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O Pantanal Matogrossense enquanto patrimônio nacional no contexto das


mudanças climáticas

Chapter · January 2011

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8 authors, including:

Carlos Teodoro Irigaray Carolina J. da Silva


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) State University of Mato Grosso
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Pierre Girard Joelson Maciel


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Université du Québec à Trois-Rivières
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JUS-Amazônia. Direito Amazônico e das áreas úmidas View project

CONHECIMENTO,, BIOPROSPECÇÃO DA BIODIVERSIDADE NA AMAZÔNIA MERIDIONAL View project

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In: SILVA, Solange T., CUREAU, Sandra e LEUZINGER, Márcia (Orgs.). Mudança do
Clima. Desafios jurídicos, econômicos e socioambientais. São Paulo: Fiuza, 2011. ISBN
978-85-62354-27-4

O Pantanal Matogrossense enquanto patrimônio nacional no contexto das mudanças


climáticas

Dr. Carlos Teodoro Irigaray, Dra. Carolina Joana da Silva, Dr. Heitor
Queiroz de Medeiros, Dr. Pierre Girard, Gustavo Crestani Fava,
Joelson Campos Maciel, Lafayette Garcia Novais Sobrinho e Rogério
Luis Gallo1.

Resumo
Este artigo pretende analisar alguns aspectos da vulnerabilidade institucional na gestão
e conservação do Pantanal relacionando as consequências dessas deficiências institucionais e
seus impactos no contexto das mudanças climáticas e das emissões de gases de efeito estufa.
Embora o Pantanal seja uma região muito específica ecológica e culturalmente, e a despeito
da Constituição Federal tê-lo proclamado como patrimônio nacional em 1988 ainda não há
uma legislação nacional específica que regulamente tão extraordinário ecossistema. Além
disso o Estado Brasileiro não dimensionou ainda os possíveis impactos das mudanças
climáticas sobre as principais atividades humanas e sistemas naturais nessa região.
Palavras-Chaves: Pantanal Matogrossense. Área protegida. Mudanças Climáticas

Abstract
This paper intends to examine some aspects of institutional vulnerability for the
management and conservation of the Pantanal wetlands and relating the consequences of
these institutional deficiencies and their impacts with climate change and greenhouse gases
emissions. Even though the Pantanal is a very specific region ecologically and culturally, and
despite the facts that the Brazilian Federal Constitution proclaimed the Pantanal National
Heritage in 1988, there is still no specific national law regulating this extraordinary
ecosystem. In addition, the Brazilian State did not dimension yet the possible impacts of
climate change on the main human activities and natural systems in this region.

1
Trabalho desenvolvido no âmbito do Grupo de Pesquisa Direito e Mudanças Climáticas – JUS-CLIMA
integrando professores e mestrandos do Programa de Mestrado em Direito Agroambiental da UFMT. Participa
dessa pesquisa o Prof. Dr. Heitor Q. Medeiros do Programa de Mestrado em Ciências Ambientais da UNEMAT.
Key words: Pantanal. Protected area. Climate Change

1. Introdução
Compreender a relação entre as alterações climáticas, as responsabilidades humanas, o
quadro normativo e sua respectiva aplicação prática e ainda a forma como que as instituições
lidam com as responsabilidades decorrentes deste cenário é urgentemente necessário. A
adaptação à variabilidade climática é estritamente local, no entanto, seu sucesso depende do
estabelecimento de um quadro nacional e regional de políticas que sejam efetivamente
implementadas em escala local (Argrawal, 2008; Adger et al, 2007; IPCC, de 2007, Lim e
Spanger -Siegfried, 2004).
No caso específico do Pantanal, localizado na Bacia do Alto Paraguai-BAP no Brasil,
existem políticas relativas à gestão do meio ambiente, uso da terra e dos recursos hídricos que
serão examinadas no contexto da mitigação, vulnerabilidade e adaptação às alterações
climáticas. Nesta abordagem serão avaliadas as mais relevantes, com foco na sua aplicação e
em que medida elas auxiliam a formulação de uma gestão eficaz dos recursos naturais em
âmbito estadual e local.
A Constituição brasileira enumera alguns biomas e ecossistemas considerados como
patrimônio nacional entre os quais se insere o pantanal Matogrossense, estabelecendo que sua
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio
ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais (Art. 225, § 4º).
Apesar de toda esta relevância, depois de mais de 20 anos, o Congresso Nacional não
aprovou uma lei federal que pudesse regular a conservação deste bioma, muito embora
existam diversos projetos em andamento para esse fim. Por sua vez, os Estados de Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul, em cujo território se encontra o Pantanal, aprovaram leis
estaduais as quais tiveram efeitos limitados na região; como consequência, a proteção jurídica
do pantanal é feita através de normas que não consideram as peculiaridades regionais,
especialmente a existência, de uma grande planície de inundação dotada de uma
biodiversidade excepcional.
Além do vazio legal ou a inadequação de normas ambientais para a proteção deste
bioma único, a gestão ambiental na região sofre com a incapacidade dos órgãos ambientais e
com a falta de vontade política para implementar políticas públicas específicas para a região.
Os problemas ambientais resultam muitas vezes, ou são agravados, por uma vulnerabilidade
institucional fruto da inadequação dos instrumentos legais de gestão ou mesmo da omissão do
Governo na estruturação da gestão, na regulamentação de questões relevantes e na aplicação
das normas existentes.
Este trabalho pretende examinar alguns aspectos dessas deficiências, enfocando as
consequências das falhas institucionais e seus impactos sobre o Pantanal. Tal análise irá
abordar os marcos institucionais, regulatórios e de gestão, bem como a redução da utilização
de instrumentos para gestão ambiental e recursos hídricos.
Abordará também a formulação limitada de políticas públicas para prevenir ou mitigar
os danos ambientais que afetam o Pantanal e seu entorno.
A primeira seção trata sobre o vazio legal sobre o Patrimônio Nacional pantaneiro na
tentativa de mostrar que, apesar de já terem se passado mais de 20 anos sem uma política
específica para o bioma, ainda é pertinente e necessário para a sociedade brasileira a produção
de um marco regulatório que supra essa lacuna.
O segundo ponto cinge-se à aplicação do Código Florestal no Cerrado brasileiro,
bioma caracterizador da maior parte do Pantanal e seu entorno. Esta seção demonstra os
limites e consequências da falta de implementação da legislação florestal.
A terceira seção aborda a questão das áreas protegidas (ou melhor, áreas “des”
protegidas) na Bacia do Alto Paraguai, do seu papel na preservação de ecossistemas
fundamentais para as sociedades locais e ainda aprecia o tema dos incentivos econômicos para
a manutenção desses serviços.
O quarto capítulo levanta algumas preocupações sobre as políticas públicas ambientais
Brasileiras na Bacia do Alto Paraguai foram geradas e por que elas são um campo tenso de
conflitos e confrontos que prejudicam a sua aplicação.
Por fim, a última seção examina as implicações de algumas das vulnerabilidades mais
importantes discutidas acima na mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

2. Além do Patrimônio Nacional


O Pantanal brasileiro é o maior trecho contínuo de áreas úmidas do planeta. Está
localizado na Bacia do Alto Paraguai na região central da América do Sul e ocupa uma área
de cerca de 160.000 km ², sendo que 65% dessa área localiza-se dentro do Estado de Mato
Grosso do Sul e 35% em Mato Grosso e também faz fronteira com a Bolívia (Chaco
Boliviano) e Paraguai (Junk et al., 2006) inserindo-se na Bacia do Paraguai-Paraná.
Essa imensa zona úmida é composta por vários tipos de vegetação (unidades de
paisagem) que constituem um conjunto de habitats com funções múltiplas e complexas. Estes
sistemas dependem do pulso de inundação e da interação desses ambientes. São ainda habitats
essenciais para a manutenção da biodiversidade. Da mesma forma, essa planície alagável
mantem uma relação de interdependência com os ecossistemas localizados ao redor do
Pantanal, tendo em vista os impactos causados pela ocupação humana dos planaltos
circundantes às zonas úmidas (Wantzen et al, 2008;. Silva e Girard, 2004).
A Carta Política brasileira enumera alguns biomas e ecossistemas considerados como
patrimônio nacional, incluindo o Pantanal de Mato Grosso, afirmando que a sua utilização
deve ser, na forma da lei, sob condições que assegurem a preservação do meio ambiente,
incluindo o uso dos recursos naturais (Art. 225, § 4o).
Embora o alcance da expressão "patrimônio nacional" não tenho ainda sido
aprofundado pela doutrina, esta não é uma mera proclamação política, mas envolve a
prestação de normas legais e políticas públicas para salvaguardar esses biomas. Assim, o
Supremo Tribunal Federal, ao considerar o assunto, observou que a expressão não tem um
sentido retórico e que a expressão "patrimônio nacional" na Constituição implica que essas
áreas estão sujeitas a "proteção muito excepcionais da ordem jurídica."2
Embora o Pantanal seja predominantemente brasileiro, sua importâqncia ecológica
transcende as fronteiras do Brasil, tendo o Programa Intergovernamental - O Homem e a
Biosfera (MAB) da UNESCO o reconhecido, em 2000, como Patrimônio da Humanidade e da
Biosfera. Também foi contemplado pela Convenção de Ramsar sobre Zonas Úmidas
(promulgada pelo Decreto n º 1.905, de 16 de maio de 1996).
No nível federal, a proteção especial dada pela Constituição Federal, requer a
aprovação de uma lei que estabeleça os princípios de gestão e proteção do Pantanal de Mato
Grosso. No entanto, a aprovação de tal lei parece longe de se concretizar. Existem alguns
projetos que tramitam no Congresso Nacional, mas nenhum deles é substancialmente
relevante para enfrentar as questões relativas à gestão do Pantanal e seu entorno e os
problemas que põem em risco esse patrimônio nacional. Enquanto isso, apesar de sua beleza e
biodiversidade excepcionais, o Pantanal enfrenta sérios problemas ambientais que põem em
perigo a integridade deste santuário ameaçado.
O Código Florestal aplica-se como regra geral (Lei 4.771/65). Este código inclui a
proteção das margens dos cursos de água, zonas úmidas e também as áreas localizadas nas
encostas (considerados como áreas de preservação permanente). Ele também estabelece a
necessidade de manutenção da cobertura florestal em 20% dos imóveis localizados no
Pantanal Sul e 35% daqueles localizados em Mato Grosso, a título de Reserva Legal.

2
Ação Direta de Inconstitucionalidade N º 487-5 - Relator: Min. Sepúlveda Pertence.
Em qualquer caso, apesar da existência desta lei, o maior problema é a sua aplicação
pouco efetiva, demonstrando que qualquer norma ambiental, seja federal ou estadual, depende
da existência de uma estrutura administrativa que assegure a sua implementação. É notório no
Brasil que vários escritórios regionais do IBAMA - O Instituto Nacional de Defesa do Meio
Ambiente - não têm equipamentos básicos, nem tampouco recursos humanos e infra-estrutura
necesssários ao desempenho de suas atribuições legais.
Da mesma forma, as demais normas federais e estaduais que podem ser empregadas
para a proteção da biodiversidade e das unidades de conservação localizadas na Bacia do Alto
Paraguai, padecem também de um déficit de implementação.
No item seguinte serão abordados alguns dos graves problemas que afetam o Pantanal
e que evidenciam a vulnerabilidade desse bioma, em termos de gestão ambiental e a
capacidade de lidar com as consequências das alterações climáticas na região.

3. O desmatamento e as mudanças no uso da terra


O Pantanal e seu entorno estão localizados em uma região de Cerrado, caracterizado
por uma rica biodiversidade e que enfrenta sérias ameaças com a expansão da fronteira
agrícola.
O cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, menor apenas que a Amazonia. Está
localizado no centro do país, com uma área original de aproximadamente dois milhões de
quilômetros quadrados (Klein, 2002) ou cerca de 24% do território brasileiro. Devido a sua
extensão geográfica, o cerrado constitui uma área de transição com a Amazônia, Mata
Atlântica, Caatinga e Pantanal biomas, estabelecendo-se como um dos principais corredores
ecológicos no Brasil.
Assim, a vegetação da Bacia do Alto Paraguai é composta por uma grande variedade
de plantas compondo paisagens de cerrado e floresta formações de alta complexidade
contendo muitas espécies endêmicas (Goodland e Ferri, 1978). O cerrado é também uma
região de fontes de água e área de recarga extensa de seis grandes bacias hidrográficas no
Brasil (Alho e Martins, 1995), funcionando como “berço das águas”, na medida em que nesse
bioma nascem alguns dos mais importantes rios do Brasil, incluindo o rio Paraguai, o
principal curso de água do Pantanal, o que significa que toda alteração no Cerrado vai afetar
diretamente o seu ciclo hidrológico.
Apesar desta relevância ecológica, o bioma não está recebendo uma proteção
proporcional, uma vez que é classificada hoje como a savana mais ameaçada do planeta e um
dos 34 hotspots mundiais (Mittermeyer et al., 2005). Este tipo de saque, que está ocorrendo
em um ritmo acelerado nos últimos anos, é historicamente impulsionado pelos ciclos da
história econômica do Brasil, que promoveram a devastação da Mata Atlântica e, atualmente,
avançam sobre a Floresta Amazônica, passando pelo cerrado.
Nessa esteira, verifica-se que diante da colonização predominantemente litorânea
ocorrida no Brasil até a década de 50, não foram verificadas alterações substanciais nas áreas
de Cerrado. Contudo, a partir de meados da década de 1960, diante de vários fatores, dentre
eles a interiorização da capital e a abertura de uma nova rede rodoviária que visava integrar o
país, vastas áreas de cerrado foram substituídas em sua integralidade por áreas de pastagem
extensiva e monocultura de grãos, notadamente soja e milho (Pinto, 1990).
O desenvolvimento da agricultura no cerrado foi baseado na implantação de uma rede
rodoviária mais abrangente, mas principalmente na atividade privada e estatal
consubstanciada no: a) desenvolvimento de novas tecnologias para manejo agrícola deste tipo
de solo especialmente ácido, permitindo empreendimentos agrários rentáveis; b) criação de
novas espécies de leguminosas e gramíneas resistentes ao estresse hídrico e às características
físico-químicas do solo da região, em especial pela EMBRAPA; c) utilização de maquinário
tecnologicamente mais adiantado.
Somado a esses três elementos, durante a década de 1970, foram implementadas
políticas públicas de promoção do desenvolvimento agropecuário e socioeconômico das
regiões de cerrado como o Polocentro e Prodecer (Alencar, 1975). O fruto da conjugação de
todos esses fatores foi a substituição maciça de parte da vegetação natural decorrente de um
rápido deslocamento da fronteira agrícola, pautada em desmatamentos, queimadas, uso de
indiscriminado de fertilizantes químicos e agrotóxicos (Pignati, et al 2007;. Dores e De-
Lamonica-Freire, 2001; Soares e Porto, 2007; Rieder, et al, 2000).
Nesse contexto a pressão sobre o Cerrado tem aumentado exacerbadamente nas
últimas décadas, fazendo com que seja hoje em dia o bioma brasileiro mais ameaçado de
destruição. Dentre as principais ameaças à sua biodiversidade, além das elevadas taxas de
desmatamento já mencionada, tem-se a introdução de espécies exóticas vegetais ou animais;
a utilização do fogo como meio de preparo do solo para a agropecuária; a contaminação do
solo e da água, especialmente por agrotóxicos e a erosão e compactação dos solos, resultado
da monocultura intensiva.
No que refere ao desmatamento, deve se registrar que, segundo dados do IBAMA, o
cerrado já perdeu aproximadamente 49% de sua vegetação nativa e cerca de 14,2 mil
quilômetros quadrados são desmatados por ano, em especial para a formação de pastagens.
Levando em consideração as áreas de cerrado, em particular na Bacia do Alto
Paraguai, onde a maioria da vegetação nativa remanescente está sob propriedade privada, o
Código Florestal Brasileiro (Lei 4.771/65) seria o instrumento jurídico que, por excelência,
deveria reger a dinâmica de manutenção dos fragmentos remanescentes e, como
consequência, proteger o Pantanal.
Afinal, uma vez destinado à regulação de práticas de conservação de vegetação nativa
nas propriedades particulares rurais, o diploma legal acabaria por também dar contornos às
paisagens, ao estabelecer patamares mínimos de proteção.
Essa concepção ultrapassada de dissociação entre desenvolvimento econômico e
respeito ao meio ambiente deu ensejo à configuração de passivos ambientais atualmente
entendidos como custos referentes às externalidades negativas geradas pelas atividades
produtivas, na hipótese da Bacia do Alto Paraguai em grande maioria representadas pela
pecuária extensiva e pela indústria sucroalcooleira. Contudo, a valoração desse passivo é
tarefa deveras custosa e, aos olhos ambientalistas, incalculável, vez que impossível a
quantificação, em termos monetários, da valoração da biodiversidade perdida em decorrência
do desrespeito às áreas de preservação permanente ou de reserva legal, previstas no Código
Florestal.
De acordo com Rafael Feltran-Barbieri e José Roberto Kassai (2008):
O Passivo Ambiental Tangível gerado pela inexistência das Reservas Legais pode ser
superior a R$ 112 milhões nas regiões amostradas, podendo atingir os R$ 16 bilhões
se extrapolados para todo o domínio do Cerrado, quase 0,5% do PIB brasileiro de
2006. Esse Passivo não contabiliza as perdas intangíveis de biodiversidade e demais
serviços ambientais, mas apenas as externalidades sofridas pela população geradas no
agrobusiness.
Apesar de toda essa importância ecológica a realidade pantaneira não é menos
dramática. Estudos mostram que, até 2004, 44% da área da Bacia do Alto Paraguai sofreu
alteração em sua cobertura original. Como se isso não bastasse, grande parte dos municípios
nela compreendidos alterou a sua cobertura vegetal, sendo que alguns (22) o fizeram de forma
radical com desmates superiores a 80% do território respectivo e 19 foram além com 90% de
desmatamento.
Desse modo, o Pantanal sofreu, com esse avanço do desmatamento, a perda atual de
17% de sua cobertura vegetal até 2004, implicando numa área aproximada de 25.750 km².
Além disso, existem poucas Unidades de Conservação (UC’s) em toda a região da BAP; desta
forma, a preservação é realizada por ações isoladas por alguns proprietários de terras e a falta
de um estudo sistematizado e abrangente de toda a Bacia prejudica ainda mais a
instrumentalização da sua tutela ecológica.
Quanto ao cerrado, as queimadas e o desflorestamento, eles contribuem
consideravelmente para as emissões brasileiras de CO2 (cerca de 75% do total), além de
estarem associadas ao chamado “Arco de Desflorestamento e das Queimadas” que inclui o sul
e o leste da Amazônia Legal. Estudos demonstram que os desmatamentos e queimadas
prejudicam a qualidade de vida nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde se localiza a Bacia do
Alto-Paraguai, superando as emissões industriais como causa de problemas respiratórios
(63,5%), especialmente entre os mais vulneráveis, como pessoas idosas e crianças
(IBGE:2008).
Além disso, essa mudança no uso da terra, está associado à expansão da pecuária
extensiva e na alta produção de grãos, registrando-se que a partir de 2.000 as indústrias
frigoríficas intensificaram sua atuação na Bacia do Alto Paraguai (BAP), trazendo consigo o
conceito do agronegócio como o novo aporte econômico de Mato Grosso, responsável por
nada menos que 70% do seu PIB.
O agronegócio representa, portanto, um forte apelo do discurso estatal como método
de modernização do campo com eficiência e competitividade de produção, como se o
desemprego ficasse somente restrito aos centros urbanos.
O relatório da FAO sobre agricultura e alimentação, exemplifica este tipo de visão a
respeito do uso da terra na região de cerrado da Bacia do Alto Paraguai:
O Brasil se tem beneficiado de maneira crescente dos baixos custos de produção de
alimentos para a atividade da pecuária e é provável que siga sendo um importante
produtor de matérias primas. A combinação de abundância de terras e os recentes
avanços relativos a infra-estrutura vem convertendo zonas anteriormente remotas,
como Mato Grosso e a região do Cerrado, na zona central do país, em celereiros de
forragens para animais. Estas duas regiões possuem os custos de produção de milho e
soja mais baixos (FAO: 2009).
Contudo, a realidade mostra que os postos de trabalho criados representam, em
verdade, um assalariamento dos trabalhadores em condições mínimas de remuneração e
qualificação, com altos índices de acidentes de trabalho e baixa qualidade do meio ambiente
do trabalho.
O turismo, por seu turno, dentro dessa estrutura totalitária de assimilação e
esgotamento dos recursos naturais, não foge à lógica extrativista, uma vez que,
freqüentemente, implica também a destruição do meio ambiente. Na maioria das vezes, a
atividade turística, infere em pilhagem de recursos naturais (caça, pesca, etc...) sem uma
avaliação adequada dos riscos e danos por ele gerados (Veyret, 2007). Além disso, apesar do
grande potencial existente na bacia, há poucas áreas protegidas dentro do Pantanal, com de
infra-estrutura necessária para oferecer um serviço de qualidade, com segurança para os
visitantes e conservação adequada dos recursos naturais. Desse modo, o desenvolvimento de
atividades turísticas continua dependente da iniciativa de proprietários privados.
Entre os problemas advindos dessa ação desenvolvimentista na Bacia do Alto
Paraguai, no que se refere às relações de trabalho e também ao turismo, podem ser citados
(Tribunal da Contas do Estado de Mato Grosso - TCE / MT, 2009; Harris, 2005 ):
a) a sub utilização da mão-de-obra em setores primários da economia, especialmente a
voltada para a monocultura em grandes propriedades com o cultivo de soja, algodão,
cana, milho e girassol;
b) o uso indiscriminado e abusivo de agrotóxico que polui o meio ambiente e causa
danos irreparáveis aos trabalhadores, especialmente diante da expansão do
agronegócio;
c) ocorrência crescente de acidentes de trabalho nas indústrias frigoríficas do
agronegócio diante da falta de qualificação dos trabalhadores e da precarização das
condições de trabalho;
d) falta de estrutura para atendimento adequado ao turista;
e) não integração entre as atividades do turismo e das populações locais;
f) falta de fiscalização e transparência quanto aos incentivos fiscais concedidos ao
agronegócio;
g) falta de incentivo fiscal aos projetos de desenvolvimento do turismo na BAP.
Ressalte-se que nesse contexto, houve uma substancial mudança no padrão de
ocupação da Bacia do Alto Paraguai, com severas repercussões sobre os ecossistemas, e um
passivo ainda não dimensionado.
Algumas iniciativas estão sendo tomadas na esfera federal e estadual para enfrentar a
questão dos passivos mediante processos de regularização fundiária e ambiental.
Cabe assinalar que o passivo ambiental está vinculado à posse e domínio da terra,
como dimensões do princípio da função social da propriedade, segundo o qual, para além de
um direito sobre a coisa, o proprietário detem substancialmente um dever de observância para
com o interesse público (SOUZA FILHO:2003).
Nesse contexto, a regularização fundiária permite que as dimensões econômica, social
e ambiental da propriedade sejam absorvidas pelo titular (pessoa física ou jurídica) da área,
facilitando a fiscalização e a imposição de responsabilidades pelo Poder Público.
No âmbito do Estado de Mato Grosso, foi editada a Lei n° 8.830, de 21 de janeiro de
2008, instituindo a Política Estadual de Gestão e Proteção à Bacia do Alto Paraguai. Entre os
principais objetivos da Lei, previstos no seu art. 3°, encontra-se “promover a preservação e
conservação dos bens ambientais, a melhoria e recuperação da qualidade ambiental, visando
assegurar a manutenção da sustentabilidade e o bem-estar da população envolvida”.
O art. 4° da referida Lei apresenta diretrizes que corroboram a importância da
regularidade fundiária para se atingir o correto manejo dos bens ambientais que compõem a
bacia do Alto Paraguai, destacando-se, no inc. II, a “integração da gestão ambiental com a
gestão dos recursos hídricos e com a gestão do uso do solo”, e, no inciso VI, a ordenação da
“ocupação territorial da Bacia do Alto Rio Paraguai, com ênfase na Planície Alagável na
forma da lei”.3
Expondo os problemas fundiários que assolam parte da bacia do Alto Paraguai, cabe
destacar a informação que consta do sítio mantido pelo Instituto de Terras de Mato Grosso na
internet sobre o projeto de regularização fundiária “Varredura”, com a seguinte justificativa:
O Projeto tem se concentrado prioritariamente na região conhecida como Baixada
Cuiabana envolvendo nove municípios (Acorizal, Barão de Melgaço, Chapada dos
Guimarães, Cuiabá, Jangada, Nossa Senhora do Livramento, Poconé, Rosário Oeste,
Santo Antônio de Leveger) e os municípios de Alto Paraguai, Arenápolis e Jaciara.
A Baixada Cuiabana é uma região densamente povoada por comunidades tradicionais,
onde as posses passam de geração em geração, com atividade agrícola voltada à
subsistência do produtor familiar e atendimento ao mercado regional com destaque na
produção de farinha de mandioca e pecuária de corte.
Em tais áreas, enquanto as posses não forem devidamente regularizadas, aberto estará
o caminho para o uso inadequado dos recursos naturais imprescindíveis à manutenção

3
Contudo, a referida Lei, apesar de aparentemente dispor também sobre a bacia do Alto Paraguai, só trouxe
dispositivos sobre a área alagável, cedendo aos interesses dos grandes produtores. A esse respeito, “embora a lei
faça referência, em sua ementa, à proteção à Bacia do Alto Paraguai, prevaleceu o esforço dos ruralistas de
delimitar a aplicação da lei à planície alagável do Pantanal em Mato Grosso, o que é lamentável, na medida em
que os problemas que afetam o entorno do Pantanal repercutem diretamente sobre a planície alagável; como
exemplo emblemático, cita-se a degradação do rio Taquari provocado pela expansão da monocultura no
planalto que circunda a planície pantaneira e responsável pelo carreamento de toneladas de areia e agrotóxicos
para o coração do Pantanal.” (IRIGARAY, Carlos Teodoro J. Hugueney; SOUZA, Silvano Carmo.
Comentários à lei de gestão do pantanal. Revista Amazônia legal: de estudos sócio-jurídico-
ambientais/Universidade Federal de Mato Grosso, Ano 2, n. 4 (jul/dez – 2008) – Cuiabá: EdUFMT, 2008, p. 44.)
das áreas úmidas do Pantanal. Aliás, trabalho do IBGE intitulado “Indicadores de
Desenvolvimento Sustentável – Brasil 2008” demonstra claramente que: O cerrado foi
durante muito tempo encarado apenas como uma área a ser ocupada pela agropecuária.
Desta forma, a maior ameaça a este bioma vem da expansão da fronteira agrícola. O
bioma Pantanal pode ser entendido como uma extensão do bioma Cerrado em área
sujeita a inundação periódica. As maiores ameaças a este bioma vêm do turismo não
controlado, da captura de animais silvestres, da ocupação agrícola das cabeceiras dos
afluentes do rio Paraguai e das obras de regularização e barragens na bacia deste rio.
Para o bioma Pantanal, é essencial a proteção das áreas de cabeceira dos rios que
drenam para o rio Paraguai (IBGE:2008).
Estudos ainda apontam que ‘a expansão da atividade pecuária está relacionada com o
aumento da área desmatada na planície pantaneira. O incremento da área plantada
com algodão, cana, milho e soja é o principal fator de degradação da vegetação
nativa na área dos planaltos do entorno do Pantanal, onde nascem os principais rios
que drenam para a planície pantaneira’ (HARIS, M.B, et all: 2005).
Assim, é premente sintonizar as políticas públicas fundiárias e ambientais relativas ao
Pantanal com olhos na bacia do Alto Paraguai, que presta serviço ambiental essencial
à conservação da maior área úmida do mundo, erigido à condição de patrimônio
nacional pela Constituição Federal (art. 225, § 4°) e, também, sítio Ramsar
reconhecido pela Convenção de Áreas Úmidas”.
Associado ao desmatamento, que coloca o cerrado da região em um quadro de
vulnerabilidade, também exerce pressão sobre os recursos hídricos da área de estudo e
conseqüentemente sobre a bacia do Alto Paraguai, a implementação de políticas públicas de
expansão agrícola e da poluição e degradação ambiental a ela inerente, que afetam sobretudo
os recursos hídricos.
As agressões antrópicas vão desde o crescimento urbano desordenado que conduz à
deposição irregular de efluentes por meio de fossas sépticas, com danos aos lençóis freáticos e
aqüíferos, passando pelo lançamento de esgoto doméstico e industrial não tratado nos rios que
banham as cidades, bem como pelo rebaixamento dos níveis dos rios com vistas à propiciar
água à agricultura e sua poluição ocasionada também pelo uso indiscriminado de defensivos
agrícolas além do assoreamento de seus leitos, fruto da destruição das matas ciliares.
Como visto, são múltiplas e entrelaçadas as formas de degradação dos recursos
hídricos fruto da exploração agropecuária atécnica e irracional.
Em especial na região da Bacia do Alto Paraguai, às margens do Pantanal, estão as
regiões de cerrado muito utilizadas para a atividade pecuária. O uso intensivo deste solo, em
sua grande maioria arenoso, somado ao manejo inadequado, potencializam o processo natural
de erosão e assoreamento dos cursos de água do próprio planalto que, em última instância, vai
afetar os rios do Pantanal. Como exemplo emblemático de práticas agropecuárias
insustentáveis em região, cita-se os processos erosivos na porção alta da Bacia do Rio Taquari
que provocaram o assoreamento do rio na planície pantaneira. Em decorrência do
assoreamento, extensas áreas do Pantanal passaram a ficar permanentemente inundadas,
causando graves impactos na região, que incluem alterações na qualidade da água, mudanças
no regime hidrológico, alterações florísticas e fitofisionômicas, e também impactos sócio-
economicos, que afetaram sobretudo as populações tradicionais4.
Associa-se ainda ao problema da erosão, o uso abusivo e indiscriminado de
agrotóxicos, em especial nas regiões de maior altitude onde a monocultura de larga escala é
mais presente.
A introdução de culturas geneticamente modificadas, especialmente aquelas projetadas
para resistir a uma alta taxa de aplicação de pesticidas, muito provavelmente aumentará a
circulação desses produtos tóxicos no solo, ar e água, representando um risco para a saúde
humana e ao meio ambiente.
Diante desse quadro, uma política de recursos hídricos consistente é fundamental para
assegurar a manutenção das paisagens sustentáveis na região e sobretudo a perpetuidade do
pantanal enquanto santuário ecológico, destacando-se que, a despeito da existência da Lei de
Política Nacional do Meio Ambiente e de leis estaduais de águas, a gestão dos recursos
hídricos nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul é, ainda, incipiente,
caracterizando-se por uma limitada estrutura institucional e ações pontuais, incompatíveis
com a dimensão dos problemas que afetam, sobretudo, a Bacia do Alto Paraguai e o Pantanal
Matogrossense.
Ainda no que se refere à deficiencia na gestão dos recursos hídricos, cabe assinalar
que, segundo dados da Embrapa Pantanal, está prevista a instalação de 116 pequenas centrais
hidrelétricas (PCHs) nos cursos d’água que localizados na região do Alto Paraguai,

4
Os problemas socioeconômicos e ambientais da Bacia do Rio Taquari são analisados numa publicação da
Embrapa Pantanal (Corumbá- MS), sob o título "Impactos Ambientais e Socioeconômicos na Bacia do Rio
Taquari - Pantanal". A obra editad pelos pesquisadores Sérgio Galdino e Luiz Marques Vieira e pelo especialista
em Geoprocessamento Luiz Alberto Pellegrin encontra-se disponível no sítio: <http://www.cpap.embrapa.br>.
responsáveis pelas inundações periódicas do Pantanal, o que representa uma ameaça à pesca,
agricultura familiar, pecuária bovina e o turismo pesqueiro, especialmente porque 70%
dessas PCHs ficarão concentradas numa mesma região.
A lei brasileira autoriza a construção dessas pequenas centrais hidrelétricas sem
estudos prévios de impacto ambiental. Em um futuro próximo, em quase todos os afluentes do
Pantanal, haverá uma ou mais barragens. Considerando que estes cursos de água são
responsáveis pela inundação periódica do Pantanal o conjunto de barragens previsto para a
Bacia pode constituir uma ameaça não apenas à pesca, mas também à agricultura familiar.
Isto é especialmente verdadeiro na porção norte do Pantanal, onde 70% dessas PCHs estará
concentrada. As barragens impedem a migração de algumas espécies de peixes para
reprodução e, também, alteram o fluxo de nutrientes para a planície de inundação o que
repercute na produção de pastagens naturais.
Os impactos cumulativos da energia hidrelétrica projetada adicionados às já instaladas,
incluindo a APM Manso, a maior barragem na Bacia (210 MW), não foram adequadamente
avaliados; especialmente nos impactos potenciais sobre as inundações e a seca características
do regime do Pantanal.
Ressalta-se que grande parte dos empreendimentos de exploração dos recursos
hídricos da BAP refere-se a projetos de pequeno porte, porém cujos efeitos conjugados pode
se configurar como significativo. Afinal, uma usina hidrelétrica geralmente requer a
construção de uma barragem que implica na formação subsequente de um lago que afeta a
migração das espécies de peixes, especialmente na época de reprodução. Uma análise dos
impactos cumulativos dos projetos hidrelétricos é necessária antes de sua efetiva
implementação, mesmo porque tal exigência decorre também do princípio da precaução,
insculpido principalmente na Declaração do Rio de 1992, que delimita a necessidade de
discussão, apreciação e comprovação dos eventuais impactos socioambientais e
principalmente ecológicos caso subsistam dúvidas quanto às consequencias ambientais dos
empreendimentos, como é o caso dos potenciais impactos que tão expressivo número de
centrais hidrelétricas poderá trazer para o frágil ecossistema da Bacia do Alto Paraguai.
Tal discussão deve englobar todos os serviços ambientais do sistema hidrológico
como a quantidade e qualidade de água, a produção pesqueira, a manutenção da
biodiversidade, etc., traduzindo-se em questão a ser amplamente debatida de forma a
estabelecer medidas que se não eliminam os impactos sobre esse bioma, proponha novas
formas de exploração de seus recursos, ou ainda, medidas mitigadores dos danos advindos de
atividades econômicas insubstituíveis.
4. Áreas “des” protegidas
Também como fator de vulnerabilidade institucional insere-se a inexistência de uma
política de áreas protegidas na região, uma vez que, a despeito de sua importância ecológica,
no pantanal e seu entorno existem poucas áreas de proteção integral, conforme assinalado em
pesquisa conduzida por técnicos da ONG Conservação Internacional (Harris et al., 2005).
Com efeito, apesar do conhecimento sobre a relevância do Pantanal e do seu entorno
para a manutenção dos recursos hídricos e para a conservação da biodiversidade, existem
poucas áreas que garantam a proteção dessa região. A partir de dados oficiais obtidos junto à
SEMA/MS e ao IBAMA, apenas 2,9 % da BAP e 4,5% da área da planície pantaneira estão
protegidos por algum tipo de unidade de conservação de proteção integral – UCPI – e reservas
particulares do patrimônio natural (RPPN). Em toda a área da BAP, que é de 363.442 Km2,
apenas 10.596 Km2 encontram-se protegidos em 19 UCPI públicas e em 34 RPPN (Harris et
al, 2005).
Como fator agravante, algumas dessas áreas, que deveriam gozar de proteção integral,
permanecem em mãos de particulares que continuam explorando-as econômicamente
ocaisonando a perda de atributos que justificaram sua proteção. A falta de regularização
fundiária dessas áreas, soma-se a inexistência de planos de manejo e deficiência na
fiscalização, que as torna efetivamente desprotegidas.
O quadro, portanto, aponta para a necessidade urgente de compatibilização das
políticas de gestão dos recursos hídricos da bacia, tomando em consideração, para as decisões
ambientalmente relevantes, a relação existente entre bacia do Alto Paraguai e o Pantanal,
limitando, por exemplo, atividades em áreas essenciais, com a criação de unidades de
conservação, e estimulando os proprietários rurais a criarem reservas naturais do patrimônio
natural.
A partir dos dados técnicos anteriormente expostos, torna-se claro que a gestão
ambiental da área de planalto da Bacia do Alto Paraguai não considerou todas as variáveis
relevantes para sua proteção. Entre outros, os serviços ambientais que esta bacia oferece ao
Pantanal não foram ainda ponderados.
Neste contexto, deve também ser notado que, de acordo com a legislação brasileira, as
áreas indígenas constituem uma modalidade de área de proteção, apesar de algumas terras
indígenas na Bacia do Alto Paraguai estarem sob pressão, principalmente as dos povos
Chiquitanos e Nhambiquaras.
Portanto, é oportuno rever as alternativas para a introdução de instrumentos
econômicos para apoiar a conservação de terras indígenas, particularmente, no que diz
respeito à utilização do pagamento por serviços ambientais. Entre estes, o REDD - Redução
de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal - pode ser visto como um mecanismo
para garantir melhores condições para a manutenção dessas comunidades e preservação de
sua cultura. Este mecanismo pode ser usado de modo a incentivar as populações tradicionais e
comunidades indígenas a continuar com sua forma de gestão da terra, obstaculizando as
pressões econômicas para suprimir sua cultura e promovendo a sustentabilidade da região do
pantanal.
Em dezembro de 2009, a comunidade internacional, reunida na COP 15, reconheceu
“...the crucial role of reducing emission from deforestation and forest degradation and the
need to enhance removals of greenhouse gas emission by forests...” e concordou com a
necessidade de se criar incentivos positivos para a Redução de Emissões por Desmatamentos
e Degradação, bem como para a conservação e aumento do estoque de carbono (item 6 do
Acordo de Copenhagen -FCCC/CP/2009/11/Add.1).
Em relatório recente para fornecer idéias preliminares sobre o que será necessário para
fazer o instrumento do REDD+ funcionar em campo, a Conservação Internacional (CI)
analisou 12 iniciativas piloto de projetos florestais de carbono em nove países (cinco
iniciativas piloto de REDD+ e sete atividades de reflorestamento), nas quais essa organização
tem se envolvido como parceira. Os resultados destas análises evidenciam que o sucesso dos
projetos dependem em grande parte do efetivo engajamento e apoio dos atores locais. No
entanto levantam vários desafios para o envolvimento de atores. Os desafios mais
frequentemente mencionados consistem em como explicar claramente aos atores locais sobre
o funcionamento dos projetos, como articular os potenciais benefícios e riscos e como
gerenciar as expectativas dos participantes (Harvey et al., 2010).
Como na Bacia do Alto Paraguai existem poucas áreas públicas protegidas, o uso de
instrumentos como REDD, torna-se uma estratégia ainda mais importante para atribuir valor
aos serviços ambientais e assegurar a expansão das áreas efetivamente protegidas.

5. Uma questão de políticas públicas


Entre as fraquezas institucionais para a proteção do Pantanal e de seu entorno, destaca-
se a insuficiência de uma ampla discussão sobre políticas públicas com participação das partes
interessadas para formulação e implementação de iniciativas visando a conservação do bioma
pantaneiro.
O conceito de política pública utilizado aqui é de uma concepção abrangente na linha
definida por Leroy (1995) e não restrito à política do governo. Tal conceituação considera que
o envolvimento de diferentes setores, como os proponentes e executores, é um fator
constituinte das políticas públicas que inclui a estruturação de pactos sociais. Esse processo
exige das agências governamentais uma abordagem diferenciada no processo de sua
preparação e implementação, onde a relação deve ser a mais dialógica possível.
Conforme citado, vários programas e projetos do governo federal foram
implementados na região amazônica e Centro-Oeste durante os anos 1960 e 1970, todos com
o objetivo de criar estruturas para assegurar o sucesso das políticas de governo, a maioria
deles tendo uma grande influência no Pantanal de Mato Grosso.
Essas políticas foram expressas através de programas e projetos, tais como o Programa
de Integração Nacional (PIN), Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à
Agroindústria (PROTERRA), Programa de Desenvolvimento do Oeste (PRODOESTE),
Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento do Pantanal (CIDEPAN), Programa
Especial de Desenvolvimento do Pantanal (PRODEPAN), Programa de Desenvolvimento dos
Cerrados (POLOCENTRO), Programa Nacional do Álcool (PROALCOOL), Programa de
Desenvolvimento do Grande Dourados (PRODEGRAN), Estudo de Desenvolvimento
Integrado da Bacia do Alto Paraguai (EDIBAP), Programa Integrado de Desenvolvimento do
Noroeste do Brasil (POLONOROESTE), bem como o POLOAMAZÔNIA.
A partir do início da década de 1990, outros programas e projetos governamentais
foram implementados na região, como a Hidrovia Paraguai-Paraná (PHPP), o Projeto de
Desenvolvimento Agroambiental do Estado de Mato Grosso (PRODEAGRO), o Plano de
Conservação da Bacia do Alto Paraguai (PCBAP), o Programa de Desenvolvimento
Sustentável do Pantanal (PROJETO PANTANAL), bem como o Programa de
Desenvolvimento Industrial de Mato Grosso (PRODEI).
Como a construção das políticas públicas no Estado de Mato Grosso, principalmente
na área ambiental, é fortemente marcada pelo financiamento externo, a questão da
participação é introduzida na área governamental como uma exigência dos financiadores e é
vista pelos planejadores do governo como uma externalidade imposta cuja qualidade vai
depender fundamentalmente da capacidade organizacional da sociedade civil. Desta forma, as
políticas públicas em Mato Grosso são um acirrado campo de conflitos e confrontos, com os
setores populares lutando para conquistar e manter espaços, diante das alianças das elites
econômicas e políticas.
Esse processo pode ser visto nos conflitos gerados no âmbito de todo processo de
discussões do Zoneamento Socioeconômico Ecológico (ZSEE), fomentado como um dos
componentes do PRODEAGRO e cujo produto tem sofrido questionamentos inclusive quanto
à constitucionalidade, bem como pela política de pesca do Estado de Mato Grosso,
institucionalizada a partir de lei promulgada em 1995 em seu antagonismo com a política de
turismo, onde é visível a opção do Estado pela pesca turística, podendo esta levar a
proletarização dos pescadores profissionais, transformando-os em profissionais invisíveis
dentro da estrutura vigente.
Também deve ser destacado como fator agravante nesses conflitos o empenho de
Parlamentares ligados ao agronegócio que lutam para reduzir as proteções existentes na
legislação ambiental, especialmente no Código Florestal, visando ampliar as áreas de
expansão da fronteira agrícola e flexibilizar a legislação, já deficiente em função da falta de
estrutura institucional para faze-la efetiva.
Acresça-se que a deficiência estrutural dos órgão ambientais pode ser vista em
números quando se compara a dotação orçamentária das demais pastas do Governo
comparadas com aquela destinada aos órgão ambientais. Com uma infra-estrutura
insuficiente, orçamento pífio e a pressão econômica para barrar iniciativas conservacionistas,
a gestão ambiental segue sem uma diretriz firme e sem um marco regulatório efetivo.
Dentro desse quadro complexo, é evidente a existência de conflitos que dificultam a
proteção jurídica do Pantanal, e limitam a eficácia das políticas públicas implementadas na
região, evidenciando as deficiências institucionais que impedem a concretização do
desenvolvimento em bases sustentáveis na região.

6. Implicações sobre as mudanças climáticas


De acordo com o último relatório do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças
Climáticas - PIMC (2007), o aquecimento global é um fenômeno inequívoco e há razoável
consenso científico de que tal fenômeno está relacionado a causas humanas, principalmente a
emissão de gases de efeito estufa (GEE), especialmente CO2, na atmosfera. Por sua vez, o
desmatamento é responsável por 25% do CO2 emitido hoje, seja por emissão direta ou por
redução de sequestro de carbono. O desmatamento também pode causar o aquecimento local,
afetando o ciclo hidrológico e com isso o regime das chuvas e o balanço de radiação
(Denman et al. 2007, Foley et al., 2005). Neste contexto, as deficiências institucionais
previamente discutidas são preocupantes para a Bacia do Alto Paraguai.
A pequena implementação prática das disposições do Código Florestal conduziu e
ainda conduz ao desmatamento do cerrado no Pantanal e de seu entorno. Como visto, esse
fenômeno está amplamente relacionado às pressões econômicas e políticas, isto é, à intenção
de aumentar o superávit comercial e o PIB regional. Num contexto de crescente demanda de
alimentos em escala global (Imhoff et al, 2004; Nellemann et al, 2009), essas pressões irão
crescer e a aplicação do Código Florestal tende a diminuir ainda mais, especialmente quando
se considera a ausência de um sistema confiável de registro de posse e propriedade de terras
consistente, a ponto de facilitar o acompanhamento e administração de responsabilidades por
parte do Governo. Isso levaria ao aumento das emissões de GEEs regionais e ao aumento do
aquecimento regional. Como existem poucas unidades de conservação, ou ainda, áreas
protegidas latu sensu, no Cerrado e no Pantanal, vale a pena perguntar até que ponto as
paisagens naturais remanescentes continuarão a oferecer outros serviços de ecossistemas
valiosos, tais como o fluxo de água e regulação da qualidade e preservação dos habitats e da
biodiversidade.
Por isso mesmo, manter a extensão da inundação anual no Pantanal pode ser de crucial
para a regulação do clima regional. Junk et al. (2005) aludem à regulação climática regional
da Pantanal e destacam que o papel desta grande área inundada no clima regional, bem como
a magnitude de seu efeito sobre o clima, ainda é incerto. Mais recentemente, foi relatatado
que a medida da quantidade de luz refletida (albedo) na planície de inundação varia com
inundações, diminuindo durante águas altas (Pereira et al., 2007). Com isso, uma diminuição
no tamanho da inundação pode alterar o equilíbrio de radiação, energia e água modificando a
estrutura dinâmica da atmosfera e, conseqüentemente, a convergência de umidade nos níveis
mais baixos da atmosfera, mesmo sem considerar os impactos no ciclo do carbono terrestre.
Infelizmente, até esta data, modelos regionais de circulação atmosférica não avaliam os
efeitos climáticos das enchentes sendo o Pantanal representado apenas como uma área de
cerrado (Sampaio, comunicação pessoal).
No seu estado atual, o marco regulatório ambiental existente no Brasil não pode
garantir a manutenção do pulso de inundação que é vital para a sobrevivência do Pantanal.
Ademais não há nenhuma lei federal que estabeleça os princípios de gestão e proteção desse
Patrimônio Nacional, ou que faça sequer referência ao pulso de inundação do Pantanal
Matogrossense. Assim também a lei do Estado de Mato Grosso sobre a gestão e proteção da
Bacia do Alto Paraguai deixa de regular as relações entre a planície do Pantanal e planaltos
adjacentes, onde esse pulso de inundação é gerado. Finalmente, as políticas nacionais e
estaduais de água caracterizadas por um quadro institucional/operacional limitado sequer
preveem uma avaliação cumulativa das barragens que são e serão construídas na Bacia do
Alto Paraguai sobre o pulso de inundação no Pantanal.
Se, por um lado, o status do direito vigente na região não é favorável à mitigação das
mudanças climáticas, é possível que, por outro lado, possa facilitar a adaptação aos impactos
das mudanças climáticas?
O clima atual da Bacia do Alto Paraguai é caracterizado por uma marcante
sazonalidade. Durante a estação seca, que vai de maio a outubro, períodos de mais de cem
dias sem chuva não são incomuns. A maior parte da chuva cai durante janeiro, fevereiro e
março e fortes chuvas são frequentes durante esses meses (Collischonn et al, 2001;.Girard,
2011; Piccilli, 2007). Em resumo, a precipitação total anual sobre a Bacia varia de cerca de
900 a 1700 mm. Durante o próximo século é provável que a temperatura suba de 3º a 4º
celsius. Com relação às chuvas os prognósticos não convergem: eles variam de -15 a 15% em
relação ao presente. Mesmo que a precipitação não mude no futuro, é provável que a estação
seca vai ser mais longa e que a mesma quantidade de chuva vai cair um intervalo de tempo
menor (Sampaio, comunicação pessoal).
Diante deste cenário climático pode-se esperar evapotranspiração ainda maior e
chuvas mais pesadas, e, sem considerar os impactos sobre as práticas agrícolas, essa mudança
na sazonalidade tende a aumentar ainda mais a erosão nos planaltos circundantes ao Pantanal
e o assoreamento na planície de inundação. Hoje, como mencionado anteriormente, o
assoreamento é uma das ameaças mais importantes para a biodiversidade do Pantanal e para
as funções deste ecossistema (Girard, 2011;. Wantzen et al, 2008).
Períodos de seca mais longos e mais quentes, assim como as chuvas mais pesadas
tendem a colocar a produção de grãos e de gado sob maiores riscos. Nos últimos anos,
visando aumentar sua produção de grãos e assim, saciar uma demanda crescente, os
agricultores têm cada vez mais se voltado para a irrigação. De 1985 a 1996, a área irrigada
aumentou de cerca de 63 mil ha para aproximadamente 260 mil hectares na Região Centro
Oestel. Em 2006, a área irrigada na região foi estimada em 490 mil ha (ANA, 2009). Essa
tendência provavelmente se acentuará no futuro próximo. Atualmente, a água de irrigação
vem de córregos e rios ou águas subterrâneas, as quais contem níveis de sais dissolvidos
maiores quando comparados com a água da chuva. No futuro, os efeitos da retirada maior em
mais cursos de água e aquíferos devem ser avaliadas para evitar conflitos entre os usuários, e
impactos negativos sobre os ecossistemas fluviais com a salinização do solo.
Além disso, chuvas mais pesadas tendem a aumentar a erosão, causando perdas de
solo que poderia diminuir a capacidade produtiva da terra e também transportar de forma mais
eficaz os agrotóxicos utilizados na produção.
Para enfrentar estas situações potencialmente adversas é necessário, inicialmente,
dimensionar esses impactos previstos, e os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
estão mal equipados para realizar essa tarefa. Ambos os Estados fazem o acompanhamento do
fluxo e qualidade da água em redes de monitoramento que não se interligam, o que não
assegura a densidade de dados suficientes para tomada de decisão local, nem para alimentar
modelos hidrológicos que aliem as águas superficiais e subterrâneas e que possam auxiliar a
tomada de decisões e ajudar a planejar cenários futuros. Além disso, ambos os Estados não
têm um programa para monitorar a erosão superficial e não contam com pessoal e
equipamento para adquirir essas informações que são essenciais para operar as suas políticas
de água e de planejamento dos recursos hídricos.
Mesmo na presença da informação necessária para tomar medidas em prol da
manutenção da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas do Pantanal, há a necessidade
de uma política específica para o Pantanal e seu entorno com a definição de objetivos para os
impactos aceitáveis, tais como níveis de assoreamento ou em que medida os ecossistemas
deve ser mantidos. Mesmo que a Política Nacional de Recursos Hídricos, de certa forma, trate
da relação entre os planaltos e a planície de inundação na Bacia do Alto Paraguai, no
momento, há falta de capacidade institucional para, realmente, aplicá-la.
O Estado de Mato Grosso adotou um Plano de Recursos Hídricos Estadual que se
constitui numa ferramenta útil para gerenciar o aumento das necessidades de irrigação e suas
consequências. Neste plano, as projeções para demanda de água são feitas até 2020, tendo em
conta vários cenários de desenvolvimento. No entanto, não há nenhum cenário que considera
as alterações climáticas, especificamente, ou seja, que respondam por um estresse hídrico
induzido pela alteração do clima regional (SEMA, 2009). Além disso, os cenários de
desenvolvimento foram elaborados para regiões demasiadamente amplas e os dados e
densidade populacional são ainda insuficientes para garantir medidas de manejo rurais ou
urbanas. O plano de Recursos Hídricos de Mato Grosso, também fornece orientações para a
qualidade da água que vai ser útil com cargas relativamente aceitável de sedimentos em
particular. No entanto, não está claro como a relação entre o fluxo, quantidade e a qualidade
da água serão tratados com o aumento do desmatamento.
O governo Federal, através de ANA (Agência Nacional de Águas) propôs um
programa baseado no pagamento de serviços ambientais para manter ou restaurar as matas
ciliares as quais são fundamentais no controle da erosão superficial e transporte de
sedimentos. Neste programa, chamado “Produtor de Água” (ANA, 2003;. Chaves et al, 2004),
a compensação financeira resultante da redução de sedimentação requer a estimativa de
redução da produção de sedimentos a jusante em função da redução da erosão a montante. No
entanto, o cálculo de compensação ainda é incerto e pode levar a opiniões contraditórias. Por
exemplo, uma redução bruta de 50% na erosão a montante pode resultar em redução no
rendimento de sedimentos, que variam por um fator de mais de 4. Isso resulta em incertezas
na estimativa dos serviços ambientais para a redução de sedimentação (Chaves, 2010). O
programa ainda é experimental em sua natureza e restrito em sua aplicação a apenas 8
pequenas bacias hidrográficas no Brasil. Nenhuma destas estão localizadas na Bacia do Alto
Paraguai. No entanto, o Programa de Produtor de água, mesmo com essas limitações, e uma
vez que os projetos pilotos em curso estejam cuidadosamente avaliados, constitui-se numa
estratégia de adaptação promissora para minimizar a erosão e assoreamento nos planaltos do
Pantanal e arredores.
Finalmente, os esforços para promover uma boa discussão entre as partes interessadas
na temática das mudanças climáticas e estratégias de adaptação ainda são incipientes.
Algumas ações nesse sentido foram tomadas por ONGs locais e regionais, bem como por
instituições acadêmicas. No entanto, a participação do poder público ainda é tímida, quando,
em realidade deveria liderar essa tarefa. Um diálogo amplo entre todas as partes em causa é
necessário para entender o que é a mudança climática, quais são suas consequências para o
Pantanal e Bacia do Alto Paraguai e quais são as soluções possíveis para se adaptar às
prováveis cenários futuros, a fim de minimizar os riscos a ela associados.

7. Conclusão
Nas seções anteriores, as vulnerabilidades institucionais foram identificadas,
demonstrando que prejudicam a adequada gestão e conservação do meio ambiente no
Pantanal e na Bacia do Alto Paraguai. A principal delas é certamente a falta de leis especificas
(Federais ou Estaduais) que estabeleçam os princípios e diretrizes da gestão e proteção desse
Patrimônio Nacional constituído pelo Pantanal Matogrossense e seu entorno. Neste ponto é
importante estabelecer que, em Mato Grosso, a Lei Estadual que disciplina a gestão e
proteção da Bacia do Alto Paraguai (Lei n° 8.830/98) deixa de regular as relações entre a
planície do Pantanal e os planaltos adjacentes.
Apesar da inexistência de regulamentação específica, a qual certamente poderia
facilitar a proteção contemplando as peculiaridades da região, bem como o modo de produção
das comunidades tradicionais, são aplicáveis à proteção do Pantanal as regras gerais como o
Código Florestal e também as Políticas de Água e de Unidades de Conservação (nacional e
estaduais). No entanto estes instrumentos seguem minimamente implementados na região.
Assim, há poucas áreas que assegurem a proteção da Bacia do Alto Paraguai e as terras baixas
do Pantanal, atualmente, apenas 2,9% da Bacia do Alto Paraguai está totalmente protegido.
Considerando que grande parte do território da BAP e do Pantanal está sob domínio
privado, outro ponto importante diz respeito à ausência de um sistema consistente de registro
da posse e propriedade da terra o que facilitaria o monitoramento e gestão além de promover a
efetiva responsabilização por eventuais danos, a ser implementada por parte do governo.
Aproveitando-se da falta de legislação e dificuldades operacionais para a aplicação das
regras existentes, verifica-se uma proliferação de projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas,
sem que tenha sido adequadamente avaliado, de forma integrada, quais os impacto dessas
atividades na Bacia do Alto Paraguai e, consequentemente, sobre o Pantanal.
Num cenário de aumento da produção de grãos relacionados à crescente demanda
mundial por carne, em conjunto com as mudanças climáticas previstas para a Bacia do Alto
Paraguai, as fraquezas reais no aparato legal e institucional demonstram a inadequação dos
instrumentos disponíveis para assegurar a proteção do Pantanal, do cerrado e dos serviços
ambientais por eles proporcionados. Nesse contexto o desmatamento e, consequentemente, as
emissões de GEE são susceptíveis de aumentarem. Assim, é duvidoso que o corpo de
regulamentação existente irá conter os impactos indesejáveis deste panorama, tais como
diminuição da vazão do rio, aumento de sedimentos em seu leito, cargas de poluição em rios e
perdas de biodiversidade.
Finalmente,a proteção do pantanal e seu entorno não deve ser efetivada apenas
mediante o emprego de instrumentos de comando e controle. É imperiosa a utilização de
instrumentos econômicos para apoiar a conservação ambiental, especialmente no que diz
respeito à utilização do pagamento por serviços ambientais. Na mesma linha, é também
crucial o aumento da participação comunitária na elaboração e acompanhamento de políticas
públicas relacionadas ao meio ambiente e aos recursos naturais. Isto irá permitir que a
sociedade possa efetivamente minimizar os riscos associados às alterações climáticas e à
crescente demanda mundial por grãos.

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