denúncia com base
nos elementos de provas que colheu.
O MP tem um papel importantíssimo para que a sociedade se torne
democrática, mas dentro do devido processo legal e com respeito aos direitos e
garantias individuais. Caso contrário, alguns crimes abaixo citados não teriam sido
investigados e nem desvendados (RANGEL, 2009, p. 234).
Alguns crimes, graças ao MP ter participado das investigações direta ou
mediante cooperação com as autoridades policiais, foram possíveis de desvendar
estes escândalos como nos seguintes casos:

DO FÓRUM TRABALHISTA: O MP denunciou o juiz aposentado Nicolau


dos Santos Neto, preso como o chefe do esquema que desviou R$ 169,5
milhões do dinheiro público destinado À construção do Fórum Trabalhistas
de São Paulo. Nicolau foi condenado em 2002 a oito anos de prisão por
16

lavagem de dinheiro e trafico de influencia. As principais informações da


mencionada investigação forma colhidas pela Procuradoria. A investigação
da Policia Federal em conjunto do o MP chamada de OPERAÇÃO
ANACONDA foi deflagrada em 2003, escutas telefônicas captaram indícios
de que criminosos estariam negociando sentenças judiciais com juízes.
Em relação ao caso BANESTADO Procuradores do Paraná levaram adiante
investigações que desvendou evasões de divisas em quantias bilionárias
em 1996 e 1997. O principal destino era agencia do Banestado em Nova
York. A apuração deu origem à Operação Farol da Colina, que prendeu
doleiros. O caso SUDAM, foram denunciados dezenas de pessoas de Pará,
Tocantins, Maranhão e Amazonas por desvio de dinheiro da extinção
autarquia federal, inclusive políticos como o deputado Jader Barbalho. O
prejuízo para os cofres públicos é estimado em no mínimo R$ 36 bilhões.
Já a OPERAÇÂO VAMPIRO: os Procuradores participaram da investigação
que, em conjunto com a Policia Federal, desvendou esquema de compra
fraudulenta de hemoderivados pelo Ministério da Saúde, empresários,
lobistas e servidores federais estão sob suspeita. E a MORTE DE CELSO
DANIEL: prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel (PT), foi assassinado
em 2002. Depois da investigação do MP, Sérgio Gomes da Silva foi
acusado de ser o mandante. Os procuradores detectaram motivações
políticas no assassinato (Jornal O Globo de 02 de setembro de 2004) 16.

Decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF) têm admitido ao MP


de atuar diretamente nas investigações criminais. O Ministro Celso de Mello do STF
em sua decisão no Recurso Ordinário de Habeas Corpus (RHC) nº 83492 ressaltou
que o Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade
própria, investigação de natureza penal. Apesar de a presidência do inquérito policial
caber à autoridade policial, nada impede que o Ministério Público possa solicitar, à
polícia judiciária, novos esclarecimentos, sem prejuízo de poder acompanhar, os
atos de investigação realizados pelos organismos policiais. O Ministro fundamentou
sua decisão, expressando que nem o MP e nem a polícia judiciária estão
autorizados a desrespeitar as garantias jurídicas que assistem ao suspeito e ao
indiciado, pois ambos têm o direito assegurado de ter acesso a toda informação
produzidas e juntados aos autos.
Com fulcro nesta decisão do Ministro do STF, Celso de Mello:

A atuação do Ministério Público no contexto de determinada investigação


penal, longe de comprometer ou de reduzir as atribuições de índole
funcional das autoridades policiais – a quem sempre caberá a presidência
do inquérito policial – representa, na realidade, o exercício concreto de uma
típica atividade de cooperação, que, em última análise, mediante requisição
de novos elementos informativos e acompanhamento de diligências
investigatórias, além de outras medidas de colaboração, promove a
convergência de dois importantes órgãos estatais (a Polícia Judiciária e o

RANGEL, Paulo, Op. Cit., pp.234-235.


16
17

Ministério Público) incumbidos, ambos, da persecução penal e da


concernente apuração da verdade real17.

A Constituição não torna privativa a investigação de crimes pela polícia: ela


coexiste com a possibilidade de juízes (corregedores, falimentares), membros do
Congresso Nacional (nas CPIs), governantes (nos processos disciplinares), órgãos
fiscais (nas infrações fazendárias) e membros do MP (nos inquéritos civis e em
outros procedimentos de sua competência) também podendo investigar fatos que
possam ter conotação criminal (HC 89.937 DF).
O que vem sendo questionado é caso seja reconhecido o poder investigatório
do MP se poderia frustrar, comprometer, ou até mesmo afetar a garantia do
contraditório estabelecida em favor da pessoa investigada. De tal modo, não importa
se a investigação no seara penal for realizada pelo MP ou pela polícia judiciária
continuaria a inaplicabilidade do contraditório na fase pré-processual, cabendo
assinalar a unilateralidade das investigações.
Em 04 de outubro de 2011 o STF reafirma o poder investigação do MP, por
decisão unânime os Ministros indeferiram o pedido de HC nº 99228 18, a defesa do
condenado alegava que o processo deveria ser considerado nulo, uma vez que o
inquérito foi e o procedimento administrativo foram baseados em investigações do
MP.
Diante disto, cabe analisar a importância do tema, demonstrando que é aceita
pela Suprema Corte a investigação criminal presidida pelo Ministério Público e que
em momento algum este órgão pretendeu substituir a polícia na atividade penal.
Vale ressaltar que o debate aqui não é enfatizar quem tem competência para melhor
exercer seus trabalhos investigativos, mas sim examinar uma forma de melhor
atender aos anseios da sociedade, fazendo uma parceira entre o Ministério Público
e a polícia.
3. CONCLUSÃO
O poder investigatório do Ministério Público é um tema que apresenta grande
relevância jurídica e incansáveis discussões doutrinarias. A questão aqui
17
RHC 83.492 RJ, rel. Celso de Mello, j.16.12.2010. disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RHC83492.pdf. Acesso em: 20.02.2011.
18
HC 99228 SP, rel. Marco Aurélio, j. 17.07.2009. DJe -148 divulg. 04.08.2009 public. 05.08.2009.
Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/5350359/habeas-corpus-hc-99228-sp-stf.
Acesso em 11/03/2011.
18

apresentada ultrapassa os limites da dogmática e alcança os limites dos interesses


políticos a que, interessa calar o Ministério Público. De tal sorte, analisamos as
possibilidades constitucionais e infraconstitucionais do poder investigatório do
Ministério Público na investigação criminal. Aduz que, sendo o Ministério Público
titular privativo da ação penal, seria estranho impedir que o mesmo realize
diligências investigatórias, conforme a PEC 37, ou até, mesmo entender que não
poderia realizá-la, seria negar-lhe um direito que o próprio ordenamento jurídico
vigente estabeleceu,
Importante considerar que se trata de atividade prevista em Lei, como
exemplo, Lei Complementar nº 75/93 (Estatuto do Ministério Público da União), Lei
8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso),
Lei 7.492/96 (Lei do Sistema Financeiro). Logo, entendemos que a Constituição não
torna privativa a investigação de ilícitos pela autoridade policial, pois, coexiste a
possibilidade de juízes, membros do Congresso Nacional, governantes, órgãos
fiscais e membros do Ministério Público também investigarem.
Então, verificamos que a Constituição proclama que o Ministério Público é
uma instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-
lhe a defesa da ordem jurídica do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis. Já a polícia caracteriza-se por ser uma instituição de direito
público destinado a manter a paz pública e a segurança individual.
Sabemos que o Ministério Público pode oferecer denúncia com base em
peças de informação desde que já disponha de elementos suficientes para a
propositura da ação penal, sem a necessidade de inquérito policial. Devemos
interpretar se o promotor de justiça pode o mais, que é oferecer denúncia e em
seguida iniciar-se a ação penal, ele poderá o menos, que é realizar as investigações
criminais, estabelecendo uma análise de razoabilidade e proporcionalidade.
Cabe-nos analisar a importância do tema, demonstrando que é aceito pelo
Supremo Tribunal Federal, que o Ministério Público pode presidir investigação
criminal. Aqui, não enfatizamos qual o órgão que trabalha melhor nas investigações,
mas sim auxiliar um ao outro para melhor combater os crimes de maior gravidade.
Pois, graças à atuação do Ministério Público nas investigações, fora possível
19

desvendar escândalos, como a Operação Anaconda, caso Banestado e Sudam, a


operação Vampiro e a morte de Celso Daniel (ex prefeito de Santo André – SP).
Em suma, a investigação criminal direta pelo Promotor é uma garantia
constitucional da sociedade que tem o direito de exigir do estado democrático, as
medidas necessárias para reprimir e combater as condutas ilícitas ao ordenamento
jurídico. Combatendo os abusos existentes na função social, a apuração de crimes
como de lavagem de dinheiro, fraudes contra o sistema financeiro, corrupção e
desvios de recursos públicos como aconteceu no Fórum Trabalhista de São Paulo.
Cabe destacar, por relevante e oportuno, que em relação aos crimes supracitados
foi que fecundou a condução de investigação por parte do Ministério Público.
O Ministério Público não veio usurpar as funções do delegado de carreira,
mas contribuir para uma melhor celeridade, prevenção, correção de falhas no
trabalho e a melhoria dos resultados das investigações. De forma que somem as
forças de trabalho, afastando qualquer divergência entre órgãos, caminhando em
consonância para atender os anseios da coletividade, aplicando as leis e os
princípios de forma justa.

4. REFERÊNCIAS
ALENCAR, Rosmar Rodrigues TÁVORA. Nestor. Curso de direito Processual
Penal. 4ª ed.Salvador: Bahia, 2010.

ALVES, Sini Luciane. O Ministério Público e a Investigação Criminal. 2007,


Monografia (Conclusão do Curso) Universidade do vale do Itajaí, Santa Catarina.
Disponível em: http://siaibib01.univali.br/pdf/Sini%20Luciane%20Alves.pdf. Acesso
em 10/03/2011.

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional, 14 ed., São Paulo:


Saraiva, 1992..

BILCHE, Ana Paula Lima. Ministério Público e investigação criminal. Disponível


em: http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/bh/ana_paula_lima_bilche.pdf

BRASIL, Lei 8.625 de 12 de fevereiro de 1993, Diário Oficial da União, Brasília,


publicado em 12 de fevereiro de 1993.

BRASIL, Lei Complementar 75 de 10 de maio de 1993, Diário Oficial da União,


Brasília, publicado em 20 de maio de 1993.
20

BRASIL, Lei 9.296 de 24 de julho de 1996, Diário Oficial da União, Brasília,


publicado em 24 de julho de 1996.

CUNHA JR, Dirley. NOVELINO, Marcelo. Constituição Federal para concursos. 3ª


ed., Salvador: Juspodivm, 2012.

FERRAZ, Antonio Augusto Mello e Camargo. “as relações entre o Ministério Público,
a sociedade e os poderes constituídos”, in Anais do II Congresso do Ministério
Público do Estado de São Paulo, p.326, São Paulo, imprensa Oficial, 1977

GARCIA, Emerson. Ministério Público: Organização, Atribuições e Regime


Jurídico. 3 ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

JARDIM, Afrânio Silva. Ação Penal Pública – Princípio da Obrigatoriedade. 2 ed.


Rio de Janeiro: Forense, 1994.

LAKATOS, Eva Maria. M.M.A. Fundamentos de metodologia cientifica. 6ed. São


Paulo: Atlas, 2007.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 15 ed. Ver., atual. e ampl.


– São Paulo: Saraiva, 2011.

MACHADO, André Augusto Mendes. A investigação Criminal Defensiva. 2009,


Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo – São Paulo.

MARQUES, Frederico José. Elementos de Direito Processual Penal. V. 2, São


Paulo: Bookseller, 1997.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. – 26. ed. - São Paulo: Atlas,2010.

MOREIRA, Rômulo de Andrade. O mais recente entendimento do STF e a


investigação criminal pelo Ministério Público. Jus Navigandi, Teresina, ano 13,
n.2080, 12.mar.2009. Disponível em:HTTP://jus2uol.com.br/doutrina/texto.asp?
id=12453.Acesso em: 17abril2011.

PALADIO, Carolina de F. Poder de Investigação Criminal: Monopólio da Policia.


Disponível em:
http:www.lfg.com.br/artigos/Blog/Poder_de_investigacao_criminal_Monopolio_da
_policia. Acesso: 03.10.2011

RANGEL, Paulo. Investigação criminal direta pelo Ministério Público: visão


crítica. 2. ed. rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

RODRIGUES, Michelle de Lima. Os Poderes Investigatórios do Ministério Público.


2006, Monografia (Conclusão do Curso de Direito) – Faculdade Integradas Antônio
Eufrásio de Toledo de Presidente Prudente, São Paulo.
21

SABELLA, Walter Paulo. Atividade Policial: controle externo pelo Ministério


Público, São Paulo, APMP, Justitia, 1991

SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na Investigação Criminal. Bauru.


Edipro, 2007.

SILVA, Alberto José Tavares da. Investigação Criminal Competência. São Luís –
Maranhão, 2007.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. V.1. 30ed. São Paulo:
Saraiva: 2008.

You might also like