You are on page 1of 6

Journal of Research in Special Educational Needs  Volume 16  Number s1  2016 789–794

doi: 10.1111/1471-3802.12217

ONTEM E HOJE: O USO DE IMAGENS NA


~ DE SURDOS
ß AO
EDUCAC
ssia Geciauskas Sofiato
Ca
~o Paulo
Universidade de Sa

~o de surdos, linguagem visual, imagem.


Palavras-chave: educacßa
legitimidade, pois os conteudos escolares passam a ser
Temos visto na atualidade um grande interesse por trabalhados em lıngua brasileira de sinais como primeira
parte de educadores brasileiros envolvidos com a lıngua e na lıngua portuguesa como segunda lıngua na
educac ~ o de surdos de trabalhar utilizando materi-
ßa modalidade escrita, e consequentemente os educadores
ais com imagens, tendo em vista que o uso de
buscam novas formas de abordar metodologicamente os
recursos visuais parece que comprovadamente
conteudos de diferentes areas de conhecimento. Nesse
contribui com o processo de ensino e aprendiza-
gem do aluno surdo. Em diferentes espac ß os educa- sentido, passa-se a valorizar mais o trabalho com a visu-
cionais, tais como a escola inclusiva, o Atendimento alidade na escola, entendendo aqui o conceito expresso
Educacional Especializado (AEE) e nas escolas de anteriormente como o olhar socializado sobre algo, de
educac ~ o bilíngue para surdos o uso de recursos
ßa acordo com Sardelich (2006):
visuais se faz presente e compete ao educador
compreender o poder constitutivo das imagens As nocß~oes de vis~ao e visualidade s~ao basicas para
tanto no sentido de leitura quanto no que se refere a  esse entendimento da cultura visual. Walker e Chaplin
criac ~ o das mesmas (REILY, 2003, p. 169). Dessa
ßa (2002) definem a vis~ao como sendo o processo
forma, este estudo de natureza bibliogra  fica, obje-
fisiologico em que a luz impressiona os olhos e a
tiva buscar indícios histo  ricos referentes ao uso da
visualidade como o olhar socializado. O sistema  otico
linguagem visual na educac ~ o de surdos, ale
ßa  m de
de um brasileiro, um europeu e um africano n~ao s~ ao
compreender como os educadores contem-
pora^ neos utilizam as imagens no contexto ped- diferentes, mas sim o modo de descrever e representar
ago gico na educac ~ o desses alunos.
ßa o mundo de cada um deles, ja que eles possuem difer-
entes maneiras de olhar o mundo - o que conse-
quentemente, da lugar a diferentes sistemas de
representacß~ao (p. 213).

Lebedeff (2010) acrescenta que a experi^encia visual dos


Introducß~
ao
surdos engloba inumeras significacß~oes e valores coletivos
Temos visto na atualidade um grande interesse por parte
culturais:
de educadores envolvidos com a educacß~ao de surdos em
trabalhar utilizando materiais com imagens em duas
Muitas vezes a caracterizacß~ao dos surdos enquanto
dimens~oes e imagens em movimento, tendo em vista que
sujeitos visuais fica restrita a uma capacidade cog-
o uso de recursos visuais parece que comprovadamente
nitiva e/ou linguıstica de compreender e produzir
contribui com o processo de ensino e aprendizagem do
informacß~ao em lıngua de sinais. A experi^encia
aluno surdo, devido ao potencial do sentido visual.
visual dos surdos envolve, para alem das quest~ oes
linguısticas, todo tipo de significacß~oes comunit
arias
Tal discurso vem ganhando forcßa em diferentes espacßos educa-
e culturais, exemplificando: os surdos utilizam apeli-
cionais, tais como a escola inclusiva, o Atendimento Educa-
dos ou nomes visuais; metaforas visuais; imagens
cional Especializado (AEE) e as escolas de educacß~ao bilıngue
visuais, humor visual; definicß~ao das marcas do
para surdos, e compete ao educador compreender o”poder con-
tempo a partir de figuras visuais, entre tantas out-
stitutivo das imagens” tanto no sentido de leitura quanto no que
ras formas de significacß~oes. Ou seja, desloca-se o
se refere a criacß~ao das mesmas (REILY, 2003, p. 169).
significado da surdez enquanto perda auditiva para
a compreens~ao da surdez a partir de suas marcas
Nas escolas de educacß~ao bilıngue para surdos1 em algu-
idiossincrasicas: a surdez significada como experi-
mas localidades do paıs, esse tipo de recurso ganha maior
^encia visual, a presencßa da lıngua de sinais, a
1
De acordo com o Decreto-Lei n 5626 de 2005, escolas bilıngues para surdos producß~ao de uma cultura que prescinde do som,
“s~ao aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Lıngua Portuguesa sejam entre outras (LEBEDEFF, 2010, p. 176 APUD
lınguas de instrucß~ao utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo”
(BRASIL, 2005).
SKLIAR, 2001).

ª 2016 NASEN 789


14713802, 2016, S1, Downloaded from https://nasenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1471-3802.12217 by CAPES, Wiley Online Library on [14/05/2023]. See the Terms and Conditions (https://onlinelibrary.wiley.com/terms-and-conditions) on Wiley Online Library for rules of use; OA articles are governed by the applicable Creative Commons License
Journal of Research in Special Educational Needs, 16 789–794

Dada a import^ancia que as experi^encias visuais possuem o uso de conceitos e sua aplicacß~ao no contexto educa-
para o sujeito surdo, discutir sobre o uso da imagem na cional devem ser feitos de forma cuidadosa.
escola contempor^anea e tarefa premente, mas ao mesmo
tempo desafiadora, uma vez que apresenta uma interface Assim sendo, este estudo de natureza bibliografica obje-
com a area de artes visuais e outras afins e, dessa forma, tiva buscar indıcios historicos referentes ao uso da ima-
gem na educacß~ao de surdos, alem de compreender como
educadores contempor^aneos t^em utilizado as imagens no
Figura 1: Pedro Ponce de Leon. Fonte: Carvalho contexto pedagogico na educacß~ao bilıngue de surdos.
(2007, p.19).
Em busca das origens: o uso de imagens na educacß~ ao
de surdos
Em busca de indıcios do uso da imagem na educacß~ao de
surdos, recorremos, em termos de periodizacß~ao, a Idade
Moderna e a Idade Contempor^anea. Carvalho (2007)
referese, em seus estudos, a presencßa de sujeitos surdos
desde a Idade Antiga na historia da humanidade. Entre-
tanto, o foco desse estudo e trazer a tona alguns indıcios
da presencßa da imagem na educacß~ao de surdos, que sis-
tematicamente passa a ser realizada a partir do seculo
XVI. Assim sendo, a Idade Moderna passa a ser o nosso
par^ametro a partir do resgate da figura de Frei Ponce de
Leon (1520-1584), considerado um dos primeiros edu-
cadores de surdos. O que chama a atencß~ao no relato de
Carvalho (2007) a respeito da atuacß~ao desse monge
beneditino espanhol e a iconografia apresentada.

As relacß~oes do presente com as imagens do passado,


intimamente ligadas as nossas concepcß~oes de tempo,
memoria e historia, s~ao essenciais para a compreens~ ao
da forma como representamos esse tempo preterito, o
lugar que a historia ocupa em nosso presente e o modo
como s~ao tratados os vestıgios do passado. O conheci-
mento historico, que se p~oe a si proprio em uma per-
spectiva cultural, ajuda-nos, por isso mesmo, a pensar

Figura 2: Bonet:”Finger Alphabet”, 1620. Fonte: Ree (1999, p. 102 -103).

790 ª 2016 NASEN


14713802, 2016, S1, Downloaded from https://nasenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1471-3802.12217 by CAPES, Wiley Online Library on [14/05/2023]. See the Terms and Conditions (https://onlinelibrary.wiley.com/terms-and-conditions) on Wiley Online Library for rules of use; OA articles are governed by the applicable Creative Commons License
Journal of Research in Special Educational Needs, 16 789–794

Figura 3: John Bulwer - Chirologia: Or the natural  ee. Fonte: Carvalho (2007).
Figura 4: Abade de L’Ep
Language of the hand. Fonte:http://www.lib.uchicago.edu/
e/webexhibits/bookusebooktheory/howtoexpressyour
self.html.

siderando-se os elementos basicos da comunicacß~ao visual


(ponto, linha, forma, natureza tonal, entre outros) e suas
implicacß~oes na composicß~ao Figura 2.

no papel da iconografia e de outras representacß~


oes do Bonet se apresentava como autor do material, entretanto,
passado [. . .] (TURAZZI, 2009, p. 29). ha controversias. Reily (2007, p. 321) menciona que as
imagens utilizadas por Bonet em seu livro eram muito
Ponce de Le on dedica a maior parte de sua vida a educacß~ao proximas as apresentadas por Fray Melchior de Yebra,
de surdos nobres, tendo em vista que, na epoca, em funcß~ao em sua obra Refugium Informorum, publicada postuma-
do acometimento da surdez, os mesmos n~ao tinham direito mente em 1593. Tal obra foi ilustrada por meio de alfa-
a herancßa. Dessa forma, o monge espanhol”ensinava-os a beto manual e continha uma serie de aforismos para
falar, ler, escrever, rezar e a conhecer as doutrinas do cris- orientar a conduta crist~a. Oviedo (2007) a respeito disso
tianismo” (CARVALHO, 2007, p. 19). Destaca-se na ima- acrescenta:
gem o uso de um alfabeto manual que ajudava os surdos a
soletrar as palavras, que supostamente foi desenvolvido El alfabeto manual usado por los sordos en la
pelo pr oprio monge. Embora n~ao encontremos relatos mayorıa de paıses cuyas lenguas se escriben con el
detalhados a esse respeito, a gravura mostra uma pratica alfabeto latino se difundio por el mundo a partir de
pedag ogica permeada pelo uso da imagem, denotando a un libro publicado en 1620 por el espa~nol Juan de
import^ancia do recurso visual Figura 1. Pablo Bonet, Reduction de las letras y Arte de
ense~nar a hablar a los mudos. El alfabeto que incluyo
Juan Pablo Bonet (1579-1629), educador espanhol, tambem Bonet en su libro se inspiraba en el recogido 27 a~ nos
ganhou notoriedade na hist oria da educacß~ao de surdos pelo antes por Yebra (p. 1).
seu mais conhecido feito, a publicacß~ao de Reduction de las
letras y Arte de ense~ nar a hablar a los mudos em 1620. A  De qualquer forma, percebe-se que nesse contexto o uso
epoca, as imagens que compunham esse material foram da imagem (em forma de gravura) tambem estava pre-
amplamente divulgadas na Europa e s~ao conhecidas ate hoje. sente no sentido de estabelecer um registro. Isso era
Neste livro, Bonet defendia que”seria mais facil para o surdo necessario para diversas finalidades, desde as pedagogicas
aprender a ler se cada som fosse representado por uma letra ate as que envolviam a difus~ao do alfabeto manual.
visıvel invariavel: o alfabeto manual” (Carvalho, 2007,
p. 20). As gravuras a seguir retratam partes da obra de Bonet John Bulwer (1614- 1684), medico ingl^es, publicou obras
e foram produzidas com bastante detalhamento, con- importantes que marcaram a educacß~ao de surdos em seu

ª 2016 NASEN 791


14713802, 2016, S1, Downloaded from https://nasenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1471-3802.12217 by CAPES, Wiley Online Library on [14/05/2023]. See the Terms and Conditions (https://onlinelibrary.wiley.com/terms-and-conditions) on Wiley Online Library for rules of use; OA articles are governed by the applicable Creative Commons License
Journal of Research in Special Educational Needs, 16 789–794

Figura 5: Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos. Figura 6: Supposing you were suddenly struck Dead!
Fonte: Gama (1875). What then? Fonte: Ree (1999, p. 237).

de seus contempor^aneos na tarefa de educar surdos. Entre


os seus feitos esta a criacß~ao do Instituto Nacional de Sur-
dos em Paris em 1755. O que chama a atencß~ao e o fato
paıs. As ilustracß~
oes contidas nas capas de algumas delas de o abade de L’Ep  ee ter se envolvido com a educacß~ao
tinham m~aos que faziam parte da composicß~ao, talvez de surdos meio que por acaso e de ter percebido que o
como uma forma de insinuar a sua import^ancia na uso da imagem por si so n~ao garantia grandes benefıcios
educacß~ao de surdos. Carvalho (2007) comenta que Bul- pedagogicos. Isso se justifica quando nos remetemos ao
wer acreditava que a linguagem produzida pelas m~aos era seu inıcio como preceptor de duas g^emeas surdas confi-
a  unica linguagem natural dos surdos. Seus livros” adas aos seus cuidados:
realcßavam o uso de gestos, mas nunca se referiram direta-
mente a lıngua gestual dos surdos” (p.21). Duas irm~as surdas estavam sendo educadas pelo Pe.

Vanin, que veio a falecer. L’Epee se prop^os a dar
Imagens com representacß~ oes de m~aos passam a fazer continuidade ao ensino em 1760 por temer que, sem
parte da hist oria da educacß~ao de surdos a partir do professor, elas morressem na ignor^ancia de sua
seculo XVII. O livro Chirologia traz tambem imagens religi~ao. Decidiu mudar a metodologia utilizada ante-
de sinais manuais naturais. Temos aqui mais uma riormente, que era o uso de gravuras para ensinar o
demonstracß~ao da import^ancia do uso da imagem na cristianismo, pois entendeu que a compreens~ ao se
constituicß~ao dessas obras, embora n~ao seja foco nesse restringia ao sentido literal, fısico da imagem, e que
momento discutir a quest~ao da representacß~ao e as pos- o sentido mais profundo da fe seria impossıvel de
sibilidades de leitura oferecidas por meio do uso de transmitir apenas por figuras. Resolveu ensinar lin-
elementos grafico-visuais presentes na constituicß~ao das guagem pelos olhos, em vez de pelos ouvidos, apon-
mesmas Figura 3. tando objetos com uma m~ao e escrevendo o nome
correspondente numa lousa, com a outra. Lembrou-se
As imagens se faziam presentes para ilustrar as obras e de um alfabeto bimanual que utilizara na escola para
tambem, possivelmente, para eternizar momentos rela- poder se comunicar com os colegas sem ser desco-
tivos as praticas pedag
ogicas, uma vez que ainda n~ao berto pelo mestre. Com esse metodo associacionista,
existia a fotografia. Podemos perceber essa tend^encia na logo as meninas estavam lendo e escrevendo os
seguinte imagem que traz outro ıcone da historia da nomes das coisas. No entanto, esse sistema n~ ao per-
 ee.
educacß~ao de surdos, o abade de L’Ep mitia maiores avancßos, porque n~ao contemplava nen-
huma gramatica, nem sentidos abstratos, essenciais
 ee (1712-1789)
O abade franc^es Charles Michel de L’Ep para o ensino religioso, restringindo-se a nomeacß~ ao
diferencia-se de certa forma de seus precursores e alguns de objetos presentes, visıveis, perceptıveis pelos

792 ª 2016 NASEN


14713802, 2016, S1, Downloaded from https://nasenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1471-3802.12217 by CAPES, Wiley Online Library on [14/05/2023]. See the Terms and Conditions (https://onlinelibrary.wiley.com/terms-and-conditions) on Wiley Online Library for rules of use; OA articles are governed by the applicable Creative Commons License
Journal of Research in Special Educational Needs, 16 789–794

sentidos. Ele chegara a um impasse (REILY, 2004, p. De acordo com Gombrich (1999), as imagens instru-
115- grifo nosso). cionais t^em por objetivo a transmiss~ao especıfica de uma
informacß~ao. Nesse sentido, a imagem instrucional tem
Por meio desse registro hist  ee evidencia a
orico, L’Ep uma certeza intencional; portanto, ela deve ser essencial-
necessidade de pensar no trabalho com as imagens e na mente comunicativa e destinada a leitura publica. Esse
possibilidade de usar outros recursos associados a mesma tipo de imagem vai ser utilizada na educacß~ao de surdos
para o ^exito na educacß~ao de surdos Figura 4. com diferentes propositos.

Historicamente, observam-se outros tipos de composicß~oes Essa breve incurs~ao em determinados momentos hist ori-
imageticas presentes e, por vezes, com a finalidade de um cos relacionados a educacß~ao de surdos nos mostra que o
alcance social mais amplo. Os dicionarios de lınguas de uso da linguagem visual se faz presente, manifestando-se
sinais, que na maioria das vezes s~ao ilustrados, tinham de diferentes formas e com diversas finalidades, e seu uso
como finalidade difundir os sinais para surdos e ouvintes. contınuo sera abordado a seguir.
A tıtulo de ilustracß~ao, pode-se citar um dicionario pro-
duzido no seculo XIX: Iconografia dos Signaes dos Sur- O uso das imagens na educacß~ao contempor^anea de
dos-Mudos, publicada em 1875 por Flausino Jose da surdos
Costa Gama. Banks (2009) menciona que as imagens s~ao onipresentes
na sociedade, justificando, dessa forma, estudos envol-
Os dicionarios apostavam no uso do recurso imagetico vendo a representacß~ao visual. E na educacß~ao de surdos?
como veıculo de instrucß~ao, a ponto de ensinar a lıngua em Como isso tem sido potencializado?
quest~ao para os que desejassem. Tal afirmacß~ao se sustenta
quando lemos o prefacio das referidas obras e tambem O trabalho com imagens tem sido recorrente na
quando analisamos a sua forma de constituicß~ao, marcada educacß~ao contempor^anea de surdos, previsto em legis-
geralmente pela caracterıstica da hibridizacß~ao de recursos: lacß~ao e documentos orientadores nacionais e tambem
uso da imagem e textos explicativos contendo a forma de em pesquisas acad^emicas. As escolas t^em contemplado
realizacß~ao dos sinais. N~ao e foco deste estudo discutir a de forma direta e indireta uma grande variedade de
eficacia do aprendizado de sinais por meio destes materi- imagens no seu cotidiano: estaticas e em movimento
ais, mas trazer a baila que mais essa atribuicß~ao foi dada a (pinturas, desenhos, fotografias, diagramas, gravuras,
imagem no contexto da surdez Figura 5. filmes, entre outras). Alem disso, com o aporte da tec-
nologia, a relacß~ao entre texto e imagem ganha outra
Focando na quest~ao do alcance social do fen^ omeno sur- dimens~ao, uma vez que e possıvel o uso da multi-
dez, outro tipo de producß~ao encontrado s~ao os panfletos. modalidade.
Tais materiais n~ao eram utilizados diretamente na
educacß~ao de surdos, mas tinham por proposito a Rojo e Moura (2012) caracterizam textos como multi-
divulgacß~ao da surdez e a intencß~ao de orientar as pessoas modais quando apresentam muitas linguagens (ou semios-
quanto a forma mais adequada de conversar com as pes- es)”e que exigem capacidades e praticas de compreens~ao
soas surdas. Podemos observar essa tend^encia no panfleto e producß~ao de cada uma delas (multiletramentos) para
de 1899: Sinais familiares ou como falar com os surdos- fazer significar (p. 19)”. O conceito de multiletramento,
mudos. segundo os autores, envolve”a multiplicidade cultural das
populacß~oes e a multiplicidade semiotica de constituicß~ao
Muito util para permitir que qualquer pessoa fale dos textos por meio dos quais ela se informa e se comu-
com o surdo e mudo. Estas ilustracß~ oes foram espe- nica (p. 13)”. Neste sentido, alguns professores de surdos
cialmente feitas a partir de sinais de uso comum pelos t^em desenvolvido seu trabalho com base na multimodali-
surdos-mudos educados: n~ ao s
o para permitir que dade, tanto na escola bilıngue como na escola comum.
todos os mestres, pais e outros interessados no bem-
estar dos aflitos, para tornar-se perceptıvel para sur- Figueiredo e Guarinello (2013), ao discorrerem sobre uma
dos-mudos, sem escrita ou um interprete, mas tambem pratica pedagogica realizada na educacß~ao infantil com
para todos os que desejam dizer tais palavras total- criancßas em processo de aquisicß~ao da linguagem escrita,
mente sem atrair a atencß~ao dos outros desnecessaria- destacam algumas possibilidades no ^ambito do trabalho
mente. A lıngua de sinais e o alfabeto manual t^em com a multimodalidade. Entre os portadores de textos
sido usados h a cerca de 200 anos, e ainda s~ ao ensi- multimodais, encontram-se: vıdeos em lıngua de sinais,
nados em quase todas as escolas de surdos-mudos no blogs, fotologs, videologs, historias em quadrinhos
mundo civilizado. Eles podem ser facilmente aprendi- digitais (HQ), entre outros.
dos por qualquer pessoa de intelig^encia normal.
 1999, p. 237- traducß~
(REE, ao nossa) Figura 6. Diferentes portadores de textos e imagens podem ser uti-
lizados para o trabalho de alfabetizacß~ao e letramento,
Neste e nos outros casos apresentados, destaca-se o uso alem de contemplar diferentes areas do conhecimento.
do g^enero da imagem instrucional na educacß~ao de surdos. Diante de diferentes tipos de imagens disponıveis no

ª 2016 NASEN 793


14713802, 2016, S1, Downloaded from https://nasenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1471-3802.12217 by CAPES, Wiley Online Library on [14/05/2023]. See the Terms and Conditions (https://onlinelibrary.wiley.com/terms-and-conditions) on Wiley Online Library for rules of use; OA articles are governed by the applicable Creative Commons License
Journal of Research in Special Educational Needs, 16 789–794

ambiente escolar, cabe ao educador a selecß~ao, o planeja- Gombrich, E. H. (1999) The uses of images: studies in
mento e o encaminhamento do trabalho, tendo em vista the social function of art and visual communication.
que cada imagem atende a uma exig^encia funcional e, London: Phaidon.
desta forma, deve-se pensar em como cada significado e Hall, S. (2008) Isto significa isso, isso significa aquilo:
construıdo, interpretado e compreendido (HALL, 2008). guia de semiotica para iniciantes. S~ao Paulo: Rosari.
Lebedeff, T. (2010) Aprendendo a ler com outros olhos.
Nessa incurs~ao em busca de indıcios de imagens na Relatos de oficinas de letramento visual com
educacß~ao de surdos, vimos que a presencßa deste tipo professores surdos. Disponıvel em: http://
recurso democr atico perpassa diferentes seculos e acom- periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/
panha as tend^encias dos usos e sentidos passıveis por meio viewFile/1606/1489. Acesso em: 25 de mar. de 2015.
de sua constituicß~ao em diferentes epocas e sociedades. Oviedo, A. (2007) El libro Refugium Infirmorum
(Madrid, 1593), del monje franciscano Fray Melchor
Conflicts of interest de Yebra. Disponıvel em: http://www.cultura-sorda.eu/
A autora declara n~ao haver conflitos de interesse. resources/Yebra_REFUGIUM_INFIRMORUM_1593.
pdf. Acesso em: 25 de mar.de 2015.
Ree, J. (1999) I see a voice. New York: Metropolitan Books.
Reily, L. (2003) As imagens: o ludico e o absurdo no
Address for correspondence
Cassia Geciauskas Sofiato, ensino de arte para pre-escolares surdos. In I. R.
Universidade de S~ao Paulo, Faculdade de Educacß~ao. Silva, S. Kauchakje & Z. M. Gesueli (eds),
Avenida da Universidade Cidadania, surdez e linguagem: desafios de
Butant~a 05508040 - Sao Paulo, SP - Brasil Telefone: realidades, pp. 161–191. S~ao Paulo: Plexus Editora.
(11) 30913195 Reily, L. (2004) Escola inclusiva: linguagem e mediacß~ ao.
Email: cassiasofiato@usp.br
Campinas, SP: Papirus.
Reily, L. (2007) O papel da igreja nos primordios da
educacß~ao de surdos. Revista Brasileira de Educacß~ao
Especial. Rio de Janeiro, 12 (35), pp. 308–326.
Refer^encias bibliogr aficas Rojo, R. & Moura, E. (org.). (2012) Multiletramentos na
Banks, M. (2009) Dados visuais: para pesquisa escola. S~ao Paulo: Parabola Editorial.
qualitativa. Porto Alegre: Artmed. Sardelich, M. E. (2006) Leitura de imagens e cultura
BRASIL. (2005) BRASIL. Decreto n. 5.626, de 22 dez. visual: desenredando conceitos para a pratica
2005. Regulamenta a Lei n 10.436, de 24 de abril de educativa. Disponıvel em: http://www.iar.unicamp.br/
2002, que disp~ oe sobre a Lıngua Brasileira de Sinais - lab/luz/ld/Linguagem%20Visual/
Libras, e o art. 18 da Lei n 10.098, de 19 de dezembro leitura_de_imagens_e_cultura_visual.pdf. Acesso em:
de 2000. Brasılia: Diario Oficial da Uni~ao 23. dez. 21 de nov. de 2013.
Carvalho, P. V. (2007) Breve hist oria dos surdos no SKLIAR, Carlos. Perspectivas polıticas e pedagogicas da
mundo e em Portugal. Lisboa: Surd’Universo. educacß~ao bilıngue para surdos. In: SILVA, Shirley;
Figueiredo, L. C. & Guarinello, A. C. (2013) Literatura VIZIM, Marli. Educacß~ao Especial: multiplas leituras e
infantil e a multimodalidade no contexto da surdez: diferentes significados. Campinas: Mercado de Letras/
uma proposta de atuacß~ao. Disponıvel em: ALB, 2001.
http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/ Turazzi, M. I. (2009) Iconografia e patrim^onio: o
educacaoespecial/article/view/4404/pdf Acesso em: catalogo da exposicß~ao de Historia do Brasil e
31de mar. de 2015. fisionomia da nacß~ao. Rio de Janeiro: Fundacß~ao
GAMA, Flausino Jose da Iconographia dos signaes dos Biblioteca Nacional.
surdos mudos. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de WALKER, J. A.; CHAPLIN, S. Una introduccion a la
E. & S. Laemmert, 1875. cultura visual. Barcelona: Octaedro, 2002.

794 ª 2016 NASEN

You might also like