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A Sociedade dos Indivíduos

Norbert Elias
Parte I
O que é a sociedade?
A sociedade dos indivíduos

A sociedade é mais que a soma dos indivíduos;

Ela não é uma criação racional e deliberada de
pessoas individuais;

Ela existe pois estamos juntos e através de nossas
ações damos continuidade a ela;

Ela se modifica de maneiras específicas, possui
história e segue um curso não pretendido ou
planejado pelos indivíduos que a compõem;

Os indivíduos desempenham papéis na sociedade,
ou seja, se vinculam aos processos sociais “supra
individuais”;
Como ligar os indivíduos à sociedade?

Somos livres-escolhedores ou condicionados pelo meio?

O que são as ações dos indivíduos e o que são as


influências sociais?

A sociedade é um fim e os indivíduos o meio ou nós


somos o fim e a sociedade o meio?

E se uma compreensão melhor da relação
entre indivíduo e sociedade só pudesse ser
atingida pelo rompimento dessa alternativa
“ou isto ou aquilo”, desarticulando essa
antítese cristalizada?
Superando a antítese


A sociedade não existe sem o indivíduo e
vice versa;


O indivíduo é táctil, visível, sua ação pode ser
identificada e responsabilizada... já a
sociedade só pode ser percebida. No
entanto ela também existe e pode ser
compreendida.
Superando a antítese


A sociedade possui uma “ordem oculta”, não
perceptível facilmente aos sentidos:
– Os fenômenos sociais não ocorrem ao acaso.

A ordem invisível dessas formas de vida em
comum oferece ao indivíduo uma gama
mais ou menos restrita de funções e modos
de comportamento possíveis;
– Os indivíduos irão possuir alguma função,
trabalho, tarefa, papel que executam;
Alguém perdido?
Superando a antítese


Ao nascer, o indivíduo está inserido num
complexo funcional de estrutura definida:
– Nos conformamos a este complexo;
– Nos moldamos de acordo com ele;
– Nos desenvolvemos com base nele;

Esse complexo nos dá referência do mundo,
do que são as coisas, de como agir, dos
valores e demais referências...
E a nossa liberdade de agir?
Superando a antítese


Até a liberdade de escolha entre as funções
preexistentes e disponíveis é bastante
limitada;

Ela depende:
– do ponto em que o indivíduo nasce e cresce
nessa teia humana;
– das funções e da situação de seus pais e,
– em consonância com isso, da escolarização
que recebe...
Superando a antítese


Trocando em miúdos:
– O lugar que se ocupa na sociedade e os
respectivos papéis sociais ali disponíveis
criam uma ordem invisível que oferece ao
indivíduo formas de agir, pensar e sentir.

E eu com isso?
Superando a antítese


As pessoas, ainda que desconhecidas, estão
ligadas por laços invisíveis;

O indivíduo não é autor da sociedade;

A sociedade não é fruto de decisões
coletivas;

A sociedade tem leis próprias;

A sociedade não existe fora dos indivíduos;

Estamos presos à sociedade.
Ó pai, ó… e que diabo é a sociedade???
É a rede de funções que as pessoas
desempenham umas em relação as outras;

Essas redes são um tipo especial de esfera, suas


estruturas chamamos de “estruturas sociais”;

E quando falamos em “leis sociais” ou


“regularidades sociais” estamos nos referindo às
leis autônomas das relações entre as pessoas
individualmente consideradas.
Aí eu te pergunto professor, quem veio primeiro, o
indivíduo ou a sociedade?

Não se pode pensar a sociedade em separado dos
indivíduos. Estamos ligados à ela:

relações e funções;

O modo como os indivíduos se portam é determinado
por suas relações passadas ou presentes com outras
pessoas. Ainda que eles se afastem como eremitas,
carregam dentro de si os conteúdos da sociedade;

O que nos liga à sociedade é a propensão fundamental
de nossa natureza.
Como os
Como os
indivíduos RELAÇÕES
indivíduos
se ligam
se formam
à sociedade
Parte II
Quando surge o indivíduo e a sociedade?
Como surgimos?


O ser humano singular é gerado e partejado
por outros seres humanos;

Uma das condições fundamentais da
existência humana é a presença simultânea
de diversas pessoas inter-relacionadas;

É pelo social que desenvolvemos o individual;

O convívio social nos socializa, nos torna
“humanos”, parte de um grupo social;
Como surgimos?


A formação do indivíduo depende da
evolução histórica do padrão social e da
estrutura das relações humanas;

As relações sociais transformam as partes
envolvidas:
– Mudam as pessoas umas em relação às
outras;
– Esse mecanismo está continuamente
funcionando;
Como surgimos?


Nossa individualidade tem a ver com as
relações sociais nas quais estamos
envolvidos;
– O desenvolvimento do indivíduo, da infância à
velhice, demanda a socialização;
– A individualidade do adulto só pode ser
entendida mediante as relações sociais que
ele se envolveu bem como pelas estruturas
sociais da sociedade a qual ele pertence.
Como surgimos?


O individual não prescinde do social:
– Só existe indivíduo na sociedade, na relação
com os outros;
– Essa relação tem uma estrutura particular que
é específica da sociedade;
– Ex: o indivíduo como “ser monetário” na
sociedade capitalista;
Parte III
O indivíduo


Há uma padronização da auto imagem
atualmente;

Os indivíduos percebem a si mesmos de
forma individualizada:
– “Eu sou eu e o outro é o outro”;

Sabemos que o individualismo é um estágio
do processo civilizador:
– Identidade-nós identidade-eu;
O indivíduo

O que as pessoas acham que é a expressão
de sua autoimagem, do seu eu, é na
verdade fruto das relações sociais
específicas de sociedades que estão em
um dado estágio do processo civilizador:
– Ou seja, vivemos numa era em que as
relações sociais “constroem” indivíduos com
autoimagem individualista;
– Você só é o indivíduo que é por conta das
relações sociais que experimentou até hoje;

Tivesse nascido numa tribo no Brasil em 1400,
tu era outro.
A sociedade

A sociedade é um entrelaçamento incessante e
irredutível de seres individuais;

A sociedade é uma rede em constante movimento,
como um tecer e destecer ininterrupto;
– É assim que cresce o indivíduo, partindo de uma
rede de pessoas que existiam antes dele para
uma rede que ele ajuda a formar, reproduzindo
e modificando uma grande quantidade de
coisas que não foi ele quem criou;

O “eu” e a sociedade são compostos na relação;
Parte IV
O indivíduo


O desenvolvimento psíquico também é obra
da inter-relação:
– Produto sócio-histórico;

Não somos um continente fechado e isolado:
– Por natureza somos feitos para poder e
necessitar estabelecer relações com outras
pessoas e coisas;
– Nossa condição é a flexibilidade, a
maleabilidade e mobilidade.
O indivíduo


As estruturas da psique humana, as
estruturas da sociedade humana e as
estruturas da história humana são
indissociavelmente complementares:
– Ex: assim podemos falar de doenças sociais,
psicologia social, mal estar de uma era,
valores de um tempo, comportamentos de
um dado grupo...
Não acabou
ainda?

Parte V
O indivíduo e a ordem social


A ordem social origina-se da peculiaridade da
natureza humana:
– Nascemos “vazios” de bagagem cultural;
– Relaxamos nossos mecanismos naturais para
criar nosso cosmo social;
– Somos produzidos na companhia de outras
pessoas e através delas;
– Por isso somos criadores de diversidade;
– Nossas sociedades se transformam por
causas internas e externas;
A sociedade e a ordem social


A história é sempre história de uma
sociedade, mas, de uma sociedade de
indivíduos;

As pessoas têm seus planos individuais, mas
a sociedade segue ritmos de mudança e
regularidades próprias:
– Aprender a “ler” esses movimentos pode
fornecer bons subsídios às ações
individuais.
A sociedade e a história


A história é um sistema de pressões
exercidas por pessoas vivas sobre pessoas
vivas;
– Olhando de perto vemos os indivíduos agindo
e realizando as ações que movem os
acontecimentos;
– Olhando de longe vemos a ordem social
seguir caminhos que parecem
independentes dos indivíduos;
– Ex: experimentação de drogas e o vício.
Que indivíduo é esse?


O indivíduo age, escolhe. Mas o faz numa
ordem social não coordenada por ele. O faz
imerso nas relações sociais que o formam.
O faz também num cenário onde outras
tantas pessoas também estão agindo sob
tais condições. O faz, portanto, nesse
movimento dinâmico dessa teia de
indivíduos inter-relacionados:
– Não há como dissociar indivíduo e sociedade.
Que indivíduo é esse?


Existem relações de poder entre os
indivíduos:
– Não importa o tamanho do poder de um
indivíduo, ele não pode manobrar as
estruturas sociais e a transformação de uma
sociedade;
– Há desníveis de poder entre os indivíduos e
grupos, o que incide sobre a amplitude do
campo para decisão individual:

Ex: pobres e ricos de nossa sociedade.
Que indivíduo é esse?


O que afeta a escolha individual:
– a distribuição do poder;
– a estrutura da inter-dependência no grupo;
– as funções sociais que o indivíduo
desempenha;
– as tensões no interior do grupo ou entre
grupos;
E a sociologia no meio disso tudo?
A sociologia


A sociologia estuda as sociedades:
– Para entender a estrutura da sociedade não
se pode tomar os indivíduos isoladamente;
– Ao contrário, para entender a psique dos
indivíduos é que devemos compreender a
estrutura das relações entre eles;
– Assim, a “alma” do indivíduo não é estranha a
sociedade;
– O “eu” tem a ver com o “nós”.
Acabou!

Aleluia kkkkkkkkkkk

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