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Prefeitura de Raposa-MA

Guarda Municipal

Noções de Direito Administrativo: Estado, Governo e Administração Pública: conceitos, elementos,


poderes, natureza, fins e princípios; ........................................................................................................ 1
Direito Administrativo: conceito, fontes e princípios; ......................................................................... 12
Ato Administrativo: Conceito, requisitos, atributos, classificação e espécies; Invalidação, anulação e
revogação; Prescrição. .......................................................................................................................... 21
Noções de Direito Constitucional: Dos Princípios Fundamentais (Art. 1º ao 4º); ............................... 34
Dos Direitos e Garantias Fundamentais (Art. 5º ao 11); .................................................................... 40
Da Organização do Estado (Art. 18 a 31; 37 a 41); ........................................................................... 41
Da Segurança Pública (Art. 144). Os artigos em referência são da Constituição Federal de 1988. .. 98
Noções de Direito Penal: Dos Crimes contra a Pessoa e contra o Patrimônio (Art. 121 ao 183); .... 105
Dos Crimes contra a Administração Pública (Art. 312 ao 337-A); Os artigos em referência são do
Código Penal. ...................................................................................................................................... 178
Legislação Específica: Lei Federal Nº 4.898/1965 (Lei do Abuso de Autoridade): Art. 1º ao 9º........ 203
Lei Federal Nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente): Art. 1º ao 18; Art. 60 ao 69; Art. 74
ao 85; Art. 98 ao 114. .......................................................................................................................... 206
Lei Federal Nº 11.343/2006 (Lei das Drogas). ................................................................................ 279

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Noções de Direito Administrativo: Estado, Governo e Administração Pública:
conceitos, elementos, poderes, natureza, fins e princípios;

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foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida
conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente
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ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: CONCEITOS, ELEMENTOS, PODERES E


ORGANIZAÇÃO; NATUREZA, FINS E PRINCÍPIOS

Entende-se o Estado como comunidade, soberania e nação, para utilizarmos categorias de hoje, dado
que o Estado é ao mesmo tempo Estado-comunidade, ou república, Estado-aparelho, ou principado, e
comunidade de gerações, ou nação. Por Estado entende-se a unidade administrativa de um território.
Não existe Estado sem território. O Estado é formado pelo conjunto de instituições públicas que
representam, organizam e atendem (ao menos em tese) os anseios da população que habita o seu
território. Entre essas instituições, podemos citar o governo, as escolas, as prisões, os hospitais públicos,
o exército, dentre outras.

Estado

É pessoa jurídica territorial soberana. O estado soberano, traz como regra, um governo que será o
elemento condutor, o povo que irá representar o componente humano e o território que é o espaço físico
que ele ocupa.
Compõem o território: solo, subsolo, águas interiores, o mar territorial e o espaço aéreo.
Quanto ao campo de atuação do Estado, este pode ocorrer no direito público ou no direito privado,
carregando consigo, a qualidade de Pessoa Jurídica de Direito Público, fazendo com que a teoria da
dupla personalidade do Estado já não seja mais assunto a ser discutido.
Foi com a evolução da noção do Estado que surgiu a figura do Estado de Direito, que traz a ideia de
que a Administração Pública, obedece ao direito posto, além dos demais sujeitos de direito que compõem
a sociedade, de modo resumido, entende-se que o Estado de Direito se submete ao regime de direito que
fora por ele mesmo instituído.
Soberania é o poder supremo. No âmbito interno refere-se à capacidade de autodeterminação e, no
âmbito externo, é o privilégio de receber tratamento igualitário perante os outros países.
Nos Estados modernos ganha forças no Poder Constituinte, tendo em vista que ela envolve o poder
de alterar uma lei fundamental, como por exemplo a Constituição do Estado.
É entendida como a propriedade que tem um Estado de ser uma ordem suprema que deve a sua
validade a qualquer outra ordem superior. Na maioria das constituições trata-se de um poder escrito.
Sociedade é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, preocupações e costumes, e que
interagem entre si constituindo uma comunidade.
Território é a base espacial do poder jurisdicional do Estado onde este exerce o poder coercitivo
estatal sobre os indivíduos humanos, sendo materialmente composto pela terra firme, incluindo o subsolo
e as águas internas (rios, lagos e mares internos), pelo mar territorial, pela plataforma continental e pelo
espaço aéreo.
Povo é a população do Estado, considerada pelo aspecto puramente jurídico. É o grupo humano
encarado na sua integração numa ordem estatal determinada; é o conjunto de indivíduos sujeitos às
mesmas leis, são os súditos, os cidadãos de um mesmo Estado, detentores de direitos e deveres.
Nação é um grupo de indivíduos que se sentem unidos pela origem comum, pelos interesses comuns,
e principalmente, por ideias e princípios comuns. É uma comunidade de consciência, unidas por um
sentimento complexo, indefinível e poderosíssimo: o patriotismo.
Segundo Goffredo Telles Jr. A nação é entendida como a sociedade política cuja ideia a realizar é a
de constituir a mais alta condição social para as entidades que ela encerra melhor se aproximem de seus
respectivos fins.1

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Palaia, Nelson. Noções Essenciais de Direito. Editora: Saraiva,2011.

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A nação é composta por ideia de bem comum e de ordem jurídica e por um povo que vive em
comunhão, mesmo que obedecendo essa nação.

Administração pública

É a forma como o Estado governa, ou seja, como executa as suas atividades para o bem estar de seu
povo. Lembrando que povo são os habitantes de um determinado território. É organizada política, social
e juridicamente, ocupa um território definido, onde normalmente a lei máxima é uma constituição escrita,
e dirigida por um governo que possui soberania reconhecida tanto interna como externamente. Um Estado
soberano é sintetizado pela máxima: um governo, um povo, um território. O Estado é responsável pela
organização e pelo controle social, pois detém, segundo Max Weber, o monopólio da violência legítima
(coerção, especialmente a legal).
Em sentido formal, orgânico ou subjetivo, designa o conjunto de órgãos e outros agentes estatais, que
estejam no exercício da função administrativa, independentemente do poder a que pertençam (Poder
Executivo, Judiciário ou Legislativo ou a qualquer outro organismo estatal), devendo neste caso, ser
escrita em letra maiúscula. (Administração).
Já a administração em sentido material ou objetivo, acaba se confundindo com a função administrativa,
e pode ser considerada como a atividade administrativa realizada pelo Estado, que vai em direção à
defesa concreta do interesse público. Deve ser escrita com letra minúscula (administração).
A doutrina moderna considera quatro tarefas precípuas da Administração Pública, que são: a prestação
de serviços públicos, o exercício do poder de polícia, a regulação das atividades de interesse público e o
controle da atuação do Estado.
Desse modo, podemos entender a atividade administrativa como sendo aquela voltada para o bem
toda a coletividade, desenvolvida pelo Estado com a finalidade de privilegiar a coisa pública e as
necessidades da coletividade. A função administrativa é considerada um múnus público, que configura
uma obrigação ou dever para o administrador público que não será livre para atuar, já que deve
obediência ao direito posto, para buscar o interesse coletivo.

Governo

É o conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem jurídica e da administração pública. A


palavra governo tem dois sentidos, coletivo e singular. O primeiro, como conjunto de órgãos que orientam
a vida política do Estado. O segundo, como poder executivo, órgão que exerce a função mais ativa na
direção dos negócios públicos. É um conjunto particular de pessoas que, em qualquer tempo, ocupam
posições de autoridade dentro de um Estado, que tem o objetivo de regrar uma sociedade política e
exercer autoridade. Neste sentido, os governos se revezam regularmente, ao passo que o Estado perdura
e só pode ser mudado com dificuldade e muito lentamente. O tamanho do governo vai variar de acordo
com o tamanho do Estado, e ele pode ser local, regional ou nacional.
O governo é a instância máxima de administração executiva, geralmente reconhecida como a liderança
de um Estado ou uma nação. É formado por dirigentes executivos do Estado e ministros.
Governo x Estado Os conceitos de Estado e Governo não podem ser confundidos, já que o Estado é
um povo situado em determinado território, que se sujeita a um governo. Assim merecem notoriedade:
povo, território e governo.
O governo é o elemento formador do Estado, não podendo com este se confundir. Pode-se dizer que
o governo é a cúpula diretiva do Estado que se organiza sob uma ordem jurídica por ele posta, a qual
consiste no complexo de regras de direito baseadas e fundadas na Constituição Federal.2
Com o decorrer dos tempos, a palavra governo, acabou sofrendo fortes mudanças, de modo que a
concepção clássica entendia que o governo era:

Sinônimo de Estado + somatória dos 3 poderes

Hoje essa ideia acabou sofrendo alterações, de forma que o governo, em sentido subjetivo é a cúpula
diretiva do Estado, que se responsabiliza pelo caminho dado as atividades estatais, eis que podemos
considerar, que nada mais é do que o conjunto de poderes e órgãos constitucionais
A forma de governo é a maneira como se dá a instituição do poder na sociedade e como se dá a
relação entre governantes e governados. Existem diversos tipos de governo, como anarquismo (quando
existe a ausência ou falta de governo), democracia (os cidadãos elegíveis participam igualmente),

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Carvalho, Matheus. Manual de Direito Administrativo, editora: Jus Podivm , 2ª edição, 2015.

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ditadura (não há participação popular), monarquia (chefe de governo se mantém no cargo até a morte),
oligarquia (poder político concentrado em um pequeno número de pessoas), tirania (utilizada
normalmente em situações excepcionais) e outros.
O sistema de governo não pode ser confundido com a forma de governo, pois a forma é o modo
como se relacionam os poderes e o sistema de governo é a maneira como o poder político é dividido e
exercido no âmbito de um Estado.
Segundo o jurista italiano Norberto Bobbio, a primeira vez que a palavra “estado” foi utilizada, com o
seu sentido contemporâneo, foi no livro Arte da Guerra, do imperador e general que fundou a dinastia dos
Sun Tzu e posteriormente no livro denominado O Príncipe, do diplomata e militar Nicolau Maquiavel.
Normalmente, grafa-se o vocábulo com letra maiúscula, a fim de diferenciá-lo de seus homônimos. Há,
entretanto, uma corrente de filósofos que defende sua escrita com minúscula, como em cidadania ou civil.
O objetivo não é ferir a definição tradicional de Estado, mas equiparar a grafia a outros termos não menos
importantes.
O reconhecimento da independência de um Estado em relação aos outros, permitindo ao primeiro
firmar acordos internacionais, é uma condição fundamental para estabelecimento da soberania. O Estado
pode também ser definido em termos de condições internas, especificamente (conforme descreveu Max
Weber, entre outros) no que diz respeito à instituição do monopólio do uso da violência.
O Estado é uma organização que conta com o monopólio da violência legítima (uso da força), pelo que
dispõe de instituições como as forças armadas, a polícia e os tribunais, pelo fato de assumir as funções
de governo, defesa, segurança e justiça, entre outras, num determinado território. O Estado de Direito é
aquele que enfoca a sua organização na divisão de poderes (Executivo, Legislativo e Judicial). É
importante esclarecer que os conceitos de Estado e governo não são sinônimos. Os governantes são
aqueles que, temporariamente, exercem cargos nas instituições que conformam o Estado.
O conceito parece ter origem nas antigas cidades-estados que se desenvolveram na Antiguidade, em
várias regiões do mundo, como na Suméria, na América Central e no Extremo Oriente. Em muitos casos,
estas cidades-estados foram a certa altura da história colocadas sob a tutela do governo de um reino ou
império, seja por interesses econômicos mútuos, seja por dominação pela força.
O Estado como unidade política básica no mundo tem, em parte, vindo a evoluir no sentido de um
supranacionalismo, na forma de organizações regionais, como é o caso da União Europeia. Os governos
são transitórios e apresentam diferentes formas, que variam de um lugar para outro, enquanto os Estados
são permanentes (ao menos enquanto durar o atual sistema capitalista).
Dessa forma, o governo seria apenas uma das instituições que compõem o Estado, com a função de
administrá-lo. Várias correntes filosóficas opõem-se à existência do Estado tal como o conhecemos. O
anarquismo, por exemplo, promove o total desaparecimento do Estado e a respectiva substituição pelas
associações livres e organizações participativas.
O marxismo, em contrapartida, considera que o Estado é uma ferramenta de domínio que se encontra
sob o controle da classe dominante. Como tal, aspira à sua destruição para que seja substituído por um
Estado Operário como parte constituinte da transição para o socialismo e o comunismo, onde já não será
necessário um Estado, uma vez superada a luta de classes (burguesia x proletariado).
A Nação, por outro lado, tem seu conceito ligado à identidade, à cultura e aos aspectos históricos. Por
nação entende-se um agrupamento ou organização de uma sociedade que partilha dos mesmos
costumes, características, idioma, cultura e que já possuem uma determinada tradição histórica. Alguns
autores chegam a afirmar que o Estado seria a institucionalização da Nação.
Entretanto, observa-se a existência de Estados com muitas nações – ou multinacionais – e algumas
nações sem Estado constituído. Existem nações sem Estado (nação palestina, nação basca) e Estados
que reúnem e abarcam várias nações. No Direito Administrativo contemporâneo, Governo é a expressão
que define o núcleo diretivo do Estado, alterável por eleições e responsável pela gerência dos interesses
estatais e pelo exercício do poder político. É a organização e autoridade governante de uma unidade
política. O poder de regrar uma sociedade política e o aparato pelo qual o corpo governante funciona e
exerce autoridade. O governo é usualmente utilizado para designar a instância máxima de administração
executiva, geralmente reconhecida como a liderança de um Estado ou uma nação. Os Estados que
possuem tamanhos variados podem ter vários níveis de Governo conforme a organização política daquele
país, como por exemplo o Governo local, regional e nacional. A forma de governo é a política base que
define como o Estado exerce o poder sobre a sociedade. O sistema de governo é a divisão do poder no
Estado. Há ainda o regime político, que é uma relação entre o governante e a força exercida entre ele.

Aristóteles (384-322 a.C.) na obra Política, dividiu o governo de três formas:

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Monarquia: cujo governo tem caráter hereditário, visa o bem comum, como a obediência ás leis e ás
tradições. O governo cabe a uma única pessoa, que possui poderes não só para fazer as leis, como
também para aplicá-las. A forma distorcida da monarquia é a Tirania, na qual o governo é de um homem
só que ascende ao poder por meios ilícitos.
A escolha do monarca é feita com base em motivos históricos tradicionais, de modo que ele não se
preocupa em aparecer como representante da vontade do povo. Seu poder é extraordinário, sem ter
vínculo entre a sua escolha e a vontade dos governados.
O ponto importante é que ele não respondia pelos seus atos e podia ainda se tornar um imperador.

São formas de monarquia: absoluta e constitucional.

Na absoluta, não há limites jurídicos para o monarca, na constitucional, o rei sofre algumas limitações
jurídicas, mesmo que seja considerado o representante mais alto do Estado.
A Monarquia Constitucional se subdivide em pura (poder exercido diretamente pelo rei) e parlamentar
(o poder do rei é exercido através de seus ministros).
OBS: a monarquia mais conhecida é a hereditária, já que a escolha do sucessor, obedece à linha
hereditária, caracterizando-se pela vitaliciedade, hereditariedade e irresponsabilidade.
Surge a República, como oposta à Monarquia. O chefe do Estado passa a ser temporário e não
vitalício, eleito pelos governados, quer dizer, o povo, não tendo mais que se falar em hereditariedade.
Diferente do monarca, o chefe do Estado passa a ser responsável por seus atos, podendo ser processado,
com a perda do seu mandato.
A forma Republicana de governo existe em nosso país desde a Constituição de 1891. As
características enraizadas das regalias e prerrogativas de certas classes, com a vitaliciedade do soberano
e o nepotismo, não mais perduraria.
Aristocracia: o Estado é governado por um pequeno grupo de pessoas, que em tese, seria o grupo
ou classe mais apta a conduzir o Estado.
Na oligarquia quem governa são os mais poderosos, geralmente, os mais ricos, possuidores de títulos
de nobreza ou que conquistaram o poder pela força.
Segundo os filósofos gregos Platão e Aristóteles apenas os melhores cidadãos, os que fossem
superiores moral e intelectualmente, estariam aptos a atender os interesses da coletividade.
A aristocracia nasce como uma forma de governo que era contra à tirania e a oligarquia, porém a forma
de avaliar quem eram os melhores, acabou tendo caráter subjetivo, de modo que foi confundida com a
oligarquia.
São exemplos: os patrícios na Roma e nobres da Europa, no período da Idade Média.
Politéia: governo do povo, exercido com respeito ás leis e em benefício de todos. A forma distorcida
da Politéia é a Democracia, na qual a maioria exerce o poder, favorecendo preferencialmente os pobres
(POLIZEL, 2010). Apresentamos as formas puras de governo (Monarquia, Aristocracia e Politéia) que
forma propostas por Aristóteles, e também as formas impuras (Tirania, Oligarquia e Democracia).

No entanto, a Democracia, no ocidente, tem uma conotação mais expandida, por exemplo, para
Lincoln, a democracia “é o regime do povo, pelo povo e para o povo”. Hans Kelsen expande essa ideia
na liberdade de consciência, trabalho, religião, igualdade etc.
Podemos considerar o Estado moderno como uma sociedade com base territorial, dividida em
governantes e governados, com ambições, dentro do território que lhe é reconhecido e com supremacia
sobre todas as demais instituições. Estão sob seu domínio todas as formas de atividade cujo controle ele
julgue conveniente. Surge no auge da monopolização do poder do governante do estado.
Segundo Norbert Elias, o governo monopolista, fundamentado nos monopólios da tributação e da
violência física, atingira assim, nesse estágio particular, como monopólio pessoal de um único indivíduo,
sua forma consumada. Era protegido por uma organização de vigilância muito eficiente. O rei latifundiário,
que distribuía terras ou dízimos, tornara-se o rei endinheirado, que distribuía salários, e este fato dava à
centralização um poder e uma solidez nunca alcançados antes. O poder das forças centrífugas havia sido
finalmente quebrado. Todos os possíveis rivais do governante monopolista viram-se reduzidos a uma
dependência institucionalmente forte de sua pessoa. Não mais em livre competição, mas apenas numa
competição controlada pelo monopólio, apenas um segmento da nobreza, o segmento cortesão, concorria
pelas oportunidades dispensadas pelo governante monopolista, e ele vivia ao mesmo tempo sob a
constante pressão de um exército de reserva formado pela aristocracia do interior do país e por elementos
em ascensão da burguesia.
A corte era a forma organizacional dessa competição restrita. Com o surgimento de uma classe social
e econômica, formada de moradores da cidade, homens livres, comerciantes, banqueiros, estudiosos,

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artesões, entre outras atribuições autônomas e sustentáveis, que conseguiram por meio de seus dotes e
por meio do pagamento de tributo de proteção aos senhores feudais formarem os burgos, vindo daí a
origem da expressão “burguês”. Este monopólio do poder, pelo soberano, afora a ingerência da Igreja, foi
evoluindo para o absolutismo ao mesmo tempo em que a classe burguesa igualmente evoluía, mas
achacada pelos altos tributos cobrados de todos os meios e de todos os lados, evoluindo para uma
situação, quem em torno do século XVIII já seria insustentável. Classifica-se a evolução do Estado de
Direito em:
a) Estado Liberal - Liberalismo é forma ao mesmo tempo racional e intuitiva de organização social em
que prevalece a vontade da maioria quanto à coisa pública, e que está livre de qualquer fundamento
filosófico ou religioso capaz de limitar ou impedir a liberdade individual e a igualdade de direitos, e no qual
o desenvolvimento e o bem estar social dependem da divisão do trabalho, do direito de propriedade, da
livre concorrência e do sentimento de fraternidade e responsabilidade filantrópica frente à diversidade de
aptidões e de recursos dos indivíduos. Surge com a revolução burguesa na França, suas características
básicas são a não intervenção do Estado na economia, igualdade formal, autonomia e divisão dos
poderes. A Constituição é tida como norma suprema e limitadora dos poderes públicos e garantidora de
direitos fundamentais individuais. Segundo parte da doutrina, nesse estado somente se fala nos direitos
de primeira geração que são aqueles que pregam a liberdade, também chamados de direitos individuais,
posto que protegem o cidadão contra os arbítrios e abusos do Estado.
b) Estado Social – Segundo La Bradbury (2006), a igualdade tão somente formal aplicada e o
absenteísmo do Estado Liberal em face das questões sociais, apenas serviram para expandir o
capitalismo, agravando a situação da classe trabalhadora, que passava a viver sob condições miseráveis.
O descompromisso com o aspecto social, agravado pela eclosão da Revolução Industrial, que submetia
o trabalhador a condições desumanas e degradantes, a ponto de algumas empresas exigirem o trabalho
diário do obreiro por doze horas ininterruptas, culminou com a Revolução Russa de 1917, conduzindo os
trabalhadores a se organizarem com o objetivo de resistir à exploração. Esse movimento configurava a
possibilidade de uma ruptura violenta com o Estado Liberal, devido à grande adesão de operários do
ocidente europeu. A burguesia, hesitante à expansão dos ideais pregados pela Revolução Russa, adotou
mecanismos que afastassem os trabalhadores da opção revolucionária, surgindo, então, o Estado Social,
com as seguintes características: intervenção do Estado na economia, aplicação do princípio da igualdade
material e realização da justiça social. A burguesia, agora detentora do poder político, passou a defender
o intervencionismo estatal no campo econômico e social, buscando acabar com a postura absenteísta do
Estado, preocupando-se com os aspectos sociais das classes desfavorecidas, conferindo-lhes uma
melhor qualidade de vida, com o único intuito de conter o avanço revolucionário. Para alcançar tal intento,
os capitalistas tiveram que substituir a igualdade formal (igualdade perante à lei), presente no Estado
Liberal, que apenas contribuiu para o aumento das distorções econômicas, pela igualdade material
(igualdade de fato), que almejava atingir a justiça social. O princípio da igualdade material ou substancial
não somente considera todas as pessoas abstratamente iguais perante a lei, mas se preocupa com a
realidade de fato, que reclama um tratamento desigual para as pessoas efetivamente desiguais, a fim de
que possam desenvolver as oportunidades que lhes assegura, abstratamente, a igualdade formal. Surge,
então, a necessidade de tratar desigualmente as pessoas desiguais, na medida de sua desigualdade. O
Estado Social (ou do Bem Estar), apesar de possuir uma finalidade diversa da estabelecida no Estado de
Direito, possuem afinidades, uma vez que utiliza do respeito aos direitos individuais, notadamente o da
liberdade, para construir os pilares que fundamentam a criação dos direitos sociais. Surgem, desta forma,
os “direitos de segunda geração”, que se situam no plano do ser, de conteúdo econômico e social, que
almejam melhorar as condições de vida e trabalho da população, exigindo do Estado uma atuação positiva
em prol dos explorados, compreendendo, dentre outros, o direito ao trabalho, à saúde, ao lazer, à
educação e à moradia, (La Bradbury, 2006). Carlos Ari Sundfeld sintetiza afirmando que: “O Estado torna-
se um Estado Social, positivamente atuante para ensejar o desenvolvimento (não o mero crescimento,
mas a elevação do nível cultural e a mudança social) e a realização da justiça social (é dizer, a extinção
das injustiças na divisão do produto econômico).”
c) Estado Democrático - Surge após a Segunda Guerra Mundial, dissociando-se das políticas
totalitárias como o nazismo e fascismo, sendo suas características principais a representatividade política
pelo voto do povo, detentor da soberania e uma Constituição não apenas limitadora de poderes e políticas
públicas, mas regulamentadora das prestações positivas do Estado em prol do cidadão e da coletividade.
Declara e assegura direitos fundamentais individuais e coletivos, tais como, direito a paz, ao meio
ambiente ecologicamente correto, às tutelas de liberdade do pensamento, expressão, autoria e
intimidade, o respeito e a autodeterminação dos povos, as políticas de reforma agrária e moradia popular,
os benefícios e aposentadorias previdenciários, a assistência social, entre outros, surgindo os direitos de
terceira geração e outros, denominados de quarta geração, ligados ao constante progresso científico e

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tecnológico contemporâneo e outros fenômenos políticos como a globalização e a unificação dos países,
de modo à regular a cibernética, a informática, a biogenética, entre outros.

Reforma do Estado brasileiro e de seu aparelho

A reforma da Administração Pública visa a eficiência dos serviços que são prestados para os cidadãos,
com maior qualidade. Visa-se a redução de custos ao mesmo tempo em que promove-se a revisão e
aperfeiçoamento das rotinas, com a desburocratização e aplicação de metas e indicadores de
desempenho.
A reforma do aparelho do Estado é fundamental para que se assegure a estabilidade do plano real. O
que o governo visa é impedir o aumento dos gastos, sem que haja a perda da qualidade e eficiência dos
serviços prestados.
Com a melhoria da eficiência exige-se também a descentralização dos serviços, aproximando-se da
sociedade e do cidadão, retirando do Estado as atividades que possam ser melhor executadas por
entidades públicas.
Com a reforma do Estado poderão ocorrer mudanças na Constituição, permitindo ainda a revisão de
leis e normas, aplicando-se novos instrumentos de gestão e organização da administração.

Organização político-administrativa

O Estado brasileiro compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos


autônomos, nos termos da Constituição. Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou
desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais,
mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito e do Congresso
Nacional, por lei complementar. A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios
far-se-á por lei estadual, dentro do período determinado por lei complementar federal e dependerá de
consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos
Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. Passemos ao estudo
específico da Administração Pública.

Separação dos Poderes

O Estado brasileiro adotou a tripartição de poderes, assim são seus poderes o Legislativo, o Executivo
e o Judiciário, conforme se infere da leitura do art. 2º da Constituição Federal:

“São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o


Judiciário.”.
a) Poder Executivo: No exercício de suas funções típicas, pratica atos de chefia do Estado, de
Governo e atos de administração, ou seja, administra e executa o ordenamento jurídico vigente. É uma
administração direita, pois não precisa ser provocada. Excepcionalmente, no exercício de função atípica,
tem o poder de legislar, por exemplo, via medida provisória.
b) Poder legislativo: No exercício de suas funções típicas, é de sua competência legislar de forma
geral e abstrata, ou seja, legislar para todos. Tem o poder de inovar o ordenamento jurídico. Em função
atípica, pode administrar internamente seus problemas.
c) Poder judiciário: No exercício de suas funções típicas, tem o poder jurisdicional, ou seja, poder de
julgar as lides, no caso concreto. Sua atuação depende de provocação, pois é inerte.
A partir do momento que a controvérsia é julgada em decisão transitada em julgado, é impossível
modificá-la.
Como vimos, o governo é o órgão responsável por conduzir os interesses de uma sociedade. Em
outras palavras, é o poder diretivo do Estado.
Importante destacar o conceito de governo dado por Alexandre Mazza: “... é a cúpula diretiva do
Estado, responsável pela condução dos altos interesses estatais e pelo poder político, e cuja composição
pode ser modificada mediante eleições.3

O Governo organiza-se em:


Ministérios: órgãos subordinados ao presidente da República e que auxiliam nas atividades do Poder
Executivo.

3
MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo/Alexandre Mazza. 4. Ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 49

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Secretarias: também são subordinadas à presidência da República e estão relacionadas a assuntos
de interesses sociais.
Conselhos: são responsáveis por recomendar diretrizes, tomar decisões relacionadas às políticas ou
administrar programas.
Agências reguladoras: fiscalizam os serviços públicos realizados pelas entidades privadas.

Pessoa Administrativa

É aquela que compõe a Administração Indireta, se vinculando a Administração Direta para realizarem
atividades de forma centralizada.

Princípios da administração pública

Como brevemente exposto acima, os princípios jurídicos orientam a interpretação e a aplicação de


outras normas. São verdadeiras diretrizes do ordenamento jurídico, guias de interpretação, às quais a
administração pública fica subordinada. Possuem um alto grau de generalidade e abstração, bem como
um profundo conteúdo axiológico e valorativo.
Os princípios da Administração Pública são regras que surgem como parâmetros para a interpretação
das demais normas jurídicas. Têm a função de oferecer coerência e harmonia para o ordenamento
jurídico. Encontram-se de maneira explícita ou não no texto da Constituição Federal. Os primeiros são,
por unanimidade, os chamados princípios expressos (ou explícitos), estão previstos no art. 37, caput, da
Constituição Federal. Os demais são os denominados princípios reconhecidos (ou implícitos), estes
variam de acordo com cada autor, sendo trabalhado, no presente estudo, apenas os princípios
reconhecidos pela doutrina majoritária e que são mais exigidos e concursos.
Assim, são os princípios expressos da Administração Pública os que estão inseridos no artigo 37
“caput” da Constituição Federal (CF): legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Perfazem um total de cinco princípios, podendo ser facilmente memorizados através da palavra LIMPE,
vejam:

L (legalidade);
I (impessoalidade);
M (moralidade);
P (publicidade); e
E (eficiência).

Esses princípios têm natureza meramente exemplificativa, posto que representam apenas o mínimo
que a Administração Pública deve perseguir quando do desempenho de suas atividades. Exemplos de
princípios implícitos: supremacia do interesse público, razoabilidade, motivação, segurança das relações
jurídicas.
Ressaltamos que não há hierarquia entre os princípios (expressos ou não), visto que tais diretrizes
devem ser aplicadas de forma harmoniosa. Assim, a aplicação de um princípio não exclui a aplicação de
outro e nem um princípio se sobrepõe ao outros.
Os princípios da Administração abrangem a Administração Pública direta e indireta de quaisquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 37 da CF/88).

1. Princípio da Legalidade: Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei (art. 5.º, II, da CF). O princípio da legalidade representa uma garantia para os
administrados, pois qualquer ato da Administração Pública somente terá validade se respaldado em lei.
Representa um limite para a atuação do Estado, visando à proteção do administrado em relação ao abuso
de poder.
O princípio em estudo apresenta um perfil diverso no campo do Direito Público e no campo do Direito
Privado. No Direito Privado, tendo em vista o interesse privado, as partes poderão fazer tudo o que a lei
não proíbe; no Direito Público, diferentemente, existe uma relação de subordinação perante a lei, ou seja,
só se pode fazer o que a lei expressamente autorizar.
Nesse caso, faz-se necessário o entendimento a respeito do ato vinculado e do ato discricionário, posto
que no ato vinculado o administrador está estritamente vinculado ao que diz a lei e no ato discricionário
o administrador possui uma certa margem de discricionariedade. Vejamos:

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a. No ato vinculado, o administrador não tem liberdade para decidir quanto à atuação. A lei previamente
estabelece um único comportamento possível a ser tomado pelo administrador no fato concreto; não
podendo haver juízo de valores, o administrador não poderá analisar a conveniência e a oportunidade do
ato.
b. Ato discricionário é aquele que, editado debaixo da lei, confere ao administrador a liberdade para
fazer um juízo de conveniência e oportunidade.
A diferença entre o ato vinculado e o ato discricionário está no grau de liberdade conferido ao
administrador.
Tanto o ato vinculado quanto o ato discricionário só poderão ser reapreciados pelo Judiciário no
tocante à sua legalidade, pois o judiciário não poderá intervir no juízo de valor e oportunidade da
Administração Pública.
Importante também destacar que o princípio da legalidade, no Direito Administrativo, apresenta
algumas exceções: Exemplo:
a. Medidas provisórias: são atos com força de lei que só podem ser editados em matéria de
relevância e urgência. Dessa forma, o administrado só se submeterá ao previsto em medida provisória
se elas forem editadas dentro dos parâmetros constitucionais, ou seja, se presentes os requisitos da
relevância e da urgência;
b. Estado de sítio e estado de defesa: são momentos de anormalidade institucional. Representam
restrições ao princípio da legalidade porque são instituídos por um decreto presidencial que poderá
obrigar a fazer ou deixar de fazer mesmo não sendo lei.

2. Princípio da Impessoalidade Significa que a Administração Pública não poderá atuar


discriminando pessoas de forma gratuita, a Administração Pública deve permanecer numa posição de
neutralidade em relação às pessoas privadas. A atividade administrativa deve ser destinada a todos os
administrados, sem discriminação nem favoritismo, constituindo assim um desdobramento do princípio
geral da igualdade, art. 5.º, caput, CF.
Ex.: Quando da contratação de serviços por meio de licitação, a Administração Pública deve estar
estritamente vinculada ao edital, as regras devem ser iguais para todos que queiram participar da licitação.

3. Princípio da Moralidade A atividade da Administração Pública deve obedecer não só à lei, mas
também à moral.
A Lei n. 8.429/92, no seu art. 9.º, apresentou, em caráter exemplificativo, as hipóteses de atos de
improbidade administrativa; esse artigo dispõe que todo aquele que objetivar algum tipo de vantagem
patrimonial indevida, em razão de cargo, mandato, emprego ou função que exerce, estará praticando ato
de improbidade administrativa. São exemplos:
1. Usar bens e equipamentos públicos com finalidade particular;
2. Intermediar liberação de verbas;
3. Estabelecer contratação direta quando a lei manda licitar;
4. Vender bem público abaixo do valor de mercado;
5. Adquirir bens acima do valor de mercado (superfaturamento).

Os atos de improbidade podem ser combatidos através de instrumentos postos à disposição dos
administrados, são eles;
1. Ação Popular, art. 5.º, LXXIII, da CF; e
2 Ação Civil Pública, Lei n. 7347/85, art. 1.º.

4. Princípio da Publicidade É o dever atribuído à Administração, de dar total transparência a todos


os atos que praticar, ou seja, como regra geral, nenhum ato administrativo pode ser sigiloso.
A regra do princípio que veda o sigilo comporta algumas exceções, como quando os atos e atividades
estiverem relacionados com a segurança nacional ou quando o conteúdo da informação for resguardado
por sigilo (art. 37, § 3.º, II, da CF/88).
A publicidade, entretanto, só será admitida se tiver fim educativo, informativo ou de orientação social,
proibindo-se a promoção pessoal de autoridades ou de servidores públicos por meio de aparecimento de
nomes, símbolos e imagens. Exemplo: É proibido placas de inauguração de praças com o nome do
prefeito.

5. Princípio da Eficiência A Emenda Constitucional nº 19 trouxe para o texto constitucional o princípio


da eficiência, que obrigou a Administração Pública a aperfeiçoar os serviços e as atividades que presta,
buscando otimização de resultados e visando atender o interesse público com maior eficiência.

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Para uma pessoa ingressar no serviço público, deve haver concurso público. A Constituição Federal
de 1988 dispõe quais os títulos e provas hábeis para o serviço público, a natureza e a complexidade do
cargo.
Para adquirir estabilidade, é necessária a eficiência (nomeação por concurso, estágio probatório etc).
E para perder a condição de servidor, é necessária sentença judicial transitada em julgado, processo
administrativo com ampla defesa e insuficiência de desempenho.

Há ainda outros princípios que a Administração Pública deve perseguir, dentre eles:

a) Princípio da Motivação: É o princípio mais importante, visto que sem a motivação não há o devido
processo legal.
No entanto, motivação, neste caso, nada tem a ver com aquele estado de ânimo. Motivar significa
mencionar o dispositivo legal aplicável ao caso concreto, relacionar os fatos que concretamente levaram
à aplicação daquele dispositivo legal.
Todos os atos administrativos devem ser motivados para que o Judiciário possa controlar o mérito do
ato administrativo quanto à sua legalidade. Para efetuar esse controle, devem-se observar os motivos
dos atos administrativos.
Hely Lopes Meirelles entende que o ato discricionário, editado sob a lei, confere ao administrador uma
margem de liberdade para fazer um juízo de conveniência e oportunidade, não sendo necessária a
motivação, porém, se houver tal motivação, o ato deverá condicionar-se à referida motivação. O
entendimento majoritário, no entanto, é de que, mesmo no ato discricionário, é necessária a motivação
para que se saiba qual o caminho adotado.

b) Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Particular: Sempre que houver


necessidade de satisfazer um interesse público, em detrimento de um interesse particular, prevalece o
interesse público. São as prerrogativas conferidas à Administração Pública, porque esta atua por conta
dos interesses públicos.
O administrador, para melhor se empenhar na busca do interesse público, possui direitos que
asseguram uma maior amplitude e segurança em suas relações.
No entanto, sempre que esses direitos forem utilizados para finalidade diversa do interesse público, o
administrador será responsabilizado e surgirá o abuso de poder.

c) Indisponibilidade do Interesse Público: Os bens e interesses públicos são indisponíveis, ou seja,


não pertencem à Administração ou a seus agentes, cabendo aos mesmos somente sua gestão em prol
da coletividade. Veda ao administrador quaisquer atos que impliquem renúncia de direitos da
Administração ou que, injustificadamente, onerem a sociedade.
Impõe limitações ao Estado, correspondendo a uma contrapartida às prerrogativas estatais,
decorrentes da supremacia do interesse público sobre o particular. Assim, o Estado tem o poder de
desapropriar um imóvel (prerrogativa decorrente da supremacia do interesse público), porém, deverá
indenizar, como regra o proprietário, respeitando o direito à propriedade (limitação imposta ao Estado).

d) Continuidade do Serviço Público: Os serviços públicos por serem prestados no interesse da


coletividade devem ser adequados e seu funcionamento não deve sofrer interrupções. A Lei 8.987/95
(estabelece normas gerais sobre as concessões e permissões de serviços públicos) em seu art. 6º, dispõe
que serviço público adequado é aquele que atende a alguns requisitos, dentre eles, o da continuidade.
Porém, devemos ressaltar que isto não se aplicará às interrupções por situações de emergência ou
após aviso prévio – nos casos de segurança, ordem técnica ou inadimplência do usuário.
Ainda como decorrência da aplicação de tal princípio, a CF, em seu art. 37, VII, impõe que os limites
ao exercício de greve do servidor público sejam estabelecidos em lei específica.

e) Probidade Administrativa: A conduta do administrador público deve ser honesta, pautada na boa
conduta e na boa-fé. Ganhou status constitucional com a atual Constituição de 1988. O art. 37, §4º traz
as consequências de um ato de improbidade administrativa e o art. 85, V, dispõe que é crime de
responsabilidade do Presidente da República a prática de atos que atentem contra a probidade
administrativa. A improbidade administrativa é regulamentada pela Lei 8.428/92.

f) Autotutela: Decorre do princípio da legalidade. Por esse princípio a Administração pode controlar
seus próprios atos, anulando os ilegais (controle de legalidade) e revogando os inconvenientes ou
inoportunos (controle de mérito). De forma sucinta, é o princípio que autoriza que a Administração Pública

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revise os seus atos e conserte os seus erros. Não deve ser confundido com a tutela administrativa que
representa a relação existente entre a Administração Direta e Indireta.

g) Razoabilidade e da Proporcionalidade: São tidos como princípios gerais de Direito, aplicáveis a


praticamente todos os ramos da ciência jurídica. No âmbito do Direito Administrativo encontram aplicação
especialmente no que concerne à prática de atos administrativos que impliquem restrição ou
condicionamento a direitos dos administrados ou imposição de sanções administrativas.
Funcionam como os maiores limitadores impostos à liberdade de atuação do administrador público, ou
seja, limitam a discricionariedade administrativa. Trata-se da aferição da adequação da conduta escolhida
pelo agente público à finalidade que a lei expressa.
Visa sempre analisar se a conduta do agente público foi razoável e se os fins atingidos foram
proporcionais a determinado caso em concreto.

h) Segurança Jurídica: O ordenamento jurídico vigente garante que a Administração deve interpretar
a norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada
aplicação retroativa de nova interpretação.
O princípio da segurança jurídica não veda que a Administração mude a interpretação dada
anteriormente sobre determinada norma administrativa, porém, veda que a Administração aplique
retroativamente essa nova interpretação.
Por força de tal princípio, por exemplo, veremos que a Administração Pública terá um prazo
decadencial de 5 anos para anular atos administrativos que beneficiem os seus destinatários, salvo se
comprovada a má-fé do administrador público.

Questões

01. (TRT /8ª Região (PA e AP) - Analista Judiciário - Área Administrativa – CESPE/2016). A
respeito dos elementos do Estado, assinale a opção correta.
(A) Povo, território e governo soberano são elementos indissociáveis do Estado.
(B) O Estado é um ente despersonalizado.
(C) São elementos do Estado o Poder Legislativo, o Poder Judiciário e o Poder Executivo.
(D) Os elementos do Estado podem se dividir em presidencialista ou parlamentarista.
(E) A União, o estado, os municípios e o Distrito Federal são elementos do Estado brasileiro.

02. (IF/AP - Auxiliar em Administração – FUNIVERSA/2016). No sistema de governo brasileiro, os


chefes do Poder Executivo (presidente da República, governadores e prefeitos) exercem, ao mesmo
tempo, as funções administrativa (Administração Pública) e política (governo). No entanto, são funções
distintas, com conceitos e objetivos bem definidos. Acerca de Administração Pública e governo, assinale
a alternativa correta.
(A) Administração Pública e governo são considerados sinônimos, visto que ambos têm como objetivo
imediato a busca da satisfação do interesse coletivo.
(B) As ações de Administração Pública têm como objetivo a satisfação do interesse público e são
voltadas à execução das políticas públicas.
(C) Administração Pública é a atividade responsável pela fixação dos objetivos do Estado, ou seja,
nada mais é que o Estado desempenhando sua função política.
(D) Governo é o conjunto de agentes, órgãos e pessoas jurídicas de que o Estado dispõe para colocar
em prática as políticas públicas.
(E) A Administração pratica tanto atos de governo (políticos) como atos de execução das políticas
públicas.

03. (STJ -: Técnico Judiciário – Administrativa – CESPE). Julgue o item a seguir, acerca dos
conceitos de Estado, governo e administração pública.
A Presidência da República integra a administração pública federal direta.

( ) Certo ( )Errado

04. (MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia –


FUNCAB). A soberania, que permite afirmação na ordem externa,é atributo:
(A) da Administração Pública.
(B) do Governo.

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(C) do Estado.
(D) do Poder Executivo.
(E) do Poder Judiciário.

05. (TJ/CE - Analista Judiciário - Área Administrativa – CESPE). No que se refere ao Estado,
governo e à administração pública, assinale a opção correta.
(A) O Estado liberal, surgido a partir do século XX, é marcado pela forte intervenção na sociedade e
na economia.
(B) No Brasil, vigora um sistema de governo em que as funções de chefe de Estado e de chefe de
governo não são concentradas na pessoa do chefe do Poder Executivo.
(C) A administração pública, em sentido estrito, abrange a função política e a administrativa.
(D) A administração pública, em sentido subjetivo, diz respeito à atividade administrativa exercida pelas
pessoas jurídicas, pelos órgãos e agentes públicos que exercem a função administrativa.
(E) A existência do Estado pode ser mensurada pela forma organizada com que são exercidas as
atividades executivas, legislativas e judiciais.

06. (SEGER/ES - Todos os Cargos – CESPE). Acerca de governo, Estado e administração pública,
assinale a opção correta.
(A) Atualmente, Estado e governo são considerados sinônimos, visto que, em ambos, prevalece a
finalidade do interesse público
(B) São poderes do Estado: o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e o Ministério Público.
(C) Com base em critério subjetivo, a administração pública confunde-se com os sujeitos que integram
a estrutura administrativa do Estado.
(D) O princípio da impessoalidade traduz-se no poder da administração de controlar seus próprios
atos, podendo anulá-los, caso se verifique alguma irregularidade
(E) Na Constituição Federal de 1988 (CF), foi adotado um modelo de separação estanque entre os
poderes, de forma que não se podem atribuir funções materiais típicas de um poder a outro.

07. (UFAL - Auxiliar em Administração – COPEVE-UFAL). O termo Administração Pública, em


sentido estrito e objetivo, equivale
(A) às funções típicas dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
(B) à noção de governo.
(C) ao conceito de Estado.
(D) ao conceito de função administrativa.
(E) ao Poder Executivo.

08. (CESPE – INSS - Perito Médico Previdenciário – CESPE). Acerca do direito administrativo, julgue
os itens a seguir.
Povo, território e governo soberano são elementos do Estado.
( ) Certo ( ) Errado

Gabarito

01.A/ 02.B/ 03.Certo/ 04.C/ 05.E/ 06.C/ 07.D/ 08.Certo.

Comentários

01. Resposta: A
Segundo Celso Antônio Bandeira De Mello, em sua obra: Curso de Direito Administrativo. São Paulo:
Malheiros Editores, 2010.
O Estado é uma pessoa jurídica territorial, composta dos elementos povo, território e governo
soberano. Esses três elementos são indissociáveis e indispensáveis para noção de um Estado
independente: o povo, em um dado território, organizado segundo sua livre e soberana vontade.

02. Resposta: B
Segundo Hely Lopes Meireles:
Governo em sentido formal, é o conjunto de Poderes e órgãos constitucionais; em sentido material, é
o complexo das funções estatais básicas;em sentido operacional; é a condução política dos negócios
públicos.Administração Pública- em sentido formal; é o conjuntos de órgãos instituídos para consecução

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dos objetivos do Governo;em sentido materia, é o conjunto das funções necessárias ao serviços públicos
em geral; em acepção funcional, é o desempenho perene e sistemático, legal técnico, dos serviços
públicos do Estado ou por ele assumidos em benefícios da coletividade

03. Resposta: Certo


A Administração Pública Direta refere-se às pessoas políticas, que exercem suas funções por
intermédio de seus órgãos. Em âmbito federal temos a Presidência da República, Ministérios, Casa Civil,
entre outros, em âmbito estadual as Governadorias, Secretarias Estaduais, Procuradorias Estaduais, nos
municípios as Prefeituras, órgãos de assessoramento ao Prefeito, Secretarias Municipais e outros
diversos.

04. Resposta: C
O Estado é pessoa jurídica territorial soberana.
A soberania é o poder supremo. No âmbito interno refere-se à capacidade de autodeterminação e, no
âmbito externo, é o privilégio de receber tratamento igualitário perante os outros países.
Um Estado soberano tem como característica, um governo que é o elemento condutor, um povo, que
representa o componente humano e um território que é o espaço físico que ocupa.

05. Resposta: E
O Estado, sob o ponto de vista constitucional, é pessoa jurídica territorial soberana; é uma nação
politicamente organizada, dotada de personalidade jurídica própria, sendo pessoa jurídica de direito
público que contém seus elementos e três Poderes.
A organização do Estado é matéria constitucional no que concerne à divisão política do território
nacional, à estruturação dos Poderes, à forma de Governo, ao modo de investidura dos governantes, aos
direitos e garantias dos governados.

06. Resposta: C
De acordo com a definição proposta pela Prof.ª Maria Sylvia Di Pietro: Pode-se definir Administração
Pública, em sentido subjetivo, como o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos quais a lei atribui o
exercício da função administrativa do Estado.

07. Resposta: D
A Administração Pública em sentido objetivo (material ou funcional) relaciona-se ao conjunto de
atividades relacionadas à função administrativa do Estado. São consideradas atividades típicas da
Administração Pública: o fomento (estímulo à iniciativa privada), a polícia administrativa (atividade de
restrições aos direitos individuais), o serviço público (atividades destinadas a satisfazer as necessidades
da coletividade) e a intervenção (regulação e fiscalização estatal sobre as atividades econômicas).

08. Resposta: Certo


São elementos do Estado:
O povo que é o conjunto de pessoas submetidas à ordem jurídica estatal, que compreende o nacional
residente e o que está fora dele.
Território é o elemento material, espacial ou físico do Estado. Compreende a superfície do solo que o
Estado ocupa, seu mar territorial e o espaço aéreo (navio, aeronaves, embaixadas e consulados “fictos”).
Governo é a organização necessária ao exercício do poder político.

Direito Administrativo: conceito, fontes e princípios;

DIREITO ADMINISTRATIVO

A necessidade do homem travar relações sociais fez com que houvesse a necessidade do surgimento
do Direito, criadas através de um Estado organizado, que vise a justiça e a paz social.
O Direito divide-se em Direito Público e Privado. O primeiro tem por finalidade a regulação dos
interesses da sociedade como um todo, composto por normas que visam disciplinar as relações jurídicas.
Tutela-se o interesse público, que apenas atingirá as condutas individuais de forma indireta ou reflexa.

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1519603 E-book gerado especialmente para JADSON HENRIQUE
São partes integrantes do direito público o Direito Constitucional, o Direito Tributário, o Direito Penal,
o Direito Processual Civil e o Direito Administrativo, entre outros.
O direito privado irá regular o interesse dos particulares, protegendo as relações existentes entre os
particulares, possibilitando o convívio das pessoas em sociedade, com fruição harmoniosa e utilização de
seus bens. Ele se baseava na igualdade jurídica entre as pessoas tratadas nas relações regidas.
O ramo do Direito Administrativo é um dos ramos do Direito Público, já que rege a organização e o
exercício de atividades do Estado, visando os interesses da coletividade.
O direito administrativo teve origem na França. Foi construído entre a Administração e os
administrados, devido à jurisprudência de um órgão conhecido como Conselho de Estado. Este órgão é
alheio ao Poder Judiciário.
Sobrevindo a Revolução Francesa, como o período histórico era o da Monarquia Absoluta, não
existiam disposições legais que pudessem sancionar o comportamento do Estado com relação aos
administrados. Devido a isso, foi extremamente necessário a existência de um novo direito, pois as
normas do direito eram precárias.
Em suma, o conteúdo do Direito Administrativo possui variação no tempo e no espaço, de acordo com
o Estado adotado. O Estado de Polícia visa assegurar a ordem pública. Fala-se em bem-estar social, em
que o Estado não se limita com a manutenção da ordem pública, mas com o desenvolvimento de inúmeras
atividades na área da saúde, assistência, previdência social, saúde e cultura, de maneira a desenvolver
o bem-estar coletivo. Além disso, a substituição do Estado liberal, baseado na liberdade de iniciativa, pelo
Estado-Providência aumentou, em muito, a atuação estatal no domínio econômico, criando novo
aparelhamento de ação do poder público, tanto para disciplinar e fiscalizar a iniciativa privada, com
embasamento no poder de polícia do Estado, quer para exercer atividade econômica, diretamente, na
qualidade de empresário.

Conceito

Pode-se dizer que direito administrativo é o conjunto dos princípios jurídicos que tratam da
Administração Pública, suas entidades, órgãos, agentes públicos, enfim, tudo o que diz respeito à maneira
de se atingir as finalidades do Estado. Assim, tudo que se refere à Administração Pública e a relação
entre ela e os administrados e seus servidores, é regrado e estudado pelo Direito Administrativo.
Dessa forma, podemos afirmar que a Administração Pública se encontra num patamar superior ao
particular, diferentemente do Direito Privado, onde as partes estão em igualdade de condições.
Celso Antônio Bandeira de Mello4 enfatiza a ideia de função administrativa: “o direito administrativo é
o ramo do direito público que disciplina a função administrativa, bem como pessoas e órgãos que a
exercem”
Hely Lopes Meirelles5, por sua vez, destaca o elemento finalístico na conceituação: os órgãos, agentes
e atividades administrativas como instrumentos para realização dos fins desejados pelo Estado. Vejamos:
“o conceito de Direito Administrativo Brasileiro, para nós, sintetiza-se no conjunto harmônico de princípios
jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta
e imediatamente os fins desejados pelo Estado”.

Objeto mediato e imediato do direito administrativo6

O Direito Administrativo é um ramo científico que estuda uma parcela das normas componentes do
ordenamento jurídico, a saber: as normas que disciplinam o exercício da função administrativa. Assim, o
objeto imediato do Direito Administrativo são os princípios e normas que regulam a função administrativa.
Por sua vez, as normas e os princípios administrativos têm por objeto a disciplina das atividades, agentes,
pessoas e órgãos da Administração Pública, constituindo o objeto mediato do Direito Administrativo.

Questões

01. (TRE/PE - Analista Judiciário - Área Administrativa – CESPE/2017). O direito administrativo é


(A) um ramo estanque do direito, formado e consolidado cientificamente.
(B) um ramo do direito proximamente relacionado ao direito constitucional e possui interfaces com os
direitos processual, penal, tributário, do trabalho, civil e empresarial.
(C) um sub-ramo do direito público, ao qual está subordinado.

4
MELLO, Celso Antônio Bandeira de apud Mazza Alexandre, Manual de Direito Administrativo, 4ª edição, editora Saraiva, 2014.
5
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 27ª edição. São Paulo: Malheiros,2002.
6
MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2014.

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(D) um conjunto esparso de normas que, por possuir características próprias, deve ser considerado de
maneira dissociada das demais regras e princípios.
(E) um sistema de regras e princípios restritos à regulação interna das relações jurídicas entre agentes
públicos e órgãos do Estado.

02. (PC/PE - Escrivão de Polícia – CESPE/2016). Assinale a opção correta a respeito de direito
administrativo.
(A) A administração exerce atividade política e discricionária.
(B) A administração pública é o objeto precípuo do direito administrativo.
(C) O âmbito espacial de validade da lei administrativa não está submetido ao princípio da
territorialidade.
(D) As instruções normativas podem ser expedidas apenas por ministros de Estado para a execução
de leis, decretos e regulamentos.
(E) O regimento administrativo obriga os particulares em geral.

03. (PC/PE - Escrivão de Polícia – CESPE/2016). Acerca de conceitos inerentes ao direito


administrativo e à administração pública, assinale a opção correta.
(A) O objeto do direito administrativo são as relações de natureza eminentemente privada.
(B) A divisão de poderes no Estado, segundo a clássica teoria de Montesquieu, é adotada pelo
ordenamento jurídico brasileiro, com divisão absoluta de funções.
(C) Segundo o delineamento constitucional, os poderes do Estado são independentes e harmônicos
entre si e suas funções são reciprocamente indelegáveis.
(D) A jurisprudência e os costumes não são fontes do direito administrativo.
(E) Pelo critério legalista, o direito administrativo compreende os direitos respectivos e as obrigações
mútuas da administração e dos administrados.

04. (STJ - Técnico Judiciário – Administrativa – CESPE). Julgue o item seguinte, acerca do direito
administrativo e da prática dos atos administrativos.
Conceitualmente, é correto considerar que o direito administrativo abarca um conjunto de normas
jurídicas de direito público que disciplina as atividades administrativas necessárias à realização dos
direitos fundamentais da coletividade.
( ) Certo ( ) Errado

Gabarito

01.B/ 02.B/ 03.C/ 04. Certo

Comentários

01. Resposta: B
De acordo com José dos Santos Carvalho Filho
"O estudo moderno do Direito não mais comporta a análise isolada e estanque de um ramo jurídico.
Na verdade, o Direito é um só; são as relações jurídicas que podem ter diferente natureza. Assim, embora
de forma sucinta, é cabível indicar algumas linhas em que o Direito Administrativo se tangencia com
outras disciplinas jurídicas"

02. Resposta: B
MEDAUAR indica que a Administração Pública é o objeto precípuo do direito administrativo e se
encontra inserida no Poder Executivo. Dois são os ângulos em que a mesma pode ser considerada,
funcional ou organizacional

03. Resposta: C
Os poderes de Estado, na clássica tripartição de Montesquieu, são: o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário, independentes e harmônicos entre si e com suas funções reciprocamente indelegáveis (CF,
art. 2º).

04. Resposta: Certo

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Segundo o professor Hely Lopes Meirelles, o Direito Administrativo é o "conjunto harmônico de
princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar
concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado.

Fontes

Segundo Alexandre Mazza7, “fonte é o local de onde algo provém. No Direito, as fontes são fatos
jurídicos de onde as normas emanam.”
Pode-se traduzir fonte como a origem de algo, nesse caso a origem das normas de Direito
Administrativo. Elas dividem-se em primárias e secundárias.
A fonte primária é a lei.
De acordo com o princípio da legalidade, somente a lei pode impor obrigações, ou seja, somente a lei
pode obrigar o sujeito a fazer ou deixar de fazer algo, mas o que é lei?
Maria Helena Diniz8 ensina que a lei, em sentido jurídico, é um texto oficial que engloba um conjunto
de normas, ditadas pelo Poder Legislativo e que integra a organização do Estado. A elaboração da lei é
disciplinada por comando constitucional e tem sua executoriedade compulsória garantida pelo Estado.
Assim, pode-se afirmar que a lei, em sentido jurídico ou formal, é um ato primário, pois encontra seu
fundamento na Constituição Federal, bem como possui por características a generalidade (a lei é válida
para todos) e a abstração (a lei não regula situação concreta).
Existem diversas espécies normativas: lei ordinária, lei complementar, lei delegada, medida provisória,
decretos legislativos, resoluções, etc. Todas são leis e, portanto, constituem fonte primária do Direito
Administrativo. Não se deve esquecer das normas constitucionais que estão no ápice do ordenamento
jurídico brasileiro.

Tratados Internacionais para ingressarem no ordenamento jurídico pátrio devem seguir um


procedimento.
A Constituição Federal, em seu art. 84 atribuiu competência privativa para o Presidente da República
celebrar Tratados. Após a celebração, é preciso que o Congresso Nacional, utilizando de sua
competência exclusiva, aprove-o (art. 49, CF). A aprovação se dá por meio de Decreto Legislativo.
Superada essa etapa, o tratado deve ser ratificado pelo Presidente da República e, após, promulgado
por meio de Decreto Presidencial.
Cumprido esse procedimento, o tratado está recepcionado pelo ordenamento pátrio e, em regra, terá
força de lei infraconstitucional. Contudo, em se tratando de tratados que versem sobre direitos humanos,
o procedimento é diferente e vem descrito no art. 5º, § 3º da Constituição:

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em


cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

7
Idem
8
DINIZ, Maria Helena. Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro interpretado. São Paulo: Saraiva.

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Vê-se que, quando o tratado tem por matéria direitos humanos é preciso que seja votado em dois
turnos na Câmara e no Senado Federal e que seja aprovado por quórum qualificado de três quintos.
Nesse caso o Tratado terão força de norma constitucional.
Em tendo força de lei infraconstitucional ou constitucional, os tratados passam a ser fontes do Direito
Administrativo.
O Direito Administrativo possui ainda as fontes secundárias que são: a doutrina, a jurisprudência e os
costumes.
Doutrina é o fruto do trabalho dos estudiosos do Direito, ou seja, é a interpretação que os
doutrinadores dão à lei. Vê-se que a doutrina não cria normas, interpreta-as de forma que determinam o
sentido e alcance dessa e norteiam o caminho do seu aplicador.
Jurisprudência é o resultado do trabalho dos aplicadores da lei, especificamente, são decisões
reiteradas dos Tribunais. Também não cria normas, ao contrário, assemelhar-se à doutrina porque se
trata de uma interpretação da legislação.
Costumes, de modo geral, são conceituados como os comportamentos reiterados que tem aceitação
social. Ex: fila. Não há nenhuma regra jurídica que obrigue alguém a respeitar a fila, porém as pessoas
respeitam porque esse é um costume, ou seja, um comportamento que está intrínseco no seio social.
Especificamente em Direito Administrativo, os costumes são as práticas administrativas reiteradas.
Alexandre Mazza9 define: “os costumes são práticas reiteradas da autoridade administrativa capazes de
estabelecer padrões obrigatórios de comportamento. Ao serem repetidos constantemente, criam o hábito
de os administrados esperarem aquele modo de agir, causando incerteza e instabilidade social sua
repentina alteração. É nesse sentido que os costumes constituem fontes secundárias do Direito
Administrativo. Importante relembrar que os costumes não têm força jurídica igual à da lei, razão pela
qual só podem ser considerados vigentes e exigíveis quando não contrariarem nenhuma regra ou
princípio estabelecido na legislação. Costumes contra legem não se revestem de obrigatoriedade.”.
Regulamentos São atos normativos posteriores aos decretos, que visam especificar as disposições
de lei, assim como seus mandamentos legais. As leis que não forem executáveis, dependem de
regulamentos, que não contrariem a lei originária. Já as leis auto-executáveis independem de
regulamentos para produzir efeitos.
Instruções normativas Possuem previsão expressa na Constituição Federal, em seu artigo 87, inciso
II. São atos administrativos privativos dos Ministros de Estado. É a forma em que os superiores expedem
normas de caráter geral, interno, prescrevendo o meio de atuação de seus subordinados com relação a
determinado serviço, assemelhando-se às circulares e às ordens de serviço.
Na maioria das vezes apresenta-se como Instruções Normativas.
Regimentos São atos administrativos internos que emanam do poder hierárquico do Executivo ou da
capacidade de auto-organização interna das corporações legislativas e judiciárias. Desta maneira, se
destinam à disciplina dos sujeitos do órgão que o expediu.
Estatutos É o conjunto de normas jurídicas, através de acordo entre os sócios e os fundadores,
regulamentando o funcionamento de uma pessoa jurídica. Inclui os órgãos de classe, em especial os
colegiados.
Lei formal Relaciona-se diretamente com a forma e não precisamente com o conteúdo, devendo
seguir o que é proposto pelas Casas Legislativas. São exemplos: as Leis Complementares, Leis
Ordinárias ou Leis Delegadas.
Vale frisar que a lei apresenta o mais alto nível de produção, ficando abaixo, apenas da Constituição
Federal.

Princípios do direito administrativo

Os princípios constituem fundamento do Direito Administrativo. São diversas as suas classificações,


por isso adotar-se-á no presente a classificação de Diogo de Figueiredo Neto10.
Para esse autor existem os princípios fundamentais que são os previstos de forma explícita ou
implícita no Título I da Constituição, dos quais destaca-se os mais relevantes para o Direito Administrativo
que são o princípio republicano, o princípio democrático, o princípio da dignidade da pessoa humana, o
princípio da cidadania e o princípio da segurança jurídica.
Alguns princípios são classificados como gerais posto que aplicados para todos os ramos do direito,
como o princípio da legalidade, da igualdade, da publicidade, da sindicalidade, da legitimidade, entre
outros.

9
MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2014.
10
FIGUEIREDO NETO, Diogo de. Curso de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

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Especificamente em Direito Administrativo, os princípios são divididos em princípios gerais de Direito
Administrativo e princípios setoriais de Direito Administrativo.
Os primeiros trazem as normas e os valores que regem a Administração Pública de maneira geral
como os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, entre outros.
Por sua vez, os princípios informativos do Direito Administrativo, dizem respeito a um conjunto de
proposições monovalentes setoriais, que serve como base do Direito Administrativo, comunicando o
campo de jurisprudência, garantindo autonomia e elaboração de institutos específicos.
Princípio da Supremacia Do Interesse Público Este princípio consiste na sobreposição do interesse
público em face do interesse particular. Havendo conflito entre o interesse público e o interesse particular,
aquele prevalecerá.
Podemos conceituar INTERESSE PÚBLICO como o somatório dos interesses individuais desde que
represente o interesse majoritário, ou seja, a vontade da maioria da sociedade.
O interesse público PRIMÁRIO é o interesse direto do povo, é o interesse da coletividade como um
todo. Já o interesse público SECUNDÁRIO é o interesse direto do Estado como pessoa jurídica, titular de
direitos e obrigações, em suma, é vontade do Estado. Assim, a vontade do povo (interesse público
PRIMÁRIO) e a vontade do Estado (interesse público SECUNDÁRIO) não se confundem.
O interesse público SECUNDÁRIO só será legítimo se não contrariar nenhum interesse público
PRIMÁRIO. E, ao menos indiretamente, possibilite a concretização da realização de interesse público
PRIMÁRIO. Daremos um exemplo para que você compreenda perfeitamente esta distinção.
Este princípio é um dos dois pilares do denominado regime jurídico-administrativo, fundamentando a
existência das prerrogativas e dos poderes especiais conferidos à Administração Pública para que esta
esteja apta a atingir os fins que lhe são impostos pela Constituição e pelas leis.
O ordenamento jurídico determina que o Estado-Administração atinja uma gama de objetivos e fins e
lhe confere meios, instrumentos para alcançar tais metas. Aqui se encaixa o princípio da Supremacia do
Interesse Público, fornecendo à Administração as prerrogativas e os poderes especiais para obtenção
dos fins estabelecidos na lei.
O princípio comentado não está expresso em nosso ordenamento jurídico. Nenhum artigo de lei fala,
dele, porém tal princípio encontra-se em diversos institutos do Direito Administrativo. Vejamos alguns
exemplos práticos:
- a nossa Constituição garante o direito à propriedade (art. 5º, XXII), mas com base no princípio da
Supremacia do Interesse Público, a Administração pode, por exemplo, desapropriar uma propriedade,
requisitá-la ou promover o seu tombamento, suprimindo ou restringindo o direito à propriedade.
- a Administração e o particular podem celebrar contratos administrativos, mas esses contratos
preveem uma série de cláusulas exorbitantes que possibilitam a Administração, por exemplo, modificar
ou rescindir unilateralmente tal contrato.
- o poder de polícia administrativa que confere à Administração Pública a possibilidade, por exemplo,
de determinar a proibição de venda de bebida alcoólica a partir de determinada hora da noite com o
objetivo de diminuir a violência.
Diante de inúmeros abusos, ilegalidades e arbitrariedades cometidas em nome do aludido princípio, já
existem vozes na doutrina proclamando a necessidade de se pôr fim a este, através da Teoria da
Desconstrução do Princípio da Supremacia. Na verdade, esvaziar tal princípio não resolverá o
problema da falta de probidade de nossos homens públicos. Como afirma a maioria da doutrina, o
princípio da Supremacia do Interesse Público é essencial, sendo um dos pilares da Administração,
devendo ser aplicado de forma correta e efetiva. Se há desvio na sua aplicação, o Poder Judiciário deve
ser provocado para corrigi-lo.
Princípio Democrático O caput do artigo 1º da Constituição Federal de 1988, adotou em seu
parágrafo único, o denominado princípio democrático, ao afirmar que “todo poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
O Estado Democrático de Direito, que significa a exigência de reger-se pelo Direito e por normas
democráticas, com eleições livres, periódicas e pelo povo bem como o respeito das autoridades públicas
aos direitos e garantias fundamentais, proclamado
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana A dignidade da pessoa humana é o princípio permeante
do ordenamento jurídico, sendo, assim, indissociável dos direitos fundamentais. É o que se pode
denominar aspecto pragmático-constitucional – relação entre os direitos fundamentais e a dignidade da
pessoa humana na ordem constitucional.
A tríade Dignidade, Direitos Fundamentais e Constituição é a diretriz da conduta estatal e particular,
porquanto se trata do conjunto fundante da ordem jurídica como um todo. Conclui-se que os direitos

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fundamentais são a concretização da dignidade humana dentro da ordem constitucional; concretização
esta que é evidenciada sob o aspecto de informadora de todo o ordenamento jurídico.
O direitos fundamentais foram alçados à condição de princípios constitucionais devido ao
reconhecimento da importância dos valores que encerram. A compreensão dessa posição principiológica
é relevante para o estabelecimento oportuno da conexão entre os direitos fundamentais e a missão a eles
delegada de transmutar-se em sustento da condição digna.
A relação entre direitos fundamentais e dignidade da pessoa humana é das mais íntimas. É certo que
a vida digna se consagra com tais garantias provedoras. A vivência digna vai além da simples relação
com os direitos humanos relativos às liberdades individuais ou aos direitos sociais. É óbvio que a ausência
de direitos dessa natureza importa em constatação mais perceptível de violação e usurpação da condição
intrínseca de ser humano. Contudo, não se pode olvidar que todos e não apenas alguns dos direitos
fundamentais configuram-se em instrumentos assecuratórios da dignidade do ser humano.
Princípio da Cidadania Segundo Dalmo Dallari:
“A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente
da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social
e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”.
Ao contrário dos direitos humanos – que tendem à universalidade dos direitos do ser humano na sua
dignidade –, a cidadania moderna, embora influenciada por aquelas concepções mais antigas, possui um
caráter próprio e possui duas categorias: formal e substantiva.
Princípio da Igualdade Também conhecido como Princípio da Isonomia, considera que a
Administração Pública deve se preocupar em tratar igualmente as partes no processo administrativo, sem
que haja discriminações não permitidas.
O objetivo é tratar o administrado com urbanidade, com equidade, com congruência.
No processo administrativo, busca-se uma decisão legal e justa, pois se deve tratar igualmente os
iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades.
Princípio da Executoriedade Trata-se de atributo do ato administrativo que permite ao Poder Público
sua imediata aplicação, sem ter que recorrer ao Poder Judiciário.
Princípio da Consensualidade Muito usado nos casos de mediação, em que não se pode impor uma
decisão às partes, porém o resultado do que for debatido entre elas deve ser levado em consideração.
Para que a mediação tenha bons resultados, é necessário que exista um consenso entre as partes.
Princípio Republicano É a forma de relacionamento das autoridades públicas com os seus cidadãos
e traz como características a eletividade, temporariedade e necessidade de prestação de contas pela
administração pública.
Princípio da Sindicabilidade Diz respeito ao controle dos atos administrativos, seja pela própria
Administração, seja pelo Poder Judiciário. Desde a segunda metade do século XX, como consequência
dos conflitos mundiais, dos atentados aos direitos fundamentais, vem se defendendo a ampliação do
controle (sindicabilidade) da Administração Pública pelo poder Judiciário. Seria esta a forma de se
conterem abusos que geralmente isentam-se de controle sob a alegação da “intangibilidade jurisdicional”
dos atos discricionários".
Princípio da Legitimidade Está voltado aos atos administrativos, mais conhecido como presunção de
legitimidade.
É a presunção de que os atos administrativos devem ser considerados válidos, até que se demonstre
o contrário, a bem da continuidade da prestação dos serviços públicos. Isso não significa que os atos
administrativos não possam ser contrariados, no entanto, o ônus da prova é de quem alega.
Princípio da Especialidade Este princípio está presente em algumas atividades das pessoas jurídicas
não territoriais, limitando, assim, a capacidade e a atividade, sendo-lhes interdito praticar atos que não
tenham relação com o objeto particular que é inerente.
Com isso, fica proibido às pessoas, aceitarem doações e legados, que impunham a elas, aceitarem
atividades diversas à sua especialidade. Ex: uma escola, que aceitaria doação para que ali funcionasse
um hospital.
A partir do momento em que se confere personalidade jurídica a um agrupamento, já se concede o fim
para o qual se tornou personalidade jurídica, não devendo atuar em sentido diverso do que fora
incumbido.
Princípio da hierarquia. Compreende-se como hierarquia, a relação de coordenação e subordinação
dos órgãos do poder executivo.
Na organização por instâncias, cada uma vai funcionar em esfera diferente da outra, não havendo
comunicação entre essas. Há atos que só podem ser feitos pelo juiz de primeira instância, não sendo de
competência do Tribunal.

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Basta pensar no caso do legislador, que quando entende que é caso de reexame, manda que haja
recurso por parte do juiz.
No legislativo, também não existe hierarquia, ainda que se tenha um sistema bicameral. O que pode
haver no judiciário e no legislativo é a hierarquia, naquilo que tais poderes têm de administrativo.
Pelo princípio da hierarquia, no que diz respeito especificamente ao direito administrativo, temos
consequências, como a unidade de direção, revisão dos atos dos subordinados. Tais institutos são
informados pelo princípio da hierarquia, pois há um respeito nas suas áreas de atribuição e competências.
Princípio da continuidade. O serviço público diz respeito as atividades do Estado, de modo que não
pode haver interrupção desses serviços, por isso que é vedada a greve do funcionário público, já que
pode ocasionar a quebra da continuidade dos serviços, que causarão inúmeros transtornos para o Estado,
além da coletividade.

Questões

01. (CESPE - TRT - 10ª REGIÃO (DF e TO) - Analista Judiciário - Área Judiciária – CESPE). Julgue
os itens a seguir, acerca dos princípios e das fontes do direito administrativo.
Em decorrência do princípio da legalidade, a lei é a mais importante de todas as fontes do direito
administrativo.
(...) Certo ( ) Errado

02. (Prefeitura de Piraúba/MG - Assistente Social - MS CONCURSOS/2017). Com relação às fontes


do Direito Administrativo, assinale a alternativa correta.
(A) Costumes são decisões judiciais reiteradas no mesmo sentido e têm efeito secundário.
(B) A lei é fonte primária e principal do Direito Administrativo.
(C) A doutrina é conduta reiterada praticada pelos agentes públicos com consciência de
obrigatoriedade.
(D) A jurisprudência é a opinião expressa por juristas, cientistas e teóricos do direito.

03. (PC/PE - Agente de Polícia – CESPE/2016). Considerando as fontes do direito administrativo


como sendo aquelas regras ou aqueles comportamentos que provocam o surgimento de uma norma
posta, assinale a opção correta.
(A) A lei é uma fonte primária e deve ser considerada em seu sentido amplo para abranger inclusive
os regulamentos administrativos.
(B) O acordo é uma importante fonte do direito administrativo por ser forma de regulamentar a
convivência mediante a harmonização de pensamentos.
(C) Os costumes, pela falta de norma escrita, não podem ser considerados como fonte do direito
administrativo.
(D) A jurisprudência é compreendida como sendo aquela emanada por estudiosos ao publicarem suas
pesquisas acerca de determinada questão jurídica.
(E) Uma doutrina se consolida com reiteradas decisões judiciais sobre o mesmo tema.

04. (Prefeitura de Sobral/CE - Técnico Legislativo – Área Legislativa – CIDADES). O Direito


Administrativo tem como fontes norteadoras quatro principais objetos. Nesse sentido, assinale a
alternativa que não representa um desses objetos:
(A) A lei.
(B) A jurisprudência.
(C) A doutrina.
(D) Os poderes constituídos

05. (TJ/CE - Analista Judiciário - Área Administrativa – CESPE). Com relação ao conceito, ao objeto
e às fontes do direito administrativo, assinale a opção correta.
(A) Consoante o critério negativo, o direito administrativo compreende as atividades desenvolvidas
para a consecução dos fins estatais, incluindo as atividades jurisdicionais, porém excluindo as atividades
legislativas.
(B) Pelo critério teleológico, o direito administrativo é o conjunto de princípios que regem a
administração pública.
(C) Para a escola exegética, o direito administrativo tinha por objeto a compilação das leis existentes
e a sua interpretação com base principalmente na jurisprudência dos tribunais administrativos.

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(D) São considerados fontes primárias do direito administrativo os atos legislativos, os atos infra legais
e os costumes.
(E) De acordo com o critério do Poder Executivo, o direito administrativo é conceituado como o conjunto
de normas que regem as relações entre a administração e os administrados.

06. (Prefeitura de São Paulo – SP - Auditor Fiscal Municipal - Tecnologia da Informação –


CETRO). Entre as fontes principais do Direito Administrativo estão a lei, a doutrina, a jurisprudência e os
costumes. Acerca dessas fontes, assinale a alternativa correta.
(A) A doutrina, em sentido amplo, é a fonte primária do Direito Administrativo. Ela influi na elaboração
da lei e nas decisões contenciosas e não contenciosas, ordenando, assim, o próprio Direito
Administrativo.
(B) A jurisprudência caracteriza-se pelo nacionalismo, isto é, enquanto a doutrina tende a universalizar-
se, a jurisprudência tende a nacionalizar-se, pela contínua adaptação da lei e dos princípios teóricos ao
caso concreto.
(C) Os costumes distinguem as regras que convêm ao Direito Público e ao Direito Privado. Assim como
a doutrina, influi na elaboração da lei.
(D) A lei possui um caráter mais prático, mais objetivo, que a doutrina e os costumes, mas nem por
isso se aparta de princípios teóricos.
(E) A doutrina, no Direito Administrativo Brasileiro, exerce ainda influência em razão da deficiência da
legislação.

Gabarito

01.Certo/ 02.B/ 03.A/ 04.D/ 05.C/ 06.B.

Comentários

01. Resposta: Certo


Como fonte do Direito Administrativo, a lei é a mais importante. Porém, entre os princípios, não há
hierarquia. Quer dizer, o Princípio da Legalidade não é superior, nem mais importante que os demais
princípios.

02. Resposta: B
No Brasil, o que predomina é a lei como fonte primária, outros países adotam a jurisprudência.
Como se sabe o Princípio da Legalidade é um dos pilares que fundamentam a Administração Pública.

03. Resposta: A
A lei é fonte primária do Direito administrativo. Em decorrência do princípio da legalidade, a lei é a mais
importante de todas as fontes. Abrange, em seu sentido amplo, as medidas provisórias; os regulamentos,
os tratados internacionais, etc.

04. Resposta: D
Para Hely Lopes Meirelles e Marcelo Alexandrino são 4 as principais Fontes do Direito Administrativo:
a Lei, a Doutrina, a Jurisprudência e o Costume.

05. Resposta: C
A professora Maria Sylvia Zanella di Pietro afirma que, em suas origens, na França, o Direito
Administrativo tinha por objeto apenas a interpretação das leis administrativas. Os doutrinadores
limitavam-se a compilar as leis existentes e a interpretá-las com base principalmente na jurisprudência
dos Tribunais Administrativos, formando a chamada Escola Exegética, Legalista, Empírica ou Caótica,
"para a qual o Direito Administrativo era compreendido como sinônimo de Direito Positivo".

06. Resposta: B
A jurisprudência caracteriza-se pelo nacionalismo, isto é, enquanto a doutrina tende a universalizar-
se, a jurisprudência tende a nacionalizar-se, pela contínua adaptação da lei e dos princípios teóricos ao
caso concreto. Realmente, pois, pela lógica, a jurisprudência é produzida a partir da utilização de leis
nacionais, e, ao contrário, a doutrina pode espelhar-se em interpretações de várias legislações, seguir
outros pensadores, não vejo limitação para a doutrina.

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Ato Administrativo: Conceito, requisitos, atributos, classificação e espécies;
Invalidação, anulação e revogação; Prescrição.

ATO ADMINISTRATIVO

Ato administrativo é toda manifestação lícita e unilateral de vontade da Administração ou de quem lhe
faça às vezes, que agindo nesta qualidade tenha por fim imediato adquirir, transferir, modificar ou extinguir
direitos e obrigações.
Os atos administrativos podem ser praticados pelo Estado ou por alguém que esteja em nome dele.
Logo, pode-se concluir que os atos administrativos não são definidos pela condição da pessoa que os
realiza. Tais atos são regidos pelo Direito Público.
Deve-se diferenciar o conceito de ato administrativo do conceito de ato da Administração. Este último
é ato praticado por órgão vinculado à estrutura do Poder Executivo.
Nem todo ato praticado pela Administração será ato administrativo, ou seja, há circunstâncias em que
a Administração se afasta das prerrogativas que possui, equiparando-se ao particular.
O que qualifica o ato como administrativo é o fato que sua repercussão jurídica produz efeitos a uma
determinada sociedade, devendo existir uma regulação pelo direito público. Para que esse ato seja
caracterizado, é necessário que ele seja emanado por um agente público, quer dizer, alguém que esteja
investido de múnus público, podendo atuar em nome da Administração.
Esse ato deve alcançar a finalidade pública, onde serão definidas prerrogativas, que diz respeito à
supremacia do interesse público sobre o particular, em virtude da indisponibilidade do interesse público.
Embora existam divergências, a doutrina mais moderna entende que os atos administrativos podem
ser delegados, assim os particulares recebem a delegação pelo Poder Público para prática dos referidos
atos.

Questões

01. (Câmara Municipal de Atibaia/SP - Advogado - CAIP-IMES/2016) Assinale a alternativa


incorreta.
Os atos administrativos:
(A) decorrem de manifestação bilateral de vontade da Administração Pública que, agindo nessa
qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos ou
impor obrigações aos administrados, apenas.
(B) decorrem de manifestação unilateral de vontade da Administração Pública no exercício da função
administrativa típica.
(C) decorrem de manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo nessa
qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos ou
impor obrigações aos administrados ou a si própria.
(D) decorrem de manifestação unilateral de vontade da Administração Pública, portanto são de
exclusividade do Poder Executivo no exercício da função típica. Contudo, os demais poderes (Judiciário
e Legislativo) também podem exercê-los, atipicamente.

02. (CNMP -Técnico do CNMP FCC) Ato administrativo é:


(A) realização material da Administração em cumprimento de alguma decisão administrativa.
(B) sinônimo de fato administrativo.
(C) manifestação bilateral de poder da Administração pública que, agindo nessa qualidade, tenha por
fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir, declarar direitos e impor obrigações aos
administrados.
(D) manifestação unilateral de vontade da Administração pública que visa impor obrigações aos
administrados ou a si própria ou alguma realização material em cumprimento a uma decisão de si própria.
(E) manifestação unilateral de vontade da Administração pública que, agindo nessa qualidade, tenha
por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor
obrigações aos administrados ou a si própria.

Gabarito

01.A / 02.E

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Comentários

01. Resposta: A
Os atos administrativos enquadram-se na categoria dos atos jurídicos. Logo, são manifestações
humanas, e não meros fenômenos da natureza. Ademais, são sempre manifestações unilaterais de
vontade (as bilaterais compõem os chamados contratos administrativos).

02. Resposta: E
Para Hely Lopes.
Ato Administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo
nessa qualidade, tenha por fim IMEDIATO adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar
direitos ou impor obrigações aos administrados ou a si própria.
Para Maria Sylvia.
É a declaração de vontade do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos jurídicos imediatos,
com observância da lei, sob regime jurídico de direito público e se sujeita a controle do Poder Judiciário.
Para Celso Antônio.
É a declaração de vontade do Estado ou de lhe faça as vezes, no exercício de prerrogativas Públicas,
manifestada mediante providências jurídicas complementares da lei a título de lhe dar cumprimento e
sujeitas a controle de legitimidade dos órgãos jurisdicionais.

Requisitos

São as condições necessárias para a existência válida do ato. Do ponto de vista da doutrina tradicional
(e majoritária nos concursos públicos), os requisitos dos atos administrativos são cinco:
Competência: o ato deve ser praticado por sujeito capaz, trata-se de requisito vinculado. Para que um
ato seja válido deve-se verificar se foi praticado por agente competente.
No Direito Administrativo quem define as competências de cada agente é a lei, que deverá limitar sua
atuação e fazer as atribuições de cada agente.
O ato deve ser praticado por agente público, assim considerado todo aquele que atue em nome do
Estado, podendo ser de qualquer título, mesmo que não ganhe remuneração, por prazo determinado ou
vínculo de natureza permanente.
Podem ser englobados como agentes, os agentes políticos, que são os detentores de mandatos
eletivos, secretários e ministros de Estado, considerando ainda os membros da magistratura e do
Ministério Público. Os atos ainda poderão ser praticados por particulares em colaboração com o poder
público, podendo se considerar aqueles que exercem função estatal, sem vínculo definido, como acontece
com jurados e mesários, por exemplo.
Além da competência para a prática do ato, se faz necessário que não exista impedimento e suspeição
para o exercício da atividade.
Deve-se ter em mente que toda a competência é limitada, não sendo possível um agente ter
competência ilimitada, tendo em vista o dever de observância da lei para definir os critérios de legitimação.
Objeto lícito: É o conteúdo do ato, o resultado que se visa receber com sua expedição. Todo e
qualquer ato administrativo tem por objeto a criação, modificação ou comprovação de situações jurídicas
referentes a pessoas, coisas ou atividades voltadas à ação da Administração Pública.
Forma: é o requisito vinculado que envolve a maneira de exteriorização e demais procedimentos
prévios que forem exigidos com a expedição do ato administrativo. Via de regra, os atos devem ser
escritos, permitindo de maneira excepcional atos gestuais, verbais ou provindos de forças que não sejam
produzidas pelo homem, mas sim por máquinas, que são os casos dos semáforos, por exemplo.
A forma específica se dá pelo fato de que os atos administrativos decorrem de um processo
administrativo prévio, que se caracterize por uma série de atos concatenados, com um propósito certo. A
exigência de forma para a prática dos atos da Administração Pública decorre do Princípio da Solenidade,
que pertence à atuação estatal, como forma de garantia de que os cidadãos serão contemplados com
essa ação.
Motivo: este integra os requisitos dos atos administrativos tendo em vista a defesa de interesses
coletivos. Por isso existe a teoria dos motivos determinantes;
O motivo será válido, sem irregularidades na prática do ato administrativo, exigindo-se que o fato
narrado no ato praticado seja real e tenha acontecido da forma como estava descrito na conduta estatal.
Difere-se de motivação, pois este é a explicação por escrito das razões que levaram à prática do ato.
Finalidade: o ato administrativo somente visa a uma finalidade, que é a pública; se o ato praticado
não tiver essa finalidade, ocorrerá abuso ou desvio de poder.

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Questão

01. (DPE/PE - Estagiário de Direito - DPE-PE). São elementos do ato administrativo:


(A) presunção de legalidade, economicidade, eficiência e motivação.
(B) competência, forma e vinculação.
(C) presunção de legitimidade e impessoalidade.
(D) competência, forma, objeto, finalidade e motivo
(E) vinculação e discricionariedade.

Gabarito

01.D

Comentário

01. Resposta: D
Competência: o ato deve ser praticado por sujeito capaz, trata-se de requisito vinculado. Para que um
ato seja válido deve-se verificar se foi praticado por agente competente.
Finalidade: O ato administrativo somente visa a uma finalidade, que é a pública; se o ato praticado
não tiver essa finalidade, ocorrerá abuso de poder;
Forma: é o requisito vinculado que envolve a maneira de exteriorização e demais procedimentos
prévios que forem exigidos com a expedição do ato administrativo. Via de regra, os atos devem ser
escritos, permitindo de maneira excepcional atos gestuais, verbais ou provindos de forças que não sejam
produzidas pelo homem, mas sim por máquinas, que são os casos dos semáforos, por exemplo.
Motivo: Este integra os requisitos dos atos administrativos tendo em vista a defesa de interesses
coletivos. Por isso existe a teoria dos motivos determinantes;
Objeto lícito: É o conteúdo ato, o resultado que se visa receber com sua expedição. Todo e qualquer
ato administrativo tem por objeto a criação, modificação ou comprovação de situações jurídicas referentes
a pessoas, coisas ou atividades voltadas à ação da Administração Pública.

Atributos

São prerrogativas que existem por conta dos interesses que a Administração representa, são as
qualidades que permitem diferenciar os atos administrativos dos outros atos jurídicos. São eles:
Presunção de legitimidade: é a presunção de que os atos administrativos devem ser considerados
válidos, até que se demonstre o contrário, a bem da continuidade da prestação dos serviços públicos.
Isso não significa que os atos administrativos não possam ser contrariados, no entanto, o ônus da prova
é de quem alega.

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O atributo de presunção de legitimidade confere maior agilidade à atuação administrativa, já que depois
da prática do ato, estará apto a produzir efeitos automaticamente, como se fosse válido, até que se
declare sua ilegalidade por decisão administrativa ou judicial.
Imperatividade: é o poder que os atos administrativos possuem de gerar unilateralmente obrigações
aos administrados, independente da concordância destes. É a prerrogativa que a Administração possui
para impor determinado comportamento a terceiros.
Exigibilidade ou coercibilidade: é o poder que possuem os atos administrativos de serem exigidos
quanto ao seu cumprimento sob ameaça de sanção.
Autoexecutoriedade: é o poder pelo qual os atos administrativos podem ser executados
materialmente pela própria administração, independentemente da atuação do Poder Judiciário.
Para a ocorrência da autoexecutoriedade é necessário a presença dos seguintes requisitos:
a) Quando a lei expressamente previr;
b) Quando estiver tacitamente prevista em lei (nesse caso deverá haver a soma dos seguintes
requisitos:
- situação de urgência; e
- inexistência de meio judicial idôneo capaz de, a tempo, evitar a lesão.
Tipicidade11: é o atributo pelo qual o ato administrativo deve corresponder a figuras previamente
definidas pela lei como aptas a produzir determinados efeitos. O presente atributo é uma verdadeira
garantia ao particular que impede a Administração de agir absolutamente de forma discricionária. Para
tanto, o administrador somente pode exercer sua atividade nos termos estabelecidos na lei, presente nos
atos unilaterais. Não existe tipicidade em atos bilaterais, já que não há imposição de vontade da
Administração perante a outra parte. É o caso dos contratos, onde a sua realização depende de aceitação
da parte contrária.

Questão

01. (DPE/RS - Defensor Público Sobre atos administrativos - FCC) É correto afirmar:
(A) A autoexecutoriedade é um atributo de alguns atos administrativos que autoriza a execução
coercitiva, independente da concorrência da função jurisdicional.
(B) A autoexecutoriedade constitui atributo dos atos administrativos negociais, que, como contratos,
dependem da concorrência de vontade do administrado.
(C) A arguição de invalidade de ato administrativo por vícios ou defeitos impede a imediata execução
e afasta a imperatividade.
(D) Todos os atos administrativos possuem como atributos a presunção de legitimidade, a
imperatividade e a autoexecutoriedade.
(E) A administração deverá fazer prova da legalidade do ato administrativo quando sobrevier
impugnação pelo destinatário.

Gabarito

01.A

Comentário

01. Resposta: A
A assertiva está plenamente correta já que a autoexecutoriedade autoriza a execução do administrativo
sem o aval do Poder Judiciário.

Classificação

Quanto ao regramento:
a) Atos vinculados: Possui todos seus elementos determinados em lei, não existindo possibilidade
de apreciação por parte do administrador quanto à oportunidade ou à conveniência. Cabe ao
administrador apenas a verificação da existência de todos os elementos expressos em lei para a prática
do ato. Caso todos os elementos estejam presentes, o administrador é obrigado a praticar o ato
administrativo; caso contrário, ele estará proibido da prática do ato.

11
http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portalTvJustica/portalTvJusticaNoticia/anexo/Carlos_Barbosa_Atos_administrativos_Parte_1.pdf

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b) Atos discricionários: O administrador pode decidir sobre o motivo e sobre o objeto do ato, devendo
pautar suas escolhas de acordo com as razões de oportunidade e conveniência. A discricionariedade é
sempre concedida por lei e deve sempre estar em acordo com o princípio da finalidade pública. O poder
judiciário não pode avaliar as razões de conveniência e oportunidade (mérito), apenas a legalidade, os
motivos e o conteúdo ou objeto do ato.

Quanto aos destinatários


a) Gerais: os atos gerais tem a finalidade de normatizar suas relações e regulam uma situação jurídica
que abrange um número indeterminado de pessoas, portanto abrange todas as pessoas que se
encontram na mesma situação, por tratar-se de imposição geral e abstrata para determinada relação.
Esses atos dependem de publicação para que possam produzir efeitos e devem prevalecer sobre a
vontade individual.
Exemplo: a Administração cria uma norma interna para que os servidores se reúnam todas as
segundas com o chefe. Como se percebe, o ato não individualiza nenhum sujeito específico, e será
aplicado de forma ampla a todos aqueles que estiverem nesse local.
b) Individuais: são aqueles destinados a um destinatário certo, impondo a norma abstrata ao caso
concreto. Nesse momento, seus destinatários são individualizados, pois a norma é geral restringindo seu
âmbito de atuação.
Não se fala em atividade em geral, mas sim de modo específico de quais agentes devem se submeter
às disposições da conduta.
Exemplo: promoção de servidor público

Quanto à abrangência dos efeitos (Alcance):


a) Internos: Destinados a produzir seus efeitos no âmbito interno da Administração Pública, não
atingindo terceiros, como as circulares e pareceres.
Via de regra, não dependem de publicação oficial, tendo em vista sua destinação interna aqueles que
estão vinculados à estrutura das entidades.
Exemplo: circular que exige que os servidores usem sapatos pretos fechados.
b) Externos: Têm como destinatárias pessoas além da Administração Pública, e, portanto, necessitam
de publicidade para que produzam adequadamente seus efeitos.
Exemplos: a fixação do horário de atendimento e a ocupação de bem privado pela Administração
Pública.

Quanto à supremacia do poder público (Objeto):


a) Atos de império: Atos onde o poder público age de forma imperativa sobre os administrados,
impondo-lhes obrigações. Exemplos de atos de império: A desapropriação e a interdição de atividades.
A Administração Pública atua com prerrogativa de poder público, valendo-se da supremacia do
interesse público sobre o privado. Aqui, o poder público impõe obrigações, aplica penalidades, sem que
se tenha que recorrer aos meios judiciais, em razão da aplicação das regras que exorbitam o direito
privado, em prol do interesse da coletividade.
Se os atos praticados contrariarem às normas vigentes, eles poderão ser anulados pela Administração
ou pelo Judiciário, podendo ainda ocorrer a sua revogação por motivos de interesse público, se forem
justificadas devidamente.
Exemplo: autos de infração, por descumprimento das normas de trânsito.
b) Atos de gestão: são aqueles realizados pelo poder público, sem as prerrogativas do Estado, sendo
que a Administração irá atuar em situação de igualdade com o particular. Nesses casos, a atividade será
regulada pelo direito privado, de modo que o Estado não irá se valer das prerrogativas que tenham relação
com a supremacia do interesse público.
Trata-se de condutas que não restringem ou ainda que não admitem que o ente estatal possa se valer
dos meios coercitivos para que haja uma execução.
Exemplo: a alienação de um imóvel público inservível.
c) Atos de expediente: São aqueles destinados a dar andamento aos processos e papéis que
tramitam no interior das repartições. Os atos de gestão (praticados sob o regime de direito privado).
Exemplo: contratos de locação em que a Administração é locatária) não são atos administrativos, mas
são atos da Administração. Para os autores que consideram o ato administrativo de forma ampla
(qualquer ato que seja da administração como sendo administrativo), os atos de gestão são atos
administrativos.

Quanto à formação: Os atos se dividem em simples, complexo e compostos.

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a) Simples: depende de uma única manifestação. Assim, a manifestação de vontade de um único
órgão, mesmo que seja de órgão colegiado, torna o ato perfeito, portanto, a vontade para manifestação
do ato deve ser unitária, obtida através de votação em órgão colegiado ou por manifestação de um agente
em órgãos singulares.
b) Complexo: decorre da manifestação de dois ou mais órgãos; de duas ou mais vontades que se
unem para formar um único ato. Neste tipo, somam-se as vontades dos órgãos públicos independentes,
em mesmo nível de hierarquia, de modo que tenham a mesma força, não se falando em dependência de
uma relação com a outra. Aqui, os atos que formarão o ato complexo serão expedidos por órgãos públicos
distintos.
Exemplo: Decreto do prefeito referendado pelo secretário.
c) Composto: manifestação de dois ou mais órgãos, em que um edita o ato principal e o outro será
acessório. Como se nota, é composto por dois atos, geralmente decorrentes do mesmo órgão público,
em patamar de desigualdade, de modo que o segundo ato deve contar com o que ocorrer com o primeiro.
Exemplo: nomeação de ministro do Superior Tribunal feito pelo Presidente da República e que
depende de aprovação do Senado. A nomeação é o ato principal e a aprovação o acessório.

Quanto a manifestação de vontade:

a) Atos unilaterais: Dependem de apenas a vontade de uma das partes. Exemplo: licença
b) Atos bilaterais: Dependem da anuência de ambas as partes. Exemplo: contrato administrativo;
c) Atos multilaterais: Dependem da vontade de várias partes. Exemplo: convênios.

Quanto à natureza do ato:

a) Atos-regra: Traçam regras gerais (regulamentos).


b) Atos subjetivos: Referem-se a situações concretas, de sujeito determinado.
c) Atos-condição: Somente surte efeitos caso determinada condição se cumpra.

Quanto aos efeitos:

a) Constitutivo: Gera uma nova situação jurídica aos destinatários. Pode ser outorgado um novo
direito, como permissão de uso de bem público, ou impondo uma obrigação, como cumprir um período
de suspensão.
Exemplo: autorização para uso de bem público a um particular que pretende montar um show na
cidade.
b) Declaratório: Simplesmente afirma ou declara uma situação já existente, seja de fato ou de direito.
Não cria, transfere ou extingue a situação existente, apenas a reconhece. Também é dito enunciativo. É
o caso da expedição de uma certidão de tempo de serviço.
c) Modificativo: Altera a situação já existente, sem que seja extinta, não retirando direitos ou
obrigações. A alteração do horário de atendimento da repartição é exemplo desse tipo de ato.
d) Extintivo: Pode também ser chamado desconstitutivo, é o ato que põe termo a um direito ou dever
existente. Cite-se a demissão do servidor público.

Quanto à validade:

a) Válido: É o que atende a todos os requisitos legais: competência, finalidade, forma, motivo e objeto.
Pode estar perfeito, pronto para produzir seus efeitos ou estar pendente de evento futuro.
b) Nulo: É o que nasce com vício insanável, ou seja, um defeito que não pode ser corrigido. Não
produz qualquer efeito entre as partes. No entanto, em face dos atributos dos atos administrativos, ele
deve ser observado até que haja decisão, seja administrativa, seja judicial, declarando sua nulidade, que
terá efeito retroativo, ex tunc, entre as partes. Por outro lado, deverão ser respeitados os direitos de
terceiros de boa-fé que tenham sido atingidos pelo ato nulo.
Cite-se a nomeação de um candidato que não tenha nível superior para um cargo que o exija. A partir
do reconhecimento do erro, o ato é anulado desde sua origem. Porém, as ações legais eventualmente
praticadas por ele, durante o período em que atuou, permanecerão válidas.
c) Anulável: É o ato que contém defeitos, porém, que podem ser sanados, convalidados. Ressalte-se
que, se mantido o defeito, o ato será nulo; se corrigido, poderá ser "salvo" e passar a ser válido. Atente-
se que nem todos os defeitos são sanáveis, mas sim aqueles expressamente previstos em lei.

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d) Inexistente: É aquele que apenas aparenta ser um ato administrativo, mas falta a manifestação de
vontade da Administração Pública. São produzidos por alguém que se faz passar por agente público, sem
sê-lo, ou que contém um objeto juridicamente impossível.
Os atos inexistentes não podem ser convalidados, sendo que os seus efeitos que já foram produzidos,
não poderão ser ressalvados, mesmo que em relação aos destinatários de boa-fé.
Exemplo do primeiro caso é a multa emitida por falso policial; do segundo, a ordem para matar alguém.

Quanto à exequibilidade:

a) Perfeito: É aquele que completou seu processo de formação, estando apto a produzir seus efeitos.
Perfeição não se confunde com validade. Esta é a adequação do ato à lei; a perfeição refere-se às etapas
de sua formação.
b) Imperfeito: Não completou seu processo de formação, portanto, não está apto a produzir seus
efeitos, faltando, por exemplo, a homologação, publicação, ou outro requisito apontado pela lei.
c) Pendente: Para produzir seus efeitos, sujeita-se a condição ou termo, mas já completou seu ciclo
de formação, estando apenas aguardando o implemento desse acessório, por isso não se confunde com
o imperfeito. Condição é evento futuro e incerto, como o casamento. Termo é evento futuro e certo, como
uma data específica.
d) Consumado: É o ato que já produziu todos os seus efeitos, nada mais havendo para realizar.
Exemplifique-se com a exoneração ou a concessão de licença para doar sangue.

Quanto ao conteúdo, os atos administrativos podem ser classificados em autorização, licença,


admissão, permissão, aprovação, homologação, parecer e visto.
Autorização: ato administrativo unilateral, discricionário e precário pelo qual a Administração faculta
ao particular o uso de bem público (autorização de uso), ou a prestação de serviço público (autorização
de serviço público), ou o desempenho de atividade material, ou a prática de ato que, sem esse
consentimento, seriam legalmente proibidos (autorização como ato de polícia).
Licença: é o ato administrativo unilateral e vinculado pelo qual a Administração faculta àquele que
preencha os requisitos legais o exercício de uma atividade. A diferença entre licença e autorização é
nítida, porque o segundo desses institutos envolve interesse, “caracterizando-se como ato discricionário,
ao passo que a licença envolve direitos, caracterizando-se como ato vinculado”. Na autorização, o Poder
Público aprecia, discricionariamente, a pretensão do particular em face do interesse público, para outorga
ou não a autorização, como ocorre no caso de consentimento para porte de arma; na licença, cabe à
autoridade tão somente verificar, em cada caso concreto, se foram preenchidos os requisitos legais
exigidos para determinada outorga administrativa e, em caso afirmativo, expedir o ato, sem possibilidade
de recusa; é o que se verifica na licença para construir e para dirigir veículos automotores. A autorização
é ato constitutivo e a licença é ato declaratório de direito preexistente.
Admissão: é ato unilateral e vinculado pelo qual a Administração reconhece ao particular, que
preencha os requisitos legais, o direito à prestação de um serviço público. É ato vinculado, tendo em vista
que os requisitos para outorga da prestação administrativa são previamente definidos, de modo que todos
os que os satisfaçam tenham direito de obter o benefício. São exemplos a admissão nas escolas públicas,
nos hospitais e nos estabelecimentos de assistência social.
Permissão: em sentido amplo, designa o ato administrativo unilateral, discricionário, gratuito ou
oneroso, pelo qual a Administração Pública faculta a execução de serviço público ou a utilização privativa
de bem público. O seu objeto é a utilização privativa de bem público por particular ou a execução de
serviço público.
Aprovação: é ato unilateral e discricionário pelo qual se exerce o controle a priori ou a posteriori do
ato administrativo. No controle a priori, equivale à autorização para a prática do ato; no controle a
posteriori equivale ao seu referendo. É ato discricionário, porque o examina sob os aspectos de
conveniência e oportunidade para o interesse público; por isso mesmo, constitui condição de eficácia do
ato.
Homologação: é o ato unilateral e vinculado pelo qual a Administração Pública reconhece a legalidade
de um ato jurídico. Ela se realiza sempre a posteriori e examina apenas o aspecto de legalidade, no que
se distingue da aprovação. É o caso do ato da autoridade que homologa o procedimento da licitação.
Parecer: é o ato pelo qual os órgãos consultivos da Administração emitem opinião sobre assuntos
técnicos ou jurídicos de sua competência. O parecer pode ser facultativo, obrigatório e vinculante. O
parecer é facultativo quando fica a critério da Administração solicitá-lo ou não, além de não ser vinculante
para quem o solicitou. Se foi indicado como fundamento da decisão, passará a integrá-la, por
corresponder à própria motivação do ato. O parecer é obrigatório quando a lei o exige como pressuposto

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para a prática do ato final. A obrigatoriedade diz respeito à solicitação do parecer (o que não lhe imprime
caráter vinculante). O parecer é vinculante quando a Administração é obrigada a solicitá-lo e a acatar a
sua conclusão. Por exemplo, para conceder aposentadoria por invalidez, a Administração tem que ouvir
o órgão médico oficial e não pode decidir em desconformidade com a sua decisão. Se a autoridade tiver
dúvida ou não concordar com o parecer, deverá pedir novo parecer. Apesar do parecer ser, em regra, ato
meramente opinativo, que não produz efeitos jurídicos, o STF tem admitido a responsabilização de
consultores jurídicos quando o parecer for vinculante para a autoridade administrativa, desde que
proferido com má-fé ou culpa.
Visto: é o ato administrativo unilateral pelo qual a autoridade competente atesta a legitimidade formal
de outro ato jurídico. Não significa concordância com o seu conteúdo, razão pela qual é incluído entre os
atos de conhecimento, que são meros atos administrativos e não encerram manifestações de vontade.
Exemplo de visto é o exigido para encaminhamento de requerimento de servidores subordinados a
autoridade de superior instância; a lei normalmente impõe o visto do chefe imediato, para fins de
conhecimento e controle formal, não equivalendo à concordância ou deferimento do seu conteúdo.

Quanto à forma, os atos administrativos podem ser classificados em decreto, resolução e portaria,
circular, despacho, alvará.
Decretos: São atos emanados pelos chefes do Poder Executivo, tais como, prefeitos, governadores e
o Presidente da República. Podem ser dirigidos abstratamente às pessoas em geral (decreto geral), ou a
pessoas, ou a um grupo de pessoas determinadas. (decreto individual). O decreto geral é ato normativo,
apresentado efeitos e conteúdos semelhantes à lei.
Resoluções e Portarias: São atos emanados por autoridades superiores, mas não os chefes do Poder
Executivo. Ou seja, é a forma pelo qual as autoridades de nível inferior aos Chefes do Poder Executivo
fixam normas gerais para disciplinar conduta de seus subordinados. Embora possam produzir efeitos
externos, as resoluções e portarias não podem contrariar os regulamentos e os regimentos, limitando-se
a explicá-los.
Circular: É o instrumento usado para a transmissão de ordens internas uniformes, incumbindo de
certos serviços ou atribuições a certos funcionários. É o ato que envolve a decisão da Administração
sobre assuntos de interesse individual ou coletivo submetido a sua apreciação.
Despacho: Quando a administração, por meio de um despacho, aprova parecer proferido por órgão
técnico sobre determinado assunto de interesse geral, este despacho é denominado de despacho
normativo. O despacho normativo deverá ser observado por toda administração, valendo como solução
para todos os casos que se encontram na mesma situação.
Alvará: é instrumento pelo qual a Administração se vale para conferir ao administrado uma licença ou
autorização. Ou seja, é o formato pelo qual são emitidas as licenças e autorizações. Como se pode notar,
enquanto as licenças e autorizações representam o conteúdo, o alvará representa a forma.

Questões

01. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário – NUCEPE/2017). Assinale a alternativa CORRETA sobre os


atos administrativos.
(A) Atos individuais, também chamados de normativos, são aqueles que se voltam para a regulação
de situações jurídicas concretas, com destinatários individualizados, como instruções normativas e
regulamentos.
(B) Em razão do formalismo que o caracteriza, o ato administrativo deve sempre ser escrito, sendo
juridicamente insubsistentes comandos administrativos verbais.
(C) Aprovação é o ato unilateral e vinculado pelo qual a Administração Pública reconhece a legalidade
de um ato jurídico.
(D) Tanto os atos vinculados como os atos discricionários podem ser objeto de controle pelo Poder
Judiciário.
(E) Os provimentos são exclusivos dos órgãos colegiados, servindo especificamente para demonstrar
sua organização e seu funcionamento.

02. (UFRB - Assistente em Administração – FUNRIO). Quanto a seus destinatários, os atos


administrativos se classificam em
(A) simples e compostos.
(B) gerais e individuais.
(C) fechados e abertos.
(D) unilaterais e complexos.

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(E) internos e especiais.

03. (IF-BA - Assistente em Administração - FUNRIO) O ato administrativo pelo qual os órgãos
consultivos da Administração emitem opinião sobre assuntos técnicos ou jurídicos de sua competência é
(A) a homologação.
(B) o visto.
(C) o parecer.
(D) o relatório.
(E) a declaração.

Gabarito

01.D / 02.B / 03.C

Comentários

01. Resposta: D
- Atos vinculados: Possui todos seus elementos determinados em lei, não existindo possibilidade de
apreciação por parte do administrador quanto à oportunidade ou à conveniência. Cabe ao administrador
apenas a verificação da existência de todos os elementos expressos em lei para a prática do ato. Caso
todos os elementos estejam presentes, o administrador é obrigado a praticar o ato administrativo; caso
contrário, ele estará proibido da prática do ato.
- Atos discricionários: O administrador pode decidir sobre o motivo e sobre o objeto do ato, devendo
pautar suas escolhas de acordo com as razões de oportunidade e conveniência. A discricionariedade é
sempre concedida por lei e deve sempre estar em acordo com o princípio da finalidade pública. O poder
judiciário não pode avaliar as razões de conveniência e oportunidade (mérito), apenas a legalidade, os
motivos e o conteúdo ou objeto do ato.

02. Resposta: B
Atos Gerais - São aqueles expedidos sem destinatários determinados, possuem finalidade normativa,
atingindo todos os sujeitos que se encontrem na mesma situação de fato, abrangida por seus preceitos.
Apresenta cunho normativo, não se sabe quem o ato vai atingir por não ter individualização. Ex.: Ato que
concede promoção a uma categoria profissional.
Atos Individuais – São aqueles voltados a destinatários certos. Apresenta cunho ordinário e
enunciativo, sem caráter normativo.
Ex: Secretaria de Esportes convoca seus diretores para participarem de reunião.

03. Resposta: C
O enunciado da questão apresenta o conceito de parecer sendo este o ato pelo qual os órgãos
consultivos da Administração emitem opiniões sobre assuntos de sua competência.

Espécies de ato administrativo12

a) Atos normativos: São aqueles que contém um comando geral do Executivo visando o cumprimento
de uma lei. Podem apresentar-se com a característica de generalidade e abstração (decreto geral que
regulamenta uma lei), ou individualidade e concreção (decreto de nomeação de um servidor).
Os atos normativos se subdividem em:
Regulamentos – São atos normativos posteriores aos decretos, que visam especificar as disposições
de lei, assim como seus mandamentos legais. As leis que não forem executáveis, dependem de
regulamentos, que não contrariem a lei originária. Já as leis auto-executáveis independem de
regulamentos para produzir efeitos.
- Regulamentos executivos: são os editados para a fiel execução da lei, é um ato administrativo que
não tem o foto de inovar o ordenamento jurídico, sendo praticado para complementar o texto legal. Os
regulamentos executivos são atos normativos que complementam os dispositivos legais, sem que ivovem
a ordem jurídica, com a criação de direitos e obrigações.

12
http://domtotal.com/direito/pagina/detalhe/31774/especies-de-atos-administrativos-em-relacao-ao-conteudo

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-Regulamentos autônomos: agem em substituição a lei e visam inovar o ordenamento jurídico,
determinando normas sobre matérias não disciplinadas em previsão legislativa. Assim, podem ser
considerados atos expedidos como substitutos da lei e não facilitadores de sua aplicação, já que são
editados sem contemplar qualquer previsão anterior.
Nosso ordenamento diverge acercada da possibilidade ou não de serem expedidos regulamentos
autônomos, em decorrência do princípio da legalidade.
Instruções normativas – Possuem previsão expressa na Constituição Federal, em seu artigo 87,
inciso II. São atos administrativos privativos dos Ministros de Estado.
Regimentos – São atos administrativos internos que emanam do poder hierárquico do Executivo ou
da capacidade de auto-organização interna das corporações legislativas e judiciárias. Desta maneira, se
destinam à disciplina dos sujeitos do órgão que o expediu.
Resoluções – São atos administrativos inferiores aos regimentos e regulamentos, expedidos pelas
autoridades do executivo.
Deliberações – São atos normativos ou decisórios que emanam de órgãos colegiados provenientes
de acordo com os regulamentos e regimentos das organizações coletivas. Geram direitos para seus
beneficiários, sendo via de regra, vinculadas para a Administração.

b) Atos ordinatórios: São os que visam a disciplinar o funcionamento da Administração e a conduta


funcional de seus agentes. Emanam do poder hierárquico, isto é, podem ser expedidos por chefes de
serviços aos seus subordinados. Logo, não obrigam aos particulares.

São eles:
Instruções – orientação do subalterno pelo superior hierárquico em desempenhar determinada
função;
Circulares – ordem uniforme e escrita expedida para determinados funcionários ou agentes;
Avisos – atos de titularidade de Ministros em relação ao Ministério;
Portarias – atos emanados pelos chefes de órgãos públicos aos seus subalternos que determinam a
realização de atos especiais ou gerais;
Ordens de serviço – determinações especiais dirigidas aos responsáveis por obras ou serviços
públicos;
Provimentos – atos administrativos intermos, com determinações e instruções em que a Corregedoria
ou os Tribunais expedem para regularização ou uniformização dos serviços;
Ofícios – comunicações oficiais que são feitas pela Administração a terceiros;
Despachos administrativos – são decisões tomadas pela autoridade executiva (ou legislativa e
judiciária, quando no exercício da função administrativa) em requerimentos e processos administrativos
sujeitos à sua administração.

c) Atos negociais: São todos aqueles que contêm uma declaração de vontade da Administração apta
a concretizar determinado negócio jurídico ou a deferir certa faculdade ao particular, nas condições
impostas ou consentidas pelo Poder Público.
Licença – ato definitivo e vinculado (não precário) em que a Administração concede ao Administrado
a faculdade de realizar determinada atividade.
Autorização – ato discricionário e precário em que a Administração confere ao administrado a
faculdade de exercer determinada atividade.
Permissão - ato discricionário e precário em que a Administração confere ao administrado a faculdade
de promover certa atividade nas situações determinadas por ela;
Aprovação - análise pela própria administração de atividades prestadas por seus órgãos;
Visto - é a declaração de legitimidade de deerminado ato praticado pela própria Administração como
maneira de exequibilidade;
Homologação - análise da conveniência e legalidade de ato praticado pelos seus órgãos como meio
de lhe dar eficácia;
Dispensa - ato administrativo que exime o particular do cumprimento de certa obrigação até então
conferida por lei. Ex. Dispensa de prestação do serviço militar;
Renúncia - ato administrativo em que o poder Público extingue de forma unilateral um direito próprio,
liberando definitivamente a pessoa obrigada perante a Administração Pública. A sua principal
característica é a irreversibilidade depois de consumada.

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d) Atos enunciativos: São todos aqueles em que a Administração se limita a certificar ou a atestar
um fato, ou emitir uma opinião sobre determinado assunto, constantes de registros, processos e arquivos
públicos, sendo sempre, por isso, vinculados quanto ao motivo e ao conteúdo.
Atestado - são atos pelos quais a Administração Pública comprova um fato ou uma situação de que
tenha conhecimento por meio dos órgãos competentes;
Certidão – tratam-se de cópias ou fotocópias fiéis e autenticadas de atos ou fatos existentes em
processos, livros ou documentos que estejam na repartição pública;
Pareceres - são manifestações de órgãos técnicos referentes a assuntos submetidos à sua
consideração.

e) Atos punitivos: São aqueles que contêm uma sanção imposta pela lei e aplicada pela
Administração, visando punir as infrações administrativas ou condutas irregulares de servidores ou de
particulares perante a Administração.
Esses atos são aplicados para aqueles que desrespeitam as disposições legais, regulamentares ou
ordinatórias dos bens ou serviços.
Quanto à sua atuação os atos punitivos podem ser de atuação externa e interna. Quando for interna,
compete à Administração punir disciplinarmente seus servidores e corrigir os serviços que contenham
defeitos, por meio de sanções previstas nos estatutos, fazendo com que se respeite as normas
administrativas.

Questões

01. (PC/CE - Delegado de Polícia Civil de 1ª Classe – VUNESP). São atos administrativos
ordinatórios, entre outros,
(A) os Decretos, os Despachos, os Regimentos e as Resoluções.
(B) os Despachos, os Avisos, as Portarias e as Ordens de Serviço.
(C) os Decretos, as Instruções, os Provimentos e os Regimentos.
(D) as Instruções, as Deliberações, as Portarias e os Regulamentos.
(E) os Regulamentos, as Instruções, os Regimentos e as Deliberações.

02. (TCE/GO - Analista de Controle Externo - FCC) Enzo, servidor público e chefe de determinada
repartição pública, na mesma data, editou dois atos administrativos distintos, quais sejam, uma certidão
e uma licença. No que concerne às espécies de atos administrativos, tais atos são classificados em
(A) ordinatórios e negociais, respectivamente.
(B) enunciativos.
(C) negociais.
(D) enunciativos e negociais, respectivamente.
(E) normativos e ordinatórios, respectivamente.

Gabarito

01.B/ 02.D.

Comentários

01. Resposta: B
Atos ordinatórios são aqueles que tem por objetivo disciplinar o funcionamento da Administração e a
conduta funcional dos seus agentes, representando exercício do poder hierárquico do Estado. São
espécies de atos ordinatórios: as portarias, as instruções, os avisos, as circulares, as ordens de serviço,
os ofícios e os despachos.

02. Resposta: D
Os atos praticados pelo servidor são atos enunciativos e negociais. Atos enunciativos: São todos
aqueles em que a Administração se limita a certificar ou a atestar um fato, ou emitir uma opinião sobre
determinado assunto, constantes de registros, processos e arquivos públicos, sendo sempre, por isso,
vinculados quanto ao motivo e ao conteúdo. Atos negociais: São todos aqueles que contêm uma
declaração de vontade da Administração apta a concretizar determinado negócio jurídico ou a deferir
certa faculdade ao particular, nas condições impostas ou consentidas pelo Poder Público.

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Extinção do ato administrativo

Anulação ou invalidação (desfazimento) É a retirada, o desfazimento do ato administrativo em


decorrência de sua invalidade, ou seja, é a extinção de um ato ilegal, determinada pela Administração ou
pelo judiciário, com eficácia retroativa – ex tunc.
A anulação pode acontecer por via judicial ou por via administrativa. Ocorrerá por via judicial quando
alguém solicita ao Judiciário a anulação do ato. Ocorrerá por via administrativa quando a própria
Administração expede um ato anulando o antecedente, utilizando-se do princípio da autotutela, ou seja,
a Administração tem o poder de rever seus atos sempre que eles forem ilegais ou inconvenientes. Quando
a anulação é feita por via administrativa, pode ser realizada de ofício ou por provocação de terceiros.
A anulação de um ato não pode prejudicar terceiro de boa-fé.

Vejamos o que consta nas Súmulas 346 e 473 do STF:

SÚMULA 346
A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.

SÚMULA 473
A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais,
porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

Um ponto muito discutido pela doutrina diz respeito ao caráter vinculado ou discricionário da anulação.
Os que defendem que deve-se anular (caráter vinculado), embasam esse entendimento no princípio da
legalidade e os que defendem como uma faculdade (caráter discricionário) invocam o princípio da
predominância do interesse público sobre o particular.
O entendimento por nós defendido é de que, em regra, a Administração, tem o dever de anular os atos
ilegais.
Revogação É a retirada do ato administrativo em decorrência da sua inconveniência ou inoportunidade
em face dos interesses públicos. Somente se revoga ato válido que foi praticado de acordo com a lei. A
revogação somente poderá ser feita por via administrativa.
Quando se revoga um ato, diz-se que a Administração perdeu o interesse na manutenção deste, ainda
que não exista vício que o tome. Trata-se de ato discricionário, referente ao mérito administrativo, por set
um ato legal, todos os atos já foram produzidos de forma lícita, de modo que a revogação não irá retroagir,
contudo mantem-se os efeitos já produzidos (ex nunc).
Não há limite temporal para a revogação de atos administrativos, não se configurando a decadência,
no prazo quinquenal, tendo em vista o entendimento que o interesse público pode ser alterado a qualquer
tempo.
Não existe efeito repristinatório, ou seja, a retirada do ato, por razões de conveniência e oportunidade.

Prescrição O instituto da prescrição, entendida como a perda do direito de ação devido à inércia de
seu titular, também é reconhecido pela legislação pertinente ao Direito Administrativo.
Como regra, o prazo para interposição de recursos administrativos é de cinco dias.
Já o prazo para propositura de ações judiciais, tanto pela Administração quanto pelo administrado, em
regra é de cinco anos. Importante destacar que as hipóteses de suspensão e interrupção do prazo
prescricional previstas na legislação civil também são aplicáveis às ações judiciais pertinentes ao Direito
Administrativo.

Questões

01. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário – NUCEPE/2017). Sobre a revogação dos atos administrativos,
assinale a alternativa INCORRETA.
(A) Nem todos os atos administrativos podem ser revogados.
(B) A revogação de ato administrativo é realizada, ordinariamente, pelo Poder Judiciário, cabendo-lhe
ainda examinar os aspectos de validade do ato revogador.
(C) Considerando que a revogação atinge um ato que foi praticado em conformidade com a lei, seus
efeitos são ex nunc.
(D) Pode a Administração Pública se arrepender da revogação de determinado ato.
(E) O fundamento jurídico da revogação reside no poder discricionário da Administração Pública

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02. (CONFERE - Assistente Administrativo VII - INSTITUTO CIDADES/2016). A anulação do ato
administrativo:
(A) Pode ser decretada à revelia pelo administrador público.
(B) Pode ser decretada somente pelo poder judiciário, desde que exista base legal para isso.
(C) Pode ser decretada tanto pelo poder judiciário como pela administração pública competente.
(D) Não pode ser decretada em hipótese alguma, pois o ato administrativo tem força de lei.

03. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto – FAURGS/2016). No que se refere aos atos administrativos,
assinale a alternativa correta.
(A) Em face de sua competência para apreciar a legalidade de quaisquer atos administrativos para fins
de registro, a declaração de invalidade ou anulação por vícios legais desses atos é exclusiva do Poder
Legislativo respectivo.
(B) O direito da Administração de anular seus próprios atos de que decorram efeitos favoráveis aos
destinatários prescreve em 3 (três) anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada
má-fé.
(C) A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode
revogá-los por motivos de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.
(D) Têm natureza política e são excluídos de apreciação pelo Poder Judiciário os atos administrativos
dotados de vinculação resultantes do exercício do poder de polícia administrativa que limitam ou
disciplinam direito, interesse ou liberdade dos administrados.
(E) Os atos administrativos eivados de vício que os tornem ilegais somente podem ser declarados
inválidos ou revogados pelo Poder Judiciário.

04. (DPE/MA - Defensor Público – FCC). No que tange à competência para revogar atos
administrativos, é correto afirmar que
(A) a revogação de atos que se sabem eivados de nulidade é possível, desde que devidamente
motivada por razões de interesse público.
(B) a competência para revogar é sempre delegável.
(C) atos já exauridos podem ser revogados, desde seja expressamente atribuído efeito retroativo ao
ato revocatório.
(D) atos ineficazes, porque ainda não implementada condição deflagradora de sua eficácia, estão
sujeitos à revogação.
(E) é possível revogar atos vinculados, desde que sua edição seja de competência autoridade que
editará o ato revocatório

05. (TRT - 18ª Região (GO)Prova: Juiz do Trabalho – FCC). No que tange à validade dos atos
administrativos
(A) é possível convalidar ato administrativo praticado com vício de finalidade, desde que se evidencie
que tal decisão não acarrete prejuízo a terceiros.
(B) todos os atos administrativos praticados com vício de competência devem ser anulados, pois se
trata de elemento essencial à validade dos atos administrativos.
(C) o descumprimento, pelo administrado, dos requisitos referentes ao desfrute de uma dada situação
jurídica, justifica a anulação do ato administrativo que gerou referida situação.
(D) a caducidade é a extinção de ato administrativo em razão da superveniência de legislação que
tornou inadmissível situação anteriormente consentida, com base na legislação então aplicável.
(E) os atos praticados por agente incompetente estão sujeitos à revogação pela autoridade que detém
a competência legal para sua prática.

Gabarito

01.B/ 02.C/ 03.C/ 04.D/ 05.D.

Comentários

01. Resposta: B
Revogação é a retirada do ato administrativo em decorrência da sua inconveniência ou inoportunidade
em face dos interesses públicos. Somente se revoga ato válido que foi praticado de acordo com a lei.

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02. Resposta: C
A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-
los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.
O ato administrativo também pode ser anulado pelo Poder Judiciário

03. Resposta: C
Súmula 473
A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais,
porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

04. Resposta: D
Um ato administrativo pode ser ineficaz por algumas razões, ou não está formado ou foi extinto. Dessa
forma, os atos que apresentam condição deflagadora de eficácia, estão sujeitos à revogação.

05. Resposta: D
O Prof. José dos Santos Carvalho Filho cita o seguinte exemplo: "uma permissão para uso de um bem
público; se, supervenientemente, é editada lei que proíbe tal uso privativo por particular, o ato anterior, de
natureza precária, sofre caducidade, extinguindo-se."
Outro exemplo é apresentado pela Prof. Maria Sylvia Di Pietro: "a caducidade de permissão para
explorar parque de diversões em local que, em face da nova lei de zoneamento, tornou-se incompatível
com aquele tipo de uso".

Noções de Direito Constitucional: Dos Princípios Fundamentais (Art. 1º ao 4º);

Os princípios fundamentais13 encontram-se no título I, artigos 1° a 4° da Constituição Federal. São


fundamentais por constituírem um alicerce constitucional e influenciaram a elaboração da Constituição da
República, portanto, são aqueles que fundamentam as normas jurídicas informadoras no ordenamento
constitucional brasileiro.
Tem como finalidade a garantia da unidade da Constituição brasileira, a preservação do Estado
Democrático de Direito e orientar a ação dos intérpretes.
Os princípios fundamentais foram expressamente inseridos no texto constitucional, assim, nenhuma
norma infraconstitucional pode contradize-los, sob pena de inconstitucionalidade. Pode-se dizer que,
violar os princípios é, muitas vezes, mais grave que violar uma regra específica, por ofender um norma
informadora de todo ordenamento jurídico.

Vejamos a seguir o texto constitucional pertinente ao assunto:

TÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição.
A forma de Estado é a Federativa (responsabiliza-se pela indissolubilidade dos vínculos federais entre
União, Estados, Distrito Federal e Municípios) e a forma de Governo é a República (a ideia é de que os
representantes são eleitos pelo povo), formou-se assim, o nome do nosso país, República Federativa do
Brasil – que se constitui em Estado Democrático de Direito.

13
PINHO. Rodrigo Cesar Rebello. Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais – 12° edição.

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Estado Democrático de Direito: Assegura direitos inalienáveis que, sem eles, não teria democracia
nem liberdades públicas. Essa expressão traz em si a ideia do Estado formado a partir da vontade do
povo, voltado para o povo e ao interesse do povo (o povo tem uma participação ativa, sempre com o
respeito aos Direitos e garantias fundamentais), e tem por fundamentos:
I – Soberania: Não existe Estado sem soberania, o que significa a supremacia do Estado brasileiro na
ordem política interna e a independência na ordem política externa.
II – Cidadania: Abrange tanto a titularidade de direitos políticos, como também os civis. A cidadania
alcança o exercício do direito de votar e ser votado e o efetivo exercício dos diversos direitos previstos na
Constituição (educação, saúde, trabalho, etc.).
III - Dignidade da pessoa humana: É o absoluto respeito aos direitos fundamentais de todo ser
humano, assegurando-se condições dignas de existência para todos, independentemente de credo, raça,
cor, origem ou status social. O ser humano é considerado pelo Estado brasileiro como um fim em si
mesmo, jamais como meio para atingir outros objetivos.
IV - Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa: O trabalho e a livre iniciativa foram identificados
como fundamentos da ordem econômica estabelecida no Brasil, ambos considerados indispensáveis para
o adequado desenvolvimento do Estado brasileiro. A garantia do trabalho engloba empregados e
empregadores, autônomos e assalariados. Esses dois fatores (trabalho e livre iniciativa) revelam o modo
de produção capitalista vigente. A Constituição pretende estabelecer um regime de harmonia entre capital
e trabalho.
V - Pluralismo político: É a livre formação de correntes políticas no País, permitindo a representação
das diversas camadas da opinião pública em diferentes segmentos, como partidos políticos, sindicatos,
associações, entidades de classe, igrejas, universidades, escolas, etc. Esse dispositivo constitucional
veda a adoção de leis infraconstitucionais que estabeleçam um regime de partido único ou um sistema
de bipartidarismo forçado ou que impeçam uma corrente política de se manifestar no País.
O parágrafo único relata o princípio representativo, que significa que todo poder emana do povo, por
meio de representantes eleitos, mediante eleições livres e periódicas. Os escolhidos governam
exteriorizando a vontade geral.

O artigo 1º traz importantes observações. Vejamos:

- forma de Estado: Federação;


- forma de Governo: a República;
- forma de Sistema de Governo: o
Presidencialista;
- regime de Governo: o Democrático.

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário.
Os poderes tem cada qual sua competência Constitucional:
a) O Poder Executivo é incumbido de resolver os problemas concretos e individualizados de acordo
com a lei. Implementa ou executa as leis e a agenda diária do governo ou do Estado. Nos países
presidencialistas, o poder executivo é representado pelo seu presidente, que acumula as funções de
chefe de governo e chefe de estado.
b) O Poder Legislativo é o poder de legislar, criar leis. O poder legislativo na maioria das repúblicas e
monarquias é constituído por um congresso, parlamento, assembleias ou câmaras. O objetivo do poder
legislativo é elaborar normas de direito de abrangência geral (ou, raramente, de abrangência individual)
que são estabelecidas aos cidadãos ou às instituições públicas nas suas relações recíprocas.
c) O Poder judiciário aplica autoritariamente a lei nos casos concretos. Possui a capacidade de julgar,
de acordo com as leis criadas pelo Poder Legislativo e de acordo com as regras constitucionais em
determinado país. Ministros, Desembargadores e Juízes formam a classe dos magistrados (os que
julgam).

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
Consolidada nos princípios da liberdade, justiça e solidariedade.
II - garantir o desenvolvimento nacional;
Em todos os sentidos, tanto econômico, como também social. O que explica os diversos programas
governamentais.
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

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Redução e proteção contra as desigualdades entre os estados.
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.
Preocupa-se com a igualdade e a eliminação da discriminação.
Atenção! Observa-se que os objetivos previstos neste artigo, não se confundem com os fundamentos
estabelecidos no artigo 1º, tendo em vista que os fundamentos são princípios inerentes ao próprio Estado
brasileiro, fazem parte de sua construção, já os objetivos fundamentais são as finalidades a serem
alcançadas.

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes
princípios:
I - independência nacional;
Liga-se a ideia de soberania, pois o Estado brasileiro é independente por sua vontade não estar
condicionada à ordens externas.
II - prevalência dos direitos humanos;
Reforça a ideia de que o respeito às prerrogativas do homem também devem guiar as relações
exteriores do país.
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
Neste princípio, o Estado deve repelir qualquer tentativa de ameaça à organização interna que possa
prejudicar o desenvolvimento econômico, político, social e cultural.
V - igualdade entre os Estados;
O Brasil não deve sujeitar-se ao controle econômico, político, social e tecnológico de outras
organizações estatais.
VI - defesa da paz;
Este princípio é inspirador dos relacionamentos do Brasil com outros Estados de ordem mundial.
VII - solução pacífica dos conflitos;
Acaba com a violência ou coação, garantindo os direitos humanos e a paz entre os povos.
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
Tem como objetivo combater disparidades que impedem o progresso da humanidade.
X - concessão de asilo político.
Asilo político é o acolhimento de estrangeiro por um Estado que não é seu em razão de perseguições
feitas por seu, ou outros países.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e
cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de
nações.
Outros princípios fundamentais estão espalhados por todo o texto constitucional, de forma explícita ou
implícita. Muitos de forma até repetitiva, para que não sejam desconsiderados. As colisões de princípios
são resolvidas pelo critério de peso, preponderando o de maior valor no caso concreto, pois ambas as
normas jurídicas são consideradas igualmente válidas. Por exemplo: o eterno dilema entre a liberdade de
informação jornalística e a tutela da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas
(CF/88, art. 220, §1º). Há necessidade de compatibilizar ao máximo os princípios, podendo prevalecer,
no caso concreto, a aplicação de um ou outro direito.14

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Questões

01. (TRT 6ª Região/PE - Técnico Judiciário - FCC/2018) À luz do que dispõe a Constituição Federal
quanto aos seus princípios fundamentais,
A) todo o poder emana de Deus, que o exerce por meio de representantes eleitos pelo povo, nos
termos da Constituição.
B) são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo, o Judiciário
e o Moderador.
C) constituem, dentre outros, objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil os valores
sociais do trabalho e da livre iniciativa.
D) a República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos
povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
E) a República Federativa do Brasil tem como um de seus fundamentos a cooperação entre os povos
para o progresso da humanidade.

02. (TRT 6ª Região/PE - Técnico Judiciário - FCC/2018) À luz do que dispõe a Constituição Federal
quanto aos seus princípios fundamentais,
(A) todo o poder emana de Deus, que o exerce por meio de representantes eleitos pelo povo, nos
termos da Constituição.
(B) são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo, o Judiciário
e o Moderador.
(C) constituem, dentre outros, objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil os valores
sociais do trabalho e da livre iniciativa.
(D) a República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos
povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
(E) a República Federativa do Brasil tem como um de seus fundamentos a cooperação entre os povos
para o progresso da humanidade.

03. (MPE/RN - Técnico do Ministério Público Estadual - COMPERVE/2017) Os objetivos


fundamentais da república brasileira são metas que o Estado deve promover com força vinculante e
imediata, servindo como norte a ser seguido em toda e qualquer atividade estatal. Nessa acepção, a
Constituição Federal aponta, expressamente, como objetivo fundamental a PROMOÇÃO
(A) do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo e cor.
(B) de uma sociedade livre, justa e solidária com repúdio ao racismo e ao terrorismo.
(C) da erradicação da miséria e da marginalização e da redução da desigualdade nacional.
(D) da autodeterminação dos povos e dos direitos humanos.

04. (IF/TO - Auditor - IF/TO/2016) Quantos aos princípios do Estado brasileiro constantes na
Constituição Federal, assinale a alternativa incorreta.

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(A) A promoção da cidadania e a dignidade da pessoa humana são exemplos de fundamentos da
República Federativa do Brasil.
(B) São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário.
(C) A República Federativa do Brasil apenas é formada pela união dos Municípios e do Distrito Federal.
(D) Construir uma sociedade livre, justa e solidária, bem como garantir o desenvolvimento nacional,
são exemplos de objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil.
(E) A prevalência dos direitos humanos, assim como o repúdio ao terrorismo e ao racismo, são
exemplos de princípios que devem reger o Brasil nas relações internacionais.

05. (PC/GO - Escrivão de Polícia Substituto - CESPE/2016) Assinale a opção que apresenta um dos
fundamentos da República Federativa do Brasil previsto expressamente na Constituição Federal de 1988.
(A) valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
(B) autodeterminação dos povos
(C) igualdade entre os estados
(D) erradicação da pobreza
(E) solução pacífica dos conflitos

06. (DPE/BA - Defensor Público - FCC/2016) De acordo com disposição expressa da Constituição
Federal, a República Federativa do Brasil tem como fundamento
(A) desenvolvimento nacional.
(B) estado social de direito.
(C) defesa da paz.
(D) soberania.
(E) prevalência dos direitos humanos.

07. (Pref. de Chapecó/SC - Engenheiro de Trânsito IOBV/2016) Assinale a alternativa que está
incorreta:
(A) A República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal.
(B) São Poderes da União, independentes e sucessivos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Conselho Nacional de Justiça.
(C) A soberania e o pluralismo político são fundamentos da República Federativa do Brasil.
(D) É objetivo fundamental da República Federativa do Brasil garantir o desenvolvimento nacional.

08. (IFF - Assistente de Administração - FCM/2016) NÃO é um dos objetivos fundamentais da


República Federativa do Brasil
(A) garantir o desenvolvimento nacional.
(B) construir uma sociedade livre, justa e solidária.
(C) constituir uma supremacia perante os países da América Latina.
(D) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.
(E) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.

09. (PGE/MT - Técnico Administrativo - FCC/2016) É um dos objetivos fundamentais da República


Federativa do Brasil, previsto no art. 3º da Constituição Federal,
(A) garantir uma renda mínima a todo cidadão.
(B) combater à fome.
(C) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.
(D) erradicar o analfabetismo.
(E) garantir a paz no território nacional.

10. (SEGEP/MA - Técnico da Receita Estadual - FCC/2016) NÃO consta entre os princípios que
regem as relações internacionais da República Federativa do Brasil:
(A) A defesa da paz.
(B) O repúdio ao terrorismo e ao racismo.
(C) A prevalência dos direitos humanos.

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(D) A redução das desigualdades regionais na América Latina.
(E) A autodeterminação dos povos.

11. (Pref. de Araguari/MG - Procurador Municipal - IADHED/2016) Assinale a alternativa que não
corresponde a um princípio fundamental que rege a República Federativa do Brasil de 1988 nas relações
internacionais, conforme disposição expressa no texto constitucional:
(A) Independência nacional;
(B) Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
(C) Repúdio ao terrorismo e ao racismo;
(D) Defesa da paz.

12. (CBTU - Assistente Operacional - FUMARC/2016) A República Federativa do Brasil rege-se nas
suas relações internacionais pelos seguintes princípios, EXCETO:
(A) Igualdade entre os Estados.
(B) Independência nacional.
(C) Não intervenção.
(D) Pluralismo político.

Gabarito

01.D / 02.D / 03.A / 04.C / 05.A / 06.D / 07.B / 08.C / 09.C / 10.D / 11.B / 12.D

Comentários

01. Resposta: D
Alternativa A - Art. 1º, Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Alternativa B) Art. 2º. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário. (O poder moderador não é poder da União).
Alternativa C) Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
Alternativa D) Art. 4º, Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações.
Alternativa E) Art. 4º. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios: IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

02. Resposta: D
Art. 4º - Parágrafo único. A República Federativa do Brasil bus cará a integração econômica, política,
social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana
de nações.

03. Resposta: A
Considerando o que disciplina o art. 3º, IV, da CF/88, é um dos objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação. Cuidado, embora as demais alternativas mencionem
igualmente objetivos da República, o verbo “promover” encontra-se presente apenas no inciso
mencionado.

04. Resposta: C
Dispõe o caput do art. 1º da CF/88, que “a República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito” (...). Deste modo, a alternativa “C” está incorreta, por mencionar que está é constituída “apenas”
pela união dos Municípios e do Distrito Federal.

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05. Resposta: A
Nos termos do artigo 1º da CF/88, são fundamentos da República Federativa do Brasil: I - a soberania;
II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.

06. Resposta: D
Conforme art. 1º da CF/88: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais
do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político.

07. Resposta: B
Dispõe o artigo 2º, CF/88: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo,
o Executivo e o Judiciário”. Assim, observa-se que os Poderes não são sucessivos, mas sim harmônicos
entre si. Ademais, no texto foi substituído o Poder Judiciário pelo Conselho Nacional de Justiça.

08. Resposta: C
Os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil estão previsto no art. 3º da CF/88, não
estando entre eles o de constituir uma supremacia perante os países da América Latina.

09. Resposta: C
Nos termos do que prevê o art. 3º da CF/88, é um dos objetivos fundamentais da República Federativa
do Brasil promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.

10. Resposta: D
Considerando o que prevê o art. 4º da CF/88, não consta como um dos princípios que regem as
relações internacionais do país a redução das desigualdades regionais na América Latina. Ademais, de
acordo com o previsto no parágrafo único, do referido artigo, a República Federativa do Brasil buscará a
integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações.

11. Resposta: B
Dentre os princípios fundamentais que regem as relações internacionais previstos no art. 4º da CF/88,
não está inserido o previsto na alternativa “B”. Além disso, os valores sociais do trabalho e a livre inciativa
são fundamentos da República Federativa do Brasil, previsto no art. 1º.

12. Resposta: D
Diante do expresso no artigo 4º da CF/88, o pluralismo político não faz parte dos princípios que regem
as relações internacionais. Ademais, este instituto é um dos fundamentos da República Federativa do
Brasil.

Dos Direitos e Garantias Fundamentais (Art. 5º ao 11);

A Constituição Federal de 1988 (CF) trouxe em seu Título II os direitos e garantias fundamentais,
subdivididos em cinco capítulos: direitos e deveres individuais e coletivos, direitos sociais,
nacionalidade, direitos políticos e partidos políticos.

Direitos e Deveres Individuais e Coletivos

A CF foi a primeira a estabelecer direitos não só de indivíduos, mas também de grupos sociais, os
denominados direitos coletivos. As pessoas passaram a ser coletivamente consideradas. Por outro lado,
pela primeira vez, junto com os direitos, foram também estabelecidos expressamente deveres
fundamentais. Tanto os agentes públicos como os indivíduos têm obrigações específicas, inclusive a de
respeitar os direitos das demais pessoas que vivem na ordem social.

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Iniciaremos com a análise do Artigo 5º da CF com apontamentos em todos os incisos para melhor
compreensão do tema.

Constituição Federal:
TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Artigo 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Esta norma constitucional protege os bens jurídicos dos cidadãos, que são: vida, liberdade,
igualdade, segurança e propriedade.
A relação extensa de direitos individuais estabelecida neste artigo tem caráter meramente
enunciativo, não se trata de rol taxativo. Existem outros direitos individuais resguardados em outras
normas previstas na própria Constituição (por exemplo, o previsto no art. 150, contendo garantias de
ordem tributária).

Segue explicações de cada inciso:

I- homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
Este inciso traz um dos princípios mais importantes existentes, que é o princípio da isonomia ou da
igualdade. Tal princípio igualou os direitos e obrigações dos homens e mulheres, porém, deve-se observar
que este princípio permite que seja possível as diferenciações na medida das desigualdades de cada um.

II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
Destacamos o princípio da legalidade. Ele garante a segurança jurídica e impede que o Estado aja de
forma arbitrária. Tal princípio tem por escopo explicitar que nenhum cidadão será obrigado a realizar ou
deixar de realizar condutas que não estejam definidas em lei. Além disso, se não existe uma lei que proíba
uma determinada conduta ao cidadão, significa que ela é permitida.
A legalidade não se confunde com reserva legal. A legalidade é mais ampla, significa que deve haver
lei, elaborada segundo as regras do processo legislativo, para criar uma obrigação. Já a reserva legal é
de menor abrangência e significa que, determinadas matérias, especificadas pela Constituição, só podem
ser tratadas por lei proveniente do Poder Legislativo.

III- ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;


Garante que nenhum cidadão será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante.
Fundamenta-se pelo fato de que, o sujeito que cometer tortura estará cometendo crime tipificado na Lei
nº 9.455/97. Cabe ressaltar, ainda, que a prática de tortura caracteriza-se como crime inafiançável e
insuscetível de graça ou anistia. Não obstante, o crime de tortura ainda é considerado hediondo, conforme
explicita a Lei nº 8.072/90. Crimes hediondos são aqueles considerados como repugnantes, de extrema
gravidade, os quais a sociedade não compactua com a sua realização. São exemplos de crimes
hediondos: tortura, homicídio qualificado, estupro, extorsão mediante sequestro, estupro de vulnerável,
dentre outros.

IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;


Este inciso estabelece a liberdade de manifestação de pensamento. Não somente por este inciso, mas
por todo o conteúdo, que a CF consagrou-se como a “Constituição Cidadã”. Um ponto importante a ser
citado neste inciso é a proibição do anonimato. Cabe ressaltar que a adoção de eventuais pseudônimos
não afetam o conteúdo deste inciso, mas tão somente o anonimato na manifestação do pensamento.

V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material,
moral ou à imagem;
O referido inciso assegura o direito de resposta, de forma proporcional ao ocorrido. Exemplo:
propagandas partidárias, quando um eventual candidato realiza ofensas ao outro. Desta maneira, o
candidato ofendido possui o direito de resposta proporcional à ofensa, ou seja, a resposta deverá ser
realizada nos mesmos parâmetros que a ofensa. Assim, se a resposta possuir o mesmo tempo que durou

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a ofensa, deverá ocorrer no mesmo veículo de comunicação em que foi realizada a conduta ofensiva.
Não obstante, o horário obedecido para a resposta deverá ser o mesmo que o da ofensa.
Embora exista o direito de resposta proporcional ao agravo, ainda há possibilidade de ajuizamento de
ação de indenização por danos materiais, morais ou à imagem. Assim, estando presente a conduta lesiva,
que tenha causado um resultado danoso e seja provado o nexo de causalidade com o eventual elemento
subjetivo constatado, ou seja, a culpa, demonstra-se medida de rigor, o arbitramento de indenização ao
indivíduo lesado.

VI- é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
Este inciso demonstra a liberdade de escolha da religião pelas pessoas. A segunda parte resguarda a
liberdade de culto, garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e liturgias. Este direito não
é absoluto, exemplo: uma determinada religião utiliza em seu culto, alta sonorização, que causa
transtornos aos vizinhos do recinto. Aqui estamos diante de dois direitos constitucionalmente tutelados.
O primeiro que diz respeito à liberdade de culto e o segundo, referente ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, explicitado pelo artigo 225 da CF/88. Como é possível perceber com a alta sonorização
empregada, estamos diante de um caso de poluição sonora, ou seja, uma conduta lesiva ao meio
ambiente. Curiosamente, estamos diante de um conflito entre a liberdade de culto e o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, ambos direitos constitucionalmente expressos. Tal conflito é
solucionado por meio da adoção do princípio da cedência recíproca, ou seja, cada direito deverá ceder
em seu campo de aplicabilidade, para que ambos possam conviver harmonicamente no ordenamento
jurídico brasileiro.
O Brasil é um país LAICO ou LEIGO, ou seja, não tem uma religião oficial.

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e
militares de internação coletiva;
Quando o inciso se refere às entidades civis e militares de internação coletiva está abarcando os
sanatórios, hospitais, quartéis, dentre outros. Cabe ressaltar que a assistência religiosa não abrange
somente uma religião, mas todas. Logo, por exemplo, os protestantes não serão obrigados a assistirem
os cultos religiosos das demais religiões, e vice versa.

VIII- ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou
política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
prestação alternativa, fixada em lei;
Este inciso expressa a possibilidade de perda dos direitos pelo cidadão que, para não cumprir
obrigação legal imposta a todos e para recusar o cumprimento de prestação alternativa, alega como
motivo crença religiosa ou convicção filosófica ou política.
Um exemplo de obrigação estipulada por lei a todos os cidadãos do sexo masculino é a prestação de
serviço militar obrigatório. Nesse passo, se um cidadão deixar de prestar o serviço militar obrigatório
alegando como motivo a crença em determinada religião que o proíba poderá sofrer privação nos seus
direitos.

IX - é livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença;
Este inciso tem por escopo a proteção da liberdade de expressão, sendo expressamente vedada a
censura e a licença. Como é possível perceber, mais uma vez nossa Constituição visa proteger o cidadão
de alguns direitos fundamentais que foram abolidos durante o período da ditadura militar. Para melhor
compreensão do inciso, a censura consiste na verificação do pensamento a ser divulgado e as normas
existentes no ordenamento. Desta maneira, a Constituição veda o emprego de tal mecanismo, visando
garantir ampla liberdade, taxado como um bem jurídico inviolável do cidadão.

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito
à indenização por dano material ou moral decorrente de sua violação;
Os direitos da personalidade decorrem da dignidade humana. O direito à privacidade decorre da
autonomia da vontade e do livre-arbítrio, permitindo à pessoa conduzir sua vida da forma que julgar mais
conveniente, sem intromissões alheias, desde que não viole outros valores constitucionais e direitos de
terceiro.
A honra pode ser subjetiva (estima que a pessoa possui de si mesma) ou objetiva (reputação do
indivíduo perante o meio social em que vive). As pessoas jurídicas só possuem honra objetiva.

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O direito à imagem, que envolve aspectos físicos, inclusive a voz, impede sua captação e difusão sem
o consentimento da pessoa, ainda que não haja ofensa à honra. Neste sentido, a súmula 403 do STJ diz:
“Súmula 403 do STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da
imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”.
Este direito, como qualquer outro direito fundamental, pode ser relativizado quando em choque com
outros direitos. Por exemplo, pessoas públicas, tendem a ter uma restrição do direito à imagem frente ao
direito de informação da sociedade. Também a divulgação em contexto jornalístico de interesse público,
a captação por radares de trânsito, câmeras de segurança ou eventos de interesse público, científico,
histórico, didático ou cultural são limitações legítimas ao direito à imagem.
Por outro lado, o inciso em questão traz a possibilidade de ajuizamento de ação que vise à indenização
por danos materiais ou morais decorrentes da violação dos direitos expressamente tutelados. Não
obstante a responsabilização na esfera civil, ainda é possível constatar que a agressão a tais direitos
também encontra guarida no âmbito penal. Tal fato se abaliza na existência dos crimes de calúnia, injúria
e difamação, expressamente tipificados no Código Penal Brasileiro.

XI- a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial;
O conceito de casa é amplo, alcançando os locais habitados de maneira exclusiva. Exemplo:
escritórios, oficinas, consultórios e locais de habitação coletiva (hotéis, motéis etc.) que não sejam abertos
ao público, recebendo todos estes locais esta proteção constitucional.
O referido inciso traz a inviolabilidade do domicílio do indivíduo. Todavia, tal inviolabilidade não possui
cunho absoluto, sendo que o mesmo artigo explicita os casos em que há possibilidade de penetração no
domicílio sem o consentimento do morador. Os casos em que é possível a penetração do domicílio são:

Durante o dia Durante a noite


Consentimento do morador Consentimento do morador
Caso de flagrante delito Caso de flagrante delito
Desastre ou prestar socorro Desastre ou prestar socorro
Determinação judicial --

Note-se que o ingresso em domicílio por determinação judicial somente é passível de realização
durante o dia. Tal ingresso deverá ser realizado com ordem judicial expedida por autoridade judicial
competente, sob pena de considerar-se o ingresso desprovido desta como abuso de autoridade, além da
tipificação do crime de Violação de Domicílio, que se encontra disposto no artigo 150 do Código Penal.
O dia pode ser compreendido entre as 6 horas e às 18 horas do mesmo dia, enquanto o período
noturno é compreendido entre as 18 horas de um dia até às 6 horas do dia seguinte (critério cronológico).

XII- é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das


comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei
estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;
- Sigilo de Correspondência: Possui como regra a inviolabilidade trazida no Texto Constitucional.
Todavia, pode haver limitação na inviolabilidade em caso de decretação de estado de defesa ou estado
de sítio. Outra possibilidade de quebra de sigilo de correspondência entendida pelo Supremo Tribunal
Federal diz respeito às correspondências dos presidiários, visando a segurança pública e a preservação
da ordem jurídica.
- Sigilo de Comunicações Telegráficas: Assim como a inviolabilidade do sigilo de correspondência,
é possível a quebra deste em caso de estado de defesa e estado de sítio.
- Sigilo das Comunicações Telefônicas: Apesar da inviolabilidade de tal direito, será possível a
quebra do sigilo telefônico, desde que esteja amparado por decisão judicial de autoridade competente
para que seja possível a instrução processual penal e a investigação criminal. A quebra do sigilo telefônico
foi regulamentada por meio da Lei Federal 9.296/96.
Isso demonstra que não será possível a quebra dos sigilos por motivos banais, haja vista estarmos
diante de um direito constitucionalmente tutelado.
A quebra desse tipo de sigilo pode ocorrer por determinação judicial ou por Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI).

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O sigilo de dados engloba dados fiscais, bancários e telefônicos (referente aos dados da conta e não
ao conteúdo das ligações).
Quanto às comunicações telefônicas (conteúdo das ligações), existe reserva jurisdicional, ou seja, a
interceptação só pode ocorrer com ordem judicial, para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal, sob pena de constituir prova ilícita.

XIII- é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações


profissionais que a lei estabelecer;
Aqui estamos diante de uma norma de aplicabilidade contida que possui total eficácia, dependendo,
no entanto, de uma lei posterior que reduza a aplicabilidade da primeira. Como é possível perceber o
inciso em questão demonstra a liberdade de exercício de trabalho, ofício ou profissão, devendo, no
entanto, serem obedecidas às qualificações profissionais que a lei posterior estabeleça. Note-se que essa
lei posterior reduz os efeitos de aplicabilidade da lei anterior o que garante a liberdade de exercício de
trabalho, ofício ou profissão.
Exemplo: o Exame aplicado pela Ordem dos Advogados do Brasil aos bacharéis em Direito, para que
estes obtenham habilitação para exercer a profissão de advogados. Como é notório, a lei garante a
liberdade de trabalho, sendo, no entanto, que a lei posterior, ou seja, o Estatuto da OAB, prevê a
realização do exame para que seja possível o exercício da profissão de advogado.

XIV- é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário
ao exercício profissional;
Aqui estamos tratando do direito de informar e de ser informado. Cabe ressaltar que, o referido inciso
traz a possibilidade de se resguardar o sigilo da fonte. Esse sigilo diz respeito àquela pessoa que prestou
as informações. Todavia, esse sigilo não possui conotação absoluta, haja vista que há possibilidade de
revelação da fonte informadora, em casos expressos na lei.

XV- é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos
da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
O inciso em questão prega o direito de locomoção. Esse direito abrange o fato de se entrar,
permanecer, transitar e sair do país. Quando o texto constitucional explicita que qualquer pessoa está
abrangida pelo direito de locomoção, não há diferenciação entre brasileiros natos e naturalizados, bem
como nenhuma questão atinente aos estrangeiros. Desta forma, como é possível perceber a locomoção
será livre em tempo de paz. Porém tal direito é relativo, podendo ser restringido em casos expressamente
dispostos na Constituição, como por exemplo, no estado de sítio e no estado de defesa.

XVI- todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para
o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
Neste inciso encontra-se o direito de reunião. A grande característica da reunião é a descontinuidade,
ou seja, pessoas se reúnem para discutirem determinado assunto, e finda a discussão, a reunião se
encerra. Cabe ressaltar que a diferença entre reunião e associação está intimamente ligada a tal
característica. Enquanto a reunião não é contínua, a associação tem caráter permanente.
É importante salientar que o texto constitucional não exige que a reunião seja autorizada, mas tão
somente haja uma prévia comunicação à autoridade competente.
De forma similar ao direito de locomoção, o direito de reunião também é relativo, pois poderá ser
restringido em caso de estado de defesa e estado de sítio.

XVII- é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
Este inciso garante a liberdade de associação. É importante salientar que a associação deve ser para
fins lícitos, haja vista que a ilicitude do fim pode tipificar conduta criminosa.
O inciso traz uma vedação, que consiste no fato da proibição de criação de associações com caráter
paramilitar, ou seja, àquelas que buscam se estruturar de maneira análoga às forças armadas ou policiais.

XVIII- a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização,


sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
Neste inciso está presente o desdobramento da liberdade de associação, onde a criação de
cooperativas e associações independem de autorização. É importante salientar que o constituinte também
trouxe no bojo deste inciso uma vedação no que diz respeito à interferência estatal no funcionamento de

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tais órgãos. O constituinte vedou a possibilidade de interferência estatal no funcionamento das
associações e cooperativas obedecendo à própria liberdade de associação.

XIX- as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas
por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
O texto constitucional traz expressamente as questões referentes à dissolução e suspensão das
atividades das associações. Neste inciso estamos diante de duas situações diversas. Quando a questão
for referente à suspensão de atividades da associação, a mesma somente se concretizará através de
decisão judicial. Todavia, quando falamos em dissolução compulsória das entidades associativas só
alcançará êxito por meio de decisão judicial transitada em julgado (decisão definitiva por ter esgotado
todas as fases recursais).
Logo, para ambas as situações, seja na dissolução compulsória, seja na suspensão de atividades,
será necessária decisão judicial. Entretanto, como a dissolução compulsória possui uma maior gravidade
exige-se o trânsito em julgado da decisão judicial.

XX- ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

XXI- as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar
seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
Cabe ressaltar que, de acordo com a legislação processual civil, ninguém poderá alegar em nome
próprio direito alheio, ou seja, o próprio titular do direito buscará a sua efetivação. No entanto, aqui
estamos diante de uma exceção a tal regra, ou seja, há existência de legitimidade extraordinária na defesa
dos interesses dos filiados. Assim, desde que expressamente previsto no estatuto social, as entidades
associativas passam a ter legitimidade para representar os filiados judicial ou extrajudicialmente. Quando
falamos em legitimidade na esfera judicial, estamos nos referindo à tutela dos interesses no Poder
Judiciário. Porém, quando falamos em tutela extrajudicial, pode ser realizada administrativamente (Vale
esclarecer, é REPRESENTAÇÃO e não substituição processual).

XXII- é garantido o direito de propriedade;


De acordo com a doutrina civilista, o direito de propriedade caracteriza-se pelo uso, gozo e disposição
de um bem. Todavia, o direito de propriedade não é absoluto, pois existem restrições ao seu exercício,
como por exemplo, a obediência à função social da propriedade. Há duas garantias de propriedade, a de
conservação (ninguém pode ser privado de seus bens, exceto hipóteses previstas nesta constituição) e
a de compensação (se privado de seus bens, há o direito de ressarcimento no valor equivalente ao
prejuízo sofrido).

XXIII- a propriedade atenderá a sua função social;


A função social é uma das limitações ao direito de propriedade. A propriedade urbana estará
atendendo sua função social quando obedecer as exigências expressas no plano diretor (é obrigatório
para as cidades que possuam mais de vinte mil habitantes e tem por objetivo traçar metas que serão
obedecidas para o desenvolvimento das cidades). Quanto à propriedade rural, deve ser obedecida a
preservação do meio ambiente, os critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, à utilização
adequada dos recursos naturais disponíveis e à exploração que favoreça o bem estar dos proprietários e
dos trabalhadores.

XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos
nesta Constituição;
A Desapropriação é o procedimento pelo qual o Poder Público, fundado na necessidade
pública, utilidade pública ou interesse social, compulsoriamente, priva alguém de certo bem, móvel ou
imóvel, adquirindo-o para si em caráter originário, mediante justa e prévia indenização. É, em geral, um
ato promovido pelo Estado, mas poderá ser concedido a particulares permissionários ou concessionários
de serviços públicos, mediante autorização da Lei ou de Contrato com a Administração.
Requisitos para desapropriação: 1) Necessidade pública; 2) Utilidade pública; 3) Interesse social;
Mediante: 1) Justa e prévia indenização; 2) Indenização em dinheiro.

XXV- no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade
particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;

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Neste caso estamos diante do instituto da requisição administrativa, que permite à autoridade
competente utilizar propriedades particulares em caso de iminente perigo público (calamidade pública) -
já ocorrido ou prestes a ocorrer. Desta maneira, utilizada a propriedade particular será seu proprietário
indenizado, posteriormente, caso seja constatada a existência de dano. Em caso negativo, este não será
indenizado. Um exemplo típico do instituto da requisição administrativa é o encontrado no caso de
guerras.

XXVI- a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será
objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei
sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
Este inciso traz a impenhorabilidade da pequena propriedade rural. É importante salientar que a regra
de impenhorabilidade da pequena propriedade rural para pagamento de débitos decorrentes da atividade
produtiva abrange somente aquela trabalhada pela família.

Súmula 364-STJ: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel


pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.

Súmula 486-STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a
terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da
sua família.

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras,
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
Este inciso tem por escopo a tutela do direito de propriedade intelectual, sendo a propriedade industrial
e os direitos do autor. Esses direitos podem ser morais (inalienáveis e irrenunciáveis) - consiste na
paternidade da obra, ou patrimoniais (os direitos são transmissíveis e renunciáveis). Como é possível
extrair do inciso esses direitos são passíveis de transmissão por herança, sendo, todavia, submetidos a
um tempo fixado pela lei. Desta maneira, não é pelo simples fato de ser herdeiro do autor de uma
determinada obra que lhe será garantida a propriedade da mesma, pois a lei estabelecerá um tempo para
que os herdeiros possam explorar a obra. Após o tempo estabelecido a obra pertencerá a todos.

XXVIII- são assegurados, nos termos da lei:


a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz
humanas, inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem
aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
Este inciso preza a proteção dos direitos individuais do autor quando participe de uma obra coletiva.
Um exemplo que pode ilustrar o conteúdo da alínea “a” diz respeito à gravação de um clipe musical por
diversos cantores. Não é pelo simples fato da gravação ser coletiva que não serão garantidos os direitos
autorais individuais dos cantores. Pelo contrário, serão respeitados os direitos individuais de cada cantor.
O inciso “b” traz o instituto do direito de fiscalização do aproveitamento das obras. A alínea em questão
expressa que o próprio autor poderá fiscalizar o aproveitamento econômico da obra, bem como os
intérpretes, representações sindicais e associações.

XXIX- a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização,
bem como às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
Este inciso trata, da tutela do direito de propriedade intelectual, explicitando o caráter não-definitivo de
exploração das obras, haja vista a limitação temporal de exploração por lei. Isso ocorre pelo fato de que
há induzido um grande interesse da sociedade em conhecer o conteúdo das pesquisas e inventos que
podem trazer maior qualidade de vida à população.

XXX- é garantido o direito de herança;


A herança é o objeto da sucessão. Com a morte abre-se a sucessão, que tem por objetivo transferir o
patrimônio do falecido aos seus herdeiros. É importante salientar que são transferidos aos herdeiros tanto
créditos (ativo) como dívidas (passivo), até que seja satisfeita a totalidade da herança.

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XXXI- a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável à lei pessoal do
de cujus;
A regra é que a sucessão dos bens do estrangeiro será regulada pela lei brasileira. Todavia, o próprio
inciso traz uma exceção, no caso de sucessão de bens de estrangeiros situados no país, admite-se aplicar
a lei mais favorável ao cônjuge ou filhos brasileiros da pessoa falecida, a lei brasileira ou a lei do país de
origem do de cujus.

XXXII- o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;


Com o objetivo de dar cumprimento a este inciso, no dia 11 de setembro de 1990 entrou em vigor o
código de defesa do consumidor, Lei Federal n° 8.078/90.

XXXIII- todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de
interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
Aqui encontramos um desdobramento do direito à informação. É direito fundamental de obter
informações do poder público, que será exercitado na via administrativa e se relaciona com um interesse
particular, geral ou coletivo. Nesse caso, havendo recusa no fornecimento de certidões, ou informações
de terceiros, o remédio cabível será o mandado de segurança.

XXXIV- são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:


a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de
poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de
situações de interesse pessoal;
O fato de ser independente de pagamento de taxas não quer dizer que o exercício desses direitos seja
realizado gratuitamente, mas sim, que podem ser isentos de taxas para as pessoas reconhecidamente
pobres.
A alínea “a” traz, em seu bojo, o direito de petição, que consiste na possibilidade de levar ao
conhecimento do Poder Público a ocorrência de atos revestidos de ilegalidade ou abuso de poder.
A alínea “b” trata da obtenção de certidões em repartições públicas. De acordo com a Lei nº 9.051/95
o prazo para o esclarecimento de situações e expedição de certidões é de quinze dias.

XXXV- a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Neste inciso encontra-se consagrado o princípio da inafastabilidade da jurisdição. Não poderão haver
óbices para o acesso ao Poder Judiciário. Havendo lesão ou ameaça de lesão a direito, tal questão deverá
ser levada até o Poder Judiciário para que possa ser dirimida. Quando a lesão acontecer no âmbito
administrativo não será necessário o esgotamento das vias administrativas. Exceção: Justiça Desportiva,
que exige para o ingresso no Poder Judiciário, o esgotamento de todos os recursos administrativos
cabíveis.

XXXVI- a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
A real intenção deste inciso é a preservação da segurança jurídica, pois com essa observância,
estaremos diante da estabilidade das relações jurídicas. Conceitualmente, de acordo com o artigo 6º da
LINDB (Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro) temos:
- Direito adquirido: Os direitos já adquiridos por uma pessoa não podem ser prejudicados por novas
leis, exemplo: aposentadoria (quem já a recebe, não pode ser prejudicado por leis posteriores);
- Ato jurídico perfeito: Ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou;
- Coisa julgada: Decisão judicial de que não caiba mais recurso.

XXXVII- não haverá juízo ou tribunal de exceção;


São considerados juízos ou tribunais de exceção, aqueles organizados posteriormente à ocorrência
do caso concreto. O juízo de exceção é caracterizado pela transitoriedade e pela arbitrariedade aplicada
a cada caso.

XXXVIII- é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude da defesa;

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A plenitude de defesa admite a possibilidade de todos os meios de defesa, sendo caracterizado como
um nível maior do que a ampla defesa, defendida em todos os procedimentos judiciais, sob pena de
nulidade processual.
b) o sigilo das votações;
Após os debates, o juiz presidente do Tribunal do Júri efetua a leitura dos quesitos formulados acerca
do crime para os sete jurados, que compõe o Conselho de Sentença, e os questiona se estão preparadas
para a votação. Caso seja afirmativa a resposta, estes serão encaminhados, juntamente com o
magistrado até uma sala onde será realizada a votação. Neste ato, o juiz efetua a leitura dos quesitos e
um oficial entrega duas cédulas de papel contendo as palavras sim e não aos jurados. Posteriormente,
estas são recolhidas, para que seja possível chegar ao resultado final do julgamento. É importante
salientar que essa característica de sigilo atribuída à votação deriva do fato que inexiste possibilidade de
se descobrir qual o voto explicitado pelos jurados individualmente. Isso decorre que inexiste qualquer
identificação nas cédulas utilizadas para a votação.
c) a soberania dos veredictos;
Essa característica pressupõe que as decisões tomadas pelo Tribunal do Júri não poderão ser
alteradas pelo Tribunal de Justiça respectivo.
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
Os crimes dolosos15 contra a vida estão previstos nos artigos 121 a 128 do Código Penal (homicídio,
induzimento, instigação, auxílio ao suicídio, infanticídio e aborto).

XXXIX- não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
Esse princípio, muito utilizado no Direito Penal, encontra-se divididos em dois subprincípios, da reserva
legal (não será possível imputar determinado crime a um indivíduo, sem que a conduta cometida por este
esteja tipificada) e da anterioridade (demonstra que há necessidade uma lei anterior ao cometimento da
conduta para que seja imputado o crime).

XL- a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;


O réu é o sujeito ativo praticante da conduta criminosa. No caso específico deste inciso estamos diante
de aplicação de leis penais no tempo. A lei penal produz efeitos a partir de sua entrada em vigor, não se
admitindo sua retroatividade maléfica, ou seja, somente será admitida a retroatividade da lei, se for para
benefício do réu. É proibida a aplicação da lei penal inclusive aos fatos praticados durante seu período
de vacatio16.

XLI- a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;
Destaca neste inciso que é necessária a pré-existência de uma lei punitiva aos que atentam os direitos
e liberdades fundamentais.

XLII- a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos
termos da lei;
O caráter de inafiançabilidade deriva do fato que não será admitido o pagamento de fiança em razão
do cometimento de crime racial. A fiança consiste na prestação de caução pecuniária ou prestação de
obrigações que garantam a liberdade ao indivíduo até sentença condenatória. Outrossim, a prática do
racismo constitui crime imprescritível. A prescrição consiste na perda do direito do Estado em punir, em
razão do elevado tempo para apuração dos fatos.
A reclusão é uma modalidade de pena privativa de liberdade que comporta alguns regimes prisionais,
quais sejam: o fechado, o semiaberto e o aberto.

XLIII- a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de 17graça ou anistia a prática de tortura, o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
O inciso em questão tem por objetivo vetar alguns benefícios processuais aos praticantes de crimes
considerados como repugnantes pela sociedade.

XLIV- constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra
a ordem constitucional e o Estado Democrático;
15
Crime doloso: o sujeito praticante da conduta lesiva quer que o resultado se produza ou assume o risco de produzi-lo. Crime culposo: o sujeito ativo praticante
da conduta agiu sob imprudência, negligência ou imperícia.
16
Vacatio refere-se ao tempo em que a lei é publicada até a sua entrada em vigor. A lei somente será aplicável a fatos praticados posteriormente a sua vigência.
17
A graça é o perdão da pena à um condenado, enquanto a anistia é o perdão da pena, generalizada.

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A constituição protege o Estado de ação de grupos armados militares ou civis que agem contra o
sistema político.

XLV- nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
Destaca-se neste inciso princípio da personalização da pena. Há responsabilidades nos âmbitos civil
e penal. No âmbito penal, a pena é personalíssima, não podendo ser transferida a seus herdeiros.
Quanto à responsabilidade no âmbito civil, a interpretação é realizada de maneira diversa, a obrigação
de reparar o dano e a decretação de perdimento de bens podem se estender aos sucessores, no limite
do valor do patrimônio transferido.

XLVI- a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:


a) privação ou restrição de liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
Este inciso expressa o princípio da individualização da pena. Há também o emprego da
individualização no cumprimento da pena, pois é necessário que exista uma correspondência entre a
conduta externalizada pelo sujeito e a punição descrita pelo texto legal.
Apresenta ainda um rol exemplificativo das penas admissíveis no ordenamento jurídico brasileiro.

XLVII- não haverá penas:


a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do artigo 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
As penas cumpridas no Brasil, não podem ser superiores a 30 anos (artigo 75, CP).
c) de trabalhos forçados;
Os condenados não são obrigados a trabalharem em serviços desgastantes e exaustivos.
d) de banimento;
Consiste na expulsão do brasileiro do território nacional
e) cruéis;
Penas que ferem o princípio da dignidade humana.

XLVIII- a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a
idade e o sexo do apenado;
Um exemplo a ser citado é o da Fundação CASA, para onde são destinados os adolescentes que
cometem atos infracionais.

XLIX- é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;


A tutela do preso cabe ao Estado. O fato de estar preso não significa que ele poderá receber tratamento
desumano ou degradante.

L- às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante
o período de amamentação;
Neste inciso não se busca a proteção dos direitos da presidiária, mas sim dos filhos, pois é de extrema
importância à alimentação das crianças com leite materno.

LI- nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes
da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na
forma da lei;
Em hipótese alguma o brasileiro nato será extraditado. Contudo, o brasileiro naturalizado, poderá ser
extraditado desde que ocorram as seguintes situações:

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Antes da naturalização Depois da naturalização

- prática de crime comum - não será extraditado por crime comum


- comprovado envolvimento em tráfico ilícito - comprovado envolvimento em tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins de entorpecentes e drogas afins.

LII- não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;
É importante não confundir a expressão “crime político” com a expressão “crime eleitoral”. Crimes
políticos são aqueles que atentam contra a estrutura política de um Estado, enquanto os crimes eleitorais
são aqueles referentes ao processo eleitoral, explicitados pelo respectivo Código.
Com relação aos crimes de opinião, podemos defini-los como aqueles que sua execução consiste na
manifestação de pensamento. Sendo estes a calúnia, a difamação e a injúria.

LIII- ninguém será processado nem sentenciado senão por autoridade competente;
Há dois princípios importantes, o princípio do promotor natural e o princípio do juiz natural. O princípio
do promotor natural consiste no fato que ninguém será processado, senão por autoridade competente,
ou seja, será necessária a existência de um Promotor de Justiça previamente competente ao caso. O
princípio do juiz natural, há a consagração que ninguém será sentenciado, senão por autoridade
competente. Isso importa dizer que não será possível existência de juízos ou tribunais de exceção, ou
seja, especificamente destinados à análise de um caso concreto.

LIV- ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
Para que haja um processo legal, há necessidade da observância do contraditório e da ampla defesa
(direito de defesa à acusação).

LV- aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Contraditório é a ciência dos atos processuais e a possibilidade de contrariá-los naquilo que houver
discordância. A ampla defesa é o direito do acusado apresentar argumentos em favor, provando-os nos
limites legais. Frisa-se que, tanto o contraditório quanto a ampla defesa são direitos de respostas do réu.

LVI- são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;


Prova ilícita é a que viola regra de direito material, seja constitucional ou legal, no momento de sua
obtenção (ex.: confissão mediante tortura).

LVII- ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória;
Aqui estamos diante do princípio da presunção de inocência ou da não-culpabilidade. Trânsito em
julgado da sentença penal condenatória, significa que não há mais possibilidade de interposição de
recursos. Assim, após o trânsito em julgado da sentença será possível lançar o nome do réu no rol dos
culpados.

LVIII- o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses
previstas em lei;
Atualmente, a Lei nº 12.037/2009, traz em seu artigo 3º, as hipóteses em que o civilmente identificado
deverá proceder à identificação criminal. São elas:
- se o documento apresentado tiver rasura ou tiver indício de falsificação;
- se o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
- se o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si;
- se a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da autoridade
judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do
Ministério Público ou da defesa;
- constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações; e
- se o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento
apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.

LIX- será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;

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Quando o Ministério Público (órgão competente para ajuizar a ação) permanecer inerte e não oferecer
denúncia no prazo legal, o ofendido poderá fazê-la. Esse mecanismo chama-se ação penal privada
subsidiária da pública.

LX- a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o
interesse social o exigirem;
A regra é a publicidade de todos os atos processuais. Contudo, segundo este inciso, poderá haver
restrição. Exemplo: Ações que envolvem menores e incapazes - correm em segredo de justiça.

LXI- ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em
lei;
De acordo com este inciso só existem duas maneiras de se efetuar a prisão de um indivíduo. A primeira
se dá por meio da prisão em flagrante e a segunda é a prisão realizada por ordem escrita e fundamentada
de autoridade judiciária competente (mandado de prisão). Para os militares, há duas ressalvas, poderão
ser presos em razão de transgressão militar (violação dos princípios da ética, dos deveres e das
obrigações militares) ou pelo cometimento de crime militar, previstos em lei.

LXII- a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao
juiz competente e à família ou à pessoa por ele indicada;
Este inciso demonstra o direito de comunicação imediata do preso, restrito na forma legal.

LXIII- o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado;
A Constituição traz mais um direito ao preso, o de permanecer calado (o preso não é obrigado a
produzir prova contra si) e assegura a assistência de sua família e de um advogado.

LXIV- o preso tem direito a identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
policial;
A autoridade policial deve estar devidamente identificada, ex. estar fardada, com nome aparente.

LXV- a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;


Caso a prisão tenha ocorrido de forma ilegal (alguma nulidade, ou abuso de autoridade no ato da
prisão, etc.), a peça cabível para soltá-lo é o relaxamento de prisão, deferida ou não pelo juiz de direito.

LXVI- ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com
ou sem fiança;
Estamos diante de uma prisão legalmente realizada. Contudo, a lei permite que o acusado responda
em liberdade, com ou sem o pagamento da fiança. A liberdade com fiança pode ser decretada pelo Juiz
de Direito ou pelo Delegado de Polícia (o delegado apenas poderá decretar a liberdade provisória com
fiança quando a pena privativa de liberdade máxima não for superior a 4 anos). Já a liberdade sem fiança,
somente poderá ser decretada pelo Juiz de Direito.

LXVII- não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
A prisão civil é medida privativa de liberdade, sem caráter de pena, com a finalidade de compelir o
devedor a satisfazer uma obrigação. O Pacto de San José da Costa Rica, ratificado pelo Brasil
(recepcionado de forma equivalente a norma constitucional), autoriza a prisão somente em razão de
dívida alimentar. Assim, não é admitida a prisão do depositário infiel.

Súmula Vinculante 25: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade
de depósito.

LXVIII- conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
Este remédio constitucional tem por escopo assegurar a efetiva aplicação do direito de locomoção, ou
seja, o direito de ir, vir e permanecer em um determinado local.

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Este remédio constitucional poderá ser utilizado tanto no caso de iminência de violência ou coação à
liberdade de locomoção, como no caso de efetiva ocorrência de ato atentatório à liberdade.
Assim, são duas as espécies de habeas corpus:
- Preventivo ou salvo-conduto: Neste caso o habeas corpus será impetrado pelo indivíduo que se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder. Tem por finalidade obter um salvo-conduto, ou seja, um documento para garantir o livre trânsito
em sua liberdade de locomoção (ir, vir e permanecer). Exemplo: Fulano está sendo acusado de cometer
um crime de roubo, porém há indícios de que não foi ele que cometeu o crime. Então, ele impetra o
Habeas Corpus preventivo, o juiz reconhecendo legítimos seus argumentos o concede o salvo-conduto,
que permitirá que este se mantenha solto até a decisão final do processo.
- Repressivo ou liberatório: Aqui haverá a impetração quando alguém sofrer violência ou coação em
sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Nesse passo, o habeas corpus será
impetrado com a finalidade de obter a expedição de um alvará de soltura (documento no qual consta
ordem emitida pelo juiz para que alguém seja posto em liberdade).

LXIX- conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por
habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições de Poder Público;
O objeto do Mandado de Segurança é a proteção de direito líquido e certo (aquele que pode ser
demonstrado de plano, por meio de prova pré-constituída, sendo, portanto, dispensada a dilação
probatória).
A impetração de mandado de segurança, nos casos não amparados por habeas corpus ou habeas
data ocorre pelo fato de que é necessário utilizar o remédio processual adequado a cada caso. Cabe
ressaltar que um dos requisitos mais importantes para a impetração do mandado de segurança é a
identificação da autoridade coatora pela ilegalidade ou abuso do poder. Para fins de impetração de
mandado de segurança, autoridade é o agente investido no poder de decisão. É importante tal
caracterização, pois, desta maneira, não há o risco de ilegitimidade passiva na impetração do mandado
de segurança.
Similarmente ao habeas corpus, existem duas espécies de mandado de segurança:
- Preventivo: Quando estamos diante de ameaça ao direito líquido e certo, por ilegalidade ou abuso de
poder.
- Repressivo: Quando a ilegalidade ou abuso de poder já foram praticados.

LXX- o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:


a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento
há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;
Este remédio constitucional tem por finalidade a proteção de direito líquido e certo, não amparado por
habeas corpus ou habeas data, por ilegalidade ou abuso de poder referente à proteção ou reparação de
interesses da coletividade.
Deverão ser obedecidos todos os requisitos estabelecidos para que seja possível a impetração do
remédio constitucional.

LXXI- conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne
inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade,
à soberania e à cidadania;
O mandado de injunção tem por objetivo combater a falta de efetividade das normas constitucionais.
Para que seja possível a impetração de mandado de injunção há necessidade da presença de dois
requisitos:
- Existência de norma constitucional que preveja o exercício de direitos e liberdades constitucionais e
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
- Inexistência de norma regulamentadora que torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
A grande consequência do mandado de injunção consiste na comunicação ao Poder Legislativo para
que elabore a lei necessária ao exercício dos direitos e liberdades constitucionais.

LXXII- conceder-se-á habeas data:


a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;

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b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo;
O habeas data assegura o direito de informação. De acordo com o princípio da informação todos têm
direito de receber informações relativas à pessoa do impetrante, constante de registros ou banco de dados
de entidades governamentais ou de caráter público.

LXXIII- qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao
patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas
judiciais e do ônus da sucumbência;
A Ação Popular é regida pela Lei nº 4.717/65 que confere legitimidade de propositura ao cidadão (os
que estão em gozo dos direitos políticos - direito de votar e ser votado), imbuído de direitos políticos, civis
e sociais. Este remédio constitucional, cuja legitimidade para propositura, é do cidadão, visa um
provimento jurisdicional (sentença) que declare a nulidade de atos lesivos ao patrimônio público.
Não confunda ação civil pública com ação popular: A ação civil pública, explicitada pela Lei nº 7.347/85,
é um instrumento processual tendente a tutelar interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.
Neste caso, a Lei da Ação Civil Pública, dispõe um rol de legitimados à propositura da ação, como por
exemplo: a União, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal, o Ministério Público, dentre outros. Desta
maneira, podemos perceber que o cidadão individualmente considerado, detentor de direitos políticos,
não é legitimado para a propositura de tal ação.

LXXIV- o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos;
Com a finalidade de atender aos indivíduos mais necessitados financeiramente, a própria Constituição
em seu artigo 134, trata da Defensoria Pública, instituição especificamente destinada a este fim, que
incumbe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus.

LXXV- o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do
tempo fixado na sentença;
Estamos diante de responsabilidade objetiva do Estado, ou seja, comprovado o nexo de causalidade
entre a conduta e o resultado danoso, será exigível a indenização, independentemente da comprovação
de culpa ou dolo.

LXXVI- são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:


a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;

LXXVII- são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data e, na forma da lei, os atos necessário
ao exercício da cidadania;
Exemplo: a emissão de título de eleitor - que garante ao indivíduo o caráter de cidadão, para fins de
propositura de ação popular.

LXXVIII- a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo
e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
A duração razoável do processo deverá ser empregada tanto na esfera judicial como na administrativa,
fazendo com que o jurisdicionado não necessite aguardar longos anos à espera de um provimento
jurisdicional.

§1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
Os direitos e garantias fundamentais constantes na C.F. passaram a ter total validade com sua entrada
em vigor, independentemente, da necessidade de regulamentação de algumas matérias por lei
infraconstitucional.

§2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte.
Além dos direitos e garantias já existentes, este parágrafo consagra a possibilidade de existência de
outros decorrentes do regime democrático. Quando o assunto abordado diz respeito aos tratados, cabe

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1519603 E-book gerado especialmente para JADSON HENRIQUE
ressaltar a importante alteração trazida pela Emenda Constitucional nº 45/04, que inseriu o parágrafo 3º,
que será analisado posteriormente.

§3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais.
Este parágrafo trouxe uma novidade inserida pela Emenda Constitucional nº 45/04 (Reforma do
Judiciário). Cabe ressaltar que este parágrafo somente abrange os tratados e convenções internacionais
sobre direitos humanos. Assim, os demais tratados serão recepcionados pelo ordenamento jurídico
brasileiro com o caráter de lei ordinária, diferentemente do tratamento dado aos tratados de direitos
humanos, com a edição da Emenda nº 45/04.

§4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado
adesão.
Este parágrafo é outra novidade inserida ao ordenamento jurídico pela Emenda Constitucional nº
45/04. O referido tribunal foi criado pelo Estatuto de Roma em 17 de julho de 1998, o qual foi subscrito
pelo Brasil. Trata-se de instituição permanente, com jurisdição para julgar genocídio, crimes de guerra,
contra a humanidade e de agressão, e cuja sede se encontra em Haia, na Holanda. Os crimes de
competência desse Tribunal são imprescritíveis, dado que atentam contra a humanidade como um todo.
O tratado foi equiparado no ordenamento jurídico brasileiro às leis ordinárias. Em que pese tenha
adquirido este caráter, o mencionado tratado diz respeito a direitos humanos, porém não possui
característica de emenda constitucional, pois entrou em vigor em nosso ordenamento jurídico antes da
edição da Emenda Constitucional nº 45/04. Para que tal tratado seja equiparado às emendas
constitucionais deverá passar pelo mesmo rito de aprovação destas.

Questões

01. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência - CESPE/2018) A respeito dos direitos e das garantias
fundamentais, julgue o item a seguir.
O direito à liberdade de expressão artística previsto constitucionalmente não exclui a possibilidade de
o poder público exigir licença prévia para a realização de determinadas exposições de arte ou concertos
musicais.
( ) Certo ( ) Errado

02. (DPE/SC - Técnico Administrativo - FUNDATEC/2018) Em relação aos Direitos e Garantias


fundamentais previstos na Constituição Federal, analise as seguintes assertivas:
I. Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente
de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local,
sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.
II. É plena a liberdade de associação para fins lícitos, inclusive a de caráter paramilitar.
III. Aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras,
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas III.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas I e III.
(E) I, II e III.

03. (Pref. de Penalva/MA - Procurador Municipal - IMA/2017) Nos termos da Constituição Federal
de 1988, acerca dos direitos e garantias individuais e coletivos, é CORRETO afirmar que:
(A) Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável
o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à igualdade, à soberania
e à cidadania.
(B) São gratuitas as ações de habeas corpus e mandado de segurança, e, na forma da lei, os atos
necessários ao exercício da cidadania.
(C) As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação mediata.

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(D) A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

04. (PC/AP - Agente de Polícia - FCC/2017) A Constituição Federal de 1988, ao tratar dos direitos e
deveres individuais e coletivos,
(A) assegura-os aos brasileiros residentes no País, mas não aos estrangeiros em trânsito pelo território
nacional, cujos direitos são regidos pelas normas de direito internacional.
(B) prescreve que a natureza do delito praticado não pode ser critério para determinar o
estabelecimento em que a pena correspondente será cumprida pelo réu.
(C) atribui ao júri a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, assegurando a
plenitude de defesa, a publicidade das votações e a soberania dos veredictos.
(D) excepciona o princípio da irretroatividade da lei penal ao permitir que a lei seja aplicada aos crimes
cometidos anteriormente a sua entrada em vigência, quando for mais benéfica ao réu, regra essa que
incide, inclusive, quando se tratar de crime hediondo.
(E) determina que a prática de crime hediondo constitui crime inafiançável e imprescritível.

05. (Pref. de Chapecó/SC - Engenheiro de Trânsito - IOBV/2016) De acordo com o texto


constitucional, é direito fundamental do cidadão:
(A) A manifestação do pensamento, ainda que através do anonimato.
(B) A liberdade de associação para fins lícitos, inclusive de caráter paramilitar.
(C) Ser compelido a fazer ou deixar de fazer alguma coisa somente em virtude de lei.
(D) Ser livre para expressar atividade intelectual e artística, mediante licença do Ministério da
Educação e Cultura.

06. (Pref. de Valença/BA - Técnico Ambiental - AOCP/2016) Sobre os direitos fundamentais,


assinale a alternativa correta.
(A) A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, exceto apenas no caso de flagrante delito.
(B) É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei
estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.
(C) É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, não podendo a lei estabelecer qualquer
requisito.
(D) O homicídio constitui crime inafiançável e imprescritível.
(E) No Brasil, não se admite pena de morte em hipótese alguma.

07. (TRF 3ª REGIÃO - Técnico Judiciário - FCC/2016) Sobre o disposto nos incisos do art. 5º da
Constituição Federal, é INCORRETO afirmar que é
(A) livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, desde que atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer.
(B) permitido se reunir pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente
de autorização ou prévio aviso, desde que a iniciativa não frustre outra reunião anteriormente convocada
para o mesmo local.
(C) livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença.
(D) assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nos estabelecimentos
penitenciários.
(E) livre a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas, independentemente de
autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento.

Gabarito

01.Errado / 02.D / 03.D / 04.D / 05.C / 06.B /07.B

Comentários

01. Resposta: Errado


A resposta encontra-se no artigo 5°, inciso IX, vejamos:

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“É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença”.

02. Resposta: D
Item I) CORRETA: Art. 5º, XVI - “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos
ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”;
Item II) INCORRETA: Art. 5º, XVII - “é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de
caráter paramilitar”;
Item III CORRETA: Art. 5º, XXVII - “aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação
ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar”;

03. Resposta: D
Art 5º, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

04. Resposta: D
Artigo 5°, XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

05. Resposta: C
A alternativa “A” está incorreta, porque é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
anonimato (art. 5º, IV); a “B” está incorreta, porque é plena a liberdade de associação para fins lícitos,
vedada a de caráter paramilitar (art. 5º, XVII); a “D” está incorreta, pois é livre a expressão da atividade
intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença (art. 5º, IX).
Assim, resta somente como correta a alternativa “C”, que traz a redação do art.5º, II, da CF.

06. Resposta: B
É o que prevê o art. 5º, XII, da CF/88: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual
penal”.

07. Resposta: B
Conforme Art. 5°, XVI da CF/88: “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos
ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.”

Direitos Sociais

Com o advento das revoluções (americana e francesa) do século XVIII, veio a ascensão da burguesia
ao poder, o que garantiu alguns direitos individuais, como: a inviolabilidade de domicílio e de
correspondência, o devido processo legal e a proibição da prisão ilegal. Advindo também o capitalismo
que aumentou significativamente a produção de bens de consumo, porém, trouxe consigo a miséria da
classe trabalhadora, pois não tinham amparo estatal (prestação negativa do Estado).
Apesar da classe trabalhadora ser produtora da riqueza da burguesia, era excluída de seus benefícios
e de uma qualidade de vida condigna. Passaram então a organizar-se na luta por seus direitos e maior a
estabilidade do desenvolvimento econômico.
Foi necessário, portanto, a intervenção do Estado em prol dos menos favorecidos. No Brasil, os direitos
sociais vieram com a Constituição de 1934, e permanece até a Constituição atual.

Conceito

Consiste em direito econômico-social e tem por objetivo melhorar as condições de vida e de trabalho
para todos. Veio para criar garantias positivas prestadas pelo Estado em favor dos menos favorecidos,
bem como dos setores da sociedade economicamente mais fracos.

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Segundo Silva18, os direitos sociais “são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou
indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos
mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. São, portanto,
direitos que se ligam ao direito de igualdade”.
Os direitos sociais exigem a intermediação do Estado para sua concretização; consideram o homem
para além de sua condição individualista, e guardam íntima relação com o cidadão e a sociedade, então
abrangem a pessoa humana na perspectiva de que ela necessita de condições mínimas de subsistência.
Por tratarem de direitos fundamentais, há de reconhecer a eles aplicabilidade imediata (artigo 5º, § 1º
da CF/88), e no caso de omissão legislativa haverá meios de buscar sua efetividade, como o mandado
de injunção e a ação direta de inconstitucionalidade por omissão.

Classificação

O art. 6º da Constituição deixa claro que os direitos sociais não são somente os que estão enunciados
nos artigos 7º, ao 11. Também são encontrados no Título VIII - Da Ordem Social, artigos 193 e seguintes.
Os direitos sociais podem ser agrupados em grandes categoriais:
a) os direitos sociais dos trabalhadores (subdivididos em individuais e coletivos);
b) os direitos sociais de seguridade social (saúde e previdência social);
c) os direitos sociais de natureza econômica;
d) os direitos sociais da cultura e esporte;
e) os de segurança;
f) família, criança, adolescente, idoso e pessoas portadoras de deficiência.

José Afonso da Silva19 propõe a divisão dos direitos sociais em:


a) Relativos aos trabalhadores: Direito à saúde, à educação, à segurança social, ao desenvolvimento
intelectual, o igual acesso das crianças e adultos à instrução, à cultura e garantia ao desenvolvimento da
família, que estariam no título da ordem social.
b) Relativos ao homem consumidor: Direitos relativos ao salário, às condições de trabalho, à
liberdade de instituição sindical, o direito de greve, entre outros (CF, artigos 7º a 11).

Reserva do Possível
A reserva do possível, nas suas diversas dimensões, está ligada diretamente às limitações
orçamentárias que o Estado possui. Para que se determine a razoabilidade de determinada prestação
estatal é importante pensar no contexto: a saída adequada para “A” deve ser a saída adequada para
todos os que se encontram na mesma situação que “A”, como o princípio da isonomia.
Alguns autores denominam este princípio como a reserva do “financeiramente possível”, relacionando-
o com a necessidade de disponibilidade de recursos, principalmente pelo Estado, para sua efetiva
concretização.
A cláusula da reserva do possível não pode servir de argumento, ao Poder Público, para frustrar e
inviabilizar a implementação de políticas públicas definidas na própria Constituição. A noção de “mínimo
existencial” é extraída implicitamente de determinados preceitos constitucionais (CF, art. 1º, III, e art. 3º,
III), e compreende um complexo de prerrogativas cuja concretização revela-se capaz de garantir
condições adequadas de existência digna, em ordem a assegurar, à pessoa, acesso efetivo ao direito
geral de liberdade e, também, a prestações positivas originárias do Estado, viabilizadoras da plena fruição
de direitos sociais básicos.

Mínimo Existencial
Trata-se do básico da vida humana, um direito fundamental e essencial previsto na Constituição
Federal. Tem como objetivo garantir condições mínimas para uma vida digna ao ser humano. Assim, é
dever do Estado garantir que os direitos fundamentais sejam aplicados de maneira eficaz. Pode ser
conceituado como “conjunto de condições materiais essenciais e elementares cuja presença é
pressuposto da dignidade para qualquer pessoa. Se alguém viver abaixo daquele patamar, o
mandamento constitucional estará sendo desrespeitado”.20

18
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 32ª ed. Rev. E atual. – São Paulo: Malheiros Editores, 2009.
19
Idem.
20
BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 3ª ed. – São Paulo:
Saraiva, 2011, Cf., a propósito, Ana Paula de Barcellos, A eficácia jurídica dos princípios constitucionais: o princípio da dignidade da pessoa humana, 2002, “Esse
núcleo, no tocante aos elementos matérias da dignidade, é composto pelo mínimo existencial, que consiste em um conjunto de prestações mínimas sem as quais se
poderá afirmar que o indivíduo se encontra em situação de indignidade (...) Uma proposta de concretização do mínimo existencial, tendo em conta a ordem
constitucional brasileira, deverá incluir os direitos à educação fundamental, à saúde básica, à assistência no caso de necessidade e ao acesso à justiça”.

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Em casos que o Poder Público não cumpra seu dever de implementar políticas públicas definidas no
texto constitucional, estará infringindo a própria Constituição. A falta de agir do Estado configura desprezo
e desrespeito à Constituição e, por isso mesmo, configura comportamento juridicamente reprovável.
O mínimo existencial abrange direitos socioeconômicos e culturais, como o direito a educação, lazer,
trabalho, salário mínimo, etc.

Vedação ao Retrocesso / Princípio do Não Retrocesso Social / Proibição da Evolução


Reacionária
O legislador, dentro da reserva do possível, deve implementar políticas públicas. Uma vez concretizado
esses direitos, não poderá ser diminuído. Assim, os direitos sociais já consagrados devem ser
resguardados.

Direitos Sociais em Espécie

Educação: o direito à educação está previsto nos artigos 6º e 205 da Constituição Federal. Esse direito
é de todos e um dever do Estado e a família, que visa o desenvolvimento intelectual da pessoa,
preparando-a para o exercício da cidadania e de uma vida profissional. O Estado tem o dever de promover
políticas públicas de acesso à educação de acordo com os princípios elencados na própria CF (art. 206),
e, por expressa disposição, obriga-se a fornecer o ensino fundamental gratuito (art. 208, § 1º).
O STF editou a súmula vinculante número 12, com a finalidade de evitar violação do disposto no artigo
206, IV da CF: “A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o disposto no art. 206,
IV, da Constituição Federal”.

Saúde: foi em 1988 que a saúde passou a ser tratada pela ordem constitucional brasileira, como direito
fundamental. É um direito de todos e dever do Estado garantir políticas sociais e econômicas que tenha
como objetivo diminuir riscos de doenças.

Alimentação: com voto favorável pelo Brasil, foi reconhecida pela comissão de Direitos humanos da
ONU em 1993 como direito fundamental. A alimentação adequada está ligada à dignidade da pessoa
humana, portanto, é dever do poder público adotar medidas necessárias para uma alimentação digna e
nutritiva a toda população.

Trabalho: está previsto na Constituição Federal como um direito social. O direito de ter um trabalho
ou de trabalhar, é o meio de se obter uma existência digna21.
Aparece como um dos fundamentos do Estado democrático de Direito os valores sociais do trabalho
(previsto na CF, artigo 1º, inciso IV), e, no artigo 170 da CF/88 funda a ordem econômica na valorização
do trabalho humano e na livre iniciativa, tudo a assegurar uma existência digna a todos, em atenção à
justiça social.

Moradia: o direito à moradia visa consagrar o direito de habitação digna e adequada. Não quer dizer
que necessariamente é direito a uma casa própria, mas sim a um teto, um abrigo em condições condignas
para preservar a intimidade pessoal dos membros da família (art. 5, X e XI), uma habitação digna e
adequada.
A própria impenhorabilidade do bem de família, levada a efeito pela Lei n° 8.009/90, encontra
fundamento no artigo 6º da Constituição Federal.

Transporte: com o advento da Emenda Constitucional nº 90, de 15 de setembro de 2015, o transporte


passou a figurar no rol dos direitos sociais. A inserção de um direito ao transporte guarda sintonia com o
objetivo de assegurar a todos uma efetiva fruição de direitos (fundamentais ou não), mediante a garantia
do acesso ao local de trabalho, bem como aos estabelecimentos de ensino, serviços de saúde e outros
serviços essenciais, assim como ao lazer e mesmo ao exercício dos direitos políticos, sem falar na
especial consideração das pessoas com deficiência (objeto de previsão específica no artigo 227, § 2º,
CF) e dos idosos, resulta evidente e insere o transporte no rol dos direitos e deveres associados ao
mínimo existencial, no sentido das condições materiais indispensáveis à fruição de uma vida com
dignidade.

21
SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. 8ª ed., atual. Até a Emenda Constitucional 70, de 22.12.2011. – São Paulo: Malheiros Editores,
2012

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Lazer: prevê a Constituição no § 3º do Artigo 217 que “o Poder Público incentivará o lazer, como
forma de promoção social”. Esse direito relaciona-se com o direito ao descanso dos trabalhadores, ao
resgate de energias para retomada das atividades.
Costuma-se condenar os empregadores que, entregando excessiva carga de trabalho ao empregado,
retiram-lhe o intervalo interjornada22 de modo a inibir o convívio social e familiar. É a entrega à ociosidade
repousante, isto é, de tempo destinado ao lazer, garantida constitucionalmente.

Segurança: a segurança no artigo 6° não é a mesma que a mencionada no caput do artigo 5°. Lá no
artigo 5° ela está ligada a garantia individual e, no artigo 6°, prevê um direito social, ligada a segurança
pública, tratada no artigo 144 da Constituição Federal.
O STF afirmou que o direito à segurança “é prerrogativa constitucional indisponível, garantido mediante
a implementação de políticas públicas, impondo ao Estado a obrigação de criar condições objetivas que
possibilitem o efetivo acesso a tal serviço. É possível ao Poder Judiciário determinar a implementação
pelo Estado, quando inadimplente, de políticas públicas constitucionalmente previstas, sem que haja
ingerência em questão que envolve o poder discricionário do Poder Executivo.”23

Previdência social: É um conjunto de direitos relativos à seguridade social. Os benefícios, são


prestações pecuniárias para
a) Aposentadoria por invalidez (CF, art. 201, I), por velhice e por tempo de contribuição (CF, art. 201,
§ 7º)
b) Nos auxílios por doença, maternidade, reclusão e funeral (art. 201, I, II, IV e V);
c) No salário-desemprego (artigos 7º, II, 201, II, e 239);
d) Na pensão por morte do segurado (art. 201, V).
Os serviços que são prestações assistenciais: médica, farmacêutica, odontológico, hospitalar, social e
de reeducação ou readaptação profissional.

Proteção à maternidade e à infância: a proteção à maternidade aparece tanto como um direito


previdenciário (artigo 201, II) como direito assistencial (artigo 203, I e II). Destaca-se, também, no artigo
7º, XVIII da CF a previsão de licença à gestante.

Assistência aos desamparados: materializa-se nos termos do artigo 203, que estabelece que a
assistência social será prestada aos necessitados, independentemente contribuírem ou não com a
previdência social.

Direitos Relativos aos Trabalhadores

As relações individuais do trabalho estão previstos no artigo 7°, CF e, os direitos coletivos dos
trabalhadores estão previstos nos artigos 8° a 11.
No artigo 7° há um rol de direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, que serão expressos no texto de
lei que traremos mais abaixo.
Os direitos sociais e coletivos são aqueles que os trabalhadores exercem coletivamente ou no
interesse da coletividade. Podem ser classificados da seguinte forma:
a) Direito de associação sindical ou profissional (artigo 8°, caput)
b) Direito de greve (artigo 9°)
c) Direito de substituição processual (artigo 8°, III)
d) Direito de participação (artigo 10)
e) Direito de representação classista (artigo 11).

Para facilitar os estudos, vamos analisar o quadro esquematizado dos direitos sócias:

22
Interjornada: período de descanso entre um dia e outro de trabalho – mínimo de 11 horas de descanso.
23
RE 559.646-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 7-6-2011, Segunda Turma, DJE de 24-6-2011.

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Direitos sociais são direitos
de conteúdo econômico-social
Conceito que visam melhorar as
condições de vida e de trabalho
para todos.

a) Direitos sociais relativos


ao trabalhador (arts. 7º a 11);
b) Direitos sociais relativos à
seguridade social, abrangendo
direitos à saúde, à previdência
social e à assistência social
(arts. 193 a 204);
c) Direitos sociais relativos à
Classificação educação, à cultura e ao
esporte;
d) Direitos sociais relativos à
família, à criança, ao
adolescente, ao idoso e às
pessoas portadoras de
deficiência (arts. 226 a 230);
e) Direitos sociais relativos
ao meio ambiente (art. 225).

Texto Constitucional a respeito:

CAPÍTULO II
DOS DIREITOS SOCIAIS

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição. (NR Emenda Constitucional Nº 90, de 15 de setembro de
2015)

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades
vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo
vedada sua vinculação para qualquer fim;
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente,
participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;

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XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,
facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de
trabalho;
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo
negociação coletiva;
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do
normal; (Vide Del 5.452, art. 59 § 1º).
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;

Observação: A Lei nº 11.770/2008 instituiu o programa empresa Cidadã, que permite que seja
prorrogada a licença à gestante por mais 60 (sessenta) dias, ampliando, com isso o prazo de 120
(cento e vinte) para 180 (cento e oitenta) dias. Contudo, não é obrigatória a adesão a este programa.
Assim, a prorrogação é uma faculdade para as empresas privadas (que ao aderirem o programa
recebem incentivos fiscais) e para a Administração Pública direita, indireta e fundacional.
Cabe destacar, ainda, que esta lei foi recentemente alterada pela lei nº 13.257/2016, sendo
instituída a possibilidade de prorrogação da licença-paternidade por mais 15 (quinze) dias, além dos 5
(cinco) já assegurados constitucionalmente as empresas que fazem parte do programa. Contudo,
para isso, o empregado tem que requerer o benefício no prazo de 2 (dois) dias úteis após o parto e
comprovar a participação em programa ou atividade de orientação sobre paternidade responsável.

XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;
XXIV - aposentadoria;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade
em creches e pré-escolas;
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que
este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de
cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato
de trabalho;
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo
de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador
portador de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais
respectivos;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer
trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o
trabalhador avulso
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos
incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e,
atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações
tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos
nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 72, de 2013).

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:


I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro
no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical;

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II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de
categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou
empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município;
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive
em questões judiciais ou administrativas;
IV - a Assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será
descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva,
independentemente da contribuição prevista em lei;
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais;
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de
direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato,
salvo se cometer falta grave nos termos da lei.
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de
colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das
necessidades inadiáveis da comunidade.
§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos
públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e
deliberação.

Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante
destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.

Questões

01. (SETRABES - Contador - UERR/2018) São Direitos Sociais expressamente previstos na


Constituição Federal, exceto:
(A) O livre exercício de qualquer trabalho.
(B) A assistência aos desamparados.
(C) O transporte.
(D) A proteção à maternidade.
(E) A educação.

02. (PC/MA - Investigador de Polícia - CESPE/2018) Entre os direitos sociais previstos pela
Constituição Federal de 1988 (CF) inclui-se o direito à
(A) amamentação aos filhos de presidiárias.
(B) moradia.
(C) propriedade.
(D) gratuidade do registro civil de nascimento.
(E) assistência jurídica e integral gratuita.

03. (ITEP/RN - Agente de Necropsia - INSTITUTO AOCP/2018) O artigo 8° da Constituição Federal


determina que é livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
(A) ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive
em questões judiciais ou administrativas.
(B) a lei poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato.
(C) é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de
categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou
empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um estado.
(D) o trabalhador será obrigado a filiar-se e a manter-se filiado a sindicato.
(E) o aposentado filiado não pode votar e ser votado nas organizações sindicais.

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04.(IF/PA - Assistente em Administração - FUNRIO/2016) Constituem direitos sociais conforme
Constituição Federal de 1988, dentre outros, os seguintes:
(A) a religião, o lazer e a segurança.
(B) o voto, a cultura e a integração nacional.
(C) o trabalho, a moradia e a segurança.
(D) a igualdade tributária, a cultura e a segurança.
(E) a cultura, a religião e o transporte.

05. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário - NUCEPE/2016) Sobre a disciplina constitucional dos direitos
sociais, assinale a alternativa CORRETA.
(A) A assistência gratuita aos filhos e dependentes é garantida desde o nascimento até oito anos de
idade em creches e pré-escolas.
(B) É garantido seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização
a que este está obrigado, desde que tenha agido com dolo.
(C) É proibido trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a
menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.
(D) É garantido o repouso semanal remunerado, obrigatoriamente aos domingos.
(E) É vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de
direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até três anos após o final do mandato,
salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

06. (Câmara de Natal/RN - Guarda Legislativo - COMPERVE/2016) Os direitos sociais fundamentais,


também apelidados pelos juristas como direitos de segunda dimensão ou de segunda geração, têm, em
sua ontologia, a intenção de reduzir desigualdades para fins de concretização da igualdade material,
substancial ou isonômica. Uma das ideias que os permeia é a de tratar igualmente os iguais e
desigualmente os desiguais na proporção de suas desigualdades. O constituinte brasileiro, visualizando
a importância desses direitos, tratou de expressamente tutelá-los. Nesse sentido, a Constituição Federal
prevê direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, tais como
(A) a ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de sete
anos.
(B) o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho e a proteção em face da
automação, na forma da lei.
(C) o gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, dois terços a mais que o salário normal.
(D) a remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em quarenta por cento relativamente
à do normal.

07. (Câmara de Natal/RN - Guarda Legislativo - COMPERVE/2016) A liberdade do indivíduo, direito


fundamental tradicionalmente caracterizado como de primeira dimensão ou geração, possui
desdobramentos e se expressa em variadas espécies no âmbito do atual Estado Constitucional
Democrático, sendo possível falar em liberdade de ir e vir, liberdade religiosa, liberdade profissional,
dentre outras. No que diz respeito especificamente à liberdade de associação sindical, de acordo com as
diretrizes constitucionais, é possível observar que no Brasil é livre a associação sindical, cabendo aos
sindicatos a defesa dos
(A) direitos individuais da categoria em questões judiciais, excluídas as questões administrativas e de
ordem internacional.
(B) interesses individuais da categoria, excluídos os coletivos, inclusive em questões judiciais ou
administrativas.
(C) direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas.
(D) interesses coletivos da categoria em questões judiciais, excluídos os interesses individuais e as
questões administrativas e incluídas as questões internacionais.

08. (SJC/SC - Agente de Segurança Socioeducativo - FEPESE/2016) Assinale a alternativa correta


sobre os direitos sociais previstos na Constituição Federal.
(A) É proibida a prática de qualquer espécie de trabalho a menores de dezoito anos.
(B) É vedada a diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de
sexo, idade, cor ou estado civil.
(C) A distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos deverá
ser aferida por meio de critérios objetivos e previamente estabelecidos.

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(D) O prêmio do seguro contra acidentes do trabalho contratado pelo empregador exclui a sua
responsabilidade civil, mesmo quando incorrer em dolo ou culpa.
(E) O empregador poderá descontar até o limite de dez por cento da remuneração do trabalhador em
razão da restrição decorrente de sua deficiência, física ou motora.

Gabarito

01.A / 02.B / 03.A / 04.C / 05.C / 06.B / 07.C / 08.B

Comentários

01. Resposta: A
Os direitos sociais estão previstos no art. 6º da Constituição Federal: “São direitos sociais a educação,
a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.

02. Resposta: B
Novamente, artigo 6°, CF: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância,
a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.

03. Resposta: A
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
[...]
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive
em questões judiciais ou administrativas;

04. Resposta: C
Os direitos assegurados na categoria de direitos sociais encontram menção genérica no artigo 6º, da
CF/88: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição”.

05. Resposta: C
Dispõe o art. 7º, XXXIII, da CF/88: “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros
que visem à melhoria de sua condição social: [...] proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a
menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz,
a partir de quatorze anos.

06. Resposta: B
Está correta a alternativa “B”, tendo em vista que é uma junção do que dispõe os incisos XXVI e XXVII
do art. 7º, da CF/88.

07. Resposta: C
Prevê o art. 8º, III, da CF/88, que é livre a associação profissional ou sindical e dentre outros requisitos,
que cabe ao sindicato a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive
em questões judiciais ou administrativas.

08. Resposta: B
Nos termos do previsto no art. 7º, XXX, da CF/88: “é proibido a diferença de salários, de exercício de
funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.

Da Organização do Estado (Art. 18 a 31; 37 a 41);

A nossa Constituição Federal, em seu Título III regulamenta a organização do Estado Brasileiro
(artigos 18 a 43). Falar em organização de um estado é falar de como ele está composto, como está

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dividido, quais os poderes, as atribuições e competências de cada entidade que o compõe, é falar o que
é proibido a cada poder e os relacionamentos que devem ter um para com os outros.
Nossa organização político-administrativa compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios. A Constituição admite a criação de Territórios Federais, que, se criados, integrarão a União,
podendo ser transformados em Estados ou reintegrados ao Estado de origem.
É permitido juntar um Estado a outro para formar novo Estado ou Território Federal ou dividir um Estado
para formar outros, desde que a população diretamente interessada aprove, através de plebiscito e o
Congresso Nacional também aprove, por lei complementar.
Da mesma forma, Municípios podem ser criados, incorporados ou divididos, desde que seja divulgado
junto às populações envolvidas, Estudos de Viabilidade Municipal, para que essas populações votem,
através de plebiscito. Esta alteração será feita por lei estadual.
O art. 19 cuida de manter a igualdade entre os entes federados e seus cidadãos. O inciso I se funda
em ser o Estado brasileiro laico, não havendo ligação oficial entre o Estado e qualquer ramo religioso.
Historicamente, o amálgama entre o poder e a autoridade religiosa e secular tem mostrado a corrupção
de ambos: o poder humano deve se sustentar no atendimento das finalidades do Estado e o religioso na
fé.
Nossa forma de Estado é o Federativo, que compreende uma ordem jurídica central e várias parcerias,
todas com algum grau de autonomia. Pratica-se a descentralização, não só administrativa, mas também
política. Este sistema funciona como excelente forma de dosar o uso do poder, administrar diferenças
regionais e forçar a composição democrática (numa espécie de sistema de freios e contrapesos,
semelhante ao existente entre os poderes orgânicos, Executivo, Legislativo e Judiciário; aqui, o jogo de
forças será entre a ordem central e as parciais, e destas entre si).

Requisitos para que exista um Estado Federado:


a) Descentralização política, ou seja, distribuição ou repartição constitucional de competências
b) Participação das vontades dos centros parciais na vontade do centro principal, o que se obtém
através do Senado, no bicameralismo24.
c) Autoconstituição, por meio das Constituições Estaduais.
Para que o Estado Federado se mantenha, é necessária a rigidez constitucional e a existência de um
controle de constitucionalidade.

Distinção entre soberania do Estado e autonomia de cada Estado


Não podemos confundir a autonomia com a soberania, por isso, Sylvio Mota25 em sua obra de Direito
Constitucional, fez um quadro para distingui-las:

Vejamos o texto constitucional:

24
É o regime em que o Poder Legislativo é exercido: são por duas Câmaras, a Câmara baixa – Câmara dos Deputados e a Câmara alta – Senado federal
25
Sylvio Motta, Direito Constitucional 27ª edição, editora Método

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TÍTULO III
Da Organização do Estado
CAPÍTULO I
DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União,


os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.
§ 1º Brasília é a Capital Federal.
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração
ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.
§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a
outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população
diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual,
dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia,
mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de
Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei.

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou
manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da
lei, a colaboração de interesse público;
II - recusar fé aos documentos públicos;
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

Questões

01. (PC/PE - Agente de Polícia - CESPE/2016) Com base no disposto na CF, assinale a opção correta
acerca da organização político-administrativa do Estado.
(A) É da competência comum dos estados, do Distrito Federal e dos municípios organizar e manter as
respectivas polícias civil e militar e o respectivo corpo de bombeiros militar.
(B) Compete à União, aos estados e ao Distrito Federal estabelecer normas gerais de organização das
polícias militares e dos corpos de bombeiros militares, assim como normas sobre seus efetivos, seu
material bélico, suas garantias, sua convocação e sua mobilização.
(C) A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os
estados, os territórios federais, o Distrito Federal e os municípios, todos autônomos, nos termos da CF.
(D) Os estados podem incorporar-se entre si mediante aprovação da população diretamente
interessada, por meio de plebiscito, e do Congresso Nacional, por meio de lei complementar.
(E) É facultado à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios subvencionar cultos
religiosos ou igrejas e manter com seus representantes relações de aliança e colaboração de interesse
público.

02. (Prefeitura de Chapecó/SC - Procurador Municipal - IOBV/2016) Assinale a alternativa que está
correta:
(A) A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os
Estados e os Municípios.
(B) A criação ou a transformação de um território federal em Estado depende de regulamentação em
lei ordinária.
(C) Somente a União pode criar distinções entre brasileiros.
(D) É vedado aos entes da federação recusar dar fé aos documentos públicos.

03. (TRT 3ª - Analista Judiciário - FCC) As vedações constitucionais expressas impostas


simultaneamente à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios alcançam
(A) a existência de regime tributário fundado na cumulatividade; a observância de simetria entre os
Poderes de cada um dos entes; intangibilidade da dignidade humana.
(B) a proibição de desapropriação de bens imóveis entre si; a de legislar concorrentemente sobre
qualquer tema; ao direito de secessão.
(C) a de obrigatória simetria entre os entes; a de adoção de regime unicameral parlamentar; a de
limitação de uso das forças armadas.

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(D) a proibição de órgão de controle externo da Administração; a não intervenção sobre o Poder
Judiciário e o Ministério Público; autonomia orçamentária.
(E) o conceito de Estado laico; a proibição de recusa de fé em documentos públicos e a proibição de
distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

04. (TCM/BA - Auditor Estadual de Infraestrutura – CESPE/2018) Com relação à organização


político-administrativa do Estado Federal, é correto afirmar que
(A) os territórios brasileiros são excluídos da composição da organização político-administrativa da
República Federativa do Brasil.
(B) os recursos minerais do subsolo são de propriedade do município em que forem encontrados.
(C) os estados podem incorporar-se entre si ou desmembrar-se para formarem novos territórios
estaduais.
(D) a organização e a prestação de serviços de transporte rodoviário interestadual e local são de
competência dos estados.
(E) as cavidades naturais subterrâneas são patrimônio do estado onde se localizarem.

Gabarito

01. D / 02. D / 03. E / 04. A

Comentários

01. Resposta: D
Dispõe o art. 18, § 3º, da CF/88: Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou
desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais,
mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso
Nacional, por lei complementar.

02. Resposta: D
Segundo o que dispõe o art. 19, II, da CF/88: É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios recusar fé aos documentos públicos.

03. Resposta: E
A redação do Art. 19 da CF/88 é clara: é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento
ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma
da lei, a colaboração de interesse público; II - recusar fé aos documentos públicos; III - criar distinções
entre brasileiros ou preferências entre si.

04. Resposta: A
Art. 18. CF - A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou
reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.

União

Trata-se de pessoa jurídica de direito público interno. Representa a pessoa jurídica de direito
internacional, a República Federativa do Brasil. Somente ela tem esse poder de representação, as demais
pessoas políticas não.
A União é autônoma em relação aos Estados, Distrito Federal e Municípios, não se confundindo com
a República Federativa do Brasil. Enquanto a República brasileira é o próprio Estado Federal, equivalendo
à ordem jurídica total, a União é entidade integrante do todo, sendo uma ordem jurídica parcial, até mesmo
em sua acepção externa.26
No plano legislativo, edita tanto leis nacionais — que alcançam todos os habitantes do território
nacional e outras esferas da Federação — como leis federais — que incidem sobre os jurisdicionados da
União, como os servidores federais e o aparelho administrativo da União.

26
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 8ª ed. Rev. E atual. – São Paulo: Saraiva, 2014, p. 928.

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A União tem bens próprios, definidos na Constituição da República (art. 20). Para efeitos
administrativos e visando ao desenvolvimento de regiões a redução das desigualdades regionais, o art.
43 da Constituição faculta criação de regiões, cada qual compreendendo um mesmo complexo geográfico
e social.

Bens da União
Com a promulgação da Lei de Terras (Lei nº 601, de 1850) e o posterior Decreto nº 1.318, de 1854,
estabeleceu-se um sistema de legitimação de posses, que foi o marco inicial da primeira grande tentativa
de promover a regularização do uso das terras no Brasil. Desde então, a doutrina jurídica e a legislação
brasileiras evoluíram no sentido de definir como públicas as áreas que apresentavam alguma razão de
relevante interesse público.27

Competências da União
As competências exclusivas da União estão previstas no artigo 21, CF e a competência comum (dos
4 entes da federação – União, Estados, Distrito Federal e Municípios) no artigo 23, CF.

Dica Sobre as Competências da União:

EXCLUSIVA PRIVATIVA CONCORRENTE


INDELEGÁVEL As competências Relaciona-se sempre com
privativas da União podem a Moradia e dinheiro
Prevista de forma taxativa no ser delegadas por meio de Lei
artigo 21, CF Complementar: P enitenciário
São questões materiais: U urnbanístico
Assuntos administrativos, C ivil T ributário
econômicos- financeiros e A gua O rçamentário
políticos P enal
A grário F inanceiro
C omercial - consórcios E conomico
E spacial
T rabalho
E leitoral

DE sapropiação

P rocessual
I nfomática
M arítimo
E nergia
N acionalidade
T rânsito e transporte
A eronáutico

CAPÍTULO II
DA UNIÃO

Art. 20. São bens da União:


I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares,
das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de
um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele
provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas
oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas
áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;
27
Disponível em: http://patrimoniodetodos.gov.br/gerencias-regionais/grpu-mt/o-que-sao-bens-da-uniao. Acesso em junho de 2015.

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VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a
órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás
natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no
respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação
financeira por essa exploração.
§ 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres,
designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua
ocupação e utilização serão reguladas em lei.

Art. 21. Compete à União:


I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz;
III - assegurar a defesa nacional;
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território
nacional ou nele permaneçam temporariamente;
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;
VII - emitir moeda;
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira,
especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento
econômico e social;
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de
telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um
órgão regulador e outros aspectos institucionais;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em
articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou
que transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e
a Defensoria Pública dos Territórios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 69, de 2012)
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito
Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços
públicos, por meio de fundo próprio;
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito
nacional;
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e
televisão;
XVII - conceder anistia;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as
secas e as inundações;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de
direitos de seu uso;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e
transportes urbanos;
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;

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XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal
sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de
minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante
aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a
pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos
de meia-vida igual ou inferior a duas horas;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa;
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma
associativa.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
trabalho;
II - desapropriação;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra;
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
V - serviço postal;
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;
VIII - comércio exterior e interestadual;
IX - diretrizes da política nacional de transportes;
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;
XI - trânsito e transporte;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
XIV - populações indígenas;
XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;
XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões;
XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria
Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 69, de 2012)
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;
XX - sistemas de consórcios e sorteios;
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e mobilização
das polícias militares e corpos de bombeiros militares;
XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais;
XXIII - seguridade social;
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
XXV - registros públicos;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações
públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido
o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do
art. 173, § 1°, III; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional;
XXIX - propaganda comercial.
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas
das matérias relacionadas neste artigo.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio
público;
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de
deficiência;

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III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os
monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor
histórico, artístico ou cultural;
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à
inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de
saneamento básico;
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social
dos setores desfavorecidos;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos
hídricos e minerais em seus territórios;
XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em
âmbito nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
II - orçamento;
III - juntas comerciais;
IV - custas dos serviços forenses;
V - produção e consumo;
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais,
proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico;
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;
XI - procedimentos em matéria processual;
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;
XV - proteção à infância e à juventude;
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas
gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar
dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena,
para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que
lhe for contrário.

Questões

01. (EBSERH - Advogado - IBFC/2016) A Constituição Federal especifica a competência legislativa


de cada ente da Federação. Analise as alternativas abaixo e selecione a que NÃO apresenta uma das
competências privativas da União.
(A) Diretrizes da política nacional de transportes
(B) Normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e mobilização das
polícias militares e corpos de bombeiros militares
(C) Educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação
(D) Águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão

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(E) Política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores

02. (DPE/ES - Defensor Público - FCC/2016) A competência para legislar sobre responsabilidade por
dano ao consumidor é
(A) concorrentemente da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
(B) concorrentemente da União, dos Estados e do Distrito Federal.
(C) privativa da União.
(D) comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
(E) comum da União, dos Estados e do Distrito Federal, apenas.

03. (ALERJ – Procurador - FGV/2017) Com o objetivo de conter o que considerava um “demandismo
exagerado”, um Deputado Estadual apresentou projeto de lei dispondo que a parte vencida somente
poderia interpor recurso contra decisão proferida no âmbito de Juizado Especial Cível caso realizasse o
depósito prévio de 100% (cem por cento) do valor da condenação. Instada a se pronunciar, a Comissão
de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa alcançou a única conclusão que se mostrava
harmônica com a ordem jurídico-constitucional brasileira, qual seja, a de que o projeto é:
(A) constitucional, já que o depósito prévio possui a natureza jurídica de taxa, o que atrai a competência
legislativa do Estado;
(B) inconstitucional, pois a exigência de depósito prévio para a interposição de recurso é matéria
tipicamente processual, de competência legislativa privativa da União;
(C) constitucional, desde que observadas as normas gerais editadas pela União em matéria tributária,
aplicáveis aos depósitos prévios;
(D) inconstitucional, pois compete privativamente ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa dos projetos
de lei em matéria tributária;
(E) constitucional, pois a exigência de depósito prévio para a interposição de recurso é matéria
tipicamente procedimental, de competência concorrente da União e dos Estados.

04. (TCM/RJ - Técnico de Controle Externo - IBFC/2016) Com relação à repartição de competências
a Constituição Federal de 1988 atribui ao município diversas competências. Assinale abaixo a alternativa
que NÃO corresponde a uma dessas atribuições.
(A) Organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia
(B) Promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do
uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano
(C) Promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação
fiscalizadora federal e estadual
(D) Prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à
saúde da população.

05. (Câmara de Maria Helena – PR – Advogado - FAUEL/2017) Acerca da distribuição de


competências prevista na Constituição, assinale a alternativa correta:
(A) O município possui competência concorrente com os Estados e a União.
(B) Compete aos municípios todas as competências que não forem vedadas pela Constituição, ao que
se chama competência residual.
(C) O município possui competência comum com a União, os Estados e o Distrito Federal.
(D) Os municípios podem receber delegação de competência privativa da União por meio de lei
complementar.

06. (TRT - 15ª Região - Técnico Judiciário – FCC/2018) À luz da organização político-administrativa
do Estado brasileiro, na qual prevalece a autonomia das entidades federativas,
(A) a autonomia baseia-se na existência de uma única esfera governamental atuante sobre a
população, em um mesmo território.
(B) a Constituição Federal prevê mecanismos de proteção do sistema federativo, tais como a repartição
de competências administrativas e legislativas entre os entes federados.
(C) a Constituição Federal prevê a possibilidade de instituição de regiões metropolitanas por iniciativa
legislativa dos municípios limítrofes interessados na associação.
(D) a autonomia é assegurada a todos os entes sob os aspectos administrativo e fiscal, cabendo, no
entanto, somente à União a autonomia legislativa.
(E) a soberania, na qualidade de poder supremo consistente na capacidade de autodeterminação do
ente federado, cabe à União e aos Estados membros.

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Gabarito

01. C / 02. B / 03. B / 04. A / 05. C / 06. B

Comentários

01. Resposta: C
Dentre as hipóteses de competência privativa legislativa da União descritas no artigo 22 da CF/88, não
está inserida a mencionada na alternativa “C”, sendo esta uma competência concorrente entre a União,
Estados e Distrito Federal (art. 24, IX, da CF/88).

02. Resposta: B
Considerando o que dispõe o art. 24, VIII, da CF/88: Compete à União, aos Estados e ao Distrito
Federal legislar concorrentemente sobre a responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor,
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

03. Resposta: B
O projeto é inconstitucional, tendo em vista que nos termos do art. 22, I, da CF/88, compete
privativamente à União legislar sobre direito processual.

04. Resposta: A
Dentre as competências previstas no artigo 30 da CF/88, não está inserida a de organizar e manter os
serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia, sendo esta competência atribuída a
União. É o que dispõe o artigo 21, XV, da CF/88.

05. Resposta: C
Não possuem os municípios competências concorrentes com a União, os Estados e DF (art. 24). A
competência residual é aquela concedida aos Estados (art. 25, §2º). E a competência privativa da União
somente pode ser delegada aos Estados mediante lei complementar (art. 22, p. único). Logo, somente a
alternativa “C” pode ser a correta (art. 23).

06. Resposta: B
As competências são repartidas, veja os caputs dos artigos 22, 23 e 24, CF:
Art. 22 - Compete privativamente à União legislar sobre:
Art. 23 - É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
Art. 24 - Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

Estados Federados

Os Estados têm governo próprio, desempenhando as funções dos três poderes estatais — Executivo,
Legislativo e Judiciário. A Constituição da República também lhes adjudica bens próprios (art. 26). No
âmbito da competência legislativa dos Estados, eles editam as normas e as executam com autonomia.
Os governadores são as autoridades executivas máximas e a Assembleia Legislativa é a sede do Poder
Legislativo. A Constituição da República disciplina, com alguma minúcia, tanto as eleições para ambos
os poderes, o seu funcionamento, bem como aspectos de remuneração dos seus titulares (arts. 27 e 28
da CF/88).
De acordo com o disposto no art. 25 da CF/88 os Estados-membros organizam-se e se regem pelas
Constituições e leis que adotarem, além dos princípios estabelecidos na CF/88. Os Estados-membros
possuem competência residual, vez que as competências e atribuições da União encontram-se expressas
na Constituição e a dos Municípios encontram-se associadas aos interesses locais. Assim, a
“residualidade” indica que não havendo atribuição expressa da União ou não se tratando de interesse
local, a competência será dos Estados-membros. Os Estados-membros são reconhecidos como entes
federativos autônomos.
Diz que lei regulará a iniciativa popular no processo legislativo local e estende aos deputados estaduais
as normas de inviolabilidade e imunidade atinentes aos parlamentares no Congresso Nacional.

Os Estados-membros possuem as seguintes prerrogativas:

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a) Autonomia: pode ser definida como a condição “de gerir os negócios próprios dentro de limites
fixados por poder superior”. A autonomia dos Estados federados se consubstancia na sua capacidade de
autogoverno, auto-organização, auto legislação, autoadministração, autonomia tributária, financeira e
orçamentária. A matéria que for entregue à União deve ser respeitada pelos Estados, que não podem se
recusar a aceitar as determinações da União sobre os assuntos de sua competência constitucional. Por
tal razão os Estados membros não são soberanos, mas apenas autônomos.

b) Auto-organização: derivada do Poder Constituinte Decorrente, com lastro no qual são promulgadas
as Constituições Estaduais (a auto-organização se manifesta pela Constituição Estadual, que estabelece
a estruturação das funções estatais no Estado-membro). Os Estados possuem um ordenamento
autônomo misto, observa Raul Machado Horta, “parcialmente derivado e parcialmente originário.” A
organização dos Estados é estabelecida pela própria Constituição, observados os limites estabelecidos
pela Constituição da República. O STF adota o princípio da simetria, utilizado pela Corte para garantir,
quanto aos aspectos reputados substanciais, homogeneidade na disciplina normativa da separação,
independência e harmonia dos poderes, nos três planos federativos. Ela está consagrada no caput do art.
25, segundo o qual “os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição”. Os referidos princípios são:
I) Princípios constitucionais sensíveis – assim denominados, pois sua inobservância pelos Estados
no exercício de suas competências legislativas, administrativas ou tributárias, pode acarretar a sanção
politicamente mais grave existente em um Estado Federal, a intervenção na autonomia política. Estão
previstos no art. 34, VII da CR, sendo eles:
1. Forma republicana, sistema representativo e democrático;
2. Prestação de contas pela Administração Direta e Indireta;
3. Direitos da pessoa humana;
4. Autonomia municipal;
5. Aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a
proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços
públicos de saúde.
II) Princípios federais extensíveis – são normas centrais comuns à União, Estados, Distrito Federal
e Municípios, portanto de observância obrigatória no poder de organização do Estado. A Constituição
vigente, em prestígio do federalismo, praticamente eliminou estes princípios, restando apenas a regra
segundo a qual os vencimentos dos Ministros do STF é o teto geral para todas as remunerações no
serviço público.
III) Princípios constitucionais estabelecidos, indicativos ou expressos – consistem em
determinadas normas que se encontram espalhadas pelo texto da Constituição, e, além de organizarem
a própria federação, estabelecem preceitos centrais de observância obrigatória aos Estados-membros
em sua auto-organização. Subdividem-se em normas de competência (ex.: arts. 23; 24; 25 etc.) e normas
de preordenação (ex.: arts. 27; 28; 37, I a XXI, etc.). Segundo Raul Machado Horta, são os que limitam a
autonomia organizatória dos Estados. Exemplo: preceitos constantes dos arts. 37 a 41, referentes à
administração pública.
IV) Cláusulas pétreas – evidentemente que os Estados também têm que observar as cláusulas
pétreas da Constituição da República.

c) Auto legislação: os Estados são regidos por leis próprias (CF, art.25), elaboradas segundo o
processo legislativo estabelecido em suas Constituições. Em que pese o Poder Legislativo nos Estados
ser unicameral, os princípios básicos do processo legislativo federal são normas de reprodução
obrigatória, cujo modelo deve ser seguido pelas Constituições Estaduais.

d) Autogoverno: refere-se à autonomia do Estado em eleger seus representantes, tanto do Legislativo


quanto do Executivo. O Poder Legislativo estadual é unicameral, formado por Assembleia Legislativa
composta de deputados eleitos para mandatos de 04 anos, pelo sistema proporcional. O número de
deputados estaduais é calculado com base no número de deputados federais (36 + nº de deputados
federais – 12).
É obrigatória a existência de iniciativa popular de lei no processo legislativo estadual. Perderá o
mandato o governador que assumir outro cargo ou função na Administração Pública, ressalvada a posse
em concurso público, hipótese em que ficará afastado do cargo efetivo enquanto durar o mandato,
contando-se o tempo de serviço para todos os fins legais. Os subsídios dos deputados estaduais (art. 27,
§ 2º. 75% dos DF), governador e vice e secretários (art. 28, § 2º) é fixado por lei de iniciativa da
Assembleia Legislativa.

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O subsídio do governador será o limite remuneratório de todo o Poder Executivo Estadual, exceto para
os procuradores (inclusive os autárquicos) e defensores públicos, que será de 90,25% do que percebem
os Ministros do STF (art. 37, XI).
De acordo com o STF, não se aplica a vedação de recondução ao mesmo cargo na mesma legislatura,
na Mesa da AL. É vedação opcional na Constituição Estadual, diferentemente do que ocorre no legislativo
nacional.

e) Autoadministração: a autoadministração refere-se às competências não legislativas próprias. A


competência administrativa dos estados é residual, sendo-lhes reservado tudo o que não seja vedado na
CR/88. Os Estados podem criar, mediante lei complementar, regiões metropolitanas (Municípios limítrofes
com continuidade urbana que se reúnem em torno de um município-polo); aglomerações urbanas (áreas
urbanas de municípios limítrofes sem um polo); microrregiões (municípios limítrofes com características
homogêneas não ligadas por continuidade urbana). Ademais, têm a competência residual de explorar os
serviços locais de gás canalizado.

São bens dos Estados:


As águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso,
na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
As áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob
domínio da União, Municípios ou terceiros;
As ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
As terras devolutas não compreendidas entre as da União.

Número de Deputados por Estado:


O número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do Estado
na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem
os Deputados Federais acima de doze.
Simplificando:
Temos duas regras para seguir:
1ª Regra: cada Estado tem que ter uma Assembleia Legislativa, que deve ser 3x o número de
representantes do Estado na Câmara dos Deputados.
2ª Regra: Quando o número de representantes chegar nos 36, acrescentará de tantos quantos forem
acima de 12 Deputados Federais.
Exemplo 01: O Estado X tem 8 Deputados Federais, então, terá 24 Deputados Estaduais (lembra da
1ª regra!? De multiplicar por 3?! É assim que se aplica – 8 Deputados federais X 3 para o total de estaduais
= 24 deputados estaduais).
Neste caso, não precisa aplicar a 2ª regra. Pois o número de deputados estaduais é menor que 36.
Exemplo 02, acima de 36, para aplicarmos a 2ª regra: O Estado Y tem 15 Deputados FEDERAIS,
então, terá 39 Deputados ESTADUAIS (olha só, deu acima de 36, que é o máximo permitido, aplicando-
se então, a 2ª regra). O total estipulado pela Constituição é de 36 deputados ESTADUAIS, porém, nesse
estado em questão, temos 15 deputados Federais, portanto, faremos os 15-12=3 (Para lembrar da 2ª
regra – Quando o número de representantes chegar nos 36, acrescentará de tantos quantos forem acima
de 12 Deputados Federais), então, teremos 36 (que é o “máximo”) + 3 (a diferença de 15-12) = 39
deputados ESTADUAIS.
CONCLUSÃO: quando o estado tiver até 12 deputados Estaduais, a continha será simplificada, só
multiplicando por 3.
Quando for além dos 12, divide-se em 2 etapas:
1ª: multiplicar 12 por 3 = 36 (previsto na CF);
2ª: somar os 36 na quantidade de deputados federais que forem acima de 12.

Observações gerais
Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras sobre sistema
eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e
incorporação às Forças Armadas.
A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para mandato de quatro anos, realizar-se-
á no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno,
se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em
primeiro de janeiro do ano subsequente.

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Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo ou função na administração pública direta
ou indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso público.

CAPÍTULO III
DOS ESTADOS FEDERADOS

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás
canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações
urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a
organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:


I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste
caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob
domínio da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.

Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da representação


do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos
quantos forem os Deputados Federais acima de doze.
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta
Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato,
licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.
§ 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa,
na razão de, no máximo, setenta e cinco por cento daquele estabelecido, em espécie, para os Deputados
Federais, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
§ 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu regimento interno, polícia e serviços
administrativos de sua secretaria, e prover os respectivos cargos.
§ 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual.

Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para mandato de quatro anos,
realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em
segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse
ocorrerá em primeiro de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77.
§ 1º Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo ou função na administração pública
direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso público e observado o disposto no art. 38,
I, IV e V.
§ 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e dos Secretários de Estado serão fixados por
lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153,
III, e 153, § 2º, I.

Questões

01. (ALESE - Analista Legislativo – FCC/2018) Relativamente aos Estados-membros e Municípios,


no âmbito da federação brasileira,
(A) são reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas pela Constituição da
República.
(B) por gozarem de capacidade de auto-organização e autolegislação, os Estados-membros podem
editar livremente as Constituições e leis pelas quais se organizarão e serão regidos.
(C) a fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo estadual, mediante controle
externo, com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou, onde houver, dos Conselhos ou Tribunais
de Contas dos Municípios.

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(D) por ser a República Federativa do Brasil indissolúvel, os Estados-membros não podem incorporar-
se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros ou formarem novos Estados.
(E) por não serem entidades federativas, os Municípios não gozam de capacidade de auto-organização
e autolegislação, devendo assim ser regidos pela Constituição do Estado que integrarem.

02. (PC/MG - Delegado de Polícia Substituto – FUMARC/2018) A competência para a explorar


diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado é do
(A) estados-membros e dos municípios.
(B) estados-membros, do distrito federal e dos municípios.
(C) estados-membros.
(D) municípios.

03. (CGE/RO - Assistente de Controle Interno – FUNRIO/2018) De acordo com a Constituição


Federal constituem bens dos Estados as:
(A) cavidades naturais subterrâneas.
(B) águas superficiais.
(C) produções de energia hidráulica.
(D) terras indígenas.
(E) propriedades quilombolas.

Gabarito

01. A / 02. C / 03. B

Comentários

01. Resposta: A
CF, Art. 25. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição.

02. Resposta: C
CF, Art. 25. § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais
de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.

03. Resposta: B
CF, Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste
caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;

Dos Municípios

O Município pode ser definido como pessoa jurídica de direito público interno e autônoma nos termos
e de acordo com as regras estabelecidas na CF/88.
Muito se questionou a respeito de serrem os Municípios parte integrante ou não de nossa Federação,
bem como sobre a sua autonomia. A análise dos arts. 1º e 18, bem como de todo o capítulo reservado
aos Municípios, leva-nos ao único entendimento de que eles são entes federativos, dotados de autonomia
própria, materializada por sua capacidade de auto-organização (art. 29, caput, da CF), autogoverno
(elege, diretamente, o Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores, conforme incisos do art. 29 da CF),
autoadministração e auto legislação (art. 30 da CF). Ainda mais diante do art. 34, VII, “c”, que
estabelece a intervenção federal na hipótese de o Estado não respeitar a autonomia municipal.

Competência dos municípios


Previsto no Artigo 30 da CF/88, que abaixo elencaremos.
Segundo a Constituição Federal o município possui 3 competências: privativa, concorrente ou
complementar e comum.
1- Competência Privativa: significa as atribuições legais próprias, que são basicamente de legislar
sobre assuntos de interesse local - CF, Art.30.
2- Competência Concorrente e Complementar é a de complementar a legislação federal e a
estadual quando assim couber, objetivando adaptar a legislação federal e a estadual à realidade do

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município. Por exemplo, trânsito e transporte são disciplinados pela União e pelo Estado, mas, nos centros
urbanos e nas estradas municipais, é o Município que regula a questões ligadas as vias públicas,
funcionamento dos ônibus urbanos etc. -CF, Art.22
3- Competência Comum com a União e os Estados, cabendo a todos esses entes membros atentar
para essas funções - Art.23.

Lei orgânica
A lei orgânica do município está prevista detalhadamente no artigo 29, que veremos na íntegra mais
abaixo.
Com relação à competência municipal, importante destacar que o legislador constituinte optou por
enumerar num mesmo artigo - artigo 30 - as competências legislativas e materiais, abandonando a técnica
de separar essas modalidades em artigos diferentes. O presente estudo assume, contudo, a proposta de
abordar as competências legislativas dos incisos I e II do art. 30.
Em caso de violação à autonomia do Município por parte do Estado-membro onde aquele se situa
enseja a intervenção federal, na forma do artigo 34, inciso V, alínea b e inciso VII, alínea c da Constituição
da República.
Ademais, a violação da autonomia municipal por parte da União enseja o controle de
constitucionalidade abstrato ou concreto pelo Poder Judiciário. Entretanto, quando o Município não aplicar
o mínimo exigido da receita destinada à saúde e à educação a intervenção do Estado no Município será
a medida cabível (artigo 35, inciso III da Constituição).

Remuneração dos agentes políticos.


Para Hely Lopes Meirelles28, os “agentes políticos são os componentes do Governo nos seus
primeiros escalões, investidos em cargos, funções, mandatos ou comissões, por nomeação,
eleição, designação ou delegação para o exercício de atribuições constitucionais”.
Remuneração, em sentido amplo, exprime a recompensa, o pagamento ou a retribuição por serviços
prestados. Sua principal característica é a retribuição permanente e normal. Já subsídio, na terminologia
do Direito Constitucional, designa a remuneração, fixa e mensal, paga aos agentes políticos.
O “teto” é a figura de linguagem correspondente a limite superior, à maior remuneração paga pela
Administração. No Município, o teto para servidores e agentes políticos é o valor recebido pelo Prefeito
Municipal, conforme previsto no artigo 37, XI, da Constituição.
O subsídio do Prefeito, por sua vez, não pode superar o subsídio mensal dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal (artigo 37, XI, CF), podendo, contudo, o Estado, mediante emenda à sua própria
Constituição, fixar no âmbito de seu território, como limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores
do respectivo Tribunal de Justiça, restrito isso a 90,25% do subsídio mensal dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal (Artigo 37, § 12, CF).
Os subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Municipais serão fixados em parcela única,
por lei de iniciativa da Câmara Municipal (artigo 29, V, da CF – veremos abaixo).

Poder legislativo municipal


Cabe às Câmaras Municipais a função do Poder Legislativo municipal, sendo composta pelos
vereadores. A palavra “vereador” tem origem no verbo “verear” que significa administrar, reger, governar.
São eleitos pelo voto secreto e direto pelos eleitores para representá-los nos assuntos de interesse do
município; são agentes políticos investidos de mandato legislativo municipal, competindo o direito de
participar de todas as discussões e deliberações do Plenário, votar para a estrutura interna dos serviços
da Câmara, concorrer aos cargos da Mesa e Comissões, usar da palavra em defesa das proposições
atinentes a assuntos municipais, apresentar projetos de lei e pedidos de informação.

São características do poder legislativo municipal:


Previstas no artigo 29, dos incisos VII a XIV.
OBS: Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo ou função na administração pública
direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso público e observado o disposto no art. 38,
I, IV e V.

28
Manual básico – Remuneração dos Agentes Políticos Municipais – TCE/SP – disponível em:
http://www4.tce.sp.gov.br/sites/default/files/2007_remuneracao_ag_politicos_municipais.pdf.

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Súmula 525 do STJ: A Câmara de vereadores não possui personalidade jurídica, apenas
personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos
institucionais.

Formação dos Municípios:


O art. 18, §4º, da CF/88, com a nova redação dada pela E.C. nº 15/96, estabelece as regras para a
criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios, nos seguintes termos e obedecendo
às seguintes etapas:
Lei complementar federal: determinará o período para a mencionada criação, incorporação, fusão
ou desmembramento de Municípios, bem como o procedimento;
Estudo de viabilidade municipal: deverá ser apresentado, publicado e divulgado, na forma da lei,
estudo demonstrando a viabilidade da criação, incorporação, fusão ou desmembramento de Municípios;
Plebiscito: desde que positivo o estudo de viabilidade, far-se-á consulta às populações dos municípios
envolvidos (de todos os Municípios envolvidos, e não apenas da área a ser desmembrada), para
aprovarem ou não a criação, incorporação, fusão ou desmembramento.
Lei estadual: dentro do período que a lei complementar federal definir desde que já tenha havido um
estudo de viabilidade e aprovação plebiscitária, serão criados, incorporados, fundidos ou desmembrados
Municípios, através de lei estadual.

Para a criação de novos Municípios, o art. 18, § 4º da CF/88 exige a edição de uma Lei
Complementar Federal estabelecendo o procedimento e o período no qual os Municípios poderão ser
criados, incorporados, fundidos ou desmembrados. Como atualmente não existe essa LC, as leis
estaduais que forem editadas criando novos Municípios serão inconstitucionais por violarem a
exigência do § 4º do art. 18. STF. Plenário. ADI 4992/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
11/9/2014 (Info 758).

Deveres do município
Segundo a CF/88, devem os municípios prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do
Estado, serviços de atendimento à saúde da população e promover o adequado ordenamento territorial,
mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; promover a
proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e
estadual.

Fiscalização e controle dos municípios


Conforme previsto no Art. 31 da CF/88, a fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo
Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal,
na forma da lei. O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de
Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde
houver.
O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente
prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal.
Para fiscalização pela população, as contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias,
anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-
lhes a legitimidade, nos termos da lei.
Segundo orientação do Supremo Tribunal Federal, as contas gerais do Chefe do Executivo Municipal
submetem-se à apreciação da Câmara de Vereadores, por autoridade e jurisdição privativa, podendo o
Tribunal de Contas estadual julgar as contas dos ordenadores de despesas, exceto as do prefeito, ainda
que diretamente tenha exercido essa atribuição.

Texto Constitucional sobre o assunto

CAPÍTULO IV
Dos Municípios

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de
dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os

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princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes
preceitos:
I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante
pleito direto e simultâneo realizado em todo o País;
II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao
término do mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Municípios com
mais de duzentos mil eleitores;
III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro do ano subsequente ao da eleição;
IV - para a composição das Câmaras Municipais, será observado o limite máximo de:
a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000 (quinze mil) habitantes;
b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de 15.000 (quinze mil) habitantes e de até 30.000
(trinta mil) habitantes;
c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de 30.000 (trinta mil) habitantes e de até 50.000
(cinquenta mil) habitantes;
d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de 50.000 (cinquenta mil) habitantes e de até
80.000 (oitenta mil) habitantes;
e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de 80.000 (oitenta mil) habitantes e de até
120.000 (cento e vinte mil) habitantes;
f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de 120.000 (cento e vinte mil) habitantes e de
até 160.000 (cento sessenta mil) habitantes;
g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e
de até 300.000 (trezentos mil) habitantes;
h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 300.000 (trezentos mil) habitantes e de até
450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes;
i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil)
habitantes e de até 600.000 (seiscentos mil) habitantes;
j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de 600.000 (seiscentos mil) habitantes e de
até 750.000 (setecentos cinquenta mil) habitantes;
k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 750.000 (setecentos e cinquenta mil)
habitantes e de até 900.000 (novecentos mil) habitantes;
l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 900.000 (novecentos mil) habitantes e de
até 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes;
m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil)
habitantes e de até 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes;
n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.200.000 (um milhão e duzentos mil)
habitantes e de até 1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes;
o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de 1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil)
habitantes e de até 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes;
p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil)
habitantes e de até 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes;
q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil)
habitantes e de até 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes;
r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos
mil) habitantes e de até 3.000.000 (três milhões) de habitantes;
s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 3.000.000 (três milhões) de habitantes
e de até 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes;
t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de 4.000.000 (quatro milhões) de
habitantes e de até 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes;
u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 5.000.000 (cinco milhões) de
habitantes e de até 6.000.000 (seis milhões) de habitantes;
v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 6.000.000 (seis milhões) de habitantes
e de até 7.000.000 (sete milhões) de habitantes;
w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes
e de até 8.000.000 (oito milhões) de habitantes; e
x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 8.000.000 (oito milhões) de
habitantes;
V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Municipais fixados por lei de iniciativa da
Câmara Municipal, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;

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VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura
para a subsequente, observado o que dispõe esta Constituição, observados os critérios estabelecidos na
respectiva Lei Orgânica e os seguintes limites máximos:
a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a vinte
por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
b) em Municípios de dez mil e um a cinquenta mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores
corresponderá a trinta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
c) em Municípios de cinquenta mil e um a cem mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores
corresponderá a quarenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores
corresponderá a cinquenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores
corresponderá a sessenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores
corresponderá a setenta e cinco por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores não poderá ultrapassar o montante de
cinco por cento da receita do Município;
VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na
circunscrição do Município;
IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança, similares, no que couber, ao disposto
nesta Constituição para os membros do Congresso Nacional e na Constituição do respectivo Estado para
os membros da Assembleia Legislativa;
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras da Câmara Municipal;
XII - cooperação das associações representativas no planejamento municipal;
XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do Município, da cidade ou de bairros,
através de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado;
XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art. 28, parágrafo único.

Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e
excluídos os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao somatório
da receita tributária e das transferências previstas no § 5o do art. 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente
realizado no exercício anterior:
I - 7% (sete por cento) para Municípios com população de até 100.000 (cem mil) habitantes;
II - 6% (seis por cento) para Municípios com população entre 100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos
mil) habitantes;
III - 5% (cinco por cento) para Municípios com população entre 300.001 (trezentos mil e um) e 500.000
(quinhentos mil) habitantes;
IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para Municípios com população entre 500.001
(quinhentos mil e um) e 3.000.000 (três milhões) de habitantes;
V - 4% (quatro por cento) para Municípios com população entre 3.000.001 (três milhões e um) e
8.000.000 (oito milhões) de habitantes;
VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para Municípios com população acima de 8.000.001
(oito milhões e um) habitantes.
§ 1o A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por cento de sua receita com folha de
pagamento, incluído o gasto com o subsídio de seus Vereadores.
§ 2o Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Municipal:
I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo;
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Orçamentária.
§ 3o Constitui crime de responsabilidade do Presidente da Câmara Municipal o desrespeito ao §
1o deste artigo.

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo
da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;

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V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos
de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação
infantil e de ensino fundamental; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à
saúde da população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle
do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação
fiscalizadora federal e estadual.

Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle
externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei.
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos
Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.
§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente
prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal.
§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer
contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei.
§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais.

Questões

01. (EBSERH - Advogado - IBFC/2016) No título que trata sobre a organização do Estado, a
Constituição Federal, no tocante aos municípios, especifica que este reger-se-á por lei orgânica, votada
em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara
Municipal, que a promulgará. Também discrimina a composição dessas Câmaras Municipais,
considerando a quantidade de habitantes de cada local. Analise as alternativas abaixo e selecione a que
aponta a proporção CORRETA.
(A) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de 70.000 (setenta mil) habitantes e de até
120.000 (cento e vinte mil) habitantes
(B) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 160.000 (cento e sessenta mil) habitantes
e de até 400.000 (quatrocentos mil) habitantes
(C) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 750.000 (setecentos e cinquenta mil)
habitantes e de até 950.000 (novecentos e cinquenta mil) habitantes
(D) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil)
habitantes e de até 600.000 (seiscentos mil) habitantes
(E) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 6.000.000 (seis milhões) de habitantes
e de até 8.000.000 (oito milhões) de habitantes

02. (Prefeitura de Teresina/PI - Analista Administrativo - FCC/2016) Dentre as competências


atribuídas pela Constituição Federal aos Municípios, inclui-se
(A) promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação
fiscalizadora municipal.
(B) instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem a
obrigatoriedade de prestar contas a outros entes da Federação.
(C) criar, organizar e suprimir distritos, por sua própria legislação.
(D) organizar e prestar, diretamente, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte
coletivo, que tem caráter essencial.
(E) legislar sobre assuntos de interesse local e suplementar a legislação federal e a estadual no que
couber.

03. (CGM de João Pessoa/PB - Conhecimentos Básicos – CESPE/2018) Considerando o modelo


constitucional de repartição das competências e dos bens dos entes federados, julgue o próximo item, a
respeito da organização do Estado.
Os municípios podem criar tribunais e conselhos para a fiscalização das contas municipais, na forma
da respectiva Lei Orgânica.
( ) Certo ( ) Errado

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Gabarito

01. D / 02. E / 03. Errado

Comentários

01. Resposta: D
Dispõe o art. 29, IV, “i”, da CF/88: para a composição das Câmaras Municipais, será observado o limite
máximo de 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 450.000 (quatrocentos e cinquenta
mil) habitantes e de até 600.000 (seiscentos mil) habitantes.

02. Resposta: E
Dentre outras são competências previstas pelo art. 30 da CF/88, aos municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber.

03. Resposta: Errado


CF, Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante
controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei:
§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais.

Administração Pública

Podemos considerar administração pública como a atividade desenvolvida pelo Estado ou seus
delegados, sob o regime de direito público, com fim de atendimento de modo direto e imediato as
necessidades concretas da coletividade.
Podem ser listadas como características a prática de atos tão somente de execução: estes atos são
denominados atos administrativos; quem pratica estes atos são os órgãos e seus agentes, que são
sempre públicos; o exercício de atividade politicamente neutra; sua atividade é vinculada à Lei e não à
Política; conduta hierarquizada; dever de obediência - escalona os poderes administrativos do mais alto
escalão até a mais humilde das funções; prática de atos com responsabilidade técnica e legal; busca a
perfeição técnica de seus atos, que devem ser tecnicamente perfeitos e segundo os preceitos legais;
caráter instrumental – a Administração Pública é um instrumento para o Estado conseguir seus objetivos.
A Administração serve ao Estado; competência limitada – o poder de decisão e de comando de cada
área da Administração Pública é delimitada pela área de atuação de cada órgão.

Disposições gerais

Administração pública é o conjunto de órgãos, serviços e agentes do Estado que procuram satisfazer
as necessidades da sociedade, tais como educação, cultura, segurança, saúde, etc. Em outras palavras,
administração pública é a gestão dos interesses públicos por meio da prestação de serviços públicos,
sendo dividida em administração direta e indireta.
A Administração Pública direta se constitui dos serviços prestados da estrutura administrativa da
União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Já a Administração Pública indireta compreende os
serviços prestados pelas autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas
públicas. Conforme previsão constitucional, a Administração Pública Direta e Indireta ou Fundacional, de
qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Podemos definir a Administração Pública como a atividade mediante a qual as autoridades públicas
tomam providências para a satisfação das necessidades de interesse público, utilizando, quando
necessário, as prerrogativas do Poder Público, para alcançar os fins que não sejam os próprios à
legislação ou à distribuição da justiça.
Sobre Administração Pública, o professor José Afonso da Silva assim explica: “...É o conjunto de meios
institucionais, material, financeiro e humano preordenado à execução das decisões políticas. Essa é uma
noção simples de Administração Pública que destaca, em primeiro lugar, que é subordinada ao Poder
político; em segundo lugar, que é meio e, portanto, algo de que se serve para atingir fins definidos e, em
terceiro lugar, denota os dois aspectos: um conjunto de órgãos a serviço do Poder político e as operações,
as atividades administrativas” (in Curso de Direito Constitucional Positivo).

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Por sua vez, a Lei nº 9.784/99, que regula o processo administrativo no âmbito federal, mas irradia sua
força normativa para os demais entes da federação, traz uma série de princípios administrativos no seu
art. 2º, senão vejamos:
Art. 2º “A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade,
motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica,
interesse público e eficiência”.

Princípios
Princípio da supremacia do interesse público
É sobreposição do interesse público em face do interesse particular. Consiste no somatório dos
interesses individuais desde que represente o interesse majoritário, ou seja, a vontade da maioria da
sociedade. O interesse público primário é o interesse direto do povo, é o interesse da coletividade como
um todo. Já o interesse público secundário é o interesse direto do Estado como pessoa jurídica, titular
de direitos e obrigações, em resumo, é vontade do Estado. Assim, a vontade do povo (interesse público
primário) e a vontade do Estado (interesse público secundário) não se confundem.

Princípio da indisponibilidade do interesse público


Este princípio é o segundo pilar do regime jurídico-administrativo, funcionando como contrapeso ao
princípio da Supremacia do Interesse Público. Ao mesmo tempo em que a Administração tem
prerrogativas e poderes exorbitantes para atingir seus fins determinados em lei, ela sofre restrições,
limitações que não existem para o particular. Essas limitações decorrem do fato de que a Administração
Pública não é proprietária da coisa pública, não é proprietária do interesse público, mas sim, mera gestora
de bens e interesses alheios que pertencem ao povo.

É importante frisar a Administração Pública deverá se pautar nos cinco princípios estabelecidos pelo
“caput” do artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Os princípios são os
seguintes: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Princípio da legalidade
Consiste no fato de que o administrador somente poderá fazer o que a lei permite.

Princípio da impessoalidade
Este princípio estabelece que a Administração Pública, através de seus órgãos, não poderá, na
execução das atividades, estabelecer diferenças ou privilégios, uma vez que deve imperar o interesse
social e não o interesse particular

Princípio da moralidade administrativa


A Administração Pública, deve agir com boa-fé, sinceridade, probidade, lealdade e ética. Tal princípio
acarreta a obrigação ao administrador público de observar não somente a lei que condiciona sua atuação,
mas também, regras éticas extraídas dos padrões de comportamento designados como moralidade
administrativa (obediência à lei).

Princípio da publicidade
Tem por objetivo a divulgação de atos praticados pela Administração Pública, obedecendo, todavia,
as questões sigilosas.

Princípio da eficiência
Busca a excelência e a efetividade nos atos da Administração Pública.

Vejamos o que prevê a norma constitucional sobre o tema:

CAPÍTULO VII
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Seção I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

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Dica! Para conseguir memorizar e nunca mais esquecer quais são os mais importantes princípios
constitucionais da Administração Pública, basta unir as iniciais de cada destes e, com isso,
chegaremos à palavra mnemônica “LIMPE”. Lembre-se sempre do “LIMPE”, as bancas adoram
questões sobre esse tema.

I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos
estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;
Não esqueça! Há cargos que os estrangeiros não podem ocupar, como os cargos privativos de
brasileiro nato (art. 12, § 3°).
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na
forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração;

Súmula Vinculante 43 É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor


investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que
não integra a carreira na qual anteriormente investido.

III - o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual
período;
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso
público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para
assumir cargo ou emprego, na carreira;
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e
os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e
percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e
assessoramento;

Súmula Vinculante 13 - A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral


ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma
pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo
em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e
indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical;


VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica;
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de
deficiência e definirá os critérios de sua admissão;
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade
temporária de excepcional interesse público;
Não esqueça! Essas contratações são feitas para situações de emergência ou extremamente
peculiares.
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão
ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada
revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices;
Não confunda! Subsídio X Remuneração X Vencimento:
Subsídio: Está prevista na Constituição, é uma forma de retribuição obrigatória, paga em parcela única
para os membros de poder, detentores de mandatos eletivos, ex. Ministros de estados e secretários
estaduais.
Remuneração: É a soma do vencimento do cargo mais as vantagens e benefícios estabelecidos por
lei.
Vencimento: é a retribuição pelo exercício de cargo, com valor fixado em lei.

Súmula vinculante 42-STF: É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de


servidores estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária.

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XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da
administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes
políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não,
incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal,
em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o
subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do
Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o
subsidio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco
centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no
âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e
aos Defensores Públicos;
Este inciso refere-se aos tetos remuneratórios. O teto é a soma de todos os ganhos do agente político,
pode ser dividido em geral (nenhum servidor público no Brasil poderá ter remuneração que exceda o
subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do STF) e específicos (cada ente da federação possui regras
próprias sobre o teto).
União: há apenas o teto geral do subsídio de ministro do STF; é igual para todos os poderes.
Estados e DF: há tetos especiais para cada poder:
1) Poder Executivo: o subsídio mensal do Governador;
2) Poder Legislativo: o subsídio dos deputados estaduais ou distritais;
3) Poder Judiciário: o subsídio dos desembargadores do TJ, limitado a 90,25% do subsídio de ministro
do STF, sendo aplicável este limite também ao MP, Procuradores e Defensores Públicos.
Municípios: o teto é o subsídio do Prefeito.

XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser superiores
aos pagos pelo Poder Executivo;
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de
remuneração de pessoal do serviço público;
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público não serão computados nem
acumulados para fins de concessão de acréscimos ulteriores;
XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos públicos são irredutíveis,
ressalvado o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade
de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas;

Dica! Este inciso costuma ser muito cobrado em concursos públicos, então é importante saber as
situações em que é permitida a acumulação remunerada de cargos públicos.

XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções e abrange autarquias, fundações,


empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta
ou indiretamente, pelo poder público;
XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais terão, dentro de suas áreas de competência
e jurisdição, precedência sobre os demais setores administrativos, na forma da lei;
XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa
pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso,
definir as áreas de sua atuação;
XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades
mencionadas no inciso anterior, assim como a participação de qualquer delas em empresa privada;
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações
serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos
os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e
econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas,

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terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e atuarão de forma integrada, inclusive
com o compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou
imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.
§ 2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do ato e a punição da
autoridade responsável, nos termos da lei.
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta,
regulando especialmente:
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção
de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos
serviços;
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo, observado
o disposto no art. 5º, X e XXXIII;
III - a disciplina da representação contra o exercício negligente ou abusivo de cargo, emprego ou
função na administração pública.
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da
função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas
em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor
ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
§ 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocupante de cargo ou emprego da
administração direta e indireta que possibilite o acesso a informações privilegiadas.
§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da administração direta
e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder
público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à
lei dispor sobre:
I - o prazo de duração do contrato;
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e responsabilidade dos
dirigentes;
III - a remuneração do pessoal."
§ 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às sociedades de economia mista, e
suas subsidiárias, que receberem recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios
para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral.
§ 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos
arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os cargos
acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos em comissão declarados em lei
de livre nomeação e exoneração.
§ 11. Não serão computadas, para efeito dos limites remuneratórios de que trata o inciso XI do caput
deste artigo, as parcelas de caráter indenizatório previstas em lei.
§ 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo, fica facultado aos Estados e ao
Distrito Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica,
como limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado a
noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos subsídios dos Deputados Estaduais e
Distritais e dos Vereadores.

Acumulação de Cargo Público com Mandato Eletivo


A situação funcional do servidor público que passa a desempenhar mandato eletivo é tratada com
especificidade pelo art. 38 da Constituição Federal, que estabelece as soluções em relação à acumulação
de cargos, empregos ou funções com cargos eletivos.

Vejamos o artigo 38, CF

Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato
eletivo, aplicam-se as seguintes disposições:

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I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego
ou função;
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado
optar pela sua remuneração;
III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens
de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo
compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior;
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu tempo de
serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento;
V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de afastamento, os valores serão determinados
como se no exercício estivesse.

Questões

01. (CREA/SP - Analista Advogado - NR/2017) A administração pública, a teor do que dispõe o art.
37 da Constituição Federal, deve atender aos seguintes princípios nele contidos:
(A) Legalidade, impessoalidade, moralidade, celeridade, eficiência.
(B) Legalidade, pessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
(C) Legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
(D) Legalidade, impessoalidade, contraditório, publicidade e eficiência.
(E) Legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e isonomia.

02. (CRQ - 19ª Região (PB) - Assistente Administrativo - EDUCA/2017) De acordo com a
Constituição Federal, em seu art.37, a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte, EXCETO:
(A) Os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os
requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei.
(B) A investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na
forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração.
(C) O prazo de validade do concurso público será de até três anos, prorrogável uma vez, por igual
período.
(D) Durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso
público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para
assumir cargo ou emprego, na carreira.
(E) As funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e
os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e
percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e
assessoramento.

03. (PC/GO - Escrivão de Polícia Substituto - CESPE/2016) No que se refere à administração


pública, assinale a opção correta.
(A) É vedada a acumulação não remunerada de cargos, empregos e funções públicos na
administração direta, nas autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista e
sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público.
(B) As obras, os serviços, as compras e as alienações serão contratados mediante processo de
licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, permitindo-se exigências
de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações, nos
termos da lei.
(C) Agente público que cometer ato de improbidade administrativa estará sujeito à cassação de direitos
políticos, à perda da função pública, à indisponibilidade dos bens e ao ressarcimento ao erário, na forma
e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
(D) A remuneração dos servidores públicos organizados em carreira não pode ser fixada
exclusivamente por subsídio constituído de parcela única.
(E) Os cargos em comissão, que devem ser ocupados exclusivamente por servidores de carreira,
destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento.

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04. (EBSERH - Advogado - IBFC/2017) Assinale a alternativa correta com base nas previsões da
Constituição Federal sobre a Administração Pública.
(A) Os vencimentos dos cargos do Poder Executivo e do Poder Judiciário não poderão ser superiores
aos pagos pelo Poder Legislativo
(B) São garantidas a vinculação e a equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito
de remuneração de pessoal do serviço público
(C) Os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público não serão computados nem
acumulados para fins de concessão de acréscimos ulteriores
(D) É vedado ao servidor público civil o direito qualquer associação sindical
(E) A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de
deficiência, mas não poderá definir critérios de sua admissão.

05. (TRE/PE - Técnico Judiciário - Área Administrativa - CESPE/2017) Assinale a opção correta
acerca dos vencimentos e das remunerações dos servidores públicos.
(A) Os acréscimos pecuniários recebidos por servidor público tornam-se vinculativos para o futuro.
(B) De regra, é permitida a acumulação remunerada de cargos públicos, ressalvadas as exceções
constitucionais.
(C) É possível a concessão de equiparação de remuneração de servidores públicos.
(D) Os vencimentos dos cargos do Poder Judiciário poderão ser superiores aos pagos pelo Poder
Executivo.
(E) Como regra, o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos públicos são
irredutíveis.

06. (MPE/RS - Promotor de Justiça - MPE/RS/2017) Assinale a alternativa INCORRETA,


considerando tão somente o que dispõe o artigo 38 da Constituição Federal no que tange ao servidor
público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo.
(A) Tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego
ou função, sendo-lhe facultado optar pela remuneração de maior valor.
(B) Investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado
optar pela sua remuneração.
(C) Investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens
de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo
compatibilidade, será aplicada a norma do inciso II do artigo 38.
(D) Em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu tempo de
serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento.
(E) Para efeito de benefício previdenciário, no caso de afastamento, os valores serão determinados
como se no exercício estivesse.

07. (TJ/AM - Titular de Serviços de Notas e de Registros - IESES/2018) Sobre a Administração


Pública na Constituição Federal, é INCORRETO afirmar:
(A) Somente por lei específica poderão ser criadas autarquias, empresas públicas, sociedades de
economia mista e fundações, cabendo à lei complementar definir suas respectivas áreas de atuação.
(B) As funções de confiança e os cargos em comissão destinam-se apenas às atribuições de direção,
chefia e assessoramento.
(C) A lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender à necessidade
temporária de excepcional interesse público.
(D) A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou
imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.

08. (AL/RR – Administrador – FUNRIO/2018) Na Administração Pública, de acordo com os preceitos


constitucionais, é vedado
(A) investir em cargo público sem aprovação prévia em concurso público.
(B) abrir um novo concurso público durante o prazo de validade não expirado de um concurso anterior.
(C) adotar critérios diferenciados para concessão de aposentadoria.
(D) acumular cargo público se não houver compatibilidade de horário.

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Gabarito

01. C / 02. C / 03. B / 04. C / 05. E / 06. A / 07. A / 08. D

Comentários

01. Resposta: C
Segundo o caput do art. 37, da CF/88, a Administração Pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

02. Resposta: C
Considerando o disposto no art. 37, III, da CF/88: o prazo de validade do concurso público será de até
dois anos, prorrogável uma vez, por igual período.

03. Resposta: B
Disciplina o art. 37, XXI, da CF/88: ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,
serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que
assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual
somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia
do cumprimento das obrigações.

04. Resposta: C
Considerando o que dispõe o art. 37, XIV, da CF/88: os acréscimos pecuniários percebidos por servidor
público não serão computados nem acumulados para fins de concessão de acréscimos ulteriores.

05. Resposta: E
Dispõe o art. 37, XV, da CF/88: “o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos
públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150,
II, 153, III, e 153, § 2º, I.”

06. Resposta: A
Consoante o que prevê o art. 38, I, da CF/88: “tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou
distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função”. Lembrando que as regras aplicadas aos
municípios (prefeito e vereadores) são diferentes.

07. Resposta: A
CF, Art. 37. XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada à instituição de
empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste
último caso, definir as áreas de sua atuação.

08. Resposta: D
Art. 37, XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver
compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas;

Servidores públicos

Podemos conceituar agentes públicos como todos aqueles que têm uma vinculação profissional com
o Estado, mesmo que em caráter temporário ou sem remuneração, comportado diversas espécies, a
saber:
a) agentes políticos;
b) ocupantes de cargos em comissão;
c) contratados temporários;
d) agentes militares;
e) servidores públicos estatutários;

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f) empregados públicos;
g) particulares em colaboração com a Administração (agentes honoríficos).
A Constituição Federal de 1988 tem duas seções especificamente dedicadas ao tema dos agentes
públicos: Seções I e II do Capítulo VII do Título III, tratando respectivamente dos “servidores públicos
civis” (arts. 37 e 38) e dos “militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios” (art. 42).

SEÇÃO II
DOS SERVIDORES PÚBLICOS

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua
competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública
direta, das autarquias e das fundações públicas. 29
Com base nesse parâmetro foi promulgada a Lei nº 8.112/90, que demarcou a opção da União pelo
regime estatutário, no qual os servidores são admitidos sob regime de Direito Público, podem alcançar
estabilidade e possuem direitos e deveres estabelecidos por lei (e que podem, portanto, ser alterados
unilateralmente pelo Estado-Legislador).

§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório


observará:
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira;
II - os requisitos para a investidura;
III - as peculiaridades dos cargos.
Significa dizer que quanto maior o grau de dificuldade, tanto para ingressar no cargo, quanto para
desenvolver as funções inerentes a ele, melhor deverá ser a remuneração correspondente.

§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas de governo para a formação e o


aperfeiçoamento dos servidores públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisitos
para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos entre os entes
federados.
Essas escolas possuem como objetivo a atualização e a formação dos servidores públicos,
melhorando os níveis de desempenho e eficiência dos ocupantes de cargos e funções do serviço público,
estimulando e promovendo a especialização profissional, preparando servidores para o exercício de
funções superiores e para a intervenção ativa nos projetos voltados para a elevação constante dos
padrões de eficácia e eficiência do setor público.

§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII,
XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão
quando a natureza do cargo o exigir.
Vamos conferir o que diz os referidos incisos, do artigo 7º da Constituição Federal:
- Salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais
básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo
vedada sua vinculação para qualquer fim;
- Garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;
- Décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
- Remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
- Salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;
- Duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada
a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
- Repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
- Remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal;
- Gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;
- Licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias;
- Licença - paternidade, nos termos fixados em lei;

29
O Plenário do STF deferiu medida cautelar na ADI 2.135-MC, em agosto de 2007, para suspender a eficácia do caput do art. 39 da CF, na redação dada pela
EC 19/1998 (Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política de administração e remuneração de pessoal, integrado
por servidores designados pelos respectivos Poderes.), sendo mantida a redação anterior até julgamento em definitivo e solução sobre a regularidade quanto a
elaboração da emenda.

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Observação: A Lei nº 11.770/2008 instituiu o programa empresa Cidadã, que permite que seja
prorrogada a licença à gestante por mais 60 (sessenta) dias, ampliando, com isso o prazo de 120
(cento e vinte) para 180 (cento e oitenta) dias. Contudo, não é obrigatória a adesão a este programa.
Assim, a prorrogação é uma faculdade para as empresas privadas (que ao aderirem o programa
recebem incentivos fiscais) e para a Administração Pública direita, indireta e fundacional.
Cabe destacar, ainda, que esta lei foi recentemente alterada pela lei nº 13.257/2016, sendo
instituída a possibilidade de prorrogação da licença - paternidade por mais 15 (quinze) dias, além dos
5 (cinco) já assegurados constitucionalmente as empresas que fazem parte do programa. Contudo,
para isso, o empregado tem que requerer o benefício no prazo de 2 (dois) dias úteis após o parto e
comprovar a participação em programa ou atividade de orientação sobre paternidade responsável.

- Proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;
- Redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;
- Proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de
sexo, idade, cor ou estado civil;

§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários


Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado
o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie
remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
Ao falar em parcela única, fica clara a intenção de vedar a fixação dos subsídios em duas partes, uma
fixa e outra variável, tal como ocorria com os agentes políticos na vigência da Constituição de 1967. E,
ao vedar expressamente o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de
representação ou outra espécie remuneratória, também fica clara a intenção de extinguir, para as mesmas
categorias de agentes públicos, o sistema remuneratório que compreende o padrão fixado em lei mais as
vantagens pecuniárias de variada natureza previstas na legislação estatutária.

§ 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios poderá estabelecer a relação
entre a maior e a menor remuneração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer caso, o disposto
no art. 37, XI.

§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão anualmente os valores do subsídio e da


remuneração dos cargos e empregos públicos.
Aqui a norma constitucional não manda publicar os valores percebidos, individualmente, pelos
ocupantes dos cargos e empregos públicos, mas apenas o valor da remuneração correspondente aos
cargos e empregos públicos, pela evidente razão de que o montante da despesa assim gerada é que
interessa considerar quando se analisa o peso que a remuneração dos servidores públicos em geral tem
no orçamento dos entes federativos, e que não pode ultrapassar os limites fixados pela Lei de
Responsabilidade Fiscal; eventuais desvios ou abusos personalizados sujeitam-se às mais variadas
instâncias de controle interno e externo, tais como Tribunais de Contas e Ministério Público.

§ 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios disciplinará a aplicação de
recursos orçamentários provenientes da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia e
fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de qualidade e produtividade, treinamento e
desenvolvimento, modernização, reaparelhamento e racionalização do serviço público, inclusive sob a
forma de adicional ou prêmio de produtividade.
Esses cursos são importantes para obter o envolvimento e o comprometimento de todos os agentes
públicos com a qualidade e produtividade, quaisquer que sejam os cargos, funções ou empregos
ocupados, minimizar os desperdícios e os erros, inovar nas maneiras de atender as necessidades do
cidadão, simplificar procedimentos, inclusive de gestão, e proceder às transformações essenciais à
qualidade com produtividade.

§ 8º A remuneração dos servidores públicos organizados em carreira poderá ser fixada nos termos do
§ 4º.
Ou seja, por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional,
abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso,
os tetos remuneratórios dispostos no art. 37, X da Constituição Federal.

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Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter
contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos
e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste
artigo.
Para o regime previdenciário ter equilíbrio financeiro, basta ter no exercício atual um fluxo de caixa de
entrada superior ao fluxo de caixa de saída, gerado basicamente quando as receitas previdenciárias
superam as despesas com pagamento de benefícios.
Já para se ter equilibro atuarial, deve estar assegurado que o plano de custeio gera receitas não só
atuais, como também futuras e contínuas por tempo indeterminado, em um montante suficiente para
cobrir as respectivas despesas previdenciárias.
Para se manter o equilíbrio financeiro e atuarial é imprescindível que o regime mantenha um fundo
previdenciário que capitalize as sobras de caixa atuais que garantirão o pagamento de benefícios futuros.

§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo serão aposentados,
calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos §§ 3º e 17:
I - por invalidez permanente, sendo os proventos proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se
decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na
forma da lei;
II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos
de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 88, de 2015)

Com relação a aposentadoria por idade cabe ainda destacar recente alteração no texto
Constitucional pela Emenda nº 88/2015, onde os servidores titulares de cargos efetivos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, serão
aposentados compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70
(setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar
(art.40, § 1°, II, da CF).
A Lei Complementar nº 152/2015 foi instituída para regulamentar o novo dispositivo
constitucional, vejamos:

Art. 2º Serão aposentados compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de


contribuição, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade:
I - os servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, incluídas suas autarquias e fundações;
II - os membros do Poder Judiciário;
III - os membros do Ministério Público;
IV - os membros das Defensorias Públicas;
V - os membros dos Tribunais e dos Conselhos de Contas.

III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no serviço
público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, observadas as seguintes
condições:
a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinquenta e cinco anos de
idade e trinta de contribuição, se mulher;
b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, com proventos
proporcionais ao tempo de contribuição.

Curiosidade! Com as novas regras do Regime da Previdência que serão inseridas pela PEC
287/2016, homem e mulher se aposentarão aos 65 anos de idade (observando-se, contudo, com regra
de transição para homens com mais de 50 e mulheres com mais de 45). E com isso, aquele que desejar
se aposentar recebendo o valor integral deverá contribuir por 49 (quarenta e nove) anos.

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Em resumo:

Aposentadoria Voluntária
Idade Contribuição
Proventos Homem 60 35
integrais Mulher 55 30
Proventos Homem 65 -
proporcionais Mulher 60 -
Obs.: tempo mínimo de 10 (dez) anos de efetivo exercício e 5 (cinco) no cargo efetivo.

§ 2º - Os proventos de aposentadoria e as pensões, por ocasião de sua concessão, não poderão


exceder a remuneração do respectivo servidor, no cargo efetivo em que se deu a aposentadoria ou
que serviu de referência para a concessão da pensão.
§ 3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, por ocasião da sua concessão, serão
consideradas as remunerações utilizadas como base para as contribuições do servidor aos regimes de
previdência de que tratam este artigo e o art. 201, na forma da lei.
§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos
abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis
complementares, os casos de servidores:
I- portadores de deficiência;
II- que exerçam atividades de risco;
III- cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física.
§ 5º - Os requisitos de idade e de tempo de contribuição serão reduzidos em cinco anos, em
relação ao disposto no § 1º, III, "a", para o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo
exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio.
A redução só é permitida nos casos em que o tempo de contribuição é exclusivamente no magistério.
Ou seja, não é possível somar o tempo de magistério com o tempo em outra atividade e ainda reduzir 5
(cinco) anos. A soma é possível, no entanto, sem a redução de 5 (cinco) anos.

§ 6º - Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos acumuláveis na forma desta


Constituição, é vedada a percepção de mais de uma aposentadoria à conta do regime de previdência
previsto neste artigo.
Os cargos acumuláveis são: Dois de professor; um de professor com outro técnico ou científico; dois
cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas.

§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pensão por morte, que será igual
I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor falecido, até o limite máximo estabelecido para os
benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento
da parcela excedente a este limite, caso aposentado à data do óbito; ou
II - ao valor da totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo em que se deu o falecimento,
até o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o
art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este limite, caso em atividade na data do
óbito.
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor
real, conforme critérios estabelecidos em lei.
O valor real refere-se ao poder aquisitivo, em outros temos, se no início do recebimento do benefício,
o beneficiário conseguia suprir suas necessidades com alimentação, saúde, lazer, educação, etc. Após
alguns anos, o mesmo benefício deveria, em tese, propiciar o mesmo poder aquisitivo.

§ 9º - O tempo de contribuição federal, estadual ou municipal será contado para efeito de aposentadoria
e o tempo de serviço correspondente para efeito de disponibilidade.
§ 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício.
§ 11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total dos proventos de inatividade, inclusive
quando decorrentes da acumulação de cargos ou empregos públicos, bem como de outras atividades

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sujeitas a contribuição para o regime geral de previdência social, e ao montante resultante da adição de
proventos de inatividade com remuneração de cargo acumulável na forma desta Constituição, cargo em
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração, e de cargo eletivo.
§ 12 - Além do disposto neste artigo, o regime de previdência dos servidores públicos titulares de cargo
efetivo observará, no que couber, os requisitos e critérios fixados para o regime geral de previdência
social.
§ 13 - Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração bem como de outro cargo temporário ou de emprego público, aplica-se o regime
geral de previdência social.
§ 14 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, desde que instituam regime de
previdência complementar para os seus respectivos servidores titulares de cargo efetivo, poderão fixar,
para o valor das aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo regime de que trata este artigo, o
limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art.
201
§ 15. O regime de previdência complementar de que trata o § 14 será instituído por lei de iniciativa
do respectivo Poder Executivo, observado o disposto no art. 202 e seus parágrafos, no que couber, por
intermédio de entidades fechadas de previdência complementar, de natureza pública, que oferecerão aos
respectivos participantes planos de benefícios somente na modalidade de contribuição definida.
§ 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser
aplicado ao servidor que tiver ingressado no serviço público até a data da publicação do ato de instituição
do correspondente regime de previdência complementar.
§ 17. Todos os valores de remuneração considerados para o cálculo do benefício previsto no § 3°
serão devidamente atualizados, na forma da lei.
§ 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentadorias e pensões concedidas pelo regime
de que trata este artigo que superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de
previdência social de que trata o art. 201, com percentual igual ao estabelecido para os servidores titulares
de cargos efetivos.
§ 19. O servidor de que trata este artigo que tenha completado as exigências para aposentadoria
voluntária estabelecidas no § 1º, III, a, e que opte por permanecer em atividade fará jus a um abono de
permanência equivalente ao valor da sua contribuição previdenciária até completar as exigências para
aposentadoria compulsória contidas no § 1º, II.
§ 20. Fica vedada a existência de mais de um regime próprio de previdência social para os servidores
titulares de cargos efetivos, e de mais de uma unidade gestora do respectivo regime em cada ente estatal,
ressalvado o disposto no art. 142, § 3º, X.
§ 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo incidirá apenas sobre as parcelas de proventos de
aposentadoria e de pensão que superem o dobro do limite máximo estabelecido para os benefícios do
regime geral de previdência social de que trata o art. 201 desta Constituição, quando o beneficiário, na
forma da lei, for portador de doença incapacitante.

Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de
provimento efetivo em virtude de concurso público.
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa;
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar,
assegurada ampla defesa.
Referido instituto corresponde à proteção ao ocupante do cargo, garantindo, não de forma absoluta, a
permanência no Serviço Público, o que permite a execução regular de suas atividades, visando
exclusivamente o alcance do interesse coletivo.

§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual
ocupante da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização, aproveitado
em outro cargo ou posto em disponibilidade com remuneração proporcional ao tempo de serviço.
Reintegração é o instituto jurídico que ocorre quando o servidor retorna a seu cargo após ter sido
reconhecida a ilegalidade de sua demissão.

§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor estável ficará em disponibilidade,


com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em outro cargo.

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A disponibilidade é um instituto que permite ao servidor estável, que teve o seu cargo extinto ou
declarado desnecessário, permanecer sem trabalhar, com remuneração proporcional ao tempo de
serviço, à espera de um eventual aproveitamento.
Desde já, cumpre-nos ressaltar: o servidor estável que teve seu cargo extinto ou declarado
desnecessário não será nem exonerado, nem, muito menos, demitido. Será ele posto em disponibilidade!
Segundo a doutrina majoritária, o instituto da disponibilidade não protege o servidor não estável quanto
a uma possível extinção de seu cargo ou declaração de desnecessidade. Caso o servidor não tenha,
ainda, adquirido estabilidade, será ele exonerado ex officio.

§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de


desempenho por comissão instituída para essa finalidade.
A Avaliação de Desempenho é uma importante ferramenta de Gestão de Pessoas que corresponde a
uma análise sistemática do desempenho do profissional em função das atividades que realiza, das metas
estabelecidas, dos resultados alcançados e do seu potencial de desenvolvimento.

Questões

01. (TRT - 14ª Região (RO e AC) - Analista Judiciário - FCC/2016) Henrique, servidor público efetivo
do Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região, pretende se aposentar voluntariamente, uma vez que
completou o requisito de idade mínima previsto na Constituição Federal. Neste caso, será necessário ele
ter cumprido tempo mínimo de
(A) dez anos de efetivo exercício no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a
aposentadoria.
(B) dez anos de efetivo exercício no serviço público e no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria.
(C) cinco anos de efetivo exercício no serviço público e no cargo efetivo em que se dará a
aposentadoria.
(D) dez anos de efetivo exercício no serviço público apenas, independentemente do tempo exercido
no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria.
(E) quinze anos de efetivo exercício no serviço público e três anos no cargo efetivo em que se dará a
aposentadoria.

02. (UFPB - Técnico em Segurança do Trabalho - IDECAN/2016) Nos termos do capítulo destinado
à Administração Pública na Constituição Federal, é correto afirmar que
(A) a aposentadoria compulsória independe da carência de dez anos de exercício do serviço público.
(B) o servidor estável tem direito à recondução ao cargo efetivo no caso de invalidação de sua
demissão.
(C) o servidor eleito para mandato eletivo de vereador deve afastar-se do cargo para exercício da
vereança.
(D) a estabilidade do servidor público ocupante de cargo em comissão depende de avaliação de
desempenho.

03. (TJ/MT - Distribuidor, Contador e Partidor - UFMT/2016) Quanto à aposentadoria do servidor


público, assinale a afirmativa correta.
(A) A aposentadoria do servidor público se dará voluntariamente, com proventos integrais aos 60 anos
de idade e 35 de contribuição para os homens e 55 anos de idade e 30 de contribuição para as mulheres,
após 10 anos de efetivo exercício no serviço público.
(B) A aposentadoria do servidor público se dará compulsoriamente, com proventos integrais aos 60
anos de idade e 35 de contribuição para os homens e 55 anos de idade e 30 de contribuição para as
mulheres, após 10 anos de efetivo exercício no serviço público.
(C) A aposentadoria do servidor público se dará voluntariamente, com proventos proporcionais ao
tempo de contribuição aos 60 anos de idade para os homens e 55 anos de idade para as mulheres
(D) A aposentadoria do servidor público se dará voluntariamente, com proventos integrais aos 60 anos
de idade e 35 de contribuição para os homens e 55 anos de idade e 30 de contribuição para as mulheres,
após 5 anos de efetivo exercício público.

04. (TRT - 23ª REGIÃO (MT) - Analista Judiciário - FCC/2016) Sobre servidores públicos no sistema
constitucional brasileiro, é INCORRETO afirmar:

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(A) Durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso
público de provas, ou de provas e títulos, será convocado com prioridade sobre novos concursados para
assumir cargo ou emprego, na carreira.
(B) São garantidos ao servidor público civil o direito à livre associação sindical e o direito de greve.
(C) É vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de
remuneração de pessoal do serviço público.
(D) Os servidores fiscais da administração fazendária terão, dentro de suas áreas de competência e
jurisdição, precedência sobre os demais setores administrativos.
(E) A estabilidade do servidor público nomeado por concurso público é imediata à posse e efetivo
exercício.

05. (TRT - 23ª REGIÃO (MT) - Técnico Judiciário - FCC/2016) Sobre as normas constitucionais que
versam sobre os servidores públicos,
(A) o servidor público estável poderá perder o cargo, dentre outras hipóteses, mediante procedimento
de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada a ampla defesa.
(B) o servidor público será exonerado do serviço público, mediante pagamento de indenização
proporcional ao tempo de serviço prestado, paga em parcela única, se seu cargo for extinto.
(C) a realização de avaliação especial de desempenho é condição facultativa para aquisição da
estabilidade por servidores públicos nomeados para cargo de provimento efetivo.
(D) os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público,
vinculados à Administração Municipal, são estáveis após dois anos de efetivo exercício, nos termos da
lei, computando-se como de efetivo exercício o período de licença-gestante.
(E) o salário mínimo deve sempre ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de
servidor público.

06. (TCE/PB - Auditor de Contas Públicas – CESPE/2018) A respeito da remuneração dos


servidores públicos, assinale a opção correta.
(A) O servidor público tem direito ao recebimento de remuneração pelo trabalho noturno em valor
superior ao do diurno.
(B) Em razão do princípio da isonomia, é incabível, no serviço público, a aplicação de incentivos
específicos para a proteção do mercado de trabalho da mulher.
(C) O servidor público tem direito ao recebimento do décimo terceiro salário com o acréscimo de um
terço à remuneração normal.
(D) Os secretários estaduais e municipais são remunerados por subsídios acrescidos de gratificação
pessoal.
(E) Durante todo o tempo em que durar o trabalho no serviço público, o órgão responsável pelos
pagamentos deverá efetuar o recolhimento de FGTS do servidor.

07. (Câmara de Belo Horizonte/MG – Redator – CONSULPLAN/2018) Sobre o regime constitucional


dos servidores públicos, assinale a alternativa INCORRETA
(A) Os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os
requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei.
(B) Durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso
público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para
assumir cargo ou emprego, na carreira.
(C) Os cargos em comissão, exercidos exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e
as funções de confiança, a serem preenchidas por servidores de carreira nos casos, condições e
percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e
assessoramento.
(D) A investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na
forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração.

Gabarito

01. A / 02. A / 03. A / 04. E / 05. A / 06. A / 07. C

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Comentários

01. Resposta: A
Nos termos do art. 40, III, da CF/88: “voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos
de efetivo exercício no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria,
observadas as seguintes condições”.

02. Resposta: A
Art. 40, § 1º, da CF/88: Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo
serão aposentados, calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos §§ 3º e 17:
(...)
II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos
de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar.

03. Resposta: A
Art. 40, §1º, III, “a”, da CF/88: voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de
efetivo exercício no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, com
sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinquenta e cinco anos de idade e
trinta de contribuição, se mulher.

04. Resposta: E
Art. 41, da CF/88. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para
cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público.

05. Resposta: A
Art. 41 § 1º, da CF/88: O servidor público estável só perderá o cargo:
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa;
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar,
assegurada ampla defesa.

06. Resposta: A
Art. 39, § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX,
XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX.
Art. 7°, IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas
necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer,
vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder
aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim.

07. Resposta: C
Art. 37, V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo
efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições
e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e
assessoramento;

Da Segurança Pública (Art. 144). Os artigos em referência são da Constituição


Federal de 1988.

Da Segurança Pública - Perfil constitucional: funções institucionais

A Segurança é um direito constitucionalmente consagrado e constitui, juntamente com a Justiça e o


Bem-estar, um dos três fins do Estado Social. Viver em segurança é uma necessidade básica dos
cidadãos, é um direito destes e uma garantia a ser prestada pelo Estado.
Assim, o objetivo fundamental da segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
No título V da Constituição Federal de 1988, “Da defesa do Estado e das instituições democráticas”,
está o capítulo III, “Da segurança pública” que em seu único artigo dispõe: “Art. 144. A segurança pública,

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dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e
da incolumidade das pessoas e do patrimônio...”.
A segurança pública é um serviço público que deve ser universalizado, sendo “dever do estado” e
“direito de todos”. O art. 5º da Constituição Federal, em seu caput, eleva a segurança à condição de direito
fundamental. Como a convivência harmônica reclama a preservação dos direitos e garantias
fundamentais, é necessário existir uma atividade constante de vigilância, prevenção e repressão de
condutas delituosas.
O poder de polícia é a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais
em benefícios do interesse público.
A atividade policial divide-se, então em duas grandes áreas: administrativa e judiciária. A polícia
administrativa (polícia preventiva ou ostensiva) atua preventivamente, evitando que o crime aconteça e
preservando a ordem pública, fica a cargo das polícias militares, forças auxiliares e reserva do Exército.
Já a polícia judiciária (polícia de investigação) atua repressivamente, depois de ocorrido o ilícito. A
investigação e a apuração de infrações penais (exceto militares e aquelas de competência da polícia
federal), ou seja, o exercício da polícia judiciária, em âmbito estadual, cabe às policias civis, dirigidas por
delegados de polícia de carreira.

Órgãos da segurança pública


A segurança pública efetiva-se por meio dos seguintes órgãos:
- Polícia Federal - instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se a:
a) apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações
cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se
dispuser em lei;
b) prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho,
sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
c) exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; e
d) exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

- Polícia rodoviária federal - órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em
carreira, destina-se, nos termos da Lei n° 9.654, de 2 de junho de 1998, ao patrulhamento ostensivo das
rodovias federais.
- Polícia ferroviária federal - órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em
carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
- Polícias civis - dirigidas por delegados de carreira, exercem, ressalvada a competência da União,
as funções de polícia judiciária e de apuração de infrações penais, exceto as militares. Deve ser
observado que a Resolução n° 2, de 20 de fevereiro de 2002, do Conselho Nacional de Segurança
Pública, estabelece diretrizes para as polícias civil e militar dos Estados e do Distrito Federal em relação
às Corregedorias e recomenda a criação de Ouvidorias autônomas e independentes dos órgãos policiais.
- Polícias militares - realizam o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública; aos corpos
de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de
defesa civil. Nesse caso, há a Resolução n° 4, de 20 de fevereiro de 2002, do Conselho Nacional de
Segurança Pública, que estatui os procedimentos a serem adotados pela Polícia Militar em relação às
suas atribuições legais, e dá outras providências.
- Corpos de bombeiros militares - são forças auxiliares que se subordinam, conjuntamente com as
polícias civis, aos governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

Importante lembrar que os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção
de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei e a segurança viária, exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas
compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em
lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e compete, no âmbito dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de
trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.

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O homicídio cometido contra integrantes dos órgãos de segurança pública (ou contra seus
familiares) passa a ser considerado como homicídio qualificado, se o delito tiver relação com a
função exercida.
A Lei n° 13.142/2015 acrescentou o inciso VII ao § 2º do art. 121 do CP prevendo o seguinte:

Art. 121. Matar alguém:


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
(...)
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
(...)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau,
em razão dessa condição:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

2) A pena da LESÃO CORPORAL será aumentada de 1/3 a 2/3 se essa lesão tiver sido praticada
contra integrantes dos órgãos de segurança pública (ou contra seus familiares), desde que o delito
tenha relação com a função exercida.

A Lei n° 13.142/2015 acrescentou o § 12 ao art. 129 do CP, prevendo o seguinte:

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:


Pena - detenção, de três meses a um ano.
(...)
Aumento de pena
(...)
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços.

3) Foram previstos como crimes hediondos (Lei nº 8.072, de 25 de Julho de 1990):


- Lesão corporal dolosa gravíssima (art. 129, § 2º)
- Lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º)
- Homicídio qualificado praticados contra integrantes dos órgãos de segurança pública (ou contra
seus familiares), se o delito tiver relação com a função exercida.

Dispositivos constitucionais pertinentes ao tema:

CAPÍTULO III
DA SEGURANÇA PÚBLICA

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes
órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
O direito a segurança é prerrogativa constitucional indisponível, garantido mediante a implementação
de políticas públicas, impondo ao Estado a obrigação de criar condições objetivas que possibilitem o
efetivo acesso a tal serviço. É possível ao Poder Judiciário determinar a implementação pelo Estado,

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quando inadimplente, de políticas públicas constitucionalmente previstas, sem que haja ingerência em
questão que envolve o poder discricionário do Poder Executivo30
O conceito jurídico de ordem pública não se confunde com incolumidade das pessoas e do patrimônio
(art. 144 da CF/1988). Sem embargo, ordem pública se constitui em bem jurídico que pode resultar mais
ou menos fragilizado pelo modo personalizado com que se dá a concreta violação da integridade das
pessoas ou do patrimônio de terceiros, tanto quanto da saúde pública (nas hipóteses de tráfico de
entorpecentes e drogas afins).
Daí sua categorização jurídico-positiva, não como descrição do delito nem cominação de pena, porém
como pressuposto de prisão cautelar; ou seja, como imperiosa necessidade de acautelar o meio social
contra fatores de perturbação que já se localizam na gravidade incomum da execução de certos crimes.
Não há incomum gravidade abstrata desse ou daquele crime, mas da incomum gravidade na
perpetração em si do crime, levando à consistente ilação de que, solto, o agente reincidirá no delito.
Donde o vínculo operacional entre necessidade de preservação da ordem pública e acautelamento do
meio social. Logo, conceito de ordem pública que se desvincula do conceito de incolumidade das pessoas
e do patrimônio alheio (assim como da violação à saúde pública), mas que se enlaça umbilicalmente à
noção de acautelamento do meio social31.

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se a:"
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações
cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se
dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho,
sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
Cabe salientar que a mútua cooperação entre organismos policiais, o intercâmbio de informações, o
fornecimento recíproco de dados investigatórios e a assistência técnica entre a Polícia Federal e as
polícias estaduais, com o propósito comum de viabilizar a mais completa apuração de fatos delituosos
gravíssimos, notadamente naqueles casos em que se alega o envolvimento de policiais militares na
formação de grupos de extermínio, encontram fundamento, segundo penso, no próprio modelo
constitucional de federalismo cooperativo cuja institucionalização surge, em caráter inovador, no plano de
nosso ordenamento constitucional positivo, na CF de 1934, que se afastou da fórmula do federalismo
dualista inaugurada pela Constituição republicana de 1891, que impunha, por efeito da outorga de
competências estanques, rígida separação entre as atribuições federais e estaduais32.
A cláusula de exclusividade inscrita no art. 144, § 1º, IV, da Constituição da República – que não inibe
a atividade de investigação criminal do Ministério Público – tem por única finalidade conferir à Polícia
Federal, dentre os diversos organismos policiais que compõem o aparato repressivo da União Federal
(Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Ferroviária Federal), primazia investigatória na
apuração dos crimes previstos no próprio texto da Lei Fundamental ou, ainda, em tratados ou convenções
internacionais33.

§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em
carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado
em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as
militares.
A Constituição do Brasil – art. 144, § 4º – define incumbirem às polícias civis ‘as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares’. Não menciona a atividade penitenciária,
que diz com a guarda dos estabelecimentos prisionais; não atribui essa atividade específica à polícia
civil34.

30
RE 559.646-AgR, rel. min.Ellen Gracie, julgamento em 7-6-2011, Segunda Turma, DJE de 24-6-2011. No mesmo sentido: ARE 654.823-AgR, rel. min. Dias
Toffoli, julgamento em 12-11-2013, Primeira Turma, DJE de 5-12-2013
31
HC 101.300, rel. min. Ayres Britto, julgamento em 5-10-2010, Segunda Turma, DJE 18-11-2010
32
RHC 116.002, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 12-3-2014, decisão monocrática, DJE de 17-3-2014.
33
HC 89.837, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 20-10-2009, Segunda Turma, DJE de 20-11-2009.
34
ADI 3.916, rel. min.Eros Grau, julgamento em 3-2-2010, Plenário, DJE de 14-5-2010.

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§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de
bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa
civil.
“(...) reputo não haver que se falar em manifesta ilegalidade em ato emanado de superior hierárquico
consistente em determinar a subordinado que se dirija à cadeia pública, a fim de reforçar a guarda do
local. Por outro lado, tenho para mim que a obediência reflete um dos grandes deveres do militar, não
cabendo ao subalterno recusar a obediência devida ao superior, sobretudo levando-se em conta os
primados da hierarquia e da disciplina. Ademais, inviável delimitar, de forma peremptória, o que seria,
dentro da organização militar, ordem legal, ilegal ou manifestamente ilegal, uma vez que não há rol
taxativo a determinar as diversas atividades inerentes à função policial militar. Observo ainda que,
levando-se em conta a quadra atual a envolver os presídios brasileiros, com a problemática da
superpopulação carcerária em contraste com a escassez de mão de obra, entendo razoável a
participação da Polícia Militar em serviços de custódia e guarda de presos, sobretudo a fim manter a
ordem nos estabelecimentos prisionais. Por fim, emerge dos documentos acostados aos autos que a
ordem foi dada no sentido de reforçar a guarda, temporariamente, em serviços inerentes à carceragem,
e não para substituir agentes penitenciários como afirma a defesa35.”

§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército,


subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e
dos Territórios.
O § 6º do art. 144 da Constituição diz que os Delegados de Polícia são subordinados, hierarquizados
administrativamente aos governadores de Estado, do Distrito Federal e dos Territórios. E uma vez que os
delegados são, por expressa dicção constitucional, agentes subordinados, eu os excluiria desse foro
especial, ratione personae ou intuitu personae36.
Polícias estaduais: regra constitucional local que subordina diretamente ao governador a Polícia Civil
e a Polícia Militar do Estado: inconstitucionalidade na medida em que, invadindo a autonomia dos Estados
para dispor sobre sua organização administrativa, impõe dar a cada uma das duas corporações policiais
a hierarquia de secretarias e aos seus dirigentes o status de secretários37.

§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança


pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços
e instalações, conforme dispuser a lei.
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será
fixada na forma do § 4º do art. 39.
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas:
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas
em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou
entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.

Cabe destacar ainda o que prevê a Lei nº 13.060/2014, que disciplina o uso dos instrumentos de
menor potencial ofensivo pelos agentes de segurança pública, em todo o território nacional:

LEI Nº 13.060, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2014.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes de
segurança pública em todo o território nacional.
Art. 2º Os órgãos de segurança pública deverão priorizar a utilização dos instrumentos de menor
potencial ofensivo, desde que o seu uso não coloque em risco a integridade física ou psíquica dos
policiais, e deverão obedecer aos seguintes princípios:
I - legalidade;

35
HC 101.564, voto do rel. min. Gilmar Mendes, julgamento em 30-11-2010, Segunda Turma, DJE de 15-12-2010.
36
ADI 2.587, voto do rel. p/ o ac. min. Ayres Britto, julgamento em 1º-12-2004, Plenário, DJ de 6-11-2006.
37
ADI 132, rel. min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 30-4-2003, Plenário, DJ de 30-5-2003.

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II - necessidade;
III - razoabilidade e proporcionalidade.
Parágrafo único. Não é legítimo o uso de arma de fogo:
I - contra pessoa em fuga que esteja desarmada ou que não represente risco imediato de morte ou de
lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros; e
II - contra veículo que desrespeite bloqueio policial em via pública, exceto quando o ato represente
risco de morte ou lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros.
Art. 3º Os cursos de formação e capacitação dos agentes de segurança pública deverão incluir
conteúdo programático que os habilite ao uso dos instrumentos não letais.
Art. 4º Para os efeitos desta Lei, consideram-se instrumentos de menor potencial ofensivo aqueles
projetados especificamente para, com baixa probabilidade de causar mortes ou lesões permanentes,
conter, debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas.
Art. 5º O poder público tem o dever de fornecer a todo agente de segurança pública instrumentos de
menor potencial ofensivo para o uso racional da força.
Art. 6º Sempre que do uso da força praticada pelos agentes de segurança pública decorrerem
ferimentos em pessoas, deverá ser assegurada a imediata prestação de assistência e socorro médico
aos feridos, bem como a comunicação do ocorrido à família ou à pessoa por eles indicada.
Art. 7º O Poder Executivo editará regulamento classificando e disciplinando a utilização dos
instrumentos não letais.
Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 22 de dezembro de 2014; 193º da Independência e 126º da República.

Questões

01. (TJM/SP - Escrevente Técnico Judiciário - VUNESP/2017) Nos termos da Constituição Federal,
os policiais militares estaduais têm, entre suas funções,
(A) a segurança nacional, se o caso.
(B) a garantia dos poderes constitucionais.
(C) a preservação da ordem pública.
(D) a de polícia judiciária.
(E) a apuração de infrações penais.

02. (SJC/SC - Agente de Segurança Socioeducativo - FEPESE/2016) De acordo com a Constituição


Federal, a segurança pública é composta pelos seguintes órgãos:
1. Bombeiro militar
2. Defesa civil
3. Polícia federal
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.
(A) É correta apenas a afirmativa 1.
(B) São corretas apenas as afirmativas 1 e 2.
(C) São corretas apenas as afirmativas 1 e 3.
(D) São corretas apenas as afirmativas 2 e 3.
(E) São corretas as afirmativas 1, 2 e 3.

03. (Câmara de Natal/RN - Guarda Legislativo - COMPERVE/2016) A segurança pública, dever do


Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, por meio de órgãos variados, dentre eles a polícia federal,
cujas competências envolvem
(A) exercer, sem exclusividade, as funções de polícia judiciária da União e atuar no patrulhamento
ostensivo das ferrovias federais.
(B) prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, não cabendo a esse órgão atuar
para prevenir e reprimir o contrabando e o descaminho.
(C) executar as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras e exercer as atividades de
patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
(D) apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas.

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04. (Câmara de Natal/RN - Guarda Legislativo - COMPERVE/2016) Além da polícia federal, outros
órgãos atuam para promover a segurança pública no âmbito do território brasileiro, como é o caso das
polícias civis, das polícias militares e corpos de bombeiros militares. A Constituição, tratando das diretrizes
referentes a esses entes, determinou que
(A) às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as
militares.
(B) às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, inclusive das
militares.
(C) as polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército,
subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Prefeitos e Governadores dos Estados.
(D) as polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército,
subordinam-se, juntamente com as polícias civis, ao Presidente da República, Prefeitos e Governadores
dos Estados.

05. (PC/DF - Perito Criminal – IADES/2016) A segurança pública é dever do Estado e direito e
responsabilidade de todos. É exercida pela Polícia Federal e por outros órgãos, com base na Constituição
Federal, para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Acerca
desse tema, assinale a alternativa correta.
(A) Juntamente com a Polícia Civil, cabe à Polícia Federal exercer funções de Polícia Judiciária da
União.
(B) A Polícia Federal é um órgão permanente, organizado e mantido pela União, e estruturado em
carreira que se destina, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
(C) As Polícias Federais, Militares e os Corpos de Bombeiros Militares, as forças auxiliares e a reserva
do Exército subordinam-se, juntamente com as Polícias Civis, aos governadores dos estados, do Distrito
Federal e dos territórios.
(D) À Polícia Federal cabe apurar as infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento
de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas.
(E) Às Polícias Civis incumbe, ressalvada a competência da União, a apuração de infrações penais,
incluindo as militares.

Gabarito

01. C / 02. C / 03. D / 04. A / 05. D

Comentários

01. Resposta: C
Dispõe o art. 144, §5º, da CF/88: Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da
ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a
execução de atividades de defesa civil.

02. Resposta: C
A segurança pública é exercida através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

03. Resposta: D
É a disciplina constitucional: “Artigo 144, § 1º, CF/88. A polícia federal, instituída por lei como órgão
permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar infrações
penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de
suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II -
prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem
prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III -

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exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV - exercer, com exclusividade, as
funções de polícia judiciária da União.

04. Resposta: A
A alternativa “A” se enquadra na redação literal do que disciplina o artigo 144, § 4º, da CF/88: “Às
polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da
União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”.

05. Resposta: D
Consoante o que dispõe o art. 144, §1º, I, da CF/88, a polícia federal, dentre outras atribuições, destina-
se a apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações
cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se
dispuser em lei.

Noções de Direito Penal: Dos Crimes contra a Pessoa e contra o Patrimônio (Art.
121 ao 183);

CRIMES CONTRA A PESSOA

Os crimes contra a pessoa estão previstos na Parte Especial do Código Penal, nos artigos 121 a 154-
B.
DOS CRIMES CONTRA A VIDA (ART. 121 A 128)

É finalidade fundamental do Estado, a proteção da pessoa humana, já que é o centro e a essência de


sua existência (o Estado).
O bem de maior valor do homem, sem dúvida alguma, é a vida e, quem tira a vida de outra pessoa é
punido, desde os tempos mais remotos.

O HOMICÍDIO é definido como a eliminação da vida extrauterina de um homem por outro. No código
penal, artigo 121 a definição é simples - matar alguém, pena 6 a 20 anos de reclusão.
O objetivo do artigo é a proteção da vida, que, inclusive, é garantia constitucional.
Somente o homem pode ser sujeito ativo do homicídio, e, não se exige nenhuma qualidade especial
para isto, podendo ser praticado por qualquer pessoa (crime comum).
Pode ser sujeito passivo, qualquer pessoa, basta ser humano, não existindo distinção qualquer,
sendo importante, saber-se, somente, quando se tem o início da vida que, para efeitos do homicídio, é
início do parto e, se ocorrer antes, trata-se de aborto.
Não se importa o legislador, com a expectativa de vida do nonato, basta haver a vida, para que sua
eliminação seja punida.
Eliminando-se a vida de um animal, ou até de um vegetal, não haverá homicídio, da mesma forma
quando a ação de matar se dirige contra um cadáver.
São seres humanos os considerados monstros, os portadores de graves deficiências, os moribundos,
etc.
No caso de xifópagos, a eliminação da vida de um deles, da qual depende a do outro, será considerado
homicídio em concurso formal.
Elemento objetivo: Descrição típica é matar alguém, eliminar a vida do ser humano, que pode ser feio
por qualquer meio, diretamente ou indiretamente.
Os meios podem ser classificados como físicos, químicos, patogênicos e psíquicos ou morais, podendo
ser causado, ainda, por ação ou omissão, desde que haja o nexo causal.
Elemento subjetivo (Dolo - genérico) É a intenção, o querer eliminar a vida humana, não sendo
necessário o fim especial de agir, que, entretanto, pode estar presente, qualificando ou privilegiando o
crime.
A transmissão do vírus da AIDS, quando causa a morte é considerado homicídio, na modalidade do
dolo eventual. Se não ocorreu a morte o crime é de lesão corporal de natureza grave, mas, não caracteriza
tentativa de homicídio.

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CONSUMAÇÃO E TENTATIVA:
Por ser crime material o homicídio, para consumação, depende de resultado naturalístico, que ocorre
com a morte da vítima, definida como sendo a parada de funcionamento cerebral, circulatória e
respiratória, de caráter definitivo.
A comprovação do homicídio se faz através de exame necroscópico.
É possível a tentativa de homicídio. Havendo ataque à vida e, não ocorrendo o resultado por
circunstâncias alheias à vontade do agente, haverá a tentativa de homicídio.
Deve-se diferenciar tentativa de homicídio de lesão corporal, cuja distinção se encontra na intenção
do agente, que pode ser deduzido através de critérios objetivos, como a violência do golpe, a sede das
lesões, o tipo de arma utilizada, etc., devendo existir, ainda, o efetivo ataque ao bem jurídico, não se
impostando, exclusivamente, com a gravidade das lesões sofridas pela vítima.
Fala-se em tentativa branca, quando o agente dispara contra a vítima, mas não consegue atingi-la.

HOMICÍDIO PRIVILEGIADO: ARTIGO 121, parágrafo 1º do C.P. Não é delito autônomo, mas, caso
de diminuição de pena pela existência de determinadas circunstâncias que tornam menos grave a
reprovabilidade da conduta e, por consequência, a pena, sendo a diminuição entre os limites de 1/6 a 1/3
que, de acordo com a maioria dos juristas é obrigatória, mas, existe entendimento em contrário.
As circunstâncias que diminuem a pena são: relevante valor social ou moral e a violenta emoção, após
a injusta provocação da vítima.
Tais circunstâncias, que já foram estudas (sentimento sociais) demonstram que o agente não possuí
um alto grau de periculosidade, devendo, pois, sofrer uma menor punição.
Os sentimentos morais, relembrando, são sentimentos individuais que podem levar a prática do crime,
como a piedade, no caso da eutanásia que, por nossa legislação é punida a título de homicídio.
Por fim se tem a violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da vítima, quem contém os
seguintes requisitos: existência da emoção; provocação da vítima e reação imediata A emoção é um
estado grave que, momentaneamente, perturba o sentido do ser humano, levando ao crime. Assim, não
se incluí no privilégio, o chamado homicídio passional (matar por amor).
Se não estiver presente a emoção violenta, poderá existir circunstância atenuante, mas não o
privilégio.
É de suma importância a injustiça na provocação
A circunstância de tempo, logo em seguida, também deve estar presente, a reação deverá ser
imediata.

HOMICÍDIO QUALIFICADO: ARTIGO 121, parágrafo 2º.


São circunstâncias que, presentes, demonstram, ao contrário dos privilégios, uma periculosidade
maior no agente, merecendo, pois, uma sanção maior.
São causas que qualificam o homicídio:
a) paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe: a vida não pode ser motivo de
comércio, receber alguma vantagem, em especial dinheiro para tirar a vida de outro ser humano é
repugnante e, no caso, respondem pelo crime o mandante e o agente e comunica-se ao coautor, por ser
elementar do crime.
Qualquer outro ativo repugnante, ignóbil, desprezível, como o caso de homicídio praticado para
recebimento de herança, também qualifica o homicídio.
b) motivo fútil: é o motivo pequeno, sem importância, amplamente desproporcional, e é analisada do
ponto de vista objetivo e não de acordo com o réu.
c) veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel ou de que possa
resultar perigo comum: nota-se, nos presentes casos que o agente tem um desprezo total em relação
à vítima, não se importando com o sofrimento que lhe vai impor, com a utilização dos meios cruéis,
veneno, fogo, nem tampouco com a vida de outras pessoas que possam ser atingidas por seu ato,
merecendo, assim, uma maior punição.
Para reconhecimento da qualificadora, entretanto, é necessária a comprovação do nexo entre a
utilização do meio insidioso ou cruel e a morte, inclusive com exame toxicológico.
A asfixia pode ocorrer de diversas formas, bloqueio das vias respiratórias, enforcamento, esganadura,
estrangulamento, soterramento, confinamento, etc.
Outros meios que podem ser citados é a morte por descarga elétrica de alta tensão, a armadilha, a
sabotagem, etc.
Como meios que pode causar perigo comum, aponta-se a inundação, desabamento, etc.
d) traição, emboscada, dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa
do ofendido: que demonstram covardia por parte do agente.

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A traição ocorre quando o agente atinge a vítima que se encontra confiando nele, ou descuidado, por
não imaginar a intenção do assassino.
A emboscada ou tocaia é a espera e escolha do lugar melhor para a execução da vítima que
desconhece a situação.
A dissimulação é o disfarce, uma máscara que esconde da vítima seu destino e a intenção do agente.
A surpresa, quando dificulta a defesa da vítima é considerada como qualificadora, como o exemplo do
crime praticado quando a vítima estava dormindo.
e) crimes praticados para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime: Ou seja, quando haja conexão entre dois crimes, sendo um deles praticado pelo ou para o
outro, podendo ser anterior, concomitante e posterior.
A premeditação não é considerada qualificadora, podendo ser considerada circunstância judicial para
a fixação da pena acima do mínimo legal.
Matar o pai não qualifica o crime, mas, trata-se de circunstância agravante.
Conforme o caso o homicídio pode ser considerado m crime político, genocídio.
As circunstâncias qualificadoras e privilegiadoras se comunicam entre os coautores, desde que
objetivas e conhecidas pelo coautor, havendo entendimento diverso.
Outra dúvida na doutrina, a respeito destas circunstâncias, é a possibilidade de reconhecimento de
qualificadoras e privilegiadoras num mesmo fato. Alguns entendem não ser possível, pois, um crime
qualificado, não pode ser considerado ao mesmo tempo privilegiado. Numa segunda posição estão os
que entendem que é possível a coexistência de qualificadoras objetivas com o privilégio e, a terceira
entende ser possível a coexistência em qualquer hipótese.
Não é possível a combinação de circunstâncias qualificadoras de caráter subjetivo com as
circunstâncias privilegiadoras.
Com o advento do E.C.A., o crime de homicídio praticado contra menor de 14 anos, seja simples,
qualificado ou privilegiado, terá um aumento de 1/3.
Existe distinção entre o homicídio e o aborto pois nesta e conduta somente poderá ocorrer antes do
início do parto e do infanticídio pois, neste, existe uma série de elementos, como mãe, a serem
preenchidos pelo sujeito ativo.
O concurso, quer seja formal ou material, pode ocorrer quando da prática de homicídio, como ocultação
de cadáver, lesões corporais em terceiros, etc, sendo, inclusive, possível, a continuidade delitiva.
f) feminicídio: Com recente alteração à norma penal pela Lei nº 13.104/2015, foi inserida a
qualificadora que eleva a pena quando o homicídio é praticado contra a mulher por razões da condição
de sexo feminino. Diz-se de razões da condição de sexo feminino quando o crime envolve: violência
doméstica e familiar; e menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Importante destacar, ainda, que utiliza-se os termos “feminicídio” ou “assassinato relacionado a
gênero”, ao assassinato de mulheres pela condição de serem mulheres. Tal tipo penal se refere a um
crime de ódio contra as mulheres, justificada sócio-culturalmente por uma história de dominação da
mulher pelo homem e estimulada pela impunidade e indiferença da sociedade e do Estado.
O doutrinador Nucci, em comentário acerca da alteração da Lei menciona que em lugar do legislador
criar essa nova figura qualificada do delito do art. 121, maior eficácia teria, ao combate da violência contra
a mulher, se este elevasse as penas dos crimes de ameaça e lesão corporal, uma vez que estas são as
causas primárias do homicídio cometido contra a mulher. Assim, ameaçar de morte permanece com pena
de multa (a menor). Lesionar a integridade corporal, três meses de detenção, com vários benefícios, logo,
prisão não há. Quer-se punir o mais, ignorando-se o menos.
Frisa-se, ainda, que nos termos do art. 121, §7º, do CP, a pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um
terço) até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.

g) Lei 13.142/2015: Esta norma acrescenta mais uma circunstância qualificadora ao crime de
homicídio, tornando mais severa a punição àquele que pratica ou tenta praticar este crime contra
autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau, em razão dessa condição.
Antes de prosseguir cabe destacar alguns pontos importantes sobre os sujeitos passivos do delito. Em
primeiro lugar, a proteção é estendida àqueles abrangidos pelo o art. 142 da CF/88, sendo estes os
membros das Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica. Já o art. 144

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disciplina os órgãos de segurança pública: polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária
federal, polícias civis, polícias militares, corpos de bombeiros militares e guardas municipais.
Na categoria integrantes do sistema prisional entende-se que não estão abrangidos apenas os agentes
presentes no dia a dia da execução penal (diretor da penitenciária, agentes penitenciários, guardas, etc),
mas também aqueles que atuam em certas etapas da execução (comissão técnica de classificação,
comissão de exame criminológico, conselho penitenciário etc).
O Departamento da Força Nacional de Segurança Pública ou Força Nacional de Segurança Pública
(FNSP), é um programa de cooperação de segurança pública brasileiro, coordenado pela Secretaria
Nacional de Segurança Pública (SENASP). É um agrupamento de polícia da União que assume o papel
de polícia militar em distúrbios sociais ou em situações excepcionais nos estados brasileiros, sempre que
a ordem pública é posta em situação concreta de risco. É composta pelos quadros mais destacados das
polícias de cada Estado e da Polícia Federal, seus integrantes possuem a proteção da norma.

ATENÇÃO: Nos três casos, a qualificadora pressupõe que o crime tenha sido cometido contra o
agente no exercício da função ou em decorrência dela.

Por fim, o crime de homicídio é punido mais severamente quando cometidos contra o cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau dos agentes descritos nas alíneas anteriores.
Contudo, alerta o legislador ser indispensável que o crime tenha sido praticado em razão dessa condição,
ou seja, que o homicida escolheu matar aquela vítima exatamente por ser ela parente de policial.
Cumpre destacar ainda aqui que a Lei 8.072/90 (Crimes Hediondos) foi igualmente alterada pela
norma. Com isso, o homicídio e a lesão corporal gravíssima ou seguida de morte, quando praticados
contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3o. Grau, em razão dessa condição
passam a ser etiquetados como hediondos.

HOMICÍDIO CULPOSO: artigo 121, § 3º. a culpa é a produção de um resultado não querido, mas
previsível. Assim, homicídio culposo ocorre quando o agente consegue a morte da vítima sem ter a
intenção do resultado.
Geralmente verifica-se o crime de homicídio culposo, em acidentes de trânsito, tanto é verdade que
luta-se pela criação de delito autônomos em relação aos acidentes de trânsito, onde a culpa consiste na
transgressão de determinada regra de trânsito, devendo haver, além da transgressão, prova inequívoca
da culpa do agente. Às vezes a culpa vem revelado no fato do motorista dirigir embriagado, na contra
mão de direção, em velocidade incompatível para o local.
Se necessário se faz a prova da culpa do agente, impõe-se o entendimento de que se a culpa for da
vítima, não haverá responsabilização penal, em relação àquele que causou a lesão, salvo no caso de
culpa recíproca.

HOMICÍDIO CULPOSO QUALIFICADO: artigo 121 § 4º. Ocorre a qualificadora do homicídio culposo,
nas seguintes hipóteses: 1- se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou
ofício, que não deve ser confundida com a imperícia, pois, no caso, o agente conhece a regra técnica,
entretanto, não a observa, como o caso do motorista que, sabendo estar obrigado a utilizar as duas mãos
no volante, dirige com apenas uma, não havendo necessidade de ser um motorista profissional, pois a lei
se refere também a arte e ofício. 2- quando o agente não prestar socorro à vítima, não procura minorar
as consequências de seu ato, ou foge da prisão em flagrante. O socorro á vítima é obrigação legal, e o
seu descumprimento implica em aumento de pena no homicídio culposo, mas, se ficar comprovado que
o agente podia evitar a morte da vítima, caso prestasse socorro, responderá por homicídio doloso, pois,
com conduta anterior criou o risco de produzir o resultado.
É natural que se o agente deixou de prestar o socorro à vítima, ou fugiu do local com a intenção de
buscar socorro próprio ou, de populares que o agrediriam, a qualificadora não poderá ser reconhecida, o
mesmo ocorrendo se a vítima foi socorrida por terceiros.
É possível o concurso formal, no caso de haver duas ou mais vítimas.
Paira dúvida, entretanto, na possibilidade de concurso entre o homicídio culposo e a contravenção de
falta de habilitação, uma corrente entendendo que não pode ser absorvida a contravenção,
reconhecendo-se, assim, o concurso. Outra corrente descorda desta posição, entendendo haver a
absorção, sendo a primeira a predominante.

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Além das consequências penais o CTB prevê como consequência administrativa da condenação por
crime culposo de trânsito, a inabilitação para dirigir veículos.

PERDÃO JUDICIAL: artigo 121 § 5º. Quando as consequências da infração foram danosas para o
agente a ponto da sanção penal ser desnecessária, permite-se ao Juiz o aplicação do perdão judicial.
Como o caso do marido que perde a família num acidente de trânsito no qual foi culpado. Entretanto, a
aplicação do perdão deve ser feita com cautela e como exceção, pois, se aplicado indistintamente, poderá
consistir num caminho para a impunidade.
Nos casos de homicídio, crime contra a vida, a ação penal é pública incondicionada e, nos casos de
crime doloso, a competência para julgamento será do Tribunal do Júri.

INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO: artigo 122 do C.P. - Nada mais o suicídio
do que a eliminação da própria vida. A prática do suicídio não é punida por nossa legislação, entretanto,
é considerado fato ilícito, por atingir um bem indisponível que é a vida, por isto, a coação para que seja
evitado, não constitui crime, mas, a lei pune qualquer pessoa que, de qualquer forma, participe no suicídio
de outra pessoa. A pena para quem induz, instiga ou auxilia no suicídio é de 2 a 6 anos, se este se
consuma, ou 1 a 3 anos se, da tentativa de suicídio resultar lesão corporal de natureza grave, sendo a
pena de reclusão.
Tem por objetivo o legislador a proteção da vida humana.
Pode ser sujeito ativo do crime, qualquer pessoa, excluindo aquele que tenta contra a própria vida, que
colabora com a atitude da vítima.
Sujeito passivo é o homem, desde que seja capaz de ser induzido, sendo possuidor de capacidade de
resistência, pois, caso contrário, o crime será de homicídio doloso. É necessário, também que o sujeito
passivo seja determinado, uma ou várias pessoas certas.
A descrição objetiva demonstra três possibilidades de conduta, que são, induzir, instigar (participação
moral), ou prestar auxílio, (participação física).
Induzir significa criar na mente do sujeito passivo a ideia na prática do suicídio.
Instigar é reforçar a ideia que já existe na mente do suicida, desde que a vítima seja influenciada pela
conduta, pois, caso, não, inexistirá o nexo causal e, como consequência, o crime. O induzimento e
instigação podem consistir em uma fraude, como o caso do marido que querendo ver morta a mulher com
a qual tinha um pacto de morte, finge ter morrido, obtendo o seu suicídio. Houve instigação. Se, a vítima,
não tivesse a intenção de tirar a própria vida, haveria homicídio. Na coação resistível, caso a vítima
pratique o suicídio, haverá o crime de induzimento.
Pode haver a conduta de auxiliar, participação material, como o empréstimo da arma para a prática do
suicídio, bem como no ensinar formas de conseguir a morte sem dor, impedir o socorro para que o
resultado ocorra, etc. Entretanto, se o agente pratica qualquer ato de execução, como puxar a corda por
exemplo, responderá por homicídio.
Pode o agente praticar uma das condutas, ou as três, que o crime será o mesmo, não havendo
aumento de pena.
Os maus tratos, se forem constantes a ponto de criar na vítima a vontade de tirar a própria vida,
caracteriza o crime.
Embora discutia a possibilidade, nada impede a prática do crime em tela por omissão, como o caso do
carcereiro que deixa o preso falecer em decorrência de greve de fome, havendo, no caso um
descumprimento a um dever jurídico. Na modalidade de induzimento e instigação não existe dúvida sobre
a possibilidade, entretanto, em relação ao auxílio, a maioria entende não ser possível.
É fundamental a ocorrência do resultado morte ou de lesão corporal de natureza grave e, caso não
haja, não existe punição por este crime.
O tipo subjetivo exige a presença do dolo, ou seja, a vontade de induzir, instigar ou auxiliar o suicida,
acrescida da prova da relação de causalidade entre o induzimento e a prática do ato, pois, se, sem ele o
resultado ocorreria da mesma forma, ou seja, se a vítima já estava decidida na prática do ato, não haverá
o crime, como o exemplo daquele que fornece um revólver para a vítima, que se mata afogada. Não há
forma culposa do referido crime.
A consumação do crime ocorre com o resultado morte ou lesão corporal de natureza grave. A tentativa
de induzimento não é possível, mas se fala em tentativa de suicídio, no caso do resultado de lesão
corporal de natureza leve, onde, aquele que instigou será punido com uma pena menor.
Apresenta o crime forma qualificada, com aplicação em dobro da pena nos seguintes casos:
1- crime praticado por motivo egoístico, onde se exige a presença do dolo específico, que demonstra
um maior desprezo por parte do agente, como o caso do filho que instiga o pai a praticar o suicídio com
a finalidade de receber a herança, ou

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2- quando a vítima é menor ou tem diminuía, por qualquer causa a capacidade de resistência, por
serem mais facilmente sugestionáveis, tornando tranquila a prática do crime.
Se o agente, com fraude, consegue a morte que não era querida pela vítima, responde por homicídio.
Na prática de roleta russa os sobreviventes responderão pelo crime de induzimento ao suicídio.
No casos de suicídio a dois (Romeu e Julieta), o sobrevivente responderá por homicídio, se praticou
algum ato de execução ou por instigação, caso não tenha praticado.

INFANTICÍDIO: artigo 123 CP - Nada mais é do que um homicídio privilegiado, praticado pela mãe,
sob a influência do estado puerperal, durante ou logo após o parto, contra seu próprio filho.
O fato do legislador ter utilizado como fundamento da prática do crime o estado puerperal, pois a
influência deste estado não está definida, faz com que o dispositivo seja criticado, pois, na realidade o
crime tem por matéria, mais um problema social da mãe (solteira, casada com filho espúrio), do que
simplesmente o puerpério.
A pena para a prática do crime é de detenção de 2 a 6 anos.
Com o artigo tem o legislador o objetivo de proteger a vida do ser humano, no caso, a vida extrauterina.
O delito em estudo é próprio, portanto, deve ser praticado pela mãe, sendo ela sujeito ativo do crime.
Pergunta-se, entretanto se a pessoa que colabora com a prática do crime responde por ele ou por
homicídio Alguns entendem que, como a condição de mãe, estado puerperal são elementos de caráter
pessoal, na forma do artigo 30, devem se comunicar e, portanto, o colaborador responderá por infanticídio.
Outros que entendem ser o estado puerperal personalíssimo, lutam pela responsabilização do
colaborador por homicídio.
Terceira corrente entende que se o colaborar pratica ato de execução, como dar pauladas, responderá
por homicídio, mas, se colaborar, sem praticar qualquer ato de execução (partícipe), responderá por
infanticídio.
Sujeito passivo do crime é o filho que está nascendo ou recém-nascido, mesmo se ainda não respirou,
ou se caso não fosse praticada a conduta, morreria ele de consequências naturais.
O feto abortado por não ter condições de desenvolvimento, não pode ser sujeito passivo do crime, mas
se tratar-se de parto prematuro, o recém-nascido poderá ser sujeito passivo.
A descrição objetiva do crime exige a conduta matar, que pode consistir numa ação, dar pauladas, ou
omissão, como a falta de ligadura no cordão umbilical.
O fato deve ter ocorrido sob a influência de estado puerperal, e, ainda, durante ou logo após o parto,
que se inicia com a contração do útero e termina com a eliminação da placenta.
A lei não indica o que se considera logo após o parto, entendendo alguns doutrinadores que é de sete
dias, outros, oito dias, a aqueles que entendem que o prazo deva ser examinado pelo prudente arbítrio
do julgador. O normal é considerar logo após o parto, até a data da queda do cordão umbilical.
O tipo subjetivo exige a presença do dolo, qual seja, a vontade de matar o próprio filho, nascente ou
recém-nascido, não havendo forma culposa, podendo haver responsabilização, no caso, por homicídio
culposo.
A consumação ocorre com a morte do nascente ou recém-nascido, sendo possível, perfeitamente, a
tentativa.
O aborto diferencia-se do infanticídio, pois somente pode ocorrer antes do parto. Se não existir a
influência do estado puerperal, o crime será de homicídio. Se a conduta foi abandonar, com a finalidade
de ocultação de desonra própria, o crime será de exposição ou abandono de recém-nascido, qualificado
se resultar morte.
Poderá haver concurso do presente crime como o de ocultação de cadáver.

ABORTO: Aborto pode ser definido como a interrupção da gravidez com a destruição do produto da
concepção, (ovo, até três semanas, embrião, até 3 meses e feto, a partir dos 3 meses), não havendo
necessidade de expulsão.
Pode o aborto ser espontâneo (natural), ocorrendo nos casos de problemas de saúde da gestante;
acidental, resultante de um acidente, como queda, e provocado, criminoso e que merece punição.
O aborto não é considerado crime em diversas legislações estrangeiras, e existe no Brasil, movimento
para sua liberação.
O aborto é apresentado na nossa legislação das seguintes formas: auto-aborto ou consentimento no
aborto, (artigo 124), aborto sem o consentimento da gestante, (artigo 125) e aborto com o consentimento
da gestante, (artigo 126).
O objetivo do legislador é a proteção da vida intrauterina e a vida e integridade corporal da gestante,
no caso de aborto pratica sem o eu consentimento.

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Pode ser sujeito ativo do crime de aborto, qualquer pessoa, salvo no caso do auto-aborto, onde
somente a gestante poderá ser agente no crime.
O sujeito passivo é o Estado e a comunidade Nacional, já que o feto, embora tenha garantia civil, não
é sujeito como direito e obrigações na esfera penal. No caso do aborto praticado sem consentimento a
mulher é sujeito passivo.
A descrição objetiva apresente um objeto material, que consiste no produto da concepção, desde o
início da gravidez até o início do parto (o início da gravidez, para efeitos penais se dá com a implantação
do óvulo no útero da mãe, fato que permite a utilização de pílulas anticoncepcionais).
Assim, não há crime com a interrupção de gravidez tubárica ou ovárica, bem como a molar.
A conduta exigida é qualquer uma, capaz de produzir o aborto, ou seja, causar o aborto, interrompendo
a gravidez com a morte do feto.
Diversas formas podem ser utilizadas para provocação do aborto, bem como diversos meios, químicos,
orgânicos, físicos ou psíquicos. Se o meio for ineficaz, haverá o crime impossível.
Embora a posição seja criticada é possível a prática de aborto por omissão, devendo, em qualquer
caso, haver a prova da gravidez, bem como a realização de exame pericial no feto, por ser infração que
deixa vestígios.
O tipo subjetivo exige a presença do dolo, ou seja a vontade de interromper a gravidez, com a morte
do feto, não havendo forma culposa em relação à mulher que imprudentemente, toma uma substância
abortiva, permanecendo a punição em relação ao terceiro que causou o aborto culposamente. A tentativa
de suicídio de mulher grávida, não é punida a título de tentativa de aborto.
O crime de aborto consuma-se com a interrupção da gravidez e a morte do feto.
A tentativa é possível quando as manobras abortivas não interrompem a gravidez ou provocam
somente aceleração do parto.

ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO: Artigo 124 - cuja
conduta descrita é provocar aborto em si mesma ou consentir com que o façam. No caso de
consentimento, a gestante que consentiu responde pela revisão do artigo 124, enquanto que, aquele que
realiza o aborto responde pelo crime previsto no artigo 126, com pena mais severa.
A pergunta que surge em relação ao crime de aborto, gira em torno da possibilidade do concurso de
pessoas no casos de auto-aborto e no consentimento.
Alguns entendem que poderá haver concurso na forma moral, ou seja, na instigação ou induzimento,
desde que não haja participação direta na prática do crime. Mas, se houver a prática de qualquer ato de
execução o partícipe responderia pelo crime previsto no artigo 126.
Para outra corrente, aquele que participa de qualquer forma sempre responde pelo crime previsto no
artigo 126, mesmo que não pratique ato de execução, sendo a primeira corrente a mais aceitável.
Em qualquer hipótese o consentimento da gestante deve ser válido.

ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO: artigo 125 - pena de reclusão de 3 a 10 anos. O resultado,
sem consentimento pode advir do emprego de força, de ameaça ou, ainda, de fraude, geralmente na
última modalidade.
Existem casos de impossibilidade de consentimento e, nestes, mesmo havendo a vontade da gestante,
o crime será o previsto no artigo 125, pois, não é válido o consentimento em determinados casos, como
as menores de 14 anos e as alienadas mentais.

ABORTO CONSENSUAL: artigo 126 - define o artigo a provocação do aborto, por terceira pessoa,
com o consentimento da gestante, sendo que, a gestante que consente responderá pelo crime previsto
no artigo 124.
Existem duas formas de consentimento, o expresso e o tácito, e, caso haja a revogação do
consentimento, durante as manobras abortivas, continuando o agente, responderá pelo crime de aborto
provocado sem o consentimento.

ABORTO QUALIFICADO: artigo 127 - que prevê aumento de 1/3 na pena, caso a gestante sofra
lesões corporais de natureza grave, e a duplicação da pena se resultar a morte, nas formas do aborto
provocado e, desde que o resultado mais grave não fosse querido, manifestando-se na forma de crime
preterdoloso. Havendo intenção de obter o resultado o agente responderá por lesão corporal ou
homicídio, em concurso com o aborto.
Como a lei faz referência somente aos meios empregados, é possível a punição do agente por tentativa
de aborto qualificado. A aplicação da qualificadora só é possível nas formas previstas nos artigos 125 e
126.

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Quando a lesão, mesmo de natureza grave, for consequência necessária do fato, não existirá a
qualificadora.

ABORTO NECESSÁRIO: artigo 128 - aborto legal - É o realizado por médico com a intenção de salvar
a vida da gestante e desde que o aborto seja o único meio para a salvação da grávida, não havendo
necessidade que o perigo seja atual, podendo ser futuro.
A necessidade do aborto fica a critério do médico, havendo doutrinadores que entendem ser
imprescindível o consentimento da gestante.
Caso outra pessoa, que não médico, realize o aborto, poderá haver estado de necessidade.

ABORTO SENTIMENTAL: praticado em mulher cuja gravidez resultou de estupro e, numa


interpretação extensiva, de atentado violento ao pudor.
Neste caso, não será necessário decisão judicial, bem como autorização, bastando prova da gravidez
e do crime praticado, ficando o médico adstrito somente ao seu código de ética profissional, sendo
necessário o consentimento da gestante, e, se menor, prova da menoridade ou alienação mental.
O aborto eugenésico, quando existe possibilidade de anormalidade do feto, não é permitido por nossa
legislação.
O aborto se distingue do infanticídio por ocorrer somente antes do parto. O agente que agride a grávida,
conhecendo a situação, responderá, em concurso formal pelo aborto e pelas lesões causadas, se
desconhecer e puder prever, responderá por lesões corporais de natureza gravíssima.
Se o feto é expulso com vida e assim permanece, haverá tentativa de aborto e, caso a intenção fosse
somente a aceleração do parto, haverá crime de lesão corporal. Praticadas manobras abortivas em
mulher não grávida, inexistirá o aborto, mas, haverá punição por homicídio culposo.
A lesão corporal de natureza leve está contida no crime de aborto e não será punida separadamente.
Anunciar meio abortivo é contravenção penal, prevista no artigo 20 da L.C.P.
Morrendo o feto em decorrência de homicídio da gestante e conhecendo o agente a gravidez, ele
responderá pelo crime de aborto e de homicídio, embora haja posição em contrário.
A existência de diversos fetos, (gêmeos, por exemplo), não implica na ocorrência de concurso formal,
pois, não são eles sujeitos passivos do crime.

Em decisão proferida pela 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), em 29.11.2016, no


julgamento do HC 124.306-RJ, foi afastada a prisão preventiva dos acusados da prática de aborto com
o consentimento da gestante. Entendendo o ministro relator que é preciso dar interpretação conforme
a Constituição aos artigos 124 a 126 do Código Penal – que tipificam o crime de aborto – para excluir
do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro
trimestre. Argumenta que o bem jurídico protegido (a vida potencial do feto) é “evidentemente
relevante”, mas a criminalização do aborto antes de concluído o primeiro trimestre de gestação viola
diversos direitos fundamentais da mulher, além de não observar suficientemente o princípio da
proporcionalidade.

Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A VIDA

Homicídio simples
Art 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena
de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio

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IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)


VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído
pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de um a três anos.

Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância
de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima,
não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso
o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências
da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada,
sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº
12.720, de 2012)
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
(Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
(Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio


Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da
tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

Infanticídio
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento


Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.

Aborto provocado por terceiro


Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.

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Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou
é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência

Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em
consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de
natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro


II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de seu representante legal.

DAS LESÕES CORPORAIS (ART. 129 E PARÁGRAFOS)

Nos termos do artigo 129 do CP, pode-se definir o crime de lesão corporal como a ofensa à integridade
física ou saúde de outra pessoa, ofendendo a normalidade funcional do organismo, quer do ponto de vista
físico, como o psíquico, tanto na modalidade dolosa quanto na culposa.
O objetivo jurídico do artigo é a proteção da integridade física e psíquica do indivíduo.
Pode ser sujeito ativo do crime em estudo, qualquer pessoa, menos a pessoa que se auto lesiona,
pois, a auto lesão não é punida por nossa legislação, podendo haver o delito de fraude contra o seguro.
Sujeito passivo é qualquer pessoa humana, a partir do início do parto, desde que esteja vivo. Assim, a
prática de lesão em um cadáver, caracterizará crime de vilipêndio de cadáver, mas não de lesão corporal.
Como a integridade física é bem indisponível, o consentimento da vítima é indiferente na prática do
crime, salvo nos casos de intervenções cirúrgicas de esportes violentos, onde a lesão não caracteriza
crime e o consentimento é necessário.
A evolução do direito tem levado ao caminho de se considerar a integridade corporal como bem
disponível, onde o consentimento, certamente, descaracterizará a prática do crime.
No caso específico das intervenções cirúrgicas, entendem alguns doutrinadores que falta tipicidade,
pois, a intervenção, na maioria das vezes, ao invés de ofender a integridade da vítima, acaba por melhorar
sua saúde.
Haverá crime de lesão corporal quando o ferimento é causado na fuga do ataque do sujeito ativo.
A descrição objetiva exige a ofensa a integridade física da pessoa humana, ou seja, qualquer alteração
desfavorável produzida no organismo de outra pessoa, quer seja o mal físico, fisiológico ou psíquico, não
sendo necessário a existência de dor ou sangramento.
O crime pode ser praticado através de diversos meios e atingir o organismo humano de diversas
formas, inclusive através de uma doença.
A lesão corporal não caracteriza-se somente em causar a lesão, mas também, o fato de agravar-se
uma lesão já existente.
O crime será único se, em determinada conduta forem causados diversos ferimentos.
No casos de lesões leves entre casados, a jurisprudência, por política, indica a não punição, desde
que a vida conjugal, após o fato, é coroada de harmonia.
A lesão pode ser praticada por violência física e até moral, como um susto, por exemplo.
É possível a prática do crime por omissão, quando presente o dever jurídico de evitar-se o resultado,
bem como por meio indireto, como o caso da vítima que é dirigida para cair e um buraco.
A descrição subjetiva exige o dolo, ou seja, a vontade do agente em causar o dano à integridade física
ou psíquica da vítima.
No caso da prática de intervenções cirúrgicas e prática de esportes violentos, para aqueles que
entendem haver tipicidade, o crime será excluído, face a presença de exercício regular de direito, portanto,
causa que exclui a antijuridicidade.
Ganha importância a discussão na análise da possibilidade de operação transexual, alguns
entendendo tratar-se de lesão corporal e outros, concordando com a possibilidade da operação sem a

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caracterização do crime. Se a cirurgia for realizada para correção de problema congênito, como o
hermafrodita, não haverá prática do crime de lesão corporal.
A consumação do crime ocorre quando a vítima tem sua integridade física ou mental alterada pela
conduta do sujeito ativo.
Em relação à tentativa, existem posições diversas, uns entendendo ser impossível, pois estaria
caracterizado a contravenção de vias de fato e outros, em contrariedade, entendendo ser perfeitamente
possível, quando o agente tenta causar a lesão, mas não obtém o resultado por circunstâncias alheias a
sua vontade, posição adotada pela maioria e fixada pela jurisprudência, mesmo sendo difícil a
comprovação de qual tentativa se fala, de lesão corporal de natureza leve, grave ou gravíssima, devendo
ser a decisão sempre a favor do réu.

LESÃO CORPORAL DE NATUREZA LEVE: Para se determinar se a lesão corporal e de natureza


leve, utiliza-se o processo de eliminação. O legislador indica quando a lesão é de natureza grave ou
gravíssima. Se não ocorrer o resultado previsto pelo legislador, a lesão será leve.

LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE: artigo 129, § 1º - Neste parágrafo estão descritas
certas consequências que obtidas com a prática do crime, dão causa a uma punição maior, pois, de maios
potencial ofensivo a lesão.
São consequências que fazem considerar-se grave a lesão:
1- quando a vítima fica incapaz de realizar suas ocupações habituais por mais de 30 dias, sendo
que ocupação habitual não deve ser confundida com trabalho, mas, como qualquer atividade, ainda que
não remunerada. Assim, crianças, enfermos e velhos podem ser ficar sem suas ocupações habituais por
mais de trinta dias e estar perfeitamente caracterizado o crime. Também não se importa o legislador se a
incapacidade é relativa ou absoluta.
Não se deve também confundir incapacidade com ausência de cura, assim, pode ocorrer o fato da
lesão não estar totalmente curada no final de 30 dias, mas a vítima já se encontrar em sua atividade
normal, não estando deste forma caracterizada a lesão grave.
Para a comprovação da lesão grave se faz necessária a realização de um exame complementar no
31º dia após o crime, sendo tolerada a realização dentro de alguns dias, mas, caso não seja realizado o
exame em tempo hábil, estará excluída a gravidade da lesão.
A ocupação à qual fica incapacitada a vítima deve ser lícita e, portanto, aqueles que têm atividade
ilegal, não são alcançados por este dispositivo, tolera-se, assim, as atividades imorais. Assim, a meretriz
pode ser vítima de lesão corporal de natureza grave.
2- quando ocorrer perigo de vida: desde que o perigo seja efetivo e concreto, que é constatado por
exame pericial, como o caso de choque traumático, traumatismo craniano. Perigo de vida é probabilidade
de morte.
Não se pode levar em consideração para a determinação do perigo de vida exclusivamente a sede ou
a extensão das lesões.
3- quando ocorrer debilidade permanente de membro, sentido ou função, ou seja, uma redução
no funcionamento de parte do organismo. Os membros são os braços e pernas, sentidos são todas as
sensações do ser humano, tato, paladar, olfato, audição e visão e função, as atividades realizadas pelos
órgãos, como a função respiratória. A gravidade no caso, caracteriza-se pela diminuição de qualquer
destes, como a perda de um olho, sendo necessária prova pericial da perda parcial da função.
A compensação, através da instalação de prótese, não elimina a gravidade da lesão.
4- aceleração de parto, ou seja, quando o feto é expulso antes do final da gravidez e sobrevive, pelo
fato de que todo parto prematuro causa risco para o feto e para a gestante. A qualificadora não prevalece
se o agente desconhecia e não podia prever o estado de gravidez da vítima

LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA: artigo 129, § 2º. São causa que caracterizam a lesão gravíssima:
1- incapacidade permanente para o trabalho: e não ocupações habituais e, portanto, se relaciona a
trabalho, desde que permanente.
Quando a lei diz trabalho, se relaciona a qualquer trabalho e não à atividade específica da vítima.
Assim, a qualificadora é de difícil aplicação, pois, sempre restará à vítima a possibilidade de realizar algum
trabalho, mesmo que vendedor de bilhete de loteria, entretanto, com a ocorrência desta qualificadora,
certamente outra terá ocorrido, fato que possibilita a punição do agente como lesão de natureza
gravíssima.
2- enfermidade incurável: ou moléstia que não apresenta possibilidade de cura. A transmissão de
AIDS pode ser considerado, caso não haja a morte, lesão corporal de natureza gravíssima.

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3- quando ocorre perda ou inutilização de membro, sentido ou função: A qualificadora estará
caracterizada com a amputação do membro, ou inutilização do sentido ou função. A perda de somente
um dedo, ou audição de apenas um ouvido, por exemplo, não caracteriza a qualificadora.
Se devido à lesão o ser humano fica impotente, quer não podendo produzir mais filhos, quer não poder
mais ter a relação sexual, está tipificada a qualificadora. E ainda, o rompimento do hímen (perda da
virgindade) não é considerada como qualificadora.
4- quando resultar deformidade permanente: que pode ser definida como uma lesão estética no
indivíduo, desde que seja, visível e permanente, e que não possa ser reparado naturalmente, entretanto
se a vítima, através de cirurgia plástica, conseguir corrigir a deformidade, não haverá a lesão corporal de
natureza gravíssima. As deformidade geralmente se traduzem em cicatrizes ou amputações de pequenos
pedaços do corpo.
5- quando ocorrer aborto: ou seja, o agente pretende somente obter a ofensa à integridade física da
vítima, entretanto, ao praticar a conduta e como consequência desta, acaba por interromper a gravidez
da ofendida. Da mesma forma que na aceleração de parto, se o agente desconhecer totalmente o estado
gravídico da vítima, não responderá pelo resultado agravador, embora haja decisão em contrário.

LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE: artigo 129, § 3º - nada mais é do que o homicídio
preterdoloso, no qual o agente pretende praticar a lesão corporal, mas, sem nenhuma intenção, acaba
por matar a vítima, como o caso do agente que empurra a vítima que, desequilibrada cai ao chão, batendo
a cabeça contra um objeto dura e acaba por fraturar o crânio. Não havendo intenção do resultado lesão
corporal, haverá homicídio culposo.

AGRAVANTE NO CRIME DE LESÃO CORPORAL: Novidade trazida pelo Estatuto da Criança e do


Adolescente e o aumento de 1/3 na pena de quem pratica o crime de lesão corporal contra criança menor
de 14 anos, não sendo possível, por este motivo, o reconhecimento da agravante genérica de ter sido o
crime praticado contra criança.

LESÃO CORPORAL PRIVILEGIADA: artigo 129 § 4º - ocorre no caso da prática do crime quando
presente a violenta emoção logo após a injusta provocação da vítima, ou por relevante valor social, com
diminuição na pena variando de 1/6 a 1/3.
O juiz, não sendo graves as lesões, pode substituir a pena de detenção pela pena de multa em duas
situações: I – se ocorrer qualquer das hipóteses do § 4º do art. 129; e II – se as lesões forem recíprocas.
Importante destacar que o dispositivo é aplicável somente à lesão corporal leve – as graves e gravíssimas
foram expressamente excluídas e a lesão corporal culposa o foi tacitamente.

LESÃO CORPORAL CULPOSA: artigo 129 § 6º, ou seja, será punido o agente que der causa à lesão
por negligência, imprudência ou imperícia. No caso de lesão corporal culposa, a gravidade da lesão não
será considerada para efeito de determinação (aumento) da pena, servindo-se somente como
circunstância judicial.
Utilizar os conhecimentos ministrados a respeito do homicídio culposo.
Nos termos do art. 129, § 7º: A pena será aumentada de 1/3 se o crime resultar de inobservância de
regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixar de prestar imediato socorro à vítima, não
procurar diminuir as consequências do seu ato, ou fugir para evitar prisão em flagrante (CP, art. 121, §
4º, 1ª parte).

CONCURSO: se a lesão pratica for meio para obtenção de outro crime, será absorvido por ele, salvo
se houver disposição em contrário. Se as lesões forem praticadas por autoridades, haverá o crime de
abuso de autoridade, devendo ele responder também pelas lesões, em concurso formal. É possível a
continuidade delitiva o presente crime.
A tentativa de lesão corporal deve ser distinguida do crime de perigo de vida, pois, neste o dolo é
somente de perigo, enquanto no outro é de dano.
A tortura, conforme caso, pode caracterizar crime de lesão corporal, mas, se praticada contra criança,
tipificará crime específico previsto no E.C.A.

LESÃO CORPORAL E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: O art. 129, § 9º, disciplina forma qualificada de
lesão corporal que leva em conta o contexto em que é praticada. A pena prevista ao caso, em razão da
sua quantidade, somente deve ser aplicada na hipótese de lesão corporal leve. Se a lesão corporal for
grave, gravíssima ou seguida de morte, aplicar-se-á o art. 129 do CP. Pode ser praticada: a) contra
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro: o parentesco pode ser civil ou natural. Não

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ingressam as relações decorrentes do parentesco por afinidade. Exige-se prova documental da relação
de parentesco ou do vínculo matrimonial. A união estável pode ser comprovada por testemunhas ou
outros meios de prova que não exclusivamente os documentos; b) com quem conviva ou tenha convivido:
tais expressões devem ser interpretadas restritivamente. Quanto ao trecho “tenha convivido”, exige-se
tenha sido a lesão corporal praticada em decorrência da convivência passada entre o autor e a vítima. c)
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Relações
domésticas são as criadas entre os membros de uma família, podendo ou não existir ligações de
parentesco. Coabitação é a moradia sob o mesmo teto, ainda que por breve período – deve ser lícita e
conhecida dos coabitantes. Hospitalidade é a recepção eventual, durante a estadia provisória na
residência de alguém, sem necessidade de pernoite. Em todos os casos, a relação doméstica, a
coabitação ou a hospitalidade devem existir ao tempo do crime, pouco importando tenha sido o delito
praticado fora do âmbito da relação doméstica, ou do local que ensejou a coabitação ou a hospitalidade
Se a lesão corporal for grave, gravíssima ou seguida de morte, e o crime for praticado com violência
doméstica, incidirá sobre as penas respectivas (art. 129, §§ 1º, 2º e 3º) o aumento de 1/3 imposto pelo §
10 do art. 129 do CP.
A pena da lesão corporal leve cometida com violência doméstica será aumentada de 1/3 (um terço)
quando a vítima for pessoa portadora de deficiência. Contudo, deve tratar-se de pessoa portadora de
deficiência e ligada ao autor do crime pelos laços de violência doméstica indicados pelo § 9º do art. 129
do CP.É o que dispõe o §11º.

Por fim, cabe ressaltar a alteração trazida no art. 129 pela Lei nº13.142/2015, acrescentando ao tipo
um novo parágrafo (§ 12), majorando a pena da lesão corporal (dolosa, leve, grave, gravíssima ou seguida
de morte) de um a dois terços quando praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144
da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até 3º grau, em razão dessa condição.

Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

CAPÍTULO II
DAS LESÕES CORPORAIS

Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

Lesão corporal de natureza grave


§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Lesão corporal seguida de morte


§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu
o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Diminuição de pena

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§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena
de um sexto a um terço.

Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de
duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.

Lesão corporal culposa


§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Aumento de pena
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121
deste Código.
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.

Violência Doméstica
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o
deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido
contra pessoa portadora de deficiência.
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído pela Lei nº
13.142, de 2015)

DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE (ART. 130 A 136)

Este capítulo trata dos chamados crimes de perigo individual, definindo crimes subsidiários, que serão
utilizados caso não seja possível a punição do agente por crime mais grave. Os doutrinadores tentam
definir o perigo através de três pontos de vista, a iniciar-se pela subjetiva, que entende o perigo como
sendo uma criação da mente do homem, ou seja, possibilidade de ocorrência de lesão a um bem jurídico
protegido pela lei penal. Do ponto de vista objetivo, o perigo é uma realidade, um fato concreto e, para
finalizar, através do analise objetivo-subjetivo, o perigo é uma realidade que depende de uma valoração
subjetiva para definir sua existência.
O perigo pode ser abstrato, quando é presumido pela lei, mesmo não havendo o perigo concreto, pois,
por exemplos anteriores, ficou demonstrado que determinada conduta pode lesionar um bem jurídico.
Pode ser, ainda, concreto, onde a situação de perigo deve estar cabalmente comprovada. Distingue-se,
também, o dolo de dano, onde a intenção do agente é causar a lesão, e o dolo de perigo, onde a finalidade
do agente é tão somente a exposição do bem a um risco.
Em relação à quem se dirige a conduta o perigo pode ser individual, quando o visado é determinada
pessoa ou determinado grupo e os crimes de perigo comum ou coletivo, onde se visa um grupo
indeterminado de pessoas.

PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO: artigo 130 - cujo conceito é expor alguém, através de relação
sexual ou ato libidinoso ao contágio de moléstia venérea que o agente sabe ou ao menos devia saber
que estava contaminado.
O objetivo do legislador é a proteção à saúde humana, pois, algumas doenças venéreas são graves e
inclusive hereditárias, causando sérias consequências, a conduta poderia perfeitamente ser punida a
título de lesão corporal na sua forma tentada.
Podem ser sujeito ativo do crime, qualquer homem ou mulher, mesmo a meretriz.

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Sujeito passivo é a pessoa com quem o agente, sabendo estar contaminado, pratica a conjunção
carnal ou o ato libidinoso com o objetivo de transmitir a moléstia, mesmo que a vítima consinta no ato.
A descrição objetiva, conduta, é a prática da relação sexual ou outro ato libidinoso (o beijo é um
exemplo de ato libidinoso) e, se por ventura o meio de contágio for outro, não haverá o crime em estudo,
mas sim, outro, definido no artigo 131.
Regulamento do Ministério da Saúde relacionam as moléstias venéreas e a enumeração não é
taxativa, podendo outras doenças serem incluídas. A AIDS não é considerada doença venérea, embora
grave.
Para a comprovação do crime, como é presumido o perigo, necessário se faz tão somente a
comprovação da prática da relação sexual, entretanto, caso seja imune a vítima em adquirir a doença, o
crime estará descaracterizado. O exame deve ser realizada no acusado e na vítima, sob pena de
desaparecer a figura criminosa.
A descrição subjetiva exige o dolo, ou seja, a vontade em praticar a relação sexual ou o ato libidinoso,
expondo a vítima a perigo, quando sabe o agente que está contaminado ou mesmo quando deveria saber.
Neste ponto o legislador equiparou uma conduta dolosa a uma culposa, punindo as duas da mesma
forma, pois, quem devia saber que estava contaminado, não soube porque não tomou os cuidados
objetivos para evitar o resultado. Esta posição embora perfeitamente aceitável, recebe críticas sob o
fundamento de que a expressão deveria saber quer indicar a presunção do perigo.
Se o agente tem a intenção de transmitir a doença, dolo específico, (finalidade específica), a pena será
mais severa.
Se o agente não deveria supor estar contaminado, como o casado que adquiriu a doença da mulher,
haverá erro de tipo, excludente do crime, e portanto, não será ele responsabilizado.
O crime estará consumado com a exposição da vítima a perigo, mesmo não havendo contaminação.
Se realmente houver a transmissão, alguns doutrinadores entendem estar caracterizado o crime de lesão
corporal culposa, entretanto, verifica-se que a pena prevista para o crime de lesão corporal culposa é
menor que a do crime em estudo e, se aceitando tal posição, aquele que somente causasse perigo,
responderia por uma pena maior do que aquele que realmente causou a lesão, entretanto se o objetivo
do agente fosse transmitir a doença, causando ela lesão corporal de natureza grave ou morte, ao agente
será atribuído o resultado.
A tentativa, embora de difícil caracterização, é possível.
Pode ocorrer concurso formal entre o crime em tela e os crimes contra os costumes, estupro, atentado
violento ao pudor, lembrando-se sempre que se a intenção do agente é transmitir a moléstia, as penas
serão somadas.
A ação penal é pública condicionada a representação.

PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE: artigo 131 - o crime consiste em praticar ato capaz
de produzir contágio, com a finalidade de transmitir a outra pessoa moléstia grave de que está
contaminado, cuja pena será de reclusão de 1 a 4 anos, além da multa.
Mais uma vez o objetivo do legislador foi a proteção da saúde humana.
Pode ser sujeito ativo do crime qualquer pessoa que esteja contaminada com a moléstia e sujeito
passivo é a pessoa com a qual se pratica o ato.
A conduta (descrição objetiva) consiste na prática de qualquer ato que seja capaz de transmitir a
moléstia, quer de forma direta, como contato corporal, como o beijo, ou de forma indireta, com a utilização
de instrumentos, como agulha contaminada onde não contato corpo a corpo.
A moléstia deve ser considerada grave, geralmente aguda ou crônica, mesmo que seja curável, como
a tuberculose. Trata-se o artigo de norma penal em branco, pois, regulamentos da saúde é quem indicam
quais moléstias são consideradas contagiosas.
O elemento subjetivo (tipo subjetivo), exige o dolo, consistente na vontade de praticar o ato, mesmo
não ocorrendo o contágio, e, também, o elemento subjetivo do tipo, finalidade especial de transmitir a
doença. Como o legislador não prevê formal culposa, o máximo que poderá ocorrer é a punição do agente
por lesões corporais culposas, ou homicídio, caso ocorra a morte.
A consumação do crime ocorre com a prática do ato, não sendo necessária a transmissão efetiva. Se
do crime resultar a morte será o agente responsabilizado pelo crime de lesão corporal seguida de morte.
A tentativa é possível.
Se o agente tiver intenção de causar epidemia, o crime será outro (artigo 267 ou 268).

PERIGO PARA A VIDA OU A SAÚDE DE OUTREM: Pode-se apresentar como conceito deste crime,
a prática de qualquer ato que coloque em risco a vida ou a saúde de outra pessoa, tratando-se de crime

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subsidiário, cuja previsão legal se encontra no artigo 132 do CP., com pena de detenção de 3 meses a 1
ano.
Mais uma vez o legislador tem por objetivo proteger a vida e a saúde da pessoa humana.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime e o sujeito passivo será a pessoa a qual a vida ou
saúde é posta em perigo, não exigindo o legislador, nenhuma qualidade especial, desde que seja
determinada.
A descrição objetiva exige a criação, através de qualquer forma, uma situação na qual a saúde ou a
vida de outra pessoa fique exposta a perigo, que deve ser concreto, a ponto de ter colocado a vida ou a
saúde da vítima em risco direto e iminente.
É natural que, no caso de profissões perigosas, o seu exercício, dentro dos limites estabelecidos pela
lei, não é considerado crime.
A subjetividade exige a presença do dolo, ou seja, a vontade do agente em colocar em perigo a saúde
ou vida da vítima, mas, se o agente pretende causar o dano responderá pelo resultado ou pela tentativa
deste.
Em qualquer hipótese, mesmo não estando presente o dolo de dano no agente, se ocorrer algum
resultado lesivo por este ele será responsabilizado.
Não há forma culposa no presente delito.
A consumação do crime ocorre com a ocorrência do perigo, sendo possível a tentativa.
Como distinção, pode-se dizer que o crime em estudo é subsidiário, na modalidade expressa, só
podendo ser aplicado se não houver a ocorrência de um crime mais grave, assim, se houver lesões
corporais o agente responderá por este, se no disparo de arma de fogo, o agente o faz longe da vítima,
haverá a contravenção penal de disparo de arma de fogo. Se o crime causar perigo comum, haverá delito
contra a incolumidade pública.
Como se trata de crime subsidiário, não é possível o concurso.

ABANDONO DE INCAPAZ: artigo 133 CP - abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda,
vigilância ou autoridade e, por qualquer motivo incapaz de defender-se dos riscos resultantes do
abandono, cuja pena estipulada varia de 6 meses a 3 anos de detenção.
O objetivo do legislador é a proteção da vida e saúde da pessoa, bem como a segurança individual.
Somente poderá ser sujeito ativo deste crime a pessoa que tem o dever de cuidar da vítima, sendo
crime próprio, onde se exige uma relação de dependência entre a vítima e o agente.
Sujeito passivo é o incapaz, que não se confunde com a capacidade de direito, mas sim, inclui as
pessoas que por qualquer motivo, definitiva ou temporariamente, não tem condições de se defender
sozinho, não se importando o legislador que a incapacidade seja absoluta ou relativa, e o consentimento
da vítima não elide a prática do crime, já que os bens protegidos são indisponíveis, entretanto, se for a
própria vítima quem se retira do alcance do responsável, não haverá abandono, do mesmo modo que,
sendo abandonada a pessoa ela se mostra capaz de produzir sua defesa, havendo entendimento que ,
no caso, será o juiz quem excluirá ou não a prática do crime.
A descrição objetiva exige a conduta de abandonar, que significa deixar sem assistência, largar. O
abandono pode ser obtido de duas formas: conduzindo-se a vítima para fora de seu ambiente, onde se
encontrava protegida, ou quando o sujeito ativo é quem se afasta do ambiente do sujeito ativo, deixando-
o desamparado. A regra é que o crime seja praticado por omissão, entretanto, nada impede sua prática
através de ação, no caso da vítima levada para local onde correrá perigo, que deve ser concreto e que
haja uma separação física entre autor e vítima, assim, se a pessoa abandona e disfarçadamente fica
olhando para que nada ocorra ao abandonado, não haverá o crime, pois, o perigo não será concreto,
sendo indiferente o tempo, a duração do abandono.
O dispositivo se relaciona aos cuidados materiais.
Deve a relação entre os sujeitos se manifestar nas seguintes formas: cuidado existente no casos de
pessoas que sabem cuidar de si mesmos, mas que, temporariamente se encontram impedidos de realizar
a proteção própria; vigilância que significa o zelo pela segurança pessoal da vítima, incluindo a guarda e,
por fim, a autoridade, decorrente de um vínculo de poder, da lei, quer de ordem pública ou civil.
A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de abandonar, desde que o agente tenha ciência do
seu dever de cuidado. Se o agente, além da vontade de abandonar tenha intenção de causar dano à
vítima, responderá por este.
A consumação é considerada no momento em que a vítima corre perigo. É crime instantâneo de efeitos
permanentes e, caso, após o abandono o agente reassume a responsabilidade, o crime já se consumou
e ele será responsabilizado.
Embora haja entendimento contrário, a tentativa é possível.

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Prevê o legislador formas qualificadas nos §§ 1º e 2º do artigo 133, havendo elevação das penas, que
passam a ser de 1 a 5 anos de reclusão, se resulta lesão corporal de natureza graves e 4 a 12 anos,
também de reclusão, se resultar a morte, salvo no caso do agente ter a intenção de obter estes resultados,
sendo, então, responsabilizado por lesões corporais ou homicídio.
Além destas, a pena terá aumento de 1/3 se o abandono ocorre em lugar ermo (solitário, onde há
pouco trânsito de pessoas, em local afastado), ou se o agente for ascendente, descendente, cônjuge,
irmão, tutor ou curador da vítima, por ser maior a sua responsabilidade, havendo o crime, inclusive no
caso de filho adotivo, não prevalecendo no caso de enteado.
Como distinção pode-se apresentar o seguinte caso, se não houver relação de dependência, o crime
será de omissão de socorro, se o abandono for de recém-nascido, para ocultar desonra própria, o crime
será outro, a ser estudado a seguir. No caso do abandono, sendo material e não causando perigo, o crime
será de abandono material.

EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM NASCIDO: artigo 134 do CP - Expor ou abandonar recém-


nascido, para ocultar desonra própria, cuja pena é de detenção de 6 meses a 2 anos.
O legislador tem por objetivo proteger a segurança do recém-nascido.
Sujeito ativo do crime, por ser próprio, deve ser praticado pela mãe ou pelo pai (discussão na doutrina),
que tem filho fora do matrimônio ou resultante de incesto.
Sujeito passivo do delito é o recém-nascido, ou seja, pessoa com pouco tempo de vida, havendo
fixação do tempo em 7 dias, 30 dias, poucos dias, sendo o mais correto até a queda do cordão umbilical.
A descrição objetiva exige conduta de expor ou abandonar, sendo certo que a expressão abandonar
já contém a exposição, devendo estar presente, também, o perigo concreto.
A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de abandonar o recém-nascido, com a ciência que a
atitude causará perigo para a vítima, além do elemento subjetivo do injusto, a finalidade especial de
ocultar desonra própria, não se considerando desonra o orgulho, ou por ter havido anulação de
casamento.
Para caracterização do crime, necessário se faz que a gestação e o nascimento sejam escondidos.
Como o elemento subjetivo se relaciona à honra sexual, as prostitutas, não podem praticar este crime,
por não possuírem esta honra.
A consumação ocorre quando a vítima corre o perigo de vida ou saúde.
A tentativa é possível no caso de conduta comissiva.
Prevê o legislador formas qualificadas, caso resulte lesão corporal de natureza grave, ou morte, com
elevação da pena.
O crime de abandono de recém-nascido deve ser distinguido do infanticídio e do homicídio, pois estes,
exigem o dolo de dano. Se não houver honra a ser protegida o crime será de abandono de incapaz.

OMISSÃO DE SOCORRO: artigo 135 do CP. - como conceito do crime pode-se apresentar o descrito
pelo legislador, qual seja, deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, a
criança abandonada ou extraviada, ou a pessoa inválida ou ferida, ao desamparo, ou em grave e iminente
perigo; ou não pedir, nesses casos, socorro da autoridade pública, será apenado com detenção de 1 a 6
meses ou multa.
Tem por objetivo o legislador a proteção da vida e da saúde da pessoa humana, assegurando sua
liberdade individual.
Qualquer pessoa ode ser sujeito ativo do crime, desde que não haja relação de responsabilidade, se
houver, haverá crime mais grave. Não há necessidade que o omitente esteja próximo, mas, que tome
conhecimento que seu auxílio é necessário.
O perigo também não pode ter sido causado pelo próprio omitente, se for, poderá responder por
homicídio ou lesões corporais, doloso ou culposo, sendo, no caso de culpa, qualificadora do crime.
Sujeito passivo deve ser, em primeiro lugar a criança abandonada ou extraviada, seja qual for sua
idade, desde que não tenha capacidade de defesa. A pessoa inválida também é sujeito passivo, inválida
é a pessoa que, por qualquer motivo, é incapaz de defender-se. Em seguida figura como sujeito passivo
a pessoa ferida, ou seja, que apresenta lesão em sua integridade física, mesmo que o ferimento não seja
grave.
É fundamental que a vítima, em qualquer hipótese, ou outra não expressa, esteja ao desamparo
precisando de auxílio.
O melhor entendimento é que não se considere como pessoa necessitando de auxílio, somente a
ferida ou inválida, bastando haver um grave ou iminente perigo, como o caso da pessoa que, mesmo sem
ter ferimentos, se encontra à beira de um abismo, segurando por um pequeno galho para que não caia,
embora exista julgados não reconhecendo a omissão de socorro neste caso.

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O consentimento da vítima em não ser socorrido, não excluí a prática do crime.
A descrição objetiva prevê uma conduta omissiva (crime omissivo puro), de deixar de fazer alguma
coisa, prestar o socorro. Para exigir-se o agir da pessoa, deve estar presente a possibilidade e capacidade
para realizar o socorro, que deve ser imediato, pois, se não for, estará consumada a infração.
O crime também está caracterizado quando a pessoa que não possibilidade nem capacidade para
socorrer, não avisa a autoridade competente para providenciar o socorro.
Não exige o legislador que a pessoa arrisque a vida para o socorro, podendo ser recusado o socorro
por aquele que correrá risco pessoal.
Quando duas ou mais pessoas deixam de prestar o socorra cada uma delas praticará o crime em
estudo, mas, o socorro de uma, desobriga o das outras.
Se a vítima não corre perigo, não há crime de omissão de socorro.
A omissão de socorro é crime de perigo que, em relação a crianças e inválidos é presumido e, nos
demais casos, depende de concretização.
A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de não prestar a assistência, desde que possa fazê-
lo sem risco pessoal, acrescido ao conhecimento da situação de perigo.
A consumação ocorre que o sujeito deixa de agir, ou seja, no momento em que omite o socorro. Trata-
se de crime instantâneo e se o sujeito, após a omissão, volta ao local, não descaracteriza o crime, pois,
já estava consumado, é possível, entretanto, o caso de perigo permanente, onde o sujeito ativo tem
condições de prestar o socorro, enquanto perdurar a situação de perigo.
Como se trata de crime omissivo puro, a tentativa não é possível.
A existência de risco pessoal excluí a prática do crime.
Prevê o legislador formas qualificadas do crime, aumentando a pena de metade, no caso de lesão
corporal de natureza grave e triplicando no caso de morte, devendo estes resultados se relacionarem com
a omissão, pois, se socorrida a vítima, veio ela a morte em decorrência da gravidade das lesões, não
haverá a qualificadora.
Como distinção, apresenta-se o caso de ter o omitente o dever legal de socorrer, respondendo ele,
então, pelo resultado.

MAUS TRATOS: artigo 136 do CP - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer
abusando no meio de correção ou disciplina, com pena de detenção de 2 meses a 1 ano, ou multa.
Tem por objetivo o legislador a incolumidade da pessoa.
O crime e estudo é próprio, portanto, para ser sujeito ativo é necessário a existência de uma relação
jurídica entre vítima e agente, assim, somente quem tem autoridade ou seja titular de dever de guarda ou
vigilância, pode praticar o crime. A relação pode decorrer de educação, que compreende a atividade
docente, o ensino, mais amplo, relacionado a transferência de conhecimento cultural à pessoa,
tratamento, onde se incluí a cura de doenças e cuidados gerais como alimentação; e custódia, relacionada
a detenção da pessoa. Portanto, o crime pode ser praticado por pais, tutores, curadores, diretores de
colégio, hospitais, estabelecimentos penitenciários, professores, patrões, etc.
Sujeito passivo é a pessoa que está sob o cuidado, autoridade, guarda ou vigilância. Se não houver
esta relação de dependência, o crime será outro.
A descrição objetiva exige conduta de expor a perigo a vida ou a saúde de outrem, por u abuso por
parte do sujeito ativo, que deve exercer a autoridade com moderação.
O legislador prevê de quais formas o agente praticara os maus tratos como sendo:
1- privar a vítima dos alimentos indispensáveis: que nada mais é do que negar a alimentação
necessária ao ser humano, sendo necessário que a falta cause perigo para a vítima, não caracterizando
o crime a imposição de uma dieta.
2- privação dos cuidados indispensáveis: como a falta de cama, roupas, higiene e assistência
médica.
3- trabalho excessivo: ou seja, aquele que, para ser realizado exige um grande esforço.
4- trabalho inadequado: ou impróprio para o trabalhador.
5- abuso nos meios de correção e disciplina: tais como a utilização de varas de marmelo,
palmatórias. Poderá haver a punição para efeitos de disciplinas, mas os meios deverão ser utilizados com
moderação.
O abuso deve ser examinado do ponto de vista familiar da vítima, e não se confunde abuso com
injustiça no castigo.

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A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de praticar uma das condutas referidas no artigo,
desde que o agente tenha conhecimento ou deva saber sobre o abuso, além de se verificar a situação
social do agente.
A consumação do crime se dá com a criação do perigo e, em alguns casos, exige-se a habitualidade,
como no caso de alimentação negada.
A tentativa é possível quando o crime é praticado na forma comissiva.
O crime pode ser excluído pelo estado de necessidade, como no exemplo da mãe que, precisava
trabalhar para sustentar o filho e não tinha com quem deixa-lo, acorrentava-o ao pé da cama para que
não saísse de casa.
Prevê o legislador formas qualificadas para o delito, no caso de resultar lesões corporais de natureza
grave, com pena de reclusão de 1 a 4 anos ou se resultar morte, com pena de reclusão de 4 a 12 anos.
O E.C.A. prevê um caso de aumento de pena de 1/3, caso a vítima seja menor de 14 anos.
Como distinção, pode-se apontar o crime de lesão corporal, que é de dano, enquanto este é de perigo,
se o meio de disciplina for vexatório o crime será de injúria. Os maus tratos pode configurar crime de
tortura.

Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

CAPÍTULO III
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE

Perigo de contágio venéreo


Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de
moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º - Somente se procede mediante representação.

Perigo de contágio de moléstia grave


Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz
de produzir o contágio:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Perigo para a vida ou saúde de outrem


Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de
outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de
qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.

Abandono de incapaz
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por
qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena - detenção, de seis meses a três anos.
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Aumento de pena
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos

Exposição ou abandono de recém-nascido


Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

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Pena - detenção, de um a três anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos.

Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo;
ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza
grave, e triplicada, se resulta a morte.

Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial


Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento
prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal
de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.

Maus-tratos
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para
fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados
indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de
correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze)
anos.

DA RIXA (ART. 137)

Rixa nada mais é que um conflito generalizado em que participam três ou mais pessoas, que praticam
reciprocamente vias de fato e violência, umas contra as outras. A definição do legislador é simples:
participar de rixa, salvo para separar os contendores, com pena de detenção de 15 dias a 2 meses ou
multa.
Tem por objetivo o legislador a proteção da incolumidade da pessoa humana, além de proteger,
também, a ordem pública, mesmo que de forma indireta.
Pode ser sujeito ativo do crime de rixa, qualquer pessoa, e, como se trata de crime plurissubjetivo,
necessariamente deve haver mais de três pessoas, mesmo sendo inimputáveis, não se considerando as
pessoas que pretendem separar a briga.
Sujeito passivo são todos aqueles que participam da rixa e o Estado, de forma secundária.
A descrição objetiva exige conduta de participar, ou seja, praticar violência com outras pessoas,
participando da luta, seja o momento que for, mesmo que somente apanhe, entrando durante o
acontecimento do crime ou saindo antes de seu término. Se for possível a identificação de agressão de
um grupo contra o outra, não haverá o crime de rixa. O perigo, no caso, é presumido.
A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de participar da rixa. Se a intenção for a de ferir ou
matar alguém, o crime será de lesões corporais ou homicídio.
Não há rixa culposa.
A consumação se dá quando cessa a atividade dos contendores, embora haja entendimento de que
se trata de crime instantâneo, consumando-se, assim, quando o agente entra na briga.
A tentativa, embora haja entendimento contrário, não é possível.
Discute-se na doutrina a possibilidade de legítima defesa, alegada por qualquer dos contendores. O
melhor entendimento é de que a legítima defesa só seja alegada pela pessoa que separa ou que participa
para defender direito seu ou de terceiro.

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Prevê o legislador, qualificadoras para a rixa, no caso de ocorrer morte ou lesão corporal de natureza
grave, com pena de detenção de 6 meses a 2 anos. Se caso o autor do resultado qualificador for
identificado, ele responderá por rixa qualificada e pelo resultado.
A morte ou lesão corporal devem ocorrer durante ou em consequência da rixa. Aquele que sofreu a
lesão grave também responderá pelo crime qualificado.
Só não haverá punição na forma qualificada quando o agente passou a participar depois da ocorrência
do resultado mais grave, se a participação foi antes, mesmo que o agente tenha se retirado, responderá
pela qualificadora.
Várias mortes qualificam a rixa uma só vez, podendo a quantidade de mortes ser consideradas como
circunstância judicial na aplicação da pena.
Participantes que, durante a rixa, praticam crimes autônomos, responderão por eles em concurso,
salvo o crime de ameaça e a contravenção de vias de fato.
O crime de rixa foi colocado pelo legislador para se poder punir as pessoas que causam lesões
corporais, mas não podem ser identificadas, impedindo, assim, a impunidade.

Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

CAPÍTULO IV
DA RIXA
Rixa
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da
participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.

DOS CRIMES CONTRA A HONRA (ART. 138 A 145)

São crimes que atingem a incolumidade moral da pessoa humana, ofendem a honra, que pode ser
definida como o conjunto de atributos morais, intelectuais e físicos referentes à pessoa, embora a
definição não seja perfeita, pois, a honra é valor pessoal e individual.
Podem ser apresentadas, entretanto, visualizações da honra sob alguns aspectos, tais como:
dignidade, que indica atributos relacionados ao próprio ser humano e honra decoro, que contém
qualidades do homem para sua convivência social.
A honra pode ser distinguida como objetiva, sentimento imposto pela sociedade como atributos do
homem que o fazem honrado perante a sociedade e honra subjetiva, que consiste numa análise por parte
do próprio homem, de seu interior.
Existe também a honra comum, presente em qualquer ser humano e a honra especial, atributo de
determinados grupos de pessoas como é o caso do advogado (porta de cadeia), do médico (açougueiro),
etc.
São crimes contra a honra previsto no C.P. a calúnia, a injúria e a difamação, embora em outros
diplomas legais, como a lei de imprensa, o Código Eleitoral, na Lei de Segurança Nacional, onde se exige
a participação de pessoas com determinada qualidade, como a de jornalista, na Lei de Imprensa.

CALÚNIA: artigo 138 do C.P - que pode ser definida como a imputação a outra pessoa, de fato definido
como crime, sendo sua pena de detenção de 6 meses a dois anos, além da aplicação cumulativa da
multa.
Tem por objetivo jurídico proteger a incolumidade moral do ser humano, em especial, a honra objetiva.
Pode ser sujeito ativo do crime de calúnia, qualquer pessoa, inclusive se praticado pela imprensa, onde
é desnecessário a qualidade de jornalista.
Sujeito passivo é somente o homem, pois, somente ele pode praticar crimes, fato que impede o
reconhecimento da pessoa jurídica como sujeito passivo, pois, por ser ficção jurídica, não pode praticar
crime, sendo impossível, pois, atribuir-lhe a prática de fato típico.
Em relação aos menores de idade e aos doente mentais, existe divergência na possibilidade de
figurarem no polo passivo do crime de calúnia, por que estas pessoas não cometem crime, pois,
inimputáveis, posição que deve ser afastado, face a possibilidade da prática de crimes por estas pessoas,
que, somente terão excluída a culpabilidade.
Alguns entendem que, quando se tratar à ofensa da honra subjetiva, necessário se faz analisar o grau
de entendimento destas pessoas, a fim de adequar o fato concreto à adequação típica, mas, quando se

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trata da honra objetiva os inimputáveis podem, perfeitamente serem sujeitos passivos, assim, se conclui
que é possível a prática da calúnia contra inimputáveis.
Nem os desonrados estão excluídos do polo passivo, pois, sempre resta alguma honra a ser protegida.
É importante lembrar que a honra é um bem disponível e, portanto, o consentimento do sujeito passivo
descaracteriza o crime, ou, se posterior, pode inclusive consistir em uma causa de extinção da
punibilidade.
A calúnia, mesmo que praticada contra mortos é punida, conforme artigo 138, § 2º, mas, o sujeito
passivo será sempre a família e não o morto.
A descrição objetiva (tipo objetivo) impõe ação de imputar, atribuir a prática de um crime, desde que a
imputação seja falsa podem ser visualizados três elementos na composição do crime de calúnia, a saber:
imputação, de um fato descrito como crime e desde que seja falsa, sendo a falsidade presumida e só
desconstituída através da exceção de verdade, o que a impede o reconhecimento do crime, caso haja a
imputação de uma contravenção penal, embora possa caracterizar injúria.
Não há necessidade que a calúnia se dirija diretamente à vítima, e pode ser ela praticada de várias
formas, palavras, gestos, escritos, etc, mas, o fato, mesmo que não descrito em detalhes, deve ser
determinado, concreto e específico.
Pode consistir direta, ou ainda equívoca ou implícita, como a pessoa que diz ao funcionário público
que não vive de desfalques aos cofres públicos.
A calúnia pode refletir em terceira pessoa (reflexa) quando se imputa um crime indicando a participação
de outra pessoa.
A subjetividade, caracteriza pelo dolo, ou seja, a vontade de imputar o fato definido como crime
falsamente (dolo genérico), não havendo a necessidade que a ofensa ocorra, embora existam autores
que exigem o resultado.
Assim, o sarro, o conselho, o relato (sem intenção de ofender), os depoimentos de testemunhas, não
podem ser considerados como crime de calúnia, da mesma forma que a apresentação de determinada
pessoa como suspeita pela prática do crime.
A consumação do crime de calúnia ocorre quando a imputação chega ao conhecimento de terceira
pessoa, que não a vítima, salvo se utilizado telegrama, onde a consumação ocorre no momento de sua
expedição.
A tentativa pode ficar caracterizada na forma escrita, como um bilhete, interceptado antes que
chegasse a conhecimento de terceiro.
O § 1º do artigo 138, prevê mais duas formas da prática da calúnia, dizendo que nas mesmas penas
incorre aquele que, sabendo falsa a imputação a propala ou divulga. Propalar nada ais é que propagar,
espalhar, enquanto divulgar representa levar a notícia a conhecimento público, assim, serão punidos não
só o responsável pela falsa imputação, mas também as pessoas que divulgaram e espalharam, é
necessário, fundamentalmente o conhecimento que se propaga uma imputação falsa da prática de crime.
Tem o sujeito ativo a possibilidade de provar que a imputação é verdadeira e, como consequência não
responder pelo crime. A esta possibilidade denomina-se exceção da verdade, que pode ocorrer em
qualquer fase do processo, inclusive em grau de recurso, respeitado sempre o contraditório.
Existem situações, entretanto que a exceção não é permitida, ou seja o acusado não tem oportunidade
para provar a verdade, mesmo que o fato seja verdadeiro, nos casos previstos no § 3º do artigo 138, a
saber: 1- no caso de ação penal privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; 2-
quando o fato é imputado ao Presidente da República, e a chefe de governo estrangeiro; 3- No caso de
ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
Algumas distinções podem ser apontados em relação ao crime de calúnia. Se o fato não for
considerado crime, poderá haver crime de injúria. Se a imputação der causa a início de procedimento
criminal, temos a denunciação caluniosa (crime contra a administração da justiça), também chamada de
calúnia qualificada.
Se o crime for praticado através da imprensa, aplica-se a Lei de Imprensa, mesmo sendo paga a
matéria.
É possível a continuidade delitiva nos crimes contra a honra.
A calúnia realizada pela própria vítima, auto acusação, caracteriza outro crime, mas não o de calúnia.

DIFAMAÇÃO: artigo 139 do C.P. - como conceito diz que a difamação é a imputação de fato ofensivo
à reputação da vítima, mesmo que verdadeiro o fato. A pena é de detenção de três meses a um ano e
multa.
A finalidade do legislador, mais uma vez é a proteção da honra objetiva, a incolumidade moral da
vítima, em relação ao contexto social.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime de difamação.

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Em relação à pessoa natural, não existe dúvida de funcionarem como sujeito passivo do crime,
existindo discussão em relação à pessoa jurídica. Existem julgados que admitem a difamação contra a
pessoa jurídica, pois, goza de determinada reputação, entretanto, atualmente a doutrina se pende no
sentido de que falta à pessoa jurídicas características fundamentais para seu enquadramento no polo
passivo, pois, realmente, não pode ser dotada de honra, mas, tão somente de reputação e a definição
exige a honra, além da reputação, assim, o entendimento predominante é de que a pessoa jurídica não
possa figurar no polo passivo dos crimes contra a honra, pois, o legislador é claro ao indicar "alguém".
O reclamo da doutrina é que se definam crimes específicos praticados contra a reputação das pessoas
jurídicas.
Como não existe previsão legal, não se pune a difamação contra os mortos.
Da mesma forma que na calúnia, o consentimento do ofendido descaracteriza o crime, salvo no caso
dos absolutamente incapazes, que não podem consentir.
A descrição objetiva do crime indica imputação, ou seja, atribuir-se um fato desonroso, sem
necessidade que seja criminoso, podendo ser uma contravenção penal, mas, sempre, determinado,
concreto e específico, e, ocorre o crime mesmo que a imputação seja verdadeira, o que impede a exceção
de verdade, como regra, já que se permite no caso de ofensa a funcionário público, desde que o fato se
relacione com a função pública.
Propalar e divulgar são termos que não estão presente na descrição do crime, entretanto, aquele que
propaga e divulga, não deixa de praticar, também, o delito de difamação, de forma autônoma.
Como elemento subjetivo temos o dolo, a intenção do agente em atribuir o fato desonroso a outra
pessoa, com a finalidade de difamar (dolo específico), não havendo crime no caso de crítica ou parecer
desfavorável, ou em informações prestadas.
A consumação do delito ocorre quando o fato imputado se torna conhecido por terceiro, não havendo
necessidade de ser um grupo. Da mesma forma que na calúnia, a tentativa é possível na forma escrita,
desde que seja interceptado pela vítima, entes que chegue ao conhecimento de terceiros.
A difamação deve ser distinguida da injúria, pois nesta, não há necessidade de imputação de fato
determinado.
Pode haver concurso entre o crime de calúnia e difamação

INJÚRIA: artigo 140 do C.P. - injuriar é ofender a dignidade ou o decoro de outrem, uma manifestação
de desrespeito ou desprezo em relação ao ser humano e a pena é de detenção, variando de um a seis
meses, ou multa.
Visa o dispositivo proteger a integridade moral do homem, em especial, sua honra subjetiva, podendo
haver, concomitantemente a ofensa à honra objetiva.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime de injúria, não sendo punida a auto-injúria, salvo no
caso de atingir a terceira pessoa.
Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo do crime de injúria, salvo aqueles que já não têm mais honra
subjetiva, ou por faltar dignidade ou decoro, como no caso dos doentes mentais, havendo entendimento
em contrário. A pessoa jurídica não pode ser sujeito passive, e não é punida a injúria contra os mortos.
A descrição objetiva indica a ação de ofender a honra subjetiva da vítima (dignidade ou decoro), tais
como a indicação de vícios ou defeitos da vítima, dizer que é ladrão ou ignorante, não havendo fato
determinado e específico.
A injúria pode ser praticada por diversos meios, fala, escrito, gestos, ou atitudes outras, como atirar
lixo contra a vítima, ou mesmo bebida contra seu rosto, havendo possibilidade de sua prática por omissão,
como aquele que não aperta a mão da pessoa que lhe estendeu.
Entretanto, não protege o legislador a honra exagerada, como o daquele que se julga extremamente
honrado e que, qualquer gesto o ofenda.
A injúria pode ser imediata ou direta, quando praticada pelo próprio sujeito ativo, ou mediata ou indireta,
quando este utiliza outra pessoa ou meio, pode ser, anda, oblíqua quando se ofende uma pessoa querida
reflexa, quando atinge terceiros e até implícita, como o caso da pessoa que pendura um par de chifre na
porta da casa de um casal, não havendo necessidade que ela seja praticada na presença do ofendido,
desde que chegue ao seu conhecimento, não sendo possível, em nenhuma hipótese a exceção de
verdade.
A subjetividade exige o dolo, ou seja, a intenção do agente em ofender a vítima.
A consumação se dá no momento em que o ofendido toma conhecimento da ofensa, não havendo
necessidade que se sinta ofendido, por se tratar de crime formal, que não exige a ocorrência de resultado
naturalístico.
A tentativa é possível na forma escrita.

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Se a injúria é cometida contra funcionário público, no exercício de suas funções, temos o crime de
desacato, se foi através da imprensa, aplica-se a Lei de Imprensa.
O § 1º do artigo 140 prevê causa específica de perdão judicial, que pode ser aplicado no caso de
provocação, por parte da vítima, ou quando há a retorsão imediata à ofensa, que não pode ser confundida
com a reciprocidade de crimes, casa não esteja presente a imediatidade.
O § 2º do artigo 140 prevê a injúria real, onde a injúria consiste em violência ou vias de fato que podem
ser considerados como aviltantes.

DISPOSIÇÕES GERAIS NOS CRIMES CONTRA A HONRA:


FORMAS QUALIFICADAS: artigo 141 do C.P.
1- quando o crime é praticado contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro,
quando não caracterizar crime contra a Segurança Nacional.
2- quando o crime é praticado contra funcionário público em razão de suas funções, protegendo, assim,
a função exercida pelo funcionário;
3- quando o crime é praticado na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação
ou propalação. Várias pessoas quer significar no mínimo três.
Se o crime é praticado mediante paga ou promessa de recompensa, a pena será duplicada.
O artigo 142 prevê três causas de exclusão de crime, por faltar o elemento subjetivo do injusto, o ânimo
de ofender, ou a exclusão da ilicitude. São os seguintes casos:
1- imunidade judiciária (excluí a antijuridicidade), quando a ofensa é irrogada em juízo, na discussão
da causa, pela parte ou por seu procurador, quer seja autor ou réu, interveniente ou assistente, etc, válida
somente para os crimes de difamação de injúria.
2- opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando é intenção a difamação
ou a injúria; e
3- no conceito emitido por funcionário público em apreciação ou informação que preste no cumprimento
do dever de ofício.
Quem, entretanto, divulga o conceito ou a ofensa irrogada em juízo, responde pelo crime.

RETRATAÇÃO: artigo 143 - causa de extinção da punibilidade. Ocorre quando, antes da sentença o
agente se retrata da calúnia ou da difamação, ocorrendo a isenção de pena, não se incluindo a injúria.
Verificar estudo anterior a respeito das causas de extinção da punibilidade.

PEDIDO DE EXPLICAÇÕES: artigo 144 - é uma medida preparatória para o oferecimento da queixa,
pois, busca-se o sentido das palavras utilizadas pelo agente quando da ofensa, que não se mostra
evidente. Se o agente se recusa a dar as explicações ou não às faz de forma suficiente, responde pelo
crime. O prazo de decadência não é interrompido ou suspenso pelo pedido de explicação.
Como regra a ação penal nos crimes contra a honra são privadas, salvo no caso da injúria real, com
lesão corporal, onde a ação penal é pública incondicionada.
No caso de crime praticado contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro, deverá
haver requisição do Ministro da Justiça.
No caso de crime praticado contra funcionário público em razão de suas funções, somente se procede
mediante representação do ofendido.

Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

CAPÍTULO V
DOS CRIMES CONTRA A HONRA

Calúnia
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
Exceção da verdade
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença
irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.

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Difamação
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a
ofensa é relativa ao exercício de suas funções.

Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado,
se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou
a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e multa.

Disposições comuns
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é
cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou
da injúria.
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.
Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena
em dobro.

Exclusão do crime
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção
de injuriar ou difamar;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste
no cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá
publicidade.

Retratação
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica
isento de pena.
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-
se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios
em que se praticou a ofensa. (Incluído pela Lei nº 13.188, de 2015)

Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga
ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá
satisfatórias, responde pela ofensa.

Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no
caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput
do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo,
bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código.

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DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL (ART. 146 A 154)

Visa o legislador a proteção da liberdade do indivíduo, que é a faculdade de exercício da vontade


própria, dentro dos limites estabelecidos pelo próprio direito. A liberdade é examinada sobre os seguintes
aspectos, pessoal, domiciliar, correspondência e segredo.
É sempre bom lembrar que existem diversos crimes, como o roubo, por exemplo, em que a liberdade
individual é atingida, mas, considera-se, para efeitos de punição, o objetivo do agente que, no caso do
exemplo, era o patrimônio.

CONSTRANGIMENTO ILEGAL: artigo 146 contém o conceito do que seja constrangimento ilegal, e
estipula pena de três meses a um ano, ou multa.
O objetivo do legislador é a proteção da liberdade do indivíduo, que é garantida a nível constitucional
(ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei), sendo a liberdade
considerada do ponto de vista físico e psíquico.
Qualquer pessoa poder ser sujeito ativo do crime, e, caso seja praticado por funcionário público, no
exercício de suas funções, o crime será outro, inclusive, abuso de autoridade.
Sujeito passivo pode ser somente a pessoa que tem capacidade de querer e exercer sua liberdade,
estando, pois, excluídos, os doentes mentais, as crianças totalmente incapazes, etc.
Na descrição do tipo (descrição objetiva), o legislador impõe conduta de constranger, que implica em
obrigar, coagir, forçar.
O constrangimento pode ser realizado para impedir que a vítima faça alguma coisa, ou, ainda, coagir
para que o faça, quando não queria.
Para obtenção do constrangimento o agente pode utilizar-se de violência, que pode ser direita (lesões
corporais), ou outro ato que atinja a vítima fisicamente, como o caso de amarrar com cordas, mesmo que
o seja terceira pessoa, e indireta, como o caso de se retirar as muletas de um aleijado.
Além da violência pode o agente conseguir constranger a vítima através de grave ameaça ou qualquer
outro meio, como o emprego de narcóticos.
A coação deve ser ilegítima. A ilegitimidade pode ser absoluta, quando o agente não tem qualquer
vínculo ou relação com a vítima, que pudesse justificar a conduta e pode ser, ainda, relativa, como o caso
de constranger alguém ao pagamento de uma determinada dívida A diferença entre as duas pode ficar
estabelecida no sentido de que a absoluta, a ação ou omissão, não pode ser obtida licitamente, através
do poder judiciário e a relativa, o agente, ao invés da coação, pode obter o ato por via judicial e, no caso
de ser relativa, o crime será de exercício arbitrário das próprias razões.
A coação em determinados casos é permitida, não estando assim, nestas hipóteses, caracterizado o
crime, como o caso da coação exercida para impedir o suicídio ou a prática de crime.
É fundamental a comprovação do nexo causal entre o constrangimento e a realização ou não
realização do ato.
A descrição subjetiva exige o dolo, ou seja, a vontade de constranger alguém (dolo genérico), aliado
ao dolo específico (elemento subjetivo do injusto) que se encontra presente na intensão de obter-se a
ação ou omissão da vítima, não estando presente o fim especial de agir, o crime poderá ser de lesão
corporal, ameaça ou vias de fato.
A consumação do crime ocorre quando a vítima pratica o ato, ou se omite e a tentativa a possível
quando a vítima, embora o constrangimento, resiste, e não pratica o ato, ou a omissão a qual estaria
sendo obrigado.
Duas formas qualificadas estão previstas pelo legislador, a primeira é a prática do crime com concurso
de ao menos quatro pessoas (mais de três), desde que todos eles participem da execução do crime. A
segunda é a utilização de arma (pois o potencial ofensivo é maior), devendo necessariamente que a arma
seja utilizada, não caracterizando a qualificadora o simples porte da arma.
O crime em estudo também é subsidiário, pois, se o constrangimento for meio para obtenção de
resultado diverso, como a conjunção carnal no estupro, a subtração da coisa móvel alheia no roubo, a
resgate na extorsão mediante sequestro, o crime será outro e não serão aplicadas as penas do crime em
tela.
Quando o constrangimento é dirigido a diversas pessoas, pode estar caracterizado o concurso formal.
Se for a coação exercida para a prática de crime (autoria mediata), haverá concurso material entre o
constrangimento e o crime praticado pelo coagido, embora haja entendimento que se trata o caso de
concurso formal. Como é parte integrante o tipo a violência é natural que possa haver o concurso material
entre o crime e lesões corporais.
O legislador prevê também casos de exclusão de crime (§ 3º), nas intervenções cirúrgicas quando
iminente o perigo de vida e a coação exercida para impedir o suicídio.

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AMEAÇA: artigo 147.
Como conceito ameaçar a prometer a causação de mal grave, fato que restringe a liberdade psíquica
do indivíduo.
O objetivo do legislador é a proteção da liberdade psíquica do indivíduo, seu sossego.
Pode ser sujeito ativo qualquer pessoa e, caso seja funcionário público, no exercício de suas funções,
o crime será de abuso de autoridade. Sujeito passivo pode ser, também, qualquer pessoa física que têm
capacidade de entendimento, podendo ser intimidada.
Na descrição objetiva impõe o legislador a conduta ameaçar, que significa prometer um mal, podendo
ser praticada através de palavra, escrito, por um desenho, um gesto, ou qualquer outro meio simbólico.
A ameaça pode ser direta quando dirigida pessoalmente à vítima ou indireta, quando dirigida por
intermédio de outra pessoa, pode ser, ainda, implícita ou explícita e condicional, quando o mal a ser
causado estiver condicionado a um outro fato.
O mal a ser prometido, deve ser grave, sério o suficiente para intimidar a vítima. O mal a ser causado,
deve ser possível.
O mal a ser causado, para caracterizar o crime de ameaça, deve estar na dependência do agente. Não
há crime quando o pessoa diz à outra que um raio o parta.
O mal, além de ser possível e verdadeiro, deve ser injusto, mesmo que não seja criminoso, assim, não
é ameaça o fato do agente dizer que vai executar a duplicata da vítima.
A descrição subjetiva do crime exige o dolo, vontade de ameaçar a pessoa, (dolo genérico), além do
dolo específico, o fim especial de agir que é a intimidação da vítima.
A consumação do crime ocorre no momento em que a vítima toma conhecimento da ameaça,
independentemente de seu temor.
A tentativa é possível no caso de ameaça realizada por carta, desde que o ameaçado for incapaz e a
carta for interceptada por seu representante legal, pois, ao contrário, como o crime depende de
representação, deve chegar ao conhecimento da vítima e, quando chega, esta consumado.
A ameaça pode ser meio para a prática de outro crime e, havendo este, não haverá a responsabilização
pela ameaça.
A ação penal no crime de ameaça é pública condicionada a representação da vítima ou seu
representante legal.

SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO: artigo 148.


O objetivo do legislador é proteger a liberdade física do indivíduo, em especial a liberdade de
locomoção.
Pode ser sujeito ativo do crime em tela, qualquer pessoa e, no caso de funcionário público, o crime
será outro.
Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo do presente crime, inclusive os incapazes.
A descrição objetiva do legislador indica o sequestro e o cárcere privado, devendo haver, em primeiro
lugar, uma diferenciação entre os dois termos que, singelamente reside no fato de que no cárcere privado
a vítima fica retida em sua residência, enquanto no sequestro, é retirada e colocado num local de onde
ela não pode se afastas, como uma ilha, não havendo confinamento.
Exige o legislador a privação da liberdade, sem se importar como o meio utilizado para obtenção do
crime, podendo haver violência, ameaça, fraude, havendo possibilidade da prática do presente crime por
omissão, como o médico que se recusa a dar alta para o paciente já curado.
Trata-se de crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo e qualquer pessoa que vier a
participar, responderá pelo crime, mesmo que seja no último dia do sequestro ou do cárcere. Ademais, é
crime de ação única, onde o crime pode ser praticado apenas por uma conduta, um verbo: “privar alguém
de sua liberdade”.
O consentimento descaracteriza o crime, salvo no caso de menor de 14 anos.
O tipo subjetivo exige a presença do dolo, ou seja, a vontade de privar a vítima de sua liberdade, não
havendo, no caso, finalidade específica (dolo específico).
O sequestro é crime subsidiário e, se houver uma finalidade específica o crime será outro, como a
extorsão mediante sequestro.
A consumação ocorre quando o sujeito passivo fica provado de sua liberdade de locomoção, mesmo
que seja por pouco tempo, não devendo ser o pouco tempo confundido com instantaneidade, que pode
caracterizar a tentativa, que é possível, por se tratar de crime material, que apresenta resultado
naturalístico, desde que a prática do crime seja por ação, pois, se por omissão a tentativa não será
possível.
O legislador prevê formas qualificadas do presente delito, havendo cinco circunstâncias qualificadoras.
A primeira delas e ser a vítima ascendente, descendente ou cônjuge do agente. A segunda forma é a

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internação da vítima em casa de saúde ou hospital. O terceiro caso á para o cárcere ou sequestro que
dura mais de 15 dias. A quarta e a quinta forma foram inseridas em 2005 pela Lei nº 11.106, sendo a
quarta se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos e a quinta se o crime é praticado com
fins libidinosos.
Caso sofra a vítima, em decorrência do sequestro ou do cárcere, grave sofrimento físico ou moral, a
pena será aumentada em seu limite, indo para reclusão de 2 a 8 anos.
No caso do cárcere (prender os assaltantes as vítimas do roubo no banheiro para a fuga), não estará
caracterizado o crime, embora haja entendimento contrário, principalmente em relação ao que fica
encarcerado no porta-malas de veículo.
Caso haja justa causa para o ato, como o caso do preso em flagrante surpreendido e encarcerado pela
vítima até a chegada da polícia, não haverá o crime.

REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA DE ESCRAVO: artigo 149. O conceito vem previsto no referido
artigo da seguinte forma: reduzir alguém a condição análoga de escravo.
O objetivo do legislador é a proteção, mais uma vez, da liberdade do indivíduo, principalmente a
relacionado entre o poder de mando de outra pessoa.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime, havendo ressalva ao funcionário público, que pratica
outro crime e podem ser sujeito passivo, qualquer pessoa humana, independente de raça, cor, religião,
idade, sendo a pessoa civilizada ou não.
A descrição objetiva exige conduta de sujeitar a vítima à total vontade do agente, mesmo no caso da
mulher colocada exclusivamente para fins libidinosos (escrava sexual).
A descrição subjetiva exige o dolo, ou seja, a vontade de praticar a redução com supressão dos estado
de liberdade.
A consumação ocorre quando o sujeito passivo passa a ser dominado pelo agente, sendo necessário
o decurso de determinado tempo para a caracterização do crime.
A tentativa ocorre quando o agente não consegue submeter a vítima à sua vontade.
Pode perfeitamente haver concurso entre o crime em estudo e o de lesões corporais e homicídio

TRÁFICO DE PESSOAS - artigo 149- A.


A Organização das Nações Unidas (ONU), no Protocolo de Palermo (2003), define tráfico de pessoas
como “o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas,
recorrendo-se à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano,
ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou
benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de
exploração”
Assim o sujeito ativo e o passivo deste crime pode ser qualquer pessoa. Deve haver dolo, mais
finalidade específica.
A conduta prevista neste tipo penal é: Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar
ou acolher pessoa.
A consumação independe da efetiva concretização da vontade específica, bastando a realização de
um dos núcleos do tipo mediante violência física ou moral, fraude ou abuso. Trata-se de crime de ação
penal pública incondicionada.

VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO: como corolário da disposição constitucional de que a casa é asilo


inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso
de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial, prevê
o artigo 150 do CP que entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade
expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências, incorre em pena de 1
a 3 meses de detenção ou multa.
Tem por objetivo o legislador, proteger a liberdade total que deve gozar o indivíduo em sua residência,
sua tranquilidade doméstica.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime, inclusive o proprietário, quando a posse estiver em
mãos de terceiro, como no caso da locação e, se tratar-se de funcionário público, o crime será outro.
Sujeito passivo é o morador, a pessoa que tem poder para impedir que o sujeito ativo entre ou
permanece. A regra é o chefe da casa, que, na ausência, será representado por outro componente ou
por empregados domésticos, no caso de instituição de ensino, ou saúde, o responsável será o diretor,
nas habitações coletivas, qualquer morador poderá ser sujeito passivo, inclusive impedindo a entrada ou
permanência no local de uso comum.

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No caso de existência de duas ou mais pessoas com poder de decisão, pode haver desacordo em
relação a autorização para entrada de terceiros na residência. Se forem marido e mulher o direito é de
ambos e equivalente, prevalecendo em relação aos demais moradores, mas, se a discordância for entre
eles, prevalecerá a proibição, o mesmo ocorrendo em relação aos estudantes moradores em repúblicas.
Não constitui crime a entrada ou permanência de pessoas no interior de residência quando permitidas
por algum dos moradores, na ausência do outro, mesmo que para a prática de atos ilícitos. Assim, a
mulher que coloca o amante no interior da casa para relações sexuais, enquanto o marido se encontra
fora, faz excluir a conduta violadora do amante.
A descrição objetiva prevê duas condutas, entrar e permanecer. Entrar é ingressar, ultrapassar os
limites demarcadores do domicílio, a partir do momento em que se passa com todo o corpo e permanecer
é não se retirar, após ter entrado legitimamente, exigindo-se para, para esta modalidade de conduta, a
permanência por determinado tempo, que haja resistência com certa duração.
Exige, também, que a entrada seja contra a vontade tácita ou expressa do morados, denominada
entrada franca, onde há a utilização de violência ou grave ameaça.
Pode ser clandestina, quando escondida, às ocultas, sem que o morador tenha conhecimento do fato
e, por fim, pode dar-se por forma astuciosa, com a utilização de fraude. Nos dois últimos casos, presume-
se a discordância do morador, denominado dissenso implícito.
A entrada ou permanência deve ocorrer em casa ou em suas dependências. A definição de casa, para
efeito do crime em estudo é encontrada no próprio artigo, no § 4º e incisos, que independe de uma
explicação acurada, sendo perceptível com a simples leitura do dispositivo. A seguir, para espancar
qualquer dúvida, o legislador indica o que não é considerado casa, portanto, que ali está indicado,
acrescido à definição de casa, podem ser objeto do delito, fora disto, não haverá crime.
Não há violação na entrada ou permanência em pastagens ou plantações em lotes rurais.
Por fim, a casa deve ser habitada, mesmo não estando presentes os moradores.
A subjetividade exige o dolo, a vontade de entrar e permanecer na casa, nas formas expressas pelo
legislador, não havendo necessidade de finalidade específica, que, se estiver presente, caracteriza a
ocorrência de outro crime, como a violação do domicílio para a prática de furto, havendo somente o último
crime. Assim, se o agente entra e, lar alheio para fugir da polícia ou de um agressor, por faltar o elemento
subjetivo, descaracteriza o crime.
A consumação se dá no momento em que o agente transpôs o limite demarcatório da residência ou
quando permanece no interior desta após ter sido solicitada a sua saída, não havendo necessidade de
ocorrência de resultado danoso, bastando o perigo.
A tentativa é possível e ambos os casos, entrar e permanecer.
Prevê o legislador qualificadoras para o crime.
A primeira qualificadora ocorre se o crime é praticado durante à noite, sendo divergentes as opiniões
dos doutrinadores em relação à determinação deste período, uns entendendo como a ausência de luz
solar, outros equivalendo como o repouso noturno, outros que vai do entardecer ao amanhecer, alguns
das 18:00 horas de um dia até as 6:00 horas do outro, sendo certo que a qualificadora existe para
condutas realizadas de forma a dificultas a defesa da vítima, havendo entendimento que a qualificadora
não está presente quando, no local, mesmo que seja 3:00 horas da manhã, não há qualificadora se, no
local, se realiza uma festa.
O lugar ermo também qualifica o crime. Lugar ermo é aquele onde há pequeno ou nenhum trânsito de
pessoas ou tráfego de veículos, isolado, afastado, que facilita a prática do crime.
O emprego de violência também é qualificadora, bem como o emprego de arma para a prática do
crime, respondendo também o agente pelas penas correspondentes à violência.
Por fim, também qualifica o crime aquele praticado por funcionário público, fora dos casos em que há
permissão legal, ou quando forem desobedecidas as formalidades legais, podendo caracterizar, inclusive,
crime de abuso de autoridade.
Existem casos e que fica excluída a antijuridicidade. O primeiro caso é o entrar ou permanecer em
moradia contra a vontade do morador, durante o dia, obedecidas as formalidades legais, para efetuar
prisão ou outra diligência, precedido o ato de ordem judicial. O segundo é o caso de penetrar na
residência, mesmo que à noite, havendo a ocorrência de crime, justificada pelo flagrante delito, onde se
encontra a contravenção. Como última hipótese, tem-se o caso do desastre, onde a entrada tem a
finalidade de prestação de socorro.
No caso de ser o crime ato preparatório para outro, haverá punição pelo crime ou pelos atos já
praticados no caso de desistência voluntária ou arrependimento eficaz.
No caso de ser a violação crime meio, haverá punição somente pelo crime fim, salvo hipótese de ser
este, de menor gravidade.

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VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA: É princípio constitucional a inviolabilidade de
correspondência, comunicações telegráficas, de dados e de comunicações telefônicas. A lei penal,
através do dispositivo em estudo, pune a violação deste princípio. Assim, segundo o artigo 151, "caput"
do CP, aquele que devassa indevidamente o conteúdo da correspondência fechada, dirigida a outrem,
está sujeito a uma pena de detenção de 1 a 6 meses, ou multa, mas, tal dispositivo em relação a esta
pena está revogado por legislação específica (Lei 6.538/78, que estipula pena de até seis meses, também
de detenção, ou pagamento não excedente a 20 dias multa).
Tem o legislador por objetivo, garantir a liberdade individual de manter em sigilo o conteúdo de
correspondência.
Pode ser sujeito ativo do crime qualquer pessoa, salvo o remetente e o destinatário.
Por ser um crime de dupla subjetividade passiva, devem obrigatoriamente figurar como sujeito passivo,
tanto o remetendo como o destinatário, ou seus representantes legais no caso de morte.
A descrição objetiva indica a existência de um objeto material, que é a correspondência fechada, sendo
correspondência conceituada através da lei 6.538/78, como toda comunicação pessoa a pessoa, por meio
de carta, através de via postal ou telegrama. Fora desta espécies, o crime não caracteriza-se, havendo
possibilidade de acontecimento de outro crime. A correspondência pode ser fechada por diversas formas,
cola, costuras, lacres plásticos, etc., e, se presume que, caso aberta a correspondência, não tem o
remetente ou o destinatário interesse no não conhecimento de seu conteúdo, sendo necessário que a
correspondência tenha destino certo, a uma determinada pessoa, mesmo se anônima, devendo, por fim,
ser atual.
A conduta é devassar, que significa tomar conhecimento, não caracterizando o crime e a pessoa abre
a correspondência mas não toma conhecimento de seu conteúdo, sendo possível a hipótese de punição
daquele que toma conhecimento se abri-la. Não há necessidade que o agente utilize o conhecimento para
outro fim, para estar pratica o crime
A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de tomar conhecimento do conteúdo de
correspondência fechada, assim, quem lê por engano, não pratica o crime.
Contém a presente descrição elemento normativo, consistente no termo indevidamente, pois, se
houver justa causa para a leitura do conteúdo da correspondência, não haverá a prática do crime, Como
é o caso dos pais que podem ler as correspondências dos filhos menores, embora haja entendimento que
na maioria dos casos, já que a Constituição Federal faz ressalva somente a comunicação telefônica, não
é mais possível a exclusão do crime nestas hipóteses.
Em relação aos cônjuges, o entendimento é de que a leitura da correspondência dirigida ao outro, não
caracteriza o crime, por ser presumido o consentimento, havendo posição contrária, principalmente
quando um deles não concorda com o devassamento.
A consumação ocorre quando o agente toma conhecimento do conteúdo da correspondência, sendo
possível a tentativa quando o agente é surpreendido após ter aberto a correspondência, mas, ainda, não
havia tomado conhecimento de seu conteúdo.
É possível o concurso material de crime em estudo com crime de furto, quando o agente se apossa de
valores, ou sonegação de correspondência.

SONEGAÇÃO OU DESTRUIÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA: artigo 151, § 1º - cuja definição é se


apossar indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte, a sonega
ou destrói, dispositivo também revogado pelo artigo 40 da Lei 6.538/78, que comina as mesmas penas
que a da conduta anteriormente estudada.
Tem por objetivo o legislador, mais uma vez, proteger a liberdade de correspondência.
Sujeito ativo e passivo do crime são as mesmas pessoas indicadas no crime anterior.
A descrição objetiva tem por objeto, também, a correspondência, mas, não exigindo que ela se
encontre fechada.
A conduta descrita é de se apossar da correspondência, com a finalidade de sonegação (esconder)
ou destruição.
A subjetividade exige o dolo, a vontade de se apossar da correspondência alheia, com o dolo específico
de sonegar ou destruir.
Da mesma forma, como elemento normativo, tem-se o termo indevidamente, para a caracterização do
crime.
A consumação se dá com o apossamento da correspondência, desde que tenha o agente a finalidade
específica de sonegar ou destruir, sendo possível a tentativa, quando o agente não consegue a subtração
da correspondência.
Se o conteúdo se tratar de um documento, sua destruição pode caracterizar crime de supressão de
documento, em concurso formal.

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VIOLAÇÃO DE COMUNICAÇÃO TELEGRÁFICA, RADIOELÉTRICA OU TELEFÔNICA: artigo 151,
§ 1º, inciso II com o seguinte conceito: quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza
abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônicas
entre outras pessoas, incorre nas mesmas penas estipuladas para as condutas anteriores.
Visa o legislador proteger o sigilo de comunicação pessoa a pessoa.
Sujeitos ativo e passivo, são os mesmos que os anteriores.
A descrição objetiva prevê condutas variadas, sendo a primeira divulgar, que nada mais é que passar
a pessoas indeterminadas o conteúdo da comunicação, ou transmitir, que deve ser entendido como a
passagem do conteúdo em caráter reservado para outra pessoa. Também incrimina-se a conduta de
utilizar o conteúdo, desde que tal fato não constitua crime mais grave, como o de extorsão.
As mensagens protegidas são aquelas transmitidas por rádio, televisão, telégrafo, telefone, desde que
não dirigidas ao público.
As comunicações telefônicas podem ser violadas somente através de ordem judicial.
A subjetividade consiste na vontade de praticar as condutas descritas.
A consumação se dá quando o agente divulga, transmite ou usa a comunicação, sendo possível a
tentativa.

IMPEDIMENTO DE TELECOMUNICAÇÃO: ARTIGO 151, § 1º, inciso III - que tem como conceito
impedir a comunicação ou conversação efetuada através de telégrafo, rádio ou telefone.
Mais uma vez tem por objetivo o legislador a proteção à liberdade de transmissão do pensamento
pessoa a pessoa.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e, sujeito passivo são os remetentes e destinatários da
comunicação.
A descrição objetiva prevê conduta de impedir, que pode ser efetivada de diversas formas, como cortar
fios, fazer barulho, utilizar aparelhos que causam interferência, etc.
A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de impedir a comunicação.
A consumação se dá quando a comunicação é interrompida, e a tentativa é possível quando a
interferência não é suficiente para impedir a comunicação.

INSTALAÇÃO OU UTILIZAÇÕES ILEGAIS: artigo 151, § 1º, inciso IV - Tal dispositivo está revogado
pelo artigo 70 da Lei 4.117/62, Código Brasileiro de Telecomunicações, que define a conduta de
instalação de estação de telecomunicações em desacordo com a legislação pertinente, cominando pena
de 1 a 2 anos, com aumento de metade se houver danos a terceiros. Portanto, pratica o crime aquele que
instala uma central de telecomunicação ou utiliza uma já existente em desacordo com o referido diploma
legal.

DISPOSIÇÕES COMUNS: A pena será aumentada de metade se houver dano a alguém, em qualquer
das condutas previstas no capítulo, seja qual for a ordem do dano. Existe qualificadora no caso de ter
sido o crime praticado com abuso de função em serviço postal, telegráfico, radiográfico ou telefônico,
desde que, específica a função.

AÇÃO PENAL: é pública condicionada a representação da vítima (remetente ou destinatário) nos


crimes previstos no CP e de representação de autoridade administrativa nos demais casos.

CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL: artigo 152 do CP - Abusar da condição de sócio ou empregado


do estabelecimento comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou
suprimir correspondência, ou revelar a estranho o seu conteúdo, com pena de detenção de 3 meses a 2
anos.
Tem por objetivo o legislador proteger a liberdade de correspondência comercial.
Trata de crime próprio, portanto, só pode ser sujeito ativo o sócio ou o empregado do estabelecimento,
sendo necessário, pois, um relacionamento contratual, não se importando se for sócio ou empregado do
remetente ou destinatário, mesmo que a conduta não tenha sido praticada no exercício das funções,
bastando a qualidade de sócio ou empregado.
Sujeito passivo é a empresa à qual pertença o sócio ou o empregado.
A descrição objetiva exige o objeto específico, correspondência comercial, não existindo este objeto,
o crime será de violação de correspondência. Prevê o legislador diversas condutas, podendo o agente
praticar o crime desviando (dando destino diverso), sonegando (escondendo), subtraindo (tirando) ou
suprimindo (eliminando), bem como revelando o agente o conteúdo da correspondência comercial a
estranho. É necessário, ainda, a possibilidade de dano à vítima.

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A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de praticar uma das condutas descritas, desde que o
agente tenha consciência de que está abusando da qualidade de sócio ou empregado.
A consumação se dá com o desvio, a sonegação, subtração ou supressão da correspondência ou,
com a revelação a estranho, sendo possível a tentativa.
A ação penal neste caso depende de representação da pessoa jurídica ofendida.
Pode haver concurso com os crimes de violação de segredo profissional ou, ainda, contra a
propriedade imaterial.

DIVULGAÇÃO DE SEGREDO: artigo 153 do CP - cuja definição é Divulgar alguém, sem justa causa,
conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor,
e cuja divulgação possa produzir dano a outrem está sujeito a uma pena de 1 a 6 meses de detenção ou
multa. A presença de uma finalidade específica no agente, pode trazer a ocorrência de outro delito, como
o caso de violação de segredo profissional.
Tem por objetivo o legislador proteger a liberdade individual de se ter segredos mantidos.
Pode ser sujeito ativo do crime o destinatário ou o detentor da correspondência ou do documento,
sendo que o remetente somente poderá ser sujeito ativo na modalidade de participação.
Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, que possa sofrer algum dano com a divulgação, inclusive o
remetente e o destinatário, caso a correspondência ou documento esteja com terceira pessoa.
A descrição objetiva exige um objeto material, o documento ou a correspondência. O que se entende
por correspondência já foi explicado e deve-se entender por documento qualquer escrito que resulte em
prova de fato jurídico relevante, tendo ou não caráter econômico. Em relação à correspondência, exige-
se que a assunto seja confidencial, secreto. Segredo é algo de conhecimento de um número limitado de
pessoas e que deseja-se manter oculto.
A conduta prevista é de divulgar, ou seja, levar a público, o segredo inscrito no documento ou
correspondência, embora exista reconhecimento do crime quando o segredo é transmitido a somente
uma pessoa. Necessário, também, a possibilidade de dano para alguém, seja ele econômico ou moral.
Contém também o dispositivo, elemento normativo consistente na expressão sem justa causa, como
o caso de se utilizar de uma correspondência para defesa em um processo.
A subjetividade consiste no dolo, na vontade de divulgar o segredo, tendo-se a consciência de que a
conduta possa causar dano a outrem.
A consumação se dá quando um número indeterminado de pessoas toma conhecimento do segredo
e a tentativa é possível.
A ação penal é pública condicionada a representação.
Nos casos de concurso, na maioria das vezes, haverá a absorção do crime meio, pelo crime fim, assim,
quem se apodera da correspondência com a finalidade de lhe revelar o segredo, responderá somente
pelo crime de divulgação deste segredo.

VIOLAÇÃO DE SEGREDO PROFISSIONAL: Como existem profissões, nas quais o profissional toma
conhecimento de diversos assuntos que lhe são confiados, estão eles obrigados a não revelá-los, por
isso o CP prevê no artigo 154, a conduta de revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência
em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem, pode
ficar sujeito a um pena de detenção que varia de 3 meses a 1 ano ou multa.
Tem por objetivo o legislador a proteção da liberdade individual de se ter determinado assunto em
segredo.
Trata-se de crime próprio e somente pode ser sujeito ativo do crime as pessoas que tomaram
conhecimento do segredo em razão de sua função, encargo derivado da lei ou por contrato; ministério,
atividade religiosa como a de padre e pastores; ofício, c com fim lucrativo sem qualificação técnico
profissional; ou profissão, atividade qualificada intelectualmente, exercida com o fim de lucro de
licitamente.
Deve fundamentalmente estar presente o nexo causal entre o exercício da atividade e o conhecimento
do segredo.
Conforme a qualificação do profissional (funcionário público por exemplo) o crime pode ser outro.
Sujeito passivo: é a pessoa que tem interesse em que o segredo seja guardado e que pode sofrer um
dano com sua revelação.
A descrição objetiva exige conduta de revelar o segredo, transmitindo-o a outrem, com possibilidade
de prejuízo moral, econômico, familiar ou individual.
Está presente na descrição, elemento normativo, justa causa que, se existir, para a revelação,
descaracteriza o crime, pois a proteção dada pela lei ao segredo profissional é relativa, como exemplo do
advogado que comunica à polícia que seu cliente irá praticar um crime.

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Se o sujeito passivo consente na revelação, não haverá crime pois, no caso, a revelação será legal,
mas, se terceira pessoa poderá sofrer algum dano, também este terá que consentir.
A subjetividade exija a vontade de revelar o segredo (dolo), acrescido do conhecimento sobre a
possibilidade de dano a outra pessoa.
A consumação se dá quando o segredo é revelado a apenas uma pessoa, podendo ser para mais de
uma, e a tentativa é possível.

INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO: O crime de invasão de dispositivo informático, previsto


no art. 154-A, do CP, consiste no fato de o agente “invadir dispositivo informático alheio, conectado ou
não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de
obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do
dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita”.
Constitui o objeto jurídico tutelado por este crime a inviolabilidade da intimidade e da vida privada,
consistente no resguardo dos dados e informações armazenadas em dispositivo informático da vítima.
Trata-se de um direito fundamental constitucionalmente assegurado, nos seguintes termos: “são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito de
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação” (CP, art. 5º, X).
Constituem em objeto material do delito: (1) os dados e as informações armazenadas em dispositivo
informático da vítima e que tenham sido obtidas, adulteradas ou destruídas em razão da conduta
criminosa do agente; (2) o próprio dispositivo informático da vítima na hipótese de o agente instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita.
Sujeito ativo: pode ser cometido por qualquer pessoa, uma vez que o tipo penal não exige nenhuma
qualidade especial do agente.
Sujeito passivo: é a pessoa que pode sofrer dano material ou moral em consequência da indevida
obtenção, adulteração ou destruição de dados e informações em razão da invasão de dispositivo
informático, ou decorrente da instalação no mesmo de vulnerabilidades para obter vantagem ilícita, seja
seu titular ou até mesmo um terceiro.
Consumação e tentativa: A invasão de dispositivo informático é crime formal (ou de consumação
antecipada), que se consuma sem a produção do resultado naturalístico consistente na efetiva obtenção,
adulteração ou destruição de dados ou informações da vítima, que se houver, constitui no simples
exaurimento do crime. Consuma-se, portanto, no momento em que o agente invade o dispositivo
informático da vítima, mediante violação indevida de mecanismo de segurança, ou instala no mesmo
vulnerabilidades, tornando-o facilmente sujeito a violações. Trata-se de crime instantâneo, cuja
consumação não se prolonga no tempo. A tentativa é possível por se tratar de crime plurissubsistente.

Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

CAPÍTULO VI
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL
SEÇÃO I
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL

Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido,
por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que
ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Aumento de pena
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se
reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal,
se justificada por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.
Ameaça
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-
lhe mal injusto e grave:

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Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

Sequestro e cárcere privado


Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60
(sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital;
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005)
V – se o crime é praticado com fins libidinosos. (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005)
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico
ou moral:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Redução a condição análoga à de escravo


Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados
ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por
qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local
de trabalho;
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais
do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
I – contra criança ou adolescente;
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Tráfico de Pessoas
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa,
mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: (Incluído pela Lei nº
13.344, de 2016)
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou
V - exploração sexual.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-
las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade,
de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de
emprego, cargo ou função; ou
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.
§ 2º A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização
criminosa.

SEÇÃO II
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO

Violação de domicílio
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

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§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de
arma, ou por duas ou mais pessoas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência.
§ 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos
legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do poder.
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências:
I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência;
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência
de o ser.
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do
n.º II do parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

SEÇÃO III
DOS CRIMES CONTRA A
INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA

Violação de correspondência
Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Sonegação ou destruição de correspondência
§ 1º - Na mesma pena incorre:
I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no todo ou em
parte, a sonega ou destrói;
Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica
II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica
ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas;
III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número anterior;
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem observância de disposição legal.
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem.
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico
ou telefônico:
Pena - detenção, de um a três anos.
§ 4º - Somente se procede mediante representação, salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º.

Correspondência comercial
Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial para,
no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu
conteúdo:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

SEÇÃO IV
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS

Divulgação de segredo
Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência
confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º Somente se procede mediante representação.
§ 1o-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim definidas em lei,
contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública:
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 2o Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será incondicionada.

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Violação do segredo profissional
Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

Invasão de dispositivo informático


Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante
violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou
informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para
obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa
de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico.
§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos
comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não
autorizado do dispositivo invadido:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais
grave.
§ 4º Na hipótese do §3º, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização
ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos.
§ 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra:
I - Presidente da República, governadores e prefeitos;
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado,
da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal;
IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito
Federal.

Ação penal
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo
se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União,
Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos.

Questões

01. (TJ/SP - Titular de Serviços de Notas e de Registros - VUNESP/2016) Diz o parágrafo 5º do


artigo 121 do Código Penal Brasileiro, que: “na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de
aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a
sanção penal se torne desnecessária”. Trata-se de
(A) graça.
(B) perdão judicial.
(C) anistia.
(D) indulto.

02. (Prefeitura de Teresina/PI - Guarda Civil Municipal – COPESE/UFPI) Considera-se causa de


diminuição de pena, o fato do agente ter praticado o homicídio:
(A) Por motivo fútil.
(B) Com uso de veneno, fogo, asfixia ou outro meio insidioso ou cruel.
(C) Impelido por relevante valor moral ou social.
(D) Com recebimento de recompensa.
(E) À traição ou emboscada.

03. (TJ/DF - Juiz de Direito Substituto - CESPE) Constitui homicídio qualificado o crime
(A) cometido contra deficiente físico.
(B) praticado com emprego de arma de fogo.
(C) concretizado com o concurso de duas ou mais pessoas.
(D) praticado com o emprego de asfixia.

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(E) praticado contra menor de idade.

04. (Polícia Civil/SP - Escrivão de Polícia – VUNESP) O crime de induzimento, instigação ou auxílio
a suicídio
(A) é punido com pena de detenção e multa.
(B) só se caracteriza se o suicídio se consuma ou se a vítima sofre lesão corporal de natureza grave.
(C) é punido com pena de detenção, apenas.
(D) tem a pena aumentada de metade se a vítima é menor.
(E) tem a pena aumentada de metade se o crime é praticado por motivo egoístico.

05. (AL/MS - Agente de Polícia Legislativo - FCC/2016) Micaela, de 19 anos de idade, após manter
um relacionamento ocasional com Rodrigo, de 40 anos de idade, acaba engravidando. Após esconder a
gestação durante meses de sua família e ser desprezada por Rodrigo, que disse que não assumiria
qualquer responsabilidade pela criança, Micaela entra em trabalho de parto durante a 40ª semana de
gestação em sua residência e sem pedir qualquer auxílio aos familiares que ali estavam, acaba parindo
no banheiro do imóvel. A criança do sexo masculino nasce com vida e Micaela, agindo ainda sob efeito
do estado puerperal, corta o cordão umbilical e coloca o recém-nascido dentro de um saco plástico,
jogando-o no lixo da rua. O bebê entra em óbito cerca de duas horas depois. Neste caso, à luz do Código
Penal, Micaela cometeu crime de
(A) homicídio culposo.
(B) homicídio doloso.
(C) aborto.
(D) lesão corporal seguida de morte.
(E) infanticídio.

06. (PC/PE - Agente de Polícia - CESPE/2016) Acerca dos crimes contra a pessoa, assinale a opção
correta.
(A) Quando o homicídio for praticado por motivo fútil, haverá causa de diminuição de pena.
(B) Sempre que um agente mata uma vítima mulher, tem-se um caso de feminicídio.
(C) O homicídio e o aborto são os únicos tipos penais constantes no capítulo que trata de crimes contra
a vida.
(D) O aborto provocado é considerado crime pelo direito brasileiro, não existindo hipóteses de exclusão
da ilicitude.
(E) O aborto provocado será permitido quando for praticado para salvar a vida da gestante ou quando
se tratar de gravidez decorrente de estupro.

07. (Polícia Civil/SP - Escrivão de Polícia – VUNESP) A lesão corporal se enquadra nas hipótese
expressas no art. 129, § 2.º do CP, doutrinariamente denominada gravíssima, ocorre:
(A) aceleração de parto.
(B) incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias.
(C) debilidade permanente de membro, sentido ou função.
(D) perigo de vida.
(E) enfermidade incurável.

08. (PC/MA – Perito Criminal – CESPE/2018) Mário, ao envolver-se em uma briga, lesionou Júlio.
Nessa situação hipotética, Mário responderá por lesão corporal de natureza grave se tiver
(A) provocado em Júlio debilidade permanente de função, como, por exemplo, a redução da
capacidade mastigatória pela perda dentária.
(B) ofendido a integridade corporal de Júlio, causando-lhe diversas escoriações no corpo.
(C) causado a morte de Júlio, ainda que em circunstâncias que evidenciem que Mário não queria matá-
lo.
(D) causado a morte de Júlio em circunstâncias que evidenciem que Mário assumiu o risco de produzir
o resultado.
(E) provocado a incapacitação de Júlio para ocupações habituais, como, por exemplo, o trabalho e o
estudo, por quinze dias.

09. (MPE/SP – Promotor – VUNESP) Com relação ao crime de rixa, descrito no art. 137, caput, do
Código Penal (“Participar de rixa, salvo para separar os contendores”), assinale a alternativa
INCORRETA.

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(A) É crime plurissubjetivo ou de concurso necessário.
(B) Há presunção de perigo, que decorre da simples existência material da contenda.
(C) É possível uma pessoa ser sujeito ativo e passivo do mesmo crime.
(D) É infração de forma livre, podendo ser cometida por qualquer meio eleito pelo agente.
(E) Quem provoca a rixa por imprudência, sem dela participar, responde também pelo crime.

10. (SURG - Agente de Trânsito - CONSULPAM) Tomando por base os tipos penais de crimes contra
a honra, complete as lacunas abaixo para, ao final, escolher a sequência CORRETA:
I - Imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação.
II - Ofender alguém em sua dignidade ou o decoro.
III - Imputar falsamente a alguém fato definido como crime.
(A) injúria, difamação, calúnia.
(B) difamação, calúnia, injúria.
(C) difamação, injúria, calúnia.
(D) calúnia, injúria, difamação.

Repostas

01. Resposta: B
O instituto previsto no artigo 121, §5º, do CP, é o perdão judicial. Por meio deste instituto o juiz, embora
reconhecendo a prática do crime, deixa de aplicar a pena, contudo, é necessário que se apresentem
determinadas circunstâncias excepcionais previstas em lei, que tornam inconvenientes ou
desnecessárias a imposição de sanção penal ao réu.

02. Resposta: C
O art. 121, §1º, do CP, prevê como causa de diminuição de pena se o agente comete o crime impelido
por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, podendo o juiz reduzir a pena de um sexto a um terço.

03. Resposta: D
De acordo com o art. 121, § 2º, do CP, são causas que qualificam o crime de homicídio, quando
cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino;
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição.

04. Resposta: B
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da
tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.

05. Resposta: E
Dispõe o art. 123 do CP, que pratica o crime de infanticídio, a mulher que matar, sob a influência do
estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após. Assim, é correto afirmar que Micaela
cometeu o crime de infanticídio.

06. Resposta: E
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro

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II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de seu representante legal.

07. Resposta: E
A lesão corporal se enquadra nas hipótese expressas no art. 129, § 2.º do CP, doutrinariamente
denominada gravíssima, ocorre se resulta incapacidade permanente para o trabalho; enfermidade
incurável; perda ou inutilização do membro, sentido ou função; deformidade permanente; aborto:
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:

08. Resposta: A
Alternativa a: provocado em Júlio debilidade permanente de função, como, por exemplo, a redução da
capacidade mastigatória pela perda dentária. CP, Art. 129, §1º, III - debilidade permanente de membro,
sentido ou função - Lesão corporal de natureza grave

09. Resposta: E
Imprudência é uma modalidade de culpa. Assim a alternativa “E” está incorreta, tendo em vista que
não existe modalidade culposa no tipo penal rixa (art. 137) e não há como haver a participação culposa
em crime doloso.

10. Resposta: C
I - Imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação (Art. 139, CP - difamação)
II - Ofender alguém em sua dignidade ou o decoro (Art. 140, CP - injúria)
III - Imputar falsamente a alguém fato definido como crime (Art. 138, CP - calúnia)

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Os crimes contra o patrimônio encontram-se nos artigos 155 a 183 do Código Penal.
Pode-se definir como patrimônio, o conjunto de relações jurídicas de uma pessoa que tiver valor
econômico, a exceção dos direitos imateriais que, embora possam ser avaliados economicamente, são
protegidos em outro capítulo.

DO FURTO

FURTO: Em primeiro lugar, deve se entender o que seja patrimônio, a fim de verificar-se o que o
legislador protege com as condutas descritas neste capítulo. Pode-se definir como patrimônio, o conjunto
de relações jurídicas de uma pessoa que tiver valor econômico, a exceção dos direitos imateriais que,
embora possam ser avaliados economicamente, são protegidos em outro capítulo.
O conceito de furto vem descrito no artigo 155 do CP, que nada mais é do que a subtração da coisa
alheia móvel, para si ou para outrem, com intenção de apossamento definitivo. A pena cominada para a
conduta na forma simples é de reclusão de 1 a 4 anos e multa.
O objetivo jurídico em relação ao crime de furto é discutido entre os doutrinadores, uns entendendo
que o dispositivo protege a posse, de forma direta e a propriedade, indiretamente, ou o inverso, outros,
que a tutela é somente da propriedade e não da posse. Numa corrente dominante, entendem que a
proteção é feita tanto à posse como a propriedade, além da detenção da coisa, portanto, para a punição
do agente, é indiferente de que a pessoa tenha somente a posse ou a propriedade da coisa, bastando
que o agente se apodera da coisa ilegalmente. Assim, é possível a punição do ladrão a coisa subtraída
por outro, pois a coisa ficou mais longe da vítima.
Pode ser sujeito ativo do crime qualquer pessoa física, desde que não seja o possuidor da coisa
subtraída. O empregado que, numa empresa é responsável e utiliza certas ferramentas para o trabalho,
tendo a posse vigiada, se transforma a posse precária, em propriedade, pratica o crime de furto.
Sujeito passivo é a pessoa física ou jurídica que tenha a posse ou a propriedade da coisa, salvo no
caso de detenção desinteressada, como o caixa de um banco, em que o sujeito passivo é o banco.

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A descrição objetiva exige as condutas de subtrair, ou seja, retirar, de qualquer forma e independe da
presença da vítima.
O objeto material é a coisa que, em direito penal é toda substância corpórea, material, suscetível de
apreensão ou transporte, no estado em que se encontra, sólido, líquido ou gasoso, instrumentos ou títulos,
bem como partes do solo, de casas, árvores, navios, aeronaves, que são móveis equiparados a imóveis
para efeitos civis.
É de fundamental importância, para caracterização do crime de furto que a coisa tenha valor
econômico ou afetivo, pois todos eles são bens que satisfazem as necessidades dos homens.
As coisas comuns, como o ar e a água, também podem ser objeto material do delito, desde que,
destacadas como o caso dessas substâncias engarrafadas.
É necessário que a coisa tenha dono, pois, apoderar-se da coisa que não tem dono não é figura típica,
bem como aquelas que foram abandonadas pelo dono, mas, apropriar-se de coisa achada é crime
previsto na nossa legislação penal.
O ser humano não pode ser objeto material do crime de furto, poderá haver sequestro, mas, pode
haver furto de coisas postiças do corpo, como dentaduras, perucas, prótese.
Quando a finalidade for econômica a subtração de cadáver é furto.
Se incluem entre os objetos materiais do crime, os títulos que representam as obrigações.
Se o valor da coisa for irrelevante, pelo princípio da insignificância, não haverá crime de furto.
Por fim a coisa dever ser alheia, que não pertence ao agente.
A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de subtrair, somado ao elemento subjetivo do injusto,
contido na expressão para si ou para outrem, não havendo necessidade de que o agente vise o lucro,
que pode agir simplesmente por capricho. Tirar uma joia da vítima para jogá-la, não caracteriza o crime
de furto.
O consentimento da vítima na subtração, desde que seja anterior à consumação, faz desaparecer o
crime, se for após o crime já se consumou.
O momento da consumação do crime de furto é discutido entre os doutrinadores, alguns entendendo
que basta o agente tocar na coisa, outros quando a coisa é segura, outros quando é removida, ou quando
a coisa é segura, outros quando é removida, ou quando a coisa é colocado no local a qual se destinava.
A despeito das diversas opiniões, o entendimento mais correto é que o crime se consuma quando há
inversão da posse, havendo julgado entendendo estar caracterizado o crime na conduta do empregado
que escondeu a coisa no estabelecimento comercial para levá-la posteriormente.
Como se trata de crime material, com resultado naturalístico, é possível a tentativa, como o casso
daquele que tenta furtar a carteira da vítima, mas não consegue, pois ela se encontra em outro bolso,
entretanto, se a vítima não possuir nenhum valor, temos o crime impossível.
Como distinção se apresenta o fato do agente, após a prática do crime, colaborar (escondendo a coisa,
por exemplo), respondendo apenas pelo crime de favorecimento real e não pelo furto. Quem subtrai a
coisa visando ressarcir-se de prejuízo, responde pelo crime de exercício arbitrário das próprias razões.
A trombada, que não deixa de ser violência, se for leve, caracteriza o furto e não o roubo.
Quem adquire a coisa produto de crime de furto responde por receptação, na forma dolosa ou culposa.
É possível o concurso do crime de furto com diversos outros delitos, como o estupro, ou mesmo a
subtração de coisas de diversas pessoas.
Em algumas hipóteses, o crime de furto absorve outros, como a violação de domicílio, o dano, o
estelionato, no caso de subtração de talão de cheque, embora, no último exemplo, haja entendimento
contrário. Se a coisa furtada foi documento que, posteriormente, foi falsificado, haverá concurso material
entre o furto e a falsificação.
Por furto de uso deve entender-se a conduta da pessoa que se apossa da coisa com a finalidade de
utilizá-la momentaneamente e, já que o legislador exige a intenção definitiva na conduta do agente, não
está caracterizado o crime de furto, havendo entendimento contrário. Para a caraterização do uso, na
subtração, é necessário que o agente a devolva da mesma forma que a subtraiu, caso contrário, haverá
crime de furto.
A subtração de energia, seja ela de qualquer natureza, também caracteriza o crime de furto, pois o
legislador equiparou a energia a coisa móvel. Se o agente desvia energia praticará furto, mas, se obtém,
com artifícios, levando a vítima a erro, praticará estelionato.
O § 1º do artigo 155, prevê uma agravante específica, tratando do furto praticado durante o repouso
noturno, com aumento de pena de 1/3, porque neste período é precária a vigilância sobre a coisa.
Repouso noturno não significa noite, que se caracteriza pela ausência da luz solar, enquanto aquela
significa o período em que normalmente os moradores repousam, mesmo que no local, embora tenha
moradores, não se encontrem no local, assim, o furto de veículo que se encontra na rua, durante este
período, agrava o crime.

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A agravação da pena é levada a efeito, tendo-se por base a pena do furto simples, não se
considerando, pois, as qualificadoras.
O § 2º do mesmo artigo, descreve o furto privilegiado, no caso de ser o criminoso primário e ser de
pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão por detenção, diminuí-la de 1/3 a
2/3, ou aplicar somente a pena de multa.
Vamos analisar os requisitos que devem estar presentes para o reconhecimento da privilegiadora, a
iniciar-se pela condição de primário do agente, lembrando que é primário aquele que nunca sofreu uma
condenação, não devendo, pois, confundir-se primariedade com não reincidência.
Segundo requisito é ser a coisa subtraída, de pequeno valor, sendo o entendimento majoritário que
pequeno valor é aquele menor que um salário mínimo da época dos fatos. Não se deve confundir,
também, pequeno valor com pequeno prejuízo, sendo que na jurisprudência existem dois entendimentos
a respeito, um entendendo que a coisa dever ser de pequeno valor e outra que o prejuízo deve ser
pequeno para o reconhecimento da privilegiadora.
Atualmente se exige, também, que o agente não revele má personalidade, nem possua antecedentes
desabonadores, fato que vem sendo aceito, porque, as possibilidades colocadas pelo legislador são de
aplicação facultativa pelo juiz, que deve analisar o aspecto subjetivo.
É natural que, pela própria colocação do dispositivo na lei, o privilégio somente pode ser aplicado aos
crimes simples e agravado pelo período noturno, embora haja entendimento contrário.

FURTO QUALIFICADO: disposto no § 4º do artigo 155, cuja pena vai de 2 a 8 anos de reclusão e
multa.
A primeira qualificadora prevista no inciso I é o rompimento do obstáculo para a subtração da coisa,
ou seja, quando o agente para a prática do crime, inutiliza, desfaz, desmancha, estraga, deteriora
obstáculos colocados para garantir o patrimônio, como as trancas, fechaduras, portas, janelas, paredes,
sendo a destruição total ou parcial e desde que a conduta atinja diretamente o obstáculo. Assim, se o
agente para furtar um veículo, quebra o vidro, não pratica o crime qualificado, mas, se a destruição foi,
no mesmo exemplo, para subtrair coisas que estavam no interior de veículo, a qualificadora persiste. Mas
se ação visa um dispositivo de segurança de veículo, como alarme, ou trinco, estará presente a
qualificadora.
O fato de o agente retirar a porta, desaparafusando, sem destruí-la, não caracteriza a qualificadora, o
mesmo ocorre com a retirada de telhas.
Para comprovação do crime é fundamental o exame pericial.
A segunda qualificadora é o abuso de confiança, previsto no inciso II, caracterizada pela diminuição
da vigilância sobre a coisa devido a esta confiança de que o agente não praticará a conduta, como o caso
do vigia contratado para cuidar de uma residência, da empregada doméstica que fica sozinha em casa,
enquanto os patrões trabalham, sendo necessário, que além do vínculo empregatício, haja a confiança
depositada no agente.
Outra qualificadora no mesmo inciso é a fraude, consistente num meio enganoso, num artifício utilizado
pelo agente, obtendo a posse devido a esse artifício, como a pessoa que se veste com uniforme da
empresa de emergia elétrica, a fim de penetrar no interior da residência e subtrair a coisa.
Não se pode confundir o furto através de fraude com o estelionato-furto, onde o artifício é utilizado para
que a vítima entregue a coisa.
A escalada também qualifica o furto, significando a utilização de uma via de acesso anormal para
penetrar na casa ou estabelecimento, com utilização de escadas, cordas, a fim de ser vencido um
obstáculo que exige esforço incomum, como o exemplo da pessoa que cava um túnel para atingir o local
onde a coisa de encontra, qualificadora que, para a sua caracterização, segundo entendimento da
maioria, independe de exame pericial.
A destreza, habilidade física ou manual do agente, impedindo a percepção da vítima em relação prática
do crime, é qualificadora. A destreza tem, por exemplo, típico o do batedor de carteira, que retira do bolso
da vítima sem que ela sinta a sua ação.
No inciso III está previsto a utilização de chave falsa, que pode ser definida como qualquer instrumento
que faça suas vezes, havendo entendimento de que a chave verdadeira, quando furtada, caracteriza a
qualificadora, posição que não é aceita pela maioria dos doutrinadores, que entendem se tratar de fraude
e não de uso de chave falsa.
Por fim o inciso IV prevê o concurso de duas ou mais pessoas, que indica maior periculosidade dos
agentes que se unem para mais facilmente praticar o crime, não havendo necessidade, inclusive, para
reconhecimento da qualificadora que todos sejam imputáveis, havendo opinião de que deva haver a
coautoria para o reconhecimento da qualificadora e, segundo corrente majoritária, é possível seu
reconhecimento, inclusive nos casos de participação.

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No caso de furto praticado por quadrilha o entendimento dominante é de que a qualificadora não
prevalece, devendo os componentes responder pelo furto e pelo crime de formação de quadrilha ou
bando.
A lei nº. 13.654/2018 incluiu os § 4º-A e 7º ao artigo 155 para dispor respectivamente que a pena será
de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se para a prática do furto houver emprego de explosivo
ou de artefato análogo que cause perigo comum e que a pena será de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez)
anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
Havendo duas ou mais qualificadoras num mesmo furto, uma delas irá qualificar, enquanto as outras
deverão ser utilizadas pelo juiz como circunstâncias agravantes, quando da aplicação da pena.

FURTO DE COISA COMUM: artigo 156 do CP, que define o crime da seguinte forma: Subtrair o
condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém a coisa comum,
estará sujeito a uma pena de detenção de 6 meses a 2 anos ou multa, sabendo-se que o condomínio é a
propriedade de uma coisa por diversas pessoas, herança é o patrimônio do falecido e sociedade é a
reunião de duas ou mais pessoas, para com esforço comum, atingir um objetivo.
Tem o legislador por objetivo a proteção da propriedade e da posse comum.
Trata-se de crime próprio, podendo ser sujeito ativo o condômino, o herdeiro ou o sócio.
Sujeitos passivos serão os demais condôminos, herdeiros e sócios ou ainda outra pessoa que tenha
a posse legítima da coisa, entretanto, no caso de sociedade, pessoa jurídica, se o bem a ela pertencer,
haverá prática de crime de furto simples.
A descrição objetiva exige os mesmos elementos que o furto simples, devendo a coisa ser comum,
não se importando com o montante que pertença ao autor do crime.
A subjetividade exige o dolo, vontade de subtrair a coisa comum, acrescida da finalidade específica,
contida na expressão para si ou para outrem.
Prevê o legislador um caso de exclusão do crime tratando-se de coisa comum fungível, aquela que
pode ser substituída por outra da mesma espécie, qualidade e quantidade e, não excedendo o valor do
bem, ao da cota que o agente teria direito, está descaracterizada a infração.
A ação penal é pública condicionada à representação de qualquer um dos outros coerdeiros,
condôminos ou sócios.

DO ROUBO E DA EXTORSÃO
A subtração de coisa alheia móvel constitui o furto, mas se estiverem presentes algumas circunstâncias
especiais, tais como a violência e a grave ameaça, temos o crime de roubo, que vem previsto no artigo
157 do CP, com pena de reclusão de 4 a 10 anos de reclusão, além da multa.
Diretamente, tem o legislador por objetivo, proteger o patrimônio da vítima, mas ao mesmo tempo,
não deixa de preservar a integridade física, psíquica e a vida do ser humano.
Por se tratar de crime comum, pode o roubo ser praticado por qualquer pessoa, assim, qualquer um
pode ser sujeito ativo do crime.
Em relação ao sujeito passivo, pode-se dizer que é vítima o possuidor da coisa, mas, também,
qualquer pessoa que sofra a violência exercida pelo sujeito ativo.
A descrição objetiva exige a conduta de subtrair, a coisa alheia móvel, mas, com utilização de
violência, grave ameaça, ou qualquer outro meio que reduza a capacidade de resistência da vítima.
A coisa móvel alheia é o objeto material do crime, desde que tenha valor econômico.
A subjetividade exige o dolo, vontade de subtrair a coisa, aliada ao desejo de praticar a violência,
estando presente, também, o elemento subjetivo para si ou para outrem.
A consumação do crime se dá quando a coisa sai do domínio da vítima, existindo entendimento
minoritário no qual a consumação se dá com a prática da violência e a tentativa é perfeitamente possível.
O artigo 157, § 1º prevê o chamado roubo impróprio quando a violência é praticada após a subtração
da coisa, para garantir a posse da coisa subtraída ou a impunidade do crime, desde que haja um
relacionamento direto de tempo entre a subtração e a violência, pois, se decorrido muito tempo, será
caracterizado um crime de furto e outro de lesão corporal.
A previsão alcança somente a prática de violência ou grave ameaça, excluindo o outro recurso que
reduza a defesa da vítima, e consiste na presença do elemento subjetivo do injusto, qual seja, deve ter a
intenção de assegurar a impunidade ou a subtração da coisa. Neste caso a consumação se dá com a
prática da violência, mesmo que a subtração tenha sido anterior, e, não havendo a subtração, o agente
deverá responder pelo crime de tentativa de furto e de lesões corporais em concurso material, embora
haja entendimento contrário. Quando a pessoa já subtraiu a coisa e quando tenta praticar a violência, não
obtendo êxito, ocorre a tentativa de roubo impróprio.

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Por fim, e expressão logo depois deve ser entendida como imediatamente.
O § 2º do artigo 157 prevê as hipóteses de roubo qualificado.
A primeira qualificadora neste crime era o emprego de arma, porém, este inciso foi revogado pela Lei
nº. 13.654/2018.
A segunda qualificadora é o concurso de duas ou mais pessoas, fato que dificulta, ainda mais a defesa
da vítima, mesmo que uma destas pessoas seja inimputável e que apenas uma delas pratique atos
executórios do crime, nem, tampouco que seja identificado a outra pessoa, e, caso haja condenação dos
agentes pelo crime de quadrilha ou bando, ficará afastada a qualificadora. O terceiro caso é quando a
vítima se encontra em transporte de valores, sendo o agente conhecedor desta circunstância, pois, estas
pessoas são as mais visadas na prática do crime em estudo. É natural que, para o reconhecimento da
qualificadora é necessário que o valor transportado não seja daquele que o realiza e que o agente
conheça a realização do transporte.
A quarta ocorre se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior; Já a quinta ocorre se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua
liberdade. E por fim, a sexta qualificadora, que foi incluída pela Lei nº. 13.654/2018, que trata dos casos
em que a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
No caso de existência de duas ou mais qualificadoras, no mesmo crime, uma delas servirá para
qualificar, a outra, como circunstância judicial para aplicação da pena.
A Lei nº. 13.654/2018 incluiu ainda ao artigo 157, o §2º-A e o § 3º, vejamos:

Art. 157. (...)


§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):(Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654,
de 2018)
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela
Lei nº 13.654, de 2018)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.654,
de 2018)
A lesão corporal de natureza grave também qualifica o roubo, conforme previsão do § 3º, 1ª parte
do artigo 157. Lesões graves são as previstas no artigo 129, §§ 1º e 2º do C.P., desde que decorrente da
violência. Pela disposição de nosso código, não é possível, reconhecer-se as qualificadoras estudadas
acima, juntamente com a ora analisada, o que possibilita que uma pessoa que utilize arma para a prática
do crime, mas não cause lesão, sofrer uma pena maior do que aquela que, causou a lesão de natureza
grave, utilizando a arma.
No caso de lesão grave, considera-se consumado o crime, mesmo que o agente não tenha conseguido
a subtração.
Com a violência praticada pode ser que o agente cause a morte da vítima. Estamos diante do que a
doutrina denomina latrocínio (matar para roubar), cuja conduta vem descrita no artigo 157, § 3º, com
redação dada pela lei dos crimes hediondos.
Embora alguns doutrinadores entendam que para que haja o latrocínio o agente deve querer o
resultado morte, pela redação do dispositivo, outra interpretação não pode ocorrer a não ser no sentido
de não ser necessária a intenção do agente, basta que em decorrência da prática do crime resulte a
morte, desde que esta violência tenha sido exercida para à subtração da coisa, ou para garantir a posse
ou impunidade dela. Por consequência, se existirem desígnios autônomos, o agente responderá pelo
crime de roubo e homicídio, em concurso.
Não é necessário que a morte seja da vítima, mas, de qualquer pessoa que sofra a violência, existindo,
no caso, dois sujeitos passivos.
Embora haja entendimento contrário, a morte do coautor do crime não caracteriza o latrocínio, pois,
contra ele não é exercida violência.
A consumação do crime ocorre quando há a subtração e a morte e a doutrina discute as hipóteses
de não ocorrendo um destes resultados, por qual crime responderá o sujeito ativo.
Diversas soluções são apresentadas:
No caso de serem tentados ambos os resultados o agente responderá por tentativa de latrocínio; se
ocorrer somente a subtração e o agente tentou contra a vida na prática da violência, também ocorre a

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tentativa de latrocínio; entretanto, quando ocorre a morte mas a subtração não consuma, há divergências
entre os doutrinadores.
Alguns entendem que o agente responderá por crime de furto tentado em concurso com homicídio
qualificado, pois, praticado para garantir a impunidade de outro crime. Outros entendem ser uma tentativa
de roubo em concurso com o homicídio qualificado; existe entendimento no sentido de tratar-se somente
de homicídio; de latrocínio tentado e, por fim, de latrocínio consumado, posição que, embora em
desacordo com a legislação é a dominante.
Caso o agente, na violência, não pretendia o resultado morte, (preterdolo), responderá pelo latrocínio
tentado (roubo seguido de morte).
Existe posição contrária, mas, no caso de mais de uma vítima o latrocínio será único.
Distinções podem ser apresentadas, como o exemplo da trombada que, segundo entendimento de
uns é furto e de outros é roubo.
Roubo e extorsão são crimes diversos e a diferença reside no sentido de que no roubo há a subtração
da coisa, através do emprego da violência e, na extorsão, a violência é empregada para que a vítima
entregue a coisa.
Se o crime é praticado para salvaguardar algum direito, será o caso de exercício arbitrário das próprias
razões em concurso com a violência.
Em relação à possibilidade de concurso no crime de roubo, diversas são as situações em que se
encontra presente.
Em primeiro lugar é importante lembrar que todos os crimes componentes (furto, ameaça, lesões
leves), são absorvidas pelo roubo.
No caso de sequestro da vítima, sendo elemento do crime de roubo, é por este absorvido, entretanto,
caso ocorra após a subtração, haverá o concurso.
Embora, em tese, é possível a continuidade delitiva neste crime, a jurisprudência atual tende ao não
reconhecimento da possibilidade, por consequência, também não se aceita a continuidade entre o roubo
e o furto, o latrocínio e a extorsão.
Vislumbrando o exemplo e possibilidade de, num local onde se encontram diversas pessoas, estas
são ameaçadas e mediante esta ameaça, o agente subtrai objetos pertencentes às vítimas, tem-se
admitido no caso o concurso formal, existindo posições contrárias.
Entretanto, se tratar-se de somente um objeto, ainda que diversas pessoas sofram a violência, o crime
é único.
Embora seja também atingida a vida, indiretamente, no caso do latrocínio, a competência para
julgamento é da justiça comum e não do Tribunal do Júri.

EXTORSÃO: artigo 158 do CP, que contém o conceito deste crime.


Visa o legislador fundamentalmente, proteger o patrimônio da vítima, mas, de forma indireta também
estão protegidos a liberdade e a integridade física da vítima.
É de se notar que, no crime em estudo, o objeto material pode ser a coisa imóvel, o que diferencia este
do crime de roubo, onde há a subtração.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime de extorsão, e, caso seja funcionário público, no
exercício de sua função, o crime será de concussão, ou ainda, concussão e extorsão em concurso.
Sujeito passivo é a pessoa que sofre a ameaça ou a violência, bem como aquela que sofre o prejuízo
econômico.
A descrição objetiva prevê conduta de constranger alguém, o que pode ser feito através da violência
ou da grave ameaça.
É necessário, segundo entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência, que o ato de violência
ou a ameaça, seja capaz de intimidar a vítima, mas, existe entendimento de que a análise deverá ser feita
de acordo com o homem médio.
A forma mais comum da prática do crime de extorsão e a chantagem, no qual a ameaça consiste na
revelação de um segredo.
A vantagem a ser obtida pelo sujeito ativo deve ser injusta, pois, se justa, o crime será de exercício
arbitrário das próprias razões, ao qual pode ser somada as penas equivalentes à violência.
Prevendo o legislador a violência e grave ameaça, somente, não caracteriza o crime, o
constrangimento através de fraude. Por fim, a violência ou grave ameaça deve ser empregada para que
a vítima pratique ou deixe de praticar algum ato.
Se o ato praticado pela vítima for nulo, como consequência, não gera efeitos jurídicos e, portanto, não
poderá o agente obter vantagem econômica e, tem-se, no caso o crime impossível, entretanto, de forma
indireta pode ser que o agente consiga a vantagem com o ato nulo, de forma indireta, e, assim, estará
caracterizado o crime.

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A subjetividade exige a conduta de constranger, mediante a prática de violência ou grave ameaça, a
fim de que a vítima faça ou deixe de fazer alguma coisa, acrescido do dolo específico que é a intenção
de obter uma vantagem econômica ilícita.
Em relação à consumação do crime existem duas correntes na doutrina, havendo entendimento de
que a extorsão se consuma quando o agente faz ou deixa de fazer alguma coisa, ou permite que alguém
faça. Num segundo entendimento a consumação ocorre quando o agente obtém a vantagem econômica,
sendo a primeira posição a dominante. Sendo considerada a extorsão, um crime formal, somente ocorrerá
a coautoria e a participação, antes do agente agir ou deixar de agir e, a atividade posterior consistirá em
crime autônomo.
A tentativa é possível, como exemplo cita-se o caso de a ameaça não chegar ao conhecimento da
vítima.
Existem qualificadoras para o crime de extorsão a primeira delas é ter sido o crime praticado por duas
ou mais pessoas e quando há o emprego de arma. Os estudos realizados em relação às qualificadoras
do roube devem aqui ser aplicados.
No caso deste crime, sendo a vítima menor de 14 anos, de acordo com o E.C.A, haverá o aumento de
1/3 da pena.
No caso de resultar lesão corporal de natureza grave, ou morte, serão aplicadas as mesmas penas do
roubo qualificado pelo resultado.
É difícil a distinção entre o crime de extorsão e o de roubo, uns entendendo que a diferença reside no
fato do roubo ser uma subtração, enquanto que na extorsão a vítima é quem pratica o ato. Outros que na
extorsão sempre existe uma opção para a vítima, enquanto que no roubo, isto não ocorre. Há aqueles
que sustentam que a distinção se encontra no fato de que no roubo a vantagem é imediata, enquanto que
na extorsão é futura.
Pode ser distinguido, também o delito de extorsão do estelionato, pois, neste a vantagem é obtida
mediante fraude, enquanto que, naquele, a vantagem é resultado da violência ou grave ameaça.
Por fim, cumpre consignar que é possível a continuidade delitiva neste crime.

EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO: a previsão se encontra no artigo 159 do CP com as


modificações realizadas pela lei de crimes hediondos.
O objetivo do legislador á a proteção do patrimônio, mas, pela descrição, não deixa ele de proteger,
ainda que de forma indireta, a liberdade individual, a integridade física e a vida da vítima.
Pode figurar como sujeito ativo qualquer pessoa que pratique qualquer dos elementos subjetivos
contidos no tipo, mesmo quando se tratar de funcionário público, quando sua finalidade foi privar a
liberdade da vítima para obter uma vantagem.
São sujeitos passivos do crime tanto a pessoa que é sequestrada, como aquela que sofre o prejuízo
econômico.
A descrição objetiva exige a conduta de sequestrar, que nada mais é do que privar a liberdade da
pessoa, mesmo que por pouco tempo e, enquanto durar a privação, o crime estará se consumando, por
ser infração permanente.
Dúvida existe na possibilidade da pessoa privar a liberdade da vítima não através do sequestro, mas
de cárcere privado, havendo entendimento que, no segundo caso, está descaracterizada a infração, se
bem que o melhor entendimento é de que o cárcere privada é espécie do qual o sequestro é gênero,
permanecendo, assim, o crime.
A subjetividade exige o dolo, qual seja, a vontade de sequestrar, acrescido do elemento subjetivo que
é o de obter a vantagem para si ou para outrem, vantagem esta que deve ser apreciada economicamente.
Se por ventura a vantagem for devida pela vítima, teremos o crime de exercício arbitrário das próprias
razões.
Quando a lei se refere a resgate, automaticamente se pensa em dinheiro, mas, nem sempre a
vantagem consiste em dinheiro, podendo ser qualquer outra utilidade.
Como condição deve se entender a exigência da prática de algum ato que redunde em lucro (vantagem
econômica, mas, que não seja a entrega de dinheiro, como a assinatura de uma promissória.
A consumação do crime ocorre com o arrebatamento da vítima, não sendo necessária a obtenção do
resgato, por tratar-se de crime formal, de consumação antecipada.
Mesmo sendo um crime formal, a tentativa é possível, como no caso do agente é preso quando tenta
arrebatar a vítima.
Prevê o legislador formas qualificadas para o crime em estudo.
A primeira hipótese é quando a privação da liberdade dura mais de 24 horas, por haver um dano maior
à liberdade do indivíduo, bem como maior sofrimento para a família ou entes queridos.

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O segundo caso é ser a vítima do sequestro menor de 18 anos, por terem estes menor possibilidade
de resistência.
O crime quando é praticado por quadrilha ou bando, também é qualificado, por ser mais fácil a prática
do crime nestas circunstâncias, sendo necessário que os componentes estejam reunidos para a prática
de crimes, o que dá possibilidade da punição pelo crime de extorsão mediante sequestro e de formação
de quadrilha ou bando em concurso.
O resultado também qualifica o crime de extorsão mediante sequestro, no caso de resultar lesão
corporal de natureza grave, ou morte, sendo que, neste último caso, a pena será de 24 a 30 anos de
reclusão, a maior estabelecida em nossa legislação penal. Entretanto, para que esteja presente a
qualificadora, necessário se faz que a morte seja do sequestrado, pois, se outro morrer, haverá crime de
homicídio em concurso com a extorsão mediante sequestro.
Não é necessário que a morte ou lesão corporal grave decorra da violência para o sequestro, mas
também, através dos maus tratos e do modo da privação da liberdade, sem se importar se a morte adveio
de dolo ou culpa.
Além das qualificadoras o legislador também coloca agravantes no crime, quando praticado contra
vítima não maior de 14 anos, contra alienada ou débil mental, desde que o fato seja conhecido pelo agente
e se a vítima por qualquer outro motivo está impossibilitado de oferecer resistência.
Existem também um caso de redução obrigatória da pena, quando o crime é praticado por quadrilha
ou bando e u dos componentes delata os outros a ponto de ficar fácil o esclarecimento do crime e a
liberação da vítima, devendo a pena ser diminuída somente quando a polícia consegue libertar a vítima.

EXTORSÃO INDIRETA: a previsão se encontra no artigo 160 do CP e o conceito é: exigir ou receber


como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a
procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro. Exemplo é o do agente (agiota) que, para garantir
uma dívida pega uma declaração da vítima na qual ela confessa a prática de um crime.
Tem por objetivo o legislador a proteção do patrimônio da vítima, mas também, sua liberdade
individual.
Sujeito ativo é qualquer pessoa que exige ou recebe a garantia, mesmo o terceiro. Pratica o crime a
pessoa que exige garantia para interceder junto a credor para a liberação de um empréstimo.
Sujeito passivo é a pessoa que cede ou oferece a garantia.
A descrição objetiva exige as condutas de exigir ou receber, portanto, crime de ação múltipla,
praticando o crime a pessoa que incorrer em uma das ações.
Existe também o objeto material, consistente no documento oferecido ou entregue pela vítima.
O legislador exige que o documento seja passível de dar início a um procedimento criminal, mas não
exige que este procedimento seja iniciado.
Para a caracterização do crime é indispensável que o agente abuse da situação de dificuldade da
vítima, não existindo o abuso, estará descaracterizado o crime.
A subjetividade consiste no dolo, na vontade de exigir ou receber o documento que pode dar causa
a início de procedimento criminal, aliado ao elemento subjetivo que é a garantia de dívida, se este não
estiver presente o crime será de constrangimento ilegal.
A consumação ocorre no momento em que o documento é exigido ou recebido, sendo que no primeiro
caso trata-se de crime formal e a tentativa somente é possível quando a exigência é por escrito, enquanto
que, no segundo caso, é crime material, onde é perfeitamente cabível a tentativa.
Alguns entendem que, não conseguindo o agente o recebimento do crédito e utilizando o documento,
pratica crime de denunciação caluniosa em concurso, entretanto, este não é o entendimento correto, pois
o crime de extorsão já ocorrera anteriormente e a ato consistiu e exaurimento daquele e, portanto, fato
posterior não punível.

DA USURPAÇÃO

DA USURPAÇÃO: Se nos artigos anteriores o legislador protegeu o patrimônio do indivíduo em


relação às coisas móveis, a partir destes artigos, a seguir estudados, o legislador protege o patrimônio
com vistas as coisas imóveis. São eles:
ALTERAÇÃO DE LIMITES: cuja previsão se encontra no artigo 161, "caput" do CP com se seguinte
conceito: Suprimir ou deslocar tapume, marco ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para
apropriar-se no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia. A pena é de detenção de 1 a 6 meses, além da
multa.
O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio imobiliário, visando de modo direto a posse e
indiretamente a propriedade.

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Pode ser sujeito ativo a pessoa que suprime o marco ou outro sinal de divisória, fato que, a princípio
indica que somente o vizinho possa praticar o crime, mas, numa análise mais profunda se verifica que o
futuro comprador de uma área pode perfeitamente praticar o crime, bem como o condômino.
Sujeito passivo é o proprietário ou o possuidor da coisa.
A descrição objetiva exige a presença de objeto material, que é o tapume, como cercas e muros,
marcos como tocos ou barras de cimento e outro sinal indicativo de linha divisória.
A conduta é suprimir, fazer desaparecer ou deslocar, mudando de lugar, modificando, assim, os limites
do imóvel.
Como a lei é omissa no caso de colocação de tapume ou marco novo, esta conduta não caracteriza o
crime.
A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de alterar o limite, aliado ao elemento subjetivo do
injusto, que é a vontade de se apossar do imóvel. Se não estiver presente o crime será outro.
A consumação ocorre com a supressão ou deslocamento do sinal divisório, mesmo que o agente não
consiga se apropriar da coisa.
A tentativa é possível.
Caso haja o emprego de violência, o agente responderá pela violência praticada em concurso.
A ação penal é privada, mas, se houver emprego de violência e a propriedade não for privada a ação
será pública incondicionada.

USURPAÇÃO DE ÁGUAS: A conduta deste crime vem descrita no artigo 161, § 1º do C.P. com a
seguinte redação: quem desvia ou represa em proveito próprio ou de outrem água alheia.
O objetivo do legislador é proteger a posse de uso e gozo de águas particulares ou comuns,
consideradas imóveis enquanto anexas ao solo.
Pode ser sujeito ativo do crime qualquer pessoa que pratica as condutas descritas, mas, o normal é
que tal crime ocorra entre vizinhos que se utilizam da mesma água.
O sujeito passivo é a pessoa que tem a posse da água para uso e gozo.
A descrição objetiva prevê objeto material, a água, que pode consistir num rio, ou lagoa, lago,
represa, nascentes, etc., sendo consideradas alheias as águas todas aquelas que não pertença ao agente
e comuns, àquela que é utilizada pelo agente, mas, também, por outras pessoas.
As condutas previstas são desviar, que significa mudar de rumo, ou represar, que significa conter em
determinado local.
A subjetividade exige o dolo, vontade de desviar ou represar a água, acrescida do dolo específico,
de obter o proveito próprio ou para terceiro.
A consumação do crime ocorre no momento do desvio ou do represamento e a tentativa é
perfeitamente possível.
Se na conduta for utilizada violência o agente responderá por ela e, caso haja inundação o crime será
o previsto no artigo 254 do C.P.
A exemplo do crime anterior, caso não haja emprego de violência e a propriedade for privada a ação
será privada e, nos demais casos, pública incondicionada.

ESBULHO POSSESSÓRIO: Este crime vem previsto no artigo 161, § 1º, inciso II do C.P. que incrimina
a conduta de quem invade com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de
duas pessoas, terreno ou edifício alheio para o fim de esbulho possessório.
O objetivo do legislador, mais uma vez é a proteção do patrimônio representado pelos bens imóveis
e, indiretamente, a integridade física e a liberdade individual da vítima.
Pode ser sujeito ativo qualquer pessoa, com exceção do proprietário, sendo perfeitamente admissível
a prática do crime por parte do condômino.
Sujeito passivo do crime é o possuidor do imóvel ou seu proprietário.
A descrição objetiva prevê a conduta de invadir, que nada mais é que entrar, mas, a invasão deve
ser através de violência ou grave ameaça a pessoa e, em não havendo violência, que a prática do crime
seja realizada por concurso de mais de duas pessoas, que indica a participação de no mínimo quatro
pessoas, mais de duas, que equivale a três e o agente, totalizando quatro.
O objeto material é o terreno ou o edifício alheio, quer sejam rurais ou urbanos.
Como subjetividade deve estar presente o dolo, vontade de invadir, com a finalidade específica de
assumir a posse do imóvel.
A consumação do crime ocorre quando o agente entra, se for sua intenção o apossamento do terreno
ou edifício e a tentativa é possível.
Distinção que deve ser lembrada ocorre quando, o agente, tem algum direito sobre a coisa, o crime
praticado será de exercício arbitrário das próprias razões e, quando se tratar de unidade imóvel do

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Sistema Financeiro de Habitação o crime está previsto no artigo 9º da Lei 5.741/71 e o julgamento estará
afeto à Justiça Federal.
No caso de emprego de violência, o agente responderá pelas penas correspondentes, em concurso.
A ação penal é pública incondicionado quando houver o emprego de violência ou se o imóvel for
público, nos demais casos a ação penal é privada.

SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE MARCAS EM ANIMAIS: Artigo 162.


O objetivo do legislador é defender a propriedade dos semoventes, considerados imóveis por acepção
intelectual, considerados móveis para efeitos penais.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime em estudo, mas, caso seja o crime, meio para a
prática de outro, furto, por exemplo, será absorvido pelo crime fim.
Sujeito passivo é o proprietário do animal ou animais que tem a marca modificada ou suprimida.
A descrição objetiva prevê condutas de suprimir, que nada mais é que fazer sumir a marca ou sinal
existente ou alterar, que nada mais é que modificar, disfarçar.
A conduta recai sobre a marca ou sinal e estes são considerados objeto material do crime. Como
marca deve se entender aquela feita a fogo no couro do animal e sinal é todo aquele distintivo que não
seja a marca, tais como brincos, argolas, corte de parte do chifre do animal, etc.
Outro entendimento que deve ser traduzido é que se refere o legislador a gado ou rebanho, sendo o
gado, os quadrúpedes de grande porte, como a vaca, rebanho quer significar animais de pequeno porte,
sendo necessário que a supressão ou alteração da marca ou sinal seja realizada no rebanho, não
caracterizando o crime caso seja somente um animal.
É fundamental que o gado ou rebanho seja alheio.
Como subjetividade pode-se identificar o dolo, qual seja, a vontade de suprimir ou alterar a marca ou
sinal, desde que indevidamente, face a existência deste elemento normativo.
A consumação ocorre quando o agente suprime ou altera a marca ou sinal no animal, existindo
entendimento de que basta em um único animal.
A tentativa é possível.
A título de concurso deve-se esclarecer que, caso o agente, após a supressão, subtraia os animais
ou deles se aproprie, responderá o agente por estes crimes e não pelo de supressão de marca ou sinal.

DO DANO

DO DANO: Estudaremos os crimes que afetam diretamente a coisa em seu aspecto físico.
DANO: artigo 163, cujo conceito é destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia, sendo necessária
somente a vontade de o agente destruir a coisa, mesmo que não vise nenhum lucro.
Mais uma vez o objetivo do legislador é a proteção do patrimônio, em especial a propriedade das
coisas, quer móveis ou imóveis, sendo protegida, indiretamente a posse.
Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa que pratique uma das condutas, não o podendo ser o
proprietário, já que a coisa deve ser alheia, havendo posição em contrário. Sem discussão alguma a
possibilidade de praticar o crime o condômino.
Sujeito passivo é o proprietário ou possuidor da coisa que foi destruída, deteriorada ou inutilizada.
A descrição objetiva prevê três modalidades de conduta. A primeira delas é destruir, que significa
desfazer, desmanchar, inutilizar significa tornar imprestável, impossibilitar o uso, deteriorar é estragar,
mesmo que sejam totais ou parciais, pois, em ambas as hipóteses o crime está caracterizado.
A conduta fazer desaparecer não está prevista pelo legislador, portanto, por força do princípio da
legalidade, tal conduta não pode ser punida.
O crime de dano pode ser praticado tanto por ação, como por omissão.
Sem dúvida alguma existe o objeto material, qual seja, a coisa alheia móvel sobre a qual recai a
conduta do sujeito ativo, desde que esta coisa tenha valor econômico.
Por ser crime que deixa vestígios, é obrigatória a realização de exame de corpo de delito para sua
configuração.
A título de subjetividade deve estar presente, em primeiro lugar, a vontade em praticar uma das
condutas previstas pelo legislador, sendo discutida a exigência do dolo específico, ou seja, a finalidade
no agente de causar prejuízo à vítima, entendendo alguns doutrinadores que é necessária esta intenção
e outros, maioria, pugnam pela desnecessidade de tal finalidade para a caracterização do crime. Não há
necessidade de que o agente tenha a intenção de lucro para que se tenha por praticado o crime.
Não há modalidade culposa para o crime de dano, assim, acidentes de trânsito, no qual não resulta
vítima, ou mesmo resultando, os danos materiais serão discutidos na área cível, por não consistir em
ilícito penal.

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A consumação do crime ocorre com a destruição, inutilização ou deterioração da coisa, e a tentativa
é perfeitamente possível.
Natural que se o crime de dano for praticado como meio para outro mais grave, será absorvido por
este.
Prevê o legislador as figuras do dano qualificado, cujas hipóteses se encontram no parágrafo único
do artigo 163 que são:
1- quando o crime é cometido mediante violência ou grave ameaça à pessoa, que consistem na prática
de ao menos vias de fato para a prática do crime, merecendo maior punição por demonstrar maior
periculosidade no agente. É natural que o agente também responde, em concurso, pelas penas da
violência.
2- o emprego de substância inflamável ou explosiva, quando não constituir crime mais grave (como
incêndio ou explosão), pois a utilização destas substância é sempre mais danosa e geralmente causa
perigo a outras pessoas. Como o legislador estabelece a aplicação da qualificadora quando o fato não
constituir crime mais grave, identificamos um caso de subsidiariedade expressa.
3- quando o crime é praticado contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de
Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviços públicos. O inciso III do parágrafo único do artigo 163 do Código Penal foi
alterado pela Lei 13.531/2017, para incluir também como dano qualificado os crimes cometidos contra o
Distrito Federal e contra as Autarquias, Fundações Públicas e Empresas Públicas corrigindo assim uma
omissão do Código Penal que tipificava como dano qualificado a destruição, inutilização ou deterioração
do patrimônio da União, dos Estados e dos Municípios, mas nada mencionava sobre o Distrito Federal e
sobre os demais entes da Administração Indireta.
4- ainda qualifica o dano quando o crime é praticado por motivo egoístico ou com prejuízo considerável
à vítima, pois, no primeiro caso o agente demonstra um menosprezo desnecessário e antissocial,
enquanto que no segundo caso, por ser a pena, ou pelo menos a intenção do legislador, uma sanção
proporcional ao fato, sendo grande o prejuízo, maior será a pena aplicada. Como o legislador fala e
prejuízo para a vítima, deve ser levada em consideração a sua situação econômica.
A ação penal no dano simples e qualificado por motivo egoístico é privada, nos demais casos é pública
incondicionada.

INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM PROPRIEDADE ALHEIA: Artigo 164 que define:


introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem o consentimento de quem de direito, desde que
o fato resulte prejuízo.
O objetivo do legislador é a proteção da propriedade e da posse, seja ela rural ou urbana.
Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa, havendo entendimento divergente de que até o proprietário
pode praticar o crime quando introduz ou deixa animal em propriedade sua, mas onde terceira pessoa
exerça a posse legítima.
Sujeito passivo é o proprietário ou o legítimo possuidor da coisa.
A descrição objetiva obriga à análise de duas condutas a primeira é introduzir, ou seja, colocar para
dentro o animal que se encontra fora. Já a conduta deixar, implica em não retirar os animais que já se
encontravam dentro da propriedade alheia.
O legislador utiliza o termo animais no plural, mas não implica que a introdução seja de diversos
animais, pode ser somente um, pois o legislador quando fala animais quer dizer, de qualquer espécie.
Como objeto material tem-se a propriedade alheia.
No caso deste crime o legislador exige a ocorrência efetiva de prejuízo e, caso não houver este o crime
estará descaracterizado.
No artigo se identifica, também, um elemento normativo, pois a conduta será lícita se houver
consentimento de quem de direito.
Na subjetividade deve estar presente o dolo, que consiste na vontade de realizar uma das condutas
descritas, não havendo necessidade de finalidade especial, mas se existir esta, poderá estar
caracterizando-se outro crime, como o exemplo do proprietário de animais que introduz estes em
propriedade alheia para alimentá-los, praticando crime de furto.
A consumação do crime ocorre com o prejuízo, portanto, é impossível a tentativa, pois ou há prejuízo
e o crime se consuma, ou não há e teremos um fato atípico.
A ação penal é privada.

DANO EM COISA DE VALOR ARTÍSTICO, ARQUEOLÓGICO OU HISTÓRICO: Artigo 165, que


define o crime como destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude
de valor artístico, arqueológico ou histórico.

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Tem por objetivo o legislador proteger o patrimônio ideológico da nação, defendendo as coisas de
interesse comum.
Pode ser sujeito ativo do crime qualquer pessoa, inclusive o proprietário, por ter a coisa interesse
público.
Sujeito passivo é a União, estado ou município e, ainda, o proprietário, quando não for sujeito ativo.
A descrição objetiva prevê as mesmas condutas para o dano simples, com diferença no objeto material,
que, no caso, é a coisa tombada.
A título de subjetividade exige o legislador o dolo, vontade de praticar uma das condutas, acrescido
do conhecimento a respeito do tombamento da coisa.
A consumação e a tentativa ocorrem nas mesmas hipóteses enumerados no dano simples.
No tocante ao concurso de crimes dúvida surge quando se tratar de coisa pública tombada, pois, é
qualificado o dano contra esta coisa, com previsão de pena maior do que a estabelecida neste artigo.
Existem doutrinadores que entendem que o agente, no caso responderá pelos dois crimes em concurso
formal, outros entendem que a responsabilização será pelo crime do artigo 165, porque é especial em
relação ao dano qualificado.
Por força do artigo 5º da Lei 3.924/61, o dano causado ao patrimônio arqueológico ou pré-histórico,
fica sujeito a penas idênticas.
A ação penal é pública incondicionado e, quando tratar-se de interesse nacional, o julgamento do
crime ficará afeto à Justiça Federal.

ALTERAÇÃO DE LOCAL ESPECIALMENTE PROTEGIDO: Crime previsto no artigo 166 do C.P.


O objetivo do legislador é idêntico ao anterior.
Sujeito ativo: idem anterior
Sujeito passivo: idem anterior
A descrição objetiva exige conduta de alterar, que implica em modificar o local que é protegido de
forma especial, quer altere sua substância ou sua aparência, quer seja o local natural ou de produção
humana, se relacionando o crime às chamadas coisas imóveis, não prevalecendo sobre às móveis.
Verifica-se a presença de elemento normativo, no termo sem licença da autoridade competente.
Como subjetividade exige-se o dolo, ou seja, a vontade de praticar a conduta descrita no tipo, aliada
ao conhecimento de que a coisa é protegida de maneira especial.
A consumação ocorre com a alteração do local e a tentativa é possível.
Como concurso pode se apresentar com o crime de dano, quando a alteração se der por uma das
modalidades previstas naquele crime.
Pode haver, também, a prática de uma contravenção contra a fauna.
A ação penal é pública incondicionada.

DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA:

APROPRIAÇÃO INDÉBITA: a apropriação indébita considerada está prevista no artigo 168 do C.P.,
com o seguinte conceito: Apropriar-se de coisa alheia móvel de que tem a posse ou a detenção, pena de
reclusão de 1 a 4 anos e multa. Da definição pode-se extrair, a princípio que, para a prática do crime o
agente deve ter a posse ou detenção da coisa e que a tenha obtida de maneira legítima.
Tem por objetivo o legislador, mais uma vez, proteger o patrimônio da vítima, principalmente a
propriedade, mas, de forma indireta a posse da coisa móvel.
Pode ser sujeito ativo do crime qualquer pessoa que esteja na posse ou detenção da coisa móvel,
alheia, desde que posse legítima, portanto, o coerdeiro e o coproprietário, podem ser sujeito ativo.
Sujeito passivo do crime, em regra, é o proprietário, mas, toda pessoa que sofrer a perda da coisa,
como o possuidor, será considerado vítima do crime. Para não errar, considera-se vítima do crime de
apropriação indébita, aquele que sofre o prejuízo.
A descrição objetiva prevê como objeto material a coisa alheia móvel, em regra infungível, pois, as
coisas fungíveis somente podem ser objeto material quando entregues para transmissão a terceiros e são
apropriadas pelo intermediário, assim, o dinheiro, quando emprestado não pode ser objeto material do
crime, mas, no caso de cobradores que se apoderam da quantia recebida e não entregam ao credor, o
crime existe. Os direitos e ações só podem ser objeto quando representados por algum título e, se a coisa
não tem valor econômico ou sentimental não haverá crime.
O imóvel não é objeto material deste crime.
Deve estar presente o pressuposto da posse ou detenção anterior e legítima da coisa. Como posse
deve entender-se a relação da pessoa com a coisa ou o exercício de poder em relação a ela, desde que

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haja utilização econômica. Como detenção deve se entender o fato da pessoa que conserva a posse em
nome de terceiro, quer por submissão a ordens, quer por permissão ou tolerância.
Tanto a posse quanto a detenção devem preexistir ao crime.
Deve ser direta a posse para que caracterize o crime, assim, o locador e o devedor não podem pratica-
lo.
A detenção, para a caracterização do crime não pode ser vigiada, caso contrário, haverá furto.
Não existe crime de apropriação de coisas ilícitas ou de origem criminosa.
Devem estar presentes, também, os seguintes requisitos: a tradição livre e consciente, a origem
legítima e a disponibilidade da coisa pelo sujeito ativo.
É legítima a posse quando decorrente de uma relação obrigacional (contrato ou quase contrato).
Como conduta prevê o legislador o verbo apropriar-se, ou seja, manifestação de fazer e usar a coisa
alheia como se fosse o proprietário, desde que ausente a intenção de restituir a coisa.
A simples utilização da coisa, sem previsão no contrato não caracteriza o crime.
É importante lembrar que, normalmente, há prazo para a devolução da coisa e o crime em estudo
somente pode ocorrer após o vencimento deste prazo.
Quando não houver prazo estabelecido, deve-se verificar a manifestação do agente em praticar a
conduta descrita na norma.
A subjetividade exige, fundamentalmente a presença do dolo, ou seja, a vontade de apropriar-se da
coisa alheia móvel, acrescido do dolo específico que consiste na vontade de ter a coisa como proprietário,
para si ou para outrem.
Se estiver presente direito de retenção, não haverá crime, bem como no caso da pessoa que está
impossibilitada, desde que não seja por ato próprio, de restituir a coisa.
A consumação é de difícil apuração por depender exclusivamente de circunstâncias subjetivas. Deve-
se entender por consumado o crime quando o agente transforma a posse ou detenção em propriedade,
fato demonstrado através de atitudes do agente, incompatíveis com a vontade de devolver a coisa.
Para a caracterização do crime de apropriação indébita é necessário a ocorrência ou prejuízo.
Embora de difícil caracterização é possível a tentativa.
Se houver transação, composição ou novação a respeito da coisa, estará descaracterizado o crime.
Algumas distinções devem ser apresentadas. Em primeiro lugar com o estelionato, sendo que neste o
dolo está presente antes da posse da coisa enquanto na apropriação indébita o dolo é posterior à posse.
Se não houver a tradição livre e consciente haverá crime de furto. No caso de funcionário público o
crime é peculato. A apropriação de valor de Previdência Social é crime previsto no artigo 155, II, da Lei
3.807/60.
Concurso: Há entendimento de que havendo a prática de crime meio para a apropriação indébita, o
agente responderá por ambos em concurso material, desde que o crime lese bem jurídico diverso do
patrimônio, mas, alguns entendem que o crime meio será absorvido.
Admite-se a continuidade delitiva.
No caso de apropriação de coisa comum é possível o privilégio previsto no artigo 156.
Qualificadora: previstas no §1º do artigo 168.
O inciso I se refere ao caso de apropriação decorrer de depósito necessário, que se divide em legal e
miserável, sendo este o realizado em caso de calamidade pública, bem como, as bagagens de hóspedes
ou fregueses.
No inciso II, qualificou-se a apropriação praticada por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante,
testamentário ou depositário judicial por houver violação aos deveres impostos a estes encargos.
No inciso III, prevê-se a apropriação indébita em decorrência de ofício, emprego ou profissão, casos
em que se dispensa maiores detalhes.
Privilégio: Aplica-se ao crime o privilégio previsto no artigo 155, § 2º do C.P.
A ação penal, neste crime é pública incondicionada.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA:

Este ilícito está descrito no Código Penal, da seguinte forma:

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa
§1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha
sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;

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II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou
custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;
III – pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido
reembolsados à empresa pela previdência social.
§2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento
das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma
definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
§3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a multa se o agente for primário e
de bons antecedentes, desde que:
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da
contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou
II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido
pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
execuções fiscais.
§ 4o A faculdade prevista no § 3o deste artigo não se aplica aos casos de parcelamento de
contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente,
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei nº 13.606, de
2018)

O bem jurídico tutelado são as fontes de custeio da seguridade social, particularmente os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social (art. 194 da CF). São protegidas especialmente
contra a apropriação indébita que pode ser praticada por quem tem o dever de recolher os tributos e
taxas. É, em outros termos, a tutela da subsistência financeira da previdência social.
Sujeito ativo é o substituto tributário, que por Lei, tem o dever de recolher do contribuinte e repassar
as contribuições à previdência social. Sujeito ativo, nas figuras descritas no §1º, é o titular de firma
individual, os sócios solidários, os gerentes, diretores ou administradores que efetivamente hajam
participado da administração da empresa, concorrendo efetivamente na prática da conduta criminalizada.
Sujeito passivo é o Estado, representado pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), que é órgão
encarregado da seguridade social.
A conduta tipificada no caput é “deixar de repassar” que tem o sentido de não transferir, não recolher
ou não pagar à previdência social as contribuições recolhidas ou descontadas dos contribuintes, no prazo
e forma legal ou convencional.
O crime de apropriação indébita previdenciária é delito omissivo próprio ou de pura omissão,
independentemente do resultado posterior. Segundo Damásio de Jesus os crimes omissivos próprios "se
denominam os que se perfazem com a simples abstenção da realização de um ato, independentemente
de um resultado posterior. O resultado é imputado ao sujeito pela simples omissão normativa".
O elemento subjetivo geral é o dolo, representado pela vontade consciente de deixar de repassar à
previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes.
Trata-se de crime instantâneo, eis que a sua consumação se verifica no mesmo instante em que se
vence o prazo para o agente efetuar o recolhimento e deixa de repassar a quantia a quem de direito. Isso
significa que não há uma continuidade temporal, a exemplo do que ocorre no sequestro.
Segundo Castro, o crime pode ser continuado se persistirem os repetidos atos omissivos.
Ele é monossubsistente porque se realiza com um só ato (deixar de repassar). Difere, portanto, dos
crimes plurissubsistentes, a exemplo, do crime de estelionato que exige o emprego da fraude e, ainda, a
vantagem ilícita em prejuízo alheio.
Via de regra, a competência para apurar essa infração é da Justiça Federal, conforme o art. 109, IV,
da CF.

Em resumo, trata-se o presente delito de:


a) Crime próprio (exige qualidade ou condição especial do sujeito ativo, o substituto tributário, no caso
do caput);
b) Formal (para sua consumação não se exige resultado naturalístico);
c) Omissivo (a ação tipificada implica abstenção de atividade – “deixar de”);
d) Instantâneo (a consumação não se alonga no tempo, ocorrendo em momento determinado);
e) Unissubjetivo (podem ser praticado por uma única pessoa, como a maioria dos crimes, que não são
de concurso necessário); e
f) Monossubsistente ou unissubsistente (praticado em um único ato dificilmente poderá caracterizar-
se a figura tentada).

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Atenção: Cabe ressaltar que embora não tenha ocorrido revogação expressa do disposto no artigo
168-A, §2º e §3º, I, do CP, com o advento da Lei nº 10.684/2003 e da Lei nº 11.941/2009, estes
dispositivos não tem mais eficácia, devendo ser observado para a extinção da punibilidade dos agentes
o previsto nas mencionadas leis. São as modificações trazidas pelas leis:
1) Lei nº 10.684/2003, artigo 9º: efetuar o pagamento integral do débito a qualquer tempo extingue a
punibilidade; e, o parcelamento, após a sua devida consolidação, suspende o processo (não exige
qualquer outro requisito).
2) Lei nº 11.941/2009, arts. 68 e 69: é suspensa a pretensão punitiva do Estado. Este preceito, porém
não é aplicado para qualquer parcelamento, apenas para os oriundos desta lei, isto é, somente os
vigentes a partir de 2009.
Nota-se que o pagamento pelo o que prevê o CP deveria ser feito antes da Ação Fiscal, ou seja, antes
da notificação do lançamento do tributo. Outrossim, com a alteração de 2003 o pagamento a qualquer
tempo passou a ser reconhecido como forma de extinção da punibilidade; sendo esta norma repetida em
2009, “assim o PAGAMENTO DO DÉBITO A QUALQUER TEMPO EXTINGUE A PUNIBILIDADE”.

A Extinção da punibilidade significa a extinção da pretensão punitiva do Estado, como acontece, por
exemplo, na prescrição penal. Você comete o crime, mas o Estado não poderá mais aplicar-lhe a pena.
Para a exclusão, é necessário o recolhimento integral do devido.

Em 2018, a Lei nº. 13.606/2018 de 10 de janeiro de 2018, instituiu o Programa de Regularização


Tributária Rural – PRR e dentre suas alterações, incluiu o § 4º ao artigo 168-A, senão vejamos:

CP -168-A (...)
(...)
§ 4o A faculdade prevista no § 3o deste artigo não se aplica aos casos de parcelamento de
contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente,
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.

PERDÃO JUDICIAL: É facultado ao Juiz deixar de aplicar de pena ou somente aplicar a multa se o
agente for primário e de bons antecedentes, desde que tenha promovido após o início da ação fiscal e
antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios,
ou que o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido
pela previdência social, administrativamente, ou como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
execuções fiscais. Como vimos, caso o sujeito ativo pague a contribuição social será extinta a sua
punibilidade, não havendo que se falar em perdão judicial. Na segunda hipótese, consoante a Portaria nº
75, de 22 de março de 2012, do Ministério da Fazenda, o valor mínimo para ajuizamento de execução
fiscal é de R$ 20.000,00.

FORMA PRIVILEGIADA DO CRIME: Referido delito está incluso no capítulo V, do Código Penal, o
qual dispõe sobre os crimes contra o patrimônio, sendo então aplicável o artigo 170, do CP, o qual remete
ao artigo 155, §2º, do mesmo código, que diz:

“Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o Juiz pode substituir a pena de
reclusão pela de detenção diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa”.

Dessa forma, podemos notar que o delito em estudo tem sua forma privilegiada.

APROPRIAÇÃO DE COISA HAVIDA POR ERRO, CASO FORTUITO OU FORÇA DA NATUREZA.


O objetivo do legislador é a proteção da propriedade das coisas móveis, já que é vedado o
enriquecimento ilícito.
Qualquer pessoa que pratica a conduta descrita pode ser sujeito ativo do crime e o proprietário da
coisa será sujeito passivo embora terceira pessoa ter incidido em erro.
Em relação à descrição objetiva pode esclarecer se o objeto material é o mesmo do crime anterior.
A diferença pode ser apontada na origem da posse da coisa que, neste caso, é havida por erro,
consistente no falso conhecimento a respeito de determinada coisa que pode incidir sobre a pessoa,
sobre a coisa, em um pagamento indevido, como o caso de sacar dinheiro depositado por engano ou
ainda por caso fortuito ou força da natureza, que podem ser definidos igualmente como fatos inevitáveis
ou que não se podia impedir.

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A conduta é idêntica ao crime anterior.
Na subjetividade exige-se o dolo, qual seja, a vontade de apropriar-se da coisa, acrescido do dolo
específico que é o destino da utilização da coisa para si ou para outrem.
A consumação ocorre no momento que o agente transforma a posse em propriedade. Em relação a
tentativa, utiliza-se os conhecimentos fornecidos pela análise do crime anterior.
Aplica-se o privilégio do artigo 155, § 2º.
A título de distinção e importante saber se, caso o agente provoque o erro haverá estelionato, o mesmo
ocorrendo quando o agente conhecendo o erro, não o desfaz.

APROPRIAÇÃO DE TESOURO: artigo 169, parágrafo único, inciso I.


Protege o legislador a propriedade do tesouro.
É sujeito ativo aquele que encontra o tesouro, com exceção do proprietário das terras onde foi
encontrado.
Descrição objetiva: objeto material é o tesouro, de onde se excluem as jazidas e minas de metais
preciosos. A conduta é apropriar-se do tesouro, pois o proprietário do imóvel onde foi encontrado tem
direito a 50% do que foi encontrado.
A subjetividade exige o dolo, consistente na vontade de não entregar a cota da qual o proprietário tem
direito, desde que ele tenha autorizado a pesquisa, pois, caso contrário haverá furto.
Na consumação e tentativa devem ser utilizados os mesmos conhecimentos dos artigos anteriores.

APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA: artigo 169, parágrafo único, II.


O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio e, indiretamente a posse de coisa móvel.
Qualquer pessoa que encontra a coisa alheia perdida pode ser sujeito ativo do crime.
Sujeito passivo é o proprietário ou possuidor da coisa perdida.
Descrição objetiva: objeto material é a coisa alheia perdida (extraviada) e diverge da coisa esquecida,
a qual o dono pode saber onde se encontra, também defere de coisa abandonada, que não caracteriza o
crime.
A conduta é dupla, em primeiro lugar a vítima deve encontrar a coisa e, posteriormente deve haver a
apropriação. Neste ponto tem o agente a obrigação de restituir a coisa, quando conhecer o dono ou se
desconhecer, a obrigação de entregar à autoridade competente no prazo de 15 dias, sendo possível a
prática do crime antes deste prazo quando o agente manifesta a intenção de fazer como sua a coisa.
A subjetividade exige o dolo, que não pode ser confundido com negligência.
Pode ocorrer, neste caso, o erro sobre a ilicitude do fato, como o velho ditado popular de que o achado
não é roubado.
Consumação e tentativa idem ao anterior.
A privilegiadora do artigo 155, § 2º é aplicada.

DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES

ESTELIONATO:
Ainda dentro dos crimes contra o patrimônio temos o estelionato, caracterizado pela não utilização de
violência, mas, do aproveitamento intelectual de uma sobre outra pessoa, através da utilização de um
meio enganoso, que causa prejuízo à vítima.
Prevê o legislador diversas condutas na qual o agente utiliza-se da malícia para a obtenção da
vantagem indevida, sendo a primeira a constante do artigo 171, conhecido como estelionato simples.
O conceito do crime é: Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo
ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento, cuja pena
imposta é de reclusão de 1 a 5 anos, além da multa.
Em primeiro lugar, deve-se buscar o entendimento do significa de fraude, lembrando que ela pode
estar presente em qualquer ato humano, mas, às vezes, tem consequência civil, enquanto em outras
haverá sanção penal.
Portanto devemos diferenciar, ainda que única, a fraude civil da fraude penal. A primeira diferenciação
oferecida é a de que a fraude civil lesa somente o indivíduo individualmente, a ponto de a conduta não
interferir na vida social, enquanto a fraude penal, além do prejuízo causado individualmente à pessoa,
causa distúrbio na convivência pacífica da sociedade.
A distinção mais importante é no sentido de que na fraude civil o agente visa somente um lucro maior
num negócio lícito, enquanto na fraude penal o agente visa uma vantagem indevida.
O que deve ser lembrado é que, na essência, a fraude é uma só.

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O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio e, de forma indireta, protege a regularidade dos
negócios jurídicos.
Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa, crime comum, inclusive terceiro beneficiado pela conduta,
desde que agindo de má-fé.
Sujeito passivo é a pessoa que sofre o prejuízo patrimonial, embora outra possa ser enganada na
conduta, devendo ser sempre pessoa determinada, pois, se indeterminada o crime será contra a
economia popular.
A descrição objetiva prevê conduta de empregar meio fraudulento que consiste no ardil, artifício ou
qualquer outro meio.
Deve-se entender como artifício o método utilizado para modificar a aparência material de alguma
coisa para que, com esta aparência a vítima seja levada a erro e sofra o prejuízo, tal como a utilização de
um documento falsificado.
Ardil é a utilização da astúcia, da conversa, sem modificação na aparência da coisa, mas sim, na
aplicação da facilidade da fala para, com ele, levar a vítima a erro, tal como a mentira utilizada para
convencer a vítima a praticar ato que termine em seu prejuízo.
Para concluir a lei fala em outro meio fraudulento, que pode ser definido como aquilo que leve a vítima
a erro, causando o prejuízo, que não consista em artifício ou ardil, tal como o silêncio a respeito de
determinado fato.
Qualquer que seja o meio empregado, deve ser ele apto a enganar a vítima e, esta aptidão é
determinada de acordo com o caso concreto e com as condições da vítima, portanto, de forma subjetiva,
havendo entendimento em contrário, assim, uma falsificação grosseira de determinado documento é meio
inidôneo e não caracteriza o crime.
A conduta é induzir e manter alguém em erro, sendo que induzir significa criar a situação para levar
ao erro, em sínteses, é o fato de criar o erro e, manter alguém em erro é aproveitar-se de um erro pré-
existente, empregando o meio para que a vítima permaneça no erro.
O objeto do crime é a vantagem a ser obtida com a conduta, qualquer que seja ela, sendo para o
agente ou para terceiro, e, ilícita, pois, se devida o crime será de exercício arbitrário das próprias razões.
O prejuízo efetivo deve estar presente para caracterização do crime.
É comum a chamada fraude bilateral nos crimes de estelionato, pois, na maioria das vezes o meio
fraudulento empregado da aparência de um lucro excessivo para a vítima que, em tese, também é
indevido. Os doutrinadores discutem se na existência desta fraude, o crime de estelionato estaria
descaracterizado, pois, tanto agente como vítima pretendiam uma vantagem ilícita. Os argumentos são
contundentes nos dois sentidos, entretanto, é bom lembrar que a vítima, mesmo tendo a intenção, nunca
conseguiria a vantagem, bem como, não haveria prejuízo em hipótese alguma e, portanto, não há a
prática de crime, devendo a agente ser punido pela conduta praticada contra a vítima.
A subjetividade exige o dolo, consistente na vontade de induzir ou manter a vítima em erro, aliado à
finalidade específica de obter a vantagem indevida para si ou para outrem.
A consumação ocorre no momento em que o agente obtém a vantagem indevida e, como
consequência, o prejuízo da vítima e o ressarcimento do dano não exclui o crime, caracterizando apenas
diminuição da pena.
A tentativa ocorre quando o agente emprega o meio apto a induzir ou manter alguém em erro, mas,
não consegue obter a vantagem.
Algumas distinções devem ser apresentadas em relação ao crime de estelionato.
A primeira delas é em relação ao crime de furto com fraude, pois, nesta há a subtração e, naquele, a
entrega espontânea da coisa.
Também não se confunde com a apropriação indébita, pois, neste o dolo ocorre após a posse legítima
da coisa, enquanto no estelionato o dolo é utilizada para obtenção da posse da coisa.
Utilização em grande escala o cheque falsificado para a prática do estelionato e há discussão no
sentido de que o agente deverá responder por estelionato somente, ou só pela falsificação ou, ainda,
pelos dois crimes em concurso. O entendimento dominante é de que o agente responda somente pela
falsidade, mas, considerado crime meio, deverá ser absorvido pelo estelionato, e por fim há entendimento
pela responsabilização pelos dois crimes em concurso formal e até material.
Existe, também a figura privilegiada do estelionato no artigo 171, § 1º, quando for o agente primário
e de pequeno valor o prejuízo, devendo o valor ser detectado na época da consumação do crime.

DISPOSIÇÃO DE COISA ALHEIA COMO PRÓPRIA: Artigo 171, § 2º, inciso I, que contém a seguinte
definição: Vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria.

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Pode ser sujeito ativo qualquer pessoa que pratique uma das condutas descritas, com exceção do
proprietário, porque exige-se que a coisa seja alheia, entretanto, o condômino pode praticar o crime
quando dispõe da parte que não lhe pertence.
Sujeito passivo do crime pode ser o comprador, ou, também, o proprietário da coisa, em geral o
primeiro e, para ficar claro, vítima é aquele que sofre o prejuízo.
A título de descrição objetiva devemos localizar o objeto material, que, no caso é a coisa alheia móvel
ou imóvel.
As condutas previstas são:
1- vender, que significa transferir a propriedade da coisa, mediante o pagamento do preço estipulado,
conduta na qual não se enquadra a simples promessa de compra e venda.
2- permutar, que indica uma troca.
3- dá em pagamento, oferecendo a coisa para pagamento de algum débito ao invés de dinheiro.
4- dá em locação, ou seja, aluga, mediante o recebimento de valor a título de aluguel.
5- dá em garantia, como o penhor, a anticrese, a hipoteca e de onde se exclui a venda da coisa
penhorada, já que a penhora nada mais é do que instituto de garantia processual.
A subjetividade exige o dolo, consistente na vontade de praticar uma das condutas descritas, não se
prevendo a vantagem indevida que se encontra implícita por ser uma das modalidades do estelionato.
A consumação ocorre no momento em que o agente obtém a vantagem, ou seja, com o recebimento
do preço na venda, da coisa na permuta, do aluguel na locação, no empréstimo na forma de dar em
garantia ou na quitação, na dação em pagamento.
A tentativa é possível, como no caso do agente empregar o meio fraudulento mas não conseguir a
vantagem.
Como distinção deve ser apresentado o caso do agente que pratica uma destas condutas com
produtos de crime, onde não há o crime, mas sim um "post factum" não punível.
Se o objeto se relacionar com o mercado de capitais, o crime será o previsto no artigo 66, § 8º da Lei
4.728/65.

ALIENAÇÃO OU ONERAÇÃO FRAUDULENTA DE COISA PRÓPRIA: Artigo 171, § 2º, inciso II.
Sujeito ativo do crime é o proprietário da coisa, portanto, crime próprio.
Sujeito passivo é aquele que sofre o prejuízo com a conduta do sujeito ativo, que podem sem a
pessoa que tinha a coisa como garantia, ou aquele que a recebeu através deste ato que pode ser anulável
e, conforme o caso, nulo.
A descrição objetiva prevê condutas idênticas ao crime anterior, vender, permutar, dar em
pagamento, etc. e, portanto, independem de comentários. A diferença reside no objeto material que, no
crime anterior era coisa alheia e, aqui, coisa própria inalienável, que significa que não pode ser negociada
por força da lei, convenção, testamento. A coisa gravada de ônus é aquela sobre a qual recai uma garantia
real, como hipoteca, anticrese, penhor, enfiteuse, servidão, usufruto, etc. A coisa penhorada, a exemplo
do crime anterior, também não pode ser objeto material do crime, por ser a penhora, uma garantia
processual e não real.
A coisa litigiosa é aquele objeto de discussão em juízo, que pode ser negociada se o comprador tomar
conhecimento do litígio.
Como último objeto, se tem o imóvel que já estava prometido à venda em prestação e é vendido para
outra pessoa diversa do pagador das prestações.
A título de subjetividade exige o legislador o dolo, qual seja, vontade de praticar uma das condutas
descritas, desde que tenha conhecimento sobre o ônus ou inalienabilidade da coisa e silencia a este
respeito.
A consumação ocorre quando o agente obtém a vantagem ilícita, havendo entendimento que o acordo
entre as partes, antes do oferecimento da denúncia, indica falta de justa causa para o oferecimento da
denúncia.
A tentativa é possível.
Existem coisas que não podem ser vendidas, como as coisas fora do comércio, e que não caracterizam
o crime em estudo, mas sim outro específico (artigo 276 do CP).

DEFRAUDAÇÃO DE PENHOR: artigo 171, § 2º, inciso III.


Sujeito ativo deste crime é o devedor que ofereceu a coisa em garantia a título de penhor, mas
conserva a sua posse, praticando a ação em prejuízo do credor pignoratício que, no caso, será o sujeito
passivo.
A descrição objetiva indica como objeto material a coisa móvel que é dada em penhor. Geralmente,
com a utilização desta garantia a coisa dada é entregue ao credor, mas, em determinadas circunstâncias,

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como o crédito agrícola, a coisa fica na posse do devedor e é nestes casos que ocorre o crime, fato que
excluí o crime no caso de penhor legal, pois, aí a coisa sempre fica na posse do credor.
Como conduta prevê o legislador a alienação que em tese, significa transferir a propriedade através
da venda, permuta, etc. ou defraudar a coisa de outro modo. Deve-se verificar neste ponto que o inciso
anterior prevê a conduta de disposição de coisa alheia como própria, onde se incluí a venda de coisa
empenhada, havendo, no caso o conflito aparente de normas. O entendimento pessoal é de que no caso
de alienação haverá o crime anterior, alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria, porque, de
acordo com a análise dos incisos, verifica-se que o legislador tinha a intenção de incluir na definição a
conduta outro modo, pelo que deve realizar a interpretação restritiva para excluir deste inciso a conduta
alienar.
Na modalidade outro modo, pode se incluir a ocultação ou destruição da coisa, objeto do penhor.
A subjetividade exige o dolo, consistente na vontade de praticar a conduta descrita, com o
conhecimento de que a coisa é alienada e conforme elemento normativo só haverá crime se a alienação
não foi consentida pelo credor.
A consumação ocorre no momento da prática da conduta, mesmo não havendo a vantagem para o
agente e a tentativa é possível.

FRAUDE NA ENTREGA DE COISA: Artigo 171, § 2º, inciso IV, que oferece o conceito do crime como
sendo aquele que defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém.
Sujeito ativo do crime é o devedor de uma relação obrigacional, aquele que tem o dever de legal de
entregar a coisa, ou seu representante legal.
Sujeito passivo é o credor, aquele que recebe a coisa defraudada, bem como a pessoa que recebe
pelo credor, não podendo ser pessoa indeterminada, fato que caracteriza fraude no comércio.
A descrição objetiva prevê conduta de defraudar, que significa adulterar, falsificar fraudulentamente
a coisa, quer na sua essência (substância), quer na sua qualidade, como a entrega de pérolas cultivadas,
no lugar das naturais, quer na quantidade, consistente na dimensão, peso, ou número.
Existe no caso em tela um elemento normativo, que está presente no pressuposto obrigação de
entregar a coisa, obrigação esta que deve derivar da lei, de ordem judicial ou de um contrato e que
também seja a título oneroso, pois, se gratuito, o crime não está caracterizado.
A Subjetividade exige o dolo. A vontade de entregar a coisa defraudada, desde que o agente conheça
este fato, aliada à existência de fraude na alteração da coisa.
A consumação ocorre quando o agente entrega a coisa, embora haja entendimento de que o crime
está consumado com a adulteração, mas o verbo núcleo do tipo é claro, entregar, portanto, este é o
momento da consumação.
A tentativa é possível, como no caso da vítima, ao perceber a alteração na coisa, não a recebe.
Este crime não pode ser confundido com o crime de fraude no comércio.

FRAUDE PARA RECEBIMENTO DE INDENIZAÇÃO OU VALOR DE SEGURO: Artigo 171, § 2º,


inciso V.
Prevê o legislador diversas modalidades de condutas.
Sujeito ativo do crime é o proprietário da coisa destruída ou escondida, bem como a pessoa que
causa lesão em si mesma para recebimento do valor do seguro ou da indenização. É um crime próprio,
pois, somente a pessoa que contrata com a seguradora pode pratica-lo, a não nos casos de coautoria,
onde o coautor também será sujeito ativo e, se for na modalidade de causar lesões, o coautor responderá,
também, pelas lesões corporais, em concurso formal.
Sujeito passivo do crime é a empresa seguradora, que tem que pagar o valor a título de seguro. No
caso de lesão corporal, o beneficiário do seguro ferido será vítima das lesões corporais.
A descrição objetiva indica a necessidade de existência de um contrato prévio de seguro, de acordo
com a legislação pertinente.
As condutas previstas pelo legislador são:
1- destruir total ou parcialmente a coisa própria, que deve ser entendido como o dano imposto à coisa
de qualquer forma.
2- ocultar coisa própria, caso em que o agente esconde a coisa, inclusive em local onde não mais
possa ser encontrada, lembrando-se sempre que a coisa deve ser própria.
3- lesionar o próprio corpo ou a saúde, que independe de explicação e
4- agravar lesão ou moléstia já existente.
Ao contrário do que possa pensar-se, o objeto material do crime não é a coisa destruída ou ocultado
ou o corpo do beneficiário, mas sim, o bem patrimonial da seguradora.
O proveito a ser obtido pelo crime deve ser próprio, pois, se for de terceiro, haverá o estelionato "caput".

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A subjetividade exige o dolo, na vontade de destruir ou ocultar a coisa própria, bem como no causar
lesão no próprio corpo, aliado ao dolo específico, finalidade especial de obter vantagem sobre a
seguradora.
A consumação ocorre com a prática de uma das condutas, não havendo necessidade de obtenção
da vantagem e a tentativa é possível.
A título de distinção deve-se esclarecer que as condutas previstas pelo legislador podem ser
produzidas através de incêndio ou explosão, bem como destruição de embarcação ou aeronave e, nestes
casos, para os crimes específicos, prevê o legislador uma qualificadora com eles são praticados com o
fim econômico, assim, nestes casos os agentes responderão pelo crime de incêndio ou explosão
qualificados e não pelo delito em estudo, mas, se o meio for inundação, onde não há esta qualificadora o
agente responderá pelos dois crimes em concurso formal.
Se a fraude for empregada para obtenção de benefícios da Previdência Social o crime é específico,
previsto no artigo 155, inciso IV da Lei 3.807/60 que implica pena idêntica ao estelionato "caput".

FRAUDE NO PAGAMENTO POR MEIO DE CHEQUE: Artigo 171, § 2º, inciso VI.
Tem por objetivo o legislador proteger o patrimônio do tomador ou beneficiário (pessoa que recebe o
cheque), mas, de forma indireta protege também a lisura na circulação deste título de crédito que é
utilizado em grande escala.
Sujeito ativo do crime é a pessoa que emite o cheque sem suficiente provisão de fundos, ou, após
sua emissão regular, retira os fundos ou lhe frustra o pagamento.
O endossante, pessoa que participa da circulação do título, quando emitido ao portador, embora
posição contrária, não pode ser sujeito ativo do crime, pois, o verbo é emitir, sendo que o endossante
apenas da continuidade à circulação. Se o endossante tem conhecimento a respeito da falta de fundos e
repassa o título, pratica estelionato na sua forma fundamental.
Entretanto, o avalista, figura que garante o título, em coautoria, pode ser sujeito ativo do crime. Aquele
que ajuda a convencer o tomador a receber o cheque, sabendo não ter fundos, responde pelo crime.
Sujeito passivo do crime é o tomador, podendo ser pessoa física ou jurídica.
A descrição objetiva indica duas condutas. Emitir, que significa colocar em circulação o título,
sabendo não haver fundos em poder do sacado, fato que excluí o mero preenchimento e assinatura.
O fato do agente, após a emissão, providenciar fundo, segundo entendimento majoritário,
descaracteriza o crime, mas, no caso de pagar o débito, após a devolução do título, o crime permanece
e sujeito passivo será o sacado.
A outra conduta é frustrar o pagamento que pode ser feito através da retirada do fundo existente ou
manifestada através da contraordem, desde que, neste caso, inexista a justa causa para a sustação.
Não ocorre o crime na emissão de cheque visado porque, neste caso o sacado garante o pagamento,
através da reserva de fundos, bem como o cheque marcado, onde o sacado determina a data para
pagamento, não sendo possível, inclusive sua frustração.
No caso do cheque especial, onde existe um limite de crédito, sendo ele ultrapassado, segundo
entendimento majoritário, haverá o crime, mas, se o cheque está dentro do limite estabelecido pelo cartão
de garantia o crime não ocorre.
É de fundamental importância a existência de fraude para a caracterização do crime, portanto, se o
cheque foi emitido como promessa de pagamento (pré-datado), ou como garantia de dívida, o crime não
existe, fato que evidencia a inexistência de fraude.
No caso de dívida de jogo, alguns entendem pela não existência do crime, pois, ela é incobrável.
A subjetividade exige o dolo, vontade de emitir o cheque, sabendo não haver fundos, ou frustrar-lhe
o pagamento, aliado à intenção de obter vantagem indevida.
O momento de consumação deste crime é discutido na doutrina. Uns entendem que se consuma o
crime com a simples emissão do título, outros com a circulação, há ainda os que entendem que o crime
se consuma no momento da apresentação e se verifica a contra ordem ou inexistência de fundos, sendo
esta última a aceita pela jurisprudência, através da interpretação da súmula 521 que determina como foro
competente para a ação penal o local onde houve a recusa do pagamento Ora, se a competência se
verifica, como regra, no local da consumação do crime, neste, praça de pagamento, deve se entender
como consumado o delito.
A possibilidade de tentativa também é discutida, uns defendendo a possibilidade da tentativa nas duas
condutas previstas, outros, entendendo que na modalidade de emissão não é possível a tentativa e
aqueles que não admitem a tentativa em nenhuma hipótese.
Resta somente analisar o fato de pagar o devedor, antes do oferecimento da denúncia, o valor
equivalente ao cheque, se existe ou não o crime. Anteriormente o pagamento do cheque, antes do
oferecimento da denúncia, por política criminal, descaracterizava o crime e, este entendimento chegou

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ao ponto de extinguir-se a ação penal mesmo que o pagamento fosse efetuado durante seu curso, posição
que foi abandonada através da edição da Súmula 554 do STF. Com artigo 16, que trata da reparação do
dano, indicando que o pagamento é causa de diminuição de pena, surgiu nova discussão a respeito e,
contrariando o disposto na lei, as decisões tendem no sentido de faltar justa causa para a denúncia se o
pagamento foi efetuado antes dela.

SÚMULA 554 do STF: o pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o
recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

Como distinção pode se dizer que somente o cheque emitido pelo titular de uma conta corrente
caracteriza o crime em estudo, em qualquer outra hipótese, tem-se o estelionato "caput".
A título de privilégio, permite-se a aplicação do disposto no artigo 171, § 1º.
O estelionato será qualificado quando o crime é cometido contra entidade de direito público, instituto
de economia popular, assistência social ou beneficência.

DUPLICATA SIMULADA: Artigo 172 do CP.


Toda venda mercantil ou prestação de serviços permite a emissão de duplica, que reflita e venda
realizada ou o serviço prestado, título este que, aceito pelo devedor entra em circulação como promessa
de pagamento. O crime consiste em emitir o referido título, sem correspondência com a venda efetuada
ou serviço prestado.
Tem por objetivo o legislador a proteção do patrimônio e, de forma indireta, protege a circulação do
referido título de crédito.
Sujeito ativo do crime, na modalidade de expedir é o comerciante ou o profissional liberal que presta
serviços. Na modalidade aceitar sujeito ativo é qualquer pessoa, seja comerciante ou não, podendo haver
coautoria na modalidade de endosso ou aval.
Sujeito passivo é o tomador, bem como aquele que desconta a duplicata ou a aceita como caução.
A descrição objetiva indica condutas de expedir, que nada mais e do que preencher, criar a duplicata
que não corresponda à venda ou ao serviço prestado.
A outra conduta é aceitar, ato através do qual se assume a obrigação de paga-la e, neste caso, exige-
se que o agente tenha conhecimento de que a duplicata é simulada.
A subjetividade exige o dolo, vontade de expedir ou aceitar a duplicata simulada, assim, se o título foi
emitido por engano, não haverá o crime, ou ainda quando a expediu apenas como garantia de
empréstimo, podendo caracterizar, conforme o caso o crime de usura.
A consumação ocorre quando o agente coloca o título em circulação, não sendo necessário a
ocorrência de prejuízo o lucro e, por ser crime unissubsistente não se admite a tentativa.
Como distinção deve-se lembrar que a emissão de duplicata simulada caracteriza o crime de falsidade
do documento, entretanto, esta falsificação é elemento do tipo, portanto, não há crime de falsidade
autônomo e, se o título é emitido para obtenção de empréstimo e é intenção do agente seu não
pagamento, haverá estelionato.

FALSIFICAÇÃO DO REGISTRO DE DUPLICATAS: Artigo 172, parágrafo único.


Consequência natural do crime estudado acima, mas que pode ter existência autônoma, consiste em
falsificar ou adulterar a escrituração do livro de registro de duplicatas.
Sujeito ativo do crime é a pessoa que falsifica o livro, bem como aquele que a determina, podendo
ocorrer autoria mediata.
Sujeito passivo é o estado, titular da exigência de regularidade na escrituração de livros contábeis.
A descrição objetiva indica conduta de falsificar ou adulterar, sendo a primeira a criação, no livro, do
título e a segunda trata-se da alteração de registro de um título emitido validamente.
A consumação ocorre com a prática da conduta e a tentativa é possível.
Se a falsificação ocorrer antes da emissão da duplica simulada, será absorvido, a falsidade posterior
será impunível.

ABUSO DE INCAPAZES: Artigo 173 do CP, que define o crime da seguinte forma: Abusar, em proveito
próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade
mental de outrem, induzindo qualquer deles a prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em
prejuízo próprio ou de terceiro.
O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio dos menores e incapazes ou de terceiros a eles
relacionados.

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Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa que pratique a conduta.
Sujeito passivo é o menor de 18 anos, embora haja entendimento de que o menor de 21 está incluído
na proteção legal e, portanto, pode ser sujeito ativo, corrente esta minoritária e, sem nenhuma discussão,
exclui-se os emancipados.
Em relação aos alienados e portadores de debilidades mentais, utiliza-se os conhecimentos
ministrados quando do estudo da culpabilidade, com exceção dos semi-imputáveis que, modernamente
vem sendo excluídos.
Os silvícolas e os maiores de 70 anos somente poderão ser incluídos no caso de total alienabilidade.
O terceiro que sofre prejuízo também é considerado sujeito passivo do crime.
Indica a descrição objetiva o verbo abusar, que significa aproveitar-se o agente da necessidade,
paixão ou inexperiência do incapaz, não sendo necessário ardil ou artifício.
A conduta é induzir, ou seja, levar a vítima a praticar ato que gere efeitos jurídicos.
Este ato deve, ao menos criar o risco para o prejuízo patrimonial da vítima ou de terceiro, por isso no
caso de prática de ato nulo e que, por consequência, não gera efeitos, tem-se entendido pela inexistência
do crime, mas, se mesmo assim, com a prática de ato nulo, houver prejuízo, haverá o crime de estelionato.
A subjetividade exige o dolo consistente na vontade do agente persuadir o incapaz à prática do ato,
devendo o agente conhecer a deficiência da vítima, aliado à finalidade específica (dolo específico) que é
a intenção de obter vantagem indevida para si ou para outrem.
A consumação ocorre no momento da prática do ato pelo incapaz, mesmo sendo a conduta induzir,
não sendo necessária a obtenção da vantagem e a tentativa é admitida.

INDUZIMENTO À ESPECULAÇÃO: Artigo 174 do CP, que apresenta semelhança com o artigo
anterior.
O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio, mas, aqui, das pessoas inexperientes, simples e
portadores de deficiências mentais.
Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa, por se tratar de crime comum, desde que tenha
conhecimento a respeito da condição da vítima.
Sujeito passivo é a pessoa inexperiente, que não tem vivência suficiente para enfrentar os problemas
do cotidiano simples é aquela pessoa que não malícia, desconhecedora da maldade que impera na
sociedade e inferior mental, não necessariamente é doente, mas aquela que não teve a quantidade de
informações suficientes para sua formação e, portanto, são facilmente enganadas.
A descrição objetiva indica conduta idêntica ao crime anterior, qual seja, através do abuso, induz o
sujeito ativo a praticar determinado ato que, para este crime é específico, qual seja, jogo, aposta ou
especulação com títulos ou mercadoria, e, neste último caso, exige do investidor um conhecimento
acurado sobre o mercado de capitais. É necessário que a operação será ruinosa, com prejuízo da vítima
e vantagem para o agente ou terceiro.
A subjetividade é idêntica ao crime anterior, exige o dolo, acrescido do conhecimento a respeito da
inferioridade mental da vítima e a intenção de obtenção de vantagem. Na modalidade de investimento no
mercado de ações e mercadorias o agente deve saber, também, que a operação é ruinosa.
A consumação ocorre quando a vítima pratica o jogo, a aposta ou o investimento em operação
ruinosa, mesmo que o agente não obtenha a vantagem, nem a existência de prejuízo para a vítima, pois,
mesmo se por acaso a vítima ganhe no jogo ou na aposta, o crime continuará a existir.
A tentativa é perfeitamente possível.

FRAUDE NO COMÉRCIO: Artigo 175 do CP.


O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio e, de forma indireta a moralidade do comércio.
O sujeito ativo do crime é qualquer pessoa que pratique a atividade comercial, comerciante ou
comerciários, tratando-se, pois, de crime próprio.
Sujeito passivo é a pessoa que adquire alguma coisa ou consome algum produto, que pode ser
perfeitamente um comerciante intermediário.
A descrição objetiva indica conduta de vender mercadoria falsificada ou deteriorada como verdadeira
ou perfeita, portanto, como o legislador fala venda, os demais negócios, permuta, por exemplo, estão
excluídos, podendo haver, no caso, punição por estelionato.
A outra conduta é entregar uma mercadoria por outra e, aí, pode haver o crime em qualquer negócio,
não exigindo o legislador que se trate de venda.
O objeto material do crime é a mercadoria, falsificada ou deteriorada, desde que o agente se utilize de
fraude para enganar a vítima, tendo, pois, conhecimento a respeito da falsidade ou deterioração. Exemplo
do crime é o fato da pessoa colocar no objeto deixado para o conserto, outras peças, com a intenção de
enganar a vítima.

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A subjetividade exige o dolo, vontade de vender ou entregar a coisa falsificada ou deteriorada,
presente fundamentalmente o risco de prejuízo patrimonial.
A consumação ocorre com a entrega da coisa e a tentativa é possível, como o caso da pessoa que
não recebe a coisa por perceber que é falsa ou deteriorada.
Ainda dentro da fraude no comércio, destacou o legislador os negócios específicos com joias e metais
preciosos, por ser maior o prejuízo, punindo, inclusive, com penas maiores.
Na essência o crime é o mesmo, entretanto as condutas são de alterar, que significa modificar, mudar,
em obra que lhe é encomendada, qualidade ou peso do metal, ou, no mesmo caso, substituir pedra
verdadeira por falsa.
Prevê o legislador a fraude no comércio privilegiada, permitindo a aplicação do disposto no artigo 155,
§ 2º.
Distinção pode ser apresentada com o crime de fraude na entrega de coisa, onde o agente não é
comerciante. Se a mercadoria é alimentícia ou medicinal o crime será outro, contra a saúde pública. Se
o sujeito passivo for indeterminado haverá crime contra a economia popular.

OUTRAS FRAUDES: Artigo 176 do CP.


O objetivo do legislador á a proteção do patrimônio dos comerciantes que se dedicam a alimentação,
alojamento e transporte de pessoas.
Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa que pratique uma das condutas descritas.
Sujeito passivo é a pessoa física ou jurídica que preste um dos serviços protegidos pelo legislador,
bem como qualquer funcionário que esteja a seu serviço.
A descrição objetiva indica as condutas de: 1- tomar refeição em restaurante, onde se incluem os
semelhantes, bem como a ingestão de bebidas, desde que o consumo seja no interior do estabelecimento,
pois, fora dele o crime será de estelionato (artigo 171). 2- alojar-se em hotel, ao qual se equiparam as
casas de hospedagem, como pensão, pensionato, etc. 3- utilizar-se de meio de transporte, geralmente
aqueles em que a cobrança do serviço é no final, como a corrida de taxi, por exemplo
Se o pagamento depende da compra de bilhete de passagem e o agente entre ou sai sorrateiramente
do meio de transporte, ou utiliza bilhete falso, haverá o crime de estelionato simples
Se por algum outro motivo o agente não paga a conta, mas havendo motivo justificado, não haverá o
crime.
A subjetividade exige o dolo, que consiste na vontade de praticar um dos verbos descritivos, tendo o
agente conhecimento de que não tem dinheiro para arcar com as despesas, assim, se o agente não tem
dinheiro porque esqueceu a carteira, não haverá crime. Quem consome mais do que pode pagar pratica
o crime.
A consumação do crime ocorre com a prática da conduta, não se exigindo o prejuízo.
A tentativa, embora de difícil caracterização é possível.
Embora haja entendimento contrário o pagamento da despesa com cheques sem fundos caracteriza
o crime de fraude no pagamento por meio de cheque, se for falsificado o cheque haverá crime de
estelionato.
No caso em estudo a ação penal é pública condicionada à representação.
Em alguns casos, como a atitude famélica, poderá ser aplicado o perdão judicial.

EMISSÃO IRREGULAR DE CONHECIMENTO DE DEPÓSITO OU "WARRANT": Artigo 178 do CP.


O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio e, indiretamente, a regularidade comercial.
Sujeito ativo em regra é o depositário da mercadoria, entretanto, qualquer outra pessoa pode praticar
o crime.
Sujeito passivo é a pessoa que tem o título em mãos, ou aquele que compra a mercadoria deposita
e representada pelo título.
Para falar-se da descrição objetiva é necessário que se entenda, ao menos de forma superficial o
que é conhecimento de depósito e "warrant". Pode definir-se como título de crédito que representam
mercadorias depositadas em armazéns gerais e que podem livremente serem negociadas. O
conhecimento de depósito representa a propriedade sobre a mercadoria depositada e o "warrant"
representa a posse da referida mercadoria, que se encontra depositada. Os títulos referidos somente têm
existência se forem emitidos conjuntamente. Para emissão deste título devem estar preenchidos uma
série de requisitos e a emissão destes, sem obediência a estes requisitos caracteriza o crime. Assim,
pratica crime quem emite o título de mercadoria que não se encontra depositada, ou não é empresa
competente para emiti-lo, eis, pois a conduta indicada pela descrição.
A subjetividade exige o dolo, vontade de emitir o título, tendo ciência de que o faz irregularmente.

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A consumação ocorre no momento em que o título é colocado em circulação, não havendo
necessidade de prejuízo.
A tentativa é impossível, pois, ou o título é endossado e entra em circulação, se consumando, ou fica
na posse do credor não havendo o crime.
O desvio da mercadoria, a título de distinção, constitui apropriação indébita.

FRAUDE À EXECUÇÃO: Artigo 179 do CP.


O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio do credor, quando há discussão judicial e,
indiretamente há proteção à administração da justiça.
Sujeito ativo do crime é o devedor que defrauda a execução praticando uma das condutas descritas
na lei, assim, qualquer pessoa, inclusive o coproprietário que tem conhecimento da execução pode
praticar o crime.
Sujeito passivo é o credor que, com a defraudação, fica sem a garantia de seu crédito.
A descrição objetiva indica como pressuposto a existência de uma ação cível em fase de execução,
ou uma ação executiva.
São diversas as condutas descritas pelo legislador. A primeira é alienar, ato através do qual se
transfere ou renuncia um patrimônio A segunda conduta é desviar, dar destino diverso à coisa que pode
garantir o crédito. A terceira é destruir ou danificar, que independe de explicação e, por fim a conduta de
simular dívidas, quando o devedor aumenta de forma irreal o passivo. Como a enumeração do legislador
é taxativa, não poderá haver crime a não ser nestas hipóteses, como a renúncia do usufruto. Não há
necessidade de penhora no processo de execução, mas, a simples citação válida.
A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de praticar uma das condutas descritas desde que o
agente tenha conhecimento da existência do processo de execução, aliada ao dolo específico que é a
intenção de frustrar a ação do credor.
A consumação ocorre no momento em que o agente pratica a conduta descrita, devendo haver o
prejuízo para o credor, assim se com a conduta o devedor não afeta seu patrimônio, em detrimento do
credor, não haverá o crime.
A tentativa é possível.
A título de distinção deve-se lembrar que no caso da prática desta conduta por comerciante que
quebra, haverá crime falimentar. E, se for utilizada a falsificação, haverá concurso material entre estes
crimes.
A ação penal é privada, dependendo de queixa crime.

DA RECEPTAÇÃO

DA RECEPTAÇÃO: Artigo 180 do CP.


A definição do crime é: adquirir, receber, ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser
produto de crime, ou influir para que terceiro de boa-fé a adquira, receba ou oculte. A pena é de reclusão
de 1 a 4 anos, além da multa.
O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio, como reforço, pois a proteção anterior não foi
suficiente para se evitar a prática do crime.
Sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, com exceção dos autores, coautores ou partícipes
do crime anterior. Até o proprietário da coisa pode praticar o crime se adquire a coisa furtada que havia
sido dada como garantia real. O advogado que recebe a título de honorários, produtos nestas
circunstâncias, pratica o crime, mesmo quando convertidas em dinheiro, tendo o profissional
conhecimento de que o cliente não poderia, face sua condição financeira, saldar o débito.
Sujeito passivo o crime é o mesmo do crime anteriormente praticado.
A descrição objetiva indica, em primeiro lugar, a presença de um pressuposto, que consiste na
ocorrência de um crime anterior, tratando-se de crime acessório, pois depende sempre da existência
anterior de outro.
Não há necessidade que o crime anterior seja contra o patrimônio, embora, em regra, a receptação
ocorra nestes casos, principalmente o crime de furto, inclusive a própria receptação, salvo no caso de
terceiro de boa-fé.
Como a lei fala em produto de crime, não existe receptação de produto de contravenção.
A punição ocorre mesmo quando o agente, no crime anterior era isento de pena por qualquer forma,
mas se o fato anterior consistiu em uma excludente da antijuridicidade, na realidade, não houve crime e,
sem anterior, não haverá a receptação.
Diferentes são as condutas descritas pelo legislador, sendo necessário a divisão do crime em
receptação própria, quando o agente pratica a conduta de adquirir, receber ou ocultar.

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A receptação imprópria consiste no agente influir que outra pessoa pratique uma destas condutas.
O objeto material do crime é a coisa produto de crime e discute-se a possibilidade de receptação da
coisa imóvel, havendo decisões nos dois sentidos, entretanto, o entendimento majoritário é de que não é
possível a receptação de coisas imóveis.
O crime prevalece ainda quando o agente transforma a coisa produto de crime em dinheiro.
Os instrumentos utilizados para a prática do crime não podem ser receptados e as condutas sobre
estes objetos poderão caracterizar crime de favorecimento real ou pessoal.
A subjetividade exige o dolo, vontade de adquirir, receber ou ocultar a coisa, bem como a de influir
que terceira pessoa pratique uma destas condutas, sendo necessário, também que o agente tenha
conhecimento (certeza) de que a coisa é produto de crime, portanto, não é possível a prática deste crime
através do dolo eventual, pois, se houver dúvida ocorre a receptação culposa.
Discute-se a possibilidade de se punir o agente que toma conhecimento sobre a procedência da coisa,
após ter adquirido, alguns entendendo ser possível, entretanto, pela estrutura do crime em estudo,
verifica-se que o dolo não pode, em hipótese alguma, ser posterior à conduta e, assim, o agente somente
poderia ser punido se, após o conhecimento deste fato, influencia alguém para adquirir a coisa.
Deve estar presente, também, o dolo específico, que consiste na obtenção de proveito próprio ou para
terceiro, se a conduta visar proveito ao próprio autor do crime, haverá favorecimento real e não
receptação.
A consumação do crime ocorre no momento em que o agente pratica uma das condutas descritas e,
na modalidade de influir, no momento em que o agente inicia a influência, ocorrendo o crime mesmo que
não consiga convencer ao terceiro, tratando-se, em qualquer das modalidades, no influir, de crime formal,
embora haja entendimento de que para a consumação, no último caso, o terceiro deve adquirir, receber
ou ocultar a coisa.
A receptação própria, por ser crime material admite a tentativa, o que não ocorre na modalidade de
influir onde a tentativa é impossível.
No caso de aquisição por parte de pessoa que pratica atividade comercial ou industrial, o crime será
outro, previsto no artigo 334 do CP. Do favorecimento real o crime de receptação diferencia-se porque
neste o agente não visa lucro, enquanto que, na receptação, a intenção de obter vantagem deve estar
presente.
É possível a continuidade delitiva neste crime, mas, se com uma única ação o agente adquire diversos
produtos, o crime será único.
Existe a figura da receptação privilegiada, admitindo-se a aplicação do § 2º do artigo 155.
Será qualificada a receptação de patrimônio de qualquer pessoa jurídica de direito público.
Prevê o legislador forma culposa para o crime de receptação, no artigo 180, § 1º.
Tal previsão encontra fundamento no dever do adquirente saber a origem da coisa que está
comprando, ou, ao menos, fazer a previsão desta origem, assim, quando o agente tem dúvida a respeito
da origem criminosa da coisa, ocorre o crime de receptação culposa.
Duas são as condutas estabelecidas pelo legislador, adquirir ou receber, estando pois, excluídas, as
condutas ocultar e influenciar para que terceiro o faça.
Pode-se inferir que existe culpa do agente quando ele demonstra não ter considerados os indícios
presentes sobra a dúvida a respeito da origem do objeto adquirido ou recebido, se era ou não produto de
crime.
A lei fala sobre os fatos que dão a entender, através da presunção de que deveria haver previsão sobre
a procedência ilícita da coisa
Em primeiro lugar refere-se o legislador à natureza da coisa, tais como peças identificadas com o nome
da vítima, coisas de conhecimento público, etc., como a caso da pessoa que adquiri o quadro La Mona
Lisa, sabendo que pertence a um museu da França.
Outra forma de indicação da ilicitude na origem da coisa, é a desproporção entre o valor pago pelo
agente e o preço real da coisa, como o exemplo da pessoa que paga por um veículo Vectra, avaliado em
R$ 35.000,00, a quantia ínfima de R$ 2,000,00.
A terceira hipótese é a condição da pessoa que oferece, pois, cada uma tem determinada condição
econômica e suas ofertas devem corresponder a esta condição, assim, não se pode adquirir ou receber
de um mendigo, uma valiosa corrente de ouro, pois, sua situação não permite possuir tal objeto, e, se o
tem, presumidamente será produto de crime.
Entretanto, como qualquer crime culposo, deve ser realizada a análise da previsibilidade subjetiva, de
acordo com o caso concreto, pois, estas indicações sofrem variações em seus limites a ponto de excluir
a culpa, por não existir a possibilidade de previsão, fato que descaracteriza o crime.
A consumação deste crime ocorre com o resultado, por ser crime culposo e a tentativa é impossível.

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No caso da receptação culposa, permite-se o perdão judicial desde que o agente seja primário e se o
Juiz perceber que não será necessária a aplicação da pena, mesmo que a coisa não tenha pequeno valor.
Importante salientar que a Lei nº. 13.531/2017 promoveu mudanças no § 6º do artigo 180 do Código
Penal, para incluir o Distrito Federal, as autarquias e as fundações públicas na previsão de aplicação de
pena em dobro para os casos de receptação previstas no rol do respectivo parágrafo, como forma de
sanar a lacuna existe na legislação, que nada mencionava especificadamente sobre tais Entes, causando
inúmeras discussões na doutrina e jurisprudência.
No entanto, necessário se faz destacar que hipótese majorante prevista no § 6º do artigo 180 somente
será aplicada para os casos de receptação simples, própria ou imprópria prevista no caput do referido
artigo, não possuindo relação com as hipóteses previstas no § 1º, que trata da receptação qualificada
pelo exercício de atividade comercial ou industrial ou no § 3º que trata da receptação culposa.

DISPOSIÇÕES GERAIS

IMUNIDADES NOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO:


Como os fatos de decorrem da convivência familiar devem, em primeiro lugar, serem discutidos entre
os parentes, sendo possível um maior dano, caso haja processo crime, do que o próprio crime em si o
legislador, para casos específicos a crimes contra o patrimônio, fez previsão de determinadas imunidades,
ou seja, casos em que não haverá a incidência da lei penal.
Estas imunidades podem ser absolutas, que estão previstas no artigo 181 do CP ou relativas, quando
se referem ao processo, conforme indica o artigo 182.
A imunidade absoluta impede a instauração de inquérito policial, da ação penal, por não ser possível,
no caso, a aplicação da sanção penal.
A relativa impede o procedimento criminal, caso não haja representação por parte da vítima ou de seu
representante.
É natural que, nos crimes contra o patrimônio, onde existe o emprego de violência ou grave ameaça,
as imunidades não prevalecem.
Tais imunidades não se comunicam entre os estranhos que, com a pessoa imune, pratique o crime.
O artigo 181 prevê as imunidades absolutas isentando de pena quando o agente pratique o crime
contra cônjuge, qualquer que seja o regime do casamento ou sendo ele praticado pelo marido ou pela
mulher, não se incluindo, no caso, as concubinas e amásias e a imunidade prevalece somente durante a
constância da sociedade conjugal e, a separação de fato, somente, não excluí a isenção de pena; contra
ascendente e descendente, os chamados parentes em linha reta, mãe/pai, filhos, avôs, e vice versa,
não se preocupando a forma de parentesco, seja legítima ou ilegítima, consanguínea ou civil, excluindo
a afinidade, para prevalência da imunidade.
Qualquer estranho que participe do crime e não for cônjuge ou parente em linha reta, mesmo que
agindo em concurso de pessoas, com quem goze da imunidade, responderá pelo crime.
O artigo 182 prevê os casos de imunidades relativas, de cunho processual, fazendo depender de
representação os crimes praticados em prejuízo de cônjuge, mas, desta feita, quando separado
judicialmente, excluído o divórcio, não havendo imunidade neste caso. Também dependerá de
representação os crimes praticados contra parente colaterais, como o caso de irmãos, qualquer que seja
a categoria, exceto os afins (cunhados, por exemplo).
No caso de tios e sobrinhos, somente haverá a imunidade se, além do parentesco, habitaram juntos.
Contra primos não existe a imunidade.

Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

TÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO I
DO FURTO
Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.

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Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo
ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a
ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável
de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. (Incluído pela Lei nº
13.330, de 2016).
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias
explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou
emprego. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018).

Furto de coisa comum


Art. 156 - Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a
detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem
direito o agente.

CAPÍTULO II
DO ROUBO E DA EXTORSÃO

Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou
para terceiro.
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para
o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):(Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654,
de 2018)
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela
Lei nº 13.654, de 2018)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.654,
de 2018)

Extorsão
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si
ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

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§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena
de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária
para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o,
respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009)

Extorsão mediante sequestro


Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
Sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por
bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a
libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

Extorsão indireta
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento
que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

CAPÍTULO III
DA USURPAÇÃO

Alteração de limites
Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória,
para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:

Usurpação de águas
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias;

Esbulho possessório
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas,
terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada.
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante
queixa.

Supressão ou alteração de marca em animais


Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de
propriedade:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.

CAPÍTULO IV
DO DANO
Dano
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:

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I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços
públicos;(Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia


Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito,
desde que o fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.

Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico


Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de
valor artístico, arqueológico ou histórico:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

Alteração de local especialmente protegido


Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido
por lei:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Ação penal
Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede
mediante queixa.
CAPÍTULO V
DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Apropriação indébita
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Aumento de pena
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário
judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

Apropriação indébita previdenciária


Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha
sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou
custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido
reembolsados à empresa pela previdência social.
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento
das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma
definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário
e de bons antecedentes, desde que:
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da
contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou

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II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido
pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
execuções fiscais.
§ 4o A faculdade prevista no § 3o deste artigo não se aplica aos casos de parcelamento de
contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente,
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei nº 13.606, de
2018)
Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza
Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da
natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre:

Apropriação de tesouro
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito
o proprietário do prédio;

Apropriação de coisa achada


II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao
dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.

Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.

CAPÍTULO VI
DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES

Estelionato
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme
o disposto no art. 155, § 2º.
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:

Disposição de coisa alheia como própria


I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou
litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando
sobre qualquer dessas circunstâncias;
Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia
pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
Fraude na entrega de coisa
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava
as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;
Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito
público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.
Estelionato contra idoso
§ 4º Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso. (Incluído pela Lei nº 13.228, de
2015)

Duplicata simulada
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em
quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.

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Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro
de Registro de Duplicatas.

Abuso de incapazes
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor,
ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de
produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Induzimento à especulação
Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade
mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias,
sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Fraude no comércio
Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor:
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada;
II - entregando uma mercadoria por outra:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo
caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender,
como precioso, metal de ou outra qualidade:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.

Outras fraudes
Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem
dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade por ações


Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação
ao público ou à assembleia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando
fraudulentamente fato a ela relativo:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não constitui crime contra a economia popular.
§ 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime contra a economia popular:
I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balanço
ou comunicação ao público ou à assembleia, faz afirmação falsa sobre as condições econômicas da
sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas relativo;
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de
outros títulos da sociedade;
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro,
dos bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da assembleia geral;
IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo
quando a lei o permite;
V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social, aceita em penhor ou em caução ações
da própria sociedade;
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em desacordo com este, ou mediante balanço
falso, distribui lucros ou dividendos fictícios;
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue
a aprovação de conta ou parecer;
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII;
IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, autorizada a funcionar no País, que pratica os
atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao Governo.

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1519603 E-book gerado especialmente para JADSON HENRIQUE
§ 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos, e multa, o acionista que, a fim de obter
vantagem para si ou para outrem, negocia o voto nas deliberações de assembleia geral.

Emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant"


Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Fraude à execução
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando
dívidas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa.

CAPÍTULO VII
DA RECEPTAÇÃO

Receptação
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que
sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Receptação qualificada
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar,
vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência.
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço,
ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que
proveio a coisa.
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155.
§ 6o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de
autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária
de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.(Redação dada pela Lei
nº 13.531, de 2017)

Receptação de animal
Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade
de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido
em partes, que deve saber ser produto de crime: (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)

CAPÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido
em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

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Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou
violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Questões

01. (Polícia Científica/PE - Conhecimentos Gerais - CESPE/2016) Considere que José tenha
subtraído dinheiro de Manoel, após lhe impossibilitar a resistência. Nessa situação hipotética, fica
caracterizada a causa de aumento de pena se José tiver cometido o crime
(A) com emprego de chave falsa.
(B) com restrição da liberdade de Manoel.
(C) com destruição de obstáculo à subtração do dinheiro.
(D) mediante fraude, escalada ou destreza.
(E) durante o repouso noturno.

02. (TJ/PA - Titular de Serviços de Notas e de Registros – IESES/2016) O ato de adquirir, receber,
transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou
influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte é tipificado como crime de:
(A) Receptação.
(B) Apropriação indébita.
(C) Induzimento à especulação.
(D) Estelionato.

03. (Polícia Civil/SP - Escrivão de Polícia – VUNESP) Qualifica o crime de furto, nos termos do art.
155, § 4.º do CP, ser o fato praticado.
(A) em local ermo ou de difícil acesso.
(B) contra ascendente ou descendente.
(C) durante o repouso noturno.
(D) com abuso de confiança.
(E) mediante emprego de arma de fogo.

04. (PC/PA - Delegado - UEPA) Usando um crachá que o identificava como oficial de justiça, um
homem entrou no escritório de uma empresa, supostamente para entregar uma intimação ao proprietário.
Enquanto a secretária foi chamar o chefe, o visitante se aproveitou de que ficara só na sala para guardar
em sua pasta um notebook e um tablet, retirando-se em seguida. Constatando-se posteriormente que o
suposto oficial de justiça havia falsificado o crachá, deveria ser indiciado:
(A) apenas por estelionato, ficando a falsificação de documento público absorvida por ser o meio
executivo da fraude cometida.
(B) apenas por furto qualificado, porque a despeito de haver fraude na conduta do agente, ele na
verdade subtraiu bens da vítima.
(C) apenas por furto qualificado pelo abuso de confiança, porque o cidadão comum tem natural
confiança na autoridade pública.
(D) por falsificação de documento público, uso de documento falso e estelionato, em concurso material.
(E) por falsificação de documento público e estelionato, em concurso material.

05. (PC/PA - Escrivão - UEPA) Em relação aos crimes patrimoniais, deve ser indiciado:
(A) por estelionato o agente que, fazendo-se passar por auditor fiscal, subtrai do escritório de uma
empresa dois notebooks que estavam sobre mesas de trabalho, enquanto os funcionários se afastam
para buscar os livros contábeis por ele exigidos.
(B) por apropriação indébita, o funcionário que retira do cofre da empresa certa quantia em dinheiro,
sem saber que havia no local uma câmera, instalada justamente para monitorar o comportamento dos
funcionários.
(C) por receptação, o comerciante que faz um acordo com assaltantes de seu bairro, por meio do qual
se compromete a comprar, para fins de revenda, peças de celulares que eles roubarem dali por diante.
(D) por extorsão mediante sequestro o indivíduo que, após tomar um casal de namorados como reféns,
libera o rapaz para buscar dinheiro, como condição para libertar a moça que continuará em seu poder até
o recebimento dos valores.

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(E) por extorsão, o indivíduo que chantageia seu concorrente em um concurso público, ameaçando
apresentar provas de um crime por ele cometido, como forma de forçá-lo a desistir da vaga, que assim
será destinada ao coator.

06. (Polícia Civil/SP - Escrivão de Polícia – VUNESP) A conduta de constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça e com o intuito de obter para si ou para outrem trem indevida vantagem
econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa caracteriza o crime de
(A) extorsão.
(B) abuso de poder.
(C) exercício arbitrário.
(D) coação no curso do processo.
(E) roubo.

07. (TJ/RO - Analista Judiciário - CESPE) A respeito do iter criminis e do momento de consumação
do delito, assinale a opção correta.
(A) A tentativa, uma norma de extensão temporal, não se enquadra diretamente no tipo incriminador;
faz-se necessária uma norma que amplie a figura típica até alcançar o fato material.
(B) A tentativa perfeita ou crime falho é aquela na qual o agente interrompe a atividade executória e
não consuma o crime por circunstâncias alheias à sua vontade.
(C) O crime de extorsão se consuma com a obtenção da indevida vantagem econômica por parte do
agente.
(D) A tentativa de homicídio se distingue do delito de lesões corporais dolosas pela gravidade da ofensa
à integridade física da vítima.
(E) O crime tentado é punido da mesma forma que o crime consumado, pois o que vale é a intenção
do agente.

08. (TJ/RO - Analista Judiciário – CESPE) Assinale a opção correta, acerca de crimes contra o
patrimônio.
(A) O cadáver, utilizado para estudos em uma universidade, que foi subtraído e destruído com o
simples propósito de impedir as pesquisas acadêmicas, não caracteriza objeto material do crime de furto,
em virtude de sua absoluta impropriedade.
(B) Nos delitos patrimoniais, as imunidades penais de caráter pessoal, quando absolutas isentam o
agente de pena; quando relativas afastam a culpabilidade, diminuindo o juízo de reprovação da conduta.
(C) O cheque emitido fraudulentamente mediante falsificação da assinatura do titular, se pago
integralmente antes do recebimento da denúncia, exclui o crime de estelionato em sua forma básica.
(D) Para a consumação do crime de apropriação indébita previdenciária basta o não recolhimento das
contribuições descontadas, no prazo legal, independentemente de dano patrimonial efetivo à previdência.
(E) Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime de furto em sua forma simples, o que inclui, em
alguns casos, tanto o possuidor quanto o proprietário da coisa móvel.

09. (TJ/AL – Auxiliar Judiciário – CESPE) Acerca dos delitos de estelionato e outras fraudes e do
crime de receptação, assinale a opção correta.
(A) Constitui crime o ato de lesar o próprio corpo com o intuito de receber valor de seguro, mas não o
ato de agravar, com o mesmo fim, as consequências de lesão já sofrida.
(B) Aquele que faz refeição em restaurante, se aloja em hotel ou se utiliza de meio de transporte sem
dispor de recursos para efetuar o pagamento pratica o delito de estelionato.
(C) No que se refere ao delito de receptação qualificada, não se equipara à atividade comercial o
comércio irregular ou clandestino.
(D) Só se admite a punição pela prática do delito de receptação caso seja conhecido e punido o autor
do crime de que proveio a coisa ilícita.
(E) Tratando-se do delito de estelionato, se o criminoso é primário e é de pequeno valor o prejuízo
causado, o juiz poderá aplicar somente a pena de multa.

10. (TRT/8ª - Analista Judiciário – FCC) O crime de receptação descrito no art. 180, caput, do Código
Penal (adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe
ser produto de crime, ou influir para que terceiro de boa-fé, a adquira, receba ou oculte), no que concerne
aos elementos do fato típico, é um
(A) tipo penal normal
(B) tipo penal anormal, face à existência de elemento subjetivo

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(C) crime omissivo
(D) crime sem resultado
(E) exemplo de tipicidade indireta.

Gabarito

01.B / 02.A / 03.D / 04.B / 05.D / 06.A / 07.A / 08.D / 09.E / 10.B

Comentários

01. Resposta: B
Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
(...)
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
Importante destacar que as demais alternativas apresentadas referem-se ao crime de furto, sendo
causas qualificadoras (“A”, “C” e “D”) e de aumento de pena (“E”).

02. Resposta: A
É a redação do que prevê o art. 180 do CP.

03. Resposta: D
Art. 155, § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

04. Resposta: B
O furto qualificado o é assim chamado devido ao modo de execução do delito, que facilita a sua
consumação. No furto comum (ou simples), a pena é de reclusão de 1 a 4 anos, e multa. Ao furto
qualificado é aplicada pena de 2 a 8 anos, e multa.
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a
ser transportado para outro Estado ou para o exterior.

05. Resposta: D
É crime de extorsão mediante sequestro, disposto no art. 159 do CP, a conduta em que o indivíduo
após tomar um casal de namorados como reféns, libera o rapaz para buscar dinheiro, como condição
para libertar a moça que continuará em seu poder até o recebimento dos valores

06. Resposta: A
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si
ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena
de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária
para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º,
respectivamente.

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07. Resposta: A
A alternativa “A” está correta, tendo em vista que a adequação típica no crime tentado é de
subordinação mediata, ampliada ou por extensão, a norma definidora da tentativa é uma norma de
extensão ou ampliação da conduta, operando-se um ampliação temporal alcançando o tipo penal também
período anterior a consumação.

08. Resposta: D
A alternativa “D” está correta, posto que para a consumação do crime de apropriação indébita
previdenciária basta o não recolhimento das contribuições descontadas, no prazo legal,
independentemente de dano patrimonial efetivo à previdência (art.168-A do CP).

09. Resposta: E
Existe a forma privilegiada para o crime de estelionato, para tanto, o agente deve ser primário e o
prejuízo causado à vítima deve ser de pequeno valor, inferior a um salário mínimo.
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme
o disposto no art. 155, § 2º.
Desse modo, a alternativa correta é a E, as consequências do privilégio são as mesmas do furto
privilegiado, art. 155, § 2º:

10. Resposta: B
O crime de receptação descrito no art. 180, caput, do Código Penal prevê:
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que
sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
O crime de receptação, no que concerne aos elementos do fato típico, é um tipo penal anormal, face
à existência de elemento subjetivo.
Tipo normal é o que prevê somente elementos objetivos, já o tipo anormal prevê tanto os elementos
objetivos quando os subjetivos e normativos.
Elemento objetivo refere-se a materialidade do delito (concernentes ao tempo, lugar, formas de
execução, etc), já elemento subjetivo refere-se ao componente anímico da conduta (a intenção buscada
pelo agente criminoso) e, por fim, o elemento normativo é aquele que atribui um valor à ação, impondo a
necessidade de realização de valoração pelo juiz da causa. Exemplos:
- Tipo normal: art. 121, caput, do CP - matar alguém.
- Tipo anormal: art. 158, caput, do CP - constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e
com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se
faça ou deixar de fazer alguma coisa.

Dos Crimes contra a Administração Pública (Art. 312 ao 337-A); Os artigos em


referência são do Código Penal.

O tema “Crimes contra a Administração Pública” é frequentemente explorado em matéria de Direito


Penal nas faculdades e em concursos públicos, sendo que está previsto no Título XI do Código Penal e
é dividido em cinco capítulos:
I -crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral (arts. 312 a 327);
II-crimes praticados por particular contra a administração em geral (arts. 328 a 337-A);
II-crimes praticados por particular contra a administração pública estrangeira (arts. 337-B a 337-D)
III - crimes contra a administração da justiça (arts. 338 a 359);
IV - crimes contra as finanças públicas (arts. 359-A a 359-H).

Neste momento vamos analisar apenas os crimes praticados por funcionário público contra a
administração em geral e os crimes praticados por particular contra a administração em geral, em
observância ao Edital.

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Os crimes contra a Administração Pública são condutas descritas pela lei com a finalidade de
resguardar a Administração Público de condutas lesivas de seus funcionários, de modo a zelar pela
efetiva aplicação das regras de dignidade, probidade e eficiência, que devem guiar o comportamento
dos funcionários públicos.
Dessa forma, como extensão do conceito de Administração no âmbito penal, podemos entender que
o legislador aos dispor sobre os Crimes contra a Administração buscou identificar os tipos penais
incriminadores e aplicá-los em conformidade com os princípios gerais e especiais do Direito Penal face
aos preceitos da Administração Pública.
Ensina o ilustre Professor Júlio Fabbrini Mirabete que: “o Código Penal Brasileiro dedica,
exclusivamente, o Título XI, com a rubrica “Dos Crimes contra a Administração Pública”, com o fito de
proteger a Administração Pública das condutas lesivas de seus servidores, bem assim, de particulares
que se relacionam com a Administração, possuindo como objetividade jurídica, o interesse da
normalidade funcional, probidade, prestígio, incolumidade e decoro da Administração Pública”.38
O bem jurídico tutelado em relação aos delitos do Título XI é o interesse público concernente ao normal
funcionamento e prestígio da Administração Pública, tendo em vista a probidade, desinteresse,
capacidade, competência, disciplina, fidelidade, segurança, liberdade, decoro funcional e respeito devido
à vontade do Estado, em relação a determinados atos e relações da própria Administração Pública39.

Vejamos o que dispõe o Código Penal sobre o tema:

DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

PECULATO – art. 312, CP


O peculato visa proteger a probidade administrativa (patrimônio público). Em todas as modalidades de
peculato, tutela-se a Administração Pública, tanto em seu aspecto patrimonial, consistente na
preservação do erário, como também em sua face moral, representada pela lealdade e probidade dos
agentes públicos.
O sujeito ativo é o funcionário público e o sujeito passivo é o Estado, visto como Administração
Pública. Pode existir um sujeito passivo secundário (particular).
O pressuposto do peculato é a posse da coisa pela Administração Pública. O dinheiro, valor ou
qualquer outro bem móvel precisa estar na posse do funcionário público. A palavra deve ser interpretada
em sentido amplo, abrangendo tanto a posse direta como a posse indireta, e também a detenção. A lei é
clara ao exigir que a posse deva ser em razão do cargo: é imprescindível a relação de causa e efeito
entre ela (posse) e este (cargo). Não é pelo fato de ser funcionário público que o sujeito deve
automaticamente responder pelo crime de peculato. A finalidade da lei é outra. Somente estará
caracterizado o crime de peculato quando o sujeito comete a apropriação, o desvio ou a subtração em
razão das facilidades proporcionadas pelo seu cargo.

Podemos dividir o peculato em dois grandes grupos; doloso e culposo:


a) Peculato Doloso:
- Peculato-apropriação: art. 312, caput, primeira parte.
- Peculato-desvio: art. 312, caput, segunda parte.
- Peculato-furto: art. 312, § 1.º.
- Peculato mediante erro de outrem: art. 313.

b) Peculato Culposo:
- O peculato culposo está descrito no art. 312, § 2.º, do Código Penal.

1. PECULATO APROPRIAÇÃO:
a) apropriar-se;
b) funcionário público;
c) dinheiro, valor, bem móvel, público ou privado;
d) posse em razão do cargo;
e) proveito próprio ou alheio.

38
Júlio Fabbrini Mirabete. Manual de Direito Penal III, 19ª edição, página 295.
39
NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. São Paulo: Saraiva, v. 4, página 195.

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Elementos objetivos do tipo: O núcleo é “apropriar-se”, ou seja, fazer sua a coisa alheia. A pessoa
tem a posse e passa a agir como se fosse dona. O agente muda a sua intenção em relação à coisa. O
fundamento é a posse lícita anterior.
No caso da posse em razão do cargo, temos que a posse está com a Administração. O bem tem de
estar sob custódia da Administração. Exemplo: Um automóvel apreendido na rua vai para o pátio da
Delegacia; o policial militar subtrai o aparelho de DVD. Ele praticou peculato-furto, pois não tinha a posse
do bem. Se o funcionário fosse o responsável pelo bem, seria caso de peculato-apropriação. Se o carro
estivesse na rua, seria furto.
No “peculato-apropriação” e no “peculato mediante erro de outrem” o núcleo do tipo é a apropriação,
ou seja, a posse anterior lícita; a diferença está no erro de outrem.

Objeto material: Dinheiro, valor ou bem móvel. Tudo que for imóvel não é admitido no peculato. O
crime que admite imóvel é o estelionato.
Consumação: A consumação do peculato-apropriação se dá no momento em que ocorreu a
apropriação: quando o agente inverteu o animus, quando passou a agir como se fosse dono.

2. PECULATO-DESVIO: Artigo 312, Segunda Parte, do Código Penal. No peculato-desvio o que muda
é apenas a conduta, que passa a ser “desviar”. Desviar é alterar a finalidade, o destino. Exemplo: existe
um contrato que prevê o pagamento de certo valor por uma obra. O funcionário paga esse valor, sem a
obra ser realizada. Nesse caso, há peculato-desvio. Liberação de dinheiro para obra superfaturada
também é caso de peculato-desvio.
Elemento subjetivo do tipo: O elemento subjetivo do tipo é a intenção do desvio para proveito próprio
ou alheio. O funcionário tem de ter a posse lícita da coisa. Se alguém desviar em proveito da própria
Administração, haverá outro crime, qual seja, uso ou emprego irregular de verbas públicas (art. 315 do
CP).

3. PECULATO-FURTO: Artigo 312, § 1.º, do Código Penal. Funcionário público que, embora não tendo
a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou
alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Nesse caso é aplicada a
mesma pena.
A conduta é subtrair, ou seja, tirar da esfera de proteção da vítima, de sua disponibilidade. Outra
conduta possível é a de concorrer dolosamente.
Não basta ser funcionário público; ele precisa se valer da facilidade que essa qualidade lhe proporciona
(a execução do crime é mais fácil para ele). Por facilidade, entende-se crachá, segredo de cofre etc. Um
funcionário público pode praticar furto ou peculato-furto, dependendo se houve, ou não, a facilidade.
Consumação e tentativa: O crime consuma-se com a efetiva retirada da coisa da esfera de vigilância
da vítima. A tentativa é possível.

4. PECULATO CULPOSO: Artigo 312, § 2.º, do Código Penal. São requisitos do crime de peculato
culposo: a conduta culposa do funcionário público e que terceiro pratique um crime doloso, aproveitando-
se da facilidade provocada por aquela conduta.
Consumação e tentativa: Peculato culposo é crime independente do crime de outrem, mas estará
consumado quando se consumar o crime de outrem. Não há tentativa de peculato culposo, pois não existe
tentativa de crime culposo. Se o crime de outrem é tentado, este responderá por tentativa, porém o fato
é atípico para o funcionário público.
Reparação de danos no peculato culposo – Artigo 312, § 3.º, do Código Penal: É a devolução do
objeto ou o ressarcimento do dano. É preciso ficar atento para as seguintes regras:
- Se a reparação do dano for anterior à sentença irrecorrível (antes do trânsito em julgado – primeira
ou segunda instância), extingue a punibilidade.
- Se a reparação do dano for posterior à sentença irrecorrível (depois do trânsito em julgado), ocorre
a diminuição da pena, pela metade.

Atenção: No peculato doloso não se aplicam essas regras.

5. PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM - Art. 313, CP: Não é um estelionato, pois o erro da
vítima não é provocado pelo agente. O núcleo do tipo é apropriar-se (para tanto, é preciso posse lícita
anterior). Na verdade, é um peculato-apropriação, diferenciado pelo erro da vítima.

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O erro de outrem tem de ser espontâneo, e o recebimento, por parte do funcionário de boa-fé. Não há
fraude. Exemplo: Pessoa deve dinheiro para a Prefeitura, erra a conta e paga a mais. O funcionário recebe
o dinheiro sem perceber o erro. Depois, ao perceber o erro, apropria-se do excedente – trata-se de
peculato mediante erro.
O elemento subjetivo é o dolo de se apropriar. O crime consuma-se no momento da apropriação, ou
seja, no momento em que o agente passa a agir como se fosse dono.
Em síntese, o erro da pessoa que entrega o dinheiro ou qualquer outra utilidade (vítima) deve ser
espontâneo, pouco importando qual a sua causa; se dolosamente provocado pelo funcionário público,
estará configurado o crime de estelionato (art. 171 do CP).

Antes de encerrarmos o tema cabe ainda um comentário acerco do peculato de uso. Considera-se a
existência do peculato de uso na hipótese em que o funcionário público apropria-se, desvia, subtrai bem
móvel, público ou particular que se encontra sob a custódia da Administração Pública, para
posteriormente restituí-lo. A doutrina diverge sobre a possibilidade de admitir-se a figura do peculato de
uso. Uma primeira corrente entende que a intenção (falsa ou verdadeira) de restituir o bem móvel de que
o agente apropriou-se, desviou ou subtraiu não exclui o peculato doloso, pouco importando se o
funcionário público possui recursos financeiros para tanto, bem como se a coisa era fungível ou infungível.
Não admite, portanto, a figura do peculato de uso. Também não se afasta o crime com a prova de que se
produziu alguma vantagem para a Administração Pública, pois a vantagem indevida não deve aproveitar
ao Estado. Se a coisa móvel é utilizada em fim diverso daquele a que era destinado, desde que o agente
vise a proveito próprio ou alheio, apresenta-se o peculato na modalidade desvio. Por outro lado, há quem
admita o peculato de uso, considerando-o fato irrelevante. Para os partidários dessa linha de pensamento,
é atípico o fato relacionado ao uso momentâneo de coisa infungível, sem a intenção de incorporá-la ao
patrimônio pessoal ou de terceiro, seguido da sua integral restituição a quem de direito.

INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES – art. 313-A, CP


Bem jurídico: interesse em preservar o patrimônio público e garantir o respeito à probidade
administrativa.
Sujeitos:
a) Ativo: funcionário público, sendo admissível o concurso com particular.
b) Passivos: União, Estados-membros, Distrito Federal, municípios e as demais pessoas mencionadas
no artigo 327, §1º. Secundariamente, o particular que sofreu o dano.
Tipo objetivo: Inserir ou facilitar a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados
corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter
vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano.
Tipo subjetivo: O dolo e o elemento subjetivo especial do tipo – fim especial de agir – consubstanciado
na expressão com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano.
Consumação: por se tratar de crime formal, ocorre com a concreção de qualquer uma das condutas,
não se exigindo a obtenção da vantagem indevida nem que haja o dano almejado (exaurimento).
Tentativa: Admissível, por ser o crime plurissubsistente.
Pena e Ação penal: A pena é de dois a doze anos de reclusão, além da multa, e a ação é pública
incondicionada.

MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES – art. 313-


B, CP
Bem jurídico: O interesse em se preservar o normal funcionamento da Administração Pública,
especialmente o seu patrimônio e o do administrado, bem como assegurar o prestígio que deve gravitar
em torno dos atos daquela.
Sujeitos:
a) Ativo: funcionário público, sendo admissível o concurso como particular.
b) Passivos: União, Estados-membros, Distrito Federal, municípios e demais pessoas mencionadas
no artigo 327, §1º, bem como o particular que sofreu o dano.
Tipo objetivo: Modificar ou alterar sistema de informações ou programa de informática sem
autorização ou solicitação de autoridade competente.
Tipo subjetivo: O dolo.
Consumação: Por se tratar de crime formal, dá-se no momento da concreção de qualquer uma das
condutas, não se exigindo a superveniência de dano, que, no caso, qualifica o crime.
Tentativa: Admissível, por ser o crime plurissubsistente.

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EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO – art. 314, CP
Seguindo a regra dos demais crimes deste Capítulo, o bem jurídico tutelado é a Administração Pública.
Sujeitos ativo e passivo. Como não poderia deixar de ser, o sujeito ativo é somente o funcionário
público, sendo a vítima o Estado e, eventualmente, o particular que tem documento sob a guarda da
Administração.
A lei pune três condutas:
- extraviar: fazer desaparecer, ocultar;
- sonegar: sinônimo de não apresentar, não exibir quando alguém o solicita;
- inutilizar: tornar imprestável.
Trata-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado – a prática de duas
ou mais condutas, no mesmo contexto fático e contra o mesmo bem jurídico, caracteriza um único crime.

Nas três hipóteses a conduta deve recair sobre livro oficial, que é aquele pertencente à Administração
Pública, ou sobre qualquer documento público ou particular que esteja sob a guarda da Administração.
Nos termos da lei, o crime subsiste ainda que a conduta atinja parcialmente o livro ou documento.
Elemento subjetivo. O dolo.
Consumação. A infração penal se consuma com o extravio ou inutilização, ainda que parcial e
independentemente de qualquer outro resultado.
Já na modalidade sonegar, o crime se consuma no instante em que o agente deveria fazer a entrega
e, intencionalmente, não o faz. Nessa hipótese, bem como nos casos de extravio, o crime é permanente.
Tentativa. A tentativa não é admissível apenas na modalidade omissiva (sonegar).
Distinção. Aquele que inutiliza documento ou objeto de valor probatório que recebeu na qualidade de
advogado ou procurador comete o crime do art. 356 do Código Penal. Por outro lado, o particular que
subtrai ou inutiliza, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado à Administração
comete o crime do art. 337 do Código Penal.
Absorção. A própria lei estabelece que esse crime é subsidiário, ou seja, deixa de existir se o fato
constitui crime mais grave, como corrupção passiva (art. 317), supressão de documento (art. 305) etc.

EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS – art. 315, CP


Análise do núcleo do tipo. A conduta consiste em dar aplicação, e tem como objeto as verbas ou
rendas públicas.
Sujeitos:
a) ativo: funcionário público.
b) passivo: o Estado, secundariamente, a entidade de direito público prejudicada.
Elemento subjetivo do tipo. Dolo, não se exige elemento subjetivo específico, nem se pune a forma
culposa.
Objetos material e jurídico. Objeto material é a verba ou a renda pública, objeto jurídico é a
administração pública, em seus interesses patrimonial e moral.
Classificação. Crime próprio, material, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente, omissivo
impróprio, instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente; admite tentativa.

CONCUSSÃO – art. 316, CP


O crime de concussão guarda certa semelhança com o delito de corrupção passiva, principalmente no
que se refere à primeira modalidade desta última infração (solicitar vantagem indevida). Na concussão,
porém, o funcionário público constrange, exige a vantagem indevida. A vítima, temendo alguma
represália, cede à exigência. Na corrupção passiva (em sua primeira figura) há mero pedido, mera
solicitação. A concussão, portanto, descreve fato mais grave e, por isso, deveria possuir pena mais
elevada. Ocorre que, após o advento da Lei n. 10.763/2003, a pena de corrupção passiva passou, por
incrível que pareça, a ser maior que a de concussão.
Nesse crime, o funcionário público faz exigência de uma vantagem. Essa exigência carrega,
necessariamente, uma ameaça à vítima, pois do contrário haveria mero pedido, que caracterizaria a
corrupção passiva.
Assim, o crime de concussão é diferente do crime de corrupção passiva. A diferença está no núcleo
do tipo. A concussão tem por conduta exigir; é um “querer imperativo”, que traz consigo uma ameaça,
ainda que implícita. A corrupção passiva tem por conduta solicitar, receber, aceitar promessa.
Na concussão, há vítima na outra ponta. A concussão é uma extorsão praticada por funcionário público
em razão da função.

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Exigir significa coagir, obrigar. A ameaça pode ser implícita ou explícita e, ainda assim, será
concussão. O agente pode exigir direta ou indiretamente – por meio de terceiro, ou por outro meio
qualquer.
Desta forma, a ameaça pode ser:
- explícita: exigir dinheiro para não fechar uma empresa, para não instaurar inquérito, para permitir o
funcionamento de obras etc.;
- implícita: não há promessa de um mal determinado, mas a vítima fica amedrontada pelo simples
temor que o exercício do cargo público inspira.
A exigência pode ser ainda:
- direta: quando o funcionário público a formula na presença da vítima, sem deixar qualquer margem
de dúvida de que está querendo uma vantagem indevida;
- indireta: o funcionário se vale de uma terceira pessoa para que a exigência chegue ao conhecimento
da vítima ou a faz de forma velada, capciosa, ou seja, o funcionário público não fala que quer a vantagem,
mas deixa isso implícito.
A concussão é uma forma especial de extorsão praticada por funcionário público com abuso de
autoridade. Deve, assim, haver um nexo entre a represália prometida, a exigência feita e a função
exercida pelo funcionário público.
Por isso, se o funcionário público empregar violência ou grave ameaça referente a mal estranho à
função pública, haverá crime de extorsão ou roubo. Ex.: um policial aponta um revólver para a vítima e,
mediante ameaça de morte, pede que ela lhe entregue o carro.
Na concussão não é necessário que o funcionário público esteja trabalhando no momento da
exigência. O próprio tipo diz que ele pode estar fora da função (horário de descanso, férias, licença) ou,
até mesmo, nem tê-la assumido (quando já passou no concurso, mas ainda não tomou posse). O que é
necessário é que a exigência diga respeito à função pública e as represálias a ela se refiram.
Se o crime for cometido por policial militar estará configurado o crime do art. 305 do Código Penal
Militar, que é igualmente chamado de concussão.
Se alguém finge ser policial e exige dinheiro para não prender a vítima, não há concussão, porque o
agente não é funcionário público. Responderá, nesse caso, por crime de extorsão (art. 158).
Concluindo, a concussão é um crime em que a vítima é constrangida a conceder uma vantagem
indevida a funcionário público em razão do temor de uma represália imediata ou futura decorrente de
exigência feita por este e relacionada necessariamente com sua função.
A vantagem exigida tem de ser indevida. Se for devida, haverá crime de abuso de autoridade do art.
4º, h, da Lei n. 4.898/65, em razão da ameaça feita.
A lei se refere a vantagem indevida:
- Damásio E. de Jesus, Nélson Hungria e M. Noronha entendem que deve ser vantagem patrimonial.
- Júlio F. Mirabete e Fernando Capez, por outro lado, dizem que pode ser qualquer espécie de
vantagem, uma vez que a lei não faz distinção. Ex.: proveitos patrimoniais, sentimentais, de vaidade,
sexuais etc.
O agente deve visar proveito para ele próprio ou para terceira pessoa.
Como na concussão o funcionário público faz uma ameaça explícita ou implícita, se a vítima vier a
entregar o dinheiro exigido, não cometerá corrupção ativa, uma vez que somente o terá feito por se ter
sentido constrangida.
Consumação. O crime de concussão consuma-se no momento em que a exigência chega ao
conhecimento da vítima, independentemente da efetiva obtenção da vantagem visada. Trata-se de crime
formal. A obtenção da vantagem é mero exaurimento.
Não desnatura o crime, portanto, a devolução posterior da vantagem (mero arrependimento posterior
— art. 16 do CP) ou a ausência de prejuízo.
Um policial exige hoje a entrega de certa quantia em dinheiro. A vítima concorda e se compromete a
entregar a quantia em um lugar determinado, três dias depois. Ela, entretanto, chama outros policiais,
que prendem o sujeito na hora da entrega. Há flagrante provocado?
No flagrante provocado o sujeito é induzido a praticar um crime, mas se tomam providências que
inviabilizam totalmente a sua consumação. Nesse caso, não há crime, pois se trata de hipótese de crime
impossível (Súmula 145 do STF).
Assim, na questão em análise, verifica-se não ter ocorrido o flagrante provocado, pois não houve
qualquer provocação, ou seja, ninguém induziu o policial a fazer a exigência. Temos, na hipótese, um
crime de concussão consumado, já que a infração se aperfeiçoou com a simples exigência que ocorrera
três dias antes da data combinada para a entrega do dinheiro.
Tentativa. É possível a tentativa. Exemplos: a) peço para terceiro fazer a exigência à vítima, mas ele
morre antes de encontrá-la; b) uma carta contendo a exigência se extravia.

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Sujeitos.
a) ativo: somente o funcionário público.
b) passivo: Estado e, secundariamente, a entidade de direito público ou a pessoa diretamente
prejudicada.
Elemento subjetivo do tipo. Dolo, exige-se o elemento subjetivo específico, consistente em destinar
a vantagem para i ou para outra pessoa. Não existe forma culposa.
Objetos material e jurídico. Objeto material é a vantagem indevida e objeto jurídico é a administração
púbica (aspectos material e moral).
Classificação. Crime próprio, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente, omissivo
impróprio, instantâneo, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissusistente, forma em que admite tentativa.

EXCESSO DE EXAÇÃO - art. 316, §§1º e 2º, CP


Exação é a cobrança pontual de impostos. Pune-se o excesso, sabido que o abuso de direito é
considerado ilícito. Assim, quando o funcionário público cobre imposto além da quantia efetivamente
devida, comete o excesso de exação.
Análise do núcleo do tipo. Há duas formas para compor o excesso de exação: a) exigir o pagamento
de tributo ou contribuição sindical indevidos; b) empregar meio vexatório na cobrança.
Na primeira modalidade, o funcionário público exige tributo ou contribuição social que sabe ou deve
saber indevido, sem amparo válido para cobrança, seja porque seu valor já foi pago pela vítima, seja
porque a quantia cobrada é superior à fixada em lei. A palavra “indevido” funciona como elemento
normativo do tipo. Na outra hipótese, o tributo ou contribuição social é devido. Entretanto, o funcionário
público emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, não autorizado por lei. Meio vexatório é o que
desonra e humilha a vítima; meio gravoso é o que acarreta maiores despesas ao contribuinte.
Elemento subjetivo do tipo. Dolo, nas modalidades direta e indireta. Não há elemento subjetivo do
tipo, nem se pune a forma culposa.
Elemento normativo do tipo. Meio vexatório é o que causa vergonha ou ultraje; gravoso é o meio
oneroso ou opressor.
Norma em branco. É preciso consultar os meios de cobrança de tributos e contribuições, instituídos
em lei específica, para apurar se está havendo excesso de exação.
Objetos material e jurídico. O objeto material é o tributo ou a contribuição social. O objeto jurídico é
a administração pública (interesses material e moral).
Classificação: crime próprio, formal na forma exigir e material na modalidade empregar na cobrança,
de forma livre, comissivo ou omissivo impróprio, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissubsistente, forma
em que se admite tentativa.

CORRUPÇÃO PASSIVA – art. 317, CP


Na corrupção passiva não há ameaça, nem constrangimento. Se o funcionário pede e a pessoa coloca
a mão dentro do bolso e entrega, não é caso de corrupção ativa, pois não existe tipificação para entregar,
só para prometer, oferecer. Só há corrupção passiva nesse caso.
Na modalidade solicitar, onde a iniciativa é do funcionário público, não há crime de corrupção ativa, e
sim de corrupção passiva.
Já, nas modalidades de receber e aceitar promessa, ocorre corrupção ativa na outra ponta, pois a
iniciativa foi de terceiro.
Vantagem indevida na corrupção passiva é para que o funcionário faça alguma coisa, deixe de fazer,
ou então retarde.
A consumação ocorre quando houver a solicitação, o recebimento ou a aceitação da vantagem. A
consumação não depende da prática ou da omissão de ato por parte do funcionário. O recebimento da
vantagem só é importante para a modalidade receber.

Elementos Objetivos do Tipo:


- Solicitar, pedir. Quem pede não constrange, não ameaça, simplesmente pede. A atitude de solicitar
é iniciativa do funcionário público.
- Receber, entrar na posse. É preciso ao menos o indício de que a pessoa entrou na posse.
- Aceitar promessa, concordar com a proposta. Pode ser por silêncio, gesto, palavra. A iniciativa é de
terceiro que faz a proposta. Alguém propõe e o funcionário aceita.

Corrupção Passiva Privilegiada – § 2º: A corrupção passiva privilegiada ocorre com pedido ou
influência de outrem. Corrupção privilegiada é um crime material – praticar, deixar de praticar.

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DA FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO – art. 318, CP
Conduta típica. É a facilitação com violação do dever funcional do descaminho ou contrabando. Para
configurar a prática do delito previsto no art. 318 do CP, é necessário que o funcionário público esteja
investido na função de fiscalizar a entrada e a saída de mercadorias do território nacional.
Contrabando. É a importação ou exportação de mercadorias cuja comercialização seja proibida.
Descaminho. É a importação ou exportação de mercadorias cuja comercialização seja legalmente
permitida com a ocorrência de fraude no pagamento de tributos.
Competência. Pelo disposto no art. 144 da CF/88, julgar pessoas incursas na prática do presente
delito é de competência da justiça federal, sendo a polícia federal a competente para efetuar as prisões.
Por convênio firmado entre o ex-governador de Minas Gerais, Hélio Garcia, e o ex-ministro da justiça
à época, aqui é competente para fiscalizar e reprimir o tráfico ilícito de drogas a Polícia Civil do estado.
Tipo remetido. A facilitação de contrabando ou descaminho é considerado como tipo remetido porque
remete ao delito do contrabando ou descaminho (art. 334 do CPB).
Exceção à teoria unitária. Se alguém facilita a prática do delito previsto no art. 334 do CP deveria
responder pelo delito previsto no art. 318 do CPB (facilitação de contrabando ou descaminho) bem como
pelo contrabando ou descaminho (art. 334 do CPB), entretanto, temos aqui mais uma vez a teoria
pluralística sendo aplicada, configurando mais uma exceção à teoria unitária, vez que uma pessoa é quem
facilita o contrabando ou descaminho e outra é quem pratica o contrabando ou descaminho.
Defesa preliminar. No tipo penal ora estudado (da facilitação de contrabando ou descaminho - Art.
318 do CPB) não há a incidência de possibilidade da defesa preliminar do funcionário público.

PREVARICAÇÃO – art. 319, CP


Objeto jurídico. Proteger o prestígio da Administração Pública
Sujeitos.
a) Ativo. Funcionário público no exercício da função
b) Passivo. O Estado
Análise do núcleo do tipo. "Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-
lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal".
O tipo penal tem seu núcleo composto por 3 verbos: retardar, deixar de praticar, praticar.
Classificação. Crime próprio - somente pode ser praticado por funcionário público, se retirada a
qualidade o fato torna-se atípico - formal - comissivo - instantâneo - unissubjetivo - plurissubsistente - de
ação múltipla - de conteúdo variado ou alternativo.
Elemento subjetivo do tipo. É o dolo, ou seja, a vontade específica de prevaricar. O interesse pessoal
está ligado ao sentimental.
Consumação. O crime se consuma com a omissão, retardamento ou realização do ato.
Tentativa. Não é possível nas formas omissivas (omitir ou retardar), pois ou o crime está consumado
ou o fato é atípico. Na forma comissiva, a tentativa é possível.
Figura equiparada. A Lei n. 11.466, de 28 de março de 2007, criou nova figura ilícita no art. 319-A do
Código Penal, estabelecendo que a mesma pena prevista para o crime de prevaricação será aplicada ao
diretor de penitenciária e/ou agente público que deixar de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso
a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o
ambiente externo. O legislador entendeu necessária a criação desse tipo penal em face da constatação
de que presos têm tido fácil acesso a telefones celulares ou aparelhos similares, e que os agentes
penitenciários não vêm dando o combate adequado a esse tipo de comportamento. Assim, a Lei n.
11.466/2007, além de criar essa figura capaz de punir o agente penitenciário que se omita em face da
conduta do preso, estipulou também que este, ao fazer uso do aparelho, incorre em falta grave — que
tem sérias consequências na execução criminal (art. 50, VII, da Lei de Execuções Penais, com a redação
dada pela Lei n. 11.466/2007). Com essas providências pretende o legislador evitar que presos
comandem suas quadrilhas do interior de penitenciárias e que deixem de cometer crimes com tais
aparelhos, pois é notório que enorme número de delitos de extorsão vêm sendo cometidos por pessoas
presas, por meio de telefonemas.
Diferença entre a prevaricação comum e a militar. A prevaricação comum está prevista no art. 319
do CP e é punida com pena de detenção de 3 meses a 1 ano mais multa, sendo aplicada a normatização
prevista na lei 9.099/95. A prevaricação militar está prevista no art. 319 do CPM e é punida com pena de
6 meses a 2 anos. Verifica-se então que a diferença principal entre as duas tipificações do delito está na
pena aplicada.

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Principais aspectos.
1) Na corrupção passiva, o funcionário público negocia seus atos, visando uma vantagem indevida.
Na prevaricação isso não ocorre. Aqui, o funcionário público viola sua função para atender a objetivos
pessoais.
2) O agente deve atuar para satisfazer:
a) interesse patrimonial (desde que não haja recebimento de vantagem indevida, hipótese em que
haveria corrupção passiva) ou moral;
b) sentimento pessoal, que diz respeito à afetividade do agente em relação a pessoas ou fatos. Ex.:
Permitir que amigos pesquem em local público proibido. Demorar para expedir documento solicitado por
um inimigo. O sentimento, aqui, é do agente, mas o benefício pode ser de terceiro.
O atraso no serviço por desleixo ou preguiça não constitui crime. Se fica caracterizado, todavia, que o
agente, por preguiça, rotineiramente deixa de praticar ato de ofício, responde pelo crime. Ex.: delegado
que nunca instaura inquérito policial para apurar crime de furto, por considerá-lo pouco grave.
3) A prevaricação não se confunde com a corrupção passiva privilegiada. Nesta, o agente atende a
pedido ou influência de outrem.
Na prevaricação não há tal pedido ou influência. O agente visa satisfazer interesse ou sentimento
pessoal.
Se um fiscal flagra um desconhecido cometendo irregularidade e deixa de multá-lo em razão de
insistentes pedidos deste, há corrupção passiva privilegiada; mas se o fiscal deixa de multar a pessoa
porque percebe que se trata de um antigo amigo, comete prevaricação.
4) O tipo exige que a conduta do funcionário público seja indevida apenas nas duas primeiras
modalidades (retardar e deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício). Na última hipótese prevista no
tipo (praticar ato de ofício), a conduta deve ser “contra expressa previsão legal”. Temos, neste último
caso, uma norma penal em branco, pois sua aplicação depende da existência de outra lei.

CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA – art. 320, CP


Definição jurídica. A condescendência criminosa consiste em "deixar o funcionário, por indulgência,
de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte
competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente, punível com pena de
detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa".
A terminologia é imprópria porque não se trata apenas do fato de um funcionário público ser
condescendente com outro que tenha tido conduta criminosa, mas também, se aquele tiver cometido
qualquer falta disciplinar.
A condescendência criminosa é praticada pelo funcionário público que, por indulgência, benevolência
ou tolerância, deixa de responsabilizar subalterno hierárquico que tenha cometido crime, contravenção
penal ou qualquer falta disciplinar. Também comete o delito em estudo o funcionário público que, embora
não seja superior hierárquico daquele que tenha cometido crime, contravenção penal ou qualquer falta
disciplinar, deixa de levar o fato ao conhecimento da autoridade competente para puni-lo.
Bem jurídico. A Administração Pública
Sujeitos
a) ativo. Funcionário público
b) passivo. O Estado
Tipo subjetivo. Indulgência, benevolência ou tolerância; no Direito Penal Militar, além disso, a
negligência.
Condutas típicas
Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no
exercício do cargo;
Deixar o funcionário, por indulgência, de levar ao conhecimento de autoridade competente para punir,
o fato de que outro funcionário público tenha cometido infração no exercício do cargo, evitando assim que
o infrator seja responsabilizado.
Consumação. Com a omissão
Tentativa. Inadmissível porque o delito é omissivo próprio.

ADVOCACIA ADMINISTRATIVA – art. 321, CP


Definição jurídica. O termo advocacia é impróprio e indevido pois nada tem a ver com a função do
advogado. O delito consiste em "patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a
administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário; punível com pena de detenção, de 1 (um)
a 3 (três) meses, ou multa. Se o interesse é ilegítimo a pena é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)
ano, além da multa". No Direito Penal Militar a incorreição no nomem iuris é desfeita, naquele diploma

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legal a nomenclatura usada é "patrocínio indébito". Importa salientar que no projeto de reforma do CPB o
presente tipo adota a nomenclatura do CPM.
Análise do núcleo do tipo. O verbo núcleo do tipo é patrocinar, significa proteger ou beneficiar. É a
figura do funcionário público relapso que relega seu serviço a um segundo plano e passa a defender
interesses privados, legítimos ou ilegítimos, ante a Administração Pública.
Sujeitos
a) ativo. Funcionário público
b) passivo. A Administração Pública

Desnecessidade de ser advogado. Tendo em vista que o funcionário público é impedido de exercer
a advocacia, é desnecessária a qualidade de advogado ao autor para que o delito se configure.

Outras condutas
Lei 8.137/90, art. 3º, inc. III - funcionário público patrocinado interesse privado contra a Administração
Fazendária;
Lei 8.666/93, art. 94 - funcionário público patrocinado interesse privado no âmbito das licitações.

VIOLENCIA ARBITRÁRIA – art. 322, CP


Para a maioria da doutrina penal, esse artigo foi revogado pela Lei n. 4.898/65, que trata do abuso de
autoridade. Mas para o Supremo Tribunal Federal e para a minoria da doutrina ainda está em vigor.
Trata-se de um crime praticado por funcionário público, que em função do cargo, age não contra a
Administração Pública, mas contra o administrado, agredindo-o.
O presente crime se refere a violência ilegal, arbitrária, fora dos parâmetros permitidos.

ABANDONO DE FUNÇÃO – art. 323, CP


Protege a lei nesse dispositivo a regularidade e o normal desempenho das atividades públicas, no
sentido de evitar que os funcionários públicos abandonem seus postos de forma a gerar perturbação ou
até mesmo a paralisação do serviço público.
Sujeitos ativo e passivo. Apesar de o delito ter o nome de “abandono de função”, percebe-se pela
descrição típica que o crime somente existe com o abandono de cargo, não prevalecendo a regra do art.
327 do Código Penal, que define funcionário público como ocupante de cargo, emprego ou função pública.
Assim, em razão da ressalva constante do tipo penal, pode-se concluir que sujeito ativo desse crime pode
ser apenas quem ocupa cargo público (criado por lei, com denominação própria, em número certo e pago
pelos cofres públicos). Sujeito passivo é o Estado.
Abandonar significa deixar o cargo. Para que esteja configurado o abandono é necessário que o agente
se afaste do seu cargo por tempo juridicamente relevante, de forma a colocar em risco a regularidade dos
serviços prestados. Assim, não há crime na falta eventual, bem como no desleixo na realização de parte
do serviço, que caracterizam apenas falta funcional, punível na esfera administrativa.
Não há crime também quando a ausência se dá nos casos permitidos em lei, como, por exemplo, com
autorização da autoridade competente, para prestação de serviço militar etc.
Por se tratar de crime doloso, não há crime quando o abandono ocorre em razão de força maior (prisão,
doença etc.).
A doutrina tem sustentado também que não existe crime na suspensão, ainda que prolongada, do
trabalho por parte de funcionário público — mesmo que de função essencial — quando se trata de ato
coletivo na luta por reivindicações da categoria, ou seja, nos casos de greve (enquanto não declarada
ilegal).
Consumação. O crime se consuma com o abandono do cargo por tempo juridicamente relevante,
ainda que não decorra efetivo prejuízo para a Administração. Aliás, o §1º estabelece uma forma
qualificada, quando o abandono traz como consequência prejuízo ao erário.
Tentativa. Por se tratar de crime omissivo puro, não se admite a tentativa.
Por fim, a pena será exasperada se o fato ocorrer em lugar compreendido na faixa de fronteira
(compreende a faixa de 150 quilômetros ao longo das fronteiras nacionais — Lei n. 6.634/79).

EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGALMENTE ANTECIPADO OU PROLONGADO - art. 324, CP


Análise do núcleo do tipo. Entrar no exercício significa iniciar o desempenho de determinada
atividade; continuar a exercê-la quer dizer prosseguir no desempenho de determinada atividade. O objeto
é a função pública.
Sujeitos.

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a) ativo: somente funcionário público nomeado, porém sem ter tomado posse; na segunda hipótese,
há de estar afastado ou exonerado.
b) passivo: Estado.
Elemento subjetivo do tipo. É o dolo. Não se exige elemento subjetivo específico, nem se pune a
forma culposa. Na segunda figura, há apenas o dolo direto. Inexiste forma culposa.
Elemento normativo do tipo. A expressão “sem autorização” indica a ilicitude da conduta, ao passo
que a continuidade do exercício, devidamente permitida pela administração pública, não configura o tipo
penal.
Objetos material e jurídico. O objeto material é a função pública e o objeto jurídico é a administração
pública, nos interesses material e moral.
Classificação. Crime próprio, delito de mão própria, formal, de forma livre, comissivo e,
excepcionalmente, omissivo impróprio, instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente; admite tentativa.

VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL – art. 325, CP


Condutas típicas. Esta infração penal visa resguardar o regular funcionamento da Administração
Pública, que pode ser prejudicado pela revelação de certos segredos. Por isso, será punido o funcionário
público que revelar ou facilitar a revelação desses segredos, desde que deles tenha tido conhecimento
em razão de seu cargo. O segredo a que se refere este dispositivo é aquele cujo conhecimento é limitado
a número determinado de pessoas e cuja divulgação afronte o interesse público pelas consequências que
possam advir.
A conduta de revelar segredo caracteriza-se quando o funcionário público intencionalmente dá
conhecimento de seu teor a terceiro, por escrito, verbalmente, mostrando documentos etc. Já a conduta
de facilitar a divulgação de segredo, também chamada de divulgação indireta, dá-se quando o funcionário,
querendo que o fato chegue a conhecimento de terceiro, adota determinado procedimento que torna a
descoberta acessível a outras pessoas, como ocorre no clássico exemplo de deixar anotações ou
documentos em local que possa ser facilmente visto por outras pessoas.
Comete crime o servidor público incumbido de elaborar provas de concurso público que, antes da
prova, faz chegar ao conhecimento de alguns candidatos as questões que serão abordadas.
Sujeitos ativo e passivo. Apenas o funcionário público pode ser sujeito ativo. Predomina na doutrina
o entendimento de que mesmo o funcionário aposentado ou afastado pode cometer o delito, pois o
interesse público na manutenção do sigilo permanece. O crime admite a coautoria e também a
participação — de outro funcionário público ou de particular que colabore com a divulgação. A doutrina,
contudo, salienta que o particular que se limita a tomar conhecimento do fato divulgado não comete o
delito.
A revelação de segredo profissional por quem não é funcionário público constitui crime de outra
natureza, previsto no art. 154 do Código Penal.
O sujeito passivo é sempre o Estado e, eventualmente, o particular que possa sofrer prejuízo, material
ou moral, com a revelação do sigilo.
Elemento subjetivo. É o dolo, ou seja, a intenção livre e consciente de revelar o sigilo funcional. Não
se admite a forma culposa.
Consumação. No momento em que terceiro, funcionário público ou particular, que não podia tomar
conhecimento do segredo, dele toma ciência. Trata-se de crime formal, cuja caracterização independe da
ocorrência de prejuízo.
Tentativa. É admitida, exceto na forma oral.
Subsidiariedade explícita. O art. 325, ao cuidar da pena, expressamente estabelece sua absorção
quando o fato constitui crime mais grave, como, por exemplo, crime contra a segurança nacional, fraude
em procedimento licitatório com divulgação antecipada de propostas, crime contra o sistema financeiro
etc.
Figuras equiparadas. A Lei n. 9.983/2000 criou no § 1º do art. 325 algumas infrações penais
equiparadas, punindo com as mesmas penas do caput quem permite ou facilita, mediante atribuição,
fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a
sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública (inciso I), ou se utiliza,
indevidamente, do acesso restrito a tais informações (inciso II). Por fim, o § 2º estabelece uma
qualificadora, prevendo pena de reclusão, de dois a seis anos, e multa, se da ação ou omissão resulta
dano à Administração ou terceiro.

VIOLAÇÃO DO SIGILO DE PROPOSTA DE CONCORRÊNCIA – art. 326, CP


A maioria dos escritores criminalistas entendem que esse artigo foi implicitamente revogado no art. 94
da Lei nº 8.666/93, que trata da Lei de Licitação.

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Art. 94. Devassar o sigilo de proposta apresentada em procedimento licitatório, ou proporcionar a
terceiro o ensejo de devassá-lo:
Pena - detenção, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e multa.

FUNCIONÁRIO PÚBLICO – art. 327, CP


Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
- Cargos: são criados por lei, com denominação própria, em número certo e pagos pelos cofres públicos
(Lei n. 8.112/90, art. 3º, parágrafo único).
- Emprego: para serviço temporário, com contrato em regime especial ou pela CLT. Ex.: diaristas,
mensalistas, contratados.
- Função pública: abrange qualquer conjunto de atribuições públicas que não correspondam a cargo
ou emprego público. Ex.: jurados, mesários etc.
São funcionários públicos o Presidente da República, os Prefeitos, os Vereadores, os Juízes,
Delegados de Polícia, escreventes, oficiais de justiça etc.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para
a execução de atividade típica da Administração Pública.
A Lei n. 9.983, de 14 de julho de 2000, alterou a redação do art. 327, § 1º, para ampliar o conceito de
funcionário público por equiparação. Em virtude dessa nova redação, podem ser extraídas algumas
conclusões:
1) em relação ao conceito de entidade paraestatal adotou-se a corrente ampliativa, pela qual se
considera funcionário por equiparação aquele que exerce suas atividades em:
a) autarquias (ex.: INSS);
b) sociedades de economia mista (ex.: Banco do Brasil);
c) empresas públicas (ex.: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos);
d) fundações instituídas pelo Poder Público (ex.: FUNAI).
2) Passam a ser puníveis por crimes funcionais (arts. 312 a 326 do CP) aqueles que exercem suas
funções em concessionárias ou permissionárias de serviço público (empresas contratadas) e até mesmo
em empresas conveniadas, como, p. ex., a Santa Casa de Misericórdia. O conceito de funcionário público
por equiparação não abrange as pessoas que trabalham em empresa contratada com a finalidade de
prestar serviço para a Administração Pública quando não se trata de atividade típica desta. Ex.:
trabalhador de empreiteira contratada para construir viaduto.
Entende-se, ademais, que a equiparação do § 1º, em razão do local onde está prevista no Código
Penal, só se aplica quando se refere ao sujeito ativo do delito e nunca em relação ao sujeito passivo. Ex.:
ofender funcionário de uma autarquia é injúria e não desacato. Se o mesmo funcionário, contudo,
apropriar-se de um bem da autarquia, haverá peculato, não mera apropriação indébita. Embora esse
entendimento seja quase pacífico na doutrina, existe um conhecido julgado do STF em sentido contrário
(RT, 788/526).

AUMENTO DA PENA
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder
público.
Cargo em comissão é o cargo para o qual o sujeito é nomeado em confiança, sem a necessidade de
concurso público.
O aumento também será cabível quando o agente ocupa função de direção ou assessoramento.

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Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

TÍTULO XI
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CAPÍTULO I
DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

Peculato
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público
ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor
ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de
facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
Peculato culposo
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue
a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.

Peculato mediante erro de outrem


Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro
de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Inserção de dados falsos em sistema de informações


Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir
indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública
com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: )
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações


Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem
autorização ou solicitação de autoridade competente:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração
resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado.

Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento


Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo;
sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Emprego irregular de verbas ou rendas públicas


Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Concussão
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes,
de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Excesso de exação
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou,
quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para
recolher aos cofres públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

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Corrupção passiva
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função
ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário
retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Facilitação de contrabando ou descaminho


Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334):
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Prevaricação
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição
expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao
preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos
ou com o ambiente externo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Condescendência criminosa
Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração
no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Advocacia administrativa
Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública,
valendo-se da qualidade de funcionário:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.

Violência arbitrária
Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da pena correspondente à violência.

Abandono de função
Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado


Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar
a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou
suspenso:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Violação de sigilo funcional


Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou
facilitar-lhe a revelação:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.

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§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da
Administração Pública;
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Violação do sigilo de proposta de concorrência


Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo
de devassá-lo:
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.

Funcionário público
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
execução de atividade típica da Administração Pública.
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder
público.

DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA– art. 328, CP


Trata-se de infração penal cuja finalidade também é tutelar a regularidade e o normal desempenho das
atividades públicas.
Usurpar significa desempenhar indevidamente uma atividade pública, ou seja, o sujeito assume uma
função pública, vindo a executar atos inerentes ao ofício, sem que tenha sido aprovado em concurso ou
nomeado para tal função.
Consumação. O crime se consuma, portanto, no instante em que o agente pratica algum ato inerente
à função usurpada. É desnecessária a ocorrência de qualquer outro resultado. A tentativa é admissível.
Sujeito ativo. O particular que assume as funções. Parte da doutrina entende que também comete o
crime um funcionário público que assuma, indevidamente, as funções de outro.
Elemento subjetivo. O dolo, pressupondo-se, ainda, que o agente tenha ciência de que está
usurpando a função pública.
A simples conduta de se intitular funcionário público perante terceiros, sem praticar atos inerentes ao
ofício, pode constituir apenas a contravenção descrita no art. 45 da Lei das Contravenções Penais (“fingir-
se funcionário público”).
Se da conduta o agente obtém lucro, vantagem material ou moral, aplica-se a forma qualificada
descrita no parágrafo único. Caso o agente simplesmente finja ser funcionário público, sem praticar atos
próprios do cargo, a fim de ludibriar a vítima e obter vantagem ilícita em prejuízo dela, o crime é o de
estelionato.

RESISTÊNCIA– art. 329, CP


Resistir tem o condão de opor-se, de não ceder, de recusar-se, tem sentido de oposição, seja pela
força ou pela violência, seja, ainda, pela omissão ou pela inércia.
O tipo penal em comento tem como principal objetivo proteger o poder estatal e, sendo assim, busca
resguardar a autoridade da administração pública, bem como sua liberdade na execução de suas
atividades por meio de seus funcionários.
Por tratar-se de crime comum, qualquer pessoa poderá cometê-lo, desde que se oponha ao
cumprimento de ato legal por autoridade competente para tanto. Serão sujeitos passivos, o Estado, o
funcionário que foi impedido de cumprir tal ato e, inclusive, a pessoa que esteja, eventualmente, auxiliando
o funcionário na execução de atos legais.
É fundamental reforçar a informação de que para que o delito se caracterize, essencial que o
funcionário seja competente para executar, de ofício, o ato legal, bem como que tal ato seja praticado no
exercício das funções e que, nesse momento, o agente se insurja à execução do ato.

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O cerne do artigo é a oposição do sujeito à execução do ato legal por funcionário competente. Observa-
se, aqui, que é necessário que a oposição do sujeito se manifeste por meio de ameaça ou violência física,
em face do funcionário ou da pessoa que o auxilia, no exato momento em que o ato esteja sendo
praticado, de modo, portanto, que se a oposição for exercida em momento anterior ou posterior à prática
do ato pelo funcionário público, não constitui crime de resistência.
Para que o sujeito seja enquadrado no crime em tela, necessário que haja com dolo, ou seja, com
vontade livre e consciente de executar a ação, sendo que se houver erro quanto a legalidade do ato,
haverá, também, a exclusão do dolo.

DESOBEDIÊNCIA– art. 330, CP


O crime em tela consubstancia-se pelo fato do agente desobedecer a ordem legal de funcionário
público. Todavia, há de se observar que o ato de desobedecer consiste em não acatar, não cumprir, não
se submeter à ordem de funcionário público, investido de autoridade para imposição de ordem.
O tipo penal objetiva manter a obediência das ordens emanadas do funcionário público no
cumprimento de suas funções.
O sujeito ativo do crime de desobediência poderá ser qualquer pessoa inclusive o próprio funcionário
público que venha a agir como particular, ou seja, que não esteja no exercício de sua função e venha a
desobedecer ordem de funcionário público. Vale-nos consignar que, de acordo com entendimentos
jurisprudenciais, não incorrerá no referido crime o agente, funcionário público, que vier a desobedecer
ordem de outro funcionário público, quando ambos se encontrarem no regular exercício de suas funções.
O sujeito passivo é o Estado.
O ato de desobedecer, tem o sentido de não cumprir, faltar à obediência, não atender a ordem legal
de funcionário público, ordem esta para que o agente realize ou deixe de praticar determinada ação.
É indispensável para a caracterização do delito que o agente receba, do funcionário público, um
mandamento, uma ordem, não bastando portanto que seja um pedido ou uma solicitação, sendo esta
dirigida direta e expressamente ao agente. Outrossim, indispensável que a ordem esteja investida de
legalidade pois caso não esteja, não há que se falar em desobediência.
A desobediência, via de regra, ocorre de forma dolosa, intencional, ou seja, o agente imputa sua
vontade livre e consciente em desobedecer a ordem recebida do funcionário público, porém o erro ou o
motivo de força maior exclui o caráter doloso. Não há forma culposa do delito.

DESACATO– art. 331, CP


Desacato é a conduta pela qual determinada pessoa desrespeita, não adota, deixa de reverenciar
funcionário público no exercício de sua função. Assim, comete o crime de desacato não somente o ato
de irreverência ou desrespeito, como também a ofensa, moral ou física, lançada contra pessoa investida
de autoridade.
Conforme a redação do artigo 331, observa-se indispensável que o desacato seja contra funcionário
público, no exercício de sua função ou em razão dela, tendo o delito como objetividade jurídica, manter o
prestigio, o respeito da administração pública exercido por seu agente público.
O sujeito ativo do crime de desacato poderá ser qualquer pessoa que vier a desacatar funcionário
público, inclusive o próprio funcionário público, pois como dito, a objetividade jurídica do crime é manter
o respeito, o decoro, da administração pública. Assim o sujeito passivo do delito é o Estado, bem como
seu funcionário.
O crime em tela traz em seu cerne o sentido de vexar, afrontar, ofender, desrespeitar o funcionário
público, desferindo-lhe palavras injuriosas, desrespeitosas, caluniosas, difamatórias bem como ameaças,
gestos e agressão física.

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA– art. 332, CP


Bem jurídico. A escorreita Administração Pública.
Tipo de conteúdo variado. É tipo de conteúdo variado ou de ação múltipla porquanto 4 (quatro) são
os verbos constituintes da conduta típica, “Solicitar, exigir, cobrar ou obter”.
Envolvimento de 3 (três) pessoas. Para consumação do crime é necessário a concorrência de 3
pessoas, "ainda que virtuais" nos dizeres de Guilherme Nucci. As pessoas são: o vendedor de prestígio,
o funcionário público não sabedor de que está sendo usado para beneficiar alguém, o comprador do
prestígio. Se o funcionário público souber do uso de seu prestígio por alheio, deixa de ser delito de tráfico
de influência para ser corrupção passiva. O funcionário público e a pessoa que está comprando o prestígio
são pessoas virtuais do delito.
Sujeitos ativo e passivo: o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive funcionário público. O
sujeito passivo é o Estado.

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Ato do funcionário. O crime de tráfico de influência só se caracteriza se houver ato do funcionário
público e, o ato tem que ser futuro.
Crime formal/material. Parte da doutrina entende que as condutas de solicitar, cobrar e exigir são
formais enquanto que a conduta de obter é material.
Nos dizeres de Vicenzo Manzini: "enquanto um quer vender fumaça o outro quer e supõe comprar um
assado".
Fraude. Decorre do fato de que o traficante de influência vende uma vantagem que o comprador não
vai ter de fato.
A expressão "a pretexto de". "Com desculpas de influir em ato praticado por funcionário público no
exercício da função", para beneficiar o comprador do prestígio, o traficante de influência solicita, exige,
cobra ou obtém dele vantagem para si ou para outrem. É a forma de enganar o comprador do prestígio.
Classificação. É crime comum, formal (o bem jurídico é a escorreita Administração Pública, segundo
Guilherme Nucci), comissivo, instantâneo, unissubjetivo, uni ou plurissubsistente, de forma livre.
Causa de aumento de pena. A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a
vantagem é também destinada ao funcionário (art. 332, parágrafo único).

CORRUPÇÃO ATIVA– art. 333, CP


De acordo com a teoria monista ou unitária, todos os que contribuírem para um crime responderão por
esse mesmo crime. Às vezes, entretanto, a lei cria exceções a essa teoria, como ocorre com a corrupção
passiva e a corrupção ativa. Assim, o funcionário público que solicita, recebe ou aceita promessa de
vantagem indevida comete a corrupção passiva, enquanto o particular que oferece ou promete essa
vantagem pratica corrupção ativa. Existe, portanto, uma correlação entre as figuras típicas dos delitos:

Na modalidade “solicitar” da corrupção passiva, não existe, entretanto, figura correlata na corrupção
ativa. Com efeito, na solicitação a iniciativa é do funcionário público, que se adianta e pede alguma
vantagem ao particular. Em razão disso, se o particular dá, entrega o dinheiro, só existe a corrupção
passiva. O fato é atípico quanto ao particular, pois ele não ofereceu nem mesmo prometeu, mas tão
somente entregou, o que lhe foi solicitado. Como tal conduta não está prevista em lei, o fato é atípico.
Existe corrupção passiva sem corrupção ativa?
Sim, em duas hipóteses. Primeiro, no caso já mencionado acima.
Segundo, quando o funcionário público solicita e o particular se recusa a entregar o que foi pedido.
Por outro lado, nas condutas de oferecer e prometer, que são as únicas descritas na corrupção ativa,
a iniciativa é do particular.
A corrupção ativa, portanto, consuma-se no momento em que a oferta ou a promessa chegam ao
funcionário público. Assim, se o funcionário recebe ou aceita a promessa, responde por corrupção passiva
e o particular por corrupção ativa. Porém, se o funcionário público as recusa, só o particular responde por
corrupção ativa.
Existe corrupção ativa sem corrupção passiva?
Sim, quando o funcionário público não recebe e não aceita a oferta ou promessa de vantagem ilícita.
É necessário que o agente ofereça ou faça uma promessa de vantagem indevida para que o
funcionário público pratique, omita ou retarde ato de ofício. Sem isso não há corrupção ativa.
E se o agente se limita a pedir para o funcionário “dar um jeitinho”?
Não há corrupção ativa, pois o agente não ofereceu nem prometeu qualquer vantagem indevida.
Nesse caso, se o funcionário público “dá o jeitinho” e não pratica o ato que deveria, responde por
corrupção passiva privilegiada (art. 317, § 2º) e o particular figura como partícipe. Se o funcionário público
não dá o jeitinho, o fato é atípico.
O tipo exige que a vantagem seja endereçada ao funcionário público.
A que tipo de vantagem se refere a lei?
a) Deve ser indevida; se for devida, não há crime.
b) Nélson Hungria acha que a vantagem deve ser patrimonial. Damásio
E. de Jesus, M. Noronha, Heleno C. Fragoso e Júlio F. Mirabete entendem que a vantagem pode ser
de qualquer natureza, inclusive sexual.
Se o particular oferece a vantagem para evitar que o funcionário público pratique contra ele algum ato
ilegal, não há crime.
E se um menor de idade oferece dinheiro a um policial que o pegou dirigindo sem habilitação e este
aceita?
O policial pratica crime de corrupção passiva.
Conforme já mencionado, a corrupção ativa consuma-se quando a oferta ou a promessa chegam ao
funcionário público e independe da aceitação deste.

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Se, entretanto, o funcionário público a aceitar e, em razão da vantagem, retardar, omitir ou praticar ato
infringindo dever funcional, a pena da corrupção ativa será aumentada de um terço, nos termos do art.
333, parágrafo único, do Código Penal. Sempre que ocorrer essa hipótese, o funcionário público será
responsabilizado pela forma exasperada descrita no art. 317, § 1º, do Código Penal.
Tentativa. A tentativa é possível apenas na forma escrita.
Para que exista a corrupção ativa, o sujeito, com a oferta ou promessa de vantagem, deve visar fazer
com que o funcionário:
a) Retarde ato de ofício. Ex.: para que um delegado de polícia demore a concluir um inquérito policial,
visando a prescrição.
b) Omita ato de ofício. Ex.: para que o policial não o multe.
c) Pratique ato de ofício. Ex.: para delegado de polícia emitir Carteira de Habilitação para quem não
passou no exame (nesse caso, há também crime de falsidade ideológica).
Distinção. Se houver corrupção ativa em transação comercial internacional, estará configurado o
crime do art. 337-B do Código Penal. A corrupção para obter voto em eleição constitui crime do art. 299
do Código Eleitoral (Lei n. 4.737/65). Por fim, a corrupção ativa de testemunhas, peritos, tradutores ou
intérpretes, não oficiais, constitui o crime do art. 343 do Código Penal.

CONTRABANDO e DESCAMINHO– art. 334 e 334-A, CP


Contrabando é a clandestina importação ou exportação de mercadorias cuja entrada no país, ou saída
dele, é absoluta ou relativamente proibida.
Descaminho é a fraude tendente a frustrar, total ou parcialmente, o pagamento de direitos de
importação ou exportação ou do imposto de consumo (a ser cobrado na própria aduana) sobre
mercadorias.
Essa distinção é apontada por Nélson Hungria (Comentários ao Código Penal, 2. ed., v. 9, p. 432).
Em se tratando de importação ou exportação de substância entorpecente, configura-se crime de tráfico
internacional de entorpecente, previsto no art. 33, caput, com a pena aumentada pelo art. 40, I, todos da
Lei n. 11.343/2006.
A importação ou exportação ilegal de arma de fogo, acessório ou munição constitui também crime
específico, previsto no art. 18 da Lei n. 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), cuja pena é de quatro
a oito anos de reclusão, e multa. Como essa lei não faz ressalva, ao contrário do que ocorria com a
anterior (Lei n. 9.437/97), não é possível a punição concomitantemente com o crime de contrabando ou
descaminho.
Objetividade jurídica. O controle do Poder Público sobre a entrada e saída de mercadorias do País
e os interesses em termos de tributação da Fazenda Nacional.
O STJ vinha aplicando o princípio da insignificância, reconhecendo a atipicidade da conduta, quando
o valor corrigido do tributo devido não superava R$ 1.000,00, argumentando que a Fazenda Pública
dispensava o ajuizamento de execução fiscal para cobrar valores até esse limite com base na Lei n.
9.469/97. O art. 1º-A, da referida lei foi, entretanto, modificado pela Lei n. 11.941/2009. Pelo texto atual
está autorizado o não ajuizamento de ação e o requerimento da extinção das ações em curso, de acordo
com os critérios de custos de administração e cobrança. Afastou-se, assim, um valor determinado,
passando a decisão de propor ou não a ação ao Advogado-Geral da União, que deverá se pautar de
acordo com a conveniência para a administração em face do valor que busca e os custos da ação. De
ver-se, entretanto, que o parágrafo único do art. 1º-A estabelece que, no caso de Dívida Ativa da União
e nos processos em que a representação judicial seja atribuída à Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional, não é possível tal discricionariedade, o que tornará necessária reapreciação do tema pelo STJ.
O art. 34 da Lei n. 9.249/95 estabelece que “extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei n.
8.137/90, e na Lei n. 4.729/65, quando o agente promover o pagamento do tributo ou contribuição social,
inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia”.
Embora esta lei não mencione o crime de descaminho, tem- -se entendido que o dispositivo é aplicável
a referido delito, pois, como os demais, atinge a ordem tributária.
Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. O funcionário público que facilite a conduta, entretanto,
responderá pelo crime de facilitação ao contrabando (art. 318).
Sujeito passivo. O Estado.
Consumação. O crime se consuma com a entrada ou saída da mercadoria do território nacional.
Tentativa. É possível. Quando a hipótese é de exportação, o crime é tentado se a mercadoria não
chega a sair do País. Por outro lado, no caso de importação, se o agente entrar com a mercadoria no
País, mas for preso na alfândega (de um aeroporto, por exemplo), o crime estará consumado.

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Ação penal. É pública incondicionada, de competência da justiça federal. Além disso, a Súmula 151
do STJ estabelece que “a competência para processo e julgamento por crime de contrabando ou
descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens”.
Causa de aumento de pena. Determina o § 3º que a pena será aplicada em dobro quando o
contrabando ou descaminho for praticado mediante transporte aéreo. A razão da maior severidade da
pena é a facilidade decorrente da utilização de aeronaves para a prática do delito. Por esse mesmo
motivo, parece-nos não ser aplicável a majorante quando a aeronave pousa ou decola de aeroporto
dotado de alfândega, uma vez que nestes não existe maior facilidade na entrada ou saída de mercadorias.
Figuras equiparadas. O § 1º do art. 334 prevê, em suas quatro alíneas, várias figuras equiparadas
ao contrabando ou descaminho:
a) A navegação de cabotagem tem a finalidade de realizar o comércio entre portos de um mesmo país.
Assim, constitui crime a prática desta fora dos casos permitidos em lei. Trata-se, portanto, de norma penal
em branco, cuja existência pressupõe o desrespeito ao texto de outra lei.
b) A prática de ato assimilado previsto em lei, como, por exemplo, a saída de mercadorias da Zona
Franca de Manaus sem o pagamento de tributos, quando o valor excede a cota que cada pessoa pode
trazer. Trata-se, também, de norma penal em branco.
c) Nesse dispositivo, o legislador pune, inicialmente, o próprio contrabandista que vende, expõe à
venda, mantém em depósito ou de qualquer forma utiliza a mercadoria, no exercício de atividade
comercial ou industrial. Quando isso ocorre, é evidente que o agente não será punido pela figura do caput,
que resta, portanto, absorvida.
Lembre-se que o § 2º estabelece que se equipara à atividade comercial qualquer forma de comércio
irregular (sem registro junto aos órgãos competentes) ou clandestino (camelôs, por exemplo), inclusive o
exercido em residências.
Em um segundo momento, a lei pune quem toma as mesmas atitudes em relação a mercadorias
introduzidas clandestinamente ou importadas fraudulentamente por terceiro.
d) A lei pune, por fim, a pessoa que, no exercício de atividade comercial ou industrial, adquire (obtém
a propriedade), recebe (obtém a posse) ou oculta (esconde) mercadoria de procedência estrangeira
desacompanhada de documentos ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. Trata-se de
delito que possui as mesmas condutas típicas do crime de receptação, mas que se aplica especificamente
a mercadorias contrabandeadas. A norma explicativa do § 2º aplica-se também aos crimes descritos nesta
alínea.

IMPEDIMENTO, PERTURBAÇÃO OU FRAUDE DE CONCORRÊNCIA– art. 335, CP


O art. 335 do CP foi revogado pelos arts. 93 e 95 da Lei n. 8.666/1993, que disciplina as licitações e
contratos públicos. De modo que o crime de impedimento, perturbação e fraude de concorrência pública
não se encontra mais descrito no CP e sim na lei especial.

Art. 93. Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento licitatório:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Art. 95. Afastar ou procurar afastar licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou
oferecimento de vantagem de qualquer tipo:
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Objeto jurídico: é a preservação do patrimônio da Administração Pública.

Sujeitos
a) ativo: como trata-se de crime comum, pode ser cometido por qualquer pessoa, inclusive por
funcionário público, desde que não se enquadre na conduta do art. 326 do Código Penal. Nada impede
que realize o fato o próprio licitante, interessado em afastar os outros concorrentes.
b) passivos: Principal é o Estado; secundário, o licitante prejudicado.
Elemento Subjetivo dos tipos: Na primeira modalidade tipificada no art. 93 da Lei nº 8.666/93, exige-
se o dolo. Na segunda, prevista no art. 95, além do dolo, exige-se a intenção de afastar o licitante.

INUTILIZAÇÃO DE EDITAL OU DE SINAL– art. 336, CP


Tipo penal. Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital, afixado por ordem de
funcionário público, violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem de
funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer objeto.
Sujeitos

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a) ativo: qualquer pessoa.
b) passivo: Estado.
Elemento subjetivo do tipo. Dolo, não se exige elemento subjetivo específico. Não há forma culposa.
Objetos material e jurídico. O objeto material das primeiras condutas é o edital; das outras, o selo ou
sinal identificador ou que cerra algo; o objeto jurídico é a administração pública, nos interesses material
e moral.
Classificação. Crime comum, material, de forma livre, comissivo ou omissivo impróprio, instantâneo,
de dano, unissubjetivo, plurissubsistente, admite a tentativa.

SUBTRAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO– art. 337, CP


Tipo penal. Subtrair ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado
à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público.
Sujeitos
a) ativo: qualquer pessoa.
b) passivo: Estado; secundariamente, a pessoa prejudicada.
Elemento subjetivo do tipo. Dolo, não se exige elemento subjetivo específico. Não há forma culposa.
Objetos material e jurídico. O objeto material é a vantagem e o objeto jurídico é a administração
pública, nos interesses material e moral.
Classificação. Crime comum, material, de forma livre, comissivo ou omissivo impróprio, instantâneo,
unissubjetivo, plurissubsistente, admite a tentativa.

SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA– art. 337-A, CP


Tipo penal. O tipo consiste nas condutas elencadas nos incisos consistentes em suprimir ou reduzir
contribuição social previdenciária e qualquer acessório.
Sujeitos
a) ativo: o titular de firma individual, os sócios solidários, os gerentes, diretores ou administradores
que efetivamente tenham participado da administração da empresa a ponto de concorrer de maneira
eficaz para a conduta punível.
b) passivo: Estado, especificamente o INSS.
Elemento subjetivo do tipo. Dolo, exige-se elemento subjetivo específico consistente na vontade de
fraudar a previdência, deixando de pagar a contribuição. Não há forma culposa.
Objetos material e jurídico. De acordo com os incisos:
I – objeto material: folha de pagamento; objeto jurídico: seguridade social.
II – objeto material: título próprio da contabilidade da empresa; objeto jurídico: seguridade social.
III – objeto material: receita, o lucro auferido, a remuneração paga ou creditada ou outro fato gerador
de contribuição previdenciária; objeto jurídico: a seguridade social.
Classificação. Crime próprio, formal, de forma livre, comissivo ou omissivo impróprio, instantâneo,
unissubjetivo, unissubsistente, não admite a tentativa.

Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

CAPÍTULO II
DOS CRIMES PRATICADOS POR
PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

Usurpação de função pública


Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

Resistência
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente
para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.

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Desobediência
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

Desacato
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

Tráfico de Influência
Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é
também destinada ao funcionário.

Corrupção ativa
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar,
omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o
funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

Descaminho (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)


Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela
saída ou pelo consumo de mercadoria
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem:
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que
introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução
clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou
acompanhada de documentos que sabe serem falsos.
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo
ou fluvial
Contrabando
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem:
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando;
II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização
de órgão público competente;
III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação;
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo
ou fluvial.

Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência

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Art. 335 - Impedir, perturbar ou fraudar concorrência pública ou venda em hasta pública, promovida
pela administração federal, estadual ou municipal, ou por entidade paraestatal; afastar ou procurar afastar
concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, além da pena correspondente à violência.
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se abstém de concorrer ou licitar, em razão da
vantagem oferecida.

Nota: o crime tipificado no art. 335 do Código Penal foi tacitamente revogado pelo art. 93 e 95 da
Lei 8.666/93.

Inutilização de edital ou de sinal


Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário
público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem de funcionário
público, para identificar ou cerrar qualquer objeto:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Subtração ou inutilização de livro ou documento


Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado à
custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Sonegação de contribuição previdenciária


Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as
seguintes condutas:
I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação
previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este
equiparado que lhe prestem serviços;
II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias
descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços;
III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e
demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições,
importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei
ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
§ 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário
e de bons antecedentes, desde que:
I – (VETADO)
II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido
pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
execuções fiscais.
§ 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassa R$
1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou
aplicar apenas a de multa.
§ 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos
índices do reajuste dos benefícios da previdência social.

Questões

01. (Prefeitura de Rosana/SP - Procurador do Município - VUNESP/2016) Assinale a alternativa


correta sobre o crime de peculato, tipificado no artigo 312 e parágrafos do Código Penal.
(A) É crime próprio e não admite o concurso de pessoas.
(B) No peculato culposo a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, reduz de metade a
pena imposta.
(C) Admite o concurso de pessoas desde que a qualidade de funcionário público, elementar do tipo,
seja de conhecimento do particular coautor ou partícipe.

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(D) Para a caracterização do peculato-furto, afigura-se necessário que o funcionário público tenha a
posse do dinheiro, valor ou bem que subtrai ou que concorre para que seja subtraído, em proveito próprio
ou alheio.
(E) No peculato doloso a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a
punibilidade.

02. (SEGEP/MA - Auditor Fiscal da Receita Estadual - FCC/2016) A vantagem indevida obtida pelo
funcionário público só caracteriza o crime de concussão quando for
(A) exigida.
(B) solicitada.
(C) aceita.
(D) oferecida.
(E) recebida.

03. (CREF - 7ª Região (DF) - Auxiliar de Atendimento e Administração - Quadrix/2016) Em relação


aos crimes praticados contra a Administração Pública, analise o enunciado proposto e assinale a
alternativa correta. “Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”, configura o seguinte delito:
(A) prevaricação.
(B) concussão.
(C) advocacia administrativa.
(D) tráfico de influência.
(E) corrupção ativa.

04. (SEGEP/MA - Técnico da Receita Estadual - FCC/2016) João, chefe da repartição pública,
constata que seu subordinado Antônio cometeu infração ao despachar processo administrativo de sua
responsabilidade e atribuição. João, sabendo que Antônio passa por difícil situação pessoal, deixa de
tomar as providências disciplinares cabíveis ao caso. A conduta de João caracteriza o crime de
(A) prevaricação.
(B) advocacia administrativa.
(C) condescendência criminosa.
(D) favorecimento pessoal.
(E) favorecimento real.

05. (TJ/RO - Oficial de Justiça - FGV) Gustavo, funcionário público que atua junto à Secretaria de
Finanças de determinado Município, quando estava em seu trabalho, recebe uma ligação de sua esposa
dizendo que o filho do casal acabara de nascer. Eufórico, deixa a repartição pública e esquece o cofre
com dinheiro público aberto. Breno, também funcionário público daquela repartição, valendo-se do
esquecimento de Gustavo, pratica um crime de peculato. Considerando a situação narrada, é correto
afirmar que Gustavo:
(A) responderá pelo crime de peculato culposo, sendo que a reparação do dano antes da sentença
irrecorrível gera extinção da punibilidade;
(B) não poderá ser responsabilizado por sua conduta, pois o Código Penal não prevê a figura do
peculato culposo;
(C) responderá pelo crime de peculato culposo, sendo que a reparação do dano, desde que anterior
ao oferecimento da denúncia, gerará a extinção da punibilidade;
(D) responderá pelo crime de peculato-furto em concurso de agentes com Breno;
(E) responderá por peculato culposo, sendo que a reparação do dano, desde que anterior ao
recebimento da denúncia, gerará extinção da punibilidade.

06. (Prefeitura de Taubaté/SP – Escriturário - PUBLICONSULT) Se um servidor, ao final do


expediente, leva para casa clips, canetas, borrachas, folhas de papel, por exemplo, ainda que em
pequena quantidade, fere o patrimônio público, cometendo um ato ilícito, que é um crime previsto no
Código Penal brasileiro, caracterizado pela apropriação, por parte do servidor público, de valores ou
qualquer outro bem móvel ou de consumo em proveito próprio ou de outrem. Trata-se do(a):
(A) Concussão
(B) Improbidade administrativa
(C) Peculato
(D) Prevaricação

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07. (TCM/SP - Agente de Fiscalização – FGV) Por um período de 03 meses, Natan exerceu função
pública, não recebendo, porém, qualquer remuneração pelo exercício dessa função. Durante o período,
Natan concorreu culposamente para prática de um crime de peculato doloso por parte de Otávio,
funcionário público estável que atuava no mesmo setor que Natan. Sobre a hipótese narrada, é correto
afirmar que Natan:
(A) não poderá responder na condição de funcionário público, pois apenas exerceu a função
transitoriamente;
(B) apesar de funcionário público para efeitos penais, não poderá ser responsabilizado pela prática de
crime, pois não existe previsão de peculato culposo;
(C) não poderá responder na condição de funcionário público porque não recebeu remuneração,
apesar de a transitoriedade, por si só, não afastar tal posição para fins penais;
(D) poderá ser responsabilizado na condição de particular, em concurso de agentes, pelo crime de
peculato praticado por Otávio;
(E) poderá ser responsabilizado como funcionário público pela prática do crime de peculato culposo,
sendo que eventual reparação do dano, antes da sentença irrecorrível, extinguirá sua punibilidade.

08. (SEGEP/MA - Técnico da Receita Estadual - FCC/2016) O particular que exige vantagem a
pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função, pratica o crime de
(A) concussão.
(B) advocacia administrativa.
(C) usurpação de função pública.
(D) tráfico de influência.
(E) corrupção.

09. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário - VUNESP) A pena prevista pelo Código Penal para o
crime de “resistência” (CP, art. 329), por expressa disposição legal, é
(A) de reclusão e de multa.
(B) de reclusão, de seis meses a um ano.
(C) maior, se o funcionário público, em razão da violência, fica afastado do cargo.
(D) maior se o ato, em razão da resistência, não se executa.
(E) diminuída de um a dois terços se a resistência não é praticada com violência.

10. (PGR - Procurador da República - PGR) No tema de corrupção ativa a alternativa correta é:
(A) Pouco importa se o ato a ser praticado pelo funcionário público seja legal ou ilegal;
(B) A tentativa ocorrera se, por circunstancias alheias a vontade do agente, não chegar ao
conhecimento do funcionário;
(C) Tentativa ocorrera se o funcionário não retardar ou omitir ato de oficio ou não pratica-lo infringindo
dever funcional;
(D) Incide o aumento mesmo se, por causa da promessa, o funcionário praticar o ato de acordo com
as normas incidentes.

Gabarito

01.C/ 02.A / 03.A / 04.C / 05.A/ 06.C / 07.E / 08.D/ 09.D / 10.B

Comentários

01. Resposta: C
A condição de funcionário público é elementar do peculato (art. 312, CP), razão pela qual comunica-
se a todos aqueles que tenham concorrido de qualquer modo para o crime (coautoria ou participação),
mesmo em se tratando de pessoas alheias aos quadros públicos, contudo, desde que elas tenham
conhecimento dessa qualidade do autor.

02. Resposta: A
O crime de concussão (art. 316, CP) consuma-se no momento em que a exigência chega ao
conhecimento da vítima, independentemente da efetiva obtenção da vantagem visada. Trata-se de crime
formal. A obtenção da vantagem é mero exaurimento.

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03. Resposta: A
Assim, dispõe o Código Penal, ao tipificar o delito de prevaricação: “Art. 319 - Retardar ou deixar de
praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer
interesse ou sentimento pessoal. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa”.

04. Resposta: C
João praticou o crime de condescendência criminosa. A condescendência criminosa consiste em
"deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício
do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente
(art. 320 do CP).

05. Resposta: A
O peculato culposo nada mais é que o concurso não intencional pelo funcionário público, realizado por
ação ou omissão - mediante imprudência, negligência ou desídia - para a apropriação, desvio ou
subtração de dinheiro, valor ou qualquer outro bem pertencente ao Estado ou sob sua guarda, por uma
terceira pessoa, que pode ser funcionário público ou particular.
Consoante o artigo 312, §3º, do CP, se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem,
a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz
de metade a pena imposta.

06. Resposta: C
(Peculato) Art. 312 do CP - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou
alheio

07. Resposta: E
Nos termos do que dispõe o artigo 327 do CP, no momento em que praticou a conduta, Natan era
funcionário público para efeitos penais. Assim, como concorreu culposamente para a prática de um crime
de peculato irá responder por “peculato-culposo” (art. 312, §2º, do CP). Sem prejuízo, caso o Natan realize
a reparação do dano, antes da sentença irrecorrível, extingue-se sua punibilidade; e se é posterior, reduz
de metade a pena imposta (art. 312, §3º, do CP).

08. Resposta: D
O tráfico de influência é um dos crimes praticados por particulares (geralmente, empresários e
políticos) contra a administração pública em geral. Consiste em solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si
ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem (como se fosse um investimento), a pretexto de
influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função. É o que dispõe o art. 332 do CP.

09. Resposta: D
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente
para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência

10. Resposta: B
O crime de corrupção ativa (art.333, CP) consuma-se no momento em que o funcionário público toma
conhecimento da oferta ou sua promessa, ainda que a recuse (crime formal). Contudo, é admitida a
tentativa na forma “escrita”. Desta forma, se por circunstâncias alheias à vontade do agente, não chega
a oferta ou sua promessa ao conhecimento do funcionário público, estamos diante do delito em sua forma
tentada.

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1519603 E-book gerado especialmente para JADSON HENRIQUE
Legislação Específica: Lei Federal Nº 4.898/1965 (Lei do Abuso de Autoridade):
Art. 1º ao 9º.

Podemos definir o Abuso de Autoridade como crime que abrange as condutas abusivas de poder. O
abuso de poder é gênero do qual surgem o excesso de poder ou o desvio de poder ou de finalidade.
Desta forma, o abuso de poder pode se manifestar como o excesso de poder, caso em que o agente
público atua além de sua competência legal, como pode se manifestar pelo desvio de poder, em que o
agente público atua contrariamente ao interesse público, desviando-se da finalidade pública.
Tratam-se, pois, de formas arbitrárias de agir do agente público no âmbito administrativo, em que está
adstrito ao que determina a lei (princípio da estrita legalidade).
No caso do abuso de autoridade, temos a tipificação daquelas condutas abusivas de poder como
crimes podendo-se dizer que o abuso de autoridade é o abuso de poder analisado sob as normas penais.
Mais ainda, o abuso de autoridade abrange o abuso de poder, conforme se pode vislumbrar pelo
disposto no art. 4º, a, Lei nº 4.898/65, utilizando os conceitos administrativos para tipificar condutas
contrárias à lei no âmbito penal e disciplinar.
Portanto, podemos dizer que, além do abuso de poder ser infração administrativa, também é utilizado
no âmbito penal para caracterizar algumas condutas de abuso de autoridade, sendo que, essas são muito
mais amplas do que o simples abuso de poder (excesso ou desvio de poder), eis que abarcam outras
condutas ilegais do agente público, o que nos leva a concluir que o abuso de autoridade abrange o abuso
de poder que, por sua vez, se desdobra em excesso e desvio de poder ou de finalidade.

Os atos de abuso de autoridade estão descritos nos arts. 3º e 4º da Lei.


O objeto jurídico dos crimes de abuso de autoridade se dividem em: imediato/principal e
mediato/secundário. O imediato protege os direitos e garantias fundamentais das pessoas físicas e
jurídicas e o mediato protege a regularidade e probidade dos serviços públicos.
Lembre-se que o ato de abuso é forma irregular e ímproba da prestação de serviços públicos.
Elemento subjetivo:
Além do dolo de praticar a conduta típica é necessária ainda a intenção específica de agir
abusivamente.
Se a autoridade na justa intenção de cumprir seu dever ou proteger o interesse público acaba
cometendo excesso haverá ilegalidade no ato, mas não crime de abuso de autoridade.
Consumação se dá com a conduta, ainda que não ocorra a efetiva lesão ao direito protegido no tipo.
Crime formal.
A ação penal é incondicionada.
Os crimes de abuso de autoridade são punidos com multa e/ou 10 dias a 06 meses de detenção; e/ou
perda do cargo ou inabilitação por isso a competência para processar e julgar será do Juizado Especial
Criminal Estadual ou Federal.
As penas poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente.

Seguem os dispositivos da Lei nº. 4.898/65 cobrados pelo Edital:

LEI Nº 4.898, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1965.40

Regula o Direito de Representação e o processo de Responsabilidade Administrativa Civil e Penal,


nos casos de abuso de autoridade.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra


as autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei.

Art. 2º O direito de representação será exercido por meio de petição:


a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à autoridade civil ou militar
culpada, a respectiva sanção;

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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l4898.htm - Acesso em 13.09.2018

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1519603 E-book gerado especialmente para JADSON HENRIQUE
b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar processo-crime contra a
autoridade culpada.
Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a exposição do fato constitutivo
do abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de
testemunhas, no máximo de três, se as houver.

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:


a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:


a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com
abuso de poder;
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em
lei;
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada;
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei;
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer
outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu
valor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de
carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso
ou desvio de poder ou sem competência legal;
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de
expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade.

Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função
pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração.

Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal.
§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso cometido e consistirá
em:
a) advertência;
b) repreensão;
c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com perda de
vencimentos e vantagens;
d) destituição de função;
e) demissão;
f) demissão, a bem do serviço público.
§ 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no pagamento de uma
indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros.
§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e
consistirá em:
a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
b) detenção por dez dias a seis meses;
c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três
anos.
§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente.

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1519603 E-book gerado especialmente para JADSON HENRIQUE
§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer
categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções
de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de um a cinco anos.

Art. 7º recebida a representação em que for solicitada a aplicação de sanção administrativa, a


autoridade civil ou militar competente determinará a instauração de inquérito para apurar o fato.
§ 1º O inquérito administrativo obedecerá às normas estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou
federais, civis ou militares, que estabeleçam o respectivo processo.
§ 2º não existindo no município no Estado ou na legislação militar normas reguladoras do inquérito
administrativo serão aplicadas supletivamente, as disposições dos arts. 219 a 225 da Lei nº 1.711, de 28
de outubro de 1952 (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União).
§ 3º O processo administrativo não poderá ser sobrestado para o fim de aguardar a decisão da ação
penal ou civil.

Art. 8º A sanção aplicada será anotada na ficha funcional da autoridade civil ou militar.

Art. 9º Simultaneamente com a representação dirigida à autoridade administrativa ou


independentemente dela, poderá ser promovida pela vítima do abuso, a responsabilidade civil ou penal
ou ambas, da autoridade culpada.

(...)

Questões

01. (TRF - 2ª REGIÃO - Analista Judiciário - Contadoria – CONSULPLAN/2017). De acordo com a


Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, o abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção
administrativa civil e penal. A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso
cometido e NÃO consistirá em:
(A) Advertência.
(B) Repreensão.
(C) Demissão, a bem do serviço público.
(D) Suspensão do cargo, função ou posto por prazo de trinta a trezentos e sessenta dias, com perda
de vencimentos e vantagens.

02. (TJ-MG - Titular de Serviços de Notas e de Registros – Provimento – CONSUPLAN/2016)


Segundo a Lei nº 4.898/1965, constituem abuso de autoridade, EXCETO:
(A) Qualquer atentado ao direito de reunião.
(B) Deixar a autoridade policial de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja
comunicada.
(C) Qualquer atentado à liberdade de associação.
(D) Prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de
expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade.

03. (TJ/PB - Juiz Substituto - CESPE) A condenação por crime previsto na lei de abuso de autoridade
(Lei n.º 4.898/1965) poderá importar na aplicação de sanção penal de
(A) inabilitação para contratar com a administração pública por prazo determinado.
(B) reclusão.
(C) inabilitação para o exercício de qualquer função pública por prazo determinado.
(D) advertência.
(E) prisão simples.

04. (TRT - 18ª Região (GO) - Juiz do Trabalho – FCC) No que concerne aos crimes de abuso de
autoridade, é correto afirmar que:
(A) Compete à Justiça Militar processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade praticado em
serviço, segundo entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça.
(B) É cominada pena privativa de liberdade na modalidade de reclusão.
(C) Se considera autoridade apenas quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil
ou militar, não transitório e remunerado.
(D) Não é cominada pena de multa.

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1519603 E-book gerado especialmente para JADSON HENRIQUE
(E) Constitui abuso de autoridade qualquer atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao
exercício profissional.

Gabarito

01. D /02. B /03. C / 04. E

Comentários
01. Resposta: D
Lei 4.898/1965
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal.
§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso cometido e consistirá
em:
( )
c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com perda de
vencimentos e vantagens.

02. Resposta: B.
Segundo a alínea “d” do art. 4º da Lei 4.898/65 haverá abuso de autoridade quando o juiz deixar de
ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada. Portanto, a alternativa B
está incorreta.

03. Resposta: C
Consoante o previsto no artigo 6º, §3º, da Lei nº 4.898/65, a sanção penal será aplicada de acordo
com as regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em:
a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
b) detenção por dez dias a seis meses;
c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três
anos.

04. Resposta: E
O Artigo 3º da Lei do Abuso de Autoridade assim preceitua:
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.

Lei Federal Nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente): Art. 1º ao 18;


Art. 60 ao 69; Art. 74 ao 85; Art. 98 ao 114.

LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 199041

DISPÕE SOBRE O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E DÁ OUTRAS


PROVIDÊNCIAS.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm - Acesso em 13/09/2018.

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1519603 E-book gerado especialmente para JADSON HENRIQUE
Título I
Das Disposições Preliminares

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos,
e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas
entre dezoito e vinte e um anos de idade.

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios,
todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes,
sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença,
deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente
social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a
comunidade em que vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à
juventude.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou
omissão, aos seus direitos fundamentais.

Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências
do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do
adolescente como pessoas em desenvolvimento.

Título II
Dos Direitos Fundamentais
Capítulo I
Do Direito à Vida e à Saúde

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de
políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em
condições dignas de existência.

Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher
e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao
parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único
de Saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 1o O atendimento pré-natal será realizado por profissionais da atenção primária. (Redação dada pela
Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2o Os profissionais de saúde de referência da gestante garantirão sua vinculação, no último trimestre
da gestação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o direito de opção da mulher.
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

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1519603 E-book gerado especialmente para JADSON HENRIQUE
§ 3o Os serviços de saúde onde o parto for realizado assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-
nascidos alta hospitalar responsável e contra referência na atenção primária, bem como o acesso a outros
serviços e a grupos de apoio à amamentação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 4o Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período pré
e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal.
§ 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser prestada também a gestantes e mães que
manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e mães que se
encontrem em situação de privação de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 6o A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acompanhante de sua preferência durante o período
do pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 7o A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento materno, alimentação complementar
saudável e crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer a criação de
vínculos afetivos e de estimular o desenvolvimento integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de
2016)
§ 8o A gestante tem direito a acompanhamento saudável durante toda a gestação e a parto natural
cuidadoso, estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras intervenções cirúrgicas por motivos
médicos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 9o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da gestante que não iniciar ou que abandonar as
consultas de pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas pós-parto. (Incluído pela
Lei nº 13.257, de 2016)
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher com filho na primeira infância que se
encontrem sob custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias
e assistenciais do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de
ensino competente, visando ao desenvolvimento integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas ao


aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade.
§ 1o Os profissionais das unidades primárias de saúde desenvolverão ações sistemáticas, individuais
ou coletivas, visando ao planejamento, à implementação e à avaliação de ações de promoção, proteção
e apoio ao aleitamento materno e à alimentação complementar saudável, de forma contínua. (Incluído
pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2o Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal deverão dispor de banco de leite humano
ou unidade de coleta de leite humano. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e


particulares, são obrigados a:
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de
dezoito anos;
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão
digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente;
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do
recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais;
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e
do desenvolvimento do neonato;
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe.
VI - acompanhar a prática do processo de amamentação, prestando orientações quanto à técnica
adequada, enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo técnico já existente.
(Incluído pela Lei nº 13.436, de 2017)

Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde da criança e do
adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no acesso a
ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257,
de 2016)
§ 1o A criança e o adolescente com deficiência serão atendidos, sem discriminação ou segregação, em
suas necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e reabilitação. (Redação dada pela Lei
nº 13.257, de 2016)
§ 2o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, àqueles que necessitarem, medicamentos,
órteses, próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou reabilitação para

. 208
1519603 E-book gerado especialmente para JADSON HENRIQUE
crianças e adolescentes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades específicas.
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 3o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou frequente de crianças na primeira infância
receberão formação específica e permanente para a detecção de sinais de risco para o desenvolvimento
psíquico, bem como para o acompanhamento que se fizer necessário. (Incluído pela Lei nº 13.257, de
2016)

Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclusive as unidades neonatais, de terapia


intensiva e de cuidados intermediários, deverão proporcionar condições para a permanência em tempo
integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente. (Redação
dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e
de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar
da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
§ 1o As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão
obrigatoriamente encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude. (Incluído
pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entrada, os serviços de assistência social em
seu componente especializado, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e os
demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão conferir máxima
prioridade ao atendimento das crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação
de violência de qualquer natureza, formulando projeto terapêutico singular que inclua intervenção em rede
e, se necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para
a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de
educação sanitária para pais, educadores e alunos.
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias.
(Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde bucal das crianças e das gestantes, de
forma transversal, integral e inter setorial com as demais linhas de cuidado direcionadas à mulher e à
criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função educativa protetiva e será prestada, inicialmente,
antes de o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no sexto e no décimo
segundo anos de vida, com orientações sobre saúde bucal. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odontológicos especiais será atendida pelo Sistema Único
de Saúde. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus primeiros dezoito meses de vida, de
protocolo ou outro instrumento construído com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta pediátrica
de acompanhamento da criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico. (Incluído pela Lei nº
13.438, de 2017)

Capítulo II
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas
humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:


I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI - participar da vida política, na forma da lei;
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

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1519603 E-book gerado especialmente para JADSON HENRIQUE
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da
criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos
valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de
qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo
físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer
outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes
públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles,
tratá-los, educá-los ou protegê-los.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a
criança ou o adolescente que resulte em:
a) sofrimento físico; ou
b) lesão;
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao
adolescente que:
a) humilhe;
b) ameace gravemente; ou
c) ridicularize.

Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos executores
de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de crianças e de adolescentes,
tratá-los, educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante como
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de
outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado;
V - advertência.
Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem
prejuízo de outras providências legais.

(...)

Capítulo V
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho

Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de
aprendiz.

Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação especial, sem prejuízo do
disposto nesta Lei

Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes


e bases da legislação de educação em vigor.

Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos seguintes princípios:


I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular;
II - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;
III - horário especial para o exercício das atividades.

Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurada bolsa de aprendizagem.

Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são assegurados os direitos trabalhistas e
previdenciários.

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Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho protegido.

Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica,
assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado trabalho:
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte;
II - perigoso, insalubre ou penoso;
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral
e social;
IV - realizado em horários e locais que não permitam a frequência à escola.

Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho educativo, sob responsabilidade de entidade
governamental ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao adolescente que dele
participe condições de capacitação para o exercício de atividade regular remunerada.
§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as exigências pedagógicas relativas
ao desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo.
§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a participação na venda dos
produtos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.

Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho, observados os


seguintes aspectos, entre outros:
I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.

(...)

Capítulo II
Da Prevenção Especial
Seção I
Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e Espetáculos

Art. 74. O poder público, através do órgão competente, regulará as diversões e espetáculos públicos,
informando sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que
sua apresentação se mostre inadequada.
Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e espetáculos públicos deverão afixar, em lugar
visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza do
espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de classificação.

Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões e espetáculos públicos classificados
como adequados à sua faixa etária.
Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente poderão ingressar e permanecer nos
locais de apresentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável.

Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário recomendado para o público
infanto juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas.
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso de sua classificação,
antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.

Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários de empresas que explorem a venda ou
aluguel de fitas de programação em vídeo cuidarão para que não haja venda ou locação em desacordo
com a classificação atribuída pelo órgão competente.
Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão exibir, no invólucro, informação sobre a
natureza da obra e a faixa etária a que se destinam.

Art. 78. As revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e


adolescentes deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo.
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que contenham mensagens pornográficas
ou obscenas sejam protegidas com embalagem opaca.

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Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter ilustrações,
fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão
respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explorem comercialmente bilhar, sinuca ou
congênere ou por casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas, ainda que eventualmente,
cuidarão para que não seja permitida a entrada e a permanência de crianças e adolescentes no local,
afixando aviso para orientação do público.

Seção II
Dos Produtos e Serviços

Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:


I - armas, munições e explosivos;
II - bebidas alcoólicas;
III - produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que por
utilização indevida;
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes
de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida;
V - revistas e publicações a que alude o art. 78;
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.

Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou adolescente em hotel, motel, pensão ou


estabelecimento congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável.

Seção III
Da Autorização para Viajar

Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada dos pais
ou responsável, sem expressa autorização judicial.
§ 1º A autorização não será exigida quando:
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da Federação, ou
incluída na mesma região metropolitana;
b) a criança estiver acompanhada:
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documentalmente o parentesco;
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável, conceder autorização válida por
dois anos.

Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a criança ou


adolescente:
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento
com firma reconhecida.

Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido em
território nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior.

(...)

Título II
Das Medidas de Proteção
Capítulo I
Disposições Gerais

Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos
reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;

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III - em razão de sua conduta.

Capítulo II
Das Medidas Específicas de Proteção

Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem
como substituídas a qualquer tempo.

Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-
se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas:
I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos: crianças e adolescentes são os
titulares dos direitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição Federal;
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e qualquer norma contida nesta
Lei deve ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que crianças e adolescentes são
titulares;
III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos assegurados
a crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta
expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de governo,
sem prejuízo da municipalização do atendimento e da possibilidade da execução de programas por
entidades não governamentais;
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve atender prioritariamente aos
interesses e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for devida a outros
interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve ser efetuada no
respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada;
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a
situação de perigo seja conhecida;
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e
instituições cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança e do
adolescente;
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser a necessária e adequada à situação de
perigo em que a criança ou o adolescente se encontram no momento em que a decisão é tomada;
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada de modo que os pais assumam os
seus deveres para com a criança e o adolescente;
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção da criança e do adolescente deve
ser dada prevalência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua família natural ou extensa ou,
se isso não for possível, que promovam a sua integração em família adotiva; (Redação dada pela Lei nº
13.509, de 2017)
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, respeitado seu estágio de
desenvolvimento e capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos
seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da forma como esta se processa;
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, em separado ou na companhia dos
pais, de responsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais ou responsável, têm direito a
ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de proteção,
sendo sua opinião devidamente considerada pela autoridade judiciária competente, observado o disposto
nos §§ 1º e 2º do art. 28 desta Lei.

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá
determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da
família, da criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e
toxicômanos;
VII - acolhimento institucional;

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VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;
IX - colocação em família substituta.
§ 1º O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais,
utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação
em família substituta, não implicando privação de liberdade.
§ 2º Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso
sexual e das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do
convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido
do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual
se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.
§ 3º Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam
programas de acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento,
expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros
I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos;
II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência;
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda;
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar.
§ 4º Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo
programa de acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendimento, visando
à reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de
autoridade judiciária competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação em família
substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.
§ 5º O plano individual será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo
programa de atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva dos
pais ou do responsável.
§ 6º Constarão do plano individual, dentre outros:
I - os resultados da avaliação interdisciplinar;
II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e
seus pais ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por expressa e
fundamentada determinação judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação em família
substituta, sob direta supervisão da autoridade judiciária.
§ 7º O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do
responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade,
a família de origem será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social,
sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido.
§ 8º Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o responsável pelo programa de acolhimento
familiar ou institucional fará imediata comunicação à autoridade judiciária, que dará vista ao Ministério
Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
§ 9º Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou do adolescente à família
de origem, após seu encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, apoio e
promoção social, será enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a descrição
pormenorizada das providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da
entidade ou responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar,
para a destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda.
§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a
ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos
complementares ou de outras providências indispensáveis ao ajuizamento da demanda. (Redação dada
pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um cadastro contendo
informações atualizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar e
institucional sob sua responsabilidade, com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de
cada um, bem como as providências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação em família
substituta, em qualquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.
§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência
Social e os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência Social, aos
quais incumbe deliberar sobre a implementação de políticas públicas que permitam reduzir o número de
crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e abreviar o período de permanência em programa
de acolhimento.

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Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo serão acompanhadas da regularização
do registro civil.
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o assento de nascimento da criança ou adolescente
será feito à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da autoridade judiciária.
§ 2º Os registros e certidões necessários à regularização de que trata este artigo são isentos de multas,
custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
§ 3º Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado procedimento específico destinado à sua
averiguação, conforme previsto pela Lei nº 8.560, de 29 de dezembro de 1992.
§ 4º Nas hipóteses previstas no § 3º deste artigo, é dispensável o ajuizamento de ação de investigação
de paternidade pelo Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do suposto pai em
assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção.
§ 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a qualquer tempo, do nome do pai no assento de
nascimento são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade. (Incluído dada
pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação requerida do reconhecimento de paternidade no
assento de nascimento e a certidão correspondente. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

Título III
Da Prática de Ato Infracional
Capítulo I
Disposições Gerais

Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.

Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas
nesta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do
fato.

Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas no art. 101.

Capítulo II
Dos Direitos Individuais

Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou
por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão,
devendo ser informado acerca de seus direitos.

Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido serão incontinenti
comunicados à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada.
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de responsabilidade, a possibilidade de
liberação imediata.

Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de quarenta e
cinco dias.
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios suficientes de autoria e
materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.

Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será submetido a identificação compulsória pelos
órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida fundada.

Capítulo III
Das Garantias Processuais

Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal.

Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias:


I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente;

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II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir
todas as provas necessárias à sua defesa;
III - defesa técnica por advogado;
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei;
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento.

Capítulo IV
Das Medidas Socioeducativas
Seção I
Disposições Gerais

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente
as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semiliberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as
circunstâncias e a gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e
especializado, em local adequado às suas condições.

Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e 100.

Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II a VI do art. 112 pressupõe a existência de
provas suficientes da autoria e da materialidade da infração, ressalvada a hipótese de remissão, nos
termos do art. 127.
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre que houver prova da materialidade e
indícios suficientes da autoria.

Questões

01. (Prefeitura de Sul Brasil/SC - Agente Educativo - ALTERNATIVE CONCURSOS/2017) De


acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 60, é proibido qualquer trabalho
a menores:
(A) De quatorze anos de idade, inclusive na condição de aprendiz.
(B) De quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.
(C) De dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz.
(D) De dezesseis anos de idade, inclusive na condição de aprendiz.
(E) De dezessete anos de idade, inclusive na condição de aprendiz.

02. (Prefeitura de Sul Brasil/SC - Educador Social - ALTERNATIVE CONCURSOS/2017) De acordo


com o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 69, o adolescente tem direito à
profissionalização e à proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos:
I. Respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
II. Capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.
III. Remuneração do adolescente em relação ao trabalho prestado.
(A) Somente I e III estão corretas.
(B) Somente I e II estão corretas.
(C) Somente II e III estão corretas.
(D) Somente I está correta.
(E) Todas estão corretas.

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03. (Prefeitura de Niterói/RJ - Agente de Administração Educacional - COSEAC/2016) Segundo o
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), a pessoa com 13 anos de idade é considerada:
(A) criança.
(B) adolescente.
(C) jovem.
(D) imputável.
(E) capaz.

04. (TRT 1ª Região – Juiz do Trabalho - FCC/2016) NÃO é dever da comunidade e da sociedade
em geral assegurar ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito
(A) à convivência familiar.
(B) ao esporte.
(C) ao lazer.
(D) à cultura.
(E) ao ensino superior.

05. (UFRJ – Assistente de Alunos – PR-4 UFRJ/2017) De acordo com o artigo 3º do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-
lhes, por lei ou por outros meios todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar, em condições
de liberdade e dignidade, o desenvolvimento:
(A) ético, moral, psíquico e físico.
(B) físico, moral e social.
(C) social, moral e psíquico.
(D) mental, moral e espiritual.
(E) físico, mental, moral, espiritual e social.

06. (Prefeitura de Paulista/PE – Pedagogo – UPENET/IAUPE) O Art. 5º, da Lei N.º 8.069, de 13 de
julho de 1990, do Estatuto da Criança e do Adolescente, define que qualquer atentado, por ação ou
omissão, aos direitos fundamentais de qualquer criança ou adolescente será punido na forma da lei.
Assim, crianças e adolescentes não podem ser objeto de qualquer forma de
I. negligência, discriminação e exploração.
II. proteção, adoção, exploração e violência.
III. violência, crueldade e opressão.
IV. serviço, parceria, opressão e negligência.
Estão CORRETAS
(A) I e III.
(B) I e II.
(C) II e IV.
(D) III e IV.
(E) I e IV.

07. (SEAS/CE – Assistente Social/Psicólogo/Pedagogo - UECE-CEV/2017) Segundo o ECA, é


proibida a venda, a crianças ou adolescentes, de
(A) qualquer bebida, inclusive as bebidas não alcoólicas.
(B) produtos cujos componentes não possam causar dependência física ou psíquica.
(C) bilhetes lotéricos e equivalentes.
(D) fogos de estampido e de artifício que, pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar
qualquer dano físico em caso de utilização indevida.

08. (SEAS/CE – Socioeducador - UECE-CEV/2017) O direito ao respeito, previsto no ECA, consiste


(A) na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo
a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e
objetos pessoais.
(B) em brincar, praticar esportes e divertir-se.
(C) em participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação.
(D) no direito de buscar refúgio, auxílio e orientação.

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Gabarito

01.B / 02.B / 03.B / 04.E /05.E / 06.A / 07.C / 08.A

Comentários

01. Alternativa: B.
O enunciado da questão exige do candidato conhecimento acerca do artigo 60 do ECA o qual
estabelece:
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de
aprendiz.
Portanto, a alternativa B está em conformidade com o disposto na legislação, pois determina a
proibição do trabalho à menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.

02. Alternativa: B.
O Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8.069/90 traz em seu artigo 69, o direito à
profissionalização e a proteção do trabalho do adolescente, assim, observa-se que não faz luz a
remuneração por meio deste, ficando a cargo da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT, a sua
regulamentação (Art. 428, §2º).
Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho, observados os
seguintes aspectos, entre outros:
I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.

03. Alternativa: B.
O conteúdo abordado na questão 11 também faz alusão ao conceito trazido pelo artigo 2º da Lei
8.069/90, ao definir como adolescente a pessoa entre doze e dezoito anos de idade, assim a alterativa
correta é a assertiva B.

04. Alternativa: E
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária.

05. Alternativa: E
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios,
todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

06. Alternativa: A
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou
omissão, aos seus direitos fundamentais.

07. Resposta: C.
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:
I - armas, munições e explosivos;
II - bebidas alcoólicas;
III - produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que por
utilização indevida;
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes
de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida;
V - revistas e publicações a que alude o art. 78;
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.

08. Resposta: A.

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Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da
criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos
valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

Lei Federal Nº 11.343/2006 (Lei das Drogas).

O debate sobre a questão de drogas tem, na atualidade, percorrido inúmeros campos do conhecimento
científico, proporcionando, em diversos momentos estudos interdisciplinares a respeito da temática. A
problemática na área dos entorpecentes tem possibilitado pesquisas que vão desde as Ciências médicas
(enfoque sanitário proporcionado pela psiquiatria e farmacologia) até as humanas (antropologia,
sociologia, história, psicanálise, psicologia e direito).
O enfoque interdisciplinar do presente tópico será no âmbito das Ciências Jurídicas e Sociais, mais
especificamente no campo da sistemática da Lei de Entorpecentes.
O problema das drogas e tóxicos não é uma criação do século XXI. Atualmente, é indispensável
reconhecer que são raros aqueles que nunca se depararam com um conhecido ou parente que ostente o
vício por alguma droga, ou que tenha sido vítima de delito praticado por alguém que se encontrava sob o
efeito de drogas. E este problema não é exclusivo dos brasileiros – a questão das drogas pode ser tida,
no mundo todo, como um dos principais conflitos das sociedades contemporâneas.
Inquestionavelmente o consumo de drogas é, hoje, um problema de saúde pública. Desta forma, tão
necessário quanto discutir sua legalização, é questionar qual é a estrutura e a assistência à oferecida aos
dependentes químicos em todo país. Observa-se que o problema não é recente e nem passou a ser
discutido agora. A verdade é que o poder público sempre se eximiu de sua responsabilidade, reduzindo
a questão ao combate ao tráfico e, consequentemente, oferecendo um tratamento criminalizador aos
usuários de drogas que se mostrou ineficiente para avançar na transformação desta realidade.
Estamos vivenciando um período em que as coisas não vão bem, diversos males assolam nossa
sociedade, e a droga figura como um dos maiores problemas que enfrentamos.
O ordenamento jurídico nacional abriga, desde o dia 24 de agosto de 2006, data de sua publicação,
uma nova lei sobre o controle, prevenção e repressão de drogas. A referida Lei, publicada sob o número
11.343, foi sancionada no dia 23 de agosto de 2006 pelo Presidente da República Luis Inácio Lula da
Silva com pouquíssimos vetos, se compararmos com a última lei (Lei nº 6.368/90) que versava sobre o
tema.
Com o advento da nova Lei de Entorpecentes, nosso sistema legal sobre a matéria ficou menos
confuso, permitindo, assim, um entendimento mais claro, não só para os juristas, mas também para toda
a população. A lei traz em seu bojo alguns avanços, que podem ser facilmente notados. No entanto, isso
não significa dizer que não carrega uma carga de problemas e conflitos jurídicos, os quais serão objetos
de análise ao longo do presente tópico.
Os eixos principais desse diploma legal passam, dentre outros, pelos seguintes pontos: a) pretensão
de se introduzir no Brasil uma sólida política de prevenção ao uso de drogas, de assistência e de
reinserção social do usuário; b) eliminação da pena de prisão ao usuário (ou seja: em relação a quem
tem posse de droga para consumo pessoal); c) rigor punitivo contra o traficante e financiador do tráfico;
d) clara distinção entre o traficante “profissional” e ocasional; e) louvável clareza na configuração do rito
procedimental e f) inequívoco intuito de que sejam apreendidos, arrecadados e, quando o caso, leiloados
os bens e vantagens obtidos com os delitos de drogas.
Criou-se com a Lei o SISNAD (Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas), que tem por
tarefa articular, integrar, organizar e coordenar toda a política brasileira relacionada com a prevenção do
uso indevido de drogas, atenção e reinserção social dos usuários e dependentes assim como com a
repressão à produção e tráfico ilícito de drogas.
Ao usuário não se comina a pena de prisão. Pretende-se que ele nem sequer passe pela polícia. O
infrator da Lei será enviado diretamente aos juizados Criminais, salvo onde inexistem tais Juizados em
regime de plantão (art. 48, §2º). Não há que se falar, de outro lado, em inquérito policial, sim em termo
circunstanciado. Não é possível a prisão em flagrante (art. 48, §2º): o agente surpreendido é capturado,
mas não se lavra o auto de prisão (no seu lugar, elabora-se o termo circunstanciado). A competência para
aplicação de todas as medidas alternativas é dos Juizados Criminais. Na audiência preliminar é possível
a transação penal, aplicando-se as penas alternativas do art. 28. Não aceita (pelo agente) a transação
penal, segue-se o rito sumaríssimo da Lei nº 9.099/95. Mas, no final, de modo algum será imposta pena
de prisão, sim, somente as medidas alternativas do art. 28. A distinção entre usuário e traficante continua

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tendo por base o caso concreto, ou seja, as circunstâncias serão analisadas caso a caso, devendo ser
levada em conta a natureza da droga, sua quantidade, local e condições da prisão, modo de vida do
agente, seus antecedentes, etc.
Verifica-se que a Lei nº 11.343, busca seguir uma linha punitiva mais rigorosa com relação ao
tratamento direcionado ao traficante: a pena mínima é de cinco anos; proíbe-se, praticamente tudo: fiança,
indulto, sursis, anistia, liberdade provisória, penas substitutivas e direito de apelar em liberdade. Apesar
desse caráter punitivista, o diploma legal não deixou de contemplar uma sensível diminuição de pena
para o traficante ocasional (primário e de bons antecedentes, que não se dedica à atividade criminosa) e
a figura do traficante ocasional e íntimo, sendo aquele que oferece droga, eventualmente e sem objetivo
de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem.
No que diz respeito a parte procedimental, o usuário será processado e julgado pelos Juizados
Criminais enquanto o tráfico (e outros delitos graves) seguirá (seguirão) o procedimento clássico
(conflitivo).
Os bens móveis e imóveis ou valores consistentes em produtos adquiridos pela pratica dos crimes
previstos na Lei de Entorpecentes, e também trata da cooperação internacional. Sabe-se que sem se
controlar os capitais da criminalidade organizada, jamais se alcança uma eficaz política de repressão e
prevenção de futuros delitos.

LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 200642

Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para
prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece
normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras
providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve
medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de
drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e
define crimes.
Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos
capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas
periodicamente pelo Poder Executivo da União.

Art. 2º Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a
colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas,
ressalvada a hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção
de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso
estritamente ritualístico-religioso.
Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais referidos no
caput deste artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados,
mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas.

TÍTULO II
DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS

Art. 3º O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades


relacionadas com:
I - a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
II - a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.

42
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm - acesso em 13.09.2018

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CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS E DOS OBJETIVOS
DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS

Art. 4º São princípios do Sisnad:


I - o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente quanto à sua autonomia e
à sua liberdade;
II - o respeito à diversidade e às especificidades populacionais existentes;
III - a promoção dos valores éticos, culturais e de cidadania do povo brasileiro, reconhecendo-os como
fatores de proteção para o uso indevido de drogas e outros comportamentos correlacionados;
IV - a promoção de consensos nacionais, de ampla participação social, para o estabelecimento dos
fundamentos e estratégias do Sisnad;
V - a promoção da responsabilidade compartilhada entre Estado e Sociedade, reconhecendo a
importância da participação social nas atividades do Sisnad;
VI - o reconhecimento da intersetorialidade dos fatores correlacionados com o uso indevido de drogas,
com a sua produção não autorizada e o seu tráfico ilícito;
VII - a integração das estratégias nacionais e internacionais de prevenção do uso indevido, atenção e
reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e
ao seu tráfico ilícito;
VIII - a articulação com os órgãos do Ministério Público e dos Poderes Legislativo e Judiciário visando
à cooperação mútua nas atividades do Sisnad;
IX - a adoção de abordagem multidisciplinar que reconheça a interdependência e a natureza
complementar das atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e
dependentes de drogas, repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas;
X - a observância do equilíbrio entre as atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção
social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao seu
tráfico ilícito, visando a garantir a estabilidade e o bem-estar social;
XI - a observância às orientações e normas emanadas do Conselho Nacional Antidrogas - Conad.

Art. 5º O Sisnad tem os seguintes objetivos:


I - contribuir para a inclusão social do cidadão, visando a torná-lo menos vulnerável a assumir
comportamentos de risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e outros comportamentos
correlacionados;
II - promover a construção e a socialização do conhecimento sobre drogas no país;
III - promover a integração entre as políticas de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social
de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao tráfico ilícito e
as políticas públicas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal, Estados e
Municípios;
IV - assegurar as condições para a coordenação, a integração e a articulação das atividades de que
trata o Art. 3º desta Lei.

CAPÍTULO II
DA COMPOSIÇÃO E DA ORGANIZAÇÃO
DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS

Art. 6º (VETADO)

Art. 7º A organização do Sisnad assegura a orientação central e a execução descentralizada das


atividades realizadas em seu âmbito, nas esferas federal, distrital, estadual e municipal e se constitui
matéria definida no regulamento desta Lei.

Art. 8º (VETADO)

CAPÍTULO III
(VETADO)

Art. 9º (VETADO)
Art. 10. (VETADO)
Art. 11. (VETADO)

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Art. 12. (VETADO)
Art. 13. (VETADO)
Art. 14. (VETADO)

CAPÍTULO IV
DA COLETA, ANÁLISE E DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕES
SOBRE DROGAS

Art. 15. (VETADO)

Art. 16. As instituições com atuação nas áreas da atenção à saúde e da assistência social que atendam
usuários ou dependentes de drogas devem comunicar ao órgão competente do respectivo sistema
municipal de saúde os casos atendidos e os óbitos ocorridos, preservando a identidade das pessoas,
conforme orientações emanadas da União.

Art. 17. Os dados estatísticos nacionais de repressão ao tráfico ilícito de drogas integrarão sistema de
informações do Poder Executivo.

TÍTULO III
DAS ATIVIDADES DE PREVENÇÃO DO USO INDEVIDO, ATENÇÃO E
REINSERÇÃO SOCIAL DE USUÁRIOS E DEPENDENTES DE DROGAS
CAPÍTULO I
DA PREVENÇÃO

Art. 18. Constituem atividades de prevenção do uso indevido de drogas, para efeito desta Lei, aquelas
direcionadas para a redução dos fatores de vulnerabilidade e risco e para a promoção e o fortalecimento
dos fatores de proteção.

Art. 19. As atividades de prevenção do uso indevido de drogas devem observar os seguintes princípios
e diretrizes:
I - o reconhecimento do uso indevido de drogas como fator de interferência na qualidade de vida do
indivíduo e na sua relação com a comunidade à qual pertence;
II - a adoção de conceitos objetivos e de fundamentação científica como forma de orientar as ações
dos serviços públicos comunitários e privados e de evitar preconceitos e estigmatização das pessoas e
dos serviços que as atendam;
III - o fortalecimento da autonomia e da responsabilidade individual em relação ao uso indevido de
drogas;
IV - o compartilhamento de responsabilidades e a colaboração mútua com as instituições do setor
privado e com os diversos segmentos sociais, incluindo usuários e dependentes de drogas e respectivos
familiares, por meio do estabelecimento de parcerias;
V - a adoção de estratégias preventivas diferenciadas e adequadas às especificidades socioculturais
das diversas populações, bem como das diferentes drogas utilizadas;
VI - o reconhecimento do “não-uso”, do “retardamento do uso” e da redução de riscos como resultados
desejáveis das atividades de natureza preventiva, quando da definição dos objetivos a serem alcançados;
VII - o tratamento especial dirigido às parcelas mais vulneráveis da população, levando em
consideração as suas necessidades específicas;
VIII - a articulação entre os serviços e organizações que atuam em atividades de prevenção do uso
indevido de drogas e a rede de atenção a usuários e dependentes de drogas e respectivos familiares;
IX - o investimento em alternativas esportivas, culturais, artísticas, profissionais, entre outras, como
forma de inclusão social e de melhoria da qualidade de vida;
X - o estabelecimento de políticas de formação continuada na área da prevenção do uso indevido de
drogas para profissionais de educação nos 3 (três) níveis de ensino;
XI - a implantação de projetos pedagógicos de prevenção do uso indevido de drogas, nas instituições
de ensino público e privado, alinhados às Diretrizes Curriculares Nacionais e aos conhecimentos
relacionados a drogas;
XII - a observância das orientações e normas emanadas do Conad;
XIII - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social de políticas setoriais específicas.

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Parágrafo único. As atividades de prevenção do uso indevido de drogas dirigidas à criança e ao
adolescente deverão estar em consonância com as diretrizes emanadas pelo Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente - Conanda.

CAPÍTULO II
DAS ATIVIDADES DE ATENÇÃO E DE REINSERÇÃO SOCIAL
DE USUÁRIOS OU DEPENDENTES DE DROGAS

Art. 20. Constituem atividades de atenção ao usuário e dependente de drogas e respectivos familiares,
para efeito desta Lei, aquelas que visem à melhoria da qualidade de vida e à redução dos riscos e dos
danos associados ao uso de drogas.

Art. 21. Constituem atividades de reinserção social do usuário ou do dependente de drogas e


respectivos familiares, para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para sua integração ou reintegração
em redes sociais.

Art. 22. As atividades de atenção e as de reinserção social do usuário e do dependente de drogas e


respectivos familiares devem observar os seguintes princípios e diretrizes:
I - respeito ao usuário e ao dependente de drogas, independentemente de quaisquer condições,
observados os direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e diretrizes do Sistema Único de
Saúde e da Política Nacional de Assistência Social;
II - a adoção de estratégias diferenciadas de atenção e reinserção social do usuário e do dependente
de drogas e respectivos familiares que considerem as suas peculiaridades socioculturais;
III - definição de projeto terapêutico individualizado, orientado para a inclusão social e para a redução
de riscos e de danos sociais e à saúde;
IV - atenção ao usuário ou dependente de drogas e aos respectivos familiares, sempre que possível,
de forma multidisciplinar e por equipes multiprofissionais;
V - observância das orientações e normas emanadas do Conad;
VI - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social de políticas setoriais específicas.

Art. 23. As redes dos serviços de saúde da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios
desenvolverão programas de atenção ao usuário e ao dependente de drogas, respeitadas as diretrizes
do Ministério da Saúde e os princípios explicitados no art. 22 desta Lei, obrigatória a previsão
orçamentária adequada.

Art. 24. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão conceder benefícios às
instituições privadas que desenvolverem programas de reinserção no mercado de trabalho, do usuário e
do dependente de drogas encaminhados por órgão oficial.

Art. 25. As instituições da sociedade civil, sem fins lucrativos, com atuação nas áreas da atenção à
saúde e da assistência social, que atendam usuários ou dependentes de drogas poderão receber
recursos do Funad, condicionados à sua disponibilidade orçamentária e financeira.

Art. 26. O usuário e o dependente de drogas que, em razão da prática de infração penal, estiverem
cumprindo pena privativa de liberdade ou submetidos a medida de segurança, têm garantidos os serviços
de atenção à sua saúde, definidos pelo respectivo sistema penitenciário.

CAPÍTULO III
DOS CRIMES E DAS PENAS

Art. 27. As penas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem
como substituídas a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Público e o defensor.

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo
pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será
submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

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§ 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe
plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar
dependência física ou psíquica.
§ 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à
quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às
circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.
§ 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo
de 5 (cinco) meses.
§ 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão
aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.
§ 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários, entidades
educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins
lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários
e dependentes de drogas.
§ 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos I, II e
III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:
I - admoestação verbal;
II - multa.
§ 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator, gratuitamente,
estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento especializado.

Breves Comentários:
O objeto material do delito é a droga. A lei de 2006 subtraiu a expressão “substância entorpecente”
utilizada pela lei de 1976. Sendo o artigo 28 da lei norma penal em branco, sua complementação se dá
através da portaria 344/98 do Ministério da Saúde, explicitando quais drogas são ilícitas.

O delito de porte de drogas para uso próprio tem as seguintes penas:


- Advertência sobre efeitos da droga;
- Prestação de serviços à comunidade;
- Comparecimento à programa ou curso educativo.

É importante frisar que de acordo com o STF porte de drogas para uso próprio permanece crime (houve
moderada despenalização). O crime é punido somente com penas alternativas.
Segundo o art. 30 da lei de drogas o prazo prescricional desse crime é de 02 (anos) Se submete as
causas interruptivas e suspensivas do CP.
No caso de descumprimento injustificado da pena alternativa não caberá conversão em privativa de
liberdade. O que o magistrado poderá fazer é advertir o condenado ou impor multa.
Bem jurídico: saúde pública colocada em risco pelo comportamento do usuário.
Não se pune o porte da droga, para uso próprio, em função da proteção à saúde do agente (a autolesão
não é punida), mas em razão do mal potencial que pode gerar a coletividade.
Sujeito ativo: crime comum.
Sujeito passivo: a coletividade (delito vago = vítima é ente sem personalidade objetiva).
Conduta: não se pune o agente se for surpreendido usando drogas, sem possibilidade de encontrar a
droga em seu poder.
Não existe materialidade e o uso pretérito é atípico.
Voluntariedade: dolo.
Consumação: consuma-se com a prática de qualquer um dos núcleos.
O crime é permanente em alguns verbos, como por exemplo, trazer consigo, manter em depósito (a
consumação se protrai no tempo).
Esse crime admite tentativa.
Para que fique comprovada a materialidade do crime, é imprescindível laudo pericial da substância.
ATENÇÃO! Para o oferecimento da denúncia, basta o laudo de constatação, mas para a condenação,
é necessário o laudo definitivo.

Art. 29. Na imposição da medida educativa a que se refere o inciso II do § 6o do art. 28, o juiz,
atendendo à reprovabilidade da conduta, fixará o número de dias-multa, em quantidade nunca inferior a
40 (quarenta) nem superior a 100 (cem), atribuindo depois a cada um, segundo a capacidade econômica
do agente, o valor de um trinta avos até 3 (três) vezes o valor do maior salário mínimo.

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Parágrafo único. Os valores decorrentes da imposição da multa a que se refere o § 6o do art. 28 serão
creditados à conta do Fundo Nacional Antidrogas.

Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado, no tocante à
interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.

TÍTULO IV
DA REPRESSÃO À PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA
E AO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 31. É indispensável a licença prévia da autoridade competente para produzir, extrair, fabricar,
transformar, preparar, possuir, manter em depósito, importar, exportar, reexportar, remeter, transportar,
expor, oferecer, vender, comprar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas ou matéria-prima
destinada à sua preparação, observadas as demais exigências legais.

Art. 32. As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo delegado de polícia na forma do
art. 50-A, que recolherá quantidade suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de
levantamento das condições encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as medidas
necessárias para a preservação da prova. (Redação dada pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 3º Em caso de ser utilizada a queimada para destruir a plantação, observar-se-á, além das
cautelas necessárias à proteção ao meio ambiente, o disposto no Decreto no 2.661, de 8 de julho de
1998, no que couber, dispensada a autorização prévia do órgão próprio do Sistema Nacional do Meio
Ambiente - Sisnama.
§ 4º As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expropriadas, conforme o disposto no art. 243
da Constituição Federal, de acordo com a legislação em vigor.

CAPÍTULO II
DOS CRIMES

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda,
oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em
depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à
preparação de drogas;
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda
ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: (Vide ADI 4274)
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.
§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para
juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto
a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de
bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide
Resolução nº 5, de 2012).

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Breves comentários:
Bem jurídico: saúde pública (tutela imediata).
Saúde individual de pessoas que integram a sociedade (tutela mediata).
Sujeito ativo: crime comum.
ATENÇÃO! Na modalidade “prescrever” (receitar para alguém), o crime só pode ser praticado por
médico ou dentista (crime próprio).
Sujeito passivo:
- primário é a sociedade;
- secundário são as crianças, adolescentes e pessoas sem capacidade de entendimento e
autodeterminação.

Conduta: O crime do art. 33 da lei de droga possui 18 núcleos (crime plurinuclear).

ATENÇÃO! Mesmo que o agente pratique, no mesmo contexto fático e sucessivamente mais de uma
ação típica, responderá por crime único (princípio da alternatividade). Faltando proximidade
comportamental entre as várias condutas (ausente o mesmo contexto fático) haverá concurso de crimes.
Voluntariedade: dolo.
Consumação: consuma-se com a prática de qualquer um dos núcleos trazidos pelo tipo.
Admite tentativa.

ATENÇÃO! Temos modalidades permanentes. Ex: guardar, manter em depósito, trazer consigo, etc.
A figura do § 4º desse artigo é causa de diminuição da pena. Veja quais requisitos devem ser
preenchidos para o agente receber o benefício:
Requisitos:
a) Agente primário;
b) Bons antecedentes;
c) Não se dedique às atividades criminosas;
d) Nem integre organização criminosa.

Atenção! Esses requisitos são cumulativos.

Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título,
possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer
objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil)
dias-multa.

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer
dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos)
dias-multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática
reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

Breves comentários:
Para a caracterização desse delito é imprescindível o animus associativo, aliado ao fim específico de
traficar drogas, maquinários ou financiar o tráfico.
É crime permanente, protraindo-se a consumação enquanto perdurar a reunião.

Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e
34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro
mil) dias-multa.

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de
qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

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Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-
multa.

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-
lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)
dias-multa.
Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a
que pertença o agente.

Breves comentários:
É o único crime culposo previsto nesta lei.
É infração de menor potencial ofensivo, portanto, a competência para processar e julgar será do
JECRIM (Juizado Especial Criminal).

Sujeito passivo:
- primário é a coletividade.
- Secundário é o paciente.

Consumação:
⦁ “prescrever” (receitar): o crime se consuma com a entrega da receita ao paciente.
⦁ “ministrar” (aplicar): consuma-se no momento da aplicação.

ATENÇÃO! sofrendo o paciente dano à sua saúde, ou mesmo a morte, haverá concurso formal (art.
70, CP) com lesão culposa ou homicídio culposo.

IMPORTANTE!
- Por ser crime culposo não admite tentativa.
- Na modalidade “prescrever”, consuma-se com a simples entrega da receita ao paciente, dispensando
qualquer dano à sua saúde, trata-se de crime culposo não material (dispensa resultado naturalístico).

Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a
incolumidade de outrem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo, cassação da
habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada,
e pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa.
Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as demais, serão de 4
(quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no
caput deste artigo for de transporte coletivo de passageiros.

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços,
se:
I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato
evidenciarem a transnacionalidade do delito;
II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de
educação, poder familiar, guarda ou vigilância;
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de
ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou
beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de
qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de
unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer
processo de intimidação difusa ou coletiva;
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;
VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer
motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação;
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

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Breves comentários:
Essa majorante de pena só incidirá nos crimes definidos nos artigos 33 a 37.

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo
criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial
do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.

Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do
Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social
do agente.

Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta Lei, o juiz, atendendo ao que
dispõe o art. 42 desta Lei, determinará o número de dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as
condições econômicas dos acusados, valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5 (cinco) vezes
o maior salário-mínimo.
Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso de crimes serão impostas sempre
cumulativamente, podem ser aumentadas até o décuplo se, em virtude da situação econômica do
acusado, considerá-las o juiz ineficazes, ainda que aplicadas no máximo.

Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e
insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas
em restritivas de direitos.
Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o livramento condicional após o
cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico.

Obs.: O Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucional o artigo 44 da Lei das Drogas,
que proíbe os acusados por tráfico de entorpecentes responderem ao processo em liberdade. A
definição relativa à necessidade ou não de se manter preso os acusados se dará caso a caso,
baseando-se nos argumentos apresentados ao juiz responsável.
Ocorre que a disposição do art. 44 da Lei 11.343/2006 retiraria do juiz competente a oportunidade
de, no caso concreto, analisar os pressupostos de necessidade da custódia cautelar, a incorrer em
antecipação de pena. Frisou-se no julgamento que a inafiançabilidade do delito de tráfico de
entorpecentes, estabelecida constitucionalmente, não significaria óbice à liberdade provisória,
considerado o conflito do inciso XLIII com o LXVI (“ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança”), ambos do art. 5º da CF. Concluiu-se
que a segregação cautelar — mesmo no tráfico ilícito de entorpecentes — deveria ser analisada assim
como ocorreria nas demais constrições cautelares, relativas a outros delitos dispostos no ordenamento.
Impenderia, portanto, a apreciação dos motivos da decisão que denegara a liberdade provisória ao
paciente do presente writ, no intuito de se verificar a presença dos requisitos do art. 312 do CPP.
Salientou-se que a idoneidade de decreto de prisão processual exigiria a especificação, de modo
fundamentado, dos elementos autorizadores da medida (CF, art. 93, IX).
Assim, na opinião de oito dos ministros do Supremo, no entanto, a Constituição proíbe a restrição da
liberdade enquanto o acusado não for julgado e condenado. "Trata-se de uma afronta descarada aos
princípios constitucionais da presunção da inocência e da dignidade da pessoa humana" (HC
104339/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 10.5.2012).

Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de
caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a
infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava,
à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o
juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado.

Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por força das circunstâncias
previstas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

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Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base em avaliação que ateste a necessidade de
encaminhamento do agente para tratamento, realizada por profissional de saúde com competência
específica na forma da lei, determinará que a tal se proceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei.

CAPÍTULO III
DO PROCEDIMENTO PENAL

Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo disposto
neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal e da Lei de
Execução Penal.
§ 1o O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso com
os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts. 60 e
seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais.
§ 2o Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo
o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o
compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições
dos exames e perícias necessários.
§ 3o Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2o deste artigo serão tomadas de
imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente.
§ 4o Concluídos os procedimentos de que trata o § 2o deste artigo, o agente será submetido a exame
de corpo de delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender conveniente, e em
seguida liberado.
§ 5o Para os fins do disposto no art. 76 da Lei no 9.099, de 1995, que dispõe sobre os Juizados
Especiais Criminais, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena prevista no art. 28
desta Lei, a ser especificada na proposta.

Art. 49. Tratando-se de condutas tipificadas nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o juiz,
sempre que as circunstâncias o recomendem, empregará os instrumentos protetivos de colaboradores e
testemunhas previstos na Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999.

Seção I
Da Investigação

Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará, imediatamente,
comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão
do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas.
§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do
delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial
ou, na falta deste, por pessoa idônea.
§ 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1o deste artigo não ficará impedido de participar
da elaboração do laudo definitivo.
§ 3º Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no prazo de 10 (dez) dias, certificará a
regularidade formal do laudo de constatação e determinará a destruição das drogas apreendidas,
guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 4º A destruição das drogas será executada pelo delegado de polícia competente no prazo de 15
(quinze) dias na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária. (Incluído pela Lei nº 12.961, de
2014)
§ 5º O local será vistoriado antes e depois de efetivada a destruição das drogas referida no § 3º, sendo
lavrado auto circunstanciado pelo delegado de polícia, certificando-se neste a destruição total delas.
(Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)

Art. 50-A. A destruição de drogas apreendidas sem a ocorrência de prisão em flagrante será feita por
incineração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contado da data da apreensão, guardando-se amostra
necessária à realização do laudo definitivo, aplicando-se, no que couber, o procedimento dos §§ 3º a 5º
do art. 50. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)

Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e
de 90 (noventa) dias, quando solto.

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Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o
Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária.

Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária,
remetendo os autos do inquérito ao juízo:
I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação
do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as
condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação
e os antecedentes do agente; ou
II - requererá sua devolução para a realização de diligências necessárias.
Parágrafo único. A remessa dos autos far-se-á sem prejuízo de diligências complementares:
I - necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo
competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento;
II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valores de que seja titular o agente, ou que
figurem em seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes
da audiência de instrução e julgamento.

Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são
permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os
seguintes procedimentos investigatórios:
I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos
especializados pertinentes;
II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros
produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de
identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem
prejuízo da ação penal cabível.
Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam
conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores.

Seção II
Da Instrução Criminal

Art. 54. Recebidos em juízo os autos do inquérito policial, de Comissão Parlamentar de Inquérito ou
peças de informação, dar-se-á vista ao Ministério Público para, no prazo de 10 (dez) dias, adotar uma
das seguintes providências:
I - requerer o arquivamento;
II - requisitar as diligências que entender necessárias;
III - oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco) testemunhas e requerer as demais provas que entender
pertinentes.

Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para oferecer defesa prévia,
por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
§ 1o Na resposta, consistente em defesa preliminar e exceções, o acusado poderá arguir preliminares
e invocar todas as razões de defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas que
pretende produzir e, até o número de 5 (cinco), arrolar testemunhas.
§ 2o As exceções serão processadas em apartado, nos termos dos arts. 95 a 113 do Decreto-Lei no
3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.
§ 3o Se a resposta não for apresentada no prazo, o juiz nomeará defensor para oferecê-la em 10 (dez)
dias, concedendo-lhe vista dos autos no ato de nomeação.
§ 4o Apresentada a defesa, o juiz decidirá em 5 (cinco) dias.
§ 5o Se entender imprescindível, o juiz, no prazo máximo de 10 (dez) dias, determinará a apresentação
do preso, realização de diligências, exames e perícias.

Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de instrução e julgamento,
ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do Ministério Público, do assistente, se for o caso, e
requisitará os laudos periciais.
§ 1o Tratando-se de condutas tipificadas como infração do disposto nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a
37 desta Lei, o juiz, ao receber a denúncia, poderá decretar o afastamento cautelar do denunciado de
suas atividades, se for funcionário público, comunicando ao órgão respectivo.

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§ 2o A audiência a que se refere o caput deste artigo será realizada dentro dos 30 (trinta) dias seguintes
ao recebimento da denúncia, salvo se determinada a realização de avaliação para atestar dependência
de drogas, quando se realizará em 90 (noventa) dias.

Art. 57. Na audiência de instrução e julgamento, após o interrogatório do acusado e a inquirição das
testemunhas, será dada a palavra, sucessivamente, ao representante do Ministério Público e ao defensor
do acusado, para sustentação oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais
10 (dez), a critério do juiz.
Parágrafo único. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou algum fato para
ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante.

Art. 58. Encerrados os debates, proferirá o juiz sentença de imediato, ou o fará em 10 (dez) dias,
ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos.
§ 1o (Revogado pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 2o (Revogado pela Lei nº 12.961, de 2014)

Art. 59. Nos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o réu não poderá apelar
sem recolher-se à prisão, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentença
condenatória.

CAPÍTULO IV
DA APREENSÃO, ARRECADAÇÃO E DESTINAÇÃO DE BENS DO ACUSADO

Art. 60. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da


autoridade de polícia judiciária, ouvido o Ministério Público, havendo indícios suficientes, poderá decretar,
no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão e outras medidas assecuratórias relacionadas aos
bens móveis e imóveis ou valores consistentes em produtos dos crimes previstos nesta Lei, ou que
constituam proveito auferido com sua prática, procedendo-se na forma dos arts. 125 a 144 do Decreto-
Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.
§ 1o Decretadas quaisquer das medidas previstas neste artigo, o juiz facultará ao acusado que, no
prazo de 5 (cinco) dias, apresente ou requeira a produção de provas acerca da origem lícita do produto,
bem ou valor objeto da decisão.
§ 2o Provada a origem lícita do produto, bem ou valor, o juiz decidirá pela sua liberação.
§ 3o Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado,
podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores.
§ 4o A ordem de apreensão ou sequestro de bens, direitos ou valores poderá ser suspensa pelo juiz,
ouvido o Ministério Público, quando a sua execução imediata possa comprometer as investigações.

Art. 61. Não havendo prejuízo para a produção da prova dos fatos e comprovado o interesse público
ou social, ressalvado o disposto no art. 62 desta Lei, mediante autorização do juízo competente, ouvido
o Ministério Público e cientificada a Senad, os bens apreendidos poderão ser utilizados pelos órgãos ou
pelas entidades que atuam na prevenção do uso indevido, na atenção e reinserção social de usuários e
dependentes de drogas e na repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas,
exclusivamente no interesse dessas atividades.
Parágrafo único. Recaindo a autorização sobre veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará
à autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de certificado
provisório de registro e licenciamento, em favor da instituição à qual tenha deferido o uso, ficando esta
livre do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da decisão que
decretar o seu perdimento em favor da União.

Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte, os


maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza, utilizados para a prática dos crimes
definidos nesta Lei, após a sua regular apreensão, ficarão sob custódia da autoridade de polícia judiciária,
excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma de legislação específica.
§ 1o Comprovado o interesse público na utilização de qualquer dos bens mencionados neste artigo, a
autoridade de polícia judiciária poderá deles fazer uso, sob sua responsabilidade e com o objetivo de sua
conservação, mediante autorização judicial, ouvido o Ministério Público.

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§ 2o Feita a apreensão a que se refere o caput deste artigo, e tendo recaído sobre dinheiro ou cheques
emitidos como ordem de pagamento, a autoridade de polícia judiciária que presidir o inquérito deverá, de
imediato, requerer ao juízo competente a intimação do Ministério Público.
§ 3o Intimado, o Ministério Público deverá requerer ao juízo, em caráter cautelar, a conversão do
numerário apreendido em moeda nacional, se for o caso, a compensação dos cheques emitidos após a
instrução do inquérito, com cópias autênticas dos respectivos títulos, e o depósito das correspondentes
quantias em conta judicial, juntando-se aos autos o recibo.
§ 4o Após a instauração da competente ação penal, o Ministério Público, mediante petição autônoma,
requererá ao juízo competente que, em caráter cautelar, proceda à alienação dos bens apreendidos,
excetuados aqueles que a União, por intermédio da Senad, indicar para serem colocados sob uso e
custódia da autoridade de polícia judiciária, de órgãos de inteligência ou militares, envolvidos nas ações
de prevenção ao uso indevido de drogas e operações de repressão à produção não autorizada e ao tráfico
ilícito de drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades.
§ 5o Excluídos os bens que se houver indicado para os fins previstos no § 4o deste artigo, o
requerimento de alienação deverá conter a relação de todos os demais bens apreendidos, com a
descrição e a especificação de cada um deles, e informações sobre quem os tem sob custódia e o local
onde se encontram.
§ 6o Requerida a alienação dos bens, a respectiva petição será autuada em apartado, cujos autos
terão tramitação autônoma em relação aos da ação penal principal.
§ 7o Autuado o requerimento de alienação, os autos serão conclusos ao juiz, que, verificada a presença
de nexo de instrumentalidade entre o delito e os objetos utilizados para a sua prática e risco de perda de
valor econômico pelo decurso do tempo, determinará a avaliação dos bens relacionados, cientificará a
Senad e intimará a União, o Ministério Público e o interessado, este, se for o caso, por edital com prazo
de 5 (cinco) dias.
§ 8o Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença,
homologará o valor atribuído aos bens e determinará sejam alienados em leilão.
§ 9o Realizado o leilão, permanecerá depositada em conta judicial a quantia apurada, até o final da
ação penal respectiva, quando será transferida ao Funad, juntamente com os valores de que trata o § 3o
deste artigo.
§ 10. Terão apenas efeito devolutivo os recursos interpostos contra as decisões proferidas no curso
do procedimento previsto neste artigo.
§ 11. Quanto aos bens indicados na forma do § 4o deste artigo, recaindo a autorização sobre veículos,
embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro
e controle a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento, em favor da autoridade de
polícia judiciária ou órgão aos quais tenha deferido o uso, ficando estes livres do pagamento de multas,
encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da decisão que decretar o seu perdimento em
favor da União.

Art. 63. Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá sobre o perdimento do produto, bem ou valor
apreendido, sequestrado ou declarado indisponível.
§ 1o Os valores apreendidos em decorrência dos crimes tipificados nesta Lei e que não forem objeto
de tutela cautelar, após decretado o seu perdimento em favor da União, serão revertidos diretamente ao
Funad.
§ 2o Compete à Senad a alienação dos bens apreendidos e não leiloados em caráter cautelar, cujo
perdimento já tenha sido decretado em favor da União.
§ 3o A Senad poderá firmar convênios de cooperação, a fim de dar imediato cumprimento ao
estabelecido no § 2o deste artigo.
§ 4o Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz do processo, de ofício ou a requerimento
do Ministério Público, remeterá à Senad relação dos bens, direitos e valores declarados perdidos em favor
da União, indicando, quanto aos bens, o local em que se encontram e a entidade ou o órgão em cujo
poder estejam, para os fins de sua destinação nos termos da legislação vigente.

Art. 64. A União, por intermédio da Senad, poderá firmar convênio com os Estados, com o Distrito
Federal e com organismos orientados para a prevenção do uso indevido de drogas, a atenção e a
reinserção social de usuários ou dependentes e a atuação na repressão à produção não autorizada e ao
tráfico ilícito de drogas, com vistas na liberação de equipamentos e de recursos por ela arrecadados, para
a implantação e execução de programas relacionados à questão das drogas.

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TÍTULO V
DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

Art. 65. De conformidade com os princípios da não-intervenção em assuntos internos, da igualdade


jurídica e do respeito à integridade territorial dos Estados e às leis e aos regulamentos nacionais em vigor,
e observado o espírito das Convenções das Nações Unidas e outros instrumentos jurídicos
internacionais relacionados à questão das drogas, de que o Brasil é parte, o governo brasileiro prestará,
quando solicitado, cooperação a outros países e organismos internacionais e, quando necessário, deles
solicitará a colaboração, nas áreas de:
I - intercâmbio de informações sobre legislações, experiências, projetos e programas voltados para
atividades de prevenção do uso indevido, de atenção e de reinserção social de usuários e dependentes
de drogas;
II - intercâmbio de inteligência policial sobre produção e tráfico de drogas e delitos conexos, em
especial o tráfico de armas, a lavagem de dinheiro e o desvio de precursores químicos;
III - intercâmbio de informações policiais e judiciais sobre produtores e traficantes de drogas e seus
precursores químicos.
TÍTULO VI
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do Art. 1º desta Lei, até que seja atualizada a
terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes,
psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de
1998.

Art. 67. A liberação dos recursos previstos na Lei nº 7.560, de 19 de dezembro de 1986, em favor de
Estados e do Distrito Federal, dependerá de sua adesão e respeito às diretrizes básicas contidas nos
convênios firmados e do fornecimento de dados necessários à atualização do sistema previsto no art. 17
desta Lei, pelas respectivas polícias judiciárias.

Art. 68. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão criar estímulos fiscais e outros,
destinados às pessoas físicas e jurídicas que colaborem na prevenção do uso indevido de drogas,
atenção e reinserção social de usuários e dependentes e na repressão da produção não autorizada e do
tráfico ilícito de drogas.

Art. 69. No caso de falência ou liquidação extrajudicial de empresas ou estabelecimentos hospitalares,


de pesquisa, de ensino, ou congêneres, assim como nos serviços de saúde que produzirem, venderem,
adquirirem, consumirem, prescreverem ou fornecerem drogas ou de qualquer outro em que existam essas
substâncias ou produtos, incumbe ao juízo perante o qual tramite o feito:
I - determinar, imediatamente à ciência da falência ou liquidação, sejam lacradas suas instalações;
II - ordenar à autoridade sanitária competente a urgente adoção das medidas necessárias ao
recebimento e guarda, em depósito, das drogas arrecadadas;
III - dar ciência ao órgão do Ministério Público, para acompanhar o feito.
§ 1º Da licitação para alienação de substâncias ou produtos não proscritos referidos no inciso II do
caput deste artigo, só podem participar pessoas jurídicas regularmente habilitadas na área de saúde ou
de pesquisa científica que comprovem a destinação lícita a ser dada ao produto a ser arrematado.
§ 2º Ressalvada a hipótese de que trata o § 3o deste artigo, o produto não arrematado será, ato
contínuo à hasta pública, destruído pela autoridade sanitária, na presença dos Conselhos Estaduais sobre
Drogas e do Ministério Público.
§ 3º Figurando entre o praceado e não arrematadas especialidades farmacêuticas em condições de
emprego terapêutico, ficarão elas depositadas sob a guarda do Ministério da Saúde, que as destinará à
rede pública de saúde.

Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado
ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal.
Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara federal serão
processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva.

Art. 71. (VETADO)

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Art. 72. Encerrado o processo penal ou arquivado o inquérito policial, o juiz, de ofício, mediante
representação do delegado de polícia ou a requerimento do Ministério Público, determinará a destruição
das amostras guardadas para contraprova, certificando isso nos autos. (Redação dada pela Lei nº 12.961,
de 2014)

Art. 73. A União poderá estabelecer convênios com os Estados e o com o Distrito Federal, visando à
prevenção e repressão do tráfico ilícito e do uso indevido de drogas, e com os Municípios, com o objetivo
de prevenir o uso indevido delas e de possibilitar a atenção e reinserção social de usuários e dependentes
de drogas. (Redação dada pela Lei nº 12.219, de 2010)

Art. 74. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após a sua publicação.

Art. 75. Revogam-se a Lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, e a Lei no 10.409, de 11 de janeiro de
2002.

Questões

01. (CODESA - Guarda Portuário – FUNCAB/2016) Constitui crime previsto na lei de drogas (Lei n°
11.343, de 2006):
(A) induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga.
(B) associarem-se duas ou mais pessoas para uso reiterado de drogas.
(C) conduzir automóvel após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de
outrem.
(D) vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, à
criança ou ao adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes
possam causar dependência física ou psíquica.
(E) deixar, a autoridade policial, dolosamente, de investigar crime previsto na Lei n° 11.343/2006.

02. (PC/ES – Delegado de Polícia - FUNCAB) João morava em uma comunidade onde havia
comércio ilegal de cannabis sativa, razão por que era constante a ação da polícia no local. “Dedinho”,
responsável pelo comércio ilegal de drogas na comunidade, objetivando não ser incomodado em suas
vendas, e buscando não perder a sua mercadoria, contratou João para soltar rojões quando os policiais
chegassem à entrada da comunidade, o que se deu por muitas vezes. Assim, João:
(A) praticou o crime de associação para o tráfico de drogas ilícitas (artigo 35 da Lei n° 11.343/2006).
(B) praticou o crime de quadrilha ou bando (artigo 288 do CP).
(C) colaborou como informante do tráfico de drogas ilícitas (artigo 37 da Lei n° 11.343/2006).
(D) deve responder como partícipe do tráfico de drogas ilícitas (artigo 33 da Lei n° 11.343/2006).
(E) deve responder como coautor do tráfico de drogas ilícitas (artigo 33 da Lei n° 11.343/2006).

03 (PC/GO – Escrivão – UEG) Sobre o crime de posse de drogas para consumo pessoal, previsto no
art. 28 da Lei n. 11.343/2006, tem-se que
(A) a admoestação verbal é medida prevista como pena principal a ser aplicada nos casos de posse
para consumo pessoal.
(B) a pena de prestação de serviços à comunidade poderá ter a duração máxima de 10 (dez) meses,
em caso de reincidência.
(C) a prescrição ocorrerá em 3 (três) anos, ou seja, no prazo mínimo previsto para essa causa extintiva
de punibilidade prevista no Código Penal.
(D) em caso de descumprimento injustificado pelo agente, o juiz poderá converter diretamente a pena
de prestação de serviços à comunidade em multa.

04 (PC/ES – Escrivão - FUNCAB) O inquérito policial, nos casos previstos na Lei Antidrogas (Lei nº
11.343/2006), deverá ser concluído no prazo de:
(A) 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.
(B) 10 (dez) dias, se o indiciado estiver preso, e de 30 (trinta) dias, quando solto.
(C) 15 (quinze) dias, prorrogáveis por mais 15 dias, se o indiciado estiver preso, e de 30 (trinta) dias,
quando solto.
(D) 20 (vinte) dias, se o indiciado estiver preso, e de 40 (quarenta) dias, quando solto.
(E) 10 (dez) dias, esteja o indiciado preso ou solto.

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05. (PC/SP – Escrivão – VUNESP) Rufus, maior de idade e plenamente capaz, em conduta eventual
e sem objetivo de lucro, oferece maconha a Pomona, amiga sua, também maior e capaz, e juntos a
consomem. Uma vez dependente, Pomona começa a cultivar a droga em seu quintal, em pequena
quantidade, para o seu uso pessoal. Considerando as condutas acima descritas e tendo em vista o que
dispõe a Lei de Drogas (Lei n.º 11.343/06), assinale a alternativa que indica corretamente as penas legais
a que Rufus e Pomona, respectivamente, estão sujeitos, entre outras.
(A) Detenção para ambos.
(B) Detenção e prestação de serviços à comunidade.
(C) Multa e detenção.
(D) Reclusão e detenção.
(E) Prestação de serviços à comunidade e reclusão.

Gabarito

01. A / 02.C / 03.B / 04.A / 05.B

Comentários

01. Resposta: A.
Art. 33, § 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.

02. Resposta: C
A conduta praticada por João está tipificada no artigo 37 da Lei nº 11.343/06, desta forma, deverá este
ser punido como informante do tráfico de drogas ilícitas. É o que dispõe o mencionado artigo: “Colaborar,
como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes
previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e
pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa”.

03. Resposta: B
A alternativa “A” está errada, pois a admoestação verbal será aplicada apenas na garantia do
cumprimento da medida educativa imposta. A alternativa “C” está incorreta, porque prescrevem em 2
(dois) anos a imposição e a execução das penas. A alternativa “D” está incorreta, visto que no caso de
descumprimento injustificado do agente das medidas educativas o juiz não poderá converter a pena de
prestação de serviços à comunidade em multa, devendo ser valer da admoestação verbal ou da própria
multa para coagir o agente no cumprimento da pena. Por tal motivo, a alternativa correta é a “B”.

04. Resposta: A
O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90
(noventa) dias, quando solto. Os prazos a que se refere podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o
Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. É o que dispõe o artigo
51 da Lei nº 11.343/06.

05. Resposta: B
A conduta descrita praticada por Rufus enquadra-se no delito tipificado no artigo 33, §3º, da Lei nº
11.343/06, sendo a pena de detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos)
a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. Com relação à conduta
praticada por Pomona, está se enquadra no delito tipificado no artigo 28, §1º, da Lei nº 11.343/06, senda
que dentre as penas impostas está a de prestação de serviços à comunidade. Desta forma, a alternativa
que respectivamente corresponde as penas que serão impostas aos réus é a alternativa “B”.

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