Professional Documents
Culture Documents
Carta Aberta Aos Teatros Negros - Dunham
Carta Aberta Aos Teatros Negros - Dunham
Texto disponibilizado para uso em aula. Curso de Extensão Vozes Negras na Antropologia, UNILAB, 2021
coreografias em meu próprio teatro de dança. A partir dos passos dos deuses, eu concebi
formas, exercícios e técnicas que mais tarde, filtradas através do balé clássico e outras
percepções, se tornaram a base para a Técnica Dunham. Este apego ao e o crescimento
do coletivo na sociedade primitiva e popular guiaram, mais do que qualquer outra
influência, as minhas expressões teatrais no sentido de expressões comunitárias e de
grupo.
Para uma bailarina, as danças do culto haitiano são, na superfície, bastante simples
e devem ser aprendidas através de uma exposição prolongada ou das lições concentradas
de um especialista. Ao desenvolver exercícios que mais tarde se tornaram a Técnica
Dunham, eu trabalharia estreitamente com os tocadores disponíveis. Como numa escola,
ensinamos batucada haitiana, cubana e brasileira, a partir das noções tiradas do que eu
pude gravar ou rememorar de experiências de primeira mão. Minha teoria da inter-relação
entre a forma e a função me serviu bem. Com o tempo e a experiência, tornou-se algo
natural para mim relacionar um ritmo, que em seu ambiente nativo teria sido usado para
estimular a adrenalina no baralhamento rápido dos pés e/ou nos tremores dos ombros,
com uma resultante excitação de movimentos agressivos, e até mesmo violentos. Os
detalhes desta relação entre forma e função são mais desenvolvidos em uma pequena
monografia ainda não publicada neste país.1
Em suma, é inconcebível para mim que qualquer forma de Arte Negra,
especialmente o teatro não-verbal, possa ser experimentado sem referência à fonte. E esta
referência não é apenas dos livros, ou do ponto de vista de um turista muito familiar ou
de um pesquisador ocasional. Uma vida entre as pessoas é essencial. Como povo, somos
ricos e complexos por trás de uma fachada simplista enganosa, holística, de modo que
nenhuma característica possa ser separada do complexo ao qual pertence. Nossa pesquisa
merece completa devoção, avaliação criteriosa e uma contribuição tão grande quanto
esperamos derivar dessas fontes folclóricas e primitivas.
Minha vida pessoal e teatral teria sido bem diferente sem a minha associação
íntima com a cultura da grande diáspora africana.
Até a próxima vez.
Reflexões e votos de felicidades.
1
Katherine Dunham, Danças do Haiti. México: Belles Artes, 1947.
Tradução preliminar de Messias Basques – SEM REVISÃO. NÃO CITAR EM OUTRAS PUBLICAÇÕES.
Texto disponibilizado para uso em aula. Curso de Extensão Vozes Negras na Antropologia, UNILAB, 2021