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DA APLICABILIDADE DAS CLASSIFICACOES PRELIMINARES NA ARTE RUPESTRE Niéde Guidon "Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Paris, e da Fundacéo Universidade Federal do Piaui. Retomamos neste artigo as classificagdes preliminares definidas nas publica- gées anteriores (Guidon, 1982 e Pessis 1982). A primeira classificagéo se fundamenta nas possibilidades de um reconhecimento imediato dos grafismos, Assim, teremos grafismos onde os tragos de identificacéo suscitaro da parte do observador um reconhecimento. Este reconhecimento pode per- mitir uma interpretagado imediata e indubitdvel ou, por falta de certos tragos essenciais, pode sugerir uma interpretacdo que exigiré pesquisas posteriores para ser defi Temos por conseguinte, grafismos de composigo reconheciveis e grafismos de re- conhecimento duvidoso. Outros grafismos desprovidos de tracos de identificacdo, os grafismos puros, néo permitem reconhecimento imediato e sua interpretacdo exige uma identificacéo anterior. E impossivel no caso da arte pré-histérica, ter certeza de chegar @ definir as chaves deste cédigo, e de obter as provas de que estas chaves séo corretas. Temos certeza de que chegaremos a levantar hipéteses sobre sua significagio, sobretudo, 117 quando os grafismos puros se encontram associados a grafismos de composicio, mas a possibilidade de decifrar 0 cédigo nos parece muito longinqua (1). E preciso evidenciar que néo consideramos como identificagéo, a classificagao de um grafismo como triangulo ou circulo, linha sinuosa ou simbolo complicado, Tra- tase, nestes casos, de falsas identificagdes que néo sdo vélidas senéo para quem as realizam, mas que nao podem, em nenhum caso, serem atribuidas ao homem pré-histé- fico, £ absurdo denominar estes grafismos pelos termos geométricos, a menos que se ‘considere que a geometria euclidiana era conhecida desde a Pré-histéria. Ao considerarmos a bibliografia sobre a arte préhistérica, verificamos que as descrigdes das figuras ditas “signos” ou figuras geométricas, utilizam os termos em- prestados da geometria, ou entdo, termos que so ligados a uma interpretagao da fi- gura, interpretagéo geralmente conjectural. Depois da leitura do conjunto das obras sobre arte rupestre sulamericana, o leitor estaré convencido que nao se encontra, em toda América do Sul, circulos, triangulo , linhas sinuosas, etc., ao lado de figuras “naturalistas”. Entretanto, é preciso notar que todos os autores consideram estes grafismos como “signos”, sem que nunca tenha sido dada a definigao deste termo, £ a mesma coisa no caso dos grafismos chamados “simbolos". Se considerarmos as diferentes concepgdes imputadas a estes termos (2), concluimos que eles supdem, sempre, uma significagdo que ndo 6 86 unicamente aquela devida a forma. Se os autores utilizam estas palavras, déo por consentimento a estes grafismos, a representago material de uma idéia, de um fato. Se tais grafismos tém esta significagao, poderiamos comparé-los @ palavras numa frase ou a letras de uma palavra. O painel realizado pelo homem pré- histérico tem, necessariamente, um caréter narrativo e conteria uma mensagem que 08 arquedlogos se esforcariam para decifrar. Tomemos entéio em consideragao, a titulo de exemplo, um ideograma chinés, € 0 coloquemos sobre a parede de um abrigo sob a rocha. Um arquedlogo vendo este painel, 0 copiaria ©, em seguida, analisaria os caracteres para fornecer uma descrigat propor uma tipologia. Se considerarmos que — 6 um simbolo chinés e = o é também, podemos imaginar 0 erro de classificacéo que o arquedlogo poderia cometer. Uma des- crigéo de uma pagina de escritura chinesa segundo 0 nosso concelto poderia fornecer varias paginas do tipo: temos dois bastdes, tendo & sua esquerda um quadrilétero com um ponto central, e & sua direita dois pontos que tocam as bordas de um triangulo, © qual se encontra dentro de um circulo barrado de um traco. Seria impossivel para um chinés, estabelecer a significagao dos caracteres descritos, pois a distancia entre 08 componentes © as relagdes de posi¢ao nao Ihe seriam fornecidas. Por outro lado, @ “tipologia” classificaria juntos todos os “quadriléteros preenchidos com riscos geo- métricos”, grave erro que 86 faria distanciarmo-nos da decifracdo procurada, Queremos evitar as descricbes confusas que se afastam da anélise de toda a literatura sobre arte parietal. Nao duvidamos do fato de que a arte rupestre tenha uma significagéo e que nao se trata de figuras jogadas ao acaso, sobre as paredes. Mas, 6 preciso admitir que 0 conhecimento da significacdo dessas figuras necessita outros passos de pesquisa. De inicio 6 preciso subscrever o fato que diante de uma parede pintada, se es- tabelece uma diviséo por painel, unidade criada pelo arquedlogo para decalcar as fi- 118 guras, sem poder afirmar que estes painéis so os desejados pelo homem pré-hist6- rico, Sobre 0 conjunto de uma parede pintada, pode haver diferentes painéis, cada um significando uma narrativa, mas pode ser também que o conjunto dos painéis, apesar de separados por certa distincia, néo so senéo uma s6 narrativa, 0 espaco vazio dei- xado por esses intervalos podem, eles mesmo, refletir uma significagdo. Por que seria impossivel que os painéis por exemplo, n° 1, 2, 3, contendo respectivamente uma cena de caca, uma cena de danga e uma linha de seis bastonetes, néo possam compor um ‘86 conjunto, que significaria que os cagadores partiram de longe, a seis dias de marcha para ume cacada destinada a obter a carne necesséria & realizacdo de uma festa ceri- monial? © dominio das conjecturas é de tal forma invadido pelos especialistas em arte pré-histérica que uma suposi¢éo a mais no deveria despertar nenhum temor. A descri¢éo de uma pagina de escritura chinesa, segundo 0 nosso conceito seria considerada por um chinés, completamente inteligivel, e nunca poderia restabelecer a significacdo dos caracteres descritos. No entanto, esta conjectura nos permite sublinhar a inutilidade de toda descri- 40 na qual no se leve em conta uma série de tracos de identificacdo essenciais. A enumeragao dos caracteres que compiem os “signos", as “figuras geométricas” ou os “simbolos”, ndo sao fiéis nem exatas. E suficiente para comprovarmos, ¢xaminar as ilustragdes das obras sobre arte pré-histdrica. Poderemos dessa forma ver que a de- nominagao “triangulo", engloba uma série de figuras mais ou menos préximas dessa for- ma geométrica; que “tragos curvilineos" designam uma variedade imensa de linhas: que, sobre a designaggo de “circulos concéntricos", se alinham dots, trés, n circulos diversamente concéntricos; que o termo “sol” concerne uma gama de circulos, cuja esfericidade 6 varidvel, ou de semi-circulos, tendo dois, trés, ou n raios divergentes, em direcdo ao exterior, Sao classificados uniformemente como pontos: um pequeno ponto Isolado, um ponto grosso. que poderé ser um disco, uma linha de pontos, um conjunto de pontos, sem forma prépria, um conjunto de pontos tendo uma forma definida. Nota-se uma certa preocupacéo no que concerne & descrigdo morfolégica das figuras e animais. A tipologia classifica separadamente as “figuras antropomérficas fi- liformes”, as “figuras antropomorficas globulares”, etc., mas considera que meandro 6 uma classificacdo suficiente para significar uma grande variedade de tracos medndri- cos. Na plancha n2 1 fizemos suceder algumas figuras que ilustram esta diversidade, oculta pelos autores sobre vagas descrigdes, desprovidas de precisdo. Os especialistas europeus poderdo melhor perceber a problemética colocada se nés chamarmos a sua atenc&o para as descricdes do género pectiformes ou tectiformes, Dentro dessas duas classes de figuras, quanta variedade? Heverd duas idénticas? Os pectiniformes, com trés, quatro, seis ou dez tragos, teriam uma mesma significagéo? Por que entéo té-los feitos diferentes? Nés ndo insistimos sobre a diversidade dos tectiformes e outras figu- ras bastentes conhecidas da arte rupestre européia. Um outro trago 6 omitido nas descrigdes: qual é o lugar na composicio de um grafismo puro ou “signo”, “figura geométrica”, “simbolo”, quando ele aparece s6? Tem ele a mesma significagdo associada a outros grafismos puros ou a figura “natura- listas"? Um ponto ou “tridigito” isolado associado junto a outros grafismos puros, pré- ximo de uma figura humana, ou sobre a garupa de um cervideo tem sempre uma mesma significagéo, se consideramos as publicagées especializadas. Pode-se afirmar que 2 marca de uma mo, posta sobre uma parede, tem o mesmo valor que uma mao im- pressa sobre um cavalo? Uma sucessdo de pontos alinhados sobre a parede de uma pas- 119 sagem dificil no interior de uma gruta, significaria a mesma coisa que pontos isolados sobre um teto ou superpostcs a uma outra figura? E coisa mais ainda espantosa, quando o autor da a descrigao de um painel ¢ a associagao entre as diferentes classes de grafismos, todas as figuras so classifica- das como um mesmo tipo, com uma significagao igual, independentemente do seu lugar na composigao. Para nés, isso nos levaria a considerar que uma virgula, numa obra li- terdria, tem 0 mesmo valor que uma virgula numa operagdo matemética, ou melhor ainda, que © significado de certas palavras 6 equivalente ao fato de que eles sao escri- tos da mesma form: Nunca se faz mengdo do espago que separa os diferentes grafismos descritos, ¢ este espago deve ter um peso na significagao, se nés admitirmos que as figuras rupes- tres tém uma significagao. Essas so as razées que colocamos para reflexdo sobre o problema da descri- g40 e da classificagao dos grafismos puros. Ndo hé nenhuma proposicaio de classifica- do satisfatéria e nenhuma férmula descritiva aceitavel. Entre as proposigdes que descartamos se encontram aquelas que utilizamos nos nossos trabalhos anteriores, Podemos voltar @ nossa classificagdo preliminar depois dessa digressio expli- cativa. © “corpus” 6, pois, dividido em trés classes: — grafismos de reconhecimento imediato, que compreendem para a regio con- siderada as figuras humanas, animais, vegetais e objetos possuindo 0 conjun- to m‘nimo de tragos de identificagéo, definidos como essencial; — grafismos de reconhecimento diferenciado, este reconhecimento podendo nao se tornar jamais efetivo, que compreende as figuras animais ou humanas hi- potéticas, mas elas tém o suficiente para sugerir uma identificacdo que deve em seguida ser posta prova; — grafismos puros, desprovidos de tracos de identificagao reconheciveis pelo pesquisador. Sustentamos que toda classificagéo e toda codificagéo de grafismos puros sfo inutilizéveis como instrumentos de trabalho. Utilizamos o grafismo mesmo como des- crigao a fim de evitar toda enumeragdo escrita confusa. Vejamos como consideramos 0 tratamento destes grafismos puros. © primeiro critério que deve ser definido a fim de permitir a anélise é aquele da unidade. Se no caso de um grafismo de composicao, a unidade 6 conhecida, neste de grafismos puros, esta delimitacio 6 menos evidente, sobretudo quando estes apa- recem como formando um conjunto, Como estabelecer que um circulo e uma reta ndo constituem uma unidade ou ainda se outras associagées nao devem ser consideradas como uma s6 figura? (Lamina 2) Estabelecemos como critério determinante aquele que nos parece ser o Unico incontestavel: um grafismo puro s6 seré considerado como unidade se ele aparece $6, isolado, ao menos uma vez. O caractere de unidade sera entdo estabelecido. Conside- ramos como unidade todo grafismo idéntico, mesmo quando este ultimo aparega asso- do a outras representagées. Sabemos que neste tltimo caso podera ter uma outra significagao, mas consideramos sua unidade morfolégica como adquirida. 120 No caso de grafismo puro que no aparece jamais isolado, consideramos que nao existe nenhum dado que justifique o isolamento de unidades. Tomemos as laminas 2 e 4 como exemplos: todo recorte ser arbitrério e poderé impedir o reconhecimento da mensagem. A solugao adotada 6 a anélise do conjunto do painel como uma s6 composicéo; mesmo se considerarmos o numero de diferentes grafismos componentes, a andlise 0s considera como componentes de um conjunto sem jamais os isolar. Desde que as unidades gréficas sao definidas e que elas integram um conjunto, © necessério representé-la a fim de poder verificar no fim da andlise se existe possi: veis variagdes na posic¢éo relativa dos grafismos componentes de um conjunto, ou ain- da se néo ha grafismo equivalentes de grafismos intercambiado. Propomos a lamina 5, como exemplo de grafismos intercambiados. Utilizamos para as anélises, fichas de figuras, redugdes fotograficas do conjunto dos painéis e também os filmes. Estes ultimos dao uma visao de conjunto das figuras nto seu contexto sobre o suporte rochoso, Os filmes permitem a visualidade do tipo de cena e de suas dimensoes. Tratase do documento que fornece o maior numero de informagGes, pols ele nos permite o acesso no somente aos dados de registro central, mes também aos do registro exterior. Se o problema do estabelecimento de unidade ndo se coloca no caso dos grafis- mos de composic&o com reconhecimento diferenciado, as observagdes que fizemos no que concemne a descrigéo dos grafismos puros, so vilidas para as duas classes. Tomamos por exemplo 0 caso das figuras humanas: em todas as obras encontra- mos descricées indicando que o sitio tal ou o painel nimero X, tem n figuras antropo- morfas. Porém, se analisarmos a lamina 6, verificaremos que as figuras humanas repre- sentadas neste painel so muito diferentes do ponto de vista morfolégico. Essa varia- G0 ndo é sempre o resultado de uma diferenca cultural, portanto, estilistica. Ela pode tembém ser o resultado de uma significacao diversa. A mesma coisa é valida para as representagdes de animais, vegetais ou de obje- tos: n&o 6 suficiente citar um cervideo, um grupo de emas ou uma fila de homens trans- portando um bastao na mao, & necessério detalhar a descrigao e ai também a linguagem escrita fracassa: preciso ver a reprodugéo do painel de anélise, se quizermos chegar uma classificagao. Certamente depois de ter analisado 0 conjunto do “corpus”, sera possivel, a par- tir da sintese final, estabelecer sub-grupos morfolégicos, que sero significativos, desde que eles foram determinados ndo somente em fungdo da forma. mas também tendo em vista sua colocacéo na composic¢o do conjunto. As sub-divisées no interior da classe (por exemplo: figuras antropomorfas, figu: ras de animais, etc.), constituem os grupos, os quais se divid.m em sub-grupos (cer- videos, emas, etc.). Depois de uma primeira classificagio, separando as diferentes categorias de grafismos, das informacdes sobre as técnicas de execugéo e da composicao, assim como os dados do registro exterior, seré possivel passar a classificacdo de segundo nivel, estabelecendo as tradicbes, sub-tradig6es e estilos. 121 NOTAS (1) Ao nos referirmos 2 um cédigo, atribuimos, implicitamente, a estes grafismos uma significagao. Nao é necessério insistir sobre o fato que esta arte parietal nfo € resultado de um passatempo nem de um jogo. (2) Seguem algumas definig5es que encontramos em diferentes obras de referéncia. ‘SIGNO : — Coisa concebida que permite afirmar com maior ou menor certeza, a exis- téncia ou a veracidade de uma outra coisa, & qual ela é geralmente associada, Elemento ou cardcter (de uma pessoa, de uma coisa) que permite identificd-la. Objeto material simples (figura, gesto,, cor) que, por relacéo natural ou convengéo, é tomado, numa dada sociedade, para ocupar uma realidade complexa. Movimento voluntério, imaginado ©u convencionado, destinado a comunicar-se com qualquer um, a informar qualquer coisa. (cf. Le Robert — Dictionnaire alphabétique et analogique de la langue francaise, 1981, Paris). — Percepgao atual justificando, de manelra mais ou menos segura, uma afir- magao relativa a uma outra coisa (e néo somente susceptivel de evocar uma represen. tagio pelo jogo da lembranca ou assoclagéo de idéia). Acdo exterior e perceptivel des- tinada a comunicar uma voligéo: “Fazer sinal de voltar”. Objeto material, figura ou som, no lugar de uma coisa ausente ou impossivel de perceber, e servindo, seja lem- brar ao espirito, seja a combinar-se com outros signos do mesmo género para efetuar operecdes sobre as relacées das coisas significadas. Signos naturais, aqueles cuja re- lego com a coisa significada s6 resulta das leis da natureza. Signos expressivos, que manifestam naturaimente estado ou movimentos do espirito. Signos artificiais, onde a relacéo com a coisa significada, repousa sobre uma decisio voluntdria, 0 mais fre- quente coletivo. (cf. Lanlande, A. 1960: Vocabulaire technique et critique de la Phi- losophie). — Indice, marca, marca distintiva; aquilo que serve para representar, manifes- tagao exterior do que se pensa, do que se vé. (Cf. Petit Larousse, 1958) — Indice de uma coisa presente, passada ou futura, Marca distintiva. Aquilo que serve para representar uma coisa. Demonstracéo exterior para conhecer o que se pensa, o que se vé. (Cf. Littré, 1974) ‘SIMBOLO : — Objeto ou fato natural de cardter imaginério que evoca, por sua forma ou sua natureza, uma associagéo de idéias “naturals” (num grupo social dado) com qual- quer coisa de abstrato ou ausente. Aquilo que em virtude de uma convencdo arbitréria corresponde & uma coisa ou 2 uma operacéo que ela designa. (Cf. Dictionnaire alpha- bétique et analogique de la langue francaise, 1981, Paris). — 0 que representa outra coisa em virtude de uma correspondéncia analdgica. Se diz de todo signo concreto evocando (por uma relacao natural) alguma coisa de ausente ou impossivel de perceber. Sistema continuado de termos onde cada um re- presente um elemento de um outro sistema, (Cf. Lalande, A., 1980): Vocabulaire tecni- que et critique de la Philosophie). 122 — Ser ou objeto que representa uma coisa abstrata, que 6 a imagem de uma coisa. Todo signo convencional abreviativo. (Cf. Petit Larousse, 1958). Como os especialistas em arte rupestre utilizam frequentemente a palavra “sig- nificagéo" sem a definir, nés achamos interessante citar aqui a definigéo proposta por Lalande (1930): Fungao dos signos, 0 que um signo representa, sentido de uma pala- vra, de um frase. 123 i UV ha — —_— PLANCHE Oe TOCA 00 PARAGUATO TOCA DA ENTRADA DO PAJAU Ae ey e TOCA DO CALDEIRAO 00 RODRIGUES 1 4 Wi TOCA oo SITIO DO HEIO 0 ey 10 Tock 00 cABOCLINHO 127

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