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A Ocupação Da Herdade Da Torre Bela em 1977
A Ocupação Da Herdade Da Torre Bela em 1977
Quarta-feira, 24 de Abril
Wilson através do megafone informa que “Os donos desta terra não estão de acordo
com a cooperativa” e confirma o que já havia sido comentado por Maria no fechamento da cena
anterior sobre a garantia de trabalho para alguns trabalhadores e não para todos. O resultado da
reunião é exposto entre os trabalhadores e são abertas falas entre os diferentes protagonistas.
Um dos trabalhadores manifesta o propósito da luta dos trabalhadores: “(...) dar a terra a
quem a trabalha”. E Wilson segue comentando sobre o processo de Reforma Agrária que decorre no
resto do país, e a necessidade de firmar um acordo de cooperativa entre os trabalhadores. Camilo
Mortágua, que apela à continuidade da luta dos trabalhadores pelo acesso à terra, “(...) com
serenidade e conscientes dos direitos”, garante o desenvolvimento da assembleia, expondo os
pontos de interesse dos trabalhadores para uma tomada de posição.
No próximo quadro, já se encontra no meio da multidão, e do seu lugar afirma ainda a
importância de ter acesso às terras, mas “(...) também às instalações, também imóveis, também
máquinas e também tudo aquilo que é necessário para amanhar a terra”. Wilson reforça do alto que
para amanhar a terra “teremos de ter dinheiro”, e Mortágua afirma que existe o Instituto
da Reforma Agrária (IRA) para apoio financeiro e técnico.
No final da cena, Wilson apela ao voto de todos sobre o acordo de cooperativa.
Os trabalhadores são unânimes em afirmar o acordo de cooperativa que garante trabalho para
todos, para ser encaminhado como decisão dos trabalhadores nas negociações com o proprietário
D. Miguel.
Sexta-feira, 26 de Abril
Sexta-feira, 10 de Maio
Segunda-feira, 13 de Maio
Uma viatura militar dirige-se para a entrada da herdade. Todos gritam “O povo está com a
MFA” e “Abaixo a reação”.
Wilson e Maria saem da habituação junto com os outros militares e trabalhadores.
O povo segue o ativista (Wilson) e gritam “Soldado amigo, o povo está contigo!”. Os militares
acenam e aos poucos distanciam-se da Quinta.
Dá-se o reconhecimento da cooperativa pelas Forças Armadas, e rejeita-se qualquer tipo de
atitude reacionária.
Domingo, 19 de Maio
A ocupação já era considerada pelo IRA como “ocupação selvagem”. O seu relatório deixa
clara a intenção de não ser dado apoio ao ato direto dos trabalhadores. Há uma apatia, uma
indiferença em relação à Torre Bela, por parte dos órgãos representativos do Estado que acaba por
ser fortemente ressaltada no filme, supondo-se a tendência para a defesa dos interesses privados.
Um trabalhador comenta a necessidade de expor ao “povo que este país está na miséria, mas que
nós temos bom pessoal humano, bons elementos para poder trabalhar”, sugerindo uma
discrepância entre a realidade concreta do país e aquilo que é transmitido pelos órgãos
representativos do Estado.
Dado isto, ouve-se a música “Grândola, Vila Morena” de Zeca Afonso (utilizada como
segunda senha no dia do Golpe de Estado. Todos cantam em coro.
Aqui, é reconhecida a importância da MFA na concretização deste Golpe de Estado, ao
mesmo tempo que a sua ocupação é legitimada socialmente com a presença de Zeca Afonso e
Vitorino.
Quarta-feira, 5 de Junho
A discussão em assembleia chegou ao impasse da impossibilidade de atuação pela base e
ficou determinado formar-se uma Comissão que levasse o assunto ao Conselho da Revolução (CR).
Foi discutido que existem fraturas no interior das Forças Armadas, e militares que boicotam a
execução das instruções, de dentro das diferentes unidades militares, impossibilitando a garantia de
apoio aos trabalhadores.
Um dos militares coloca o problema da segurança dos trabalhadores da Quinta Torre Bela, e
o estado de vulnerabilidade em que eles se encontram. No final, Wilson comenta, referindo-se aos
grandes proprietários que fugiram logo no momento do Golpe de Estado:
Se vocês não nos armarem, se vocês que têm realmente o poder nas
mãos e que estão connosco e não nos armarem, caímos no ridículo de
um dia mais tarde, nem vocês nem nós [estamos aqui]. Olha que eles
não nos perdoavam, de certeza absoluta. Eles se viessem [...] agora, e
da Espanha e de outro lugar não nos perdoavam.”
Quinta-feira, 6 de Junho
Sexta-feira, 7 de Junho
Inicia-se uma discussão entre Wilson e os outros, que discordam que se deva ocupar o
Palácio. Para estes, seria essencial o direito à habitação, alimentação, saúde e creche. No entanto,
não teriam visto os seus direitos respeitados anteriormente.
Seguidamente, anuncia-se uma Reunião da assembleia geral no dia 11 de Junho. O
presidente divulga as informações sobre a pauta de trabalhos.
Instantaneamente, observa-se os agricultores a lavrar a terra.
Na legenda final podemos ler como “as tropas do governo socialista” contraditoriamente
prendem a Comissão dos trabalhadores e oficiais da polícia militar que apoiaram a luta dos
trabalhadores.
Harlan refere-se às tropas do governo Socialista como grandes opositores da luta dos trabalhadores.
Apesar do fim trágico da ocupação, a luta pela reforma agrária continuou em Portugal. Nos
anos seguintes, o governo português implementou uma série de políticas para redistribuir a terra e
criar cooperativas agrícolas em todo o país. A ocupação da Herdade Torre Bela tornou-se um
símbolo da luta pela justiça social e continua a ser lembrada como um dos eventos mais
significativos da história contemporânea de Portugal.