You are on page 1of 27

UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA

Instituto De Ciências Humanas


Curso de Psicologia

Carolyne Nicolau Maia


Cristiane França
Manuella Madureira Iori
Marcela Guedes de Souza Silva

O IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NOS QUADROS


DE COMPULSÃO ALIMENTOS DE JOVENS GAROTAS

Campus Norte – São Paulo

2022
UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA
Instituto De Ciências Humanas
Curso de Psicologia

Carolyne Nicolau Maia


Cristiane França
Manuella Madureira Iori
Marcela Guedes de Souza Silva

O IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NOS QUADROS


DE COMPULSÃO ALIMENTOS DE JOVENS GAROTAS

Trabalho de conclusão de curso apresentado para


obtenção do grau de Bacharel em Psicologia, Faculdade
de Psicologia, Instituto de Ciências Humanas, UNIP –
Universidade Paulista, sob a orientação do Professor
Doutor Denio Waldo Cunha.

Campus Norte – São Paulo


2022
O Impacto da Pandemia de COVID-19 nos Quadros de Compulsão Alimentar de
Jovens Meninas. MAIA, C. N; FRANÇA, C; IORI, M. M; SILVA, M. G. S; CUNHA, D.
W. Curso de Psicologia, Trabalho de Conclusão de Curso. Instituto de Ciências
Humanas. Universidade Paulista – UNIP, Campus Paraíso, 2022.

RESUMO
Em 2020, o vírus da COVID-19 iniciou uma pandemia que impactou a vida das
pessoas ao redor do mundo de diversas formas e, com isso, veio a necessidade de
manter-se em lockdown por tempo indeterminado. Isso impactou, entre outras esferas,
na saúde mental, no acesso e no tipo de alimento que as pessoas consumiram durante
esse período. Assim a presente pesquisa busca estudar o impacto que a pandemia
de COVID-19, teve nos quadros de jovens meninas com Compulsão Alimentar,
através da narrativa de profissionais da psicologia e da nutrição, sendo três de cada
área. Será utilizado um método qualitativo de pesquisa e balizado pela Terapia
Cognitivo Comportamental
Palavras-chave: pandemia; transtorno de compulsão alimentar; psicologia; saúde;
garotas;

ABSTRACT
In 2020, the COVID-19 virus started a pandemic that impacted the lives of people
around the world in many ways, and with that came the need to remain in lockdown
indefinitely. This impacted, among other spheres, mental health, access, and the type
of food that people consumed during this period. Thus the present research seeks to
study the impact that the COVID-19 pandemic, had on the charts of young girls with
Food Compulsion, through the narrative of psychology and nutrition professionals. A
qualitative research method will be used and guided by Cognitive Behavioral Therapy.
Keywords: pandemic; binge eating disorder; psychology; health; girls;
Sumário

Introdução ............................................................................................................................ 1
1.1 O impacto da Pandemia de Covid-19 no cotidiano dos lares brasileiros ..................... 2
1.2 Aspectos biológicos e conceituais das compulsões alimentares................................. 3
1.3 Aspectos históricos do consumo alimentar ................................................................. 4
1.4 A compulsão alimentar no momento pandêmico ........................................................ 7
1.5 A condição socioeconômica e cultural de jovens brasileiras ....................................... 9
1.6 Contribuições do saber psicológico ......................................................................... 10
1.7 Objetivo .................................................................................................................... 15
1.8 Justificativa .............................................................................................................. 15
Método ................................................................................................................................ 15
2.1 Participantes ............................................................................................................ 16
2.2 Instrumentos............................................................................................................. 16
2.3 Procedimentos ....................................................................................................... 17
2.4 Procedimentos para análise do material .................................................................. 18
2.5 Ressalvas éticas ..................................................................................................... 18
Referências Bibliográficas ................................................................................................ 19
Anexos................................................................................................................................ 23
1

1 Introdução
A pandemia causada pelo vírus da COVID-19 impactou na rotina de vida de
milhares de pessoas e o lockdown acarretou mudanças em diversas áreas como sono,
numa desorganização da alimentação, trabalho e na prática de atividades físicas. E
com a necessidade de manter-se isolado para conter o avanço da doença,
sentimentos como raiva, tristeza, ansiedade e solidão podem ficar mais exacerbados.
Além disso, com as notícias que saíram nos veículos de comunicação, foi possível
perceber que pandemia teve impacto muito forte sobre crianças e adolescentes,
afetando tanto na saúde mental quanto física.

Em adição, pesquisas como a de Souza citada por Galleti e Da Costa Maynard


(2021), apontam que durante o período de isolamento houve uma diminuição no
intervalo de tempo entre as refeições, dado que o acesso ao alimento estava mais
fácil. Isso corrobora para um significativo aumento de peso nas pessoas e, em certos
casos, alcançar o sobrepeso. De acordo com a literatura, apesar de não ser
considerada transtorno, a obesidade pode ser consequência dos comportamentos
presentes em diversos transtornos psiquiátricos como os Transtornos Alimentares.
Esse fato associado ao impacto emocional que a pandemia trouxe chama a atenção
para os possíveis efeitos que essa série de ocorrências possa trazer para a vida das
pessoas.

Dessa forma procurou-se problematizar a relação da pandemia com a compulsão


alimentares no público jovem. A partir da pesquisa bibliográfica, pode-se perceber que
existe uma prevalência Transtornos Alimentares mais recorrentes como Anorexia
Nervosa, Bulimia Nervosa e Compulsão Alimentar em meninas e mulheres. Assim,
considera-se que, em decorrência da pandemia, houve um aumento significativo no
desenvolvimento e agravamento de quadros de compulsão alimentar em pessoas do
sexo feminino.

Devido ao contexto pandêmico o tema em questão precisa ser mais bem


explicitado, portanto, a presente pesquisa se mostra importante para ampliar o campo
de estudo e trazer mais informações sobre a temática e, consequentemente, expandir
o conhecimento e atualizar os profissionais da área e, com isso, as possibilidades de
ajuda e cuidado para a para a população.
2

Assim, para embasar os dados coletados, utilizou-se a abordagem teórica da


Terapia Cognitivo-Comportamental e será explicitada nos subitens em sequência.
Além disso, buscou-se contextualizar os aspectos biológicos, conceituais a
Compulsão Alimentar e os aspectos socioeconômicos e culturais que perpassam o
recorte utilizado na presente pesquisa.

1.1 O impacto da Pandemia de Covid-19 no cotidiano dos lares brasileiros

Em 2020 o mundo foi afetado pela pandemia causada pela doença da COVID-
19. Segundo informações do Ministério da Saúde a transmissão da doença se dá
através do aperto de mãos contaminadas, espirro, tosse, gotículas de saliva e contato
com superfícies contaminadas; por isso para conter o contágio do vírus foi necessário
o isolamento social, fato que impactou diretamente na rotina e padrão de vida das
pessoas, causando mudanças na psique e no corpo como um todo. Segundo Touyz;
Lacey e Hay (2020) o isolamento pode potencializar sentimentos de raiva, solidão
ansiedade e tristeza, e, com a acelerada propagação do vírus estabeleceram-se
medos na sociedade, tais como o risco da própria morte pela contração do vírus, perda
de pessoas de seu ciclo socioafetivo e prejuízo na renda familiar. Ainda, estudos como
de Francisco et al, citado por Francisco (2021), feito com crianças em Portugal
mostram que houve alterações psicológicas por conta do isolamento social, sendo
alguns desses sintomas maior tendência a discutir com os membros da família, tédio,
agitação e irritabilidade.
Situações estressoras podem aumentar o nível de ansiedade, no contexto social
da pandemia as pessoas precisaram desenvolver mecanismos para lidar com o
sofrimento e mudanças que foram causadas pela doença. No que se refere ao
Transtorno de Compulsão Alimentar há uma forte associação entre este com
transtornos do tipo evitativo e ansioso. Estudos mostram que “a sensação de estresse
e ansiedade provocada pelo isolamento pode gerar, naqueles que possuem
tendências, o comer emocional, especialmente de carboidratos, que por sua vez são
gatilhos para compulsão” (LEITE E ANDRADE, 2022, p.324).
Tendo em vista tudo o que foi mencionado, percebe-se que há uma relação entre
pandemia e alteração da saúde mental, incluindo-se aqui o Transtorno da Compulsão
Alimentar. O presente estudo buscou entender melhor esse aspecto na vida de
adolescentes de do sexo feminino. A seguir serão abordados aspectos biológicos e a
conceitualização do Transtorno de Compulsão Alimentar.
3

1.2 Aspectos biológicos e conceituais das compulsões alimentares


Na contemporaneidade, segundo Bloc (2019), o transtorno de compulsão
alimentar, dentro do DSM-V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders –
fifht edition), se caracteriza pela ingestão, dentro de um período de duas horas, de
uma quantidade maior de alimentos do que outras pessoas comeriam em uma
situação similar. Os episódios devem ocorrer com uma frequência semanal – pelo
menos uma vez por semana – por pelo menos três meses e são acompanhados pela
sensação de falta de controle sobre a ingestão de alimentos, além de sentimento de
culpa e vergonha. Entretanto, diferentes de outros transtornos alimentares como
Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa, a compulsão alimentar não é acompanhada
de comportamentos compensatórios e purgativos para controlar o ganho de peso,
como por exemplo o uso de laxantes, a questão principal gira em torno da quantidade
da ingestão de alimentos, sem considerar a sua qualidade.

Para compreender melhor o fenômeno é importante conhecê-lo em sua


perspectiva histórica. Os padrões comportamentais do Transtorno de Compulsão
Alimentar começaram a ser observados e descridos, segundo Gomes (2021), na
década de 1950 com indivíduos obesos que buscavam tratamento para emagrecer,
mas que comiam muito e não conseguiam se controlar e, apesar disso, não
apresentavam comportamentos compensatórios. Entretanto, o quadro só foi
considerado transtorno, dentro do DSM IV em 1994 com o nome de Transtorno de
Compulsão Periódica, no apêndice B e somente na quinta edição do manual que o
termo “periódica” foi retirado da nomenclatura. Isso ocorreu porque, naquela época,
esse padrão alimentar era considerado normal em indivíduos obesos. Do DSM IV para
o DSM IV-TR não houve nenhuma mudança, somente no DSM V em que, além do já
citado, também foram ampliados os critérios diagnósticos, ampliando a descrição
sobre a ingestão dos alimentos e o sofrimento decorrente do quadro psicopatológico,
além da adição dos especificadores.

Além do que já foi citado, o Transtorno de Compulsão Alimentar se caracteriza


por

“comer mais rapidamente do que o normal, comer até se sentir desconfortavelmente


cheio, comer grandes quantidades de alimento na ausência da sensação física de
fome, comer sozinho por vergonha do quanto se está comendo e sentir-se
desgostoso de si mesmo, deprimido ou muito culpado em seguida” (Associação
Americana de Psiquiatria citado por GOMES, 2021, p. 67)
4

Como citado, dentro da classificação também existem alguns especificadores


que devem ser avaliados para o diagnóstico. Entre eles o especificador de gravidade
de acordo com a quantidade semanal de episódios de compulsão sendo leve (1 a 3),
moderado (4 a 7), grave (8 a 13) ou grave (14 ou mais). Ademais, há o especificador
de remissão parcial em que os episódios ocorrem em uma média inferior a uma vez
na semana em um período que é sustentável, ou remissão completa, em que o
paciente não apresenta mais os sintomas em um período sustentado

Segundo Nunes (2012), os transtornos alimentares atingem majoritariamente


pessoas do sexo feminino e na faixa-etária dos 14 aos 18 anos e, as mudanças
acarretadas pela pandemia afetaram o corpo das pessoas como um todo, deixando
sua saúde mental em desequilíbrio. Assim, ressalta-se a importância dessa pesquisa
em estudar como um período tão complicado quanto a pandemia de COVID-19
impactou no desenvolvimento e evolução de quadros de compulsão alimentar.

Antes de prosseguir, é importante pensar sobre o consumo da alimentação


brasileira. Inclusive, segundo o apontado por Da Costa Proença et al (2021), a última
Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), em 2017-2018, mostrou que a
alimentação consome cerca de 14% do orçamento das famílias brasileiras e isso
impacta inclusive na qualidade dos alimentos consumidos. Dessa forma, no subitem
seguinte abordaremos aspectos históricos da alimentação da população brasileira e,
posteriormente, como a pandemia afetou essa dinâmica.

1.3 Aspectos históricos do consumo alimentar


A alimentação brasileira é fortemente influenciada pelos imigrantes que vieram
para cá na época colonial, além de ser marcada pelos três grandes grupos que
formavam o país nesse período: os indígenas, os escravos africanos e os
portugueses. Nesse período, ela era marcada por dois grandes grupos distintos: o
litorâneo e o sertanejo. No primeiro, o consumo era marcado pela mandioca e pelo
peixe; já no segundo grupo, a alimentação era muito pautada no milho e no porco.
Neles, respectivamente, a farinha de mandioca e de milho e seus respectivos
acompanhamentos era muito presentes na alimentação. Além disso, os hábitos
alimentares da população também divergiam de acordo com características
particulares de cada região brasileira como, por exemplo, Minas Gerais onde havia
5

muitos viajantes (tropeiros, viajantes e garimpeiros) o que fazia com que o cardápio
fosse marcado por feijão, milho e plantas de cultivo fácil. Assim como o milho, o feijão
também foi um alimento consumido em grande quantidade nesse período histórico
devido ao seu crescimento rápido e transporte fácil. Não obstante, a produção de
açúcar – em expansão na época colonial – marcou a culinária brasileira com a
presença da garapa e da rapadura, impactando num alto consumo e produção de
doces.

Assim, atualmente, as cinco regiões brasileiras possuem hábitos alimentares


com significativa diferença entre eles em decorrência do impacto da era colonial trouxe
para os costumes e tradições da população brasileira. Os alimentos mais consumidos
e os pratos típicos de cada uma dessas localidades traduzem as características de
um país de dimensão continental, valendo-se assim de uma explicação um pouco
mais abrangente nos parágrafos seguintes.

A região Nordeste foi muito influenciada pelos indígenas, africanos e europeus


com um grande consumo da mandioca, feijão, milho e rapadura, mas também há
divergências no cardápio das áreas litorâneas e sertanejas. Na primeira, predomina o
consumo de leite de coco, farinha de milho, frutos do mar e mandioca e, na segunda,
destaca-se a batata doce, a carne de boi e de cabra, o leite e a farinha de mandioca.
Assim, os pratos típicos dessa região são “angu e cuscuz, abóbora com leite; queijo
com rapadura; batata doce com café, doce de leite com banana, polenta com leite;
galinha de cabidela [...]; acarajé, vatapá, abará e caruru” (Sonati et al. apud CANO,
2021, p.891). Já na região Norte possui forte influência africana, sendo marcado pelo
consumo da mandioca, tanto em farinha quanto em farofa. Os peixes, frutos, grãos,
vegetais e tubérculos também são muito consumidos. Assim, os pratos mais
consumidos são “o tacacá (caldo do tucupi com folhas de jambu), a maniçoba (carne
de sol, cabeça de porco, mocotó, toucinho, sal, alho, louro, hortelã-pimenta e folhas
de mandioca tratada) e açaí com tapioca” (Sonati et al. apud CANO, 2021, p.890).

Na região Centro-oeste, a alimentação é muito pautada no arroz, na farinha e


na banana e o que vem da caça – com pratos compostos pela carne caititu, paca,
veado, capivara e jacaré – e da pesca, com o pacu, piranha, dourado e pintado. Já no
Sul e Sudeste, a diversidade é muito maior por serem as regiões que mais recebeu a
influência de imigrantes europeus. No Sul, a um alto consumo de batatas, carnes, pão,
sopas, vinhos e a erva-mate sendo característico dessa região o arroz com charque,
6

o churrasco e o barreado. A comida sulista, segundo Carneiro (2005), é considerada


fraca pelas pessoas do Norte e Nordeste devido à ausência da pimenta, o que mostra
outra característica da alimentação regional.

A região Sudeste tem um cardápio muito variável e que difere a cada estado.
Assim, o Espírito Santo é marcado pela mandioca, peixes e frutos do mar sendo a
moqueca de peixe cozida com urucum e coentro e o quibebe, que é uma torta de
bacalhau. Em Minas Gerais, marcado pelos indígenas e bandeirantes, o consumo
maior é de derivados de leite, couve, farinha, feijão, milho e carne de porco. No Rio
de Janeiro, marcado pela influência da Coroa Portuguesa é caracterizado pelo
consumo de feijão preto. Por fim, em São Paulo onde há grande influência italiana, os
pratos típicos são o cuscuz, virado e o conjunto de arroz, feijão, bife e batata-frita.

Apesar dos alimentos in natura (como cereais, legumes e hortaliças) serem a


maior parte do consumo, a ingestão de alimentos processados e ultra processados
também é muito alta. Dados desta mesma pesquisa apontam que consumo dessas
últimas categorias de alimentos vem crescendo ano após ano, com um salto de “8,3%
para 9,8% e de 12,6% para 18,4% entre 2002 e 2018” (DA COSTA PROENÇA et al,
2021, p.8).

Além disso, uma revisão sistemática realizada por Moreira et al (2015) apontou
que o grau de escolaridade e a renda familiar impactam diretamente na qualidade da
dieta, “isso mostra que as classes de menor renda são as que mais estão sujeitas a
aumentar o consumo de alimentos com maior nível de processamento e reduzir o
consumo de alimentos frescos” (DA COSTA PROENÇA et al, 2021, p.7). Isso pode
ser explicado pelo fato de que “quanto mais denso em energia é o alimento, mais
baixo é o seu custo, tornando-se assim, estes alimentos uma opção para os mais
pobres” (PANIGASSI, 2008, p.142)

Entretanto, segundo Moreira et al. (2015) o consumo regular de frutas e


hortaliças pela população brasileira de forma geral fica abaixo dos 50%, o Índice de
Alimentação Saudável aponta que

“população brasileira encontra-se na categoria de necessidade de melhoria da


qualidade da dieta, com baixa adequação do consumo para frutas, verduras e
legumes, bem como leite e derivados e elevado consumo de gordura, com atenção
especial para gorduras saturadas” (MOREIRA ET AL, 2015, p. 3921)
7

Nessa mesma pesquisa, aponta-se que os alimentos mais consumidos são os dos
“grupos das carnes e ovos, colesterol, gordura total e saturada (MOREIRA ET AL,
2015, p.3909). Assim, percebe-se que a dieta brasileira tem características bem
delimitas e o poder aquisitivo do sujeito impacta diretamente na qualidade dos
alimentos consumidos. Dessa forma, é importante trazer dados sobre como o período
da pandemia de Covid-19 teve sobre a alimentação da população brasileira.

1.4 A compulsão alimentar no momento pandêmico


Conforme já observado a pandemia da doença COVID-19, causada pelo vírus
SARS-CoV-2, tornou-se mais um fator social a ser estudado no que se refere ao
desenvolvimento de Transtornos Alimentares. As decorrentes paralisações que
ocorreram em virtude do isolamento social alteraram também os padrões de
alimentação no Brasil, conforme apontado por Sambuic (2020) o fechamento dos
comércios de alimentação como bares e restaurantes, suspensão das aulas
escolares, diminuição das atividades no trabalho informal e aumento no número de
demissões acabaram por reduzir a quantidade de alimentos distribuídos às pessoas
que se encontram em situação de risco alimentar. Tais acontecimentos impactaram
diretamente na segurança alimentar de diversas famílias brasileiras.

De acordo com Monteiro (2003), a fome é quando a alimentação que o indivíduo


tem não é capaz de fornecer energia para cumprir suas tarefas diárias e preservar sua
saúde. Como dito por Betto (2003), em 2003 houve a implementação do plano de
governo Fome Zero, criado por razões da história de vida do presidente da época e
em virtude da alta taxa de desigualdade social daquele momento, no qual a ideia é
inserção das pessoas na sociedade de forma que elas consigam obter renda o
suficiente para uma boa alimentação. Além disso, com a cri criação do programa bolsa
família criado pelo então presidente Lula em 2004 houve uma redução de 25% da
pobreza extrema e uma redução do número de pessoas que passavam fome.

Entretanto, a partir de 2016 os números voltaram a crescer quando o então


presidente, Michael Temer, iniciou uma série de cortes e reduções de custos em
programas governamentais importantes para o combate à fome e, com a posse de
Jair “Messias” Bolsonaro e a consequente retirada do Conselho Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional, ocorreu um aumento expressivo na pobreza. Além
8

disso, a pandemia da COVID-19 agravou essas estatísticas em decorrência da alta


nos alimentos importantes as famílias brasileiras.

Pode-se assim inferir que, a crise econômica que o Brasil atravessa e o decorrente
aumento do desemprego e da desigualdade social causaram um grande impacto no
acesso aos alimentos, especialmente em famílias de baixa renda. Segundo Da Costa
Proença et al (2021), regiões economicamente menos desenvolvidas e pessoas com
um índice de escolaridade menor aumentaram o consumo de alimentos ultra
processados durante o período de pandemia. Um outro estudo feito por Bernardes
(2021, p. 3) cita o Relatório do Comitê Mundial de Segurança Alimentar em que foi
constatado que a “disponibilidade de alimentos está sendo afetada em curto e longo
prazos e que os mais pobres e demais atingidos pela recessão poderão ter o acesso
aos alimentos e qualidade da alimentação comprometidos”. Ainda este mesmo estudo
mostrou que uma parcela significativa de famílias deixou de fazer uma ou mais
refeições no dia por falta de dinheiro, sendo estes números maiores nas regiões Norte
e Nordeste do país.

Foi também constatado um aumento no consumo de alimentos ultra processados


e típicos de fast-food em famílias com crianças e adolescentes. A pesquisa sobre a
segurança alimentar de Bernardes (2021), realizada antes e durante a pandemia,
aponta que isso ocorreu em mais de 50% das casas brasileiras. Além disso, a
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizou uma pesquisa no período inicial da
pandemia que mostra “uma deterioração da qualidade da alimentação durante a
pandemia, evidenciada tanto pelo relato de diminuição na frequência habitual de
consumo de frutas, hortaliças e feijão quanto pelo relato de aumento na frequência de
consumo de alimentos ultra processados, como salgadinhos de pacote, biscoitos e
chocolates, e pratos congelados”. (STEELE, 2020, p. 7)

Em contraponto a tudo que foi mencionado, um estudo realizado pelo NutriNet


Brasil apontou que houve um aumento no consumo de hortaliças, frutas e
leguminosas; mas a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)
também realizou uma pesquisa mostrando que durante a quarentena o maior
consumo de hortaliças foi observado em indivíduos de maior renda das regiões Sul e
Sudeste. Pode-se inferir que essa confluência ocorreu justamente porque, no estudo
realizado pelo NutriNet Brasil, a população estudada foi, em sua maioria, pessoas da
região Sudeste, do sexo feminino, adultos jovens e com maior escolaridade.
9

Visto tudo o que foi citado é possível concluir que pessoas de baixa renda e de
regiões mais pobres do Brasil foram as mais afetadas no que se refere ao acesso de
alimentos durante a pandemia da COVID-19. O nível econômico está diretamente
relacionado com os padrões de alimentação, mas ainda assim não foram encontrados
estudos que mostrem que a disponibilidade de alimentos e que nível socioeconômico
estão relacionados ao desenvolvimento de Transtornos Alimentares.

Visto tudo o que foi falado até o presente momento, mostra-se importante abordar
sobre a condição socioeconômica e cultural de jovens brasileiras, população está que
será a população estudada pela presente pesquisa.

1.5 A condição socioeconômica e cultural de jovens brasileiras


A bibliografia mostra que existe uma grande influência da cultura nos quadros de
transtornos alimentares, portanto antes de prosseguir é importante fazer uma breve
contextualização do cenário socioeconômico e cultural em que estão jovens
brasileiras. Durante anos acreditava-se tradicionalmente que os TA eram mais
comuns jovens, brancas, de países desenvolvidos e com alto nível socioeconômico,
mas, segundo Oliveira e Hutz (2010) no artigo Transtornos Alimentares: o papel dos
aspectos culturais no mundo contemporâneo, estudos apontam que esses transtornos
têm índices heterogêneos. Havendo uma crescente dos quadros de TA em países em
desenvolvimento, o indica que o TCAP acomete pessoas de diferentes contextos,
regiões, etnia e condição econômica. Havendo ainda assim uma prevalência em
mulheres, conforme apontado por Alvarenga, Scagliusi e Philippi (2011 p. 3)
evidencia-se que uma frequência maior de TA entre jovens mulheres, sendo 3,2% das
que tem entre 18 e 30 anos de idade.

A pesquisa realizada por Alvarenga, Scagliusi e Philippi (2011) com 2.489 jovens
universitárias de alguns cursos de graduação, incluindo psicologia, mostrou que
comportamentos de risco para transtornos alimentares são comuns nesse público. As
jovens que estiveram nas pesquisas são de diferentes regiões do Brasil e faz-se o
apontamento da globalização de informação como um fator a ser considerado, visto
que apesar de estarem em grupos diferentes, as jovens não apresentaram
divergências nas respostas e nem na frequência de comportamentos de risco; cabe
ressaltar que os TA são precedidos por comportamentos de risco. Vê-se então que,
10

não existe dados que indiquem que há uma diferença de nível socioeconômico entre
jovens que apresentam quadros de TA.

Além do mais, um citado realizado por Ferreira e Veiga citado por Alvarenga,
Scagliusi e Philippi (2011) avaliou jovens entre 12 e 19 anos, com baixo nível
socioeconômico, no Rio de Janeiro em que foi identificado que 37% dos participantes
apresentavam sintomas de TCA e 24,7% seguiam dietas restritivas.

Para concluir, cabe apontar o estudo de Polesso e Machado (2022), que buscou
investigar a relação das mídias sociais no desenvolvimento de TA em adolescentes,
adultos jovens e adultos através de pesquisa bibliográfica, em que se foi destacado
que as mídias sociais apresentam correlação com insatisfação corporal e
consequentemente com o desenvolvimento de TA. O escrito cita também o estudo
realizado por Tavares com universitários se identificou que o vício em redes sociais e
a manipulação de fotos estão relacionados a comportamentos alimentares
disfuncionais; em que foi observado que " indivíduos que faziam uso do Instagram
apresentavam maiores escores de comer emocional, isto é, o aumento das emoções
negativas provocando o ato de comer, e a alimentação sendo utilizada como forma de
distração dos sentimentos " (POLESSO e MACHADO, 2022). Essa consideração faz-
se importante pois as mídias sociais já tinham um papel ideológico importante não só
no Brasil, mas em todo mundo e em decorrência da pandemia isso ganhou mais força,
visto que, o isolamento social levou a maioria dos indivíduos a gastarem ainda mais
tempo na internet. Esse contexto sociocultural que está a todo tempo em contato com
mídia e internet efetivamente se relaciona aos padrões de alimentação de jovens
brasileiras e os impacta de alguma forma.

Adiante serão abordadas as diferentes compreensões da psicologia sobre os


Transtornos Alimentares, em que se ressalta a contribuição do conhecimento desta
ciência para o tratamento desses transtornos.

1.6 Contribuições do saber psicológico


A psicologia, como uma ciência plural, possui diversas formas de entendimento de um
mesmo fenômeno. Isso se estende aos Transtornos Alimentares (TA) e, dentro da
presente pesquisa, buscamos trabalhar a Compulsão Alimentar a partir da
11

compreensão trazida pela abordagem Cognitivo Comportamental. Entretanto, é valido


trazer um breve aparato sobre diferentes visões acerca da temática.

Começando pela compreensão psicodinâmica, os Transtornos Alimentares


possuem uma forte relação com o laço materno, as dificuldades que se estabelecem
nesse vínculo, principalmente na fase da adolescência. Assim, pacientes que
apresentam essas patologias “encenam, através de problemáticas relacionadas ao
narcisismo, questões relativas aos processos de diferenciação e formação identitária”
(VIANNA e NOVAES, 2019, p. 88). Assim, através do alimento, o sujeito colocaria
para dentro aquilo que lhe falta, seria um “substitutivo do objeto bom faltante em seu
mundo interno” (VIANNA e NOVAES, 2019, p. 92), mas que não são bem-sucedidas
gerando assim uma fixação e busca incansável por ele. Já dentro da compreensão
fenomenológica, essa forma desordenada de comer é entendida como “formas
privilegiadas de manifestar relações social e afetivamente conflitivas com o mundo e
com o outro” (NUNES e BITTENCOURT, 2013, p.146), assim, a patologia seria uma
manifestação da ruptura das formas “habituais de agir e de configurar o corpo”
(NUNES e BITTENCOURT, 2013, p.146).

Seguindo por um olhar comportamental, os comportamentos alimentares se


dão através de aprendizagem e dessa forma sua compreensão é “a partir da
identificação do quão reforçador é este comportamento” (BUENO e DO
NASCIMENTO, 2014, p. 45), além disso os alimentos são considerados estímulos
reforçadores primários, ou seja, que não precisam de aprendizagem prévia. Assim, a
compulsão alimentar é entendida dentro desta abordagem como um comportamento
de esquiva, em que o sujeito “se comporta comendo excessivamente na tentativa de
evitar qualquer contato com o estímulo aversivo” (BUENO e DO NASCIMENTO, 2014,
p. 45). Com isso, uma intervenção atuaria controlando essas respostas e construiria
novos repertórios comportamentais no sujeito. Dentro da visão comportamentalista,
os Transtornos Psiquiátricos, de maneira geral, se originam da interação de fatores
culturais, biológicos e as experiências de vida do próprio sujeito, ou seja, são
multideterminados. A linha teórica da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) segue
com esse pensamento, mas volta-se para a modificação das crenças que estão por
trás desta forma desadaptativa de comportar-se ao invés de focar somente na
mudança de contingências externas.
12

Assim, para a TCC a forma de pensar do indivíduo, seu sistema de crenças,


impacta diretamente nas suas emoções e, consequentemente, nos seus
pensamentos. Portanto, dentro do modelo cognitivo, o julgamento que o sujeito faz de
uma experiência e de eventos que ocorrem em seu cotidiano “está intimamente ligado
às reações emocionais desencadeando comportamentos adaptativos ou
desadaptativos” (DOS SANTOS et al, 2020, p. 88326) e os mecanismos cognitivos
adotados servem para lidar com o que lhe ocorre no cotidiano e, por muitas vezes,
com suas dificuldades emocionais. Com isso, como dito por Duchesne e Almeida
(2002, p.50), “pacientes com TA apresentam crenças distorcidas e disfuncionais
acerca de peso, formato corporal, alimentação e valor pessoal” e, no caso da
compulsão alimentar, os comportamentos tidos como desadaptativos agem como
forma de alívio das dificuldades emocionais do sujeito, um mecanismo regulador.

Dessa forma, a terapia cognitivo-comportamental, segundo Dos Santos (2020)


e Duchesne (2007) visa modificar os padrões distorcidos de raciocínio de forma a
promover formas alternativas de resolução dos problemas e respostas aos fatores
estressores, além de reestruturar as crenças supervalorizadas com relação ao peso e
imagem corporal. Para obter isso, diversas técnicas cognitivas e comportamentais são
utilizadas ao longo do tratamento e, segundo Duchesne e Almeida (2002), dentro do
esquema de tratamento da compulsão alimentar devem ser desenvolvidas estratégias
para controlar os episódios de compulsão alimentar, modificar hábitos alimentares e
para a adesão de exercício físico e a redução gradual de peso, caso haja obesidade
associada. Além disso, é de extrema importância também que seja abordado
questões relacionadas a autoestima do paciente e “a redução da ansiedade associada
à aparência” (DUCHESNE e ALMEIDA, 2002, p. 51).

A TCC é uma abordagem com forte ênfase na psicoeducação do sujeito, assim,


visa-se “ensinar técnicas de autocontrole ao paciente para redução de ansiedade,
tristeza e outros sentimentos considerados facilitadores” (DUCHESNE e ALMEIDA,
2002, p. 50-51) dos episódios de compulsão alimentar para que eles possam, assim,
ser controlados. Além disso, é essencial a mudança dos hábitos alimentares, e para
isso o paciente deve receber informações nutricionais visando uma forma mais
adequada de escolha dos alimentos, favorecendo a flexibilidade para evitar os
pensamentos extremos de “tudo ou nada”. Dentro dessa perspectiva, também é
importante, segundo Duchenese e Almeida (2002, p.51), implementar “estratégias
13

para controle de estímulos, que consistem na diminuição da exposição da paciente às


condições que facilitam alimentação inadequada”. E, como dito anteriormente,
abordar a questão da autoestima é essencial para o tratamento, portanto a TCC
objetiva modificar as crenças do indivíduo com relação ao peso e formato corporal, de
forma que se estabelece um equilíbrio entre auto aceitação e mudança, impactando
também na redução da ansiedade com relação a sua imagem corporal.

Pensando no aspecto geral de intervenção da terapia cognitivo-


comportamental, uma das principais estratégias adotadas no tratamento de pacientes
com Transtorno Alimentar, é ensiná-los a identificar pensamento que contenham
distorções cognitivas e buscar por evidências de sua veracidade ou não, assim seriam
refutados de forma a torná-los mais funcionais. Assim, essa forma de intervenção
torna-se essencial devido ao fato de que, dentro desses quadros psicopatológicos,
umas das crenças centrais que se apresenta distorcida é a de que o valor pessoal do
indivíduo estaria diretamente associado ao seu peso e forma corpo, “ignorando ou não
valorizando outros parâmetros. Para pacientes com TA a magreza estaria associada
à competência, superioridade e sucesso, tornando-se assim intrinsecamente
associada à autoestima” (DUCHESNE e Almeida, 2002, p.50).

Além disso, em uma recente revisão feita sobre a importância da regulação


emocional em TCC no transtorno de compulsão alimentar, os autores perceberam que
a Terapia Cognitivo-Comportamental

“tem sido o tratamento mais eficaz e bem estabelecido, a taxa de


remissão de sintomas chega a ser de 80%, onde a combinação à
farmacoterapia pode acontecer visando as comorbidades associadas
presentes no transtorno” (DE ZWAAN et al., 2017; BLANCHET ET AL., 2018;
FERRER-GARCIA, 2018 citado por DOS SANTOS et al., 2020, p. 88325).

Entretanto, o tratamento para o Transtorno de Compulsão Alimentar não é


realizado somente através da psicoterapia, mas em meio a uma equipe multidisciplinar
visto que, os Transtornos Alimentares de forma geral, são uma somatória da
combinação de diversos fatores genéticos, sociais, culturais, familiares e psicológicos.
Além disso, segundo Genta citado por Oliveira e Maynard (2019), a relação
complicada com os alimentos e formas inadequadas para controlar o peso são
características muito claras dessas psicopatologias. Dessa forma, a mudança de
comportamento só será efetiva em meio a um tratamento que, de formas variadas e
14

combinadas, as crenças e os sentimentos que esses sujeitos possuem com relação a


comida sejam trabalhadas.

Visto isso, Farias e Rosa (2020), ao estudarem educação alimentar e


nutricional, afirmam que uma equipe multidisciplinar para o tratamento de TA’s deve
ser composta por, pelo menos, um psicólogo, um psiquiatra e um nutricionista, além
de outros profissionais que possam colaborar para o bom curso do tratamento. Além
disso, estes profissionais devem estar bem abarcados pelo conhecimento das
técnicas da TCC pois, como citado anteriormente, é a forma de tratamento mais eficaz
para pacientes acometidos por Transtornos Alimentares.

Dessa forma, diante do já abordado, é interessante abarcar um pouco da


conduta dos nutricionistas dentro do tratamento direcionado para a psicopatologia
estudada dentro deste trabalho. Assim, segundo Latterza, Alvarenga e Trecco citados
por Farias e Rosa (2020, p. 10614) o método de trabalho visa

“reverter alterações funcionais, recuperar o estado nutricional, promover um padrão


alimentar que atenda às necessidades e as recomendações nutricionais, sugerir
mudanças no comportamento alimentar, quando inadequadas e, por fim, melhorar
a relação paciente-alimento”

Além disso, como mencionado, o profissional também deve ter conhecimento


em Terapia Cognitivo Comportamental o que, no caso dos nutricionistas, a realizar o
aconselhamento nutricional, visto que é de extrema importância descontruir as
crenças inadequadas que os pacientes têm sobre os alimentos, orientando-os sobre
a qualidade nutricional pois esses sujeitos focam somente na quantidade calórica.
Assim, uma intervenção eficaz deve ser um combinado de ações assistenciais que
são os “atendimentos, consultas e planos alimentares e ações de orientação que
dissertam educação em nutrição e saúde” (OLIVEIRA e MAYNARD, 2019, p. 11).

Ademais, como abordado anteriormente, a equipe multidisciplinar também


deve ser composta por médicos psiquiatras e outras especialidades visto que o
Transtorno de Compulsão Alimentar pode (e costuma) ser acompanhado de outras
patologias, sejam elas psicológicas (como depressão e ansiedade) ou orgânicas
(como diabetes e hipertensão). Dessa forma, o acompanhamento médico e o uso de
medicação se mostram importantes para o bom curso do tratamento e a resolução
dos problemas que o paciente apresenta (OLIVEIRA e DA FONSECA, 2006)
15

Visto tudo que foi abordado até este momento, é válido ressaltar a importância
do processo psicoterapêutico para o paciente com compulsão alimentar, devido o
transtorno estar perpassado por crenças em relação a comida e a imagem corporal
do sujeito, além de outras questões e os comportamentos desadaptativos atrelados a
isso. Assim, foi possível estabelecer os parâmetros de tratamento baseado na TCC
para a compulsão alimentar, além de trazer um breve aparato da contribuição dos
saberes psicológicos dentro da temática e a conduta adotada por alguns profissionais
que podem (e devem) compor a equipe multidisciplinar. Visando assim, estabelecer o
leitor dentro da linha teórica que será seguida dentro da presente pesquisa.

1.7 Objetivo
A presente pesquisa pretende investigar as narrativas de profissionais de
psicologia e nutrição sobre o impacto do momento pandêmico no desenvolvimento da
Compulsão Alimentar em jovens garotas.

1.8 Justificativa
O assunto abordado até então ainda possui uma quantidade baixa de
produções acadêmicas. Dessa forma, o presente projeto justifica-se pelo fato de
proporcionar um aumento do conhecimento e atualização profissional sobre o
tema durante a pandemia, o que consequentemente impactará no tratamento
oferecido a população em geral.
Além disso, a presente pesquisa mostra sua relevância social pois contribuirá
para reflexões em políticas públicas visando sua melhoria e modificação, de forma
a atender melhor a população.

2 Método
A presente pesquisa segue o método qualitativo e está pautada na abordagem
da Terapia Cognitivo-comportamental (TCC), em que a ideia principal é de que,
segundo Beck (2013) o humor e o comportamento são influenciados pelos nossos
pensamentos, as quais estão pautados em nossas crenças centrais que podem
ser adaptativas ou desadaptativas. Dessa forma, em casos de transtornos
psicopatológicos, as crenças centrais seriam disfuncionais o que impactaria em
16

toda a cadeia do modelo cognitivo, resultando em uma reação também


disfuncional.

Dessa forma, a ideia dentro do processo psicoterapêutico pautado na TCC


seria, segundo Beck (2013), ajudar o paciente “a avaliar seu pensamento de forma
mais realista e adaptativa”, o que contribuiria para uma resposta emocional ou
comportamental mais adequada e realista. De forma geral, é possível dizer que
dentro desta abordagem psicológica não é o acontecimento em si que afeta o
sujeito, mas sim a interpretação que é feita dessa situação.

Além de ser pautada na abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental, a


presente pesquisa também utilizará o método qualitativo, que se caracteriza por
seu foco na qualidade do objeto observado, em propor reflexões e compreensão
acerca do fenômeno. Seu objetivo é a observação, descrição, compreensão e a
elaboração de novos significados. Assim, serão utilizadas entrevistas, de forma
presencial e online pela plataforma Zoom. Além disso, as perguntas realizadas
dentro do método quantitativo são abertas e reflexivas, visando assim que o
entrevistado reflita sobre o conteúdo abordado.

O método de pesquisa qualitativa é o qual se trabalha com a qualidade do fato


ocorrido e o que foi analisado, onde a forma de obtenção de dados se ajusta ao
indivíduo e sua perspectiva é levada em consideração. Além disso, a presente
pesquisa também será semiestruturada, que se caracteriza por haver um roteiro
prévio de perguntas, mas que podem sofrer alguma forma de modificação no
decorrer da entrevista.

2.1 Participantes
Para a realização da presente pesquisa entrevistaremos seis pessoas, sendo
três nutricionistas e três psicólogos que trabalham com a abordagem da Terapia
Cognitiva Comportamental com no mínimo dez anos de experiência em transtorno
alimentar, principalmente compulsão alimentar.

2.2 Instrumentos
17

Foi elaborado o roteiro de entrevista, em anexo 1, tendo em vista, os objetivos


da presente investigação.

2.3 Procedimentos
O projeto de pesquisa do estudo presente terá início após aprovação do Comitê
de Ética em Pesquisa.

A primeira etapa do projeto será o contato realizado com profissionais


autônomos da área de psicologia e da área de nutrição, atuantes em consultório
particular.

Após a aceitação do convite por parte dos profissionais, serão agendadas as


entrevistas, a partir da disponibilidade deles. As entrevistas serão semiestruturadas e
poderão ser na modalidade presencial ou on-line por videoconferência através da
plataforma Zoom, no link:

https://us05web.zoom.us/j/6732613112?pwd=dklHY1BUQ2dNUkRLZldoaVRUV2toUT
09 .

No início das entrevistas, em ambas as condições será primeiramente


apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ao profissional,
detalhando a ele os direitos que serão assegurados de sigilo e privacidade, nós casos
deste contato ser on-line o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido será enviado
em arquivo para ser assinado.

Após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido serão


realizadas entrevistas, estas, estarão embasadas no Roteiro de Entrevista presente
no Anexo 2. As entrevistas deverão durar cerca de 50 minutos.

Em seguida as informações coletadas são transcritas e analisadas a partir da


bibliografia selecionada embasada na abordagem psicológica da Terapia Cognitivo-
Comportamental.

Cronograma

Atividades Apresentação Realização Análise Resultados Discussão Finalização Apresentação


Convite aos
ao Comitê de das do da Banca
Participantes
Ética Entrevistas Material Avaliadora
Nov/2022
18

Dez/2022 X Recesso Recesso Recesso Recesso Recesso Recesso Recesso


Jan/2023 Recesso Recesso Recesso Recesso Recesso Recesso Recesso Recesso
Fev/2023 X
Mar/2023 X
Abr/2023 X
Mai/2023 X
Jun/2023 X
Jul/2023 Recesso Recesso Recesso Recesso Recesso Recesso Recesso Recesso
Ago/2023 X
Set/2023 X
Out/2023 X
Nov/2023 X

2.4 Procedimentos para análise do material


Em seguida as informações coletadas são transcritas e analisadas a partir da
bibliografia selecionada embasada na abordagem psicológica da Terapia Cognitivo-
Comportamental.

2.5 Ressalvas éticas


Sabe-se que toda e qualquer pesquisa apresenta riscos, e a atual é classificada
como Risco Mínimo. Dessa forma, o presente projeto reconhece que a temática da
Compulsão Alimentar e a sua investigação dentro de um recorte pandêmico com
profissionais de saúde, pode mobilizar inquietações nos profissionais entrevistados ou
possível constrangimento ao abordar tal assunto.

Frente a tais possibilidades, teve-se o cuidado em não causar sofrimentos aos


profissionais entrevistados, não solicitando aspectos da intimidade ou da privacidade
do entrevistado. Evitou-se perguntas que solicitasse qualquer avaliação sobre o
ambiente que ele trabalha.

Além disso, a presente pesquisa está baseada na resolução N⁰ 466, de 12 de


dezembro de 2012, a qual estabelece os princípios bioéticos que devem ser seguidos
em uma pesquisa. Está também pautada na resolução N⁰ 510, de 07 de abril de 2016,
que determina as diretrizes éticas específicas para as pesquisas realizadas dentro das
ciências humanas e das sociais.
19

No caso do presente projeto, o benefício imediato está em oportunizar aos


profissionais, uma reflexão sobre a temática investigada, ofertar e promover uma
escuta de acolhimento.

Dessa forma, ponderando os riscos e benefícios da presente pesquisa,


entende-se que os benefícios se sobrepõem aos riscos apresentados e torna a
pesquisa eticamente viável de ser realizada.

Referência bibliográfica

ALCKMIN-CARVALHO, Felipe. Impacto da pandemia por COVID-19 em pacientes


com transtornos alimentares: considerações para profissionais de saúde mental. Rev.
Bras. Psicoter.(Online), p. 3-7, 2021

ALVARENGA, Marle dos Santos, SCAGLIUSI, Fernanda Baeza e PHILIPPI, Sonia


Tucunduva. Comportamento de risco para transtorno alimentar em universitárias
brasileiras. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo) [online]. 2011, v. 38, n. 1
[Acessado 2 Setembro 2022] , pp. 03-07.

BARRETO, Nilze; CRUZ, Thomaz. O transtorno da compulsão alimentar periódica.


Revista Baiana de Saúde Pública, v. 27, n. 1-2, p. 76-76, 2003.

BERNARDES, Milena Serenini et al. (In) segurança alimentar no Brasil no pré e pós
pandemia da COVID-19: reflexões e perspectivas. InterAmerican Journal of
Medicine and Health, v. 4, 2021.

BECK, Judith S. Terapia cognitivo-comportamental. Artmed Editora, 2013.

BETTO, Frei. A fome como questão política. Estudos Avançados, v. 17, p. 53-61,
2003.

BLOC, Lucas Guimarães et al. Transtorno de compulsão alimentar: revisão


sistemática da literatura. Revista Psicologia e Saúde, v. 11, n. 1, p. 3-17, 2019.

BUENO, Lohanna Nolêto; DO NASCIMENTO, Nelson Alves. Transtornos alimentares


sob a perspectiva da análise do comportamento. Revista Fragmentos de Cultura-
Revista Interdisciplinar de Ciências Humanas, v. 24, n. 6, p. 37-48, 2014.
20

CANO, F. C. S. Alimentação brasileira: das especificidades regionais à perda da


identidade cultural. Diversitas Journal, [S. l.], v. 6, n. 1, p. 881–899, 2021. DOI:
10.17648/diversitas-journal-v6i1-1583.

CARNEIRO, Henrique. Comida e sociedade: uma história da alimentação. Elsevier


Brasil, 2017.

CARNEIRO, Henrique S. Comida e sociedade: significados sociais na história da


alimentação. História: questões & debates, v. 42, n. 1, 2005.

DA COSTA PROENÇA, Rossana Pacheco et al. Cenário e perspectivas do sistema


alimentar brasileiro frente à pandemia de Covid-19. DEMETRA: Alimentação,
Nutrição & Saúde, v. 16, p. 55953, 2021.

DE ALBUQUERQUE, Andradina Lima; DE CARVALHO BAHIA, Fernanda Candido;


DA COSTA MAYNARD, Dayanne. Compulsão alimentar: uma análise da relação com
os transtornos psicológicos da depressão e ansiedade. Research, Society and
Development, v. 10, n. 16, p. e380101623982-e380101623982, 2021.

DOS SANTOS, Diogo Emmanuel Lucena et al. A importância da regulação emocional


em terapia cognitivo-comportamental no transtorno de compulsão alimentar. Brazilian
Journal of Development, v. 6, n. 11, p. 88323-88337, 2020.

DUCHESNE, Mônica; ALMEIDA, Paola Espósito de Moraes. Terapia cognitivo-


comportamental dos transtornos alimentares. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 24,
p. 49-53, 2002.

DUCHESNE, Mônica et al. Evidências sobre a terapia cognitivo-comportamental no


tratamento de obesos com transtorno da compulsão alimentar periódica. Revista de
Psiquiatria do Rio Grande do Sul, v. 29, p. 80-92, 2007.

FARIAS, Claudia Torquato Scorsafava; ROSA, Rafaela Henriques. A educação


alimentar e nutricional como estratégia no tratamento dos transtornos
alimentares. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 4, p. 10611-10620, 2020.

FRANCISCO, Rita. Bem-estar e saúde mental de crianças e adolescentes em tempos


de pandemia de COVID-19. Revista Diversidades, v. 58, p. 17-20, 2021.

GALLETTI, Gabriella Rizzi; DA COSTA MAYNARD, Dayanne. Compulsão alimentar e


a sua relação com o consumo alimentar durante o período da pandemia em mulheres
21

acima de 50 anos. Research, Society and Development, v. 10, n. 15, p.


e584101523421-e584101523421, 2021.

GOMES, Sócrates Belém. Evolução histórica dos conceitos e critérios diagnósticos da


bulimia nervosa e do transtorno da compulsão alimentar: uma revisão de
literatura. Diálogos Interdisciplinares em Psiquiatria e Saúde Mental, v. 1, n. 1, p.
60-69, 2021.

LEITE, Júlia; ANDRADE, Alana. PANDEMIA DE COVID-19 E COMPULSÃO


ALIMENTAR: POSSIBILIDADES DE TRATAMENTO COM A TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL (TCC). CADERNOS DE PSICOLOGIA, v. 3, n. 5, 2022.

MONTEIRO, Carlos Augusto. A dimensão da pobreza, da desnutrição e da fome no


Brasil. Estudos avançados, v. 17, p. 7-20, 2003.

MOREIRA, Patrícia Regina Silva et al. Análise crítica da qualidade da dieta da


população brasileira segundo o Índice de Alimentação Saudável: uma revisão
sistemática. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, n. 12, p. 3907-3923, 2015.

MORGAN, Christina M.; VECCHIATTI, Ilka Ramalho; NEGRÃO, André Brooking.


Etiologia dos transtornos alimentares: aspectos biológicos, psicológicos e sócio-
culturais. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 24, p. 18-23, 2002.

NEUMANN, Ana Luisa et al. Impacto da pandemia por covid-19 sobre a saúde
mental de crianças e adolescentes: uma revisão integrativa. 2021.

NUNES, Mônica de Oliveira; BITTENCOURT, Liliane de Jesus. No rastro do que


transtorna o corpo e desregra o comer: os sentidos do descontrole de si e das"
compulsões alimentares". Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v. 17, n. 44,
p. 145-157, 2013.

NUNES, R. M. Transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) e a abordagem


da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC). Rev Psiquiatr, v. 25, n. 3, p. 166-70,
2012.

OLIVERA, Gabriela Alves de; FONSÊCA, Patricia Nunes da. A compulsão alimentar
na recepção dos profissionais de saúde. Psicologia Hospitalar, v. 4, n. 2, p. 1-18,
2006.
22

OLIVEIRA, Júlia Liz da Silva; MAYNARD, Dayanne da Costa. Equipe


multidisciplinar no tratamento de distúrbios alimentares em adolescentes:
análise e benefício. 2019

PANIGASSI, Giseli et al. Insegurança alimentar intrafamiliar e perfil de consumo de


alimentos. Revista de nutrição, v. 21, p. 135s-144s, 2008.

POLESSO, Iohanna Aparecida Scherzer Cabral Dias e MACHADO, Carla Carolina


Batista. A influência das mídias sociais no desenvolvimento de transtornos
alimentares em adolescentes, adultos jovens e adultos: uma revisão integrativa da
literatura. Repositório Acadêmico PUC Goiás, Goiás, 2022. Disponível em:
<https://repositorio.pucgoias.edu.br/jspui/handle/123456789/3919>. Acesso em: 25
Ago 2022.

RIBEIRO-SILVA, Rita de Cássia et al. Implicações da pandemia COVID-19 para a


segurança alimentar e nutricional no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, p. 3421-
3430, 2020.

SAMBUICHI, Regina Helena Rosa et al. O Programa de Aquisição de Alimentos


(PAA): instrumento de dinamismo econômico, combate à pobreza e promoção da
segurança alimentar e nutricional em tempos de Covid-19. In: O Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA): instrumento de dinamismo econômico, combate
à pobreza e promoção da segurança alimentar e nutricional em tempos de
Covid-19. 2020. p. 21-21.

SONATI, JAQUELINE GIRNOS; VILARTA, ROBERTO; SILVA, Cleiliane de Cassia.


Influências culinárias e diversidade cultural da identidade brasileira: imigração,
regionalização e suas comidas. RT unilasalle. edu. br/index.
php/Mouseion/article/view/247/248, 2009.

STEELE, Eurídice Martínez et al. Mudanças alimentares na coorte NutriNet Brasil


durante a pandemia de covid-19. Revista de Saúde Pública, v. 54, 2020.

TOMIM, Geiciely Cavanha; DO NASCIMENTO, Daniel Teotonio. O IMPACTO DA


PANDEMIA DA COVID-19 NA SAÚDE MENTAL. RAHIS-Revista de Administração
Hospitalar e Inovação em Saúde, v. 18, n. 3, p. 96-112, 2021.

TOUYZ, Stephen; LACEY, Hubert; HAY, Phillipa. Eating disorders in the time of
COVID-19. Journal of eating disorders, v. 8, n. 1, p. 1-3, 2020.
23

VIANNA, Monica; NOVAES, Joana Vilhena. Compulsão alimentar: uma leitura


psicanalítica. Polêm! ca, v. 19, n. 2, p. 084-103, 2019.

Anexos
1.1 Roteiro de entrevista
Descreva sua trajetória até se tornar uma profissional que atende jovens garotas com
TA.

Como você entende o transtorno de compulsão alimentar?

A partir de sua experiência profissional com as jovens garotas quais as crenças


centrais se fazem mais presentes nos relatos de suas pacientes?

De que maneira as jovens garotas com TCA conseguem ter acesso a você?

Em termos gerais, qual a condição de saúde biopsicosocial essas jovens garotas


tendem a chegar até você?

Quais são as intervenções que você realiza, no intuito de auxiliar a saúde


biopsicossocial de suas pacientes?

Quais as principais mudanças na sua prática profissional em função da pandemia de


COVID-19?

Quais são os sintomas que as pacientes com TCA atendidas por você tem
apresentado e podem estar relacionados ao momento pandêmico?

Quais as mudanças que você percebeu, principalmente no período da pandemia, na


forma de alimentação de suas pacientes?

Durante o período pandêmico, quais os conteúdos que você percebeu de semelhante


no discurso de suas pacientes com relação a fome emocional?

Como você descreveria o impacto que a pandemia de covid -19 teve nos aspectos
emocionais de suas pacientes?

De que forma o isolamento social, em decorrência da pandemia, impactou na relação


entre alimentação e fatores psicológico de suas pacientes?

A partir de sua experiência, como você descreveria o impacto que a pandemia teve
nas suas pacientes com TCA?

You might also like