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doi: 10.1111/1471-3802.12217
Dada a import^ancia que as experi^encias visuais possuem o uso de conceitos e sua aplicacß~ao no contexto educa-
para o sujeito surdo, discutir sobre o uso da imagem na cional devem ser feitos de forma cuidadosa.
escola contempor^anea e tarefa premente, mas ao mesmo
tempo desafiadora, uma vez que apresenta uma interface Assim sendo, este estudo de natureza bibliografica obje-
com a area de artes visuais e outras afins e, dessa forma, tiva buscar indıcios historicos referentes ao uso da ima-
gem na educacß~ao de surdos, alem de compreender como
educadores contempor^aneos t^em utilizado as imagens no
Figura 1: Pedro Ponce de Leon. Fonte: Carvalho contexto pedagogico na educacß~ao bilıngue de surdos.
(2007, p.19).
Em busca das origens: o uso de imagens na educacß~ ao
de surdos
Em busca de indıcios do uso da imagem na educacß~ao de
surdos, recorremos, em termos de periodizacß~ao, a Idade
Moderna e a Idade Contempor^anea. Carvalho (2007)
referese, em seus estudos, a presencßa de sujeitos surdos
desde a Idade Antiga na historia da humanidade. Entre-
tanto, o foco desse estudo e trazer a tona alguns indıcios
da presencßa da imagem na educacß~ao de surdos, que sis-
tematicamente passa a ser realizada a partir do seculo
XVI. Assim sendo, a Idade Moderna passa a ser o nosso
par^ametro a partir do resgate da figura de Frei Ponce de
Leon (1520-1584), considerado um dos primeiros edu-
cadores de surdos. O que chama a atencß~ao no relato de
Carvalho (2007) a respeito da atuacß~ao desse monge
beneditino espanhol e a iconografia apresentada.
Figura 3: John Bulwer - Chirologia: Or the natural ee. Fonte: Carvalho (2007).
Figura 4: Abade de L’Ep
Language of the hand. Fonte:http://www.lib.uchicago.edu/
e/webexhibits/bookusebooktheory/howtoexpressyour
self.html.
Figura 5: Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos. Figura 6: Supposing you were suddenly struck Dead!
Fonte: Gama (1875). What then? Fonte: Ree (1999, p. 237).
sentidos. Ele chegara a um impasse (REILY, 2004, p. De acordo com Gombrich (1999), as imagens instru-
115- grifo nosso). cionais t^em por objetivo a transmiss~ao especıfica de uma
informacß~ao. Nesse sentido, a imagem instrucional tem
Por meio desse registro hist ee evidencia a
orico, L’Ep uma certeza intencional; portanto, ela deve ser essencial-
necessidade de pensar no trabalho com as imagens e na mente comunicativa e destinada a leitura publica. Esse
possibilidade de usar outros recursos associados a mesma tipo de imagem vai ser utilizada na educacß~ao de surdos
para o ^exito na educacß~ao de surdos Figura 4. com diferentes propositos.
Historicamente, observam-se outros tipos de composicß~oes Essa breve incurs~ao em determinados momentos hist ori-
imageticas presentes e, por vezes, com a finalidade de um cos relacionados a educacß~ao de surdos nos mostra que o
alcance social mais amplo. Os dicionarios de lınguas de uso da linguagem visual se faz presente, manifestando-se
sinais, que na maioria das vezes s~ao ilustrados, tinham de diferentes formas e com diversas finalidades, e seu uso
como finalidade difundir os sinais para surdos e ouvintes. contınuo sera abordado a seguir.
A tıtulo de ilustracß~ao, pode-se citar um dicionario pro-
duzido no seculo XIX: Iconografia dos Signaes dos Sur- O uso das imagens na educacß~ao contempor^anea de
dos-Mudos, publicada em 1875 por Flausino Jose da surdos
Costa Gama. Banks (2009) menciona que as imagens s~ao onipresentes
na sociedade, justificando, dessa forma, estudos envol-
Os dicionarios apostavam no uso do recurso imagetico vendo a representacß~ao visual. E na educacß~ao de surdos?
como veıculo de instrucß~ao, a ponto de ensinar a lıngua em Como isso tem sido potencializado?
quest~ao para os que desejassem. Tal afirmacß~ao se sustenta
quando lemos o prefacio das referidas obras e tambem O trabalho com imagens tem sido recorrente na
quando analisamos a sua forma de constituicß~ao, marcada educacß~ao contempor^anea de surdos, previsto em legis-
geralmente pela caracterıstica da hibridizacß~ao de recursos: lacß~ao e documentos orientadores nacionais e tambem
uso da imagem e textos explicativos contendo a forma de em pesquisas acad^emicas. As escolas t^em contemplado
realizacß~ao dos sinais. N~ao e foco deste estudo discutir a de forma direta e indireta uma grande variedade de
eficacia do aprendizado de sinais por meio destes materi- imagens no seu cotidiano: estaticas e em movimento
ais, mas trazer a baila que mais essa atribuicß~ao foi dada a (pinturas, desenhos, fotografias, diagramas, gravuras,
imagem no contexto da surdez Figura 5. filmes, entre outras). Alem disso, com o aporte da tec-
nologia, a relacß~ao entre texto e imagem ganha outra
Focando na quest~ao do alcance social do fen^ omeno sur- dimens~ao, uma vez que e possıvel o uso da multi-
dez, outro tipo de producß~ao encontrado s~ao os panfletos. modalidade.
Tais materiais n~ao eram utilizados diretamente na
educacß~ao de surdos, mas tinham por proposito a Rojo e Moura (2012) caracterizam textos como multi-
divulgacß~ao da surdez e a intencß~ao de orientar as pessoas modais quando apresentam muitas linguagens (ou semios-
quanto a forma mais adequada de conversar com as pes- es)”e que exigem capacidades e praticas de compreens~ao
soas surdas. Podemos observar essa tend^encia no panfleto e producß~ao de cada uma delas (multiletramentos) para
de 1899: Sinais familiares ou como falar com os surdos- fazer significar (p. 19)”. O conceito de multiletramento,
mudos. segundo os autores, envolve”a multiplicidade cultural das
populacß~oes e a multiplicidade semiotica de constituicß~ao
Muito util para permitir que qualquer pessoa fale dos textos por meio dos quais ela se informa e se comu-
com o surdo e mudo. Estas ilustracß~ oes foram espe- nica (p. 13)”. Neste sentido, alguns professores de surdos
cialmente feitas a partir de sinais de uso comum pelos t^em desenvolvido seu trabalho com base na multimodali-
surdos-mudos educados: n~ ao s
o para permitir que dade, tanto na escola bilıngue como na escola comum.
todos os mestres, pais e outros interessados no bem-
estar dos aflitos, para tornar-se perceptıvel para sur- Figueiredo e Guarinello (2013), ao discorrerem sobre uma
dos-mudos, sem escrita ou um interprete, mas tambem pratica pedagogica realizada na educacß~ao infantil com
para todos os que desejam dizer tais palavras total- criancßas em processo de aquisicß~ao da linguagem escrita,
mente sem atrair a atencß~ao dos outros desnecessaria- destacam algumas possibilidades no ^ambito do trabalho
mente. A lıngua de sinais e o alfabeto manual t^em com a multimodalidade. Entre os portadores de textos
sido usados h a cerca de 200 anos, e ainda s~ ao ensi- multimodais, encontram-se: vıdeos em lıngua de sinais,
nados em quase todas as escolas de surdos-mudos no blogs, fotologs, videologs, historias em quadrinhos
mundo civilizado. Eles podem ser facilmente aprendi- digitais (HQ), entre outros.
dos por qualquer pessoa de intelig^encia normal.
1999, p. 237- traducß~
(REE, ao nossa) Figura 6. Diferentes portadores de textos e imagens podem ser uti-
lizados para o trabalho de alfabetizacß~ao e letramento,
Neste e nos outros casos apresentados, destaca-se o uso alem de contemplar diferentes areas do conhecimento.
do g^enero da imagem instrucional na educacß~ao de surdos. Diante de diferentes tipos de imagens disponıveis no
ambiente escolar, cabe ao educador a selecß~ao, o planeja- Gombrich, E. H. (1999) The uses of images: studies in
mento e o encaminhamento do trabalho, tendo em vista the social function of art and visual communication.
que cada imagem atende a uma exig^encia funcional e, London: Phaidon.
desta forma, deve-se pensar em como cada significado e Hall, S. (2008) Isto significa isso, isso significa aquilo:
construıdo, interpretado e compreendido (HALL, 2008). guia de semiotica para iniciantes. S~ao Paulo: Rosari.
Lebedeff, T. (2010) Aprendendo a ler com outros olhos.
Nessa incurs~ao em busca de indıcios de imagens na Relatos de oficinas de letramento visual com
educacß~ao de surdos, vimos que a presencßa deste tipo professores surdos. Disponıvel em: http://
recurso democr atico perpassa diferentes seculos e acom- periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/
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