You are on page 1of 126

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Professora:
o Gustavo Jorge Gramaxo Rozeira
Avaliação:
o 2 Frequências
o 25 de novembro
o 17 de janeiro
Manuais:
o Código Civil
o Constituição
o Código de Processo Civil
o Introdução ao Processo Civil – Lebre Freitas
o Processo Civil Declarativo – Paulo Pimenta
o Ação declarativa à luz do código revisto – Dr. Remedio Marques
o Introdução ao Processo Civil – Teixeira de Sousa

17/09/2021

Aula:

Na base do direito processual civil esta a existência de um conflito de interesses,


portanto este direito só é chamado a intervir quando existe um conflito de interesses, é
o que serve de pressuposto à intervenção deste mesmo direito. No âmbito deste direito
tem em vista o conflito de interesses privados.

No direito privado, regulam-se as relações jurídicas em que os sujeitos estão


numa posição de paridade formal. No direito publico, são partes que estão em posição
de desigualdade.

Neste contexto, o DPC surge especificamente dirigido a diminuir os litígios


privados, no plano do direito privado e tem uma função de garantia de efetividade dos
direitos subjetivos e interesses legalmente protegidos.

Um princípio fundamental da nossa ordem jurídica que esta consagrado do


artigo 1º do CPC, princípio este chamado de hétero tutela ou proibição da autodefesa,
ou seja, eu não posso tutelar os meus próprios direitos e temos de recorrer a uma 3º
entidade. A tutela do direito das pessoas é feita por entidades especificas para os
tutelar.

1
Segundo o artigo 1º do CPC, o princípio hétero tutela não é absoluto comporta
exceções e este artigo di-lo de forma clara, apresenta exceções, tais como: existem
situações em que é lícito uma pessoa tutelar os seus próprios direitos, sem ter que
recorrer a uma entidade especifica (mecanismos de autotutela) - estes encontram-se
previstos:

No artigo 21º CRP - direito de resistência (incluído nos direitos, liberdades e


garantias).

Artigo 336º do CC - Ação direta (se esta for indispensável – requisito de


necessidade, os meios podem ser excessivos – requisito de proporcionalidade);

Artigo 337º do CC - legitima defesa (subordinado a uma ideia de necessidade e


de proporcionalidade, ou seja, quando não é possível o recurso a outros meios e a sua
utilização não pode causar danos superiores ao “problema”);

Artigo 339º do CC - estado necessidade (dois requisitos necessidade (remover


um perigo atual) e proporcionalidade (não pode causar um prejuízo superior ao perigo))
- isto acontece quando: não é possível recorrer as entidades especificas em tempo útil.

Outro mecanismo é o artigo 754º do CC – direito de retenção: quando o devedor


seja simultaneamente credor do seu próprio credor, a lei permite em certos casos que
eu retenha o cumprimento da minha prestação enquanto o meu credor não o faz.

O artigo 755º do CC refere-se a um conjunto de outros casos de direito de


retenção que são previstos: alínea a) – o transportador tem direito de retenção sob as
coisas transportadas enquanto não cumprirem a prestação; aliena b) - podem reter os
bens dos hospedes enquanto estes não pagarem; Aliena c) – tem direito de retenção
sobre as coisas que tenham sido entregues enquanto não pagarem; Aliena d), e) e f)
pode reter a coisa que lhe foi entregue, enquanto que a outra parte não cumpre a
obrigação que lhe foi imposta.

No CPC, o artigo 397º embargo extrajudicial da obra nova.

Os casos anteriores são mecanismos que ordenamento jurídico reconhece o


poder de tutelar por si mesmos.

Se a lei não consente na autotutela de direitos, quem o faz?

É através da tutela jurisdicional. Mas antes desta fase pode haver uma auto
composição de litígios, que consiste em pôr fim ao litígio antes da autotutela. A
autotutela é acionada quando o acordo amigável falha. Esta autotelia torna-se possível
porque o estado exerce o aparelho sancionatório que permite por um lado obter a
reintegração da lesão de um direito, ou pode prevenir uma lesão iminente ou futura. E
por outro lado o estado tem monopólio de exercício de autoridade (ius imperium).

2
23/09/2021

Aula:

A proibição da autotutela se reflete na medida que a tutela desses direitos cabe


á tutela jurisdicional, associada a um conceito de função jurisdicional.

Função jurisdicional – tem o seu conteúdo constitucionalmente delimitado, ao


contrario das outras funções do estado, nesta função está no artigo 202º nº2 da CRP (Na
administração da justiça incumbe aos tribunais assegurar a defesa dos direitos e
interesses legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade
democrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e privados), sendo reprimir a
legalidade democrática, dirimir conflitos de interesses públicos e privados, a que nos
interessa nesta área do processo civil, temos uma dimensão residual, que é a de
defender os direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos. Tudo o que é de
dirimir está nesta função.

Reserva do exercício da função jurisdicional pelos tribunais, ele apenas pode ser
exercido pelos órgãos de soberania os tribunais, artigo 202º nº1 da CRP (Os tribunais
são os órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do
povo).

Artigo 209º da CRP – Existem várias categorias de tribunais e dentro delas


existem tribunais de níveis hierárquicos diferentes. Mas a que nos diz mais respeito são
os tribunais judiciais presentes na sua alínea a).

Artigo 209.º - CRP

Categorias de tribunais

1. Além do Tribunal Constitucional, existem as seguintes categorias de tribunais:

a) O Supremo Tribunal de Justiça e os tribunais judiciais de primeira e de


segunda instância;

b) O Supremo Tribunal Administrativo e os demais tribunais


administrativos e fiscais;

c) O Tribunal de Contas.

2. Podem existir tribunais marítimos, tribunais arbitrais e julgados de paz.

3. A lei determina os casos e as formas em que os tribunais previstos nos


números anteriores se podem constituir, separada ou conjuntamente, em tribunais de
conflitos.

4. Sem prejuízo do disposto quanto aos tribunais militares, é proibida a existência


de tribunais com competência exclusiva para o julgamento de certas categorias de
crimes.

3
O acesso ao aparelho judiciário para obter a tutela de um direito e esta busca
não é uma regalia, é um verdadeiro direito fundamental, que prevê no artigo 20º nº1
da CRP (A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus
direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por
insuficiência de meios económicos) é o direito que todos têm de se dirigirem aos
tribunais e demandar a tutela jurisdicional. Alem de um direito de acesso aos tribunais,
aqui é acrescentada uma ideia de efetividade da tutela, não é so o acesso ao tribunal, é
o acesso ao tribunal que nos dá uma forma aceitável de restituir a nossa tutela, ou seja
o tribunal tem que ser pronto e eficaz na sua resposta.

O artigo 20º é inspirado no artigo 6º nº1 da convenção europeia dos direitos


humanos – direito a uma tutela jurisdicional efetiva.

Temos a 3º dimensão que é a exequibilidade da ação, a execução coerciva.

O direito fundamental ou uma tutela jurisdicional efetiva, prevista no artigo 20º


nº1 da CRP encontra a sua concretização no direito ordinário, no artigo 2º do CPC (),
assim podemos ter uma definição de direito de ação, que é direito a reclamar uma
providencia judiciaria (decisão judiciaria) que pode ser definitiva ou que pode ser
provisória dirigida a reparar ou prevenir a violação de um direito subjetivo ou de
interesse legalmente protegida.

Há uma diferença fundamental entre o direito de ação e o direito subjetivo que


nos queremos ver tutelada (direito á decisão que quero que ele tome), o direito de ação
garante-nos o acesso ao tribunal, decisão e execução, mas não nos garante a expectativa
de obter do tribunal uma decisão favorável.

Direitos de interesses coletivos – Não estão subjetivizados numa so pessoas, é


um agregado de interesses individuais que podem ser exercidos coletivamente, por
exemplo, o direito á greve, um trabalhador sozinho não pode fazer greve, tem que ser
coletivamente decretada.

Direito de propriedade comunal – Baldios, proprietário da comunidade.

Direito e interesses difusos – São bens e interesses que não são individualmente
divisíveis, não podem ser afetados a cada um dos proprietários, incluímos o direito ao
ambiente, o direito á cultura, o direito á educação.

Bens e interesses públicos – bens colocados no estado ou no domínio de uma


pessoa publica, são bens de domínio publico, as ruas, os cemitérios, aeroportos, estão
afetos a um uso de utilidade publica, mas fazem para te património da pessoa coletiva
a que estão integrados, são direitos subjetivos do estado.

Direito processual civil – Ramo do direito publico que prevê e regula a formação
e obtenção das providencias judiciais destinadas à defesa ou prevenção de posições
jurídicas subjetivas dignas de tutela jurisdicional.

4
Podemos encontrar duas grandes dimensões, a primeira é a dimensão estática,
que é aquela parcela do direito processual civil que tipos de providência e medidas
judiciais podem ser obtidas e os requisitos que vão ser preenchidos ou podem vir a ser
preenchidos, já a segunda dimensão é uma dimensão dinâmica é o processo (fases ou
etapas) para a obtenção desses providencias judicias.

O Direito Processual Civil é do ramo do direito publico e isto tem a haver com
uma característica.

(ponto 8 dos sumários)

Relação jurídica processual (Instancia)

Relação material controvertida:

Credor -> Direito subjetivo <- Obrigação/dever Devedor

Autor Réu

Tribunal

A instancia é uma relação triangular, na base tens as partes colocadas numa


posição de paridade, mas depois temos o tribunal que está investido num poder de
autoridade, e a sua decisão vincula as partes para sempre.

Plano processual – planamente forma

Litigio propriamente dito – relação de direito privado

Uma segunda característica do DPC é a sua natureza instrumental, é um


instrumento de realização e efetizaçao de outros ramos do direito, serve para tornar
efetivas, serva apra realizar posições jurídicas que sa otuteladas por outros ramos do
direito, serve para dar efetividade ao direito da família, ao direitos das obrigações, etc,
não existe para si próprio.

Direito adjetivo – Direito processual

Direito Substantivo – Substância das coisas, matérias dos litígios

Uma 3º característica é a de que o DPC é a disciplina mãe de todos os outros


ramos processuais.

Uma 4º característica é o direito comum, o direito supletivo dos demais ramos


do direito processual

5
Fins do direito processual civil

Visa a realização de determinados fins, tradicionalmente eram de um ramo de


direito que visa dirimir conflitos, mas mais recentemente a doiutrina tem vindo a
identificar alem desse fim tradicional, temos 2 outros fins mais contemporâneos.

Com o passar dos tempos o direito civil era muito formalista, o objetivo era
chegar ao fim não importava o processo, ás vezes uma pessoa perdia a ação porque
alguém se tinha esquecido de usar algo, era excessivamente formalista, era alheio ao
resultado.

Depois houve então a necessidade de seguir o fim da descoberta da verdade


material, deve estar orientado ao dirimir o litigio deve procurar e decidir de acordo com
a verdade material, já o terceiro fim é o da realização da justiça, o tribunal deve procurar
resolver o litigio realizando a justiça, deve ser uma decisão justa e equitativa, nos limites
que a lei concede.

O DPC corresponde a uma disciplina jurídica propriamente dita e na sua


revelação podemos então o definir como a disciplina jurídica que estuda cientificamente
o processo civil.

Disciplinas afins do DPC:

Disciplina da organização judiciaria – estuda a estrutura e o funcionamento dos


tribunais (lei de organização do sistema juriciário)

Tributação processual – Regulamento das custas processuais

Direito profissional da advocacia – Regula o exercício do mantado forense e


regula o acesso á profissão de advogados (estatuto da ordem dos advogados).

Processo tutelar cível – temos a relação triangular, temos os processos que


dizem respeito a menores e além da apridade formal das partes é preciso atender ao
interesse do menor, então as regras clássicas na questão pensadas para litígios desta
natureza (regime tutelar cível)

Meios alternativos de resolução de litígios – A existência de um litígio como


pressuposto do acionamento das vias judiciais.

Os meios extrajudiciais da resolução de litígios como alternativa à via judicial.


Fazer referência da autocomposição do litígio, se as partes autocomposerem-se deixa
de existir litígio. Mas encontramos a conciliação e a mediação, que te como
característica as partes do litígio se recorrerem de uma 3º parte para dirimir o litígio
(conciliador e mediador).

Conciliação caracteriza-se por o tal 3º (Conciliador) ter o objetivo de colocar as


partes de acordo mas não ter iniciativa própria, já o mediador disporia sim de poderes
de iniciativa, tem iniciativa própria, pode sugerir soluções ás partes.

Na terminologia anglo-saxónica é totalmente o contrário.

6
Há ainda um segundo sentido que é o que nos diz que mediaçao é desenvolvida
fora do processo judicial e conciliação é o contrário.

Mas eles não são vinculativos, o conciliador poe as aprtes a conversar sem poder
dar ideias, mas não dá ordens, o mediador poe as partes a falar, da ideias, mas não dá
ordens.

Um outro meio de resolução de litígios é a arbitragem, há efetivamente o


exercício de poderes jurisdicionais, os arbitos são um tribunal então não é correto lhes
chamar um meio extrajudicial, mas é um meio alternativo de resolução de litígios.

Arbitragem – As partes submeteem a resolução ao litígio a um 3º que não ganha


nem perde nada, que vai decidir o litigio, ele tem um poder vinculativo, ele olhas as
pertes e dá razão a alguém e profere uma decisão obrigatória e vinculativa.

Princípio do dispositivo – ideia da disponibilidade que as aprtes tem com o litigio

Artigo 1248º do CC – As partes evitam ou põem termo a um litigio mediante


reciprocas concessões (elas transigiram)

Artigo 1249º do CC – Os direitos indisponíveis as partes não podem dispor sobre


ele (natureza familiar)

Artigo 202º nº1 do CRP – os tribunais não se esgotam nos tribunais estaduais

Artigo 209º nº2 da CRP (Podem existir tribunais marítimos, tribunais arbitrais e
julgados de paz) - dá a possibilidade de existirem tribunais arbitrais

Função jurisdicional, tem um núcleo essencial que está la o exercício do ius (...)

Só os tribunais estaduais podem exercer o núcleo essencial, o resto pode estar a


tribunais não estaduais. A arbitragem acenta na vontade das aprtes, são as partes que
por força das suas vontades decidem resolver o litigio por árbitros.

Lei da arbitragem voluntaria

7
24/09/2021

Noção de Convenção de arbitragem: Artigo 1º LAV

Há um conjunto de requisitos para tal (artigo 2º LAV)

Artigo 1ºnº1:

Só é possível desde que a lei especial não exista e assim atribuí o poder de dirimir
em exclusivo aos tribunais estaduais. Em casos em que a lei manda submeter a
arbitragem necessária.

A vontade das partes faz-se pela convenção arbitraria. Aplica-se a todos os litígios
de interesse patrimonial.

Os direitos patrimoniais que sejam indisponíveis podem ser submetidos a


arbitragem, há doutrina que admita esta parte do artigo 1º, como abertura que as partes
possam cometer decisões por partes de bens indisponíveis. (A LAV é o anexo a essa lei
63/2011).

O nº2 do artigo 1º acrescenta que arbitragem podem ter lugar a natureza de


bens não patrimoniais, desde que as partes possam celebrar transações de direitos
convertidos.

O nº4 do artigo 1º admite arbitragem não contenciosa, as partes podem acordar


e submeter o litígio, quaisquer outras que requeiram um decisor imparcial. Por exemplo:
compra e venda de um imóvel.

O nº5 do artigo 1º deste artigo admite a arbitragem em litígios públicos.

A fonte desta decisão das partes remeterem para a resolução de um litígio é a


convenção de arbitragem, que esta regulada no artigo 2º. É a fonte jurídica que habilita
os árbitros a dirimir um litigio, e a sua natureza jurídica é a de um contrato, a lei não
utiliza expressamente esta expressão, a convenção é um verdadeiro contrato é um
acordo bilateral a qual se vinculam a dirimir um litigio que surgiu entre elas por árbitros.

A lei distingue 2 espécies artigo 1ºnº3, pode haver um litígio atual ou um litígio
eventuais e emergentes:

Litígio atual: Assume um compromisso arbitral quando ela é celebrada por um


litígio atual e existente, ou seja, já existe litígio, conflito de interesses, pode considerar-
se um litígio que já esteja a ser um objeto de um processo do tribunal estadual. Artigo
280º CPC (compromisso arbitral) – e esta circunstância tem por consequência extinguir
o processo no tribunal do estado.

Litígio eventuais e emergentes: A clausula compromissória diz respeito a litígios


futuros, as partes podem vincular-se desde logo a litígios que possam acontecer entre
elas no futuro, sejam dirimidos num tribunal arbitral.

8
O artigo 2º regula os requisitos da convenção de arbitragem, o primeiro requisito
é a de forma escrita, ou seja, exige que se adote a forma escrita e não pode ser
verbalmente, como documento autenticado, ou particular autenticado. O nº2
acrescenta a extensão de forma escrita, ou seja, dirige para situações que sejam feitas
por meios de telecomunicação, uma adesão informática desde que fique registado por
escrito.

O artigo 2ºnº4 exige que seja feita por uma clausula contratual geral, pode ser
uma proposta contratual representada por uma parte e a outra não tem poder para
modificar o mesmo. Aplica-se o regime geral das clausulas contratuais.

Artigo 2º nº5 prevê uma situação peculiar que dominamos de convenção de


arbitragem ficta, não se ficciona que existiu, ou seja, a lei manda tratar como se
houvesse uma convenção que existiu, uma convenção escrita desde que um apresente
uma ação e a outra parte conteste, mas que não negue que tenha existido a convenção
de arbitragem, logo a lei ficciona a convenção e designa-se de convenção ficta.

Artigo 2ºnº6 diz-nos que a convenção tem de identificar o litígio a que se refere,
não vale convenções em branco. Deve identificar o objeto do litígio em caso de clausula
compromissória deve especificar a relação jurídica a que o litígio se refere.

O artigo 6º permite que a remissão de regulamentos externos, sem precisar de


detalhar o procedimento da arbitragem.

O artigo 4º permite as partes revogar, modificar a convenção e impos alguns


limites tais como: aceitação do arbitro, depois de aceitação dos árbitros a convenção só
pode ser alterada com permissão deste. Já a revogação pode ser feita pelas partes a
todo o tempo mesmo que os árbitros estejam em funções até a saída da sentença, após
isso não podem fazer. A convenção de arbitragem não caduca com a morte ou extinção
de uma das partes que a celebrou.

Diferença entre morte (pessoas singulares) e extinção (pessoas coletivas).

Artigo 18ºnº3: estabelece o princípio do aproveitamento da convenção de


arbitragem. A nulidade em geral de um contrato a qual foi aposta numa clausula
compromissória, esta passa a ser independente à nulidade ou invalidade em causa. Há
uma autonomia entre a convenção e um eventual contrato onde essa convenção
arbitraria esteja prevista.

9
07/10/2021

Artigo 5º da LAV

Efeito negativo da convenção de arbitragem

1 — O tribunal estadual no qual seja proposta acção relativa a uma questão


abrangida por uma convenção de arbitragem deve, a requerimento do réu deduzido até
ao momento em que este apresentar o seu primeiro articulado sobre o fundo da causa,
absolvê-lo da instância, a menos que verifique que, manifestamente, a convenção de
arbitragem é nula, é ou se tornou ineficaz ou é inexequível. – Efeito negativo. Nega
competência ao tribunal estadual para conhecer o litigio. Se é abrangido pela convenção
de arbitragem o tribunal tem o dever de se abester de conhecer a ação. Se a parte
invocar ele não pode conhecer este litigio. Caso a convenção de arbitragem seja nula ele
já pode tomar conhecimento.

2 — No caso previsto no número anterior, o processo arbitral pode ser iniciado


ou prosseguir, e pode ser nele proferida uma sentença, enquanto a questão estiver
pendente no tribunal estadual. – Efeito positivo. A convenção de arbitragem abelita o
tribunal arbitral a conhecer e julgar o processo arbitral mesmo que o mesmo esteja
pendente num tribunal estadual.

3 — O processo arbitral cessa e a sentença nele proferida deixa de produzir


efeitos, logo que um tribunal estadual considere, mediante decisão transitada em
julgado, que o tribunal arbitral é incompetente para julgar o litígio que lhe foi
submetido, quer tal decisão seja proferida na acção referida no n.º 1 do presente artigo,
quer seja proferida ao abrigo do disposto no n.º 9 do artigo 18.º, e nas subalíneas i) e iii)
da alínea a) do n.º 3 do artigo 46.º

4— As questões da nulidade, ineficácia e inexequibilidade de uma convenção de


arbitragem não podem ser discutidas autonomamente em acção de simples apreciação
proposta em tribunal estadual nem em procedimento cautelar instaurado perante o
mesmo tribunal, que tenha como finalidade impedir a constituição ou o funcionamento
de um tribunal arbitral. - Efeito inibidor. O facto de ter sido uma convenção inibe
qualquer uma das partes dessa convenção de propor uma ação em tribunal estadual
para apenas decidir sobre nulidade, anulabilidade, etc, tem de ser no tribunal arbitral.

10
Dinâmica do processo arbitral

Composição do tribunal arbitral – resulta da vontade das partes, e o critério para


a escolha dos árbitros é colocado para a disponibilidade das partes.

• Pode ser composto por um só arbitro ou então por vários árbitros (tribunal
arbitral colegial) mas a lei exige que seja composto por um número ímpar de
árbitros.
• Tem de obedecer a determinados requisitos:
o Pessoas singulares e capazes (maiores de idade e não podem estar
inibidos da sua capacidade de exercício); (Art.º 9 nº 1 LAV)
o Não é exigível que sejam cidadãos portugueses
o Devem ser independentes e imparciais (art.º 9 nº 3 LAV e art.º 13 nº 1
LAV)
o São nomeados pelas próprias partes
• Designação dos árbitros:
o Art.º 8 nº 2 e 10 LAV – liberdade de conformação das partes, quer quanto
à concreta quer quanto à forma de designação
o Regime supletivo: tribunal de três árbitros (art.º 8 nº 2 LAV), cada parte
deve designar igual número de árbitros e estes juntam-se e escolhem um
presidente do tribunal arbitral (art.º 10 nº 3 LAV)
o Se não houver designação do arbitro dentro de 30 dias a designação cabe
ao presidente da relação do lugar da arbitragem (art.º 10 nº 4 LAV); art.º
59 nº 3 LAV,
o É necessário que o arbitro aceite o encargo, pois pode recusar, (art.º 12
nº 1 LAV)
o Mas a parir do momento que aceite o encargo de arbitro, tem de exercer
a função, e caso não o faça, tem de responder pelos danos que tiver dado
causa. (art.º 12 nº 3)
o Processo de recusa de arbitro:
▪ Regra de transparência (art.º 13 nº 1 LAV)
▪ As partes podem recusar um arbitro (artigo 13 nº 3 LAV)
o Incapacitação de um arbitro para exercê-las (art.º 15 LAV)
• Substituição do arbitro recusado ou “incapacitado” (art.º 16 LAV)

11
Competência do tribunal arbitral: a regra da kompetenz-kompetenz

• Tem a competência da competência, tem a competência para decidir se ele é


competente para decidir o litígio (art.º 18 nº 1 LAV)

Tramitação do processo arbitral

• Regra da liberdade da conformação das partes, as partes podem acordar nas


regras do processo. (Art.º 30 nº 2) ü A (art. º 30 nº 3 LAV)
• Princípios fundamentais imperativos da tramitação dos processos arbitral
o Princípio da proibição da indefesa – alínea a) – nenhuma arbitragem pode
prosseguir sem que seja dada a oportunidade da pessoa contra quem o
processo foi proposto se vir defender.
o Princípio da igualdade – alínea b) – as partes são tratadas com igualdade,
partes tem de ter os mesmos direitos na arbitragem, não pode haver uma
parte beneficiada.
o Princípio do contraditório – alínea c) e segunda metade da alínea b) – dar
as partes a oportunidade de se pronunciar, o tribunal não pode decidir
nada sem antes ouvir as partes. Tem de ouvir pelo menos uma vez as
partes, escrita ou oralmente.
• Lugar da arbitragem – art.º 31 LAV – as partes têm de fixar a localidade onde
arbitragem ficará a funcionar, onde é a base. Este lugar é importante para saber
qual o tribunal estadual competente.
• Língua do processo – art.º 32 LAV – pode ser conduzido em português, mas
também em inglês, francês ou outra língua, as partes escolhem. Art.º 133 nº 1
CPC
• Audiências e processo escrito – art.º 34 LAV – as partes decidem se dão lugar a
audiências ou se é por escrito. Há um direito potestativo à realização de
audiência.
• Solicitação da colaboração dos tribunais estaduais para a produção de prova –
art.º 38 LAV – não tem poder de autoridade, o tribunal pode decidir quem razão
tem, mas não pode exercer um poder de autoridade.

12
Sentença arbitral

• Prazo para proferir sentença


o Liberdade de estipulação (art.º 43 nº 1 LAV) - do prazo de duração da
arbitragem, dentro do qual os árbitros devem decidir o litígio
o Prazo supletivo - 12 meses (art.º 43 nº 1 LAV)
o Livre prorrogabilidade do prazo pelo tribunal arbitral - pode ser pelas
partes, pelo tribunal; as partes podem por acordo oporse à prorrogação
(Art.º 43 nº 2 LAV)
• Critério de decisão – Art.º 39 nº 1 - julgam segundo o direito positivo
(constituído), as partes por acordo podem permitir ao tribunal que julgue o
acordo segundo critérios de justiça/equidade, só o pode fazer se as partes
tiverem concedido ao tribunal poderes para dirimir o litígio segundo critérios de
equidade.
• Formação da decisão no caso de tribunal colegial – art.º 40 nº 1 LAV – por regra
da maioria o legislador está-se a referir à maioria absoluta, a decisão do tribunal
seja para qualquer decisão deve ser adotada por maioria absoluta. Se não houver
maioria absoluta é apenas o presidente do tribunal arbitral a ter a plenitude da
decisão.
• Outras causas de encerramento do processo – art.º 44 nº 2 LAV – maneiras em
que pode terminar sem que o litígio seja dirimido; quando o demandante desiste
do pedido; o legislador da ao demandado de se opor à desistência

13
Impugnação da decisão arbitral - mecanismos de reação

• Noção de impugnação - colocar em causa uma decisão arbitral


• Distinção entre recurso e pedido de anulação da sentença arbitral (dois meios
de impugnação) – o recurso tem um meio mais vasto, pois permite ao tribunal
de recurso reapreciar a decisão do tribunal recorrido, a anulação consiste em
dirigir ao tribunal superior um pedido de anulação
• Recorribilidade da sentença arbitral – art.º 39 nº 4 LAV
o Regra geral: irrecorribilidade - não se pode interpor recurso de uma
sentença arbitral.
o Exceção: recorribilidade no caso de expressa previsão das partes
o Regra imperativa a lei proíbe o recurso se a decisão tiver sido proferida
por critérios de equidade ou se tiver resultado de uma composição
amigável (acordo amigável)
o Tribunal competente para conhecer do recurso - Art.º 59 nº 1 LAV –
recorre-se para o tribunal da relação, aquele que se situe o lugar da
arbitragem
• Pedido de anulação da sentença arbitral
o Admissibilidade do pedido de anulação
▪ Admissibilidade plena e inderrogável – art.º 46 nº 1 LAV
▪ Pedido de anulação em caso de admissibilidade de recurso.
▪ Regime aplicável - não pode haver ao mesmo tempo um pedido
de anulação e um recurso
o Fundamentos do pedido de impugnação
▪ Fundamentos de conhecimento oficioso do tribunal competente
para conhecer da impugnação – art.º 46 nº 3 b) LAV
o Repristinação da eficácia da convenção de arbitragem – art.º 46 nº 10
LAV

Execução de sentença arbitral

• Reserva absoluta da competência dos tribunais estaduais para a execução das


sentenças arbitrais – art.º 47 nº 1 LAV - o tribunal arbitral extingue-se quando a
decisão esta proferida; sentença arbitral apenas pode ser executada
coercivamente através de um tribunal estadual
• Tribunal competente para a execução – art.º 59 nº 9 LAV – tribunal estadual de
primeira instância
• Equipara da força executiva das decisões arbitrais às decisões dos tribunais
estaduais – art.º 705 nº 2 CPC

14
Arbitragem institucionalizada. Arbitragem internacional. Arbitragem voluntaria e
arbitragem necessária

Arbitragem internacional

• Litígios transfronteiriços e arbitragem


• Reconhecimento e execução de sentenças arbitrais estrangeiras
o Regra geral: art.º 55 LAV – uma sentença arbitral proferida no
estrangeiro é valida em Portugal desde que seja reconhecida por um
tribunal estadual português
o Tribunal estadual competente – art.º 59 nº 1 h) LAV – tribunal da
relação; tribunal do domicílio da pessoa contra quem se pretende fazer
valer a presença.
o Exceção: a convenção de Nova Iorque de 1958 sobre o reconhecimento
de sentenças arbitrais estrangeiras – art.º 55 LAV - impõe o
reconhecimento automático de sentenças arbitrais entre os estados que
aderiram á convenção de nova Iorque; não precisão de
revisão/reconhecimento

Arbitragem institucionalizada: noção e admissibilidade – art.º 62 LAV –


correspondem a tribunais arbitrais de existência permanente, existem para dirimir os
litígios das pessoas que aderiram a esses tribunais arbitrais

Arbitragem voluntaria e arbitragem necessária:

• Distinção. Admissibilidade constitucional da arbitragem necessária: a


discussão doutrinal e as posições jurisprudências – vontade das partes que
determina que aquele litígio vau ser dirimido por árbitros
• Regime da arbitragem necessária (art.º 1136 e ssg CC). Remissão para o regime
da LAV – imposta pelo legislador, não querem que o seu litígio seja dirimido por
árbitros, mas o legislador impõe mesmo contra a vontade das partes, desde que
seja ressalvado que há sempre recurso.

15
Apontamentos com artigos:

Artigo 8.º - LAV

Número de árbitros

1 — O tribunal arbitral pode ser constituído por um único árbitro ou por vários,
em número ímpar.

2 — Se as partes não tiverem acordado no número de membros do tribunal


arbitral, é este composto por três árbitros. + artigo 10º nº1 da LAV (As partes podem,
na convenção de arbitragem ou em escrito posterior por elas assinado, designar o
árbitro ou os árbitros que constituem o tribunal arbitral ou fixar o modo pelo qual estes
são escolhidos, nomeadamente, cometendo a designação de todos ou de alguns dos
árbitros a um terceiro)

Artigo 9.º - LAV

Requisitos dos árbitros

1 — Os árbitros devem ser pessoas singulares e plenamente capazes.

2 — Ninguém pode ser preterido, na sua designação como árbitro, em razão da


nacionalidade, sem prejuízo do disposto no n.º 6 do artigo 10.º e da liberdade de escolha
das partes.

3 — Os árbitros devem ser independentes e imparciais. - + artigo 13º nº1 da LAV


(Quem for convidado para exercer funções de árbitro deve revelar todas as
circunstâncias que possam suscitar fundadas dúvidas sobre a sua imparcialidade e
independência)

4 — Os árbitros não podem ser responsabilizados por danos decorrentes das


decisões por eles proferidas, salvo nos casos em que os magistrados judiciais o possam
ser.

5 — A responsabilidade dos árbitros prevista no número anterior só tem lugar


perante as partes.

16
Artigo 10.º

Designação dos árbitros

1 — As partes podem, na convenção de arbitragem ou em escrito posterior por


elas assinado, designar o árbitro ou os árbitros que constituem o tribunal arbitral ou
fixar o modo pelo qual estes são escolhidos, nomeadamente, cometendo a designação
de todos ou de alguns dos árbitros a um terceiro.

2 — Caso o tribunal arbitral deva ser constituído por um único árbitro e não haja
acordo entre as partes quanto a essa designação, tal árbitro é escolhido, a pedido de
qualquer das partes, pelo tribunal estadual.

3 — No caso de o tribunal arbitral ser composto por três ou mais árbitros, cada
parte deve designar igual número de árbitros e os árbitros assim designados devem
escolher outro árbitro, que actua como presidente do tribunal arbitral. – Regime
supletivo.

4 — Salvo estipulação em contrário, se, no prazo de 30 dias a contar da recepção


do pedido que a outra parte lhe faça nesse sentido, uma parte não designar o árbitro ou
árbitros que lhe cabe escolher ou se os árbitros designados pelas partes não acordarem
na escolha do árbitro presidente no prazo de 30 dias a contar da designação do último
deles, a designação do árbitro ou árbitros em falta é feita, a pedido de qualquer das
partes, pelo tribunal estadual competente.

5 — Salvo estipulação em contrário, aplica -se o disposto no número anterior se


as partes tiverem cometido a designação de todos ou de alguns dos árbitros a um
terceiro e este não a tiver efectuado no prazo de 30 dias a contar da solicitação que lhe
tenha sido dirigida nesse sentido.

6 — Quando nomear um árbitro, o tribunal estadual competente tem em conta


as qualificações exigidas pelo acordo das partes para o árbitro ou os árbitros a designar
e tudo o que for relevante para garantir a nomeação de um árbitro independente e
imparcial; tratando -se de arbitragem internacional, ao nomear um árbitro único ou um
terceiro árbitro, o tribunal tem também em consideração a possível conveniência da
nomeação de um árbitro de nacionalidade diferente da das partes.

7 — Não cabe recurso das decisões proferidas pelo tribunal estadual competente
ao abrigo dos números anteriores do presente artigo.

17
Artigo 59.º

Dos tribunais estaduais competentes

1 — Relativamente a litígios compreendidos na esfera de jurisdição dos tribunais


judiciais, o Tribunal da Relação em cujo distrito se situe o lugar da arbitragem ou, no
caso da decisão referida na alínea h) do n.º 1 do presente artigo, o domicílio da pessoa
contra quem se pretenda fazer valer a sentença, é competente para decidir sobre:

a) A nomeação de árbitros que não tenham sido nomeados pelas partes


ou por terceiros a que aquelas hajam cometido esse encargo, de acordo
com o previsto nos n.os 3, 4 e 5 do artigo 10.º e no n.º 1 do artigo 11.º;

b) A recusa que haja sido deduzida, ao abrigo do n.º 2 do artigo 14.º,


contra um árbitro que a não tenha aceitado, no caso de considerar
justificada a recusa;

c) A destituição de um árbitro, requerida ao abrigo do n.º 1 do artigo 15.º;

d) A redução do montante dos honorários ou despesas fixadas pelos


árbitros, ao abrigo do n.º 3 do artigo 17.º;

e) O recurso da sentença arbitral, quando este tenha sido convencionado


ao abrigo do n.º 4 do artigo 39.º;

f) A impugnação da decisão interlocutória proferida pelo tribunal arbitral


sobre a sua própria competência, de acordo com o n.º 9 do artigo 18.º;

g) A impugnação da sentença final proferida pelo tribunal arbitral, de


acordo com o artigo 46.º;

h) O reconhecimento de sentença arbitral proferida em arbitragem


localizada no estrangeiro.

2 — Relativamente a litígios que, segundo o direito português, estejam


compreendidos na esfera da jurisdição dos tribunais administrativos, a competência
para decidir sobre matérias referidas nalguma das alíneas do n.º 1 do presente artigo,
pertence ao Tribunal Central Administrativo em cuja circunscrição se situe o local da
arbitragem ou, no caso da decisão referida na alínea h) do n.º 1, o domicílio da pessoa
contra quem se pretende fazer valer a sentença.

3 — A nomeação de árbitros referida na alínea a) do n.º 1 do presente artigo


cabe, consoante a natureza do litígio, ao presidente do Tribunal da Relação ou ao
presidente do tribunal central administrativo que for territorialmente competente.

4 — Para quaisquer questões ou matérias não abrangidas pelos n.os 1, 2 e 3 do


presente artigo e relativamente às quais a presente lei confira competência a um
tribunal estadual, são competentes o tribunal judicial de 1.ª instância ou o tribunal

18
administrativo de círculo em cuja circunscrição se situe o local da arbitragem, consoante
se trate, respectivamente, de litígios compreendidos na esfera de jurisdição dos
tribunais judiciais ou na dos tribunais administrativos.

5 — Relativamente a litígios compreendidos na esfera da jurisdição dos tribunais


judiciais, é competente para prestar assistência a arbitragens localizadas no estrangeiro,
ao abrigo do artigo 29.º e do n.º 2 do artigo 38.º da presente lei, o tribunal judicial de
1.ª instância em cuja circunscrição deva ser decretada a providência cautelar, segundo
as regras de competência territorial contidas no artigo 83.º do Código de Processo Civil,
ou em que deva ter lugar a produção de prova solicitada ao abrigo do n.º 2 do artigo
38.º da presente lei.

6 — Tratando -se de litígios compreendidos na esfera da jurisdição dos tribunais


administrativos, a assistência a arbitragens localizadas no estrangeiro é prestada pelo
tribunal administrativo de círculo territorialmente competente de acordo com o
disposto no n.º 5 do presente artigo, aplicado com as adaptações necessárias ao regime
dos tribunais administrativos.

7 — Nos processos conducentes às decisões referidas no n.º 1 do presente artigo,


o tribunal competente deve Diário da República, 1.ª série — N.º 238 — 14 de Dezembro
de 2011 5289 observar o disposto nos artigos 46.º, 56.º, 57.º, 58.º e 60.º da presente
lei.

8 — Salvo quando na presente lei se preceitue que a decisão do tribunal estadual


competente é insusceptível de recurso, das decisões proferidas pelos tribunais referidos
nos números anteriores deste artigo, de acordo com o que neles se dispõe, cabe recurso
para o tribunal ou tribunais hierarquicamente superiores, sempre que tal recurso seja
admissível segundo as normas aplicáveis à recorribilidade das decisões em causa.

9 — A execução da sentença arbitral proferida em Portugal corre no tribunal


estadual de 1.ª instância competente, nos termos da lei de processo aplicável.

10 — Para a acção tendente a efectivar a responsabilidade civil de um árbitro,


são competentes os tribunais judiciais de 1.ª instância em cuja circunscrição se situe o
domicílio do réu ou do lugar da arbitragem, à escolha do autor.

11 — Se num processo arbitral o litígio for reconhecido por um tribunal judicial


ou administrativo, ou pelo respectivo presidente, como da respectiva competência
material, para efeitos de aplicação do presente artigo, tal decisão não é, nessa parte,
recorrível e deve ser acatada pelos demais tribunais que vierem a ser chamados a
exercer no mesmo processo qualquer das competências aqui previstas.~

19
Artigo 12.º

Aceitação do encargo

1 — Ninguém pode ser obrigado a actuar como árbitro; mas se o encargo tiver
sido aceite, só é legítima a escusa fundada em causa superveniente que impossibilite o
designado de exercer tal função ou na não conclusão do acordo a que se refere o n.º 1
do artigo 17.º

2 — A menos que as partes tenham acordado de outro modo, cada árbitro


designado deve, no prazo de 15 dias a contar da comunicação da sua designação,
declarar por escrito a aceitação do encargo a quem o designou; se em tal prazo não
declarar a sua aceitação nem por outra forma revelar a intenção de agir como árbitro,
entende -se que não aceita a designação.

3 — O árbitro que, tendo aceitado o encargo, se escusar injustificadamente ao


exercício da sua função responde pelos danos a que der causa.

Artigo 13.º

Fundamentos de recusa

1 — Quem for convidado para exercer funções de árbitro deve revelar todas as
circunstâncias que possam suscitar fundadas dúvidas sobre a sua imparcialidade e
independência.

2 — O árbitro deve, durante todo o processo arbitral, revelar, sem demora, às


partes e aos demais árbitros as circunstâncias referidas no número anterior que sejam
supervenientes ou de que só tenha tomado conhecimento depois de aceitar o encargo.

3 — Um árbitro só pode ser recusado se existirem circunstâncias que possam


suscitar fundadas dúvidas sobre a sua imparcialidade ou independência ou se não
possuir as qualificações que as partes convencionaram. Uma parte só pode recusar um
árbitro que haja designado ou em cuja designação haja participado com fundamento
numa causa de que só tenha tido conhecimento após essa designação.

20
Artigo 15.º

Incapacitação ou inacção de um árbitro

1 — Cessam as funções do árbitro que fique incapacitado, de direito ou de facto,


para exercê -las, se o mesmo a elas renunciar ou as partes de comum acordo lhes
puserem termo com esse fundamento.

2 — Se um árbitro, por qualquer outra razão, não se desincumbir, em tempo


razoável, das funções que lhe foram cometidas, as partes podem, de comum acordo,
fazê- -las cessar, sem prejuízo da eventual responsabilidade do árbitro em causa.

3 — No caso de as partes não chegarem a acordo quanto ao afastamento do


árbitro afectado por uma das situações referidas nos números anteriores do presente
artigo, qualquer das partes pode requerer ao tribunal estadual competente que, com
fundamento na situação em causa, o destitua, sendo esta decisão insusceptível de
recurso.

4 — Se, nos termos dos números anteriores do presente artigo ou do n.º 2 do


artigo 14.º, um árbitro renunciar à sua função ou as partes aceitarem que cesse a função
de um árbitro que alegadamente se encontre numa das situações aí previstas, tal não
implica o reconhecimento da procedência dos motivos de destituição mencionados nas
disposições acima referidas.

Artigo 16.º

Nomeação de um árbitro substituto

1 — Em todos os casos em que, por qualquer razão, cessem as funções de um


árbitro, é nomeado um árbitro substituto, de acordo com as regras aplicadas à
designação do árbitro substituído, sem prejuízo de as partes poderem acordar em que
a substituição do árbitro se faça de outro modo ou prescindirem da sua substituição.

2 — O tribunal arbitral decide, tendo em conta o estado do processo, se algum


acto processual deve ser repetido face à nova composição do tribunal.

21
Artigo 18.º

Competência do tribunal arbitral para se pronunciar sobre a sua competência

1 — O tribunal arbitral pode decidir sobre a sua própria competência, mesmo


que para esse fim seja necessário apreciar a existência, a validade ou a eficácia da
convenção de arbitragem ou do contrato em que ela se insira, ou a aplicabilidade da
referida convenção.

2 — Para os efeitos do disposto no número anterior, uma cláusula


compromissória que faça parte de um contrato é considerada como um acordo
independente das demais cláusulas do mesmo.

3 — A decisão do tribunal arbitral que considere nulo o contrato não implica, só


por si, a nulidade da cláusula compromissória.

4 — A incompetência do tribunal arbitral para conhecer da totalidade ou de parte


do litígio que lhe foi submetido só pode ser arguida até à apresentação da defesa quanto
ao fundo da causa, ou juntamente com esta.

5 — O facto de uma parte ter designado um árbitro ou ter participado na sua


designação não a priva do direito de arguir a incompetência do tribunal arbitral para
conhecer do litígio que lhe haja sido submetido.

6 — A arguição de que, no decurso do processo arbitral, o tribunal arbitral


excedeu ou pode exceder a sua competência deve ser deduzida imediatamente após se
suscitar a questão que alegadamente exceda essa competência.

7 — O tribunal arbitral pode, nos casos previstos nos n.os 4 e 6 do presente


artigo, admitir as excepções que, com os fundamentos neles referidos, sejam arguidas
após os limites temporais aí estabelecidos, se considerar justificado o não cumprimento
destes. 8 — O tribunal arbitral pode decidir sobre a sua competência quer mediante
uma decisão interlocutória quer na sentença sobre o fundo da causa.

9 — A decisão interlocutória pela qual o tribunal arbitral declare que tem


competência pode, no prazo de 30 dias após a sua notificação às partes, ser impugnada
por qualquer destas perante o tribunal estadual competente, ao abrigo das subalíneas
i) e iii) da alínea a) do n.º 3 do artigo 46.º, e da alínea f) do n.º 1 do artigo 59.º

10 — Enquanto a impugnação referida no número anterior do presente artigo


estiver pendente no tribunal estadual competente, o tribunal arbitral pode prosseguir o
processo arbitral e proferir sentença sobre o fundo da causa, sem prejuízo do disposto
no n.º 3 do artigo 5.º

22
Artigo 30.º - LAV

Princípios e regras do processo arbitral

1 — O processo arbitral deve sempre respeitar os seguintes princípios


fundamentais:

a) O demandado é citado para se defender; - Princípio da proibição da


indefesa. O demandado é sempre citado para se defender.

b) As partes são tratadas com igualdade e deve ser-lhes dada uma


oportunidade razoável de fazerem valer os seus direitos, por escrito ou
oralmente, antes de ser proferida a sentença final; - Princípio da
igualdade e principio do contraditório.

c) Em todas as fases do processo é garantida a observância do princípio


do contraditório, salvas as excepções previstas na presente lei. – Principio
do contraditório. Dar ás partes fazerem valer as suas posições.

2 — As partes podem, até à aceitação do primeiro árbitro, acordar sobre as


regras do processo a observar na arbitragem, com respeito pelos princípios
fundamentais consignados no número anterior do presente artigo e pelas demais
normas imperativas constantes desta lei.

3 — Não existindo tal acordo das partes e na falta de disposições aplicáveis na


presente lei, o tribunal arbitral pode conduzir a arbitragem do modo que considerar
apropriado, definindo as regras processuais que entender adequadas, devendo, se for
esse o caso, explicitar que considera subsidiariamente aplicável o disposto na lei que
rege o processo perante o tribunal estadual competente.

4 — Os poderes conferidos ao tribunal arbitral compreendem o de determinar a


admissibilidade, pertinência e valor de qualquer prova produzida ou a produzir.

5 — Os árbitros, as partes e, se for o caso, as entidades que promovam, com


carácter institucionalizado, a realização de arbitragens voluntárias, têm o dever de
guardar sigilo sobre todas as informações que obtenham e documentos de que tomem
conhecimento através do processo arbitral, sem prejuízo do direito de as partes
tornarem públicos os actos processuais necessários à defesa dos seus direitos e do dever
de comunicação ou revelação de actos do processo às autoridades competentes, que
seja imposto por lei.

6 — O disposto no número anterior não impede a publicação de sentenças e


outras decisões do tribunal arbitral, expurgadas de elementos de identificação das
partes, salvo se qualquer destas a isso se opuser.

23
Artigo 31.º - LAV

Lugar da arbitragem

1 — As partes podem livremente fixar o lugar da arbitragem. Na falta de acordo


das partes, este lugar é fixado pelo tribunal arbitral, tendo em conta as circunstâncias
do caso, incluindo a conveniência das partes.

2 — Não obstante o disposto no n.º 1 do presente artigo, o tribunal arbitral pode,


salvo convenção das partes em contrário, reunir em qualquer local que julgue
apropriado para se realizar uma ou mais audiências, permitir a realização de qualquer
diligência probatória ou tomar quaisquer deliberações.

Artigo 32.º - LAV

Língua do processo

1 — As partes podem, por acordo, escolher livremente a língua ou línguas a


utilizar no processo arbitral. Na falta desse acordo, o tribunal arbitral determina a língua
ou línguas a utilizar no processo.

2 — O tribunal arbitral pode ordenar que qualquer documento seja


acompanhado de uma tradução na língua ou línguas convencionadas pelas partes ou
escolhidas pelo tribunal arbitral.

Artigo 133.º - CPC

Língua a empregar nos atos

1 - Nos atos judiciais usa-se a língua portuguesa.

2 - Quando hajam de ser ouvidos, os estrangeiros podem, no entanto, exprimir-


se em língua diferente, se não conhecerem a portuguesa, devendo nomear-se um
intérprete, quando seja necessário, para, sob juramento de fidelidade, estabelecer a
comunicação.

3 - A intervenção do intérprete prevista no número anterior é limitada ao que for


estritamente indispensável.

24
Artigo 34.º - LAV

Audiências e processo escrito

1 — Salvo convenção das partes em contrário, o tribunal decide se serão


realizadas audiências para a produção de prova ou se o processo é apenas conduzido
com base em documentos e outros elementos de prova. O tribunal deve, porém, realizar
uma ou mais audiências para a produção de prova sempre que uma das partes o
requeira, a menos que as partes hajam previamente prescindido delas. – Há um direito
potestativo

2 — As partes devem ser notificadas, com antecedência suficiente, de quaisquer


audiências e de outras reuniões convocadas pelo tribunal arbitral para fins de produção
de prova.

3 — Todas as peças escritas, documentos ou informações que uma das partes


forneça ao tribunal arbitral devem ser comunicadas à outra parte. Deve igualmente ser
comunicado às partes qualquer relatório pericial ou elemento de prova documental que
possa servir de base à decisão do tribunal.

Artigo 38.º - LAV

Solicitação aos tribunais estaduais na obtenção de provas

1 — Quando a prova a produzir dependa da vontade de uma das partes ou de


terceiros e estes recusem a sua colaboração, uma parte, com a prévia autorização do
tribunal arbitral, pode solicitar ao tribunal estadual competente que a prova seja
produzida perante ele, sendo os seus resultados remetidos ao tribunal arbitral.

2 — O disposto no número anterior é aplicável às solicitações de produção de


prova que sejam dirigidas a um tribunal estadual português, no âmbito de arbitragens
localizadas no estrangeiro.

25
Artigo 43.º - LAV

Prazo para proferir sentença

1 — Salvo se as partes, até à aceitação do primeiro árbitro, tiverem acordado


prazo diferente, os árbitros devem notificar às partes a sentença final proferida sobre o
litígio que por elas lhes foi submetido dentro do prazo de 12 meses a contar da data de
aceitação do último árbitro. – As partes têm a liberdade para estipular o prazo da
arbitragem, mas se não o fizerem o prazo supletivamente é de 12 meses.

2 — Os prazos definidos de acordo com o n.º 1 podem ser livremente


prorrogados por acordo das partes ou, em alternativa, por decisão do tribunal arbitral,
por uma ou mais vezes, por sucessivos períodos de 12 meses, devendo tais prorrogações
ser devidamente fundamentadas. Fica, porém, ressalvada a possibilidade de as partes,
de comum acordo, se oporem à prorrogação.

3 — A falta de notificação da sentença final dentro do prazo máximo


determinado de acordo com os números anteriores do presente artigo, põe
automaticamente termo ao processo arbitral, fazendo também extinguir a competência
dos árbitros para julgarem o litígio que lhes fora submetido, sem prejuízo de a
convenção de arbitragem manter a sua eficácia, nomeadamente para efeito de com
base nela ser constituído novo tribunal arbitral e ter início nova arbitragem.

4 — Os árbitros que injustificadamente obstarem a que a decisão seja proferida


dentro do prazo fixado respondem pelos danos causados.

Artigo 39.º - LAV

Direito aplicável, recurso à equidade; irrecorribilidade da decisão

1 — Os árbitros julgam segundo o direito constituído, a menos que as partes


determinem, por acordo, que julguem segundo a equidade.

2 — Se o acordo das partes quanto ao julgamento segundo a equidade for


posterior à aceitação do primeiro árbitro, a sua eficácia depende de aceitação por parte
do tribunal arbitral.

3 — No caso de as partes lhe terem confiado essa missão, o tribunal pode decidir
o litígio por apelo à composição das partes na base do equilíbrio dos interesses em jogo.

4 — A sentença que se pronuncie sobre o fundo da causa ou que, sem conhecer


deste, ponha termo ao processo arbitral, só é susceptível de recurso para o tribunal
estadual competente no caso de as partes terem expressamente previsto tal
possibilidade na convenção de arbitragem e desde que a causa não haja sido decidida
segundo a equidade ou mediante composição amigável

26
Artigo 40.º - LAV

Decisão tomada por vários árbitros

1 — Num processo arbitral com mais de um árbitro, qualquer decisão do tribunal


arbitral é tomada pela maioria dos seus membros. Se não puder formar -se maioria, a
sentença é proferida pelo presidente do tribunal.

2 — Se um árbitro se recusar a tomar parte na votação da decisão, os outros


árbitros podem proferir sentença sem ele, a menos que as partes tenham
convencionado de modo diferente. As partes são subsequentemente informadas da
recusa de participação desse árbitro na votação.

3 — As questões respeitantes à ordenação, à tramitação ou ao impulso


processual poderão ser decididas apenas pelo árbitro presidente, se as partes ou os
outros membros do tribunal arbitral lhe tiverem dado autorização para o efeito.

Artigo 44.º - LAV

Encerramento do processo

1 — O processo arbitral termina quando for proferida a sentença final ou quando


for ordenado o encerramento do processo pelo tribunal arbitral, nos termos do n.º 2 do
presente artigo.

2 — O tribunal arbitral ordena o encerramento do processo arbitral quando:

a) O demandante desista do seu pedido, a menos que o demandado a tal


se oponha e o tribunal arbitral reconheça que este tem um interesse
legítimo em que o litígio seja definitivamente resolvido;

b) As partes concordem em encerrar o processo;

c) O tribunal arbitral verifique que a prossecução do processo se tornou,


por qualquer outra razão, inútil ou impossível. – Impossibilidade
superveniente ou inutilidade superveniente

3 — As funções do tribunal arbitral cessam com o encerramento do processo


arbitral, sem prejuízo do disposto no artigo 45.º e no n.º 8 do artigo 46.º

4 — Salvo se as partes tiverem acordado de modo diferente, o presidente do


tribunal arbitral deve conservar o original do processo arbitral durante um prazo mínimo
de dois anos e o original da sentença arbitral durante um prazo mínimo de cinco anos.

27
NOTA: Temos meios de impugnação:

• Recurso – em regra geral são irrecorríveis, mas temos o Artigo 39º nº4
da LAV (A sentença que se pronuncie sobre o fundo da causa ou que, sem
conhecer deste, ponha termo ao processo arbitral, só é susceptível de
recurso para o tribunal estadual competente (+ artigo 59º nº1 alinea e)
(Relativamente a litígios compreendidos na esfera de jurisdição dos tribunais
judiciais, o Tribunal da Relação em cujo distrito se situe o lugar da arbitragem
ou, no caso da decisão referida na alínea h) do n.º 1 do presente artigo, o
domicílio da pessoa contra quem se pretenda fazer valer a sentença, é
competente para decidir sobre: O recurso da sentença arbitral, quando este
tenha sido convencionado ao abrigo do n.º 4 do artigo 39.º;)) no caso de as
partes terem expressamente previsto tal possibilidade na convenção de
arbitragem e desde que a causa não haja sido decidida segundo a
equidade ou mediante composição amigável).
• Pedido de anulação – Artigo 46º da LAV

Artigo 46.º - LAC

Pedido de anulação

1 — Salvo se as partes tiverem acordado em sentido diferente, ao abrigo do n.º


4 do artigo 39.º, a impugnação de uma sentença arbitral perante um tribunal estadual
só pode revestir a forma de pedido de anulação, nos termos do disposto no presente
artigo.

2 — O pedido de anulação da sentença arbitral, que deve ser acompanhado de


uma cópia certificada da mesma e, se estiver redigida em língua estrangeira, de uma
tradução para português, é apresentado no tribunal estadual competente, observando
-se as seguintes regras, sem prejuízo do disposto nos demais números do presente
artigo:

a) A prova é oferecida com o requerimento;

b) É citada a parte requerida para se opor ao pedido e oferecer prova;

c) É admitido um articulado de resposta do requerente às eventuais


excepções; d) É em seguida produzida a prova a que houver lugar;

e) Segue -se a tramitação do recurso de apelação, com as necessárias


adaptações;

f) A acção de anulação entra, para efeitos de distribuição, na 5.ª espécie.

28
3 — A sentença arbitral só pode ser anulada pelo tribunal estadual competente
se:

a) A parte que faz o pedido demonstrar que:

i) Uma das partes da convenção de arbitragem estava afectada


por uma incapacidade; ou que essa convenção não é válida nos
termos da lei a que as partes a sujeitaram ou, na falta de qualquer
indicação a este respeito, nos termos da presente lei; ou

ii) Houve no processo violação de alguns dos princípios


fundamentais referidos no n.º 1 do artigo 30.º com influência
decisiva na resolução do litígio; ou

iii) A sentença se pronunciou sobre um litígio não abrangido pela


convenção de arbitragem ou contém decisões que ultrapassam o
âmbito desta; ou

iv) A composição do tribunal arbitral ou o processo arbitral não


foram conformes com a convenção das partes, a menos que esta
convenção contrarie uma disposição da presente lei que as partes
não possam derrogar ou, na falta de uma tal convenção, que não
foram conformes com a presente lei e, em qualquer dos casos,
que essa desconformidade teve influência decisiva na resolução
do litígio; ou

v) O tribunal arbitral condenou em quantidade superior ou em


objecto diverso do pedido, conheceu de questões de que não
podia tomar conhecimento ou deixou de pronunciar -se sobre
questões que devia apreciar; ou

vi) A sentença foi proferida com violação dos requisitos


estabelecidos nos n.os 1 e 3 do artigo 42.º; ou

vii) A sentença foi notificada às partes depois de decorrido o prazo


máximo para o efeito fixado de acordo com ao artigo 43.º ; ou

b) O tribunal verificar que:

i) O objecto do litígio não é susceptível de ser decidido por


arbitragem nos termos do direito português;

ii) O conteúdo da sentença ofende os princípios da ordem pública


internacional do Estado português.

29
4 — Se uma parte, sabendo que não foi respeitada uma das disposições da
presente lei que as partes podem derrogar ou uma qualquer condição enunciada na
convenção de arbitragem, prosseguir apesar disso a arbitragem sem deduzir oposição
de imediato ou, se houver prazo para este efeito, nesse prazo, considera -se que
renunciou ao direito de impugnar, com tal fundamento, a sentença arbitral.

5 — Sem prejuízo do disposto no número anterior, o direito de requerer a


anulação da sentença arbitral é irrenunciável.

6 — O pedido de anulação só pode ser apresentado no prazo de 60 dias a contar


da data em que a parte que pretenda essa anulação recebeu a notificação da sentença
ou, se tiver sido feito um requerimento no termos do artigo 45.º, a partir da data em
que o tribunal arbitral tomou uma decisão sobre esse requerimento.

7 — Se a parte da sentença relativamente à qual se verifique existir qualquer dos


fundamentos de anulação referidos no n.º 3 do presente artigo puder ser dissociada do
resto da mesma, é unicamente anulada a parte da sentença atingida por esse
fundamento de anulação.

8 — Quando lhe for pedido que anule uma sentença arbitral, o tribunal estadual
competente pode, se o considerar adequado e a pedido de uma das partes, suspender
o processo de anulação durante o período de tempo que determinar, em ordem a dar
ao tribunal arbitral a possibilidade de retomar o processo arbitral ou de tomar qualquer
outra medida que o tribunal arbitral julgue susceptível de eliminar os fundamentos da
anulação.

9 — O tribunal estadual que anule a sentença arbitral não pode conhecer do


mérito da questão ou questões por aquela decididas, devendo tais questões, se alguma
das partes o pretender, ser submetidas a outro tribunal arbitral para serem por este
decididas.

10 — Salvo se as partes tiverem acordado de modo diferente, com a anulação da


sentença a convenção de arbitragem volta a produzir efeitos relativamente ao objecto
do litígio.

30
Artigo 47.º - LAV

Execução da sentença arbitral

1 — A parte que pedir a execução da sentença ao tribunal estadual competente


(+Artigo 59º nº9 da LAV (A execução da sentença arbitral proferida em Portugal corre
no tribunal estadual de 1.ª instância competente, nos termos da lei de processo
aplicável.)) deve fornecer o original daquela ou uma cópia certificada conforme e, se a
mesma não estiver redigida em língua portuguesa, uma tradução certificada nesta
língua.

2 — No caso de o tribunal arbitral ter proferido sentença de condenação


genérica, a sua liquidação faz -se nos termos do n.º 4 do artigo 805.º do Código de
Processo Civil, podendo no entanto ser requerida a liquidação ao tribunal arbitral nos
termos do n.º 5 do artigo 45.º, caso em que o tribunal arbitral, ouvida a outra parte, e
produzida prova, profere decisão complementar, julgando equitativamente dentro dos
limites que tiver por provados.

3 — A sentença arbitral pode servir de base à execução ainda que haja sido
impugnada mediante pedido de anulação apresentado de acordo com o artigo 46.º, mas
o impugnante pode requerer que tal impugnação tenha efeito suspensivo da execução
desde que se ofereça para prestar caução, ficando a atribuição desse efeito
condicionada à efectiva prestação de caução no prazo fixado pelo tribunal. Aplica -se
neste caso o disposto no n.º 3 do artigo 818.º do Código de Processo Civil.

4 — Para efeito do disposto no número anterior, aplica- -se com as necessárias


adaptações o disposto nos artigos 692.º -A e 693.º -A do Código de Processo Civil.

Artigo 705.º - CPC

Exequibilidade dos despachos e das decisões arbitrais

1 - São equiparados às sentenças, sob o ponto de vista da força executiva, os


despachos e quaisquer outras decisões ou atos da autoridade judicial que condenem no
cumprimento duma obrigação.

2 - As decisões proferidas pelo tribunal arbitral são exequíveis nos mesmos


termos em que o são as decisões dos tribunais comuns.

31
Arbitragem Internacional

Artigo 55.º

Necessidade do reconhecimento

Sem prejuízo do que é imperativamente preceituado pela Convenção de Nova


Iorque de 1958, sobre o reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais
estrangeiras, bem como por outros tratados ou convenções que vinculem o Estado
português, as sentenças proferidas em arbitragens localizadas no estrangeiro só têm
eficácia em Portugal, seja qual for a nacionalidade das partes, se forem reconhecidas
pelo tribunal estadual português competente (+ Artigo 59º nº1 alinea h) (
Relativamente a litígios compreendidos na esfera de jurisdição dos tribunais judiciais, o
Tribunal da Relação em cujo distrito se situe o lugar da arbitragem ou, no caso da decisão
referida na alínea h) do n.º 1 do presente artigo, o domicílio da pessoa contra quem se
pretenda fazer valer a sentença, é competente para decidir sobre: O reconhecimento
de sentença arbitral proferida em arbitragem localizada no estrangeiro)), nos termos do
disposto no presente capítulo desta lei. – Uma sentença arbitral proferida no estrangeiro
é exequível por Portugal desde que seja reconhecida por um tribunal estadual
português. Se estiverem na convenção não é necessário ir ao tribunal da relação, pode
ir logo a um de primeira instancia.

Artigo 62.º

Centros de arbitragem institucionalizada

1 — A criação em Portugal de centros de arbitragem institucionalizada está


sujeita a autorização do Ministro da Justiça, nos termos do disposto em legislação
especial. – Tribunais arbitrários permanentes

2 — Considera -se feita para o presente artigo a remissão constante do Decreto


-Lei n.º 425/86, de 27 de Dezembro, para o artigo 38.º da Lei n.º 31/86, de 29 de Agosto.

32
Temos dois tipos de arbitragem:

• Arbitragem voluntaria (vontade das partes)


• Arbitragem necessária (é imposta pelo legislador), mas tem uma ressalva
dessa decisão há sempre recurso para um tribunal estadual. Há poucos
casos disto, por exemplo desporto, valor de indeminizações e alguns
casos de consumo. O seu regime está no artigo 1082º e ss do CPC.

Artigo 1082.º (novo 1136º) - CPC

Regime do julgamento arbitral necessário

Se o julgamento arbitral for prescrito por lei especial, atende-se ao que nesta
estiver determinado; na falta de determinação, observa-se o disposto nos artigos
seguintes.

1139º

33
08/10/2021

Capítulo II

Fontes do DPC:

a. Fontes do direito. Remissão: O papel preponderante e um especial


diploma que é o código do processo civil.

b. As fontes do DPC

Evolução histórica:

O período das ordenações:

i. Ordenações afonsinas (1436); as ordenações manuelinas (1514); as


ordenações filipinas (1603): Refere-se aos compêndios legislativos que vigoraram neste
período histórico e que antecedeu o direito constitucionalismo. Não quer dizer que não
abrange o período antes das ordenações. Estas ordenações eram compêndios
legislativos que abrangiam todas as matérias.

ii. Forte influência do direito canónico: É o direito da igreja. Antes de haver


tribunais, mesmo antes de haver estado português, a igreja tinha os seus tribunais
eclesiásticos, e regulavam-se por este direito. Esta bagagem que a igreja trazia,
influenciou muito o DPC português, este inspirou-se naturalmente num ramo de direito
canónico.

iii. Extrema rigidez e formalismo do PC: é uma outra caraterística do DPC,


não havia margem de manobra para o adaptar, referia-se a um excesso de formalismo,
muito ritualista, era preciso seguir todas as formalidades da lei.

iv. A regra da prova tarifada: Esta é outra caraterística deste período


histórico, esta rega para provar determinar determinados factos era necessário que
fossem necessários meios de prova exigidos pela lei. A lei dizia que um facto só se
considerada provado se existissem 2 pessoas como testemunhas, por exemplo. A prova
tinha de tarifado, ou seja, tinham de ser provas tarifadas.

v. Dispersão da legislação e excesso de ações especiais: é outra caraterística


deste período. Havia um excesso de diplomas em termos de legislação, porque as
normas eram feitas ou leis avulsas sobre temas que eram apreciados. O que poderiam
ser contraditórios entre si. Este excesso de ações especiais consiste em vigorar o
processo comum, ou seja, há uma única forma processual de atuar, isto hoje em dia.
Neste período histórico não existe uma única forma de processual comum, havia formas
processuais especiais, cada ação tinha a sua própria tramitação, ou seja, eram todas
diferentes.

34
vi. Inexistência de uma garantia de tutela jurisdicional efetiva: não existe o
acesso aos tribunais, não era garantido, mas sim um privilégio.

vii. Excessiva complexidade da organização judiciaria. Privatização ou


concessão de certos poderes jurisdicionais a privados. Existência de foros especiais em
função do estatuto pessoal das partes: não havia uma rede de tribunais iguais para
todos, havia os foros especiais, ou seja, para certas categorias pessoas, seja pela
profissão ou estatuto social havia tribunais especiais. Havia uma diversidade de foros
devido as categorias que existiam neste período histórico. Não havia uma hierarquia
facilmente identificável, não havia um tribunal superior no país. Era muito frequente a
privatização da justiça, ou seja, o estado concedia poderes jurisdicionais a
privados conseguiam o direito de uma localidade nomeavam os juízes dessa mesma
localidade.

viii. O papel preponderante da Coroa como vértice do sistema judicial: Havia


uma via de acesso ao rei, havia recurso ao rei, por petição judiciais, era através de
critérios de equidade, não havia separação dos poderes. O rei tanto era governante
como era legislador, como exercia poderes jurisdicionais.

O período das reformas do liberalismo:

i. As reformas do liberalismo (sec. XIX): a reforma judiciaria (1832) e a nova


reforma judiciaria (1836). A novíssima reforma judiciaria (1841): Surge com um
elemento da nossa história que marca um antes e depois, há uma rutura que é
introdução do constitucionalismo, ou seja, a ideia da separação dos poderes. Adaptou a
reforma judiciaria em 1832, após a revisão criou a nova reforma judiciaria, e após esta
houve uma revisão e surgiu a novíssima forma judiciaria. É ainda na sua essência a que
vigora atualmente, fez-se através das 3 grandes medidas, 1- acabar com os foros
especiais, 2- criação de uma estrutura judicial vertical que ainda hoje vigora que é uma
estrutura judicial que tem no vértice STJ, no meio tem as relações e no fim os tribunais
de 1º estancias e os comarcas, em 3- foi a eliminação da coroa, o rei deixou de poder de
intervir nos poderes.

35
14/10/2021

O período da codificação

O Código de Processo Civil de 1876:

Primeiro código processual caracterizado pelo exacerbamento do domínio do


processo pelas partes e do excessivo formalismo na tramitação processual – É o
primeiro diploma pensado de uma forma sistemática coerente, com uma filosofia
jurídica, linha dogmática própria. A grande figura do PC eram as partes, com um
apagamento brutal do tribunal, as partes é qie tinham um domínio maior. O execessivo
formalismo na tramitação processual, era muito ritualista, pouco adaptada as
circunstancias do caso concreto

O papel passivo do juiz. O processo escrito. Defeitos e inconvenientes – O


processo era escrito neste código, era conduzido por escrito. O juiz desempenhava um
papel secundário, não tinha poderes decisórios. Não existia oralidade no momento
central. A produção da prova era produzida por escrito, o juiz não tinha de estar
presente na produção da prova.

Distinção entre processo civil e processo comercial – Havia i, CPC e um CP


comercial, havia uma distinção entre estes. Esta distinção havia neste período era no
próprio direto comercial.

O Código de Processo Civil de 1939:

• O papel determinante de Alberto dos Reis. – É o pai do processo civil,


pormenoriza cientificamente o processo civil. Era uma figura importante do
estado novo, o que influencia a política do estado novo.
• A mudança radical de paradigma: o papel mais interventivo do tribunal - O
novo introduz uma rutura radical com o anterior processo. Abola o domínio do
processo das partes, o tribunal passa a ter um papel mais interventivo.
• Emergência do princípio do inquisitório – O tribunal não está dependente das
partes para oficiosidade das provas. Ele pode por sua iniciativa procurar a
verdade, mesmo que as partes não o queiram.
• A oralidade e o princípio da imediação – O processo deve ser sobretudo oral e
deve ser imediato. Tudo deve estar concentrado num momento temporal.
• A introdução do tribunal coletivo - A prova é oral, mas é apresentado num
tribunal composto por 3 pessoas (mas isto não correu bem), no processo civil as
causas eram julgadas por 3 juízes.
• O saneamento e a condensação – Permitiam ao tribunal tomar decisões
importantes para o processo numa frase intermedia ou até mesmo preliminar.
Saneamento vem de expulsar e permite ao tribunal expulsar numa fase
preliminar o que não interessa ou até encerrar logo ali o processo, já
condensação permite o tribunal definir aquilo que interessa para o processo.
• O princípio da livre apreciação da prova – o tribunal aprecia livremente a prova,
não está vinculado a provas.

36
O Código de Processo Civil de 1961:

Trata-se essencialmente de uma reforma do Código de 1939, sem introduzir


grandes ruturas

As principais reformas de 1961:

• A reforma de 1967, a adaptação ao CC de 1967


• A reforma de 1977/1978. A adaptação à CRP e à reforma do CC de 1977
- Motivado pela necessidade de adaptar o processo civil à CRP de 1976 e
da reforma do CC de 1977
• A reforma de 1985
• A “Grande Reforma” de 1995/1996 -
• A reforma de 2003, relativa à ação executiva
• A reforma de 2007, relativa aos recursos
• A reforma de 2008, que reformou a reforma de 2003 relativa à ação
executiva
• A reforma de 2009 relativa à “desjurisdicionalização” do processo de
inventário

O Código de Processo Civil de 2013:

• Verdadeiro novo Código (?) – Reprodução ipsos verbis do anterior que


estava em vigor, meras evoluções que poderiam ter sido como reforma,
introduz novas medidas de flexibilização, abolição das formas de
processo sumaria e sumaríssima.
• Principais inovações. Síntese -

Outras reformas com influência na lei processual civil:

• O processo injuntivo e a correspondente ação declarativa especial (DL


269/98).
• Os julgados de paz e a lei dos julgados de paz (Lei n.º 78/2001) –
Introduziu os julgados de paz e criou uma forma processual especifica
para os mesmos.

Sentido da evolução legislativa neste período histórico.

37
Interpretação e aplicação da lei processual civil

As regras da interpretação normativa (artigos. 8.º e 9.º do CC).

Em especial, o artigo 8º nº1 do CC (O tribunal não pode abster-se de julgar,


invocando a falta ou obscuridade da lei ou alegando dúvida insanável acerca dos factos
em litígio) Princípio do non liquet. Solução:

• Matéria de direito. Interpretação normativa e integração das


lacunas de acordo com as regras de inter-pretação normativa - O
tribunal não pode abster-se de julgar uma causa ou porque os factos
são difíceis ou porque as normas são difíceis, se o tribunal estiver em
duvida ele te quem aplicar as normas de interpretação normativa.
• Matéria de facto. Artigo 414.º do CPC (A dúvida sobre a realidade de
um facto e sobre a repartição do ónus da prova resolve-se contra a
parte a quem o facto aproveita) – na dúvida resolvemos contra a parte
a quem o facto aproveitaria.

Em especial, o artigo 8.º nº 3 do CC (Nas decisões que proferir, o julgador terá


em consideração todos os casos que mereçam tratamento análogo, a fim de obter uma
interpretação e aplicação uniformes do direito):

• Inexistência de um sistema de stare decisis. Noção – Precedente


judiciários, se uma determinada questão normativa já decidida por
um tribunal superior, os tribunais inferiores têm de seguir essa
decisão. Nós não temos isso, ou seja, os tribunais não têm que seguir
decisões de outros tribunais, só no âmbito de um recurso é que nesse
processo tem que seguir a decisão do superior.
• O sistema português. A vinculação hierárquica apenas por via do
recurso – Não são obrigados, a única vinculação é no âmbito sw um
recurso, em que se um tribunal superior decide, se voltar ao tribunal
inferior tem que ser decidida por ai.
• Especificidades: o artigo 8.º nº3 CC; os acórdãos de uniformização de
jurisprudência (arts. 686.º; 688.º; 626.º/2/c)).

Em especial, o princípio pro actione (cfr. Artigo 7º do CPTA (Para efectivação do


direito de acesso à justiça, as normas processuais devem ser interpretadas no sentido
de promover a emissão de pronúncias sobre o mérito das pretensões formuladas)).
Discussão da sua aplicabilidade no processo civil – Em caso de duvida deve-se interpretar
essa norma processual no sentido que favoreça a prolação de uma decisão que dirima o
litigio, temos de interpretar num sentido formalista.A doutrina tem vindo a considerar
que isto é aplicado como principio geral de direito processo civil.

38
Integração de lacunas na lei processual civil.

As regras gerais de integração de lacunas. Cfr. art. 10.º do CC (Na falta de caso
análogo, a situação é resolvida segundo a norma que o próprio intérprete criaria, se
houvesse de legislar dentro do espírito do sistema)

Caso especial de integração de lacunas no ordenamento processual civil: o


princípio da adequação processual (artigo 547º do CPC (O juiz deve adotar a tramitação
processual adequada às especificidades da causa e adaptar o conteúdo e a forma dos
atos processuais ao fim que visam atingir, assegurando um processo equitativo)).
Similitude com a regra do artigo 10º nº3 CC (Na falta de caso análogo, a situação é
resolvida segundo a norma que o próprio intérprete criaria, se houvesse de legislar
dentro do espírito do sistema).

Aplicação da lei processual civil no tempo

O problema da sucessão de leis no tempo. No Direito em geral; e em especial no


processo civil.

Aplicabilidade das normas constantes do artigo 12.º do CC . Síntese

Artigo 12.º

(Aplicação das leis no tempo. Princípio geral)

1. A lei só dispõe para o futuro; ainda que, lhe seja atribuída eficácia retroactiva,
presume-se que ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se
destina a regular.

2. Quando a lei dispõe sobre as condições de validade substancial ou formal de


quaisquer factos ou sobre os seus efeitos, entende-se, em caso de dúvida, que só visa
os factos novos; mas, quando dispuser directamente sobre o conteúdo de certas
relações jurídicas, abstraindo dos factos que lhes deram origem, entender-se-á que a lei
abrange as próprias relações já constituídas, que subsistam à data da sua entrada em
vigor.

39
Regime-regra:

• Aplicação das normas de direito transitório – São normas qie regulam


a transição da lei antiga para a lei nova, o legislador faz isso quando é
um legislador competente, quando se aperceber que vai haver duvidas
das leis antigas para as novas
• Na falta de normas de direito transitório, a lei nova é de aplicação
imediata aos processos pendentes e aos atos processuais que se
vierem a realizar no processo posteriormente à sua entrada em vigor.
Em especial, o regime do artigo 12º nº2/in fine do CC (quando dispuser
directamente sobre o conteúdo de certas relações jurídicas, abstraindo
dos factos que lhes deram origem, entender-se-á que a lei abrange as
próprias relações já constituídas, que subsistam à data da sua entrada
em vigor).
• A sucessão no tempo de leis reguladoras dos prazos (processuais):
artigo 297.º do CC.

Artigo 297.º - CC

(Alteração de prazos)

1. A lei que estabelecer, para qualquer efeito, um prazo mais curto do que o
fixado na lei anterior é também aplicável aos prazos que já estiverem em curso, mas o
prazo só se conta a partir da entrada em vigor da nova lei, a não ser que, segundo a lei
antiga, falte menos tempo para o prazo se completar. – Encurtamento de um prazo

2. A lei que fixar um prazo mais longo é igualmente aplicável aos prazos que já
estejam em curso, mas computar-se-á neles todo o tempo decorrido desde o seu
momento inicial.

3. A doutrina dos números anteriores é extensiva, na parte aplicável, aos prazos


fixados pelos tribunais ou por qualquer autoridade.

40
Casos especiais:

• Princípio do tempus actum regit (artigo 136 nº1 do CPC) – a validade formal de
um ato, a forma que um ato deve obedecer é sempre regulada na lei em vigor
no momento em que o ato é praticado.
• Princípio da estabilidade de forma no processo (artigo 136 nº2 do CPC) – a
forma de processo que se aplica a uma determinada causa regula-se pela lei
processual civil em vigor na data em que o processo foi instaurado.
• Princípio da perpetuatio jurisdictiones (artigo 38 da lei da organização do
sistema judiciário) – nº1: a competência fixa-se no momento em que a ação se
propõe; nº2: as modificações de direito são irrelevantes, para aquele processo
não relevam, o que releva era a lei que estava em vigor no momento em que a
ação foi interposta. A exceção prevista (parte final) é quando o tribunal que não
era competente no momento em que a causa foi proposta vier a passar a ser
competente de acordo com a lei nova. Se a ação foi proposta num tribunal
incompetente mas se entretanto a lei foi modificada e passar a ter competência,
em vez de o tribunal se abster de julgar a causa ele irá poder julgar.
• Artigo 44 nº3 da lei da organização do sistema judiciário - As alçadas é um valor
abstrato fixado na lei que é um dos critérios para admissibilidade de recursos. A
alçada do tribunal de 1ª instância é de 5 mil euros. A alçada das relações é de 30
mil euros. Para podermos recorrer de uma sentença é preciso que o valor da
causa exceda o valor da alçada do tribunal a que se recorre. Se o valor for de
3500€ não há recurso. Se o valor da causa for de 16 mil euros posso recorrer do
tribunal de 1ª instância para o tribunal das relações. Ainda que o valor das
alçadas seja alterado, a admissibilidade do recurso por força das alçadas rege-se
pela lei em vigor no momento em que a ação foi proposta.

41
Aplicação da lei processual civil no espaço:

O princípio é a lex fori (lei da causa). É sempre a lei do estado português. Há


pequenas exceções – dois regulamentos europeus (Regulamento CE nº1896/2006;
Regulamento CE nº861/2007) – estes regulamentos regem duas formas processuais que
são comuns na EU. Os tribunais portugueses estarão a aplicar direito que não é direito
processual português. Também é possível que seja necessário praticar atos processuais
no território português ao abrigo de direito processual civil estrangeiro.

Cartas rogatórias (artigo 182 nº2 do CPC)

Possibilidade que o nosso ordenamento jurídico reconhece de poderem ser cá


executadas em Portugal decisões judiciais proferidas por tribunais estrangeiros. A nossa
lei exige que uma decisão judicial proferida por um tribunal estrangeiro para que possa
ser executada em Portugal tem que ser revista por um tribunal português, avalia se o
processo respeitou regras formais que são próprias do nosso sistema jurídico. Artigo
978 e 979 do CPC – os processos de revisão e confirmação de decisões estrangeiras
propõemse sempre em primeiro grau de decisão nos tribunais da relação. Certas
decisões podem ser executadas em Portugal sem necessidade de serem revistas e
confirmadas pelo tribunal da relação. Artigo 55 da LAV.

Direitos fundamentais e o processo civil:

• Os direitos fundamentais têm também relevo no direito processual civil, nos


aspetos da tramitação de um processo.
• Artigo 20 nº1 e nº4 da CRP - nº1 (direito a uma tutela jurisdicional efetiva); nº4
(direito a um processo equitativo)
• Artigo 6 da Convenção Europeia dos Direitos Humanos - fonte de inspiração do
artigo 20 da CRP
• Artigo 47 da Carta dos Direitos fundamentais da União Europeia
• Direito a um tribunal independente e imparcial – não está expressamente
identificado mas a doutrina entende que está implícito no direito a um processo
equitativo (artigo 6 nº1 da Convenção Europeia dos Direitos Humanos; artigo
203 da CRP)
• Direito fundamental a uma decisão judicial em prazo razoável (artigo 20 nº4 da
CRP) – tem que vir em tempo útil
• Direito fundamental ao patrocínio forense – a doutrina tem entendido que está
protegido pelo direito fundamental ao processo equitativo, compreende a
faculdade de se ser assistido por advogado.
• Direito fundamental à assistência judiciária (artigo 20 nº1 da CRP) – as pessoas
podem gozar de assistência judiciária de maneira a que lhe sejam prestados
apoios que permitam aceder aos tribunais.
• Podemos consagrá-los em 2 grandes núcleos:
o Direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva em sentido amplo
o Direito fundamental a um processo equitativo em sentido amplo

42
Princípios de processo civil que concretizam estes dois direitos fundamentais:

• No que diz respeito à tutela jurisdicional efetiva:


o Princípio do acesso a justiça
o Princípio da não denegação de justiça por motivos económicos
o Princípio do dispositivo
• No que diz respeito ao direito de processo equitativo:
o Princípio da independência e imparcialidade dos tribunais
o Princípio do contraditório
o Princípio da igualdade
o Princípio da publicidade
o Princípio da cooperação
o Princípio do patrocínio forense

Outros princípios que não concretizam normas constitucionais, não são uma
transposição de princípios constitucionais para o direito ordinário, são princípios de
direito ordinário que o legislador estabeleceu.

43
21/10/2021

Secção II. Princípios concretizadores do direito fundamental a uma tutela


jurisdicional efetiva

23. O princípio do acesso à justiça – a todos é assegurado o acesso aos tribunais


(artigo 20 nº1 do CPC), direito a intentar uma ação com vista a tutela

Direito de ação: artigo 2º nº1 CPC

• Direito de intentar uma ação para tutela de posições jurídicas subjetivas; o


direito a obter uma prenúncia de mérito
• Não protege nem compreende a espectativa de se obter um ganho na ação a
que se propõe; tenho uma espectativa de obter uma decisão, mas saber se é
mais favorável pu menos favorável não é uma matéria do direito de ação.
• Concretiza no plano do direito ordinário o direito fundamental a uma tutela
jurisdicional efetiva. (art.º 20 nº 1)

Direito de ação popular

• Regime do artigo 20º nº1 (e 268º nº4) da CRP


• Art.º 52 nº 3 CRP ceder a tribunais de tutela de subordinações jurídicas próprias,
mas de direito subjetivo. Exemplo: direito ao ambiente; direito à saúde; a Lei
nº83/93, regula o exercício o direito de ação popular
• A ação popular como uma ação base,

Direito de defesa

• O direito de ação tem o reverso da medalha que é o direito de defesa. Tem em


conta a posição daqueles contras as ações são propostas.
• O direito de defesa do demandado como contraponto ao direito de ação do
demandante: concretização praeter constitutionem do direito a uma tutela
jurisdicional efetiva. O direito de defesa não está consagrado na constituição.
• A necessidade de chamamento a juízo (art.º 3.º/1)
• A citação como ato de chamamento a juízo (art.228.º/1), este chamamento do
demandado faz-se através de uma tos processual típico e denominado de
citação, tem uma dupla intenção, uma é transmitir as ações contra a pessoa, e
convocar a pessoa a defender-se (art.º 219 nº1 CPC)
• O chamamento pessoal a juízo daquele contra quem a ação é proposta art.º 3
nº1 (conhecimento efetivo do processo). Exceções. Remissão.
• Diferença entre contraditório e defesa a defesa corresponde à existência de
uma oportunidade processual de o demandado poder apresentar a sua versão
dos factos e os seus argumentos ao tribunal; o contraditório tem a ver com a
possibilidade de apresentar os argumentos antes do tribunal apresentar a
decisão. A possibilidade de preterição do contraditório (art. 3.º/2) O tribunal
aceita que a defesa possa ser apresentada sem o contraditório. E a
impossibilidade de preterição do direito de defesa (: a defesa sem contraditório;
a defesa pós decisão). O direito à defesa não se confunde com o princípio do

44
contraditório: O tribunal pode tomar uma decisão sem ouvir a parte demandada.
O direito à defesa não coloca o processo na posição de ficar parado enquanto o
demando não apresentar a sua defesa.
• A falta de defesa por parte do demandado.
o A revelia: quando o reu não exerce o direito de defesa. O nosso sistema
manda responder através do efeito cominatório semipleno.
o Os dois sistemas de consequências processuais quando o demandado
não vem ao processo defender-se: ficta confessio e ficta contestatio.
Ficta confessio: Se o demandado não se vem defender considera-se que
se ficciona que ele confessou o que era pedido, que aceitou a pretensão.
Ficta contestatio: do silencio do demandado condiciona que ele
contestou, espera-se que prove. Trata-se o processo como se tivesse sido
proferida uma contestação mesmo eu não tenha sido proferido.
o O efeito cominatório (quase)pleno. Natureza excecionalíssima do
instituto.; art.º 716 nº 4 do antigo CPC) – (art.º 2 do RADEPI) prevê-se
um efeito diferente, que é o efeito cominatório pleno, o reu não se
defendeu o tribunal limita-se a condenar.
o O efeito cominatório semipleno (art.º 567 nº1) modelo híbrido, é o
modelo que nos seguimos, o reu citado noa contestou e como
consequência consideram-se confessados os factos que o autor autuou,
mas apenas os factos e não a aplicação.
o Exceções ao efeito cominatório semipleno (art.º 568) – o tribunal pode
recusar condenar o réu

24. Princípio da não denegação da justiça por motivos económicos

• Concretiza o direito de proteção jurídica. Artigo 20 nº1


• Apoio judiciário
o Apoio judiciário: dispensa de pagamento de taxa de justiça e demais
custas judiciais a quem tem carências económicas pode ficar dispensado
as custas processuais. E o
o A assistência judiciária: designação de patrono forense. Lei de acesso aos
direitos e tribunais que assegura instrumentos jurídicos que permitem
garantir que o acesso à justiça não é denegado por razoes económicas,
prevê a lei da assistência judiciaria de um patrono forense para as partes
que não tem condições que contratar um advogado.
o A Lei de Acesso ao Direito e aos Tribunais (Lei n.º 30/2004): a informação
jurídica e a consulta jurídica.

45
O regime tributário da justiça:

As custas processuais: O sistema judiciário publico não é gratuito depende do


pagamento de vários encargos.

As custas processuais (art.º 529.º/1): compreendem três categorias: taxa de


justiça (art.º 530 CPC, é devido pelo impulso processual, tem de ser paga pelo
demandante, mas também pelo demandado, tem de ser paga quer pelo lado ativo como
pelo lado passivo. Pode haver uma taxa de justiça no final do processo nas ações de
lugar elevado), encargos (custo efetivo de determinada diligência que se desenvolvem
no processo EX: denegação de uma perícia) e custas de parte (tem haver com o direito
que as partes têm a ser reembolsadas das despesas que tiveram com o processo).

A responsabilidade pelas custas: Regra geral (art.º 527.º). Exceções (art.º 535.º).

A taxa de justiça: Taxa de justiça devida pelo impulso processual e taxa de justiça
devida a final. Oportunidade de pagamento (art.º 530.º).

Consequências da falta de pagamento: Regra geral (art.º 145.º).

Regime de petição inicial (art.º 558 f)) a faculdade concedida pelo art.º 560,
tabela que prevê a media de justiça variável do valor da ação.

A taxa sancionatória excecional, tem uma natureza sancionatória, aplica-se


quando a parte não agiu com diligencia e era manifestamente improcedente, tem uma
natureza penalizadora. Pressupostos (art.º 531) e montante (art.º 10 CRP), a taxa de
sancionatória pode ser de 2 UC a 15UC.

Unidade de conta processual, o que tenha haver com custas da justiça, usa-se
sempre esta unidade (UC) 1 UC vale 102€.

Natureza tributaria das custas. Taxas ou impostos? O argumento que se usou é


que o montante que as partes são chamadas a pagar não tem nenhuma relação com a
contraprestação que recebem, pois, um processo é proposto pode ser simples, mas se
o valor da causa for elevado paga muita taxa e se for reduzido paga pouco, por isso
achavam que era um imposto. A posição do tribunal Constitucional, qualificou a taxa de
justiça como uma verdadeira taxa em sentido rigoroso.

46
O valor das ações – art.º 11 CPC

O valor das ações como base tributável das custas judiciais, o valor da causa
serve de base tributável para determinar a taxa de justiça.

Outras finalidades:

1) Determinação da forma de processo (art.º 462 nº 1 antigo CPC)

2) Admissibilidade de certos processos especiais (ação declarativa especial;


processo europeu para ações de pequeno montante).

3) Admissibilidade de recurso ordinário (art.º 629 nº1), sabemos isto através do


valor da causa.

A obrigatoriedade de atribuição de um valor a todas as causas (art.º 296), toda


a causa tem de ter um valor certo. O valor exprime a utilidade económica.

Indicação do valor da causa pelas partes (art.º 552 nº1 f); art.º 305 nº1. Fixação
do valor da causa pelo juiz (art.º 306 nº1), nova atualização.

Critérios gerais para a fixação do valor da causa (art.º 297 nº1) – o valor da
causa exprime e a utilidade económica do que aquele pedido tem para as partes.
Quando não haja uma norma que se palica o concreto aplica-se o critério geral

Critérios especiais para a fixação do valor da causa:

1. Ações de despejo (art.º 298.º/1): Pretende-se obter a cessão do contrato de


arrendamento quer por caducidade ou por outro motivo e a condenação do locatário a
restituir a coisa locada. O valor da causa apura-se pela renda de 2 anos e meio acrescida
pelo valor das indemnizações pedidas ou pelo valor das normas vencidas.

Exemplo: 450€ de renda mensal onde o senhorio propôs uma ação o pagamento
de 3 rendas em divida com uma indemnização por 2500€. Resposta: 2 anos e meio de
2500 renda corresponde a 13500. A indeminização corresponde 2500, e as despesas ou
dividas são 1350. Corta-se o valor mais baixo e soma se os outros valores que dá 16000€

2. Contratos de locação financeira (art.º 298.º/2): é o contrato de Lessing, que


são contratos em que o adquirente de um bem pede a intermediário financeira, para o
comprar e a outra pessoa, paga a renda mensal, para ficar com o bem. O valor da causa
é determinado pelo equivalente da soma das prestações ainda em divida + acrescido
dos juros moratórios vencidos.

47
3. Ações de alimentos (art.º 298.º/3): Pensões de alimentos. O valor da causa é
o quíntuplo da anuidade corresponde ao pedido, peço um valor (500€) e o valor que se
vai atribuir vai corresponder ao quíntuplo da anuidade corresponde ao pedido.

Exemplo: ex conge propõe que pague 500€ de alimentos o valor desta causa é o
quíntuplo da anuidade (x12)(500 x 12= 6000) que é igual a 6000 x 5 = 30000

4. Ações especiais de prestação de contas (art.º 298.º/4). Não sai

5. Ações relativas a prestações periódicas (art.º 300.nº2): contrato de renda


perpetua, onde compro, mas pago em prestações. O valor das prestações relativas a um
ano multiplicado po 20 ou o número de anos se for inferior.

Exemplo: contrato de renda vitalícia entre as partes para ser paga durante 30
anos de 500€, o comprador para de pagar e proponho uma ação. Resposta: o valor da
renda multiplicado pelo número de anos que a situação abranger ou por 20 se for maior
que 20 o número de anos. Se fosse durante de 10 anos multiplicávamos por 10. Caso
seja impossível revelar o valor de anos acrescenta-se 1 cêntimo. Art.º 44 nº1, se não
pudermos determinar o número de anos a que a decisão diz respeito, usamos este valor
abstrato que é o valor alçada da relação mais 1 cêntimo, pois assim vai em recurso para
o supremo tribunal.

Exemplo: Renda de 500 euros por mês, durante 30 anos. Qual é o valor desta
causa? 500 x 12 = 6000 x 20 = 120 000 euros.

6. Ações relativas a contratos e outros atos jurídicos (art.º 301.º): simulação do


preço, a lei diz que se atende ao mais elevado dos valores das instruções. Tem por objeto
um contrato. apreciação da validade ou o cumprimento dos negócios jurídicos.

Exemplo: CPS, para construir uma casa e peço a anulação do contrato, o valor da
causa vai ser 500 mil euros, porque é o preço contratual. Se não houver preço, será
aplicado as regras gerais – artigo 297º nº1 do CPC.

7. Ações reais (art. 302.º): o valor da causa é determinado pelo valor da coisa. O
valor da coisa se for um imóvel é o valor patrimonial tributário (finanças) se for movel
sujeita a registos. Tem por objeto o reconhecimento da propriedade. Imaginemos A
vendeu a B um terreno com o valor de 50000 pelo preço de 80000 e propõe uma ação
para reconhecer que ele é o titular do caso. Art.º 302 ação real (valor da coisa) O valor
de ação vai ser de 50 mil euros. (o que está em causa é de quem é a propriedade).

Exemplo: A vendeu a B por 50000 e B quer que o contrato seja anulado, está em
discussão o contrato (art.º 301).

Processos de inventario (nº3) – quando os herdeiros não conseguem fazer


partilhas amigáveis, ou os conjugues da comunhão de bens.

Os comproprietários, permite fazer a divisão da coisa comum, e é feita pelo valor


da coisa.

48
8. Ações de estado e ações relativas a interesses imateriais ou a interesses
difusos (art.º 303.º): As ações de estado, tem haver com o sentido mais amplo, é difícil
apurar o valor de uma pessoa se divorciar de outra ou de alguém ser pai de outra, é o
valor da alçada da relação (30 mil) + 0,01 cêntimo. Interesses difusos (nº3) - O valor da
ação corresponde ao dano invocado, mas com o limite do dobro da alçada da relação.

Determinação do valor da causa nos casos de cumulação de pedidos:

1. O valor da ação em caso de cumulação de pedidos (art.º 297.º/2):


cumulandose vários valores, a quantia vai ser a soma de cada um deles.

Exemplo: A e B celebraram um contrato de compra e venda o imóvel valia 20 mil


e foi vendido a por 70 mil euros, pagou logo os 30 mil e dizia que durante um ano pagava
os 40 mil. Não foi cumprido. Temos dois pedidos a anulação do contrato e a restituição
do preço já pago. - Temos de apurar o valor correspondente de cada pedido e somar.
Resposta: Artigo 297º nº1 do CPC– o valor do pedido vai ser de 30 mil euros. Artigo 301º
nº1 do CPC – se pela ação pretende-se a anulação da causa tem o valor de 70 mil euros,
então o valor da causa vai ser: 100 000 euros.

Exemplo: O escultor vendeu a sua escultura por 30 mil euros, o comprador pôs
a escultura no jardim e pintada de outra cor. O escultor pediu de pagar uma
indeminização de 5 mil euros e pôr a escultura na sua cor normal. Resposta: Artigo 297º
nº1 do CPC – 5 mil euros. Artigo 297º nº2 do CPC – para reposição da estátua é de 30
000 01 euros. = vai ser 35 000 01 euros.

2. O caso particular do pedido de juros e interesses vincendos (art.º 297.º/2/in


fine). - Quando estou a pedir como acessórios do pedido principal, o pagamento de juros
e rendas, que aquelas que já se venceram e aquelas que se vão vencer durante o
processo, para determinar o valor da causa só temos em consideração os juros ou
rendas das que se venceram os que vão vencer não temos.

Exemplo: Ação de despejo, e o reu fosse obrigado a entregar ao imóvel ao dono


e pagar mil euros por obras ilícitas e duas rendas (cada uma 300 euros) em dividas e as
que vão ser vencidas. Resposta: 300 x 30 mês = 9000 + 1000 = 10 mil.

3. O valor da causa no caso de pedidos alternativos e de pedidos subsidiários


(art.º 297.º/3) - quando se cumulam pedidos alternativos atendese ao pedido de maior
valor. Se for subsidiário, por uma ordem de preferência por exemplo, o nº3 diz que
nestes casos diz-se que atendesse ao pedido formulado em primeiro lugar.

O valor da causa é calculado relativamente ao momento em que foi proposta.

O artigo 306º nº2 do CPC – o momento em que se fixa o momento da causa,


atendendo á realidade que existia no momento que a causa foi proposta.

O artigo 310º nº2 e 3º do CPC

49
Referência temporal para a fixação do valor da causa:

• Regra geral (art.º 299.º/1). O caso particular da reconvenção


• Momento da fixação do valor da causa (art.º 306.º/2)
• Consequências da fixação do valor da causa:
o Em relação à competência do tribunal (art.º 310 nº1 e 93º nº 2).
Exceção: art.º 310 nº2

25. Princípio do dispositivo

Sentido do princípio: direitos disponíveis e direito privado. Ligado à ideia de


Disponibilidade do processo na evolução recente da doutrina jurídica, o processo civil
tem por objeto na maioria dos casos, direitos disponíveis, nas quais as partes podem
dispor. As partes têm a disponibilidade sobre o processo civil.

Desdobramento do princípio do dispositivo

• Disponibilidade sobre a instância (é sinonimo de relação jurídica processual), a


instância tem por sujeitos não só as partes, mas também o demandante, o
demandado e as partes acessórias. O tribunal faz partes, mas não tem um
interesse no desfecho da causa. O elemento subjetivo da instância são os
sujeitos.
• o objeto divide-se em pedido e causa de pedido, o pedido corresponde as
concretas pretensões que são

50
Disponibilidade da instância:

• Instância
• Liberdade de decisão sobre a instauração do processo (art.º 3 nº 1) o ónus de
impulso processual.
• Constituição da instância (art.º 259 nº1). Surge porque alguém propõe no
tribunal uma ação contra o reu ou demandado.
• A perfeição da instância ocorre apenas com a citação do reu
• As partes podem suspender a instância (art.º 272 nº 4). Existência de outras
causas de suspensão da instância fora da disponibilidade das partes. A extinção
da instância pode resultar da vontade das partes, podem por termo àquela
relação jurídica processual.
• A desistência da instância (art.º 285 nº 2), é um negócio unilateral e puramente
processual em que o demandante desiste do processo e só releva para efeitos
do processo. Não tem nenhuma consequência em relação ao litígio. A desistência
da instância é livre até ao momento em que p reu apresente a sua contestação,
quando o reu o faz a desistência da instância depende do consentimento do
próprio reu.
• A desistência da instância também pode ocorrer através da autocomposiçao
pelas partes do objeto do litígio, as partes podem auto compor o litígio. Podem
ser unilaterais ou bilaterais (quando se trata v Negócios jurídicos unilaterais
o A desistência do pedido (art.º 283 nº 1 e 285º nº1) provem do autor,
pode desistir da pretensão. A desistência do pedido extingue o direito a
receber tal coisa. instância sujeitos (elemntos subjetivos) tribunla partes
objeto (elementos obejtivos) pedido causa de pedido Demandante
Demandado Partes acessórias
o A confissão do pedido (art.º 283 nº1) provém do reu, negócio jurídico
unilateral de autocomposição do litígio e depende do reu e do
demandate, é o reu a reconhecer a pretensão eu foi imposta contra si.
o A transação (bilateral):
▪ Artigo 1249º CC, contrato através do qual as partes terminam um
litígio (transação extrajudicial) mediante recíprocas conceções
▪ As partes podem transigir (art.º 283 nº 2)
▪ Há limites sob o objeto do litígio, só o podem transpor se o objeto
o Exceção art.º 289
• A submissão do litígio a tribunal arbitral (art.º 280)
• A conformação da instância
o Art.º 260

Disponibilidade dos factos

Princípio do dispositivo e a direção do processo pelo juiz

51
28/10/2021

A irrelevância do incumprimento das normas tributárias

Regularização do sistema fiscal: Durante muito tempo o código dizia que não se
podia invocar em tribunal factos se não tivesse cumpridas obrigações ficais.

1995/1996: Os direitos das partes não podiam estar limitados devido a falta de
incumprimento. O legislador introduz um novo regime do artigo 274º.

Artigo 274º: Passa a ser irrelevante o incumprimento de obrigações tributarias-


nº1; prevê dois tipo de situações: incumprimento relativamente a factos trazidos ao
processo e documento que estejam sujeitos a cumprimentos não tributados.

Exceção: salvo nos casos de transmissão de direitos operados no próprio


processo que estão sujeitas a taxas. Como é feito no próprio processo, é necessário o
pagamento.

O tribunal se verificar determinada parte deveria declarar um rendimento e não


paga temos o nº3. – Processo prossegue, mas a secretaria participa a legalidade
tributaria.

Documentos como meio de provas: vários tipos de contratos tinham de se pagar


os impostos de selo, já não existe muitos negócios que necessita de imposto de selo,
antes da reforma sem pagamento do imposto não era possível o documento como
prova. A nova reforma nº2 vem aceitar como meio de prova apesar de não ser cumprida
a obrigação fiscal.

25. Princípio do dispositivo

Disponibilidade de se tratar de direitos disponíveis. Disponibilidade sobre o


processo civil como um todo. Na maioria dos casos tem sobre objeto direitos
disponíveis. A ideia de disponibilidade dos direitos não é absoluta, como o caso dos
direitos de reconhecimento de paternidade, a ideia projeta-se na disponibilidade do
próprio processo.

a) Disponibilidade sobre a instância: (relação jurídica processual, tem por


sujeitos as partes (e pode ter sujeitos acessórios), mas também o tribunal sem ser parte
do litigio, não tem interesse do desfecho da causa. A relação não se esgota na dimensão
tripartida, ou seja, no elemento subjetivo da instância que são os sujeitos. Temos
também a dimensão do objeto, designado de elementos objetivo da instância.

52
O objeto divide-se:

Pedido: concretas pretensões que são deduzidas pelo tribunal.

Causa de pedido: fundamentação fáctica jurídica dos pedidos das pretensões


pedidas em tribuna

Exemplo: caso de uma ação que peço sobre uma responsabilidade civil
extracontratual de direito contratual, conduta ilícita, culposa, dano, nexo de
causalidade, tenho de fundamentar o pedido alegando todos os factos que ocorreram.

• Sem estes dois elementos a ação cessa de imediato. A instância se pode


suspender se as partes pretender, mas as partes tem o domínio da instancia.
• A configuração da instância com aquelas partes e tribunal é o resultado de uma
das partes, que é o demandante que decide meter uma ação num tribunal X
sobre uma pessoa X.
• Artigo 259º nº1: instância constituída: inicia-se com a propositura da ação e
inicia quando a ação é recebida ela outra parte. Nº2: só temos a perfeição da
instancia com a citação do reu, ate aí não sabe que foi proposta a ação ou os
fundamentos.- Ocorre a constituição das partes quando o reu sabe da ação.

Subsistência da instância: também esta na disponibilidade das partes, estas


podem suspender a instância – 272º nº4. As partes podem suspender a instância por
acordo, existe limites temporais.

Extinção da instância: pode resultar das vontades das partes. Ocorre em várias
circunstâncias: negócios processuais (podem dizer respeito a própria matéria do litigio
ou podem ser alheios ao objeto do litigio). A relação processual controvertida- questão
que se está a discutir.

Desistência da instância: Artigo 285º nº2 negócio unilateral e puramente


processual, o demandante desiste do processo, só releva para efeito do processo. O
autor pode desistir sem prestar argumentos até a contestação do reu, caso contrário
precisa do consentimento do réu. – Artigo 286 º tem de ser aceite pelo reu, assim vai
depender da vontade das partes, esta vontade tem por efeito cessar o processo sem
intervenção do tribunal.

53
Auto composição pelas partes do objeto do litígio: resulta dos negócios de auto
composição do litigio.

o Unilaterais temos da desistência do pedido que provem do autor ou


confissão do pedido proveniente do reu.
▪ Desistência do pedido: pode ser feito a qualquer altura, mas é um
negócio sobre o próprio litigio - Artigo 285º nº1 - desiste do
próprio direito que se revindicava em tribunal.
▪ Confissão do pedido: proveniente do demandado, o reu a
reconhecer a pretensão que contra si foi imposta. – Extingue o
processo
o Negócio bilateral: contrato de transação. Transação é o contrato do
artigo 1248º CC contrato através do qual as pates proveniente de um
litigio antes que ele surge ou as partes termina mediante reciprocas
concessões. Admissibilidade 283º nº2 através de transação judicial e
extrajudicial.

Limites: só podem dispor sobre o objeto se este dizer respeito a direitos


disponíveis – Artigo 289º nº1 e do 1249º

Exceção: nº2 o divorcio e a separação são direitos indisponíveis só é possível


verificando as causas previstas na lei. No entanto pode ser possível desistir em respeito
ao principio do favor matrimonni.

3. A submissão do litígio a tribunal arbitral: extingue o processo num tribunal


judicial, as partes preferem a decisão submetida a árbitros da sua escolha. – 280º-
vontade das partes.

4. Conformação da instância: Artigo 260º princípio da instabilidade da instancia,


Fica cristalizada quanto aos sujeitos e objetos e não pode ser mais modificada

- A modificação subjetiva da instância: tribunal que ocorrem quando o processo


proposto num tribunal que na ó tribunal com competência e desse permite-se que seja
transferido para o tribunal competente. É possível a intervenção de terceiros e ainda
pode haver substituição por terceiro em relação ao reu. – na intervenção mantem-se as
mesma partes, na substituição deixa de ser parte e o terceiro assume a posição.

- A modificação objetiva da instância: acordo das partes ou da vontade de uma


das partes ou ainda a reconvenção.

Temos o autor que deduz contra um reu um pedido ou causa de pedido.


Reconvenção: Instrumento processual que permite no âmbito de uma ação ao reu
deduzir um pedido contra o autor. Esta não é totalmente live. O objeto que
originalmente consistia apenas num pedido e causa de pedido vai alarga-se a um objeto
maior inclui um pedido de convencional e causa de convencional. A= autor-reconvindo-
------B= autor-reconvinte

b) Disponibilidade sobre os factos objeto da ação: as partes tem de alegar os


factos essenciais do pedido e que integram as exceções (meio de defesa). Os factos tem

54
de ser alegados pelas partes, factos essências que não tenham sido alegados pelas
partes o tribunal não pode fazer, só pode conhecer os factos que as partes alegaram-
artigo 5º. Ex.: responsabilidade civil extracontratual tenho de demostrar a conduta
ilícita, culposa….tenho de alegar factos que preencham estes requisitos de direito
substantivo, meto uma ação em tribunal e não alego os danos, o tribunal não pode
alegar pelas partes, se não for alegado pelas partes o tribunal não pode apreciar os
factos.

Exceções: Artigo 5º nº2 - Os factos não essenciais o tribunal pode conhecer


mesmo não convocados pelas partes.

Factos notórios: Artigo 412º nº1 são conhecidos por todos, logo não preciso de
provar. Ex.: que um ano tem 365 dias.

Factos de conhecimento funcional: Artigo 5º nº2 últimas partes

Factos relativos à simulação ou fraude processual: Artigo 612º abrange


situações em que o autor e o réu simularam um objetivo para obter um objetivo ilegal.

Factos instrumentais: Artigo 5º n2 a): conduzem outros factos, servem de


instrumento ao reconhecimento de outros factos. Tem de resultar da produção de
prova.

Factos complementares ou concretizadores dos factos essenciais: Artigo 5º nº2


b): factos que complementam os essenciais.

Factos da causa: Artigo 574º nº2: se o reu na colocar em causa os factos que o
autor alegou que esses factos consideram estabelecidos por acordo e depois não podem
ser excluídos, o tribunal é obrigado a aceitar.

Disponibilidade dos factos e disponibilidade dos meios de prova:

• Factos: parcelas da realidade que vão produzir efeitos jurídicos


• Meios de prova: instrumento dirigidos a demostrar que um facto ocorreu.
Princípio do inquisitório - Artigo 411º - em que é facto os lícitos a conhecer o juiz
pode determinar os meios de prova que ele pretender, não está vinculado aos
meios de prova alegados pelas partes.

Meios de prova:

• Artigo 436º - faculdade de ordenar oficiosamente a juncão de documentos


• Artigo 477/487º nº2 - faculdade de ordenar oficiosamente a realização de
perícias
• Artigo 490º nº1-
• Artigo 494º nº1
• Artigo 526º

55
Princípio do dispositivo e a direção do processo pelo juiz – Artigo 6º nº1:

Princípio jura novit curia:

• Se aplica aos factos, mas não se aplica a matéria de direto, ou seja,


argumentos de direito. Artigo 5 nº3.

Secção III. Princípios concretizadores dos direitos fundamental a um processo


equitativo

Princípio da Independência e da imparcialidade do tribunal:

• São conceitos afins


• Independência dos tribunais tem uma constitucionalidade expressa –
Artigo 203º CRP: apenas estão sujeitos a lei - Artigo 4º nº1 LOSJ-
independência o tribunal perante quaisquer outras autoridades.
o EXTERNA: não estão sujeitas a órgãos e instruções externas ao
sistema judicial
o INTERNAS: são independentes uns dos outros, não recebem
instruções de outros tribunais. Limites: Artigo 4º nº1 LOSJ
dever de obediência das decisões do tribunal superior.
• Para garantias da independência dos tribunais a constituição prevê
um conjunto de privilégios:
o Conselho superior da magistratura: independência no
recrutamento, nomeação, transferência e promoção dos
juízes. – os juízes dos tribunais elegem vogais que fazem parte
do conselho da magistratura – Artigo 218º CRP.
o Privilégios e imunidade dos juízes:
▪ A inamovibilidade dos juízes – Artigo 216º nº1 CRP
▪ A responsabilidade dos juízes – Artigo 216º nº2 CRP
(não ao responsáveis pelas decisões, desde que não
dolosas)
▪ A exclusividade dos juízes – Artigo 216º nº3 CRP (não
pode ter outra profissão)
▪ Os limites à saída da judicatura – Artigo 216º nº4 CRP
▪ Natureza funcional dos privilégios e imunidade dos
juízes

Imparcialidade dos tribunais: corresponde a uma ideia de equidistância, de


quem compõe o tribunal em relação as partes que constitui o processo e desinteresse
do desfecho do processo. Vale para o juiz em cada processo, logo é relativa.

56
29/10/2021

Artigo 115 c) do CPC – o juiz não pode ser juiz num processo em que ele já
interviu como mandatário ou em relação à qual ele já teve intervenção dando parecer
ou emitido pronúncia.

d) – o cônjuge do juiz é mandatário do processo. Tem que ser lida em conjugação


com o nº2, o impedimento não é absoluto, o impedimento so se verifica quando o
mandatário já era mandatário no processo e o juiz vem entrar posteriormente. Se o juiz
já era juiz naquele processo e depois houve troca do mandatário, pode ser cônjuge do
juiz, o mandatário não pode aceitar o mandato naquele processo.

e) – o juiz esta impedido nos termos desta alínea quando um juiz é chamada no
âmbito de decidir um recurso proferido contra uma decisão que ele próprio tinha
proferido. Exemplo: o juiz da comarca do porto julgou a causa, proferiu sentença,
entretanto em julho ele foi promovido à relação do porto, o recurso subiu à relação do
porto e calhou a este juiz para apreciar o recurso, aqui significa um impedimento

f) – situação idêntica à alínea anterior mas quando se trata de familiares ou afins


do juiz. Está em causa uma decisão proferida por algum dos familiares elencados no
artigo

g) – prevê-se impedimento quando o juiz seja parte na causa, abrange a situação


em que um juiz vai julgar um processo em que é parte alguém que noutro processo está
a demandar o juiz. So estão abrangidas as situações em que o 2º processo tem na base
factos praticados pelo juiz no exercício das suas funções, não abrange situações da vida
privada do juiz.

h) – quando o juiz tenha de depor ou tenha deposto como testemunha nesse


processo - Artigo 499 – se o juiz for indicado como testemunha tem de dizer que tem
conhecimento de factos relevantes para aquele processo, declara-se impedido, se não
tiver conhecimento de factos a indicação dele como testemunha não tem efeito.

Nenhuma destas alíneas abrange a situação de união de facto. Unido de facto


não é cônjuge, não é parente e não é afim do juiz.

i)– Colmata esta situação dizendo que o juiz esta impedido quando esteja na
situação das alíneas anteriores quando o juiz viva em união de facto. Quando há uma
situação destas num caso pratico temos de articular a alínea b) com remissão da alínea
i).

57
Os impedimentos são mais inflexíveis.

Artigo 116º nº1 – o juiz tem o dever de se declarar impedido. Alem disto as
partes podem também requerer ao juiz que se declare impedido. Em qualquer momento
do processo até que seja proferida sentença as partes podem requerer ao juiz que
declare impedimento.

Da decisão do juiz de indeferimento do requerimento das partes, desta decisão


há sempre recurso para o tribunal imediatamente superior – nº5 do artigo 116º. Mas so
da decisão negativa

Da decisão do juiz se declarar impedido não há recurso.

Declarado o impedimento (nº3) a causa passa ao juiz substituto.

Se esta decisão não for proferida, e vier a ser proferida sentença, este vicio fica
sanado.

Se o juiz não se tiver declarado impedido devendo fazê-lo isto constitui um vicio
processual, constitui uma nulidade processual secundaria.

Alem dos impedimentos como medidas da tutela da imparcialidade temos ainda


as escusas e as suspeições sendo certo que as escusas e as suspeições abrangem o
mesmo tipo de causas. Distinguem-se apenas consoante a sua proveniência, consoante
quem toma a sua iniciativa. O âmbito material, o tipo de situações a que se aplicam são
rigorosamente as mesmas. As escusas são da iniciativa do próprio juiz, o juiz pede para
ser escusado e as suspeições são da iniciativa das partes, pedem o afastamento do juiz.
O tipo de situações a que se aplicam uma e outra figura é exatamente a mesma.

Não é possível uma mesma situação ser simultaneamente causa de um


impedimento e causa de uma escusa ou suspeição. Ou é escusa/suspeição ou é
impedimento.

Suspeições e escusas:

A escusa é da iniciativa do juiz, o juiz quer ser afastado. Na suspeição as partes


querem afastar o juiz do processo.

Artigo 119º – o juiz não pode declarar-se suspeito mas pode pedir que seja
dispensado de intervir na causa quando se verifique algum dos casos previstos no artigo
seguintes (da suspeição). Há duas categorias de causas que podem determinar o pedido
de escusa do juiz. As causas típicas previstas expressamente na lei por remissão para o
artigo 120º e alem disso temos uma causa residual, uma espécie de clausula aberta
(parte final do artigo 119 nº1).

58
Artigo 119 nº1 - Nas escusas o juiz não se pode declarar suspeito. Não se pode
auto afastar do processo. Mas pode pedir para ser dispensado de intervir na causa. Ele
dirige um pedido mas não é ele que se afasta. Isto faz-se no artigo 119 nº2 – o pedido é
apresentado antes de proferido o 1º despacho ou antes da 1ª intervenção que ele tenha
no processo. Ultrapassado este prazo o juiz já não pode mais pedir escusa, a situação
fica sanada.

A quem é que o juiz pede a escusa? – artigo 119 nº3 – o pedido é dirigido ao
presidente da relação respetiva ou ao presidente do supremo tribunal de justiça se o
juiz pertencer a este tribunal. O pedido tem que identificar com precisão os factos que
o justificam. O presidente do tribunal recolhe as informações que lhe forem
convenientes e ouve se o entender conveniente as partes.

Nº5 – a decisão quanto ao pedido de escusa é tomada pelo presidente e é uma


decisão que não admite recurso.

Suspeições (artigo 120) – são um instrumento de tutela da imparcialidade da


iniciativa das partes.

Nº1 – temos aqui uma clausula aberta, qualquer motivo sério e grave que seja
suscetível de suscitar a desconfiança quanto à imparcialidade do juiz pode ser objeto de
um pedido de suspeição. Isto não existia no código anterior. O novo código criou esta
clausula aberta. Indica também uma serie de alíneas de causas típicas, expressamente
previstas de suspeição. Estas alíneas aplicam-se por remissão ao artigo 119 nº1.

59
04/11/2021

Continuação das suspeições:

Alinea a) - parentesco ou afinidade não compreendido no impedimento;

Alinea b) - cruzamento de processos, o juiz do processo averiguado , mas uma


das partes também é juiz de outro processo que o juiz do processo averiguado é parte,
cônjuge e outros;

Alinea c) - prevalece sempre o regime do impedimento;

Alinea d) - juiz ou parente ou afim em linha reta for credor ou devedor de alguma
cas partes; o juiz não tem interesse económico se a ação for improcedente ou não, mas
tem ingresse juridico que a ação seja favorável para umas das partes. Ex.: juiz socio de
uma associação que é parte na causa;

Alinea e) - se o juiz for patrão de alguma das partes, donatário, herdeiro


presumido (só é herdeiro quando a outra pessoa morre) ou produtor (atualmente
acompanhante de menor), acompanhante de maior não está previsto porque está no
regime dos impedimentos artigo 115º nº1 a). – membro de direção ou associações de
qualquer pessoa coletiva;

Alinea f) - juiz recebe dadivas por causa do processo, antes ou depois deste (são
as fraudes); juiz contribuiu para as despesas do processo de uma das partes, se essa
parte calhar ao juiz não é possível ele julgar;

Aliena g) - juiz em relação com as partes ou mandatários (advogados), tanto


amizade como inimizade;

Se o juiz pediu escusa e o pedido não foi aceite pelo presidente da relação
respetiva a suspensão só pode ser oposta por fundamentou daquele que o juiz deu.

Artigo 120º: não se pode fazer a mesma extensão de efeito relativo a união de
factos, tal não é aceite neste artigo.

Artigo 121º: prazo para a dedução da suspeição é a partir do momento que a


parte toma conhecimento do juiz em causa. – Remissão para Artigo 149º - 10 dias do
prazo. Se no fizer fica sanada a suspeição.

Artigo 122º: o juiz responde sobre os fundamentos, sem resposta é assumido


como confissão; se for necessário ouvir testemunhas ou requerer documentos o juiz
recusado não pode ser ele a presidir a essas diligencias - artigo 122º nº2- o juiz é
atribuído ao substituto.

Artigo 123º: o presidente decide se é procedente ou improcedente. - Efeitos da


pendencias do incidente da suspeição: a causa principal segue os seus termos, mas não
pode intervir o juiz que foi deduzida a suspensão então intervém na causa o juiz
substituto. – Artigo 125º.

60
Decisão de procedência da suspeição: artigo 126º- passa de substituto a juiz
efetivo. Se a escusa ou suspeição não for atendida o juiz intervém no processo e não o
substituto.

27. Princípio do contraditório - artigo 3 nº3 do CPC

Direito fundamental a um processo equitativo - Artigo 20º º4 CRP - o seu regime


está no artigo 3º nº3 CPC.

Duas noções:

• Mais clássica: direito que as partes têm de se pronunciar a cerca das


provas e questões do tribunal antes de este tomar uma decisão; o
tribunal antes de uma decisão tem de ouvir as partes.
• Ampla: corresponde a um verdadeiro direito que as partes têm de
influenciar para decisão do tribunal. Esta influência é ter uma
participação proactiva no processo.

Contraditório contra os factos da causa: princípio do dispositivo, que vem dizer


que as partes é que tem de alegar os factos essenciais relativa a causa de pedido e
exceções invocadas- artigo 5º nº1. O contraditório é assegurado pelos articulados que
são as peças na fase inicial do processo. – Exemplo: petição inicial, replica. – existe
omento que não ocorre articulado - artigo 3º nº4 - as exceções do ultimo articulado a
parte pode faze-lo na audiência previa, caso não exista é na audiência final.

Artigo 3º: mesmo que seja matéria que é decisão das partes e não tem de estar
vinculadas as partes, ele tem de ouvir as partes - princípio da proibição de decisão
supressa.

Meios de prova: Artigo 415º nº1 - vem dizer que as provas têm de ser produzidas
no processo e tem de ser produzidas com uma audiência contraditória da outra parte.
Artigo 415º nº2 - provas pré constituídas, já existiam antes do processo, as partes devem
provar validade.

Julgamento da causa: 2 momentos

• Alegações finais: artigo 604º nº3 - quer factos do processo e direito


aplicável ao processo
• Principio da proibição das decisões surpresa

Princípio do contraditório não é absoluto. Pode ser dispensado se for


manifestamente desnecessário, se não houver nenhum interesse útil. – artigo 3º nº3 e
201º CPC.

Qual a consequência quando o tribunal poe em causa o contraditório?


Nulidade processual ou nulidade de sentença? A violação constitui uma nulidade
processual, arguida como nulidade processual secundaria.

61
Princípio da igualdade:

Processo equitativo. No PC dá também a doação ao princípio constitucional da


igualdade Artigo 13º CRP, este vale para todo o ordenamento jurídico.

Está vertido no Artigo 4º CPC – igualdade das partes- a igualdade deve ser
substancial. Se dou uma parte a responder a um alegacão tem de dar à outra. - Dimensão
programática.

Traduz-se numa ideia de igualdade de armas: as partes têm de estar numa


paridade de meios e instrumentos e formas de intervir no processo.

Problema do ministério publico e a sua posição processual, pois intervém no


processo civil. Este por vezes é chamado para o processo como terceiro imparcial. Por
vezes tem privilégios que choca com o princípio da igualdade.

Princípio da publicidade:

Processo equitativo. Princípio que tem base constitucional direta, mas


constitucional.

Publicidade do processo: Artigo 163º CPC - processo civil é publico, tudo o que
consta do processo é publico. Não existe processos confidenciais. Faz parte do estado
de direito. Nº2: conteúdo: consulta e exame do processo e obter copia ou certidão de
qualquer peça incorporada no processo.

Passagem de certidões: Artigo 170 +171º CPC. A publicidade tem graus. Quem
pode obter certidões são as partes, qualquer parte pode obter no seu próprio processo
copias e certidões. - Quem pode exercer alem das partes? qualquer advogado pode
adquirir copias ou certidões. – Qualquer particular pode pedi mas tem de ter um
interesse atendido. --- E se quiser obter sem justificar? Vou a um advogado, pago a
consulta e este vai buscar as copias ou certidões.

Artigo 606º nº1: publicidade da audiência final.

Audiência previas: o CPC não expressa, por isso presumimos publicas.

62
Princípio da cooperação:

Artigo 7º CPC: Estabelece a regra que as partes devem cooperar para que o
processo corra bem.

Cooperação formal: os comportamentos das partes e a necessidade de regras


para uma saudável convivência - artigo 9º.

Cooperação material: subdimensiones:

a) Cooperação do tribunal com as partes - Artigos 6º nº2 o dever imposto ao


tribunal pra tomar a iniciativa de suprir processos processuais suscetível de sanação. –
Artigo 7º nº2 sempre que for necessário ouvir as partes pode convidar para prestar
auxilio ao processo. O tribunal tem o dever sempre que identificar diligencias que se
afigurem e podem resultar em matéria útil para a verdade material. – nº4 prevê aas
partes que tenham dificuldade de obter documentos para o processo, podem solicitar a
cooperação do tribunal.

b) Cooperação das partes com o tribunal - Artigo 417º as partes têm o dever de
cooperar para a descoberta da verdade. Este dever de cooperação tem como corolado
um dever de boa-fé processual artigo 8º, isto é, devem agir no processo de boa-fé e
devem observar o dever de cooperação.

Litigante de má-fé a parte que esta no processo sem observar o dever de


cooperação artigo 545º nº2, existe dois elementos: objetivo (alíneas) e subjetiva- dolo
ou má-fé não constitui litigância de má fé atuação meramente negligente. Quem litigar
de má-fé é condenado em multa processual civil e indemnização se a parte contrária
pedir. A multa, regulamento das custas processuais artigo 27º nº3 – se nas normas não
tiver fixado a multa, aplicamos o artigo 27º nº3. Por vezes a má-fé é por parte do
advogado, logo artigo 545º o tribunal não pode aplicar sanções os mandatários, não tem
poder sancionatório dos advogados, pode se verificar que a parte que lev a multa, mas
não foi responsável e sim o advogado participa á ordem dos advogados e essa é quem
decide se deve aplicar sanção disciplinar e ate satisfazer a multa da parte.

Taxa sancionatória excecional: Artigo 531º visa abranger o tipo de situações que
são meramente negligentes. Montante da taxa artigo 10º RCP- 2 UC a 15 UC. Qual a sua
natureza? Saber se é um tributo ou se é uma sanção processual. Professor não classifica
como figura tributaria- artigo 27º RCP.

c) A cooperação dos intervenientes acidentais: todos estão obrigados a


cooperar, contudo no é absoluta, pode escusar-se do seu dever de cooperação - artigo
417º nº3 - eu testemunha ou parte não sou obrigado a cooperar se essa exigência
implicar uma violação da integridade física ou moral. Violação do dever de cooperar-
Artigo 417º nº2 tem de pagar 0,5 a 5 UC.

Artigo 508º nº4: deveres funcionais de testemunhas: quem sem justificação


faltou ordena que compareça sobre custodia e com multa, para os peritos - Artigo 469º.

63
Princípio da duração razoável do processo:

Está no artigo 2º nº1 prevê a duração razoável, não deve eternizar- plano
ordinário- rejeita a ideia dos processos eternizar nos tribunais

Base no artigo 2º nº4 CRP e 6º CEDH

Subprincípios:

Princípio da economia processual:

• Economia de processos: a justiça deve procurar dirimir o maior número


de litígio no menor número de processos. Concretizada com a figura da
coligação e o litisconsórcio permitem que varias partes intervêm na
mesma ação e a reconvenção, em vez do reu propor no mesmo tribunal
uma ação contra aquele autor passando a ter no mesmo processo.
Apensação de ações vários processos podem ser reunidos e tratados ao
mesmo tempo basta ter uma ligação entre si, mas cada um tem a sua
autonomia processual.
• Economia de atos processuais: economizar os processos.
o Princípio da adequação formal: Artigo 547º manifestação da
economia de atos processuais porque permite o juiz adotar uma
tramitação conveniente e evitar atos dispensáveis.
o Simplificação forma dos atos processuais: Artigo 131º- os atos
devem ter a forma mais simplificada que se adeque a necessidade
que se quer atingir.
o Proibição da prática de atos inúteis: Artigo 130º
• Tramitação eletrónica do processo: Artigo 132º - plataforma Citius.

Princípio da prossecução de uma decisão de mérito:

Artigo 6º nº2 – dimensão mais limitada do próximo princípio – o juiz deve


oficiosamente sanar os vícios processuais que podem ser sanáveis.

Princípio pro actione: artigo 7º CPTA

Princípio do patrocínio forense

Artigo 208º CRP - passou a reconhecer este princípio como elemento essencial a
administração da justiça. Falamos de advogados e de outros.

Liberdade de constituição de mandatário forense: qualquer parte tem a


liberdade de constituir um advogado que seja parte – artigo 40º CPC - em certas
circunstâncias é obrigatório advogado. Artigo 42º - Situações em que não é necessário
advogado, mas podem constituir advogado por vontade livre. Qualquer interveniente
processual pode fazer-se acompanhar por advogados por exemplo testemunhas.

Garantias do exercício do mandato forense: assegurar este princípio. Os


mandatários não estão sujeitos ao poder disciplinar o tribunal.

64
Princípio da preclusão

Artigo 139º nº3: sempre que a lei estabelece um prazo para as partes praticarem
um ato esse decurso extingue o direito a prática do ato. O ato não volta a poder ser
praticado depois de sanado o prazo.

Ato praticado fora do prazo não é admitido – Artigo 160º nº2.

Artigo 573º nº1 e 574º contestação do reu

Revelia 566º: absoluta – quando o reu não tem nenhuma intervenção no


processo; relativa quando o reu no tendo apresentado contestação ainda assim teve
intervenção no processo, constituiu advogado, tomou conhecimento da ação, se não
prestação contestação deve ser um erro dele ou abstenção.

Revelia operante: efeito cominatório semipleno – Artigo 567º nº1 – se o reu não
contesta o efeito diz que se considera confessados os factos que o autor operou.

Artigo 574º nº2 - falta da impugnação especificada

Princípio da acessibilidade da linguagem judiciaria

Artigo 9 -A: linguagem simples e clara, mas rigorosa no aspeto jurídico.

65
11/11/2021

Caso prático:

Em 15 de janeiro de 2020, António, senhorio, celebrou com Carlos um contrato de


arrendamento, pela renda mensal de 250 euros, referente uma fração habitacional
de um edifício sito no Porto, com valor patrimonial de 70 mil euros e que António
tinha comprado pelo preço de 180 mil euros, Carlos pretendia destinar a fração para
a sua futura residência conjugal uma vez que se iria casar no final de março com
Eduarda. Sucede que, logo, em fevereiro de 2020, se deu conta de que a sala da
fração era pouco espaçosa, sem autorização do senhorio, iniciou a demolição de
várias paredes interiores de maneira a aumentar a respetiva área, tendo deixado de
efetuar o pagamento de duas rendas em virtude das elevadas despesas que teve
com a realização das obras. Assim que tomou conhecimento das obras, em maio de
2020, António confrontou Carlos na escadaria do edifico. Carlos, surpreendido,
ripostou que António era “um senhorio da bosta” e que “se aproveita de pessoas
indefesas para as aldrabar alugando-lhe casas sem condições mínimas de
habitabilidade”. Na sequencia destes factos, em junho de 2020 António propôs
contra Carlos uma ação judicial peticionando a resolução do contrato de
arrendamento com fundamento na realização de obras ilícitas pelo arrendatário, a
condenação deste no pagamento das rendas já vencidas e não pagas no valor de 750
euros, pagamento das rendas que se vencerem durante a pendencia da ação, no
pagamento de uma indeminização no valor de 1200 euros correspondente aos anos
que as obras ilícitas de Carlos causaram na fração e no pagamento de uma
indemnização no valor de 15 mil, a titulo de responsabilidade civil extracontratual
decorrente afirmações injuriosas e difamatórias proferidas por Carlos em maio de
2020.

A) Qual o valor da ação que António deverá propor?

A toda a ação deve ser atribuída um valor certo em euros - Artigo 296º nº1 que
deve representar a utilidade económica imediata do pedido e fins de custas judiciais,
logo a taxa de justiça. O valor da causa é apurado pelo valor da causa do pedido – Artigo
297º acrescenta que se deve apurar a quantia monetária que equivale ao benefício –
Artigo 297º nº1. As pretensões inicias é uma ação de despejo, responsabilidade civil
extracontratual. Duas pretensões atender. Artigo 297º nº1 e 2 indemnização valor e 15
mil euros, pedido de despejo artigo 298º nº1 somar o valor de dois anos e meios + a
indemnização + rendas em divida (rendas sucessivas Artigo 297º nº2 os interesses
sucessivos não se atendem) = 7 500+ 1200 + 750 (corta porque é o valor menor entre as
rendas e a indeminização) = 8700 + 15 000= 23 700 euros.

66
B) Admite que a ação proposta por António foi distribuída a Bernardo, juiz no
tribunal, o qual habita em confeções análogas as dos cônjuges com Francisca,
sobrinha de António. Que instrumentos processuais, se é que algum, podem ser
invocados neste caso para garantir a imparcialidade do juiz da causa?

Esta em causa o princípio da imparcialidade que consiste numa avaliação em


concreto, depende de cada processo, equidistância do tribunal em relação às partes e
falta de interesse do desfecho final do processo – artigo 20º nº 4 CRP - processo
equitativo exige também um tribunal imparcial. Resulta ainda artigo 6 da CEDH fala
também de um processo equitativo, logo imparcial. Em abstrato o direito processo civil
tem três instrumentos de garantias de imparcialidade que são os impedimentos, escusas
e suspeições. Francisca e António são parentes no 3 grau da linha colateral, Bernardo
não tem afinidade porque esta com Francisca por união de facto. Artigo 115º nº1 b)
Bernardo não tem parentesco nem afinidade com António. Remissão para a alínea I, mas
não estaria coberto porque vai até ao 2 grau da linha reta. – Artigo 120º a) também não
é preenchido porque não há parentesco, nem união de facto.

Qual o instrumento? Escusas e suspeições – Artigo 120º nº1 clausulas gerais e


abertas + Artigo 119º nº1 o juiz pode pedir escusa se considerar que esta numa
circunstância que pode suspeitar-se a imparcialidade. Tem de ser para o presidente do
tribunal das escusas que o juiz vai pedir escusa. Artigo 125º o processo continua pelo
juiz substituto. Quer as suspeição, quer as escusas tem prazo e 10 dias - Artigo 149º se
passar o juiz vai julgar o processo.

C) Suponha que depois da proposta a ação no tribunal judicial da comarca do porto,


em 1 de setembro de 2020 entra em vigor a Lei nº 999/2020 nos termos da qual
todos os litígios relativos a arrendamento de prédios urbanos passam a ser da
competência de um único tribunal, denominado tribunal central do arrendamento
urbano, com sede em Viseu. Quid iuris?

Aplicação da lei processual civil no tempo. Em 1 de junho interpõe uma ação, em


1 de setembro entra uma nova lei. Artigo 38 nº2 da LOSJ a competência dos tribunais
fixa-se no momento em que a ação se propõe nº1, nº2 exceções se a lei nova não aboliu
tribunal antigo, nem a mudança de competência de tribunais. Exceções não são
aplicadas. Temos a regra geral a entrada em vigor não afeta a competência para julgar
a causa, que continua a ser do tribunal da comarca do porto.

67
PARTE II

NOÇÃO DE PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

Requisitos processuais e formais que tem de estar preenchidos no concreto


processo para que o poder dever de decisão sobre o mérito da causa, de dirimir aquele
litígio, mas esse poder de ver só existe se tiver preenchidos os tais requisitos formais.

• Requisitos cujo preenchimento se revela necessário e indispensável


para que o poder dever de decisão (sobre a questão de fundo ou o
mérito da causa) que impende sobre o tribunal possa ser desencadeado,
sob pena de extinção da instância (por absolvição do réu da instância).
• Se os requisitos não tiverem preenchidos o tribunal não pode dirimir o
litígio tendo como solução a extinção da instância.

Distinção de figuras afins:

a) Condições de existência de ação

Corresponde a condições que tem de estar preenchidas para que uma instância
possa existir juridicamente. As condições para que a instância se considere constituída
e a propositura da causa pelo autor. Para existir precisa de um ator que a proponha
perante um reu.

Princípio da instância diz que a constituição da iniciativa processual depende da


iniciativa das partes, o principio do dispositivo diz que esta nas partes a sua continuação
embora com exceções. Eficácia da propositura da ação quanto ao demandado só é
possível através da citação dada ao reu, a ação só existe verdadeiramente a partir da
citação ao réu - artigo 259º nº1 e 2 CPC

b) Condições da validade da ação

Condições que tem de estar preenchidas para que a instância seja valida
juridicamente.

Única causa de invalidade é a chamada nulidade de todo o processo - artigo 186º


nº1 CPC.

Vicio que afeta toda a validade da instância

68
c) Condições de procedência da ação

Condições que tem de estar preenchidos pra que uma ação possa ser julgada
procedente, para que seja reconhecida a ação do autor e decretado os pedidos que ele
deduziu.

Requisitos materiais substâncias para que o tribunal ao reconhecer o mérito da


causa possa dar razão au autor e considerar ação procedente.

1º. Condições de existência;

2º. condições de validade da ação,

3º. condições de exigência da ação

4º. condições de ação

PRESSUPOSTOS DE ATOS PROCESSUAIS

Artigo 584º

São requisitos que tem de estar preenchidos para que se possa realizar um
determinado tipo de ato processual.

QUESTÕES PREJUDICIAIS:

Devem ser conhecidas antes do tribunal apreciar a questão de fundo ou o mérito


de uma determinada questão jurídica processual, prejudicial porque a decisão dada
influência a solução que terá de ser dada a questão de fundo do litígio - Artigo 272º nº1

Exemplo: Reenvio prejudicial para o tribunal de justiça da Uniam europeia: só o


tribunal de justiça pode apreciar a validade dos atos do direito europeia.

QUESTÕES INCIDENTAIS

Artigo 7º nº8 RCP: todas as ocorrências estranhas ao ritualismo processual


designamos de incidentes. Quando ocorre um incidente o legislador diz que é necessário
pagar por ele, condenado em custas.

Tudo ao que escape ao normal procedimento é um incidente processual. Tem de


ser decidido pelo tribunal.

69
CLASSIFICAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS:

A. Pressupostos processuais relativos aos sujeitos processuais e pressupostos


processuais relativos ao objeto

• Pressupostos processuais relativos ao tribunal- requisitos formais que


tem de ser verificado no tribunal. Exemplo: competência
• Pressupostos processuais relativos às partes - tem de se verificar ao
autor e reu Exemplo: personalidade judiciaria

Pressupostos processuais relativos ao objeto - tem de se verificar em relação ao


objeto da instância que é o pedido e a causa do pedido.

B. Pressupostos processuais positivos e pressupostos processuais negativos

• Positivos – requisito tem de ser preenchido pela positiva, a realidade


concreta ao pressuposto processual tem de existir no processo.
• Negativos – preenchem-se pela negativa, o requisito está preenchido
quando a realidade subjacente está ausente. Exemplo: caso da
litispendência

C. Pressupostos processuais nominados e pressupostos processuais


inominados

• Nominados ou típicos - quando esta expresso na lei


• Inominado ou atípico – quando a lei não prevê expressamente, mas
decorre de uma construção processual jurisprudência ou doutrinaria

D. Pressupostos processuais do conhecimento oficioso e pressupostos


processuais dependentes de invocação- critério do conhecimento

• Pressupostos processuais do conhecimento oficioso do tribunal -


quando o tribunal pode apreciar a sua verificação mesmo que nenhuma
das partes tenha invocado essa questão
• Pressupostos processuais dependentes de invocação das partes- só
pode verificar se estão preenchidos se isso foi invocado por uma das
partes.

70
CAPÍTULO II

PERSONALIDADE JUDICIÁRIA A PERSONALIDADE JUDICIARIA

Pressuposto relativo as partes, positivo, conhecimento oficioso e típico e


nominado.

Artigo 11º CPC: ter personalidade consiste na aptidão para ser parte de um
processo cível e judicial; - Noção de parte: corresponde ao sujeito da relação jurídica
processual que tem um interesse no desfecho da causa.

Figura especifica do processo civil – artigo 11º nº2 personalidade judiciaria é


inerente a personalidade judiciária, quem tem personalidade jurídica tem personalidade
judiciária.

CRITÉRIOS DE ATRIBUIÇÃO DA PERSONALIDADE JUDICIARIA

Artigo 11º nº2- regra geral

Personalidade jurídica das pessoas singulares – artigo 66º nº1 CC

Pessoas coletivas também tem personalidade jurídica:

• Associações e fundações – artigo 158º CC


• Sociedades comerciais – tem personalidade jurídica pelo registo
Definitivo do contrato de sociedade que se constituem – artigo 5 CSC
• Cooperativas - artigo 16º do CCoop. - pacto celebrado entre
cooperadores e com registo definitivo fica adquirida a personalidade
jurídica
• Pessoas eclesiásticas
• Pessoas coletivas de direito publico Territorial- art 227º nº1 + 235º nº2
• Institutos públicos: Lei nº3/2004
• Entidades publicas empresariais
• Entidades reguladoras
• Entidades e organismos públicos tem personalidade pelo próprio
regulamento
• Estado tem personalidade jurídica por direito próprio
• Pessoas coletivas de direito internacional - como a UE tem
personalidade jurídica reconhecida pelo contrato que as criou
• Pessoas coletivas de direto estrangeiro - desde que seja por tratados
internacionais ou alguma norma do nosso ordenamento jurídico

71
A ATRIBUIÇÃO DE PERSONALIDADE JUDICIÁRIA A ENTES DESPROVIDOS DE
PERSONALIDADE JURÍDICA

Artigo 11º nº2: todos que tem personalidade jurídica tem personalidade
judiciaria. O legislador estende a personalidade judiciaria a entes e organismos que não
dispõe de personalidade jurídica, mas aos quais o ordenamento reconhece
personalidade judiciaria- artigo 12º CPC. Exemplos:

1. Herança jacente e outros patrimónios autónomos sem titular determinado.

• Herança jacente: artigo 2046º: herança que ainda não foi aceite
pelos herdeiros, por isso não tem titulares. Não tem
personalidade jurídica, mas tem personalidade judiciaria. Pode
ser interposta ações contra a herança jacente. Depois de ser
aceite não gosta de personalidade judiciaria.
• Outros patrimónios autónomos que não tem titulares, mas são
sujeitos de relações económicos, por isso é pratico que seja
conhecido personalidade judiciaria.

2. Associações sem personalidade jurídica- artigo 198º nº3 CC

3. Comissões especiais: comissões criadas para criar uma convenção, festas


paroquiais – artigo 159º e 199º CC

4. Sociedades civis sobre forma civil: criadas nos termos do código civil, não tem
personalidade jurídica- artigo 980º CC

Sociedades comerciais: anteriormente ao registo definitivo do contrato de


Sociedade- antes do registo apenas tem personalidade judiciaria, depois do registo tem
personalidade jurídica – sociedades irregulares (já tem uma existência no mundo real,
mas ainda não tem personalidade jurídica.

Condomínio – artigo 1436º CC

Navios: devido ao comércio internacional, art. 28.º do Dec. Lei n.º 352/86.

A personalidade judiciária das sucursais, agências, delegações ou


representações de pessoas coletivas:

• artigo 13º sucursais;


• artigo 13º nº2 sucursais relativa a factos praticados por pessoa
coletiva estrangeira;

72
CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE PERSONALIDADE JUDICIARIA

A falta de personalidade judiciaria é insanável, não pode suprir a falta e


personalidade judiciaria. Tal não pode confundida com o erro na identificação da parte;

Exceções:

A) Sanação da falta de personalidade judiciária das sucursais (art. 14.º).

• Sociedades de facto: 3 momentos


▪ Sociedade perfeita
▪ Sociedade irregular
▪ Sociedade de facto (antes do contrato da sociedade) – não
tem personalidades, não pode demandar, nem ser
demandada

B) A outorga superveniente do contrato de sociedade (art. 36.º do CSC).

Pressupostos de atos processuais – certos atos processuais que podem ser


praticados ao longo do processo exigem a verificação de certos requisitos em os quais o
ato não pode ser praticado. Exemplo: replica, prevista no artigo 584 do CPC – a
existência de reconvenção é um pressuposto para a prática do ato processual replica.
São requisitos que tem de estar preenchidos para se praticar um determinado ato. São
relativos a todo o processo e que determinam que o processo pode ou não prosseguir.
Enquanto os pressupostos de atos processuais são requisitos para que se possa praticar
no ato processo um determinado ato. Dizem respeito a atos processuais determinados
que se praticam ao longo da vida de um processo.

Questões prejudiciais – são questões que devem ser conhecidas antes do


tribunal apreciar a questão de fundo ou o mérito de uma determinada relação jurídica
processual. Questões decididas previamente ao objeto do litígio. São prejudiciais porque
a solução que lhes for dada determina a solução que terá de ser dada à questão de fundo
do litígio.

Exemplo: artigo 272 nº1 do CPC – se a decisão a dar a um processo estiver


dependente da decisão de um outro processo chamamos a isso uma questão prejudicial.

Questões incidentais – ou incidentes processuais – conceito que nao está


expressamente previsto no CPC, mas esta definido no regulamento das custas
processuais no artigo 7 do RCP – tudo o que escape ao que o legislador formulou é um
incidente processual, tem que ser decidido pelo tribunal.

73
Pressupostos processuais:

Pressupostos processuais positivos e negativos – critério do modo como o


requisito que está subjacente se preenche – pressuposto positivo quando o requisito se
tem de preencher pela afirmativa, o pressuposto tem de existir, é necessário que a
realidade subjacente tem de existir no processo; os negativos preenchem-se pela
negativo, o requisito está preenchido quando a realidade que esta subjacente está
ausente daquela relação jurídica processual, caso dos pressupostos processuais da
litispendência e do caso julgado, preenchem-se se não existir a litispendência e se não
existir caso julgado.

Regime jurídico que regula os pressupostos processuais

Pressupostos nominados – é típico, está expressamente previsto na lei

Pressupostos inominados – é atípico, quando a lei não o prevê expressamente

Isto tem a haver com a tipicidade, típico quando o seu regime jurídico está
traçado pelo seu legislador, dizemos que é atípico quando o seu regime jurídico não está
ditado pelo legislador, resulta de uma construção jurisprudencial ou doutrinaria.

Pressupostos processuais do conhecimento oficioso – quando o tribunal pode


apreciar a sua verificação mesmo que nenhuma das partes tenha invocado essa questão,
o tribunal pode por sua iniciativa averiguar se aquele pressuposto está ou não
preenchido.

Pressupostos dependentes de invocação – pressupostos que o tribunal só pode


verificar s estão preenchidos se isso for invocado por algumas das partes. A parte que a
lei diz que pode invocar é o reu normalmente. O tribunal só pode averiguar se o
pressuposto está preenchido se uma das partes invocar que o pressuposto não está
preenchido. Se nenhuma das partes fizer essa intervenção o tribunal está impedido de
apreciar.

Averiguação de cada um dos pressupostos:

Personalidade judiciária – neste caso é um pressuposto relativo às partes,


pressuposto positivo, pressuposto de conhecimento oficioso, típico e nominado. Este
conceito está previsto no artigo 11 do CPC. Ter personalidade judiciaria consiste na
aptidão para ser parte num processo cível e em geral processual. Quando dizemos parte
queremos dizer quer parte principal quer a parte acessória. As partes são sujeitos que
têm um interesse no desfecho da causa. Tem algo a ganhar ou a perder na decisão
proferida. É uma figura especifica de direito processual e, portanto, é um conceito
puramente adjetivo no sentido de que não é uma figura de direito material, substantivo,
não existe no direito das obrigações etc. existe apenas e só no direito processual. A
personalidade judiciária é inerente à personalidade jurídica. Quem tiver personalidade
jurídica tem também personalidade judiciaria.

O legislador estende a atribuição de personalidade judiciaria também a entes


que não disponham personalidade jurídica.

74
12/11/2021

Pressuposto da capacidade judiciária: A capacidade judiciária está prevista no


artigo 15 nº1 do CPC – é a aptidão para alguém estar no processo por si só, para auto
conduzir a sua participação num processo. Da mesma forma que a personalidade
judiciaria está para a personalidade jurídica, a capacidade judiciária está também para
a capacidade de exercício de direitos que existe no direito material, substantivo, direito
civil. A capacidade judiciária está no âmbito processual (artigo 15 nº2 do CPC). A
menoridade é uma incapacidade. Também encontramos incapacidades no
acompanhamento de maiores. O maior tem que ter um representante designado que o
vai representar. O acompanhante é legal representante daquele maior. Também pode
existir incapacidade no regime de acompanhamento de maiores em que o maior
acompanhado mantém gestão da sua vida pessoal, mas não do seu património. Há uma
situação adicional que está prevista no artigo 20 do CPC. Nos casos em que se tenha de
citar uma pessoa que se verifique que por anomalia psíquica ou outro problema não
esta em condições de gerir o seu património ou compreender a sua participação no
processo aquela citação não se pode realizar, a pessoa não pode participar no processo.

Incapacidade judiciária dos menores – é no momento que se completa 18 anos


que cessa a menoridade. Outra situação em que é possível cessar a menoridade que é
no caso da emancipação (artigo 132 e 133 do CC) – o menor maior de 16 anos e contrair
casamento com autorização dos pais ou suprimento da falta de autorização dos pais fica
emancipado e passa a poder reger a sua pessoa e os seus bens. Isto não se verifica no
caso do casamento de menores que 16 anos que contraiam casamento sem autorização
dos pais. No caso dos menores, a sua incapacidade é suprida pelos poderes de
representação parental. A incapacidade de exercício dos menores não é total porque ela
compreende algumas exceções do artigo 127 do CC – reconhece capacidade de exercício
aos menores em certas circunstâncias – o menor que já completou 16 anos pode dispor
livremente dos rendimentos do seu trabalho se exercer uma atividade profissional.
Tendo capacidade de exercício tem também capacidade judiciária em relação a esses
atos. A alínea b) abarca qualquer menor de qualquer idade desde que sejam despesas
de pequena importância. C) – aqui abrange-se aquele tipo de situações em que um
menor exerce uma profissão por conta própria e que precisa de praticar os negócios
jurídicos próprios dessa atividade, aqui não há limite mínimo etário.

75
Artigos Complementares

Capacidade judiciaria

Artigo 15º nº1 do CPC (A capacidade judiciária consiste na suscetibilidade de


estar, por si, em juízo)

É a aptidão para alguém estar no processo por sí só, para auto conduzir a sua
participação no processo, pode gerir a sua participação no processo.

Está para a capacidade de exercício de direitos.

Artigo 15º nº2 do CPC (A capacidade judiciária tem por base e por medida a
capacidade do exercício de direitos) tem na sua base e na mesma medida a capacidade
de exercício de direitos.

Quem não tiver capacidade de exercício de direito não tem capacidade judiciaria.
Os incapazes não a têm.

Incapacidade por menoridade:

Artigo 123º do CC (Salvo disposição em contrário, os menores carecem de


capacidade para o exercício de direitos)

Artigo 122º do CC (É menor quem não tiver ainda completado dezoito anos de
idade)

Artigo 145º nº2 alínea b) e c) do CC (Em função de cada caso e


independentemente do que haja sido pedido, o tribunal pode cometer ao
acompanhante algum ou alguns dos regimes seguintes: Representação geral ou
representação especial com indicação expressa, neste caso, das categorias de atos para
que seja necessária; Administração total ou parcial de bens)

Artigo 130º do CC (Aquele que perfizer dezoito anos de idade adquire plena
capacidade de exercício de direitos, ficando habilitado a reger a sua pessoa e a dispor
dos seus bens)

Artigo 132º do CC (O menor é, de pleno direito, emancipado pelo casamento)

Artigo 133º do CC (A emancipação atribui ao menor plena capacidade de


exercício de direitos, habilitando-o a reger a sua pessoa e a dispor livremente dos seus
bens como se fosse maior, salvo o disposto no artigo 1649.º)

76
Artigo 1831.º - CC

(Renascimento da presunção de paternidade)

1. Quando o início do período legal da concepção seja anterior ao trânsito em


julgado da sentença proferida nas acções a que se referem as alíneas a) e b) do n.º 2 do
artigo 1829.º, renasce a presunção de paternidade se, em acção intentada por um dos
cônjuges ou pelo filho, se provar que no período legal da concepção existiram relações
entre os cônjuges que tornam verosímil a paternidade do marido ou que o filho, na
ocasião do nascimento, beneficiou de posse de estado relativamente a ambos os
cônjuges.

2. Existe posse de estado relativamente a ambos os cônjuges quando se


verifiquem, cumulativamente, os seguintes requisitos:

a) Ser a pessoa reputada e tratada como filho por ambos os cônjuges;

b) Ser reputada como tal nas relações sociais, especialmente nas respectivas
famílias.

3. Se existir perfilhação, na acção a que se refere o n.º 1, deve ser igualmente


demandado o perfilhante.

Artigo 1921.º - CC

(Menores sujeitos a tutela)

1. O menor está obrigatòriamente sujeito a tutela:

a) Se os pais houverem falecido;

b) Se estiverem inibidos do poder paternal quanto à regência da


pessoa do filho;

c) Se estiverem há mais de seis meses impedidos de facto de


exercer o poder paternal;

d) Se forem incógnitos.

2. Havendo impedimento de facto dos pais, deve o Ministério Público tomar as


providências necessárias à defesa do menor, independentemente do decurso do prazo
referido na alínea c) do número anterior, podendo para o efeito promover a nomeação
de pessoa que, em nome do menor, celebre os negócios jurídicos que sejam urgentes
ou de que resulte manifesto proveito para este.

3 - O disposto no n.º 1 não é aplicável quando se constituir o apadrinhamento


civil.

77
Artigo 127.º - CC

(Excepções à incapacidade dos menores)

1. São excepcionalmente válidos, além de outros previstos na lei:

a)Os actos de administração ou disposição de bens que o maior de


dezasseis anos haja adquirido por seu trabalho;

b) Os negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que, estando


ao alcance da sua capacidade natural, só impliquem despesas, ou
disposições de bens, de pequena importância;

c) Os negócios jurídicos relativos à profissão, arte ou ofício que o menor


tenha sido autorizado a exercer, ou os praticados no exercício dessa
profissão, arte ou ofício.

2. Pelos actos relativos à profissão, arte ou ofício do menor e pelos actos


praticados no exercício dessa profissão, arte ou ofício só respondem os bens de que o
menor tiver a livre disposição.

Incapacidade acidental:

Artigo 20º nº1 do CPC (As pessoas que, por anomalia psíquica ou outro motivo
grave, estejam impossibilitadas de receber a citação para a causa são representadas nela
por um curador especial).

Artigo 138.º do CC (O maior impossibilitado, por razões de saúde, deficiência, ou


pelo seu comportamento, de exercer, plena, pessoal e conscientemente, os seus direitos
ou de, nos mesmos termos, cumprir os seus deveres, beneficia das medidas de
acompanhamento previstas neste Código).

78
Artigo 143.º - CC

Acompanhante

1 - O acompanhante, maior e no pleno exercício dos seus direitos, é escolhido


pelo acompanhado ou pelo seu representante legal, sendo designado judicialmente.

2 - Na falta de escolha, o acompanhamento é deferido, no respetivo processo, à


pessoa cuja designação melhor salvaguarde o interesse imperioso do beneficiário,
designadamente:

a) Ao cônjuge não separado, judicialmente ou de facto;

b) Ao unido de facto;

c) A qualquer dos pais;

d) À pessoa designada pelos pais ou pela pessoa que exerça as responsabilidades


parentais, em testamento ou em documento autêntico ou autenticado;

e) Aos filhos maiores;

f) A qualquer dos avós;

g) À pessoa indicada pela instituição em que o acompanhado esteja integrado;

h) Ao mandatário a quem o acompanhado tenha conferido poderes de


representação;

i) A outra pessoa idónea.

3 - Podem ser designados vários acompanhantes com diferentes funções,


especificando-se as atribuições de cada um, com observância dos números anteriores.

79
18/11/2021

57. Incapacidade jurídica dos maiores sujeitos a acompanhamento (continuação):

c) A representação pode ser geral ou especial. Geral – o acompanhante assume


a legal representação do seu acompanhado em relação a todas as matérias da sua esfera
jurídica. Especial – o tribunal indica o conjunto de matérias para os quais o
acompanhado pelo representante. Nº4 – quando um maior acompanhado está sujeito
a legal representação aplica-se nesse domínio o regime da tutela.

e) Uma situação menos interventiva na esfera dos maiores acompanhados é a


situação do acompanhamento dos maiores com sujeição a autorização. Aqui o maior
acompanhado não tem um legal representante, mas certos atos que são fixados pelo
tribunal, certas categorias de atos só podem praticá-los com autorização do seu
acompanhante. Artigo 145 d) do CPC.

Quando temos uma situação e incapacidade judiciaria, alguma das partes não
goza de incapacidade judiciaria, está em falta o pressuposto processual.

Os incapazes, quando há alguma incapacidade judiciaria, essa incapacidade tem


de ser suprida. Os incapazes só podem estar em juízo por intermedio dos seus legais
representantes exceto quanto aos atos que possam exercer livremente (artigo 16 do
CPC).

O menor é citado na pessoa dos seus progenitores. O menor não goza de


capacidade judiciária.

Se os pais não estiverem de acordo, nos termos do artigo 18 do CPC qualquer


deles pode requerer ao tribunal competente para a causa, onde a ação deveria ser
proposta como preliminar dessa ação pede ao juiz para resolver o conflito. Como o
menor só pode ser representado por ambos os progenitores o tribunal vai decidir se a
ação prossegue ou não.

Se o desacordo surgir no decurso do processo independentemente se há um


processo iniciado pelo menor ou proposto contra o menor, quanto à forma como a
conduta do menor deve ser conduzida no processo então o nº2 diz que qualquer dos
pais pode requerer ao juiz da causa para resolver esta divergência dos pais em relação
à representação do menor. O tribunal vai ouvir o progenitor que não foi o requerente,
ouve também o ministério publico, e depois o juiz decide com o critério do interesse do
menor, não avalia o que é mais conveniente para o pai ou para a mãe mas sim vai de
acordo com o interesse do menor, qual é a solução melhor para a divergência entre os
pais na condução do litigio, pode optar por 1 de 3 alternativas. pode escolher um dos
progenitores, pode designar uma representação especial naquele processo para aquele
menor ou pode atribuir a representação naquele processo específico ao ministério
publico.

80
No caso dos maiores acompanhados que não estão sujeitos a representação, que
tem um acompanhante, mas que não os representa ou é necessário a autorização desse
acompanhante para a regulação e alguns casos nesse caso aplica-se o artigo 19 do CPC.
O acompanhante não se substitui ao maior acompanhado desde que não esteja sujeito
a representação. Nº2 – o maior acompanhado tem que estar no processo sob orientação
do acompanhante. Se houver divergência entre a posição do maior acompanhado e do
acompanhante, prevalece a posição do acompanhante.

59. A lei prevê ainda um papel especial para o Ministério público no processo
cível. Papel de tutela dos incapazes. Artigo 21 do CPC – foi proposta uma ação contra
um menor, foram citados os pais e o menor não contestou por intermedio dos pais, aqui
há um interesse público. Se não contestou é um réu em revelia, a consequência normal
é considerarem-se confessados os factos que o autor alegou na petição inicial. Isso vale
quando o reu é uma pessoa capaz de zelar pelos próprios interesses. Se o reu é um
menor de idade, se tem 10 anos, 15 anos, ele não está por si só no processo. Nessas
circunstâncias o artigo 21 nº1 diz que incumbe ao Ministério Público assumir a defesa
do incapaz e corre novo prazo para a contestação.

Pode acontecer que o ministério publico representa o autor da ação, nesse caso
seria um conflito de interesses que o Ministério publico no mesmo processo tivesse a
posição de autor e de representação do reu. Se ele já for autor naquela ação o tribunal
nomeia um defensor oficioso.

Artigo 23º do CPC – fala da representação ativa dos incapazes pelo MP ≠ artigo
21 (representação passiva). O MP pode propor ações em representação de incapazes
independentemente da vontade dos representantes legais dos incapazes se essas ações
forem necessárias à tutela dos seus direitos

O artigo 21º e 23º do CPC aplica-se também aos ausentes quando no caso não
se trate de situação de incapazes, mas trata-se da situação de ausentes, pessoas que
não se sabe onde estão. A intervenção, a tutela do MP. Aquelas pessoas que estão em
paradeiro desconhecido e foi-lhes interposta uma ação contra elas

Artigo 22º do CPC – ações propostas contra desconhecidos (incertos) – em


processo cível isto também é possível. É possível propor uma ação contra incertos
quando ao autor não tem possibilidade de identificar quem são as pessoas que tem
interesse direto em contradizer o seu pedido. Quando a ação é proposta contra incertos,
o MP assume a representação dos incertos.

60. A representação judiciária das pessoas jurídicas – coloca-se ao nível da


necessidade que elas têm de agir por intermedio de indivíduos, pessoas singulares que
representam essas pessoas jurídicas. Artigo 160 – as pessoas jurídicas ao contrário das
pessoas singulares não têm uma capacidade jurídica plena ou geral. Vigora o princípio
da especialidade que nos vem dizer que a capacidade jurídica das pessoas coletivas está
limitada ao seu objeto, está limitada às suas atribuições e, portanto, não há uma
capacidade jurídica plena como há para as pessoas singulares. Nº2 – há certos direitos
e obrigações que as pessoas jurídicas nunca podem ser titulares.

81
No que diz respeito às pessoas coletivas ou jurídicas em geral o problema coloca-
se como uma necessidade de representação judiciaria. no caso das pessoas jurídicas
colocamos a questão não em termos de capacidade/incapacidade judiciaria, mas sim
em representação judiciaria, meio de expressão da capacidade judiciaria daquela
pessoa. é regulada também no artigo 25 nº1 do CPC – há uma equivalência entre a
representação orgânica de uma pessoa jurídica e a sua representação judiciaria. A
pessoa jurídica é representada no processo pelos seus representantes de direito
subjetivo. O nº2 do artigo 25 acautela uma situação que pode existir quando há um
conflito de interesses entre a pessoa jurídica e o seu representante judiciário. Este artigo
aplica-se também nos casos em que a pessoa coletiva ou a sociedade que é demandada
não tem quem a represente. Nessas situações o tribunal vai nomear um curador ad
litem.

Artigo 12 do CPC (extensão da personalidade judiciária). Não têm personalidade


jurídica

O estado tem personalidade jurídica pela própria natureza, sem necessidade dela
lhe ser reconhecida pelo ordenamento jurídico. Tem de ser representado também nas
ações que propõe ou que são propostas contra o estado. O estado é representado pelo
MP.

Se estivermos perante uma situação de incapacidade judiciaria que não foi


suprida. Um incapaz está em juízo por si só, ou se estivermos numa situação e
representação judiciaria irregular, a lei prevê mecanismos para regularizar essa situação.
No caso de incapazes (artigo 27) – vai dizer que a incapacidade judiciária e a
irregularidade de representação é sanado mediante citação do representante legitimo
do incapaz. Se se verificar que o incapaz não está devidamente representado no
processo isso é sanado chamando-se a intervir o representante. No caso do incapaz já
ter desenvolvido atividade processual sem estar devidamente representado, isso é
irregular mas lei por razoes de economia processual dá oportunidade ao representante
ratificar os atos praticados no processo, anteriormente.

Se o representante chamado ao processo dizer “não ratifico o que o meu


representado fez” aí o nº2 na parte final diz que fica sem efeito todo o processado. O
processo volta atras, é repetido, renovado na presença do representante.

No caso dos menores e o vicio da representação resultar de apenas ter tido a


intervenção de um progenitor e não ambos, aplica-se aqui uma regra do valor positivo
do silêncio, nº3 – o menor que esteve representado no processo por apenas um dos
progenitores o tribunal dá-se conta que falta a intervenção do outro. Vai notificar a
pessoa. Aqui a lei dá valor positivo ao silencio, se nada disser no prazo fixado considera-
se uma ratificação tácita. Podem os pais estarem em desacordo, o menor interveio
sozinho no processo, o tribunal dá-se conta e chama o pai e a mãe a intervirem no
processo. O pai quer ratificar o que o filho fez e a mãe diz que o filho só fez asneiras. Se
houver desacordo quanto à ratificação dos atos praticados pelo menor aplicam-se as
regras do artigo 18.

82
Artigo 29º – pessoas jurídicas em que a representação está dependente de uma
autorização especial, se faltar uma autorização o tribunal fixa o prazo dentro do qual o
representante deve obter a autorização ou deliberação em falta.

Artigo 28º nº1 – diz que a incapacidade judiciaria e a irregularidade da


representação judiciaria são de conhecimento oficioso do tribunal e o juiz deve
oficiosamente averiguar pelo preenchimento deste pressuposto processual.

51. Competência rationae personae:

As partes alem de terem que ter personalidade judiciaria tem de estar sujeitas à
jurisdição do estado português ou à jurisdição dos tribunais portugueses.

É um pressuposto processual que se prende com a circunstância de


determinadas categorias de pessoas por diversas razoes que gozam de imunidades
jurisdicionais. Ainda que tenham personalidade judiciaria não estão submetidas à
jurisdição dos tribunais portugueses e, portanto, os tribunais não as podem julgar, o
processo não pode prosseguir. Têm a sua fonte no plano do direito internacional
publico. Não se confundem com figuras que são denominadas de imunidades. São
imunidades de procedimento.

Há ainda uma outra imunidade que podemos chamar de imunidade substantiva.


Imunidades parlamentares. O núcleo essencial das imunidades parlamentares, as
imunidades dos deputados que nos vem dizer que os deputados não podem ser
responsabilizados pelas opiniões e votos que exprimam no exercício das suas funções.
Não respondem nem penalmente nem disciplinarmente nem civilmente por essas
ações. Garantia de que os deputados podem em liberdade exercer o seu mandato sem
receio de represálias. Ponderação que a constituição faz de preferir o risco de os
deputados abusarem da sua palavra do que o inverso de escortinar o governo com
receio de represálias. Não são imunidades de jurisdição, mas sim de direito interno que
não tem o efeito de subtrair as pessoas à jurisdição dos tribunais.

Disposições de direito internacional publico que determinam que certas


categorias de pessoas jurídicas ou singulares não podem ser julgadas nos tribunais de
determinados estados independentemente das razoes dos processos sem atender às
concretas dinâmicas de cada litígio. Estas imunidades podem dizer respeito a estados
ou pessoas jurídicas internacionais perante os tribunais do estado português ou podem
dizer respeito a imunidades individuais.

Começando pelas imunidades jurisdicionais dos estados estrangeiros e das


organizações internacionais – as imunidades dos estados estrangeiros durante muito
tempo eram uma regra de ius cogens. Mas não havia grande consenso na comunidade
internacional quanto aos exatos contornos das imunidades dos estados.

83
Foi organizada uma convecção que é a convenção das nações unidas sobre as
imunidades jurisdicionais dos estados. Foi aprovada e ratificada em Portugal. Resolução
da AR nº46/2006 (imprimir). A convenção das NU foi aprovada sob a égide das nações
unidas e ratificada pelo estado português. Resulta desta convenção uma regra geral
prevista no artigo 5 (imunidade dos estados perante os tribunais de outros estados) –
um estado goza em relação a si próprio e aos seus bens de imunidade de jurisdição junto
dos tribunais de outro estado. O estado português goza de imunidade nos tribunais
espanhóis, italianos, americanos, não pode ser julgado nos tribunais de outro estado.
Os tribunais portugueses não podem julgar ca o estado espanhol, italiano etc. Temos a
regra da imunidade dos estados. Isto decorre do princípio da igualdade dos estados. Os
estados têm todos igual dignidade nas relações internacionais. Esta é a regra geral. No
entanto, admite exceções. Quando falamos de estados falamos apenas da pessoa
jurídica estado e não de outras entidades que existem de natureza institucional, certas
instituições publicas etc. Esta regra geral comporta várias exceções:

Renúncia – um estado pode renunciar à sua imunidade (artigo 7) – se o estado


tiver renunciado não pode invocar a sua imunidade, pode resultar de uma convenção
internacional como pode resultar de um contrato que esse estado celebrou. A renuncia
pode ainda resultar de uma declaração unilateral que o tribunal apresenta. Por exemplo
uma empresa portuguesa que fornece têxteis para o estado espanhol, e há uma ação no
tribunal português contra o estado espanhol. O estado espanhol pode chegar ao tribunal
e dizer que tem imunidade, mas aceitam renunciar a ela. Aqui temos a renuncia expressa

Artigo 8º e 9º – renuncia implícita ou tacita – tem o mesmo efeito – no caso de


o estado estrangeiro não renunciou expressamente nem por acordo nem por contrato
escrito nem por declaração unilateral, mas praticou determinadas condutas processuais
que das quais decorre que renunciou. Decorre uma vontade de renunciar à imunidade.
Se um estado propõe uma ação num tribunal português, e depois a empresa portuguesa
deduz um pedido reconvencional contra o estado estrangeiro, ora já sabemos que ao
propor a ação renunciou à imunidade nos termos do artigo 8, essa renúncia vale
também para eventuais pedidos reconvencionais. O estado não pode dizer que só
renunciou à imunidade na ação que propôs contra a empresa portuguesa.

Artigos 10º a 17º – conjunto de exceções à regra da imunidade:

Artigo 10º – transações comerciais – se um estado realizar uma transação


comercial com uma pessoa singular ou coletiva estrangeira, se o estado vende
mercadorias, não pode invocar imunidade. Esta exceção porem não se aplica se for uma
transação comercial entre estados ou se ficar expressamente acordado no contrato que
o estado gozará de imunidade de jurisdição

Artigo 11º - Contratos de trabalho – um estado que contrata no estrangeiro um


funcionário local (porteiro, jardineiro) não pode invocar imunidade de jurisdição em
relação a esses contratos de trabalho. O estado espanhol contrata para o seu consulado
no porto um porteiro, há um litígio laboral, o porteiro poe uma ação, o estado espanhol
não pode invocar imunidade por força do artigo 11º.

84
Artigo 12 – danos causados a pessoas e bens – a respsabilidade civil
extracontratual por danos morte e dano ofensa à vida e à integridade física cometidas
por um estado no território de outro estado. As forças de elite norte americanos vem
buscar a Portugal sem autorização um alvo, que estava escondido e matam uma pessoa
que estava a passar a rua, a família dessa pessoa pode interpor uma ação contra os EUA.

Artigo 13 – se por exemplo se estiver a discutir a propriedade um imóvel situado


em Portugal que o estado espanhol ou francês diz que é sua propriedade, e o imóvel
está situado no estado português, o estado português tem jurisdição para julgar o
estado estrageiro.

Artigo 15 – se se estiver a discutir a vida relativa a uma sociedade que está


sediada num estado e do qual é acionista um socio de outro estado, o estado espanhol
não pode invocar imunidade nos processos instaurados nos tribunais portugueses.

Artigo 17 – arbitragem

As exceções à imunidade dos artigos 10 a 17 e do 7, 8, 9 não se aplicam


automaticamente aos procedimentos cautelares (artigo 18). O facto de não existir
imunidade de jurisdição quanto a uma determinada ação judicial não implica que
também não haja imunidade quanto a medidas cautelares. Um estado pode não ter
imunidade de jurisdição quanto a um processo, mas mantem imunidade nos processos
cautelares.

Artigo 19 – tem uma norma equivalente para a execução das decisões judiciais –
um estado pode não gozar de imunidade de jurisdição, pode ser condenado, mas não
implica que a sentença proferida possa ser coercivamente executada contra esse
estado. O tribunal português não pode decretar medidas de execução coerciva, por
exemplo penhoras porque a imunidade mantém-se quanto à fase executiva.

Alem da imunidade dos estados há ainda a imunidade das organizações


internacionais – não há nenhuma norma geral que preveja a sua imunidade. Como as
organizações internacionais são criadas por tratados internacionais é normal que
prevejam especificamente uma norma de imunidade de jurisdição. O tratado da União
Europeia tem uma norma que diz que a união europeia goza de imunidade de jurisdição.

85
54. Imunidades individuais:

Imunidades do pessoal diplomático e consular, daqueles funcionários que são


chamados a representar no estrangeiro um estado. As representações diplomáticas, as
embaixadas por exemplo estão situadas em Portugal por exemplo a embaixada de
frança para assegurar as relações entre os estados. As representações consulares
existem para assegurar a relação com os seus cidadãos que residam no estrangeiro.

Quer no caso do pessoal diplomático (pessoal que o estado manda para o


estrangeiro) quer no caso do pessoal consular a ordem jurídica concede-lhes algumas
imunidades que não são privilégios individuais. São instrumentais para assegurar o bom
funcionamento das representações diplomáticas e consulares para assegurar que uma
embaixada pode representar adequadamente o seu estado de origem porque os seus
funcionários não estão sujeitos a pressões ou a serem detidos ou processados em
tribunal. Para que fiquem comprometidos no exercício das suas funções de
representação. As imunidades não são imunidades não são para garantir a segurança
dos indivíduos.

Temos duas convenções:

• Convenção de Viena para as relações diplomáticas


• Convenção de Viena para as relações consulares

Decreto lei nº48295 (imprimir)

Artigo 1 – definições

O estado acreditante é o estado que envia o pessoal diplomático. O estado


acreditador é o estado que recebe o pessoal diplomático.

86
Convenção de Viena das relações diplomáticas:

Artigo 31º – regra geral

O diplomata acreditado em Portugal goza de imunidade, não pode ser julgado


por um tribunal português em processo de natureza civil.

Porém, aqui há exceções previstas nas alíneas a), b) e c).

O nº2 vem dizer que ele não é obrigado a prestar depoimento como testemunha.

Há outra exceção prevista no artigo 32 nº3. Se o agente diplomático toma a


iniciativa de desencadear uma ação num tribunal português não pode depois invocar a
imunidade.

Artigo 32º nº1 – o estado acreditante pode renunciar à imunidade de jurisdição


dos seus agentes diplomáticos. O estado pode renunciar, o diplomata não. O facto de
não poder ser julgado em Portugal não quer dizer que não possa ser julgado no tribunal
do estado de origem.

Artigo 37º – estende estas imunidades aos familiares que vêm viver com o
diplomata, também têm de estar livres nas suas pessoas. Têm que viver com o diplomata
e não podem ter a nacionalidade do estado acreditador, no nosso caso não podem ter
nacionalidade portuguesa. O nº2 trata dos membros do pessoal administrativo e
técnico.

Convenção de Viena das relações consulares:

A legislação é menos protetora.

Regula as relações de natureza consular. Relações que se estabelecem entre um


estado e os cidadãos residentes no território de outro estado.

Artigo 43º (imunidades) – a imunidade está restringida apenas aos atos


praticados no exercício das funções consulares. Estão excluídas as circunstâncias
relativas à vida privada. Há ainda exceções.

O artigo 57 vai-nos dizer no nº2 que quem exercer uma atividade profissional no
estado recetor não pode beneficiar da imunidade de jurisdição.

A imunidade consular é também renunciável nos termos do artigo 45. O estado


que envia o pessoal consular pode renunciar. O próprio funcionário consular não pode
renunciar à imunidade consular. O nº3 prevê uma renúncia tácita. Se o funcionário
consular iniciou ele uma ação cível não pode depois invocar a imunidade se nessa
mesma ação vier a ser deduzido contra si um pedido reconvencional. No entanto, não
estão previstas neste tratado quaisquer imunidades para os familiares dos funcionários
consulares.

87
Também é reconhecido no plano do direito internacional uma imunidade de
jurisdição aos chefes de estado estrangeiros. Resulta de uma norma de um princípio de
ius cogens, de direito internacional geral ou comum. Não pode um tribunal português
julgar quer penalmente quer civilmente o chefe de estado espanhol por exemplo.

No âmbito das imunidades individuais, há ainda lugar a imunidades individuais


relativamente aos funcionários e agentes das organizações internacionais, das nações
unidas, da união europeia por exemplo. essa imunidade de jurisdição não resulta de
uma norma geral, de nenhum tratado internacional. É o próprio tratado que instituiu
essa organização que prevê em norma avulsa essas imunidades.

88
19/11/2021

Caso Prático

Em 15 janeiro de 2018, Álvaro, de 18 anos, e Bernardo, de 16 anos, ambos


estudantes de vitivinicultura em Valpaços, celebraram com Carlos um contrato de
arrendamento, por uma renda mensal de 100 euros, tendo por objeto uma fração
habitacional sita na Ribeira, no Porto, para um período transitório de seis meses
correspondente à duração de uma formação escolar que vieram realizar na Instituto
Português do Vinho em Gaia. Em fevereiro desse ano Carlos contraiu casamento, no
regime da comunhão de adquiridos, com Helena. Em 20 de março, Bernardo resolveu
instalar um laboratório de microbiologia no seu quarto na fração arrendada a Carlos e
sem autorização deste, para o efeito demolindo várias paredes internas e removendo
o reboco de revestimento da parede e as alcatifas. Tendo tomado conhecimento dessa
circunstância, Carlos propôs Bernardo uma ação peticionado a resolução do contrato
de arrendamento e a condenação de Bernardo a pagar uma indemnização no valor de
1.990 euros.

Diogo e Eduarda, pais de Bernardo e seus representantes legais, não se


entendem quanto à posição que o filho deve adotar no processo: para o pai, a conduta
do filho é irrepreensível porque foi um ato adotado em benefício da sua formação e
nada tem que pagar ao senhorio, enquanto a mãe é do entendimento que o filho deve
confessar o pedido e pagar a indemnização pedida.

Entretanto, estando Álvaro a tomar um shot no bar “Vai pr’ós copos” na Rua
das Galerias de Paris, no Porto, conheceu Ugo, de 19 anos, filho do Cônsul da República
Italiana nesta cidade e com ele residente. Ao fim de alguns shots, desentendem-se e
iniciam uma zaragata e Ugo desfere um murro em Álvaro, provocando-lhe a cegueira
num olho e causando-lhe a necessidade de se socorrer de tratamentos médico-
cirúrgicos no valor de 30.000 euros. Inconformado com essas despesas Álvaro intenta
no Tribunal da Comarca do Porto uma ação contra Ugo peticionando a condenação
deste a pagar-lhe uma indemnização de 30.000 euros. Devidamente citado, Ugo vem
invocar a sua imunidade por ser filho de um agente consular acreditado em Portugal
e com ele residir.

89
Responda fundamentadamente, com invocação de todas as normas legais
pertinentes, às seguintes questões:

a) Qual a solução para a divergência entre Diogo e Eduarda acerca da conduta


processual de seu filho Bernardo?

Bernardo tem personalidade judiciaria (pode ser parte na ação)

Bernardo não tem capacidade judiciaria (menor de idade não tem capacidade de
exercício de direitos)

Exceções? Artigo 127º nº1 do CC (São excepcionalmente válidos, além de outros


previstos na lei: a)Os actos de administração ou disposição de bens que o maior de
dezasseis anos haja adquirido por seu trabalho; b) Os negócios jurídicos próprios da vida
corrente do menor que, estando ao alcance da sua capacidade natural, só impliquem
despesas, ou disposições de bens, de pequena importância; c) Os negócios jurídicos
relativos à profissão, arte ou ofício que o menor tenha sido autorizado a exercer, ou os
praticados no exercício dessa profissão, arte ou ofício) – Não se aplicam

A incapacidade judiciaria é suprimida através da representação, está


acompanhado – Artigo 16º nº1 do CPC (Os menores cujo exercício das
responsabilidades parentais compete a ambos os pais são por estes representados em
juízo, sendo necessário o acordo de ambos para a propositura de ações)

Os pais não estão de acordo – Artigo 18º nº2 do CPC (Se o desacordo apenas
surgir no decurso do processo, acerca da orientação deste, pode qualquer dos pais, no
prazo de realização do primeiro ato processual afetado pelo desacordo, requerer ao juiz
da causa que providencie sobre a forma de o incapaz ser nela representado,
suspendendo-se entretanto a instância).

Solução - Artigo 18º nº3 do CC (Ouvido o outro progenitor, quando só um deles


tenha requerido, bem como o Ministério Público, o juiz decide de acordo com o
interesse do menor, podendo atribuir a representação a só um dos pais, designar
curador especial ou conferir a representação ao Ministério Público, cabendo recurso da
decisão).

b) Aprecie a invocação de imunidade feita por Ugo?

43º a 57º da CVRC (Convenção Viena Relações Consulares)

Solução – Artigo 57º da CVRC

c) Qual é o valor das causas?

Álvaro – 30 mil euros

Carlos – 2 anos e meio = 3 mil euros + indeminização = 4990€

90
26/11/2021

62. A capacidade postulatória (página 55 dos sumários)

A capacidade postulatória é referida nos manuais como o patrocínio


judiciário/forense. Podemos defini-la como a suscetibilidade de por si só pleitear em
juízo praticando atos processuais.

Temos 3 graus de capacidade: personalidade judiciária, capacidade judiciária e a


capacidade postulatória.

Um individuo maior de idade, na plena posse das suas faculdades mentais tem
personalidade judiciária, capacidade judiciária, mas pode não ter capacidade
postulatória.

O regime regra está no artigo 42 do CPC – as partes dispõem de capacidade


postulatória nas causas em que não seja obrigatória a constituição de advogado. Podem
pleitear por si próprias, praticando no processo os atos processuais que entenderem
convenientes, requerimentos etc. Mesmo nestas situações a capacidade postulatória
tem uma limitação que está presente no artigo 40 nº3 do CPC – as partes quando
pleiteiam por si próprias não podem inquirir as testemunhas e essa inquirição é feita
pelo juiz.

Daqui decorre, ao inverso, numa lógica de à contrário que sempre que a lei
imponha como obrigatória a constituição de advogado, as partes não gozam de
capacidade postulatória. Têm incapacidade postulatória que terá de ser suprida.

Há situações particulares, mesmo nos casos em que não tenham capacidade


postulatória, a lei reconhece às próprias partes uma capacidade residual, de praticar
alguns atos processuais no processo. Pleiteiam por si próprias, mas limitadas a certos
atos processuais – artigo 40 nº2 do CPC.

Artigo 19º do Estatuto dos Magistrados Judiciais (EMJ), artigo 93º do Estatuto
do Ministério Público (EMP) – atribui-se capacidade postulatória.

91
02/12/2021

63. Suprimento da incapacidade postulatória: patrocínio judiciário

O suprimento faz-se através do patrocínio judiciário por vezes também


chamado de patrocínio forense. O patrocínio judiciário corresponde a uma forma de
representação da parte do processo. É uma representação técnica. Alguém que habilite
o representado a agir no processo de forma técnica e bem preparada.

A fonte do mandato judiciário é uma procuração que a parte ou se a parte não


tiver capacidade judiciaria, o representante judiciário da parte, instrumento através do
qual a parte constitui um mandatário que vai pleitear em seu nome. Representa-a
tecnicamente no processo. A procuração forense está regulada no artigo 43 do CPC. Ela
pode ser conferida por instrumento público (exemplo: escritura pública) ou por
documento particular. O mandato é conferido fora do processo (extrajudicialmente).

Quando a procuração é outorgada fora do processo tem de ser levada ao


conhecimento do processo, tem de ser junta ao processo, normalmente é o advogado
que faz isso. Pode também ser outorgada por declaração verbal – tem que ser outorgada
processualmente. Não é muito comum em processo civil proceder-se deste modo
porque as diligências em processo civil só têm lugar numa fase já muito adiantada do
processo. Quando se chega a uma audiência habitualmente já decorreu muito processo.
O mandato só é eficaz, nos termos do artigo 44 nº4 do CPC, se o próprio mandatário a
aceitar. A aceitação pode ser expressa ou tácita (o mandatário nunca disse
expressamente que aceita, mas resulta do seu comportamento que há essa vontade de
aceitação). Pode ser a ordem dos advogados a nomear um advogado como patrono
daquela parte.

A parte andou à procura na comarca de um advogado falou com 2, 3, 4 e nenhum


aceitou, dirige-se à ordem dos advogados, diz que é parte num processo cível que
precisa de advogado e não encontra nenhum, pede para lhe ser nomeado um advogado,
a fonte aqui será a nomeação. Em processo civil é muito invulgar isto acontecer. Uma
outra circunstância em que a nomeação é feita pela ordem dos advogados é nos casos
de apoio judiciário.

A parte que tem recursos económicos para suportar os custos de contratação de


um advogado pode dirigir-se à segurança social e a segurança social se deferir o
requerimento transmite à ordem dos advogados, nomeia um advogado para aquela
pessoa e esse advogado será o patrono e os seus honorários serão pagos pelo estado.
Nestas situações mais comuns, o patrono é nomeado também pela ordem dos
advogados.

A fonte jurídica do patrocínio forense, o que determinada a relação de


patrocínio judiciário é a nomeação pela ordem dos advogados.

92
O artigo 49 do CPC e artigo 464 do CC – quando alguém assume a gestão de um
negócio jurídico alheio no interesse por conta dessa pessoa, mas sem estar autorizado
por essa pessoa. Esta figura também pode existir no domínio do patrocínio judiciário
que está previsto no artigo 49 do CPC que em caso de diligência o patrocínio judiciário
pode ser exercido como gestão de negócios. O advogado pode assumir o patrocínio de
outra pessoa sem ter uma nomeação pela ordem de advogados desde que seja uma
situação de urgência. Isto tem de ser ratificado pela própria parte. O juiz fixa um prazo
para a parte ratificar a gestão e se dentro desse prazo a parte não ratificar o que o
advogado fez sem estar autorizado, a consequência é esses atos serem anulados e o
advogado é condenado às custas do processo e numa indemnização à parte contrário
se for justificado.

O mandato forense tem a natureza jurídica de um contrato de mandato com


representação ou também chamado de mandato representativo. O código civil prevê
o contrato de mandato no artigo 1157 e ss do CC. O mandato é um contrato entre duas
partes (mandante e mandatário) através do qual o mandatário se obriga perante o
mandante a praticar atos jurídicos por conta do mandante. O mandato pode assumir
duas espécies: espécie de mandato com representação (junta à figura do mandato a
noção de representação voluntária – o mandatário é também procurador, acumula as
duas qualidades, o mandatário não só pratica atos por conta do mandante como age em
nome do mandante, os atos são praticados na esfera jurídica do mandante, é
mandatário e procurador), e o mandato sem representação (o mandatário age em nome
próprio, fica obrigado a transmitir os direitos e obrigações ao mandante através de um
negócio próprio, especifico, não age em nome do mandante , apenas age no interesse
do mandante mas não em seu nome).

Interessa em processo civil a noção do contrato de mandato com


representação. O patrocínio forense que é um contrato entre a parte e o seu
mandatário, contrato de mandato com representação, representativo, o mandatário
forense, o advogado pratica os atos processuais, as alegações que faz, requerimentos
que entrega, tudo isso não só por conta ou no interesse do seu constituinte, da parte,
como também em nome da parte.

O conteúdo dos poderes que o advogado adquire por via do patrocínio forense
está regulado no artigo 44 nº1 do CPC por remissão do artigo 45 nº1 do CPC. Inclui os
poderes forenses gerais. Mas a lei exclui destes poderes aqueles que a lei qualifica como
especiais, esses não estão incluídos no mandato forense. O artigo 45 nº2 do CPC regula
os poderes forenses especiais – só podem ser praticados pela parte ou a parte atribui-
os especificadamente ao mandatário. Os poderes do advogado não vão tao longe ao
ponto de celebrar uma transação em nome do seu constituinte para isso necessita que
os poderes sejam atribuídos pela parte. Há outros poderes especiais por exemplo
receber dinheiro por conta do seu constituinte.

93
Uma outra consequência da natureza representativa do mandato forense está
no artigo 46 do CPC – o advogado é quem faz as peças, alegações, etc fala em nome da
parte, do seu constituinte. Este artigo reforça a natureza representativa do mandato.
Exemplo: se eu como advogado faço determinadas afirmações em nome do meu
constituinte ele fica vinculado por aquilo que eu disse. No entanto, a lei tem uma válvula
de escape no artigo 46 do CPC.

Nos poderes gerais está incluído também o poder de substabelecer o mandato


– o mandatário transmite os poderes que recebeu do seu constituinte a outro
mandatário, sem necessidade de autorização do seu constituinte. O substabelecimento
pode ser feito com reservas e sem reservas.

O substabelecimento com reserva é quando o advogado que substabelece,


reserva para si os poderes forenses que recebeu do seu constituinte, é um
substabelecimento pontual.

O substabelecimento sem reserva corresponde a uma verdadeira substituição


do advogado no processo. O advogado que passa o substabelecimento deixa de ser
mandatário daquela parte e o advogado substabelecido passa a ser o novo mandatário
permanente daquela parte. A lei não exige o consentimento do constituinte mais uma
vez. Em certa medida é uma cessão de posição contratual.

O artigo 50 do CPC prevê ainda que os advogados possam dispor de assistência


técnica, possam fazer-se acompanhar de técnicos que não são juristas. É um direito
que não necessita de autorização ou aprovação do tribunal. Só tem que indicar ao
tribunal o assistente técnico que nomeou, só pode ter um. Embora, o tribunal possa
recusar se julgar a assistência técnica desnecessária. O técnico pode inquirir
testemunhas, pode fazer alegações, requerimentos, dentro das matérias para as quais
foi designado, tem os mesmos poderes que o advogado. Mas deve prestar a sua
colaboração sob a direção do advogado. Não pode fazer alegações orais, apenas escritas
quando sejam questões técnicas, de engenharia ou de biologia molecular por exemplo.

94
64. Obrigatoriedade de constituição de mandatário

Quando é que é obrigatória a constituição de advogado? – está regulado no


artigo 40 nº1 do CPC que prevê 3 situações em que é obrigatória a constituição de
advogado:

Sempre que se interponha recurso é obrigatório estar constituído advogado e


em todas as ações que se propõem em 1º grau de decisão no tribunal superior
(exemplo: revisão e confirmação de uma sentença estrangeira; ações de indemnização
contra juízes por factos praticados no exercício das suas funções).

Nas causas em que seja admissível recurso ordinário (artigo 629 do CPC), é
obrigatória a constituição de mandatário – um dos requisitos é que há recurso ordinário
quando o valor da causa excede o valor da alçada do tribunal.

O valor da alçada é de 5 mil euros no tribunal de 1ª instância e 30 mil euros nos


tribunais de 2ª instância (artigo 44 da LOSJ). Exemplo: se há uma ação que estou a
propor no tribunal de 1ª instância exceder o valor da alçada dos tribunais de 1ª instância,
essa ação admite recurso ordinário.

Se a sentença que vier a ser proferida admitir recurso, nos termos do artigo 40
nº1 b do CPC é obrigatória a constituição de advogado, as partes não têm capacidade
postulatória nessa ação.

É também obrigatória a constituição de advogado nas ações em que seja


sempre admissível recurso independentemente do valor da causa. O legislador refere-
se a uma matéria que está regulada no artigo 629 nº3 a) do CPC que nos vem dizer que
independentemente do valor da causa é sempre admissível recurso para a Relação nas
ações em que se aprecie a validade, subsistência ou a cessação de contratos de
arrendamento. Se é sempre admissível recurso nos termos do artigo 40 nº1 b) do CPC é
sempre obrigatória a constituição de mandatário.

No entanto, a alínea a) tem uma exceção – não há lugar à aplicação desta alínea
se estiverem em causa contratos de arrendamento para habitação não permanente,
uma casa de campo, de férias, de praia por exemplo. Também não se aplica para os
contratos de arrendamento para fins especiais transitórios (em que o arrendamento é
feito para um período limitado de tempo para uma necessidade pontual).

O artigo 42 do CPC diz que as partes podem constituir um advogado mesmo que
não seja obrigatório fazê-lo.

Capacidade postulatória dos advogados estagiários e solicitadores – também


têm capacidade postulatória, podem exercer um mandato forense nos termos do artigo
42 do CPC (causas em que não é obrigatória a constituição de advogado) e podem
também nos termos do artigo 40 nº2 do CPC praticar ainda que seja obrigatória a
constituição de advogado, podem fazer requerimentos em que não se levantem
questões de direito, que não envolvam argumentos jurídicos.

95
66. Funções do patrocínio judiciário

Quando a lei exige a constituição obrigatória de mandatário, ao exigi-la a lei está


essencialmente a prosseguir 3 grandes funções:

1. Função de auxílio às partes – na realidade ao exigir o patrocínio obrigatório a


lei está preocupada com os aspetos técnicos na condução dos processos. As partes
muitas vezes não sabem corretamente apresentar as suas posições e defender os seus
interesses. A primeira função é de auxílio às partes, o legislador assegura-se que as
partes na defesa das suas posições e interesses estão tecnicamente bem habilitadas.
Esta habilitação técnica só se pode fazer através de quem perceba de direito processual.
A justiça funciona melhor se as partes tiverem bem preparadas.

2. Função de realização do direito e de prossecução da justiça – ao exigir a


constituição obrigatória de mandatário, o legislador está preocupado também com a
condução leal e verdadeira do processo. O legislador quer que os processos sejam
conduzidos pelas partes de forma correta e evitar que as partes sucumbam à tentação
de utilizar expedientes trapaceiros e menos leais. Muitas vezes acontece que os clientes
querem que os advogados aleguem mentiras e utilizem expedientes processuais
trapaceiros mas a sua dignidade e bom nome valem mais do que a sua relação com o
cliente. Esta exigência acautela que a condução das partes no processo será feita de
acordo com critérios de lealdade e de verdade no processo.

3. Função psicológica – as partes vivem de uma forma muito intensa os seus


processos porque é algo que lhes diz muito respeito diretamente. Não são capazes de
ponderar, de ver que às vezes não têm razão ou que até tendo razão não há sustentação
para os seus argumentos. E ao exigir a constituição obrigatória de advogado, o legislador
pretende refrear os ímpetos emocionais e apaixonados das partes, e não são capazes de
cumprir as regras mínimas de urbanidade e de educação no uso da palavra,
interrompem as testemunhas etc. Os advogados servem de intermediário entre a parte
que vive intensamente aquele litígio e que não consegue aceitar argumentos racionais
e o tribunal, permitir que cheguem ao tribunal posições mais ponderadas, argumentos
mais racionais e uma intervenção mais educada até.

96
67. Revogação e renúncia ao mandato

O patrocínio forense é um contrato e, portanto, é um contrato bilateral. No


entanto, há certos contratos que dependem de uma certa relação de confiança entre as
partes e que o legislador aceita que se essa relação de confiança deixar de existir que
esse contrato seja interrompido por uma das partes sem o consentimento da outra, isto
acontece no contrato de mandato em geral. Permite ao mandante e ao mandatário
unilateralmente pôr termo ao contrato. A revogação provém do mandante. A renúncia
provém do mandatário.

Artigo 47 do CPC – vem regular estas modalidades de cessação unilateral do


mandato forense quer por iniciativa do mandante (constituinte) quer por iniciativa do
mandatário (advogado). Num caso e noutro há sempre liberdade quer do constituinte
de revogar o contrato quer o inverso, os advogados também não são obrigados a
continuar com os clientes se perderem a confiança neles.

A revogação e a renúncia estão sujeitas a forma – devem ter lugar no próprio


processo, devem comunicar no processo dizendo que revogam o mandato ou que
renunciam o mandato. Após isto há uma notificação. O advogado que renuncia o
mandato, tem que ir ao processo declarar que renuncia e esta renúncia é notificada ao
constituinte e à parte contrária. É só a partir desta notificação que se produzem os
efeitos da revogação e da renúncia. Esta notificação tem que ser feita pessoalmente ao
mandante no caso de renúncia. Há um tipo qualificado de notificação – é a chamada de
notificação pessoal.

Consequências – artigo 47 nº2 do CPC – se for obrigatória a constituição de


advogado depois de notificada a renúncia tem de constituir novo mandatário no prazo
de 20 dias. Se no prazo de 20 dias não for constituído novo mandatário então a lei
distingue a consequência consoante a falta de constituição de mandatário provenha do
autor ou do réu. Se for o autor que não constitui mandatário, sendo obrigatória a
constituição de mandatário, isso determina a suspensão da instância. Se a falta for do
réu, suspender a instância seria fazer-lhe um favor, logo, o processo segue os seus
termos sem haver advogado constituído, aproveitando-se os atos que já foram
praticados pelo advogado antes da revogação ou denúncia e a partir daí o réu continua
no processo, mas sem advogado, não pode ter intervenção, não pode praticar atos
processuais. Pode acontecer que foi uma renúncia ao mandato e que se tentou notificar
pessoalmente o réu e não se conseguiu, o legislador acautela essas situações no nº4 – é
nomeado oficiosamente um mandatário pelo tribunal para assegurar o patrocínio
daquele réu.

97
68. Efeitos da incapacidade postulatória não suprida

A capacidade postulatória e o seu suprimento é um pressuposto processual de


conhecimento oficioso no tribunal (artigo 48 nº1 do CPC).

Diz-nos o artigo 41 do CPC que a falta de constituição de advogado, se a parte


não constituir advogado, sendo obrigatória a sua constituição, ou o réu veio ao processo
apresentar uma contestação e contestou sozinho, nesse caso o juiz notifica e diz que
tem um prazo para constituir advogado e se nesse prazo não constituir advogado as
consequências variam consoante a parte que é responsável pela falta. Se for o autor, a
instância extingue-se por absolvição da instância e o processo termina. Se a falta for do
réu a consequência é a defesa que ele apresentou fica sem efeito, tudo se trata como
se o réu não tivesse apresentado contestação.

Distinto da falta de constituição de mandatário é não ter sido junto à procuração


ou a procuração que foi junta está irregular porque às vezes até constituí advogado mas
esqueci-me de passar procuração, houve uma irregularidade, ou não foi junta a
procuração, e aqui o problema é não estar demonstrado no processo que o mandatário
tem poderes para agir em nome do seu constituinte e aqui aplicamos o regime do artigo
48 nº2 do CPC – o juiz diz “está aqui um advogado a representar o autor mas não há
procuração”, notifica-se a parte para suprir este vício, a falta desta procuração e ratificar
o processado, vir dizer que ratifica o que o advogado fez quando ainda não tinha
procuração. Se findo o prazo não for regularizada a situação, fica sem efeito tudo o que
tiver sido praticado pelo mandatário.

O mandatário é ainda condenado nas custas do processo e se tiver agido em má-


fé pode ser condenado a indemnização dos prejuízos da outra parte

98
03/12/2021

69. Noção de legitimidade processual

É um pressuposto processual relativo às partes. Tem de se verificar nas partes.


Pressuposto processual positivo, típico e nominado. E é de conhecimento oficioso.

A legitimidade está prevista no artigo 30 do CPC – o autor é parte legítima


quando tem interesse direto em demandar. O réu é parte legitima quando tem interesse
direto em contradizer. A legitimidade processual exprime uma relação concreta,
especifica entre cada uma das partes e uma determinada causa, o objeto dessa causa.
A legitimidade processual exprime uma relação direta e especifica com uma
determinada ação, com o objeto dessa ação. As partes não podem intervir em
processos. Um autor não pode demandar um réu que não tenha um interesse direto
com o objeto dessa ação. Não se pode propor ações só porque se propõe é preciso haver
um interesse direto. A legitimidade processual exprime esta relação, concreta das partes
para uma determinada causa. Só tem legitimidade o autor se ele tiver um interesse
direto na demanda. Só tem legitimidade o réu se ele tiver um interesse direto em
contradizer aquela demanda.

Como é que se afere este interesse direto? – o nº2 diz-nos que o autor terá
interesse direto em demandar se ele retirar da procedência da ação uma utilidade, uma
vantagem direta, pessoal, na sua esfera jurídica. O mesmo se passa em relação ao réu.
Tem legitimidade passiva se retirar da procedência da ação, no caso de a ação vir a ser
julgada procedente, se retirar um prejuízo direto e pessoal na sua esfera jurídica. O reu
será absolvido da instância se faltar este pressuposto da legitimidade.

A legitimidade de que estamos a falar, processual, também podemos denominar


como legitimidade adjetiva (ad causam) – legitimidade puramente processual, não tem
nada a haver com a relação jurídica substantiva que se discute no processo. A
legitimidade substantiva não tem nada que ver com a adjetiva. A legitimidade adjetiva
exprime apenas uma relação entre as partes e o objeto de uma causa do ponto de vista
formal, processual.

Pontualmente, o legislador dá-nos indicações precisas sobre a legitimidade. Diz-


nos quem tem legitimidade ativa ou passiva para propor uma ação através de normas
que estão em legislação substantiva avulsa no código civil.

Artigo 286 do CC – a nulidade é declarada a todo o tempo a pedido de qualquer


interessado, tem legitimidade ativa para deduzir uma pretensão de nulidade de um
negócio jurídico um interessado dessa nulidade.

99
Artigo 1785 do CC – norma de legitimidade ativa – o divórcio pode ser requerido
por qualquer um dos cônjuges. Só o cônjuge pode propor uma ação de divórcio. Só pode
ser proposta contra o outro cônjuge.

Artigo 2078 nº1 do CC – no caso de heranças temos uma universalidade de


direitos, atribui-se uma legitimidade ativa a qualquer um dos herdeiros para propor uma
ação para reivindicar a herança. Esta norma diz-nos que não obstante o herdeiro sozinho
não ser o titular de toda a herança, ele tem legitimidade processual para sozinho propor
uma ação a peticionar, a reivindicar o bem que seja restituído à herança.

O regime jurídico do seguro automóvel (Decreto-lei nº291/2007) é um exemplo


de legitimidade passiva (artigo 64).

100
09/12/2021

69. Noção de legitimidade processual (continuação)

O critério subsidiário de legitimidade (artigo 30 nº3 do CPC) – a doutrina e a


jurisprudência tiveram muito divididas entre 2 grandes posições. Uma teoria dizia que a
legitimidade se aferia em função do litígio tal como ele é configurado na realidade. Não
interessa aquilo que o autor diz, o que releva é a realidade dos factos relativos àquele
litígio.

Uma segunda posição dizia que não nos interessa. Realidade das coisas relativas
àquele litígio, o que interessa é de acordo com a versão do autor saber se as partes são
ou não legitimas.

Depois se a versão do autor corresponde à realidade das coisas ou não isso já


não é um problema de legitimidade processual, mas sim se a ação é procedente ou
improcedente. Aqui queremos fazer uma avaliação meramente formal/processual. Esta
segunda posição foi a que o legislador tomou partido. Essa opção foi mantida no novo
código.

O artigo 30 nº3 do CPC diz-nos que o que interessa para aferir este pressuposto
processual, para saber se o autor é parte legitima ou se o réu é parte legitima, vamos
ter em conta não a realidade das coisas, mas sim a versão fáctica jurídica que o autor
apresenta na petição inicial.

Vamos aferir se de acordo com a versão do autor resultar que a procedência da


causa gera uma vantagem direta para o autor resulta que ele é parte legítima. Para aferir
a legitimidade das partes, para aferir os interesses relevantes para efeitos de saber se o
autor retira uma vantagem direta e imediata da procedência da causa ou se o réu retira
da procedência da causa um prejuízo direito e imediato não interessa a realidade das
coisas.

70. A legitimidade processual como um requisito formal

A legitimidade desconsidera a questão de fundo da ação. Não estamos a fazer


um pré-juízo sobre a questão de fundo que se discute no processo, sobre o litígio,
estamos a averiguar se do ponto de vista formal este processo pode prosseguir para a
fase seguinte. A realidade da existência ou da titularidade do direito não releva para
efeitos da apreciação da legitimidade.

101
71. A legitimidade plural

Até aqui falamos da perspetiva da legitimidade singular. Não se esgota aqui.


Temos a legitimidade plural. O paradigma de uma ação clássico é um autor e um réu. No
entanto, uma ação pode ter uma pluralidade de partes, podemos ter vários autores a
propor uma acão contra um réu, podemos ter um autor a propor uma ação contra vários
réus. Isto coloca então um problema adicional.

Não só temos de aferir a legitimidade singular de cada uma das partes de acordo
com os critérios já estudados (artigo 30 do CPC) como temos de aferir a legitimidade
plural, ou seja, a possibilidade de aquelas partes estarem na ação em litisconsórcio.

No litisconsórcio temos as partes que surgem consorciadas na ação. Surge o


problema de saber se aquela pluralidade de partes podem estar consorciadas naquela
ação. A pluralidade da legitimidade pode ser originária (resulta da propositura da ação,
logo no início da ação) ou pode ser superveniente (ocorre na pendência do processo).

72. Litisconsórcio voluntário

O litisconsórcio voluntário ocorre quando a pluralidade de partes não é imposta


nem exigida pelo legislador, pela lei, mas resulta da vontade do autor quando propõe a
ação, configura a ação como uma situação de pluralidade ou da vontade do réu. A lei
não exige que a ação tenha aquelas pessoas como partes, mas o facto de essas pessoas
serem parte na ação resulta da vontade do autor ou do réu.

É voluntário, é uma faculdade que as partes têm. É admitido pelo legislador


porque há conveniência em que um litígio seja tratado num menor número de
processos, seja de forma mais concentrada mais possível. Esta ideia corresponde ao
princípio da economia de processos. Está regulado no artigo 32 do CPC. O artigo 32 nº2
do CPC trata das obrigações solidárias e outras análogas. Se há uma obrigação plural,
com vários obrigados, mas em que posso exigir a obrigação apenas de um deles não
preciso de propor a ação contra todos eles, basta contra um.

102
73. Litisconsórcio necessário

O litisconsórcio necessário apresenta uma dificuldade maior. O legislador impõe


a pluralidade de partes. Aqui temos uma importante distinção no plano substantivo da
relação jurídica substantiva, relação litigiosa, de onde surgiu o litígio e a relação jurídico-
processual, instância, que assenta neste litígio, mas não tem necessariamente os
mesmos sujeitos, as partes podem não ser as mesmas. Há uma imposição da lei de quem
for sujeito da relação material controvertida tem de ser parte no processo.

O litisconsórcio necessário está previsto no artigo 33 do CPC. Aqui prevê-se o


litisconsórcio legal, convencional ou natural.

O litisconsórcio necessário legal – artigo 496 nº2 do CC (legitimidade necessária


ativa); artigo 535 nº1 do CC (legitimidade necessária passiva), diz respeito às obrigações
indivisíveis, se a prestação for indivisível e se forem vários os devedores, não pode cada
um prestar uma parte, a prestação não pode ser parcelada. Só posso exigir o
cumprimento da ação a todos os devedores. Se demandar apenas um dos obrigados
verifica-se uma ilegitimidade.

Litisconsórcio necessário convencional – está previsto no artigo 33 nº1 do CPC.


As partes podem convencionar entre elas próprias que os litígios emergentes têm de ter
a intervenção de todos os sujeitos das relações.

Litisconsórcio necessário natural (artigo 33 nº2 do CPC) – a intervenção no


processo de todos os interessados na relação material controvertida quando pela
própria natureza da relação jurídica, a intervenção de todos seja necessária, logo, será
necessária a intervenção de todos os interessados, que todos os sujeitos sejam partes
na relação jurídico-processual se essa intervenção pela própria natureza da relação
jurídica seja necessária.

Este litisconsórcio não resulta de norma expressa na lei que exiga a pluralidade
de partes, não resulta de convenção negocial, mas resulta da própria natureza daquele
litígio. Aquele litígio, aquela relação material controvertida exige pela sua natureza que
todos os seus sujeitos sejam também partes.

103
74. Litisconsórcio conjugal

No litisconsórcio conjugal, pela sua importância e pelo destaque que o legislador


lhe dá podemos dar-lhe um tratamento autónomo. Temos o litisconsórcio conjugal
ativo e o litisconsórcio conjugal passivo.

O litisconsórcio conjugal ativo está previsto no artigo 34 nº1 do CPC.

• Ações relativas a bens ou direitos cuja disponibilidade implique a intervenção


de ambos os cônjuges - quando é um cônjuge que propõe a ação, esta tem de
ser proposta por ambos ou por um com o consentimento do outro.
o Regime de bens no casamento - regime da comunhão de adquiridos
(artigo 1721 e 1724 do CC); regime da comunhão geral (artigo 1732 do
CC); regime da separação de bens (artigo 1735 do CC).
o Regime de administração dos bens do casal - artigo 1678 do CC
o Regime de disposição sobre bens móveis - artigo 1682 do CC – carecem
de consentimento de ambos os cônjuges a alienação, a oneração, o
arrendamento ou a constituição de direitos pessoais de gozo, mas se o
bem for próprio é necessário a intervenção de ambos os cônjuges para
alienação etc.
o Regime de disposição sobre bens imóveis - artigo 1682-A do CC - regula
a alienação, ou oneração por parte dos cônjuges e exige o consentimento
de ambos os cônjuges, bens próprios ou comuns, independentemente se
tiverem um regime de separação de bens.
• Ações que tenham por objeto, direta ou indiretamente, a casa de morada de
família - na casa de morada de família, todas as ações que proponham têm de
ser propostas por ambos os cônjuges. Quando um não quer, a ação não pode ser
proposta porque não pode ser feita só por um.
• Falta de acordo dos cônjuges na condução quanto à propositura da ação -
artigo 34 nº2 do CPC - o tribunal decide sobre o suprimento do consentimento.
Dispensa o consentimento do que falta, ou não, por exemplo fá-lo em conta com
o interesse da família enquanto unidade. Artigo 29 do CPC.

O litisconsórcio conjugal passivo está previsto no artigo 34 nº3 do CPC.

Têm de ser propostas contra ambos os cônjuges (sobre a casa de morada de


família - artigo 34 nº1 do CPC

• Ações compreendidas no litisconsórcio conjugal ativo - se foram praticadas por


ambos os cônjuges, têm de ser contra ambos os cônjuges.
• Ações emergentes de facto praticado por ambos os cônjuges - se os cônjuges
são devedores solidários, mas se forem casados têm de demandar ambos os
cônjuges.
• Ações cuja decisão possa ser executada contra o património do outro cônjuge.
Regime das dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges (artigo 1691 do
CC) - pode ser chamado a satisfazer com os seus bens próprios – regime das
dívidas que responsabilizam ambos os cônjuges. Ambos são responsáveis pela
dívida.

104
75. Litisconsórcio voluntário e necessário

Artigo 35 do CPC – no litisconsórcio necessário há uma única ação com


pluralidade de sujeitos. No litisconsórcio voluntário temos uma única relação material
controvertida, mas várias relações judiciais processuais. Exemplo: C1 e C2 concederam
um empréstimo a D1, D2 e D3, esta obrigação é solidária. Num cenário destes posso ter
o C1 a demandar o D1, ou a demandar o D2, a demandar o D3 ou então o C2 a demandar
simultaneamente o D1 e o D2 por exemplo. Aqui estamos no âmbito do litisconsórcio
voluntário. Tenho uma pluralidade de relações jurídicas processuais. No litisconsórcio
voluntário estas ações concedem uma autonomia estrutural entre si. Já no litisconsórcio
necessário, tenho uma relação material controvertida e uma relação jurídica processual.

76. Litisconsórcio subsidiário

Artigo 39º do CPC – foi introduzido na reforma 95/96 do código anterior. Permite
que o mesmo pedido possa ser deduzido contra vários réus segundo uma ordem de
subsidiariedade, uma ordem de preferência.

77. Litisconsórcio inicial e litisconsórcio sucessivo

O litisconsórcio pode ser inicial quando surge logo na propositura da causa. O


litisconsórcio pode também surgir como resultado de uma intervenção superveniente,
alguém que não era parte na causa é chamado a assumir a posição de parte nessa ação
criando assim uma situação de pluralidade de partes.

105
78. Efeitos da ilegitimidade processual

Quando uma das partes não é legitima, existe uma situação de ilegitimidade. Em
primeiro lugar é preciso controlar a legitimidade singular das partes nos termos do
artigo 30º do CPC. Em segundo lugar vemos no caso de haver uma pluralidade de partes
controlar se aquelas partes podem estar litisconsorciadas. A terceira etapa é ver se foi
preterido o litisconsórcio necessário, se existem terceiros que deviam figurar como
partes e não figuram.

Se houver ilegitimidade singular a consequência será a absolvição do réu da


instância. Se o autor for parte ilegítima absolve-se o réu da instância. Se o réu for a parte
ilegítima absolve-se também o réu da instância. Num caso em que temos uma
pluralidade de partes e há uma delas que tem ilegitimidade singular, a absolvição da
instância pode ser parcial. A esmagadora maioria da doutrina diz que a ilegitimidade
singular não pode ser sanada. Alguns autores encontram a possibilidade remota de ser
sanada.

Quando é preterido o litisconsórcio necessário dá também origem à


ilegitimidade processual. Esta ilegitimidade é sanável. Inclusivamente o juiz tem o dever
de impulsionar a sanação desta ilegitimidade (artigo 6 nº2 parte final do CPC).

Como é que se sana a ilegitimidade processual aqui? – chama-se a intervir os


sujeitos em falta, faz-se através de um incidente (artigo 261 do CPC). Se não for utilizada
esta oportunidade para sanar a preterição do litisconsórcio necessário a consequência
é a absolvição da instância. Temos também a possibilidade de renovação da instância
(artigo 261 nº2 do CPC) – prazo adicional de 30 dias para depois de haver absolvição da
instância o autor poder nos 30 dias subsequentes solicitar o incidente de intervenção de
terceiros, chamar o terceiro em falta e dá-se uma renovação da instância.

106
16/12/2021

79. Coligação

A coligação é também uma manifestação da pluralidade de partes.

Distingue-se do litisconsórcio na medida em que no litisconsórcio temos uma ou


mais relações jurídicas processuais em que deriva uma única relação material
controvertida. Se for um litisconsórcio necessário temos uma única relação jurídica
processual. Se for um litisconsórcio voluntário temos várias relações jurídicas
processuais concentradas numa única ação. O processo é um só, mas as relações
jurídicas são distintas. Na base dessa dimensão processual está uma única relação de
direito substantivo.

Na coligação temos uma situação de pluralidade de partes que está associada ou


que emerge de uma situação de pluralidade de relações materiais controvertidas. São
diferentes relações de direito substantivo que dão origem a diferentes relações jurídicas
processuais, mas que são todas elas concentradas num único processo. Encontra-se
regulada no artigo 36º do CPC que nos diz que é possível a coligação de autores contra
um ou vários réus ou por exemplo um autor demandar vários réus por pedidos
diferentes. O autor deduz uma ação contra o réu A, B e C pedindo coisas distintas a cada
um dos réus.

É admitida a coligação quando vários autores se coligam para demandar um réu,


cada autor deduz o seu próprio pedido; ou vários autores se coligam para demandar
vários réus; ou um autor demanda vários réus com pedidos diferentes para cada um
deles.

107
Requisitos positivos alternativos:

Quando a causa de pedido for a única e a mesma (artigo 36 nº1) - os autores


que se querem coligar têm a mesma causa de pedido em relação àquele réu. O legislador
incentiva a que os autores se coliguem e proponham uma só ação.

Exemplo: Um indivíduo que está a conduzir um carro atropela 3 pessoas, a causa


de pedido é a mesma, eles vão demandar a seguradora, cada um deles pode ter danos
diferentes (por exemplo um partiu a perna, outro partiu o braço), cada um teve despesas
diferentes, cada um pode propor a sua ação, mas a lei faculta a possibilidade de se
coligarem e apresentarem em coligação uma ação contra a seguradora os 3. Aqui temos
3 relações materiais controvertidas distintas.

Se os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou


dependência (artigo 36 nº1) - quero deduzir pedidos distintos contra réus distintos, mas
um destes pedidos está numa relação de dependência ou prejudicialidade em relação
ao outro. Portanto, há maior vantagem de em vez de propor duas ações e uma ficar
parada a aguardar o resultado da primeira, deduzo logo os dois pedidos numa só ação.
São relações materiais distintas, mas a lei consente que possam ser tramitadas num só
processo.

Exemplo: Quero pedir a declaração de nulidade de um contrato através do qual


vendi uma coisa a alguém e essa coisa foi emprestada a terceiro. O meu pedido contra
o B para que me entregue o bem que lhe emprestei só pode ser julgado procedente se
o outro pedido for julgado também procedente e é mais vantajoso se houver a coligação
entre os dois pedidos.

Quando os pedidos coligados envolvam a apreciação dos mesmos factos ou das


mesmas regras de direito (artigo 36 nº2) – Exemplo: litígios de massa, por exemplo uma
fornecedora de eletricidade ou de comunicações enviou umas faturas aos clientes com
valores, cada cliente recebeu uma fatura diferente e, portanto, cada um tem uma
relação material controvertida diferente. Ora aqui a lei permite em vez de cada um
destes clientes lesados propor a sua própria ação no tribunal, a lei permite que eles se
coliguem porque está em causa a apreciação dos mesmos factos.

Quando diz respeito às relações cartulares (artigo 36 nº3 do CPC) – os títulos de


crédito estabelecem aquilo que se chamam relações jurídicas cambiárias, são abstratas,
abstraem-se da realidade que lhes deu causa. Quando emito um cheque ou uma
liberação, o beneficiário dessa letra, desse cheque, pode cobrá-la em relação a mim sem
precisar de provar a relação económica subjacente àquela dívida. Nas relações
cartulares não preciso do título de câmbio, o título de crédito é suficiente basta
apresentar o cheque. Estes títulos de crédito podem ganhar uma vida própria. Nas
obrigações cartulares há duas relações jurídicas, a cambiária que é abstrata, abstrai-se
da existência de uma causa económica, papel que sozinho é fonte de uma obrigação de
pagamento e há a obrigação subjacente que tem a haver com a relação jurídica
subjacente que teve origem naquela letra, pode ter sido um empréstimo por exemplo
mas é uma operação real. Posso propor uma ação fundada apenas na letra ou na dívida
enquanto operação económica real.

108
Requisitos negativos (se verificados obstam à coligação):

A coligação não é admissível se aos pedidos corresponderem a formas de


processo diferentes - artigo 37 nº1 – se os pedidos que quero coligar tiverem
correspondência a formas de processo distintas, um cabe numa forma de processo
comum e outro a uma forma de processo especial, a lei não permite a coligação. Embora
o nº2 estabeleça uma exceção.

Quando a cumulação de pedidos ofenda as regras da competência


internacional ou em razão da matéria ou da hierarquia - artigo 37 nº1 – se os pedidos
que quero coligar corresponderem à competência de diferentes tribunais não é possível
fazer a coligação.

Grave inconveniente – artigo 37 nº4 - se o juiz entender que estão preenchidos


todos os requisitos da coligação mas estes pedidos que foram cumulados, ao apreciá-
los em conjunto repara que gera um inconveniente grave, envolvem diligências
provatórias muito distintas, nesse caso o juiz diz que excecionalmente não vai admitir a
coligação, embora não haja uma ilegalidade.

80. Consequências da coligação legal

Artigo 38 nº1 – se houve um cumular de pedidos que não admitem coligação, o


tribunal notifica e diz que não se pode coligar nesta ação estes dois pedidos, portanto
dá à escolha um dos pedidos. Quanto ao que não for escolhido terá de propor nova ação.
Se o autor nada disser, o réu é absolvido da instância em relação a todos os pedidos.

Se houver vários autores diz o nº2 que todos são notificados para por acordo
escolherem quais os pedidos. O nº3 diz que o juiz absolve o réu da instância quanto aos
pedidos que ele não indicou.

109
Interesse processual:

81. Noção de interesse processual

O interesse processual é um pressuposto processual atípico e inominado. É


inominado porque não está expressamente previsto na lei e é atípico porque o seu
regime jurídico não está delineado pelo legislador. É um pressuposto que a doutrina
vem reconhecendo há muito tempo como sendo um pressuposto que existe, o legislador
ao aprovar o novo código poderia ter resolvido esta lacuna, mas não o fez.

O pressuposto do interesse processual exprime no processo a necessidade da


tutela judiciária. O interesse processual exprime a relação das partes com o processo. É
a necessidade de utilizar a via processual. Exprime a necessidade da parte se socorrer
de um processo judicial para tutelar aquele direito que está carecido de tutela judiciaria.

82. Consequências da falta de interesse processual

Exemplo de falta de interesse processual: propor uma ação a condenar alguém


a cumprir uma obrigação que ainda não está vencida (artigo 610 do CPC). Ainda nem
sequer preciso deste processo judicial. A jurisprudência inclina-se para a absolvição da
instância. Se propuser uma ação, quero que o réu seja condenado a pagar-me a
obrigação no dia 5 de agosto de 2022 por exemplo, o legislador diz que não tem legítimo
interesse processual para propor a ação, mas se o réu contestar a dizer que a ação não
existe, o tribunal pode condenar à satisfação da prestação no momento próprio se
decidir que de facto ela existe.

A consequência da falta de interesse processual é a absolvição da instância.

110
Competência:

83. Noção de competência

A competência é um pressuposto processual que se tem de verificar em relação


ao tribunal. É um pressuposto processual positivo, típico e nominado. Pode ser de
conhecimento oficioso numas circunstâncias ou de averiguação das partes noutras
circunstâncias.

Distinção entre jurisdição, competência e distribuição:

A função jurisdicional tem o seu conteúdo na CRP e também no artigo 2 nº3 da


LOSJ. Esta função está confiada a todos os tribunais enquanto um todo. No entanto, há
muitos tribunais no nosso ordenamento jurídico. Todos exercem a função jurisdicional,
mas seria pouco eficiente se cada um exercesse a sua plenitude.

Temos 4 ordens jurisdicionais:

• Jurisdição comum - composta pelo Supremo Tribunal de Justiça e os tribunais de


1ª e 2ª instância (artigo 211 nº3 da CRP)
• Jurisdição administrativa e fiscal - composta pelo Supremo Tribunal
Administrativo e pelos demais tribunais administrativos e fiscais (artigo 212 nº3
da CRP)
• Jurisdição do Tribunal de Contas (artigo 214 nº1 da CRP)
• Jurisdição do Tribunal Constitucional (artigo 221 e 223 da CRP)

A cada uma destas jurisdições cabe exercer uma parcela da função jurisdicional.
Essa parcela que é confiada a cada ordem jurisdicional chama-se jurisdição.

Jurisdição comum – artigo 211 da CRP – os tribunais judiciais são os tribunais


comuns em matéria cível e criminal. Aqui está previsto um âmbito natural e residual
para a jurisdição comum. O âmbito natural é aquele que a CRP lhe indica como sendo o
âmbito natural (artigo 211nº1 da CRP), todas as matérias cíveis e criminais devem ser
julgadas pelos tribunais judiciais. No entanto, pontualmente, há exceções. Além disso
tem um âmbito residual – tudo o que não seja atribuído à jurisdição administrativa e
fiscal, ou à constitucional, ou à económica e financeira pertence aos tribunais judiciais.

O artigo 213 da CRP permite que, em tempo de guerra, possam existir tribunais
militares.

Pode acontecer que há dúvidas se as matérias são de âmbito da jurisdição dos


tribunais administrativos e fiscais ou do Tribunal de Contas ou do Tribunal Constitucional
por exemplo. São os conflitos de jurisdição, que podem ser positivos ou negativos. Os
conflitos são positivos quando dois tribunais de diferente jurisdição se arrogam a ter o
poder de jurisdição sobre o mesmo litígio. São conflitos negativos quando tribunais de
diferentes ordens judiciais negam ter jurisdição para conhecer do mesmo litígio. Há um
mecanismo para resolver os conflitos de jurisdição, através de um tribunal ad hoc
chamado tribunal dos conflitos.

111
Esta repartição da função jurisdicional não é ainda suficiente. Será suficiente
para a jurisdição do Tribunal Constitucional e para a jurisdição do Tribunal de Contas
porque são compostas por um único tribunal, mas a jurisdição dos tribunais
administrativos e a jurisdição comum são compostas de vários tribunais. A repartição
adicional é a competência.

A competência é a repartição da jurisdição.

Esta necessidade resulta, desde logo, de uma imposição constitucional de que na


ordem judicial dos tribunais judiciais existam vários tribunais.

A competência judicial é o corolário da existência de uma pluralidade de


tribunais dentro da mesma ordem jurisdicional.

Para fazer essa repartição nós usamos 4 critérios de aferição da competência:

1. Competência em razão da matéria (material)

2. Competência em razão da hierarquia

3. Competência em razão da forma do processo e do valor da ação

4. Competência em razão do território (territorial)

Além disso, podemos analisar a competência sobre duas perspetivas: em


abstrato parte da perspetiva do tribunal e em concreto que parte da perspetiva do
processo. Analisamos perante um determinado litígio, averiguamos o tribunal que é
competente para julgar aquele processo.

É necessário termos presente o artigo 39 da LOSJ – princípio da proibição de


desaforamento – nenhuma causa pode ser removida de um tribunal para outro. Isto
tem a haver com o principio perpetuatio jurisdictionis. Este princípio tem como base
constitucional o princípio do juiz natural que tem muita relevância no processo penal
(artigo 32 nº9 da CRP). Os processos têm de ser julgados pelo tribunal competente em
lei anterior à sua instauração. Alguns autores dizem que isto é um princípio geral de
direito processual que vale para todos os âmbitos. É duvidoso que assim seja. O princípio
da proibição do desaforamento quando aplicado ao processo civil não tem base
constitucional.

A distribuição é uma figura afim da competência e da jurisdição. Tem que ver


com uma repartição equitativa de processos pelos juízes. Depois de determinado o
tribunal competente para julgar uma determinada ação, pode acontecer que o tribunal
encontrado seja um tribunal onde estão colocados vários juízes. Se o tribunal
competente tiver só um juiz não há nenhum problema. Se tiver 2 ou mais juízes é preciso
uma etapa final dentro do tribunal competente para decidir qual o juiz que lá exerce
funções que vai julgar o processo. Isso faz-se através desta operação que é um ato
processual que é a distribuição. Faz-se por sorteio na esmagadora maioria dos casos.

112
Caso prático:

Em 15 janeiro de 2021, Álvaro, de 18 anos, e Bernardo, de 16 anos, ambos


estudantes de vitivinicultura em Valpaços, celebraram com Carlos, senhorio, um
contrato de arrendamento, por uma renda mensal de 150 euros, tendo por objeto
uma fração habitacional sita na Ribeira, no Porto, para um período transitório de seis
meses correspondente à duração de um estágio académico não remunerado que
vieram realizar na Instituto Português do Vinho em Gaia.

Em 10 fevereiro desse ano Carlos contraiu casamento, no regime da separação de


bens, com Helena. Em 20 de março, Bernardo resolveu instalar um laboratório de
microbiologia no seu quarto na fração arrendada a Carlos e sem autorização deste,
para o efeito removendo o reboco de revestimento da parede e as alcatifas. Tendo
tomado conhecimento dessa circunstância, Carlos propôs contra Bernardo uma ação
peticionando a resolução do contrato de arrendamento e a condenação na entrega
do imóvel locado.

Diogo e Eduarda, pais de Bernardo e seus representantes legais, não se entendem


quanto à posição que o filho deve adotar no processo: para o pai, a conduta do filho
é irrepreensível porque foi um ato adotado em benefício da sua formação e deve
contestar a ação do senhorio, enquanto a mãe é do entendimento que o filho deve
confessar o pedido.

Entretanto, Joaquim, vizinho do apartamento, está preocupado com as obras


realizadas no apartamento de Bernardo e, para melhor se inteirar do assunto,
deslocou-se ao tribunal para solicitar a consulta do processo. Responda
fundamentadamente, com invocação de todas as normas legais pertinentes, às
seguintes questões:

a) Será obrigatória a constituição de mandatário pelas partes na ação proposta por


Carlos?

O artigo 40 do CPC prevê 3 situações em que é obrigatória a constituição de


mandatário. O artigo 629 nº3 a) do CPC diz-nos que o único requisito que nos interessa
é aquele que exprime uma relação entre o valor da causa e o valor da alçada.

A alçada da 1ª instância é de 5 mil euros (artigo 44 nº1 da LOSJ), esta ação admite
recurso ordinário se o valor da causa for superior a 5 mil euros.

É uma ação de despejo, portanto o valor é determinado por 30 meses de renda,


o valor da causa é de 4500€ (150€/mês x 30 meses). O arrendamento foi celebrado para
o período transitório de 6 meses, está no âmbito da exceção da parte final do artigo 629
do CPC nº3 a) do CPC.

A obrigatoriedade de constituir advogado depende da admissibilidade do


recurso. Nesta causa não era obrigatório constituir advogado. Não obstante, as partes
podem constituir advogado se assim quiserem.

113
b) Aprecie a legitimidade das partes na ação proposta por Carlos.

Quem são as partes? – a ação foi proposta por Carlos (autor) e Bernardo (réu).
São estas as partes na causa.

Carlos será parte legitima na ação? – as 3 etapas que temos de fazer são apreciar
a legitimidade singular de cada parte, depois se houver pluralidade de partes temos de
averiguar se as partes podem estar litisconsorciadas, e finalmente temos de apreciar se
deveria figurar na causa mais alguém além daquelas partes, ou seja, se haveria lugar a
um litisconsórcio necessário que tenha sido preterido.

Começando pelo autor, Carlos, tem legitimidade singular? – tem de ter um


interesse direto em demandar, tem de retirar da procedência da ação uma vantagem
pessoal e direta na sua esfera jurídica, essa vantagem afere-se de acordo com a
configuração da relação material controvertida sendo irrelevante a realidade dos factos.

De acordo com a configuração da relação material controvertida, retirara uma


vantagem pessoal e imediata? – sim, fica com o imóvel, pode arrendá-lo a outra pessoa
ou vendê-lo por exemplo. Carlos pode ser autor nesta ação. Como não há litisconsórcio
não temos de avaliar a legitimidade plural.

O terceiro momento é: pode ele estar na ação sozinho ou estará ele a preterir
alguma situação de litisconsórcio necessário? – está aqui em causa o litisconsórcio
necessário ativo (deve ser proposta por ambos os cônjuges ou por um deles desde que
tenha o consentimento do outro) – aqui não está em causa a casa de morada de família,
como ele contraiu casamento no regime de separação de bens ele pode dispor dos seus
bens próprios sem o conhecimento do seu cônjuge, pode propor esta ação sozinho. O
que interessa é o momento em que a ação é proposta.

Em relação ao Bernardo, é parte legítima na causa? – vamos apreciar a sua


legitimidade singular, como é que se afere? – tem de ter interesse direto em
contradizer e tem este interesse se da procedência da causa resultar um prejuízo direto.
Ele tem interesse em contradizer na medida que de acordo com a versão do autor se a
ação for julgada procedente ele tem um prejuízo imediato e direto. Ele ficará sem a
disponibilidade de um bem, logo, ele tem legitimidade singular. Como não há mais
nenhum réu não temos de apreciar a legitimidade plural.

Por fim, temos de ver se se trata de uma situação de litisconsórcio necessário.

Colocar-se-á algum problema a este respeito? – qual é a relação material


controvertida? – relação jurídica contratual, contrato de arrendamento e a sua violação.
Os sujeitos desta relação são o Carlos como senhorio e o Bernardo e o Álvaro como
inclinos.

114
Deveria aqui figurar também o Álvaro? – o litisconsórcio necessário natural
existe aqui? – sim, a decisão que se vier a proferir só pode produzir o seu efeito útil
normal se ela vincular todos os inclinos.

Se propuser a ação apenas contra um deles, a ação não produz um efeito útil.
Não posso ter um contrato de arrendamento resolvido quanto a um inclino e não
resolvido quanto ao outro inclino.

O Bernardo é parte ilegítima na ação. Há ilegitimidade passiva.

A consequência será a absolvição do réu na instância. No entanto, porque o


motivo da ilegitimidade é a preterição de um litisconsórcio necessário natural o
legislador vê com muito desagrado essa possibilidade.

Em 1º lugar o tribunal tem o dever de suscitar junto das partes que elas
procedam à sanação da instância através do chamamento das partes em falta, neste
caso do chamamento do Álvaro. Ele toma supervenientemente a posição de parte. Isto
chama-se o incidente de intervenção de terceiros. Se ele não for deduzido, aí o tribunal
tem de proferir uma decisão de absolvição da instância. Depois de proferida esta
decisão, mas antes desta transitar em julgado, permite ao autor deduzir à última da hora
o incidente de intervenção de terceiros e chamar o Álvaro. Se o fizer naquele período, a
decisão de absolvição de instância fica sem efeito e a ação prossegue agora já com o
Álvaro como parte.

Se ainda assim o autor não deduzir o incidente durante o prazo acaba o


processo? – ainda há uma terceira válvula de escape. O legislador não quer que os
processos terminem por causa destas ilegalidades formais. Então, temos o artigo 261
nº2 do CPC que é uma norma de renovação da instância.

Mesmo depois da instância estar terminada, o legislador dá um prazo adicional


de 30 dias ao autor para ele vir deduzir um incidente de intervenção de terceiros
chamando o Álvaro e se o fizer nesses 30 dias a instância que já estava extinta renovase,
renasce.

115
17/12/2021

Caso prático:

Em 15 janeiro de 2014, António, casado no regime da comunhão de adquiridos com


Benedita, celebrou com Carlos um contrato de compra e venda referente a um
prédio rústico sito em Campanhã, no Porto, ficando ajustado que o preço da venda,
no valor de 4.000,00€, seria pago em duas prestações semestrais de igual valor cada
uma. Carlos, adquiriu o prédio com intenção de o oferecer aos seus futuros sogros
uma vez que se iria casar no final de janeiro com Diana no regime da separação de
bens. Pagou a primeira prestação aquando da outorga do contrato. Sucede que, logo
em fevereiro de 2014, já depois de celebrado o seu casamento, se deu conta que
estava prevista a construção junto ao prédio de uma linha férrea que lhe iria retirar
qualquer utilidade construtiva ou agrícola, circunstância que era do conhecimento de
António e que a ocultou de Carlos. Inconformado com tal situação, Carlos propôs
contra António uma ação peticionando a resolução do contrato de compra e venda e
a devolução da primeira prestação do preço paga por Carlos. Responda
fundamentadamente, com invocação de todas as normas legais pertinentes, à
seguinte questão:

a) Aprecie a legitimidade processual de ambas as partes na ação.

Conceito de legitimidade. Apreciar a legitimidade das partes nesta ação. As


partes na ação são Carlos (autor) e António (réu).

Começando pela legitimidade ativa, temos Carlos que propôs uma ação contra o
António, temos que primeiramente apreciar a legitimidade singular, ele tem
legitimidade ativa singular uma vez que se a ação for procedente ele receberia algum
dinheiro. Temos de saber se há ou não a preterição do litisconsórcio necessário. As
modalidades que conhecemos é o legal, convencional, conjugal e natural.

Temos aqui um caso de litisconsórcio necessário conjugal, ele casou depois de


comprar o terreno, mas antes de propor a ação e o que mais importa aqui é o regime de
bens do casamento. Há um indício de que não se trata da casa de morada de família.
Por outro lado, o regime de casamento é a separação de bens.

Aqui temos que saber se a disposição deste bem carecia da autorização de ambos
os cônjuges.

De acordo com o artigo 1682-A a) do CPC não era necessária a autorização do


outro cônjuge uma vez que entre eles vigora o regime de separação de bens. Logo, não
há litisconsórcio necessário conjugal. Portanto, Carlos é parte legitima na ação.

Quando à legitimidade do António, legitimidade passiva, temos que ver


primeiramente a legitimidade singular, ele retira um prejuízo direto e imediato da
procedência da causa. Tem legitimidade singular. Não há pluralidade de partes.

116
Teremos que ver se há litisconsórcio necessário. O António é casado no regime
de comunhão de adquiridos, logo, de acordo com o artigo 34 do CPC, a disposição
daquele bem exige a intervenção de ambos os cônjuges. A ação deveria de ser proposta
contra António e o seu cônjuge.

Temos uma situação de preterição do litisconsórcio passivo conjugal. António é


parte ilegítima na ação. A consequência é a absolvição do réu da instância. Este vício é
sanável e o legislador incentiva a sua sanação.

O juiz tem o dever de convidar as partes a sanar a falta deste pressuposto


processual deduzindo o incidente de intervenção de terceiros de maneira a chamar
Benedita a assumir a posição de réu. Isto tem que ser as partes a requererem.

Temos o artigo 261 nº2 do CPC que é uma norma de renovação da instância.
Mesmo depois da instância estar terminada, o legislador dá um prazo adicional de 30
dias ao autor para ele vir deduzir um incidente de intervenção de terceiros chamando a
parte em falta e se o fizer nesses 30 dias a instância que já estava extinta renova-se,
renasce.

Valor da causa – ver primeiramente os pedidos, quantos temos. Se houver mais


do que um temos de determinar o valor deles. 1º pedido: valor da resolução do contrato:
4 mil euros; 2º pedido: 2 mil euros. Temos que somar os dois valores, a causa será de 6
mil euros.

117
06/01/2022

84. Competência internacional

A competência internacional coloca-se naturalmente quando estamos perante


litígios transfronteiriços, têm conexão com mais do que uma ordem jurídica. Esse litígio
dá origem a uma ação proposta no tribunal português. Se os tribunais portugueses aqui
entendidos como um todo têm ou não competência internacional para julgar essa causa.
Há aqui um conjunto de normas que regulam essa matéria.

Estes litígios podem-se desdobrar em transfronteiriços puros e litígios


intracomunitários. São intracomunitários quando têm conexão apenas com
ordenamentos jurídicos de estados da UE. São transfronteiriços puros quando há
conexão nem que seja com um ordenamento jurídico fora do ordenamento da UE. A
competência internacional é aferida não em relação a cada concreto tribunal, mas sim
aferida aos tribunais portugueses como um todo.

Não há diferença de competência internacional entre os diferentes tribunais


portugueses. Está regulada no artigo 59 do CPC. A competência internacional pode
resultar de 4 princípios:

Princípio da coincidência (artigo 62 nº1 a) do CPC) – a competência internacional


existe quando houver uma coincidência com as regras da competência interna em razão
do território.

Princípio da causalidade (artigo 62 nº1 b) do CPC) – se o facto que serve de


fundamento à propositura da ação tiver ocorrido em território português, então os
tribunais portugueses são internacionalmente competentes.

Princípio da necessidade (artigo 62 nº1 c) do CPC) – o direito invocado na ação


e que se quer ver tutelado só através de uma ação proposta no tribunal português é que
se poderá tornar efetivo. Uma outra situação é que o direito até se pode tornar efetivo
mediante a propositura da ação num outro estado, mas para aquele concreto autor ser-
lhe-ia muito difícil propor a ação no estrangeiro. No entanto, esta segunda vertente só
se aplica se houver uma conexão entre o objeto do litígio (pedido e causa de pedir) e a
ordem jurídica portuguesa. Pode ser pessoal (dizer respeito às pessoas envolvidas no
objeto de litígios) ou real.

Princípio da consensualidade (artigo 94 do CPC) – pode resultar da vontade das


partes. As partes podem convencionar qual a jurisdição competente para dirimir um
determinado litígio ou os litígios decorrentes de certa relação jurídica. Chama-se a isto
um pacto atributivo de jurisdição. Tanto se pode atribuir uma competência internacional
exclusivamente aos tribunais portugueses como em alternativa aos outros tribunais.

118
Para que a escolha da jurisdição competente seja válida é necessário que se
cumpram requisitos: o litígio tem de dizer respeito a direitos disponíveis; em segundo
lugar o estado cujos tribunais foram escolhidos tem de aceitar essa escolha; é necessário
também que essa escolha seja justificada por um interesse sério de ambas as partes ou
então ao interesse sério de apenas uma das partes desde que não envolva um grave
inconveniente para a outra; não pode recair sobre matéria que seja da exclusiva
competência dos tribunais portugueses.

O último requisito é que o pacto tem que ser escrito, tem de resultar de um
acordo escrito entre as partes ou confirmado por escrito com menção expressa da
jurisdição ou jurisdições às quais foram reconhecidas a competência internacional.
Quando as partes celebram validamente um pacto ele é reconhecido pelo ordenamento
jurídico português e isso vale tanto pela positiva como pela negativa. Vale pela positiva
porque se as partes tiverem escolhido o foro do ordenamento jurídico português essa
escolha é aceite. Vale pela negativa porque se as partes convencionaram escolher os
tribunais de outro estado e se essa convenção for válida, essa escolha vincula os
tribunais portugueses pela negativa. O tribunal português declarar-se-á incompetente.
Terão de rejeitar por não serem internacionalmente competentes.

119
85. A competência internacional exclusiva dos tribunais portugueses

Há um conjunto de situações em que a lei reconhece a chamada competência


internacional exclusiva dos tribunais portugueses. Está prevista no artigo 63 do CPC. Há
um conjunto de matérias que só podem ser julgadas no tribunal português. Se forem
julgadas em tribunais estrangeiros essas sentenças não são reconhecidas em Portugal.

Na alínea a) temos as ações reais – essas ações só podem ser julgadas em


tribunais portugueses.

Na alínea b) temos a previsão das ações pessoais relativas a pessoas coletivas e


as ações de impugnação de deliberações sociais – qualquer litígio que envolva uma
sociedade sediada em Portugal que foi validamente constituída tem de ser apreciado
em tribunal português.

O mesmo para a dissolução de uma sociedade ou outra pessoa coletiva sediada


em Portugal. O mesmo quando esteja em causa a validade das decisões dos seus órgãos
(decisões de impugnação de deliberações sociais).

Na alínea c) temos as ações registais – se quero impugnar um registo sobre um


prédio, qualquer registo público que esteja sediado em Portugal a impugnação desses
registos pertence em exclusivo aos tribunais portugueses.

Na alínea e) temos as ações falimentares, de insolvência de pessoas sediadas em


Portugal ou residentes em Portugal no caso das pessoas singulares, é da competência
exclusiva dos tribunais portugueses.

Na alínea d) temos as ações executivas sobre bens situados em Portugal que são
da competência exclusiva dos tribunais portugueses.

Para os litígios intracomunitários aplicamos uma série de regulamentos


europeus. O que vamos ver com mais detalhe é o Regulamento 1215/2012 do
Parlamento Europeu e do Conselho, relativo à competência judiciária, ao
reconhecimento e à execução de decisões em matéria civil e comercial.

Aplica-se genericamente aos litígios cíveis e comerciais. O princípio regra


(princípio do domicílio do réu) está regulado no artigo 4 nº1 “sem prejuízo do disposto
no presente regulamento, as pessoas domiciliadas num estado-membro devem ser
demandadas independentemente da sua nacionalidade nos tribunais desse estado-
membro”.

Também há exceções a esta regra geral, o regulamento tem uma série de


exceções: artigo 7 nº1 a) – a competência pertence também ao estado do cumprimento
da ação.

Artigo 7 nº2 - em matéria de responsabilidade extracontratual, emergente de


factos ilícitos, a competência internacional pertencerá também ao tribunal do lugar
onde ocorreu ou poderá ocorrer o facto danoso.

120
Artigo 7 nº3 – atribui competência internacional quando esteja em causa o
princípio da adesão. Se se tratar de uma ação de indemnização fundada em ação penal,
as pessoas domiciliadas num estadomembro podem ser demandadas no tribunal onde
foi intentada a ação penal. Vem-se reconhecer a competência internacional cível dos
tribunais penais quando estejam em causa pedidos indemnizatórios.

Artigo 18 (contratos de consumo) - o consumidor pode intentar uma ação contra


a outra parte do contrato quer nos tribunais onde esteja domiciliada a outra parte quer
no tribunal onde ele estiver independentemente de onde estiver a parte demandada.

Artigo 24 – corresponde ao artigo 63 do CPC.

Convenção de Bruxelas de 1968 – aplica-se ainda esta convenção porque alguns


estados membros têm uma exceção em relação ao regulamento que foi visto
anteriormente. Alguns estados-membros optaram por não aceitar a aplicação desse
regulamento. Por exemplo a Dinamarca. Esta convenção ainda hoje se mantém em
vigor.

121
86. A competência interna (não sai no exame)

De um modo geral, a legislação dá-nos a indicação de um único tribunal que é


competente para julgar. Nalgumas situações, a legislação dá-nos indicação de
competência alternativa, às vezes 2, 4 tribunais onde a ação pode ser proposta.

Temos que articular dois tipos de normas: normas de direito processual que
constam do CPC e normas de organização judiciária que constam da LOSJ.

O território nacional está dividido em dois tipos de circunscrições judiciais: as


comarcas (artigo 33 nº2 da LOSJ) e os distritos judiciais.

Organização judiciária - o Supremo Tribunal de Justiça (artigo 45 da LOSJ); temos


as relações que funcionam como tribunais de 2ª instância previstas no artigo 67 da LOSJ;
ao nível da 1ª instância temos uma organização judiciária que faz corresponder um
tribunal de comarca (artigo 79 da LOSJ). Os tribunais de comarca têm uma competência
genérica regulada no artigo 80 do CPC. Os tribunais de comarca desdobram-se em
juízos.

A lei prevê que possam existir juízos centrais cíveis, juízos locais cíveis, juízos
centrais criminais, juízos locais criminais etc. O desdobramento é feito para cada tribunal
de comarca (artigo 93 do decreto-lei 49/2014). Além dos tribunais de comarca existem
outros tribunais judiciais de 1ª instância (artigo 83 da LOSJ) – tribunais de competência
territorial alargada – são tribunais de competência alargada o Tribunal da Propriedade
Intelectual (sediado em Lisboa, mas atua sobre todo o país), Tribunal Marítimo (sediado
em Lisboa, mas atua sobre todo o país) etc. São tribunais únicos que têm sede numa
localidade, mas que atuam sobre todo o território nacional.

A competência funcional – no código anterior mantinha-se ainda a figura dos


tribunais coletivos, certos litígios de 1ª instância tinham de ser decididos por tribunais
coletivos (3 juízes), isto já se aplicava muito raramente devido a várias reformas que
existiram. O novo código no seu artigo 599 aboliu o tribunal coletivo. Hoje em dia em
processo cível na 1ª instância já não há lugar ao tribunal coletivo. Mantém-se ainda a
colegialidade nos tribunais superiores (artigo 56 nº1 da LOSJ). Na 1ª instância a regra é
haver um juiz singular.

122
Temos de articular 3 regras de competência para apurar o tribunal competente
para conhecer de um determinado litígio: em razão da matéria, em razão da hierarquia
e em razão do território:

87. A competência em razão da matéria

Vamos atender ao pedido e eventualmente à causa de pedido. É em função do


concreto pedido que o autor deduz. Pode existir cumulação de vários pedidos e pode
acontecer que o tribunal seja competente para conhecer alguns dos pedidos deduzidos
e não seja competente para conhecer de outros pedidos artigo 565 nº1 do CPC – temos
que aplicar as regras da coligação, aplicam-se supletivamente à cumulação de pedidos
a que correspondam regras de competência material distintas. Aplicamos o artigo 38 do
CPC. Regras de competência material dos diferentes tribunais: encontra-se prevista na
LOSJ.

Começando pelos tribunais de competência alargada, temos o artigo 111 da


LOSJ (Tribunal Central da Propriedade Intelectual); artigo 113 nº1 da LOSJ (Tribunal
Marítimo); artigo 112 nº3 e nº4 (Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão) e
outros tribunais de competência territorial alargada.

Quanto à competência dos juízos de competência especializada dos tribunais


de comarca temos os:

• Juízos de comércio (artigo 128 nº1 da LOSJ)


• Juízos de família e menores (artigo 122 da LOSJ)
• Juízos de trabalho (artigo 126 nº1 da LOSJ)
• Juízos de execução (artigo 129 da LOSJ)

A competência residual dos juízos (centrais/locais) cíveis (artigo 41 da LOSJ):

O valor da causa como fator determinante da atribuição da competência


(artigo 117 nº1 e artigo 130 nº1 da LOSJ) – se a ação tiver um valor superior a 50 mil
euros, ou seja, se a ação tiver um valor superior a 50 mil euros e um cêntimo ou mais, a
competência pertencerá aos juízos centrais cíveis. Se o valor for inferior aplicamos o
artigo 130 da LOSJ que nos diz que compete aos juízos locais cíveis, vão caber todos os
litígios que não pertencem nem aos tribunais de competência alargada nem aos demais
juízos do tribunal de comarca.

88. Competência em razão da hierarquia

A hierarquia atende a uma organização vertical, hierarquizada de tribunais


judiciais. Não há verdadeiramente hierarquia em sentido próprio. Os tribunais não estão
sujeitos a ordens nem sequer a outros tribunais salvo uma exceção. Há uma estrutura
verticalizada. Em razão da hierarquia a regra é que cabe aos tribunais de 1ª instância
conhecer dos processos em 1º grau de decisão. Há exceções: há processos que em 1º
grau de decisão devem ser propostas em tribunais de 2ª instância ou até no Supremo
Tribunal de Justiça. Os tribunais de 2ª instância são competentes para conhecer de
processos que já foram decididos nos tribunais de 1ª instância, dos recursos.

123
89. A competência em razão do território

Aqui tendo presente já não os assuntos ou os temas sobre os quais os litígios


incidem, mas tendo presente as regras de conexão territorial. As regras estão previstas
no CPC.

Artigo 70 do CPC (regra do foro real) – todas estas ações denominadas ações
reais e ações de despejo são propostas no tribunal onde se situe o bem a que a ação diz
respeito. Isto quer se trate de um bem móvel ou um bem imóvel. Artigo 71 nº1 do CPC
(regra do foro obrigacional)

Artigo 71 nº2 do CPC (regra do foro delitual)

Artigo 72 do CPC (regra do foro do autor)

Artigo 72-A nº1 do CPC (regra do foro sucessório)

Artigo 80 do CPC (regra do foro do réu (ou do foro geral) – a competência


territorial pertencerá ao tribunal do domicílio do réu. Há, no entanto, algumas
particularidades porque se houver mais do que um réu e tiverem domiciliados em
localidades distintas devem ser todos demandados no tribunal do domicílio maior deles.
Podem ainda levantar-se alguns outros problemas: situação dos réus serem incertos ou
ausentes (artigo 80 nº2 do CPC) – se o réu não tiver residência habitual ou se for incerto
ou ausente é demandado no tribunal do domicílio do autor.

Pode acontecer que o réu esteja residente no estrangeiro, é demandado no


tribunal onde se encontrar se se encontrar em Portugal, se não se encontrar em Portugal
é demandado no tribunal do domicílio do autor. Há ainda outra particularidade no artigo
81 do CPC – se o réu for o Estado, se quero propor uma ação contra a pessoa jurídica
Estado, então substitui-se ao domicílio do réu, o domicilio do autor. Se estiver em causa
uma outra pessoa coletiva que não o Estado, uma sociedade comercial, empresa pública
etc, diz o artigo 81 nº2 do CPC que o réu é demandado no tribunal da sede da
administração principal ou se estiver a demandar a filial então será no tribunal da
localidade dessa sucursal.

124
07/01/2022

Caso Prático:

Em 15 de janeiro de 2012 Ssang Yoo, empresário de nacionalidade chinesa


domiciliado em Singapura, deslocou-se a uma feira de produtos agrícolas em
Francoforte, na Alemanha, onde conheceu Armindo, empresário domiciliado em
França mas originário de Mirandela, onde ainda possuía relações familiares, com
quem acertou a compra de 2 toneladas de alheiras típicas desta cidade que deveriam
ser entregues no dia 15 de março no porto de Kuala Lumpur, na Malásia, sendo o
preço, de 50 mil de euros, logo colocado a pagamento numa conta de Armindo no
banco Coutt's em Londres, no Reino Unido. Na data aprazada, as alheiras foram
entregues em Hong Kong em condições impróprias para consumo humano, em
virtude de avaria na refrigeração do contentor frigorífico ocorrida durante a viagem.
Inconformado, Ssang Yoo pretende intentar em Portugal uma ação contra Armindo
pedindo a sua condenação a reembolsar o preço já recebido acrescido de uma
indemnização por incumprimento contratual.

Aprecie fundamentadamente, com invocação de todas as normas legais pertinentes,


se Ssang Yoo poderá propor em Portugal a ação que pretende intentar.

A questão que se coloca aqui é uma questão de competência internacional. A


ação que está em causa é a ação que o Ssang Yoo pretende propor contra o Armindo. É
um problema de competência internacional porque estamos perante um litígio
transfronteiriço, tem conexão com diferentes ordenamentos jurídicos além daquele que
nos interessa a nós (o português) porque é nos tribunais portugueses que se quer propor
a ação.

Este litígio tem um conjunto de conexões com ordenamentos jurídicos de outros


estados desde logo as partes, uma reside em Singapura e reside na china, um é natural
de Portugal, mas reside em França. Temos um litígio transfronteiriço puro porque
envolve também estados extra europeus, não integram a União Europeia.

O caso resolve-se por aplicação do artigo 59 do CPC que remete para os artigos
62, 63 e 94 do CPC. A competência internacional dos tribunais portugueses depende da
verificação de um entre 4 possíveis princípios: princípio da coincidência; princípio da
causalidade; princípio da necessidade e o princípio da consensualidade.

Quanto ao princípio da consensualidade, o texto do caso prático não faz


referência a que as partes elegeram um foro e, portanto, se isso não é indicado no caso
não ocorreu, podemos já excluir este princípio. Se nenhum dos restantes 3 princípios for
aplicável vamos ter de concluir que os tribunais portugueses não são competentes.
Quanto ao princípio da necessidade, sabemos que tem duas dimensões, por um lado, o
direito invocado, um direito de crédito neste caso, do adquirente das mercadorias, nada
no caso prático sugere que tem lugar em Portugal, e o outro requisito deste princípio
também não se aplica no seguimento que não existe nenhuma propositura da ação no
estrangeiro e não há nenhum elemento ponderoso de conexão pessoal ou real.

125
Quanto ao princípio da coincidência temos que articular a alínea deste princípio
com as normas da competência territorial, neste contexto, o facto territorial seria o
domicílio do réu que é em França, ou o lugar de cumprimento da ação que é na Malásia,
e neste caso ditaria sempre a competência de um tribunal estrangeiro. Por fim, quanto
ao princípio da causalidade também não seria aplicado. Podemos concluir que os
tribunais portugueses não têm competência internacional para conhecer deste litígio.

126

You might also like