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COORDENAÇÃO CENTRAL DE EXTENSÃO

Curso de Especialização em Psicologia Hospitalar e da Saúde.

Luto na pandemia - Luto Complicado e Trauma

Rosana Carlinda Soares

Orientadora: Profª Dra. Flavia Sollero

Rio de Janeiro
Abril de 2021
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Rosana Carlinda Soares

Luto na Pandemia - Luto complicado e Trauma

Monografia apresentada ao Programa de


Pós Graduação em Psicologia Hospitalar
e da Saúde da PUC-Rio como requisito
parcial para obtenção do título de
Especialista em Psicologia Hospitalar e
da Saúde. Aprovada pela comissão
examinadora abaixo assinada.

Orientadora: Profª Dra. Flavia Sollero

Rio de Janeiro
Abril de 2021
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Dedicatória
Dedico esse trabalho e a conquista de mais esse objetivo, às
minhas filhas amadas, Thaís e Thamires, as quais me incentivaram
muitíssimo a participar da seleção realizada pela PUC-RIO para as
vagas desse curso de Especialização, e ao meu amor, o Sr.
Evanilson, que foi como sempre o meu “Porto” seguro, sendo
paciente, otimista e bem humorado, mesmo nos momentos mais
complicados e exaustivos dessa empreitada.
4

Agradecimentos
Inicio agradecendo ao “Cósmico” por me proporcionar uma fé que
não me exime de ser responsável pelo meu destino, e por me
permitir caminhar até aqui.

À minha família, por todo o incentivo e apoio que me deram e


também pela compreensão de minha ausência em vários
momentos importantes para nós, em prol de minha formação, por
acreditarem em mim, e por apostarem no meu potencial de
superação, e de quebra de paradigmas. Vocês são minha fonte de
inspiração, e me fazem seguir em busca de crescimento em todos
os aspectos de minha vida.

Aos meus amigos(compadres) por toda atenção, carinho e


demonstrações de amizade. Em especial, a minha querida amiga
Leila Azarias, que além de carinhosa e incentivadora, intercedeu a
meu favor, fazendo tudo que estava a seu alcance para que eu
tivesse o dia livre, e pudesse fazer esse curso de Especialização,
aumentando assim minha capacitação profissional e possibilitando-
me alçar novos voos.

À queridíssima professora Dra. Flávia Sollero, por ter aceitado ser


minha orientadora, e também por ter sido excepcional como
supervisora durante todo o período de estágio, acolhendo a mim e
a toda equipe com muito carinho, respeito, disponibilidade,
comprometimento e profissionalismo. Ao partilhar seus
conhecimentos, fez suscitar em nós um novo prisma diante do
sofrimento psíquico.

Ao leitor, professor Dr. Mauro Paiva, pela disponibilidade e


aceitação para avaliar esse trabalho de conclusão de curso, pelas
futuras contribuições que possam vir a somar-se a esse estudo, por
todo conhecimento adquirido em suas maravilhosas aulas, sempre
nos fazendo pensar fora da caixinha, nos convidando a ação, e
também por sua disponibilidade, comprometimento e orientação
5

nas rodas de conversa oferecidas pela PUC-RIO aos profissionais


de saúde em virtude da pandemia.

Agradeço à professora Dra. Mayla Cosmos por sua dedicação e


comprometimento com a coordenação do curso, por buscar sempre
o melhor para nossa formação, nos possibilitando ter aulas com
professores maravilhosos, com alto nível de conhecimento e
habilidade de transmissão. Trago cada um de vocês em meu
coração.

Às minhas queridas colegas da equipe de estágio no SPA (serviço


de pronto atendimento), Ivonne Fuentes, Julia Druant e Raquel
Santos, pela amizade, cumplicidade, carinho, respeito e por tudo
que foi partilhado entre nós. Vocês conquistaram um lugarzinho
todo especial em meu coração.

A todos os funcionários da administração do curso, da biblioteca e


em especial os funcionários do SPA, Tatiana e Jhony, que a todo
momento mostraram-se atenciosos, solícitos, comprometidos e
pacientes.
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Resumo
CARLINDA, Rosana. Luto, na pandemia - luto complicado e
trauma. Rio de Janeiro, 2021. 45p. Monografia. Departamento de
Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

A pandemia COVID-19 já é considerada uma das piores crises de


saúde pública do século XXl, com um número esperado de mortes, de
vários milhões em todo o mundo e um número ainda maior de pessoas
enlutadas deixadas para trás. O objetivo geral da pesquisa consistiu em
apontar a relação existente entre luto, trauma e luto complicado durante a
pandemia. Tratou-se de uma revisão da literatura, com a abordagem
qualitativa, com materiais disponibilizados nos portais acadêmicos
Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana
e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). A coleta dos dados ocorreu
no decorrer do segundo semestre do ano letivo de 2020. Identificou-se
que o luto complicado e o trauma têm sobreposições e diferenças, e
também podem se manifestar simultaneamente. O risco de desenvolver
um luto complicado depende tanto das circunstâncias imediatas da morte
quanto do contexto em que ela ocorre. Assim, conclui-se que o luto
complicado é mais provável de ocorrer se a morte for repentina, violenta
ou inesperada, tal como se dá em detrimento do COVID-19. Entende-se,
portanto, que na pandemia, a perda tem a ver com trauma e luto
complicado, pois, ocorrem perdas inesperadas, de sonhos, vínculos,
pessoas amadas, projetos, e do ritual de velório e sepultamento cultural
em nosso país.

Palavras-chave:
Luto; luto complicado; trauma; pandemia.
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Abstract
CARLINDA, Rosana. Grief, in the pandemic - complicated grief
and trauma. Rio de Janeiro, 2021. 45p. Monography. Department of
Psychology, Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro.

The COVID-19 pandemic is one of the worst public health crises in


a century, with an expected death toll of several million worldwide and an
even greater number of bereaved people left behind. The general
objective of the research was to point out the relationship between
mourning, trauma and complicated mourning during the pandemic. It was
a literature review, with a qualitative approach, with materials made
available in academic portals Scientific Electronic Library Online
(SCIELO), Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences
(LILACS). Data collection took place during the second semester of the
2020 school year. It was identified that complicated grief and trauma have
overlaps and differences, and can also manifest themselves
simultaneously. The risk of developing complicated grief depends both on
the immediate circumstances of death and on the context in which it
occurs. Thus, it is concluded that complicated mourning is more likely to
occur if death is sudden, violent or unexpected, as is the case at the
expense of COVID-19. It is understood, therefore, that in the pandemic,
loss has to do with trauma and complicated mourning, unexpected losses
occur, of dreams, bonds, loved ones, projects, and of the ritual of wake
and cultural burial in our country.

Key words:
Mourning; complicated mourning; trauma; pandemic.
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Lista de Siglas

TLP Transtorno do Luto Prolongado


LC Luto Complicado
TLCP transtorno de luto complexo persistente
TSPT transtorno de estresse pós-traumático
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Sumário

1 Introdução.............................................................................................. 11

2 Sobre a pandemia e o luto....................................................................144


2.1 O perder em época de pandemia e suas implicações no processo de
luto............................................................................................................188
2.1.1 Rituais de despedida em tempos de pandemia...........................2020

3 A contextualização do luto complicado.................................................221


3.1 Complicar o luto após doenças que requerem tratamento na UTI....233
3.1.1 Mortes por COVID-19 podem causar transtorno de luto prolongado
..................................................................................................................244
3.2 Luto complicado: o que esperar após a pandemia do Coronavírus..266
3.3 Tratamento do luto complicado........................................................ 3 0

4 A contextualização do trauma e a pandemia de COVID-19.................333


4.1 Crescimento pós-traumático impulsionado pela pandemia para
organizações e indivíduos.......................................................................355
4.2 Como uma abordagem informada sobre o trauma pode ajudar?.....388
4.3 A diferenciação de luto, trauma e luto complicado............................399

5 Conclusão...............................................................................................41

Referências..............................................................................................444
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“A dor do luto é proporcional à intensidade do amor vivido na relação


que foi rompida pela morte, mas também é por meio desse amor que
conseguiremos nos reconstruir”.

(Ana Claudia Quintana Arantes)


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1 Introdução

Com mais de 35 milhões de casos confirmados e mais de um milhão de


mortes em todo o mundo, a doença coronavírus 2019 (COVID-19) é um dos
surtos virais mais letais e generalizados do século 21. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (2020), para reduzir a disseminação da COVID-
19, os governos introduziram medidas políticas, como distanciamento social,
restrições a reuniões e viagens. Isso resultou em mudanças sociais substanciais
que afetaram muitos aspectos de nossas vidas diárias, incluindo como morremos
e como lamentamos nossos mortos.
Os pesquisadores expressaram preocupação com as características de
perda do COVID-19 (por exemplo, experiência de morte súbita, após admissão
em terapia intensiva) e as circunstâncias (por exemplo, oportunidades limitadas
de contato, para moldar rituais de morte, dificuldades em receber apoio social,
coocorrência de estressores secundários, por exemplo, isolamento social,
infecção, perda de emprego), os quais podem dificultar o processo de luto. Além
disso, pressupõe-se que as circunstâncias de perda acima mencionadas
também podem perturbar o processo de luto para aqueles que experimentam
perdas não relacionadas ao COVID-19 durante a pandemia, potencialmente
levando a reações de luto mais graves na população maior de pessoas
enlutadas.
Consequentemente, espera-se aumentos de longo prazo na prevalência
de luto, também denominado transtorno do luto prolongado (TLP: Classificação
Internacional de Doenças, Décima Primeira Revisão) ou transtorno de luto
complexo persistente (TLCP: Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens
Mentais, Quinta edição) em ambas as populações. Essas reações de luto são
distintas de transtornos relacionados à depressão e transtorno de estresse pós-
traumático, estão relacionadas a reduções na qualidade de vida e aumento da
ideação suicida, e parecem mais bem tratadas com tratamentos específicos para
o luto.
Tal como mencionam Mayland et al. (2016), identificar quem entre os
enlutados pode estar sob risco elevado de reações graves de luto é fundamental
para prestadores de cuidados paliativos, conselheiros de luto e formuladores de
políticas. Por exemplo, é importante antecipar uma maior necessidade de
tratamentos administrados remotamente para o luto, se o indivíduo ficar enlutado
durante o COVID-19 e elevar o risco de TLP e TLCP.
12

Os autores supracitados ainda destacam que o luto é uma experiência


humana comum e o luto representa a reação normal à morte de um ente
querido. A grande maioria dos indivíduos que perdem alguém, geralmente se
adaptam a essa perda ao longo de um período de seis a 12 meses e, finalmente,
desenvolvem um novo senso de normalidade em suas vidas. Mas para outros,
esse processo se torna problemático e prolongado. Quando as pessoas ficam
presas indefinidamente no luto, impedindo-as de processar a morte e seguir em
frente com a vida, uma condição conhecida como luto complicado (LC) pode
eventualmente surgir.
Assim, Wallace et al. (2020) comentam que LC é uma forma de luto
crônica e prejudicial, distinta da depressão e do transtorno de estresse pós-
traumático e outras condições que podem ocorrer após a morte de um ente
querido. Este corpo de evidências pode ser útil para auxiliar pessoas enlutadas
durante a fase aguda da pandemia de COVID-19 e para chamar a atenção
clínica para pessoas em risco do luto na pandemia.
Nessa direção, o problema da pesquisa consiste em: Qual a diferença
entre luto, trauma e luto complicado? Leva-se em consideração o fato de que na
pandemia, perda tem a ver com trauma e luto complicado, até onde sabemos no
período de desenvolvimento dessa monografia, nenhum estudo examinou a LC
após uma epidemia ou pandemia. Ainda assim, o surto de coronavírus
compartilha várias características com desastres naturais que foram previamente
investigados com relação ao LC. Além disso, as pessoas que morrem por
COVID-19 costumam morrer após serem internadas na UTI e permanecem
isoladas de seus entes queridos até o final, isso obviamente representa um fardo
ainda mais pesado para a perda, mas também torna útil ter em mente o que
pode acontecer a pessoas enlutadas quando a morte ocorre em tais
circunstâncias e o que devemos esperar de seu luto após esta emergência
global.
Assim, tratou-se de uma pesquisa descritiva, que segundo Bervian, Cervo
e Silva (2007) tem a finalidade de realizar a observação, registrar e analisar os
fenômenos ou sistemas técnicos, não tomando posse de nenhum mérito dos
conteúdos. A abordagem utilizada foi qualitativa, a qual Vergara (2016) cita como
aquela que é traduzida por aquilo que não pode ser mensurável, pois a realidade
e o sujeito são elementos indissociáveis. O universo da pesquisa consiste em
materiais indexados nas seguintes bases de dados bibliográficos, a saber:
LILACS, SciELO e Google acadêmico.
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A revisão de literatura foi descrita de forma narrativa, que consiste em


avaliar publicações amplas como um "estado da arte" de um ponto de vista
teórico ou contextual. De acordo com Bervian, Cervo e Silva (2007) esse método
constitui-se basicamente, de análise da literatura publicada em: livros, artigos de
revista impressas e/ou eletrônicas que são feitas as interpretação e análise
críticas.

Objetivos

Geral:

 Apontar a relação existente entre luto, trauma e luto complicado durante


a pandemia.

Específicos:

 Apontar mecanismos para reduzir o impacto psicológico de pessoas


enlutadas durante a pandemia atual;
 discorrer sobre os efeitos da pandemia COVID-19, que provocou
impactos mistos sobre o luto das pessoas;
 identificar como as mortes relacionadas ao coronavírus, e a
impossibilidade da prática de rituais de despedida em tempos de
pandemia podem causar um aumento do luto complicado.
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2 Sobre a pandemia e o luto

A pandemia COVID-19 é uma crise de saúde sem paralelo na história


recente. Com atualmente 23.057.288 casos confirmados e 800.906 mortes
confirmadas em todo o mundo (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2020),
seu impacto supera até mesmo os desastres naturais mais devastadores das
décadas anteriores, incluindo o Tsunami do Sudeste Asiático e o Terremoto do
Haiti. Os pesquisadores previram que as circunstâncias e características das
mortes relacionadas a COVID-19 levarão a um aumento mundial de reações de
luto graves, persistentes e incapacitantes, denominados como: Transtorno de
luto prolongado (TLP) (CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS-11,
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018) ou transtorno de luto complexo
persistente (TLCP) (MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE
TRANSTORNOS MENTAIS 5, DSM-5, AMERICAN PSYCHIATRIC
ASSOCIATION, 2013).
A pandemia global da doença coronavírus 2019 (COVID-19) afetou a
maioria dos aspectos da vida diária da população, incluindo a experiência de
morte e luto. Mudanças forçadas nos cuidados e rituais de fim de vida e de pós
morte, requisitos de distanciamento físico e mudanças na vida profissional e
doméstica por causa do COVID-19 podem afetar o luto dos indivíduos. A
literatura atual está focada nos resultados adversos em adultos enlutados por
causa da pandemia e em maneiras de apoiar melhor os indivíduos que sofrem
pela perda de entes queridos mortos pelo vírus. No entanto, muito menos se
sabe sobre o efeito da pandemia no luto em indivíduos que vivenciaram a morte
de um ente querido antes do COVID-19.
Dado o número alarmante de mortes, espera-se que a pandemia deixe
para trás vários milhões de famílias enlutadas e serão indivíduos de todas as
idades. Em poucos períodos da história humana, luto e tristeza estiveram na
mente de tantas pessoas como estão hoje. Como a doença coronavírus 2019
(COVID-19) devastou o mundo, vimos muitos morrerem em um curto espaço de
tempo. Muitos morreram sozinhos devido à necessidade de distanciamento
físico. Infelizmente mais pessoas irão sucumbir à medida que a COVID-19
continua a se espalhar pelo mundo, e também pela impossibilidade de uma
vacinação em massa, já que a mesmas ainda estão em fase de teste. Além
disso, temos as mortes por outras causas, totalizando mais de 50 milhões
anualmente, elas continuam acontecendo, mas em meio ao distanciamento físico
e outros desafios relacionados ao COVID-19.
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Wallace et al. (2020) concordam que as circunstâncias das mortes


relacionadas à doença coronavírus (COVID-19) incorporam múltiplas
características traumáticas, ao lado de vários fatores externos que podem privar
o luto individual. Nesse contexto, podem surgir formas graves de sofrimento
traumático como a culpa, somatização, arrependimento, raiva e sintomas
inespecíficos.
Nessa direção, considera-se que o luto é a resposta natural à perda de
um ente querido. A maioria das pessoas não precisam de terapeutas do luto,
mesmo quando a perda é repentina, inesperada e muito triste. As pessoas têm
maneiras naturais de se adaptar à perda de um apego, geralmente com o apoio
de amigos e parentes, e cada um o faz à sua maneira. Se pode pensar na cura
após a perda como algo análogo à cura após um ferimento físico, a perda, como
a lesão, desencadeia uma resposta a dor que pode ser muito forte. As lesões
também ativam um processo de cura. No entanto, uma complicação da ferida,
como uma infecção, pode interferir na cicatrização. Da mesma forma,
pensamentos não adaptativos, comportamentos disfuncionais ou regulação
emocional inadequada podem interferir na adaptação à perda.
Segundo Wallace et al. (2020) normalmente, o luto é intensamente
doloroso e perturbador e muitas vezes parece opressor e incontrolável. Mesmo
assim, a maioria das pessoas se adaptam à morte de um ente querido, junto
com as mudanças nas circunstâncias de vida que as acompanham. Aceitamos
uma mudança no relacionamento com a pessoa que morreu e encontramos
maneiras de honrá-la e mantê-la em nossos corações, restauramos nosso senso
de aceitação, propósito, significado, e possibilidades de felicidade. O luto se
acalma enquanto o fazemos, encontrando um lugar em nossa vida. No entanto,
o processo de adaptação leva tempo. O luto é complexo, multifacetado e
variável, com o tempo; ele progride erraticamente, e a tremenda reviravolta
criada pela perda de um ente querido normalmente produz uma série de
sentimentos confusos e pensamentos confusos.
Nessa direção, Carmassi et al. (2015) destacam que pessoas enlutadas
geralmente passam de certos marcos à medida que se adaptam à perda. Eles
aprendem a compreender e aceitar sua dor e controlar emoções dolorosas. Eles
começam a restaurar um senso de propósito e significado e veem possibilidades
para um futuro promissor, eles fortalecem seus relacionamentos contínuos e
restauram um senso de importância (ou seja, o sentimento de que a vida é
importante e faz uma diferença significativa) e de pertencimento (ou seja, o
sentimento de que se encaixa) em um mundo sem a presença de seu ente
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querido. Eles podem contar a história da morte de seu ente querido para si


próprios e compartilhá-la com outras pessoas e gradualmente retornam a um
mundo de lembretes e percebem que têm uma conexão significativa e contínua
com o falecido que é internalizada e permanente. 
Nessa direção, cabe mencionar que as circunstâncias que cercam a
morte devido à pandemia COVID-19 incorporam características traumáticas
múltiplas e indiretas: (a) as mortes múltiplas prováveis para as famílias podem
levar à “sobrecarga de luto”, um fluxo angustiante de luto que interfere na
capacidade de enfrentamento; (b) a contagiosidade viral do COVID-19 priva as
famílias de auxiliar o moribundo em seus últimos dias de vida e de realizar
cerimônias rituais; (c) as restrições sociais e relacionais devido à epidemia,
proíbem as famílias de visitar seus parentes em hospitais ou unidades de terapia
intensiva , o que pode suscitar ou exacerbar sentimento de culpa; e (d) nos
principais países afetados pelo surto, as cerimônias fúnebres são proibidas ou
adiadas por até 6 meses após a morte (LAZZERINI; PUTOTO, 2020).
Além disso, vários fatores podem levar à privação do luto no nível
individual: (a) o acúmulo excessivo e coletivo de mortes pode negar o
reconhecimento do luto de cada indivíduo; (b) dado que o gradiente de idade na
mortalidade de COVID-19 diz respeito principalmente aos idosos, que são
frágeis e/ou sofrem de condições crônicas de saúde (YANG et al., 2020), a dor
profunda e angústia sentidas por famílias enlutadas podem ser ignoradas pela
sociedade (Kokou-Kpolou et al., 2020); (c) o fim do confinamento domiciliar
aliviará as tensões e pressões acumuladas, com a disposição de se reconectar
rapidamente às atividades sociais, profissionais, culturais e recreativas,
disponibilizando menos recursos de apoio aos enlutados; (d) o baixo nível
socioeconômico e as condições de vida precárias como consequência da
pandemia (por exemplo, perdas massivas de empregos, aumento no custo de
bens e serviços) irão acentuar as disparidades de saúde, levando a
complicações de luto para muitas famílias e indivíduos.
Consequentemente, eles podem se sentir isolados e seus
comportamentos relacionados ao luto podem ser vistos como inadequados em
comparação com aqueles esperados e tidos como normal. Por todas essas
razões, espera-se um aumento acentuado de sofrimentos traumáticos, privados
de direitos e crônicos após o surto epidêmico. Essas formas patológicas de
resposta ao luto são chamadas de transtorno do luto prolongado (TLP), uma
nova categoria psiquiátrica que foi introduzida na 11ª edição da Classificação
Internacional de Doenças (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018).
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Dessa forma, os fatores traumáticos embutidos nas circunstâncias das


mortes relacionadas ao COVID-19 precisam de atenção cuidadosa no que diz
respeito à abrangência das manifestações dos sintomas de luto prolongado na
avaliação e no tratamento de casos de luto neste contexto.
Yang et al. (2020) destacam que a maioria das pessoas se adaptam a
uma perda naturalmente, não facilmente, mas geralmente sem esforço
deliberado. No entanto, esse processo pode ser prejudicado. Isso geralmente
acontece porque há algo sobre o significado ou experiência da perda que é
perturbador de uma forma que a pessoa enlutada é incapaz de resolver. Isso
pode estar relacionado às características da pessoa enlutada, ao caráter
especial do relacionamento com a pessoa que morreu, às circunstâncias da
morte ou ao contexto em que a morte ocorreu. Certos pensamentos,
sentimentos e comportamentos que ocorrem naturalmente durante o luto agudo
e podem atrapalhar o processo adaptativo.
Além de saudade e tristeza, a maioria das pessoas sentem ansiedade,
culpa ou raiva. Lazzerini e Putoto (2020) mencionam que pessoas enlutadas
tendem a protestar contra a morte e têm uma tendência natural a imaginar
cenários alternativos em que seu ente querido não morreu. A maioria sente culpa
de sobrevivente, embora haja poucas pesquisas sobre o tema da culpa do
sobrevivente, acreditamos que seja um sentimento humano universal. Embora
seja amplamente reconhecido como uma resposta humana natural, grande parte
da discussão sobre essa questão é teórica ou filosófica.
Assim, essa “culpa” pode ser entendida como uma sensação de mal-
estar ou desconforto por ter sido poupado de alguma adversidade, o desconforto
é sentir que não foi justo ou que a pessoa não merecia ser poupada. Quase
todas as pessoas enlutadas procuram evitar situações que desencadeiem uma
dor emocional intensa. Embora tais pensamentos, sentimentos e
comportamentos sejam naturais, se assumirem o controle, podem atrapalhar o
processo de cura. Fatores de risco são características de uma experiência de
luto que aumentam a probabilidade de desenvolver luto complicado, ou outro
problema de saúde mental. Esses fatores de risco, tornam os desafios desse
momento mais difíceis de serem resolvidos ou de anula-los. Exemplos de fatores
de risco incluem aqueles relacionados à pessoa enlutada, como no caso da
depressão, ansiedade anterior, história de apego inseguro, trauma ou perda
anterior.
Dessa forma, Kokou-Kpolou et al. (2020) concordam que os fatores de
risco, tem a ver com o tipo de relacionamento que o enlutado tinha com o
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falecido, incluem especialmente a proximidade, e o definidor de identidade, como


um parceiro romântico, ou ser um dos pais do falecido. Outros fatores de risco
estão relacionados às circunstâncias, contexto ou consequências da morte. Os
exemplos incluem morte violenta súbita, circunstâncias de vida estressantes,
outras perdas simultâneas ou perdas secundárias importantes. Não apenas as
circunstâncias das mortes que ocorrem durante esta pandemia podem aumentar
o risco de um luto mais prolongado, mas as medidas tomadas para mitigar a
propagação da pandemia também podem aumentar o risco.
Internacionalmente, há variabilidade na alocação de serviços de apoio ao
luto. Em certos sistemas de saúde, uma abordagem “abrangente” para o apoio
ao luto é oferecida pelos cuidados paliativos, mas isso significa que o mesmo
nível de apoio é oferecido a todos, independentemente da necessidade e sem
identificação daqueles que correm maior risco de luto complicado, o qual será
abordado no próximo capítulo.

2.1 O perder em época de pandemia e suas implicações no processo


de luto

Segundo Lazzerini e Putoto (2020) somando-se ao fardo de não estar


com o ente querido, existe a interrupção sem precedentes dos rituais culturais e
religiosos que fornecem a muitos enlutados um contexto social de apoio. As
funerárias estão sobrecarregadas e às vezes não conseguem recolher os corpos
em tempo hábil, os arranjos e serviços funerários pessoais são drasticamente
reduzidos durante a pandemia, com restrições adicionais para aqueles cujos
entes queridos morreram de COVID-19. Apenas um número limitado de
membros da família pode se reunir para fazer os preparativos para o funeral, e
esses preparativos geralmente devem ser feitos virtualmente.
Neste momento pandêmico, não são permitidas práticas baseadas na fé
e na cultura, como embalsamamento, lavagem do corpo, um beijo final e
exibição de caixão aberto. Frequentemente, a exibição privada não é possível e,
quando permitida, é oferecida apenas aos familiares próximos e em um número
limitado. Amigos próximos e familiares enlutados que estão doentes, isolados ou
em situação de risco devem ficar em casa. Os enlutados devem evitar abraçar
ou tocar uns aos outros, pois qualquer contato físico antes, durante e depois dos
serviços funerários é fortemente desencorajado devido ao COVID-19.
Além do mais, as restrições de viagem criam obstáculos adicionais às
práticas usuais. De acordo com Bianco e Moura (2020) os enlutados e sua
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comunidade de apoio devem encontrar novas maneiras de observar esses


rituais. O enlutado deve adiar os serviços memoriais convencionais para uma
data posterior incerta, decisões são tomadas para adiar memoriais, as restrições
de viagem criam obstáculos adicionais às práticas usuais.
O contexto em que ocorre o luto também é desafiador. Segundo Yang et
al. (2020), praticamente todos os locais de reunião social foram fechados devido
ao distanciamento físico. Escolas e locais de trabalho estão fechados,
congregações não são permitidas em locais de culto e reuniões informais de
grandes grupos não são permitidas. Muitas mortes que aconteceram devido a
ordens para ficarem em casa, e isso pode intensificar a sensação de isolamento
social e solidão que faz parte da experiência natural de muitos indivíduos
enlutados.
Lazzerini e Putoto (2020) concordam que as políticas de mitigação da
COVID-19 estão associadas a outras formas de perda que também são
estressantes. Há altas taxas de desemprego, folgas, redução de salários e
aumento da falta de moradia. Muitos estão passando por perturbações nos
arranjos de moradia e dolorosa separação física de amigos íntimos e familiares.
Há um medo generalizado de contaminação, possivelmente aumentado por
lembretes frequentes das taxas de mortalidade, exposição a histórias
angustiantes e coberturas da mídia emocionalmente ativadoras. Esses desafios
podem tornar mais difícil resolver pensamentos e sentimentos que tendem a
atrapalhar a adaptação. Na ausência de esforços de mitigação, um aumento
nos casos de luto é uma provável sequela desta pandemia.
Há uma necessidade premente de implementar medidas que possam
diminuir as consequências adversas do luto da era COVID-19. Podemos fazer
isso educando o público leigo sobre o luto, os marcos da cura e como a
pandemia pode afetar o luto, levando-os ao luto prolongado. Nessa perspectiva,
nós psicólogos e outros profissionais de saúde, podemos ajudar essas pessoas,
proporcionando um acolhimento pautado na escuta ativa, organizando grupos e
rodas de conversa para pessoas enlutadas, onde terão contato com outras
pessoas que também estão passando ou já passaram pelo mesmo problema,
ajudando-os a compreender o que é o luto, a necessidade de vive-lo, como é
possível mudar a forma relacionamento e de amor pelo falecido, e assim
proporcionar condições para que processem seu luto. Os médicos podem
monitorar os sintomas para identificar qualquer distúrbio tratável, como
depressão ou ansiedade, e fornecer tratamento adequado com medicamentos,
caso haja indicação.
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É importante observar que o luto pode desencadear depressão,


ansiedade e transtornos relacionados a traumas sem cair em um transtorno de
luto prolongado. É importante que os profissionais de saúde sejam capazes de
identificar esses transtornos tratáveis e saibam quando e como gerenciá-los
adequadamente ou encaminhá-los aos serviços de saúde mental. Os serviços de
aconselhamento virtual do luto ou serviços de psicoterapia também podem
ajudar nesse processo de cura.

2.1.1 Rituais de despedida em tempos de pandemia

As mortes por COVID-19 costumam ser repentinas e inesperadas, em


alguns casos a evolução da doença é tão rápida que acaba levando as pessoas
a necessitarem de ventilação mecânica logo nos primeiros dias. As restrições
postas em vigor devido à pandemia, mudaram mais uma vez a experiência de
morrer. Os sistemas de saúde implementaram limites rígidos afim de conter a
contaminação cruzada entre os pacientes internados e também a propagação do
vírus para as residências de seus familiares, em alguns países e até mesmo
Estados, a visita a pacientes enfermos, em ambientes agudos de internação de
adultos, pode ser concedida a um ente querido apenas brevemente ou nunca.
Aqui no Brasil, tenho como experiência as restrições implantadas pelos hospitais
administrados pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, a qual faço parte do
quadro de funcionários, em nossas unidades, nenhum paciente pode receber
visitas, isso vale para qualquer tipo de enfermidade, não apenas para os casos
de COVID-19, os familiares dos enfermos são orientados a não comparecerem
na unidade hospitalar para receber notícias, os mesmos são comunicados sobre
o estado de saúde destes através de telefonemas, realizados pelo médico
responsável. Como resultado dessa restrição, são os profissionais de saúde,
equipes de apoio ou capelães, e não membros da família, que estão ao lado dos
entes queridos de outras pessoas. Frequentemente, também, nós os
profissionais de saúde usamos muitos equipamentos de proteção individual, por
causa do risco de contaminação, o que limita nossa capacidade de interagir e de
nos conectarmos com os pacientes internados. No hospital em que trabalho logo
no início da pandemia percebemos essa necessidade, como o simples fato dos
pacientes saberem o nome de quem estava cuidando deles já transmitia um
certo conforto, então passamos a colocar nossos nomes em letras grandes
colados por fora do avental. Essas circunstâncias são muito difíceis e aumentam
21

o fardo dos familiares que lidam com a perda de um ente querido, sem poder
prestar os últimos cuidados e sem direito a despedida.
Lazzerini e Putoto (2020) destacam que caso as cerimônias ocorram, são
restritas a menos de 10 pessoas, muitos familiares e parentes próximos não
poderão participar, expressar sua angústia ou despedir-se de seus entes
queridos, nos principais países afetados pela pandemia, as cerimônias fúnebres
estão proibidas ou adiadas por até 6 meses após a morte, nesse momento
pandêmico, não são permitidas práticas religiosas ou culturais, como a lavagem
do corpo, embalsama, caixão aberto e despedidas com beijos. Para os parentes
do falecido, o ataque viral da doença impossibilita a aproximação de 1 m do
caixão, dificultando a expressão da emoção espontânea. Sob tais condições, a
maioria das famílias poderia ser pega em conflitos entre o que eram os
testamentos do falecido, seus desejos e o que está atualmente disponível. Essa
situação pode gerar ou exacerbar sentimentos de responsabilidade e culpa.

3 A contextualização do luto complicado

A perda de um ente querido durante uma pandemia é especialmente


traumática e angustiante, visto que as mortes costumam acontecer
abruptamente, e não permitem que os familiares façam algo mais acolhedor por
seus doentes. Frequentemente, ocorrem como eventos traumáticos massivos,
colocando a vida de outras pessoas e a própria em perigo e trazendo vários
tipos de perdas ao mesmo tempo, incluindo perdas em vidas humanas,
propriedades, renda e riqueza geral.
No entanto, Burke e Neimeyer (2020) mencionam que muitos fatores
podem influenciar o luto, incluindo a natureza da morte, as redes de apoio
familiar e social existentes e o contexto cultural. O luto pode causar prejuízo no
funcionamento diário dos sujeitos, e os fatores de risco que podem contribuir
para o luto incluem, mas não são exclusivos, o seguinte: 1) natureza da morte,
por exemplo, súbita, traumática ou violenta, resultando em falta de preparação
ou limitando a oportunidade de "dizer Tchau"; 2) natureza do ambiente, por
exemplo, discussões limitadas sobre cuidados ao final da vida, cuidados
médicos “agressivos”, demandas simultâneas de cuidados ou outros fatores de
estresse, como custos financeiros e 3) fatores preexistentes na pessoa enlutada,
por exemplo, baixos níveis de apoio social e preocupações com a saúde mental.
Podem surgir formas graves de sofrimento traumático, culpa,
somatização, arrependimento, raiva e sintomas inespecíficos ainda não incluídos
22

nos critérios de TLP. A pesquisa mostrou que a culpa dentro de 2 anos após a
perda foi associada ao luto prolongado e a sintomas depressivos, e previu
ambas as condições 1 ano depois (LI; TENDEIRO; STROEBE, 2019). Além
disso, foi demonstrado que a culpa é um dos principais preditores, mais do que
os sintomas básicos de TLP em si (como anseio persistente ou preocupação
com o falecido) da gravidade da somatização após a perda (KOKOU-KPOLOU et
al., 2018).
O conhecimento empírico em luto, culminando com a introdução do TLP
nos sistemas de classificação psiquiátrica, servem como diretrizes iniciais para a
assistência clínica para famílias e indivíduos afetados por mortes relacionadas
ao COVID-19. A consciência das necessidades contextuais de cada país em
resposta à pandemia e dos elementos traumáticos específicos embutidos nas
circunstâncias dessas mortes ajudarão, no entanto, a evitar a patologização de
todas as pessoas enlutadas em risco.
Para Wallace et al. (2020) as circunstâncias, o contexto e as
consequências das mortes durante a pandemia de COVID-19 incluem fatores de
risco que provavelmente elevarão as taxas de TLP (Quadro 1). Para entender
por que a pandemia contém fatores de risco para TLP e como eles podem ser
mitigados, podemos dar uma olhada mais de perto no processo de adaptação à
perda e as formas comuns pelas quais ele pode ser desviado.

QUADRO 1. EXEMPLOS DE FATORES DE RISCO TLP RELACIONADOS


À MORTE DURANTE COVID-19
Circunstâncias da morte
Mortes repentinas, inesperadas, aparentemente evitáveis e aleatórias
Pessoas morrendo sozinhas
Restrições nas políticas de visita ao membro da família
Contexto da morte
Políticas de distanciamento físico afetando funerais, sepultamentos, rituais e
apoio aos enlutados
Preocupações com o desemprego
Sentimento de insegurança
Insegurança financeira
Consequências da morte
Ficar sozinho
Medo de contaminação
Ter outros para cuidar
Preocupações financeiras
Fonte: Pesquisa acadêmica (2020)
23

Como se pôde ver no quadro acima, a dramática reviravolta causada pela


morte de um ente querido muitas vezes desencadeia sentimentos e
pensamentos preocupantes.
Assim, quando a adaptação é interrompida ou inadequada, como
consequência pode ocorrer o transtorno de luto prolongado (TLP), recentemente
incluído como um novo diagnóstico na Classificação Internacional de Doenças
da Organização Mundial da Saúde, 11ª edição (CID-11) e agora também
proposto como um Diagnóstico formal do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtorno Mental, 5ª edição (DSM-5), na sessão lll (Condições para estudos
posteriores), publicado recentemente para comentários públicos. Ele é
caracterizado por anseio persistente pela presença do falecido, dor emocional
intensa, pensamentos, memórias, preocupação com o falecido, frieza emocional,
acompanhados por outras evidências de dor emocional relacionadas ao luto,
causando sofrimento significativo e também prejuízo no funcionamento
considerado normal dos indivíduos. Essa publicação sugeriu como diferencial do
luto normal o tempo cronológico, ou seja, depois de 12 meses para os adultos e
6 meses no caso de crianças, apresentando a sintomatologia descrita acima,
porém, levar em consideração as diferenças existentes entre os grupos culturais,
reconhece certa dificuldade para estabelecer prazos de duração e valores de
expressão.

3.1 Complicar o luto após doenças que requerem tratamento na UTI

Familiares de pacientes internados em UTI apresentam risco de


morbidade psicológica durante e após a internação. Segundo Probst et al. (2016)
o ambiente da UTI pode ser uma experiência bastante traumática para pacientes
e parentes: as pessoas são levadas, muitas vezes incapazes de se comunicar,
conectadas a máquinas, ventiladas ou intubadas, tal como acontece com
pacientes acometidos por COVID-19. As visitas são rigorosamente controladas e
eventos críticos, incluindo morte, podem acontecer rapidamente, sem chance de
os parentes serem informados em tempo hábil de se despedirem.
Dessa forma, Wu et al. (2020) salienta que durante a pandemia de
COVID-19, a maioria das mortes ocorreu na UTI após o desenvolvimento de
uma síndrome de dificuldade respiratória aguda. Em muitos casos, os pacientes
entraram no pronto-socorro, foram levados para a UTI e nunca mais voltaram.
Enquanto isso, para impedir mais contaminação, foram mantidos em isolamento,
24

ninguém podia vê-los, nem mesmo um ente querido presente no momento da


morte. Vários meios de comunicação têm noticiado que, para aqueles cujos
parentes foram infectados com COVID-19 e morreram na UTI, a situação se
revelou extremamente traumática.
De acordo com Probst et al. (2016) a mortalidade hospitalar e na UTI está
especialmente associada a uma alta incidência de reações de luto, incluindo
transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. As estimativas
de prevalência de luto complicado em familiares de falecidos em UTI são
bastante variáveis, numa proporção de 5% a 52% avaliada em média seis meses
após o óbito (TREVICK; LORD, 2017). Em um estudo realizado com 50
familiares de pacientes internados em UTI, 46% daqueles cujos parentes
morreram apresentaram LC e TEPT após seis meses. Os preditores
independentes de sintomas de LC foram variáveis imutáveis, como sexo
feminino, parente morando sozinho, certificação do conselho intensivista antes
de 2009, ou potenciais alvos para melhorias, como recusa do paciente ao
tratamento, morte ocorrendo durante a intubação, parentes presentes na hora da
morte, parentes incapazes de dizer adeus ao paciente (KENTISH-BARNES et al,
2015).
Outro estudo comparando familiares de pacientes que morreram em uma
UTI versus um ambiente hospitalar fora da UTI constatou que as experiências
angustiantes no ambiente da UTI estavam relacionadas principalmente ao
estado emocional do paciente antes da morte (ansiedade, medo) e à percepção
das famílias de que o paciente recebeu atenção e apoio (PROBST et al., 2016).
Apesar da importância clínica do tópico, nesse momento, nenhuma
pesquisa quantitativa examinou ainda o luto devido as pandemias, muito menos
as consequências para a saúde do luto devido ao COVID-19 (MAYLAND et al.,
2020). Aprendizagem específica sobre COVID-19 e o impacto do luto é, portanto,
pertinente.

3.1.1 Mortes por COVID-19 podem causar transtorno de luto


prolongado

No meio da pandemia COVID-19, especialistas em saúde alertam sobre o


risco de transtorno de luto prolongado entre pessoas que perdem entes
queridos. Apesar da importância clínica do tópico, uma revisão recente
demonstrou que nenhuma pesquisa quantitativa foi conduzida sobre as
25

consequências para a saúde do luto após surtos virais e, especificamente, da


pandemia de COVID-19.
De acordo com Eisma et al. (2020), para preencher essa lacuna de
conhecimento, foi demonstrado recentemente em um primeiro estudo
quantitativo que as pessoas enlutadas por causa do COVID-19 experimentam
níveis mais elevados de luto agudo do que as pessoas enlutadas por causas
naturais, mas não em comparação com aqueles enlutados por causas não
naturais. Como o luto agudo é um dos mais fortes indicadores de luto perturbado
futuro, isso apoia a previsão de que a prevalência de transtornos de luto
aumentará por causa da pandemia nesta população específica.
No entanto, Hamid e Jahangir (2020) destacam que a previsão de que o
luto pode ser mais grave entre pessoas enlutadas que experimentaram perdas
não relacionadas ao COVID-19 durante a pandemia ainda não foi testada. Até
agora, apenas estudos qualitativos lançaram luz sobre esse assunto. Por
exemplo, um estudo qualitativo entre pais que perderam um filho para o câncer
antes da pandemia identificou os efeitos negativos e positivos da pandemia no
processo de luto.
Embora a pandemia tenha feito alguns se sentirem mais isolados por
causa da diminuição das possibilidades de interação social, alguns não
experimentaram diferenças, enquanto outros receberam bem a pandemia, uma
vez que forneceu mais oportunidades para se engajar no 'trabalho de luto'.
Hamid e Jahangir (2020) enfocam especificamente a experiência de pessoas
enlutadas durante a pandemia. Eles ilustram problemas adicionais relacionados
ao luto dessa população, como a morte ocorrendo isoladamente, perdendo os
últimos momentos com o falecido e uma capacidade limitada de moldar rituais de
morte.
Desse modo, o transtorno do luto prolongado, também conhecido como
luto complicado, é caracterizado por anseio persistente, pensamentos,
lembranças e preocupações com o falecido, bem como dor emocional intensa
que causa prejuízo nas atividades cotidianas. Esse diagnóstico apesar de ainda
não ser oficial, pode ser considerado depois de no mínimo 6 meses de
persistências dos sintomas, e é diferente do luto normal, que também pode ser
doloroso e opressor. No entanto, mesmo com luto normal, a maioria das pessoas
acabam se adaptando à perda do ente querido e às mudanças nas
circunstâncias da vida.
Burke e Neimeyer (2020) destacaram que o luto prolongado ou
complicado afeta cerca de 2-3% da população mundial e é mais provável de
26

ocorrer após a perda de um filho, parceiro de vida ou após uma morte súbita. As
pessoas são mais propensas a desenvolver transtorno de luto prolongado se
tiverem uma história de trauma ou perda anterior, uma história de transtornos de
humor e ansiedade, mortes inesperadas ou violentas, se forem os cuidadores
principais do falecido ou se sentirem falta de convívio social e suporte após a
perda.
A pandemia mudou a experiência de morte para muitos, a maneira como
os pacientes terminais estão sendo cuidados, como os corpos dos mortos são
enterrados e como os rituais de luto são realizados, devido às restrições de
distanciamento físico. Outras pressões associadas ao COVID-19, como o
desemprego, interromperam ainda mais o processo normal de luto.
Assim, há uma necessidade urgente de implementar medidas que
diminuam as consequências adversas do luto da era COVID-19. Saber
reconhecer e também tratar o transtorno do luto prolongado torna-se cada vez
mais importante, já que ele pode causar prejuízos na saúde física e mental dos
indivíduos enlutados, leva-los ao uso abusivo de álcool e outras drogas como
forma de auxílio para lidar com suas dores e conflitos, suicídio, redução drástica
da qualidade de vida e mortalidade prematura.
A consciência desse risco eminente, tende a fomentar novas práticas
para nós psicólogos e aos outros profissionais de saúde, levando-nos a realizar
intervenções preventivas focadas no contexto atual e do mesmo modo,
implementar, tratamentos para recuperação e promoção da saúde, que sejam
oportunos no sentido de mitigar o desenvolvimento do transtorno de luto
prolongado.

3.2 Luto complicado: o que esperar após a pandemia do Coronavírus

É visível que a pandemia COVID-19 representa uma das piores crises de


saúde pública do século, com um número estimado de mortes de vários milhões
de pessoas em todo o mundo. A prevalência de LC na população em geral varia
de 2% a cerca de 7% (10% a 20% entre pessoas enlutadas) (KERSTING et al.,
2011), mas as estimativas mostraram aumentar acentuadamente em certos
grupos selecionados, como adultos mais velhos sofrendo com a perda de um
cônjuge, pessoas em luto por mortes inesperadas/violentas, pessoas enlutadas
expostas a desastres naturais ou de origem humana ou outros eventos
traumáticos (NEWSON et al., 2011).
27

Assim como a experiência de luto é altamente individual e provavelmente


difere de pessoa para pessoa, o efeito do COVID-19 em cada indivíduo enlutado
é variável. Alguns pais podem ser capazes de encontrar forças ou reconhecer
sua resiliência durante esse período, enquanto outros pais podem ser mais
afetados pelo isolamento, tendo seu quadro agravado e passando a exigir apoio
adicional da equipe de cuidados, do hospital e da comunidade local. Os
profissionais de saúde devem se abster de fazer suposições sobre o impacto da
pandemia no luto de uma pessoa ou família, e sim, falar proativamente com os
familiares para que saibam que os pacientes e sua família são lembrados e que
apoios adicionais estão disponíveis.
Dada a escassez de estudos investigando o luto após epidemias de
doenças infecciosas como o COVID-19, que representa um fenômeno sem
precedentes, optamos por revisar a literatura existente sobre luto prolongado
após desastres naturais e após morte na UTI, pois encontramos algumas
semelhanças entre os dois cenários e o surto de COVID-19 em andamento.
Junto com a perda de entes queridos, os desastres naturais implicam em
perdas múltiplas, o fechamento de escolas e instalações, a paralisação de
atividades produtivas e a redução de serviços e suprimentos, o que se reflete na
pandemia de COVID-19. Além disso, as pessoas são colocadas em um
ambiente traumático, cuja exposição se multiplica por meio das mídias noticiosas
e das redes sociais (THOMPSON; HOLMAN; SILVER, 2019). Por outro lado, as
mortes por COVID-19 muitas vezes acontecem no hospital e normalmente na
UTI, o que é conhecido por representar uma experiência altamente traumática
para os parentes mais próximos dos falecidos.
Nossa revisão destaca que o sexo feminino é um fator de risco para LC,
não apenas na população enlutada em geral, mas também entre pessoas
enlutadas de falecidos na UTI ou no contexto de desastres naturais. Embora o
luto do filho ou do cônjuge tenha sido apontado como fator de risco para luto
prolongado após desastre natural, não foram encontradas diferenças quanto ao
parentesco com o falecido entre as pessoas que perderam um parente na UTI.
No entanto, os dados disponíveis têm mostrado até agora que a grande maioria
das mortes devido ao COVID-19 ocorre entre homens mais velhos (WU C et
al.2020), o que pode sugerir a necessidade de chamar atenção clínica especial
para as viúvas, e em menor medida, aos outros parentes dos falecidos no
rescaldo da emergência.
Ambas as linhas da literatura fornecem evidências de que quanto mais a
morte está associada a sintomas relacionados ao TEPT, maior pode ser o risco
28

de LC concomitante. Se a exposição traumática durante a pandemia não puder


ser facilmente modificada, a carga traumática da UTI deve ser mantida o mais
baixa possível. Um dos maiores problemas de morte na UTI é que os familiares
podem não conseguir se despedir de seu ente querido, o que se mostrou um
fator de risco independente para luto prolongado (PROBST, et al. 2020). Isso é
de fundamental importância entre os enlutados da COVID-19, que não
conseguem acessar a UTI durante toda a internação e para quem a separação
do falecido pode contribuir para sentimentos de anseio, raiva e amargura pela
morte, levando ao LC.
Além disso, é provável que o enlutado possa culpar-se por não ter se
esforçado mais para ver seu ente querido no hospital e por não cuidar do
conforto e dignidade de seu parente durante a internação, o que demonstrou ter
impacto sobre a experiência das famílias no processo de morrer (PROBST, et al.
2020). Pelas mesmas razões, eles poderiam se sentir culpados por não estarem
presentes no momento da morte, embora testemunhar a morte tenha mostrado
aumentar o risco de luto prolongado em um estudo anterior sobre luto após a
internação na UTI (KENTISH-BARNES et al., 2015).
Outra questão importante encontrada por famílias de pessoas que
morrem na UTI, e que aumenta o risco de LC é a má comunicação com os
médicos ((TREVICK; LORD, 2017)), que pode ser indiscutivelmente pior no
curso da pandemia de COVID-19 devido a uma questão de proteção contra
contágio, bem como devido à sobrecarga dos hospitais e à falta de pessoal em
alguns países. Novamente, ambas as linhas da literatura destacam que maiores
níveis de apoio social estão correlacionados com melhores resultados de luto
((KENTISH-BARNES et al., 2015). Infelizmente, diferentemente dos desastres
em massa que ocorrem em um curto período, a pandemia COVID-19 é uma
condição de longa duração, levando a mudanças duradouras na vida cotidiana e,
especialmente, nos hábitos sociais. Isso pode tornar os enlutados da COVID-19
particularmente vulneráveis, uma vez que a distância social tem sido
considerada a ação mais importante para prevenir a propagação da doença,
uma medida, no entanto, que poderia aumentar o risco de luto sem sucesso.
Por último, deve-se notar que a atual pandemia de COVID-19 carrega a
circunstância sem precedentes de que os funerais públicos se tornaram ilegais
em muitos países devido às restrições nacionais contra reuniões e à sobrecarga
dos cemitérios. Os rituais funerários e fúnebres são importantes para o
ajustamento afetivo das pessoas que sofrem pela perda de um ente querido e os
enlutados que se consolaram com o planejamento e a participação no funeral
29

mostraram obter melhores resultados no luto posterior (GAMINO et al. 2000).


Nessa perspectiva, ser impedido de realizar um funeral adequado para seus
entes queridos pode impedir os enlutados de COVID-19 de adquirirem
consciência da realidade da morte e de compreender e enquadrar sua perda,
além de eliminar uma importante ocasião de apoio social significativo (GAMINO
et al. 2000).
Percebe-se, portanto, que as consequências da pandemia COVID-19 são
inegavelmente graves. Em 18 de abril de 2020, havia cerca de 2,2 milhões de
casos confirmados e mais de 146.000 mortes de indivíduos infectados
registrados em todo o mundo (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2020).
Além disso, o surto de COVID-19 pode aumentar indiretamente o número de
mortes porque o tratamento de pessoas com outras doenças potencialmente
fatais pode ser adiado e as pessoas com outros problemas de saúde podem
evitar visitar centros de saúde para evitar serem infectadas. Eventualmente, em
todo o mundo, pode-se esperar que o número de vítimas exceda alguns dos
desastres naturais mais mortais da história recente, incluindo o tsunami da Ásia
Oriental de 2004 (230.000 mortes) e o terremoto do Haiti de 2010 (estimativa
mais alta: 316.000 mortes). A pandemia e as políticas governamentais para
conter seu impacto podem gerar estressores adicionais, por exemplo, isolamento
social, perda de emprego, risco de infecção viral para alguns trabalhadores,
doença grave, quarentena e admissão em terapia intensiva.
Consequentemente, foi demonstrado em estudos pioneiros e recentes na
área de pesquisa do campo psiquiátrico, o aumento das queixas do surgimento
de transtornos mentais ou mais popularmente chamados de problemas
psiquiátricos, incluindo a ansiedade e a depressão, que são comuns entre o
público em geral nas áreas afetadas pelo COVID-19 (CAO et al., 2020). Embora
os aumentos nos problemas de saúde mental após desastres naturais e surtos
virais tenham sido documentados anteriormente, há historicamente menos
atenção para respostas de luto graves, incapacitantes e prolongados,
denominadas luto complicado ou luto prolongado (EISMA et al., 2019).
Primeiro, desastres com muitas vítimas geralmente resultam em níveis
mais altos de sintomas de LP entre os sobreviventes enlutados, do que os
observados após outros modos de morte. Além disso, os sintomas de LP nesses
sobreviventes são frequentemente distintos de transtornos comórbidos, como
transtorno de estresse pós-traumático (TSPT) ou depressão. Por exemplo, um
ano após o terremoto de Sichuan, análises de classes latentes demonstraram
que aproximadamente um quarto dos sobreviventes enlutados experimentaram
30

altos níveis de sintomas de TSPT e outro quarto experimentou exclusivamente


sintomas de luto altos (EISMA et al., 2019). Dadas as semelhanças
consideráveis de desastres com a pandemia COVID-19 (ou seja, alto número de
mortes, muitos estressores secundários, grave perturbação social), prevemos
que padrões semelhantes nos sintomas de saúde mental serão observados
entre as pessoas enlutadas por esta pandemia.
Em segundo lugar, pode-se esperar um aumento nas taxas de TLP,
considerando as circunstâncias de muitas mortes por COVID-19. Os sintomas de
LP são tipicamente elevados quando as mortes são inesperadas, os rituais
tradicionais de luto (por exemplo, dizer adeus, ver e enterrar o corpo) estão
ausentes (CASTLE; PHILLIPS, 2003) e o suporte social físico está faltando
(LOBB et al., 2010). Além disso, devido à política governamental voltada para a
pandemia, os mesmos fatores de risco em potencial também podem aumentar a
gravidade do luto de pessoas cujos familiares morreram por outras causas além
do COVID-19.
Para concluir, no desenvolvimento e no rescaldo da pandemia COVID-19,
prevemos que, em todo o mundo, o TLP se tornará um grande problema de
saúde pública. Desde que pesquisas futuras corroborem essas previsões
fundamentadas cientificamente, parece fundamental antecipar uma necessidade
maior de tratamentos eficazes para TLP. Os cuidados atualmente disponíveis
provavelmente não serão suficientes, visto que os tratamentos baseados em
evidências para TLP não estão amplamente disponíveis em todo o mundo e
pode haver menos disponibilidade de profissionais de saúde qualificados para
fornecer tais tratamentos durante a pandemia.
Portanto, devemos trabalhar coletivamente para melhorar a
acessibilidade de intervenções ao TLP baseadas em evidências, incluindo
tratamentos cognitivo-comportamentais e outras formas de psicoterapia breve
reconhecidas, que possam ser disponibilizadas em formatos presenciais e
online. É particularmente vital estimular o desenvolvimento e a disseminação de
tratamentos de TLP pela Internet, visto que tais intervenções podem ser
aplicadas mesmo se a pandemia persistir por longos períodos de tempo. O
tópico seguinte será responsável por abordar de modo mais diretivo a questão
do tratamento voltado ao luto complicado.

3.3 Tratamento do luto complicado


31

Há uma necessidade premente de implementar medidas que possam


diminuir as consequências adversas do luto da era COVID-19. Podemos fazer
isso educando o público leigo sobre o luto e os marcos da cura e como a
pandemia pode afetar o processo de luto. Podemos promover a consciência dos
pensamentos, sentimentos e comportamentos que podem paralisar ou
interromper o processo de luto. Isso inclui uma visão do futuro como vazio e sem
sentido, um forte foco em imaginar cenários alternativos e/ou reescrever nosso
papel na história da morte, evitação excessiva de lembretes da perda,
isolamento social, culpa do sobrevivente ou uma forte e persistente aversão a
experimentar emoções positivas.
Tal como destacado por Shear et al. (2017) interrupções na alimentação,
no sono ou nos exercícios também podem dificultar a restauração da sensação
de bem-estar. Assim como o risco de COVID-19 é maior para pessoas mais
velhas e especialmente para aquelas com doenças físicas crônicas, também o
risco de TLP é provavelmente maior em pessoas mais velhas e com histórico
psiquiátrico. Os membros da família podem ser incentivados a monitorar de perto
esses grupos vulneráveis.
Os médicos em ambientes de cuidados primários e de saúde mental,
juntamente com os psicólogos, estão praticando a telemedicina e telepsicologia
respectivamente. As vantagens das consultas médicas e das sessões de terapia
presenciais são claras, muitos pacientes idosos ainda apresentam dificuldades
para navegar e para se acostumar com o mundo digital. No entanto, os serviços
de telemedicina e telepsicologia, podem ser especialmente convenientes para
adultos e idosos, que com o tempo, e geralmente o auxílio de familiares vão se
acostumando aos poucos e poderão passar a sentir-se mais confortáveis usando
essa modalidade de atendimento. Isso pode aumentar o acesso aos cuidados
para aqueles cuja a viagem até os consultórios é difícil ou impossível.
Além do mais, todo profissional psicólogo é formado e capacitado para
praticar um acolhimento ético, empático, através de uma escuta ativa e
qualificada, promover reflexões e possibilidades os sujeitos, sejam eles
enlutados ou não façam “contato”, desenvolvam um self suporte e ressignifiquem
suas percepções cristalizadas, e assim iniciem o seu processo de cura. Acredito
que todos os profissionais de saúde possam ajudar os indivíduos enlutados a
terem melhor qualidade de vida e compreensão sobre o seu processo de luto,
desde que sejam capacitados para isso. Eles podem ajudar a formar grupos,
onde os enlutados aprenderão a modular sua dor emocional nomeando
emoções, observando e refletindo sobre elas, considerando como são afetados
32

por pensamentos, exercícios de atenção plena ou qualquer outra estratégia de


regulação emocional que tenham em sua caixa de ferramentas. Podemos formar
grupos específicos e também de rodas de conversa, convidar as pessoas a
falarem sobre a história da morte e a expressar e discutir quaisquer
preocupações que tenham sobre a doença ou o tratamento de seu ente querido.
Os medicamentos sedativos-hipnóticos devem ser evitados ou usados
criteriosamente por curtos períodos, pois o luto nem sempre requer tratamento
psicológico ou psiquiátrico. Até mesmo nos casos de TLP que é uma nova
terminologia diagnóstica; reconhecer esta condição é importante porque está
associada a vários tipos de problemas de saúde física e mental. O luto também
pode desencadear depressão, ansiedade e transtornos relacionados ao trauma
sem TLP. A identificação de um transtorno tratável e o tratamento adequado
e/ou encaminhamento para serviços de saúde mental são, portanto, importantes.
Indivíduos enlutados também podem se beneficiar do encaminhamento para
serviços virtuais de aconselhamento ou psicoterapia. Além disso, grupos online e
intervenções variadas e simples, podem fornecer suporte significativo para
pessoas enlutadas.
Segundo Shear et al. (2017) quando o TLP é diagnosticado, as
intervenções psicoterapêuticas são o tratamento de primeira linha. A psicoterapia
do luto complicado é a mais estudada dessas e outras abordagens semelhantes
também disponíveis. Entre elas estão terapias cognitivo-comportamentais que
usam estratégias para aumentar o envolvimento em atividades agradáveis e
reduzir a evitação de lembretes do falecido e outros tipos de terapias breves.
Como em qualquer terapia do luto, é importante dar atenção à auto-observação,
à autocompaixão e ao autocuidado do terapeuta.
Em suma, a emergência de saúde pública definida pela COVID-19 trouxe
elevados índices de luto, bem como desafios singulares que podem aumentar o
risco de desenvolvimento de TLP, um novo diagnóstico para o qual já existem
tratamentos comprovadamente eficazes. Esses tratamentos prometem
proporcionar alívio para multidões de pessoas em todo o mundo que há muito
sofrem com o sofrimento sem fim. A pesquisa contínua nesta área traz a
promessa de identificar fatores de proteção e risco para TLP, especialmente no
contexto da pandemia COVID-19. Também são necessários estudos que testem
os mecanismos hipotéticos para o desenvolvimento de TLP e outras condições
psiquiátricas durante o luto. Devem ser examinados mecanismos putativos de
ação e a eficácia de intervenções presenciais e administradas remotamente.
Além disso, intervenções preventivas devem ser desenvolvidas, uma vez que a
33

COVID-19 deixará um impacto duradouro e pernicioso na sociedade a nível


mundial, necessitamos de uma ação imediata para educar os profissionais de
saúde sobre o reconhecimento e o tratamento do TLP e para tornar as políticas
de telessaúde permanentes para além da pandemia. Isso garantiria o acesso
contínuo aos cuidados necessários para os indivíduos enlutados, e
especialmente para
aqueles adultos mais velhos, que possam estar isolados ou com
capacidade limitada para deslocar-se e / ou inibidos pelo estigma na busca por
cuidados de saúde mental.
34

4 A CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRAUMA E A PANDEMIA de


COVID-19

O trauma é uma pandemia contínua que, como uma nova doença


infecciosa, surge e floresce em novas formas antes que os cirurgiões e os
sistemas de saúde possam responder com eficácia a ele. As características
clínicas do trauma mudam com as circunstâncias sociais, convulsões
geopolíticas, avanços tecnológicos, mudanças ambientais e desenvolvimento
econômico. Ele ocorre no ambiente externo, quando somos expostos a fatos e
acontecimentos dolorosos que produzem em nós uma memória traumática e que
repercuti internamente, ou seja, a nível psíquico, provocando alterações em
nosso funcionamento.
Preocupações com a pandemia de COVID-19, ansiedade e medo de
contrair o vírus, instruções de saúde pública e medidas para confinamento e
distanciamento social e físico podem ser eventos traumáticos (PAPPA et al.,
2020). Mais importante, eles também podem aumentar o risco de experiências
traumáticas múltiplas e traumas complexos entre crianças e adolescentes
(COLLIN-VÉZINA ET AL., 2020; GUESSOUM ET AL., 2020).
Pessoas em todo o mundo fizeram a contagem regressiva para o final de
2020, na esperança de superar a pandemia COVID-19 e outros problemas. No
entanto, a pandemia continua este ano e, mesmo com planos de lançamento de
vacinas, que levarão tempo para serem implementados, ainda devemos
controlar uma série de emoções. Do cancelamento de grandes planos à perda
do emprego e ao luto pela perda de entes queridos devido à doença, as pessoas
passarão por situações difíceis.
As experiências das pessoas não são as mesmas. Tal como destaca
Guessoum et al. (2020), o trauma pode ter muitas formas diferentes para muitas
pessoas diferentes. Alguém que passou por um trauma no passado tem maior
probabilidade de experimentar algo no futuro como traumático por causa dessa
experiência anterior. Tarefas simples que antes eram tidas como certas, como ir
ao supermercado, agora enfrentam um estado de alerta crescente chamado de
hipervigilância, essa sensibilidade elevada é uma parte significativa de uma
resposta ao trauma. Os indivíduos estão em alerta para saber se os outros ao
seu redor estão usando máscaras e distanciamento social.
Segundo Pappa et al. (2020), a pandemia destacou as desigualdades
vividas por pessoas de cor, que também lutam contra traumas raciais. Muitos
sentem falta de segurança e têm condições de saúde subjacentes que os tornam
35

mais suscetíveis ao COVID-19. Em tempos difíceis, ansiedade, depressão,


negação e raiva fazem parte do processo de luto, que anda de mãos dadas com
o trauma. Enquanto alguns lamentam a chegada da doença e a morte de amigos
e familiares, outros sentem-se frustrados com a sensação de impotência que
chega acompanhada pela perda do trabalho que lhes garantia a alimentação
diária, perda da moradia, dos sonhos, do contato social e outras mudanças na
vida diária.
Em abril de 2020, escolas foram fechadas em 188 países. Em 5 de junho
de 2020, o fechamento de escolas ainda afetava 134 países e mais de 1,7 bilhão
de alunos em todo o mundo ( UNESCO, 2020) Embora ficar em casa possa ser
benéfico para um grupo de crianças, muitas delas correm maior risco de sofrer
múltiplos traumas, como violência física, sexual e psicológica, negligência física
e emocional, exposição à violência interparental, isolamento social, estressores
domésticos e dificuldades (por exemplo, alcoolismo, dependência de drogas e
doença mental de um dos pais), bem como aumento da precariedade social e
financeira (CÉNAt et al., 2020 ).
O trauma afeta a saúde física e mental das vítimas (BRIERE; SCOTT,
2015). Do ponto de vista da saúde mental, medo de que membros da família ou
de si mesmo possam estar infectados, isolamento social, mudanças
significativas causadas pela pandemia de COVID-19, morte de avós e outros
membros da família, perda de emprego dos pais e múltiplos traumas
interpessoais aos quais milhões de jovens expostos provavelmente sofrerão
impactos imediatos e de longo prazo. No curto a médio prazo, as pessoas
podem apresentar sintomas de ansiedade, depressão, TSPT, dissociação,
despersonalização, desregulação emocional, etc. Já a longo prazo, esses
traumas podem causar problemas de desenvolvimento físico, social e intelectual,
comportamentos violentos e de risco (automutilação, práticas sexuais inseguras,
etc.), uso de álcool e drogas e relacionamentos alterados com outras pessoas
que podem colocar os jovens em maior risco de sofrer violência em
relacionamentos românticos.
Guessoum et al. (2020) destacam que em termos de saúde física, o
trauma está associado a sintomas de somatização, com queixas de dores de
estômago e de cabeça crônicas. Em longo prazo, o trauma está associado a
impactos no cérebro e no sistema nervoso, um sistema imunológico
enfraquecido, riscos de hipertensão, diabetes, problemas cardiovasculares,
câncer e morte prematura.
36

De acordo com Pappa et al. (2020), o trauma elimina a suposição de que


o mundo é basicamente um lugar previsível, seguro e compreensível. Sem uma
sensação básica de segurança, é difícil encontrar descanso para nosso corpo ou
alma. Com o passar dos meses, sentiremos cada vez mais o impacto de um
estado de vigilância de longo prazo, de olhar constantemente para a próxima
ameaça.
Nessa direção, Briere e Scott (2015), complementam que o trauma corta
conexões. Em um nível neurobiológico, experiências de medo intenso resultam
em uma desconexão nas maneiras como nosso sistema nervoso processa e
interpreta a experiência, o que causa uma desintegração ou fragmentação
interna. Essa desintegração, então, ocorre no mundo ao nosso redor, enquanto
lutamos para estar totalmente presentes uns com os outros quando nossos
mundos internos foram fraturados.
No caso desta pandemia, também houve uma desconexão forçada dos
relacionamentos, especialmente para aqueles que se encontram em maior risco
de infecção. Embora a tecnologia nos mantenha conectados em um nível,
nossos corpos e almas sabem a diferença entre uma conversa pelo Skype e
uma interação face a face. Não fomos feitos para esse tipo de isolamento.
No final da pandemia, será importante documentar os desafios e
múltiplos traumas vividos pelas pessoas, seus fatores de risco e proteção
associados e consequências. Embora não estivéssemos preparados para a
pandemia COVID-19, esses estudos devem permitir que estejamos prontos para
a próxima vez. Como o COVID-19 já está associado a uma série de traumas
múltiplos, atuar para reduzir o risco de traumas complexos as pessoas é uma
importante questão de saúde pública que precisa ser abordada. As medidas
propostas devem ajudar a prevenir que milhões de pessoas enfrentem
problemas de saúde física e mental não relacionados à pandemia em si, mas por
terem vivenciado o espectro de traumas complexos.

4.1 Crescimento pós-traumático impulsionado pela pandemia para


organizações e indivíduos

Psicólogos hospitalares, médicos e outros profissionais de saúde têm


experimentado enormes níveis de estresse e incerteza ao fornecer cuidados
para pacientes acometidos pela doença coronavírus (COVID-19). Aqueles que
trabalham nos epicentros do vírus podem cuidar de um grande número de
pacientes gravemente enfermos e sofrer traumas psicológicos relacionados à
37

exposição a muitas mortes em um curto período de tempo ou ameaça de morte


para eles, colegas ou entes queridos. Esses profissionais podem ter encontrado
vários desafios, como não ter equipamento de proteção individual suficiente,
serem designados para a prática em áreas fora de sua especialidade, lidar com
a falta de terapêuticas conhecidas, tomar decisões difíceis sobre racionamento
ou priorizar cuidados e enfrentar interrupções que afetam muitos aspectos dos
cuidados de saúde e da vida diária.
Pappa et al. (2020) mencionam que as organizações de saúde e a
sociedade têm a responsabilidade de ajudar a lidar com essas tensões e
desafios. Exemplos de apoio psicológico incluem apoio de pares e serviços
individuais de saúde mental. Além dessas formas tradicionais de suporte para
sofrimento agudo, pode haver potencial para mudança e crescimento pessoal e
organizacional acelerado que muitas vezes levaria anos para ocorrer.
Em 2004 Tedeschi e Calhoun em um artigo chamado “Target article:
posttraumatic growth”, destacaram que o crescimento pós-traumático foi definido
como “mudança psicológica positiva experimentada como resultado de uma luta
com circunstâncias de vida altamente desafiadoras” e através do
estabelecimento de perspectivas para um “novo normal” quando o antigo
normalmente não é mais uma opção. Tedeschi e Calhoun (2004) citam que o
crescimento pós-traumático inclui 5 domínios: desenvolvimento de
relacionamentos mais profundos, abertura a novas possibilidades, maior senso
de força pessoal, maior senso de espiritualidade e maior valorização da vida. 
Ainda de acordo com Tedeschi e Calhoun (2004) é relevante destacar
que o inventário de crescimento pós-traumático foi traduzido para 22 idiomas, e
pesquisas usando o inventário encontraram fortes evidências de crescimento
pós-traumático em várias culturas e muitas populações traumatizadas diferentes,
incluindo aqueles que sobreviveram a luto, desastres naturais, veículos
motorizados e outros acidentes, condições médicas (por exemplo , câncer,
infarto do miocárdio, HIV), agressão sexual, física, situações de refugiados,
reféns e em combate a veteranos.
Os autores supracitados destacaram ainda que normalmente, o
crescimento pós-traumático se desenvolve após um trauma físico ou psicológico
que é perturbador o suficiente para as perspectivas e valores do indivíduo
afetado, estimula a reavaliação e reconstrução de crenças psicológicas,
filosóficas e abordagem de vida. Esses traumas costumam forçar os indivíduos
afetados a reconhecer que não são invencíveis, a considerar o que fazem e o
que não controlam e a reavaliar suas prioridades pessoais e profissionais.
38

Briere e Scott (2015) consideram que após alguns eventos traumáticos, é


uma resposta normal para as pessoas afetadas recordar e reviver o evento
traumático. Isso é característico do estresse pós-traumático. Quando as
lembranças do trauma se tornam involuntárias, intrusivas e não resolvidas, elas
podem se tornar uma característica central do transtorno de estresse pós-
traumático. Em contraste, quando as lembranças não são mais precipitadas
pelo trauma, mas sim dirigidas pelo indivíduo, a reflexão deliberada pode facilitar
o crescimento pós-traumático.
Pappa et al. (2020) concordam que o indivíduo afetado pode começar a
explorar os domínios do crescimento pós-traumático, considerando uma série de
questões. Essa reflexão deliberada e o crescimento pós-traumático resultante
são processos ativos que envolvem consciência, transparência, motivação,
criatividade e dedicação à melhoria. Embora desafiador, o processo também
pode ser altamente recompensador.
Algumas pesquisas mostraram que o crescimento pós-traumático é
comum entre indivíduos que vivenciam eventos traumáticos (como aqueles
relacionados a desastres naturais, acidentes automobilísticos, agressões, crises
médicas e luto), com taxas de prevalência variando entre 30% e 70%, e que
pode ser possível facilitar este processo (MAITLIS, 2019). Estudos conduzidos
com pacientes que tinham ou tiveram câncer, demonstraram que as
intervenções destinadas a facilitar o crescimento pós-traumático resultaram em
uma melhora estatisticamente significativa em relação aos controles, com 1
estudo envolvendo 126 pacientes que apresentaram crescimento pós-traumático
sustentado em 1 ano (OCHOA, 2019).
Ao facilitar o crescimento pós-traumático, pode ser possível reduzir a
influência negativa de traumas psicológicos futuros e, potencialmente, criar uma
força de trabalho de saúde mais resiliente e organizações de saúde mais
fortes. Citemos aqui o exemplo de quando o Sistema de Saúde Sueco em
Seattle se tornou um epicentro para alguns dos primeiros casos de COVID-19
nos Estados Unidos, eles atribuíram sua preparação e resiliência à reflexão
deliberada, aprendizado e crescimento catalisados por uma grande greve
trabalhista vários meses antes. Essa experiência ajudou a transformar sua
abordagem de comunicação, delegação de autoridade e suporte a seus
cuidadores, que eles consideraram facilitar uma resposta organizacional mais
otimizada em seus 5 hospitais quando a pandemia COVID-19 ocorreu vários
meses depois. 
39

Da mesma forma, depois que o furacão Katrina incapacitou o sistema de


saúde de Nova Orleans, a comunidade médica criou clínicas “pop-up” para
fornecer serviços de saúde à comunidade necessitada. Por meio de reflexão e
aprendizado subsequentes, Nova Orleans reimaginou a prestação de cuidados
de saúde e o novo modelo centrado no paciente desenvolvido a partir desse
processo, que inspirou e serviu de modelo para outros em todo o país.
Nesse contexto, Pappa et al. (2020) consideram que além dos
aprendizados específicos de um determinado evento, estudos em militares
veteranos sugerem que o crescimento pós-traumático em resposta a 1 trauma
reduz a probabilidade de desenvolver transtorno de estresse pós-traumático
após traumas subsequentes, um achado que pode se aplicar ao crescimento
pós-traumático em outros contextos. 
Assim, Guessoum et al. (2020) discorrem que o crescimento pós-
traumático pode ser medido em indivíduos dentro da organização usando o
Inventário de crescimento pós-traumático. O crescimento organizacional pós-
traumático pode ser avaliado pela quantidade e qualidade das lições aprendidas
em um processo de revisão pós-crise.
Quando as organizações são afetadas por adversidades, elas geralmente
usam o gerenciamento de crises com o objetivo de restaurar o sistema ao seu
nível normal de funcionamento. Em contraste, o crescimento organizacional pós-
traumático refere-se a um processo pelo qual as organizações não são apenas
restauradas, mas alcançam um nível mais alto de funcionamento como resultado
de abordar e aprender com um evento traumático. Organizações ou líderes não
devem pressionar os indivíduos a buscarem crescimento logo após o trauma ou
isso pode inadvertidamente aumentar o sofrimento. 

4.2 Como uma abordagem informada sobre o trauma pode ajudar?

De acordo com Pappa et al. (2020) o impacto generalizado do trauma


devido à pandemia do coronavírus pode ser mitigado quando as organizações
implementam uma abordagem informada sobre o trauma. O cuidado informado
sobre o trauma permite que as organizações reformulem seus serviços para
garantir que não perpetuem os sintomas do trauma, mas, em vez disso,
reconheçam as consequências físicas e cognitivas do trauma, desenvolvendo
resiliência e concentrando-se nos pontos fortes.
O paradigma do cuidado informado sobre o trauma vê as reações e
sintomas do trauma não como patológicos, mas como adaptações a uma
40

situação difícil. Também reconhece que o trauma pode ter um impacto profundo
no corpo e na mente, além do mais, o trauma pode levar a sintomas físicos como
dores no corpo, dores de cabeça, náuseas e distúrbios do sono (entre outros
sintomas).
Dito isso, Pappa et al. (2020) concordam que cognitivamente, o trauma
pode provocar uma ampla gama de reações, incluindo confusão, exaustão,
dissociação ou hiperexcitação. Esses sintomas, se não tratados, podem afetar a
resposta imunológica de um indivíduo e resultar em uma ampla gama de
complicações de saúde física. Em uma época em que a saúde física é de
extrema importância, é fundamental que os prestadores de serviços entendam
por que devem tratar os sintomas de trauma durante a pandemia.
Dados esses potenciais prejuízos físicos e cognitivos do trauma, o
cuidado informado sobre o trauma se concentra em construir forças e criar
resiliência. Ao basear-se em pontos fortes, permitem que os provedores ajudem
os indivíduos a se concentrarem em onde e como podem desenvolver seus
ativos positivos, e a abordar áreas onde possam não ter recursos para lidar com
o trauma. Isso ajuda os indivíduos a construir resiliência, no sentido de
desenvolver a capacidade de se adaptar às adversidades e de “se recuperar” de
eventos difíceis. Aumentar a resiliência é algo que todos precisam neste
momento, haja vista que a pandemia não mostra sinais de que vai desaparecer
tão cedo, mas construir resiliência com mecanismos de enfrentamento positivos
pode ajudar os indivíduos a superar este momento difícil.

4.3 A diferenciação de luto, trauma e luto complicado

Com todo o nosso caminhar teórico, foi possível perpassar questões


referentes ao luto, luto complicado e trauma, dito isso, esse tópico nos
proporciona abordar de modo comparativo essas três nuances, fato que mostra
que o luto é a resposta poderosa, multifacetada e frequentemente incontrolável
que os seres humanos experimentam após um evento pessoalmente doloroso
ou traumático. Embora normalmente associados à morte de um ente querido, um
natimorto ou um aborto espontâneo, muitos outros eventos também podem
desencadear luto em vários graus.
É importante entender que o luto não é uma emoção única, Yang et al.
(2020) destaca que é uma experiência ou estado de ser que se manifesta física,
emocional, mental e/ou espiritualmente após um evento doloroso ou traumático.
Além disso, como nossas impressões digitais, cada um de nós é único e como
41

vivenciamos o luto, e por quanto tempo sofremos, pode variar consideravelmente


de uma pessoa para outra, mesmo após situações de perda semelhantes, como
a morte de um dos pais, cônjuge/parceiro, criança, animal de estimação, etc.
Dito isso, embora todos vivenciem o luto, há uma diferença entre o luto e
o complicado. Algumas pessoas, entretanto, podem vivenciar um luto
complicado, no qual as reações usuais à morte de um ente querido não
desaparecem com o tempo e podem prejudicar ou impedir que levem uma vida
normal. Como mencionado por Hamid e Jahangir (2020) a reação ao luto de
todos é única e não há um período específico de tempo que defina quando o luto
se torna um luto complicado. Alguns citam um parâmetro de cerca de seis meses
após a ocorrência da morte, mas é perfeitamente normal para os enlutados
acharem o primeiro ano após uma perda significativa difícil, pois os
sobreviventes experimentam feriados, aniversários, datas e eventos anuais
significativos pela primeira vez sem seus entes queridos.
É importante enfatizar que qualquer pessoa que esteja passando por um
luto retardado, privado ou traumático não lidará necessariamente com um luto
complicado. Em muitos casos, os enlutados ainda processam sua resposta ao
luto normalmente, apesar dessas circunstâncias e sem seguir os "estágios"
específicos do luto.
Ou seja, diante disso, percebe-se que o luto é a resposta à perda que
contém pensamentos, comportamentos, emoções e mudanças fisiológicas; se a
perda é permanente, o luto também o é, mas sua forma evolui e muda conforme
a pessoa se adapta à perda. Já o luto complicado é uma forma persistente de
luto intenso em que pensamentos desadaptativos e comportamentos
disfuncionais estão presentes junto com anseio, saudade e tristeza contínuos
e/ou preocupação com pensamentos e memórias da pessoa que morreu. A dor
continua dominando a vida, e o futuro parece sombrio e vazio. Pensamentos
irracionais de que a pessoa falecida possa reaparecer são comuns e a pessoa
enlutada se sente perdida e sozinha. Adaptar-se à perda implica aceitar a
realidade da morte, incluindo sua finalidade, consequências e mudança de
relação com a pessoa que morreu; adaptar-se significa ver o futuro como
possibilidade de uma vida, com propósito e significado, alegria e satisfação.
O que conta como trauma é muito pessoal, de acordo com Pappa et al.
(2020) o que significa que duas pessoas podem passar pelas mesmas
circunstâncias e reagir de maneira bem diferente. No entanto, as experiências
traumáticas geralmente envolvem uma ameaça à vida ou à segurança (incluindo
42

segurança emocional). Eles podem assumir a forma de um único evento


angustiante, como a perda repentina de um ente querido.
Outra maneira de pensar sobre o impacto do trauma é pensar sobre as
perdas, tanto específicas quanto gerais, que resultam do trauma. Em vários
pontos desta pandemia, muitos de nós perdemos rotinas, férias, empregos e a
capacidade de nos reunirmos com outras pessoas. Eventos foram cancelados,
nosso trabalho mudou e as telas se tornaram um mediador quase universal de
relacionamentos.
Basicamente, para alguns, a pandemia COVID-19 não é apenas uma
situação grande e desconfortável; é um gatilho que traz à tona aquelas velhas
memórias e todos os padrões habituais de pensamento, sentimento e
comportamento que as acompanham.
Em última análise, não é o trauma que causa o crescimento, mas sim
como os indivíduos e as organizações interpretam e respondem a ele. O
crescimento pode ocorrer respondendo ao trauma de uma maneira que enfoque
o aprendizado de como o trauma pode servir como um catalisador positivo, para
que o futuro da saúde mental seja maior do que o status quo anterior. Quando a
fase aguda da pandemia diminuir, juntamente com o gerenciamento da crise e o
apoio psicológico inicial, sugira a oportunidade de implementar uma estratégia
de enfrentamento para facilitar o crescimento.
Ademais, o “enfrentamento da evitação” desadaptativo pode envolver a
retirada por meio da negação e distração, desligamento, despersonalização,
raiva, culpar os outros, abuso de substâncias, redução do esforço de trabalho,
retirada e isolamento.

5 CONCLUSÃO

A pandemia de coronavírus afetou profundamente indivíduos em todo o


mundo. Embora a taxa de infecção e o número de mortes de COVID-19 sejam
indicações claras da gravidade da situação, o que resta saber são os efeitos de
longo prazo que essa pandemia terá na saúde mental das pessoas afetadas.
Dito isso, menciona-se que foi possível identificar o objetivo geral da
pesquisa, bem como os específicos e responder à questão problema. Nessa
direção, o objetivo geral consistiu em apontar a relação existente entre luto,
trauma e luto complicado durante a pandemia, assim, foi demonstrado que as
epidemias criam estresse geral nas populações que afetam. Identificou-se ainda
que a multiplicidade de perdas associadas às pandemias impacta as normas
43

culturais, rituais e práticas sociais usuais relacionadas à morte e ao luto,


aumentando potencialmente o risco de luto complicado e traumas. Recomenda-
se enfocar a promoção da conexão com as pessoas antes e depois da morte,
adaptando rituais e práticas de luto de maneira respeitosa e planejando uma
resposta coordenada ao apoio pós-morte.
O primeiro objetivo específico deste trabalho, consistiu em apontar
mecanismos para reduzir o impacto psicológico de pessoas enlutadas durante a
pandemia atual, diante disso, foi possível identificar que as chances de reduzir o
impacto psicológico de pessoas enlutadas durante a pandemia atual é pequena,
uma vez que apenas alguns fatores de risco para LC podem ser manipulados
por intervenção. Uma opção concreta, é melhorar a comunicação entre os
profissionais de saúde e a família do paciente, principalmente, entre eles e os
médicos responsáveis, garantindo que estes se atualizem sobre a evolução
clínica do mesmo. A segunda opção concreta, seria salvaguardar a ligação entre
os familiares e os doentes internados por COVID-19, que seja proporcionado
algum tipo de contato entre eles que possa fortalecer a continuidade do vínculo
afetivo existente, seja por vídeo chamada, gravação de áudios, fotos com
dedicatórias, leitura de mensagens e etc. Um outro foco de intervenção possível,
seria aplicar uma abordagem compartilhada para o fim da vida, envolvendo os
membros da família como tomadores de decisão substitutos.
Em seguida, tem-se o segundo objetivo específico, que buscou discorrer
sobre os efeitos da pandemia COVID-19, que provocou impactos mistos sobre o
luto das pessoas em todo o mundo, desse modo, foi mencionado que os
requisitos de distanciamento social e outros métodos para desacelerar a
disseminação do vírus resultaram em sentimentos crescentes de isolamento e
ruptura de sistemas de suporte às vezes já fragilizados. Apesar dos muitos
desafios impostos, muitas pessoas encontram alguns benefícios na situação
atual, incluindo mais tempo para o luto e o reconhecimento de suas habilidades
de enfrentamento e resiliência. Diante de toda a restrição que está sendo
vivenciada pela população, da impossibilidade de contato pessoal com a pessoa
internada, e dos impactos emocionais mistos que as pessoas estão vivenciando,
sugerimos que profissionais de saúde como Psicólogos, Assistente Sociais e
outros que atuem diretamente nos hospitais, contatem os familiares enlutados de
forma proativa para avaliar a necessidade de apoio adicional e encontrar
maneiras inovadoras de se conectar e fornecer suporte contínuo para as
famílias.
44

Há um reconhecimento crescente de que uma minoria de pessoas


enlutadas experimenta sintomas de luto persistentes e incapacitantes, também
denominados luto complicado. Revisamos os critérios propostos atualmente para
o luto complicado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM 5) e na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde (CID-11), destacamos as controvérsias em relação ao
estabelecimento do luto complicado como um transtorno psiquiátrico, devido às
dificuldades para estabelecer o tempo e a forma de expressão para diagnóstico,
por isso, encontra-se na sessão lll “Condições para estudos posteriores”.
Pesquisas recentes sobre tratamento do luto complicado indicam o tratamento
psicoterápico como a forma premente de tratar o LC, a Terapia do luto
complicado é mais estudada e difundida, temos também o tratamento cognitivo-
comportamental e outras psicoterapias breves que estabelecem uma agenda de
pesquisa nova e sistemática para o tratamento do luto complicado.
Os médicos devem ser cautelosos sobre o diagnóstico, e com o
diagnóstico incorreto de luto complicado, visando assim evitar a patologização
do luto normal. Mudanças recentes nas definições de luto complicado podem
levar a generalização e ao erro. Embora a medicação seja frequentemente
prescrita para pessoas enlutadas, as evidências de sua eficácia são ambíguas.
Muitas vezes as técnicas psicoterápicas presenciais e também os atendimentos
on-line, como a Terapia do luto e outras, são eficazes no processo de
enfrentamento ao luto complicado, e faz a necessidade do uso de medicação ser
indicada apenas para casos específicos.
O terceiro objetivo específico consistiu em identificar como as mortes
relacionadas ao coronavírus e a prática de rituais de despedida em tempos de
pandemia podem causar um aumento do luto complicado, assim comenta-se que
além da natureza inesperada das mortes relacionadas ao coronavírus, a
interrupção dos processos tradicionais de luto, como a prática de rituais
religiosos, a limitação de visitantes e a prática de isolamento social, poderia
potencialmente interferir no luto normal, causando um aumento de dor
complicada. As mortes de COVID-19 também estão acontecendo com as ordens
de permanência em casa em vigor, o que pode piorar a sensação de isolamento
e solidão que faz parte da experiência natural de muitos enlutados.
Em relação ao problema da pesquisa que consistiu em diferenciar luto,
trauma e luto complicado, foi possível identificar que na pandemia, a perda tem a
ver com trauma e luto complicado, visto que quando eventos traumáticos levam
a efeitos duradouros nas emoções, cognição e comportamento, isso é indicativo
45

de transtorno de estresse pós-traumático (TSPT). Mas a perda de um ente


querido também é um evento traumático que causa interrupções semelhantes,
quando se tornam prolongados, é classificado como luto complicado (LP).
Acerca do problema da pesquisa, comenta-se ainda que o luto
complicado e o trauma têm sobreposições e diferenças, e também podem se
manifestar simultaneamente. O risco de desenvolver um luto complicado
depende tanto das circunstâncias imediatas da morte quanto do contexto em
que ela ocorre. O luto complicado é mais provável de ocorrer se a morte for
repentina, violenta ou inesperada, tal como se dá em detrimento do COVID-19.
Mas, assim como experiências não tipicamente consideradas traumáticas podem
ainda levar a sintomas de TSPT, também o luto normal pode produzir luto
complicado. Assim, entende-se que na pandemia, perda tem a ver com trauma e
luto complicado, ocorrem perdas inesperadas, de sonhos, vínculos, pessoas
amadas, projetos, e do ritual de velório e sepultamento cultural em cada
localidade.
Em relação as limitações para o desenvolvimento dessa monografia,
comenta-se que além de haver poucos estudos a respeito, a maioria veio de
países com fortes sistemas de crenças culturais e espirituais que podem diferir
das sociedades ocidentais. O impacto de percepções equivocadas, no entanto, e
as dúvidas sobre a autenticidade das informações das autoridades relevantes
têm ampla aplicação e são relevantes para a nossa crise atual.
À luz dessas descobertas, recomendamos uma investigação sistemática
a respeito de: O que funciona melhor no tratamento do luto em tempos de
pandemia? Para tal sugere-se a aplicação de testes de eficácia escalonados
bem planejados e estudos de montagem de componentes de tratamento; como
funciona, conduzindo investigações sobre teorias terapêuticas e examinando
mediadores de mudança terapêutica; e para quem funciona, examinando
moderadores potenciais dos efeitos do tratamento.

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