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O Jogo e Seu Lugar Na Aprendizagem Da Matematica
O Jogo e Seu Lugar Na Aprendizagem Da Matematica
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lugar-na-aprendizagem-da-matematica
Prática Pedagógica
Aluno da EMEI Profª Maria Alice Pasquarelli, em São José dos Campos, experimenta um jogo
matemático
Ana Flávia Alonço Castanho,
selecionadora do Prêmio Victor Civita na
área de Matemática
Trabalhar com jogos nas aulas de Matemática é uma das situações didáticas que
contribuem para a criação de contextos significativos de aprendizagem para os
alunos. Esta descoberta se deu no conjunto de uma série de transformações que
o ensino experimentou nas últimas décadas, desde que professores e instituições
passaram a pautar sua prática por uma concepção de aprendizagem segundo a
qual aprender significa elaborar uma representação pessoal do conteúdo que é
objeto de ensino - quando os alunos constroem conhecimentos em um processo
ativo de estabelecimento de relações e atribuição de significados.
É nesse contexto que o jogo passa a ser uma presença mais constante nas aulas
de Matemática. Mas a experiência tem indicado que a presença do jogo, por si só,
não leva à aprendizagem dos alunos. Por isso, vamos discutir nos capítulos
seguintes que condições podem fazer do jogo um aliado do professor na
organização de boas situações de aprendizagem. O ponto de partida é
compreender o jogo como uma prática humana e social de relação com o
conhecimento.
Macedo (2003) discute em seu texto "Os jogos e sua importância na escola" como
o jogo está, segundo a teoria piagetiana, intimamente ligado ao processo de
desenvolvimento humano (acima, veja um vídeo em que o professor fala sobre o
uso dos jogos na aprendizagem)
As três instâncias de jogo são parte de cada um de nós, parte de nossa história
pessoal e da nossa relação com o mundo e, por isso, em maior ou menor grau,
continuam presentes ao longo de nossas vidas:
Dessa forma, há uma primeira dificuldade na relação da escola com os jogos, pois
a experiência social deixa claro que, na ausência de uma intervenção sistemática,
pautada em preocupações e compromissos educativos, se perpetua a divisão
entre bons e maus jogadores. E a escola nunca pode naturalizar a divisão entre
bons e maus alunos, sob pena de não ser mais escola.
Assim, pode-se considerar que dar ao jogo um justo lugar dentro da escola,
relacionando-o com conteúdos importantes de aprendizado, é uma forma de
respeitar o modo como as crianças aprendem, dando a todos os alunos a chance
de se relacionar com o conhecimento de uma forma mais prazerosa, significativa
e produtiva.
Mas, o que significa dar ao jogo "um justo lugar dentro da escola"? Uma primeira
resposta é a que já foi apontada acima: criar condições para que todos os alunos
aprendam, para que o jogo seja uma instância que favoreça o avanço de seus
conhecimentos. Outra resposta, imprescindível, também, é que o jogo se
relacione com os objetivos curriculares e as necessidades de aprendizagem dos
alunos. Ou seja, dar ao jogo seu justo lugar dentro da escola implica perguntar se
o jogo em questão cria condições para as aprendizagens específicas que se quer
promover.
Graziela De Muylder, professora, joga com seus alunos da Escola Balão Vermelho
Para que o trabalho com jogos matemáticos na escola possa se constituir como
base para uma boa relação com o conhecimento, é preciso ter em mente que:
"O jogo é, por natureza, uma atividade autotélica, ou seja, que não apresenta
qualquer finalidade ou objetivo fora ou para além de si mesmo. Nesse sentido, é
puramente lúdico, pois as crianças precisam ter a oportunidade de jogar pelo
simples prazer de jogar, ou seja, como um momento de diversão e não de
estudo. Entretanto, enquanto as crianças se divertem, jogando, o professor deve
trabalhar observando como jogam. O jogo não deve ser escolhido ao acaso, mas
fazer parte de um projeto de ensino do professor, que possui uma
intencionalidade com essa atividade" (Ana Ruth Starepravo. Jogando com a
Matemática: números e operações).
A ideia de que "o jogo não deve ser escolhido ao acaso" é a marca fundamental
do trabalho escolar. É imprescindível - se se quer fazer do jogo um contexto de
aprendizagem - perguntar-se sobre o que o jogo permite ensinar, sobre qual
conteúdo matemático é posto em destaque no jogo, sobre como isso se relaciona
com as necessidades de aprendizagem dos alunos naquele momento, sobre que
outras situações de ensino podem-se articular às situações de jogo, sobre como
sistematizar e institucionalizar o conhecimento posto em ação e, com isso,
relacioná-lo às aprendizagens previstas no currículo.
Ana Ruth Starepravo. Jogando com a Matemática: números e operações. Curitiba: Ed. Aymará, 2009.
Cecília Parra. "Cálculo Mental na Escola Primária". In: Parra, C. & Saiz, I. Didática da Matemática: reflexões
psicopedagógicas. Porto Alegre: Artmed, 1996.
Macedo, L. Os jogos e sua importância na escola. In: Macedo, L., Petty, A. L. S. e Passos, N.C., Quatro cores, senha e
dominó. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
Ortiz, J. P. In: Múrcia, J.A.M. (e col.). Aprendizagem através do jogo. Porto Alegre: Editora Artmed, 2005.