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Patrocínio

Projeto Semeando o Bioma Cerrado

Edifício Finatec, Bloco “H” - Campus UnB


Cep: 70.910-900 - Brasília/DF
Telefone: (61) 3348-0423
E-mail: redecerrado@finatec.org.br

Beneficiamento, embalagem
www.rededesementesdocerrado.org.br
e armazenamento de sementes
Diretoria da Rede de Sementes do Cerrado (2010 – 2012)

Presidente
Maria Magaly Velloso da Silva Wetzel

Vice-Presidente
Celúlia Maria R. F. Maury

Secretária
Regina Célia Fernandes

Tesoureira
Carmen Regina M. A. Correa

Conselho Consultivo
Ana Palmira Silva
Manoel Cláudio da Silva Júnior
Alba Evangelista Ramos
José Carlos Sousa Silva

Conselho Fiscal
Sarah Christina Caldas Oliveira
Germana Maria Cavalcanti Lemos Reis
Antonieta Nassif Salomão
Luiz Cláudio Siqueira Jorge

Coordenador do Projeto “Semeando o Bioma Cerrado”


José Rozalvo Andrigueto

Equipe Técnica
Profa. Sybelle Barreira
Enga. Agrônoma Héria de Freitas Teles
Prof. Ronaldo Veloso Naves
Profa. Marivone Moreira dos Santos
Prof. Guilherme Augusto Canella Gomes
Prof. Fábio Venturoli
Prof. Jácomo Divino Borges
Profa. Francine Neves Calil
Prof. Carlos Roberto Sette Junior

Projeto Gráfico, diagramação e ilustrações


Ct. Comunicação

Direitos autorais reservados à Rede de Sementes do Cerrado.


Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.
Beneficiamento, embalagem
e armazenamento de sementes

Brasília, 2011
sumário

Apresentação 5

1 Introdução 6

2 O Bioma Cerrado e suas fitofisionomias 7


2.1 Formações Florestais 7
2.2 Formações Savânicas 7
2.3 Formações Campestres 8

3 Legislação Ambiental e de comercialização de sementes e mudas 9

4 Noções de frutos e sementes – material reprodutivo 14

5 Técnicas de beneficiamento 15

6 Métodos de secagem 18
6.1 Processos de secagem 18
6.2 Métodos de secagem 19
6.2.1 Secagem Natural 19
6.2.2 Secagem Artificial 19

7 Tipos de embalagem 20
7.1 Porosas 20
7.2 Semiporosas 20
7.3 Impermeáveis 21
8 Tipos de armazenamento e comportamento das sementes 22

9 Características físicas e fisiológicas das sementes das


principais espécies do cerrado 24
9.1 Características físicas 24
9.2 Características Fisiológicas 25
9.2.1 Germinação 25
9.2.1.1 Conceitos 25
9.2.1.2 Fases da germinação 25
9.2.1.3 Fatores que afetam a germinação 26
9.2.1.3.1 Longevidade das sementes 26
9.2.1.3.2 Água 26
9.2.1.3.3 Gases 26
9.2.1.3.4 Temperatura 26
9.2.1.3.5 Luz 26
9.2.1.4 Tipos de germinação 26
9.2.1.4.1 Germinação epígea 27
9.2.1.4.2 Germinação hipógea 27
9.2.2 Dormência 28
9.2.2.1 Conceito 28
9.2.2.2 Tipos de dormência e suas formas de superação 28
9.2.2.2.1 Dormência Primária 28
9.2.2.2.2 Dormência secundária 28

10 Amostragem e métodos de análise 29

Referências bibliográficas 31
APRESENTAÇÃO

A Rede de Sementes do Cerrado é uma instituição jurídica de direito privado, sem


fins lucrativos - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP, re-
gida por estatuto próprio e sediada em Brasília. Tem por finalidade a conservação,
o manejo, a recuperação, a promoção de estudos e pesquisas, e divulgação de
informações técnicas e científicas do Bioma Cerrado.
A Rede de Sementes do Cerrado mantém contratos de cooperação e colabo-
ração com a Embrapa, Oca Brasil, CRAD/UnB, UFG, SEAPA, IBRAM, IFB, Eco
Câmara, entre outros.
Nestes últimos anos a Rede desenvolveu os seguintes projetos: capacitação de
pequenos agricultores da Bahia - MMA; levantamento de dados secundários do
Rio São Francisco- MMA; XIII Feira de Sementes dos Índios Kraôs - USAID; recu-
peração de nascentes do DF- IBRAM/SEAPA e, no ano de 2011, iniciou o Projeto
Semeando o Bioma Cerrado, patrocinado pela Petrobras dentro do Programa da
Petrobras Ambiental.
Dentro deste projeto está prevista a realização de 24 cursos visando a capaci-
tação de 360 pessoas para o exercício das atividades em seis áreas temáticas:
identificação de árvores do Bioma; seleção e marcação de árvores matrizes; cole-
ta e manejo de sementes, beneficiamento, embalagem e armazenamento de se-
mentes; produção de mudas de espécies florestais e viveiros: projetos, instalação,
manejo e comercialização. Para cada curso realizado está prevista a elaboração
de uma cartilha com as informações básicas dos temas
A Rede de Sementes do Cerrado agradece a Universidade Federal de Goiás -
UFG, nossa parceira, pela elaboração desta excelente cartilha que visa colabo-
rar com o desenvolvimento dos elos da cadeia produtiva de sementes e mudas
florestais de espécies nativas a adequarem-se a legislação e adotarem modelos
eficientes de produção promovendo desenvolvimento sustentável.

Maria Magaly V. da Silva Wetzel


Presidente da Rede de Sementes do Cerrado

José Rozalvo Andrigueto


Coordenador do Projeto

5 Beneficiamento, embalagem e armazenamento de sementes


1 INTRODUÇÃO
A crescente ocupação do Bioma Cerrado tem levado à abertura de novas áreas
com elevadas taxas de desmatamento e sem a preocupação com a vegetação
nativa remanescente, concentrada em fragmentos. Enquanto, por um lado o des-
matamento avança, por outro a sociedade preocupa-se com a restauração de
áreas e criação de corredores ecológicos para manutenção da vegetação e fauna
do Bioma.
A qualidade de sementes e mudas é fundamental para o processo de restaura-
ção, onde deve-se buscar, além da qualidade fisiológica e fitossanitária, também
a maior diversidade genética. Escolha de matrizes e processos de coleta de se-
mentes são processos importantes, mas que sozinhos não são suficientes para
que sejam atingidos os objetivos citados acima. Devem fazer parte os processos
intermediários entre a coleta e a produção de mudas.
Esta cartilha não tem a pretensão de esgotar o assunto e sim de apresentar ques-
tões importantes que permeiam estes processos intermediários que são, benefi-
ciamento, secagem e armazenamento de sementes.

Semeando o Bioma Cerrado 6


2 O BIOMA CERRADO E SUAS FITOFISIONOMIAS
O Cerrado é o segundo maior bioma do país. Possui uma área de cerca de dois
milhões de km2 (24% do território nacional) e ocupa a porção central do Brasil,
se estendendo até o litoral do estado do Maranhão e norte do estado do Para-
ná (Brasil, MMA 2007). É uma das regiões de maior biodiversidade do planeta.
Calcula-se que mais de 40% das espécies de plantas lenhosas sejam endêmicas
(Klink e Machado, 2005).
A vegetação do bioma Cerrado apresenta fisionomias que englobam formações
florestais, savânicas e campestres (Figura 01). Os critérios adotados para diferen-
ciar os tipos fitofisionômicos são baseados primeiramente na forma, definida pela
estrutura, pelas formas de crescimento dominantes e por possíveis mudanças
estacionais. Posteriormente consideram-se aspectos do ambiente e da composi-
ção florística.

2.1 Formações Florestais


Englobam os tipos de vegetação com predominância de espécies arbóreas, com
formação de dossel contínuo. A Mata Ciliar e a Mata de Galeria são fisionomias
associadas a cursos d`água e a Mata Seca e Cerradão ocorrem nos interflúvios
em terrenos bem drenados, sem associação com cursos d`água.

2.2 Formações Savânicas


Englobam quatro tipos fisionômicos principais: Cerrado sentido restrito, o Parque
de Cerrado, o Palmeiral e a Vereda.
O Cerrado sentido restrito caracteriza-se pela presença dos estratos arbóreo e
arbustivo-herbáceo definidos, com árvores distribuídas aleatoriamente sobre o
terreno em diferentes densidades, sem que se forme um dossel contínuo.
No Parque de Cerrado a ocorrência de árvores é concentrada em locais específi-
cos do terreno, já o Palmeiral ocorre a presença marcante de determinada espé-
cie de palmeira arbórea. A Vereda caracteriza-se pela presença do Buriti.
O Cerrado sentido restrito apresenta quatro subtipos: Cerrado Denso, Cerrado
Típico, Cerrado Ralo e Cerrado Rupestre.

7 Beneficiamento, embalagem e armazenamento de sementes


2.3 Formações Campestres
Englobam três tipos fisionômicos principais: o Campo Sujo, Campo Limpo e o
Campo Rupestre.
O Campo Sujo caracteriza-se pela presença evidente de arbustos e subarbustos
entremeados no estrato arbustivo-herbáceo. No Campo Limpo, a presença de
arbustos e subarbustos é insignificante. O Campo Rupestre possui trechos com
estrutura similar ao Campo Sujo ou ao Campo Limpo, diferenciando-se tanto pelo
substrato, composto por afloramentos de rocha, quanto pela composição florísti-
ca, que inclui muitos endesmismos.

Bioma Cerrado

Cerrado Sentido Amplo

Cerrado Sentido Restrito

Formações Formações Formações Formações


Florestais Savânicas Campestres Savânicas

6. Campo Sujo 9. Vereda

7. Campo 7. Parque de
5. Cerrado Limpo Cerrado

8. Campo 8. Palmeiral
1. Mata Ciliar 2. Mata de 3. Mata Seca 4. Cerradão Rupestre
a. Denso b. Típico c. Ralo d. Rupestre
Galeria

Figura 01 – Esquema adaptado das principais fitofisionomias do Bioma Cerrado (Sano et al. 2008)

Semeando o Bioma Cerrado 8


3 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E DE COMERCIALIZAÇÃO
DE SEMENTES E MUDAS
Atualmente, a legislação que se refere à produção de sementes e mudas é a
Lei nº 10.711, de 5 de agosto de 2003 que dispõe sobre o Sistema Nacional de
Sementes e Mudas (SNSM), tratando, de maneira geral, do Registro Nacional de
Sementes e Mudas (Renasem); do Registro Nacional de Cultivares (RNC); da pro-
dução, da certificação, da análise e da comercialização de sementes e mudas;
da fiscalização da produção, do beneficiamento, da amostragem, da análise, da
certificação, do armazenamento, do transporte e da comercialização de semen-
tes e mudas; bem como da utilização de sementes e mudas. E o Decreto nº 5.153,
de 23 de julho de 2004 que aprova o regulamento da Lei nº 10.711. Esta Lei veio
substituir (e revogar) a antiga Lei de Sementes (Lei nº 6.507, de 19/12/1977).
As áreas de coleta de sementes, as áreas de produção de sementes e os poma-
res de sementes que fornecem materiais de propagação devem ser inscritos no
Renam (Registro Nacional de Áreas e Matrizes).
A Lei de Sementes e Mudas não detalha os procedimentos para a produção de
sementes florestais, autorizando, em seu Art. 47, o MAPA a estabelecer mecanis-
mos específicos e, no que couberem, exceções ao disposto na Lei, para a regula-
mentação da produção e do comércio de sementes de espécies florestais, nativas
ou exóticas, ou de interesse medicinal ou ambiental.
No Decreto acima citado, o capítulo XII trata mais especificamente “das espécies
florestais, nativas ou exóticas, e das de interesse medicinal ou ambiental”, o qual
descreve no art. 146:
I - Área de Coleta de Sementes - ACS: população de espécie vegetal, nativa
ou exótica, natural ou plantada, caracterizada, onde são coletadas sementes ou
outro material de propagação, e que se constitui de Área Natural de Coleta de
Sementes - ACS-NS, Área Natural de Coleta de Sementes com Matrizes Marca-
das - ACS-NM, Área Alterada de Coleta de Sementes - ACS-AS, Área Alterada
de Coleta de Sementes com Matrizes Marcadas - ACS-AM e Área de Coleta de
Sementes com Matrizes Selecionadas - ACS-MS;
II - Área Natural de Coleta de Sementes - ACS-NS: população vegetal natural, sem
necessidade de marcação individual de matrizes, onde são coletados sementes
ou outros materiais de propagação;

9 Beneficiamento, embalagem e armazenamento de sementes


III - Área Natural de Coleta de Sementes com Matrizes Marcadas - ACS-NM: popu-
lação vegetal natural, com marcação e registro individual de matrizes, das quais
são coletadas sementes ou outros materiais de propagação;
IV - Área Alterada de Coleta de Sementes - ACS-AS: população vegetal, nativa ou
exótica, natural antropizada ou plantada, onde são coletadas sementes ou outros
materiais de propagação, sem necessidade de marcação e registro individual de
matrizes;
V - Área Alterada de Coleta de Sementes com Matrizes Marcadas - ACS-AM: po-
pulação vegetal, nativa ou exótica, natural antropizada ou plantada, com marca-
ção e registro individual de matrizes, das quais são coletadas sementes ou outro
material de propagação;
VI - Área de Coleta de Sementes com Matrizes Selecionadas - ACS-MS: popu-
lação vegetal, nativa ou exótica, natural ou plantada, selecionada, onde são co-
letadas sementes ou outro material de propagação, de matrizes selecionadas,
devendo-se informar o critério de seleção;
VII - Área de Produção de Sementes - APS: população vegetal, nativa ou exótica,
natural ou plantada, selecionada, isolada contra pólen externo, onde são sele-
cionadas matrizes, com desbaste dos indivíduos indesejáveis e manejo intensivo
para produção de sementes, devendo ser informado o critério de seleção indivi-
dual.
Também especifica nos itens XV, XVI, XVII, o coletor de sementes, como pessoa
física ou jurídica, credenciada junto ao MAPA para a prestação de serviços de
coleta de material de propagação; o certificador, como pessoa física ou jurídica,
credenciada pelo MAPA para executar a certificação de sua própria produção
de sementes e de mudas de espécies florestais, nativas e exóticas; e a entida-
de certificadora, como pessoa jurídica, credenciada pelo MAPA para executar a
certificação da produção de sementes e de mudas de espécies florestais, nativas
e exóticas.
XXIV - Pomar de Sementes (PS): plantação planejada, estabelecida com matrizes
superiores, isolada, com delineamento de plantio e manejo adequado para a pro-
dução de sementes, e que se constitui de:

Semeando o Bioma Cerrado 10


XXV - Pomar de Sementes por Mudas - PSM: plantação planejada, isolada contra
pólen externo, estabelecida com indivíduos selecionados em teste de progênie
de matrizes selecionadas e desbaste dos indivíduos não selecionados, onde se
aplicam tratos culturais específicos para produção de sementes;
XXVI - Pomar Clonal de Sementes - PCS: plantação planejada, isolada contra pó-
len externo, estabelecida por meio de propagação vegetativa de indivíduos supe-
riores, onde se aplicam tratos culturais específicos para produção de sementes;
XXVII - Pomar Clonal para Produção de Sementes Híbridas - PCSH: plantação
planejada, constituída de uma ou duas espécies paternais ou de clones selecio-
nados de uma mesma espécie, isolada contra pólen externo, estabelecida por
meio de propagação vegetativa, especialmente delineada e manejada para ob-
tenção de sementes híbridas;
XXVIII - Pomar de Sementes Testado - PSMt ou PCSt: plantação planejada, isola-
da, oriunda de sementes (PSMt) ou de clones (PCSt), cujas matrizes remanescen-
tes foram selecionadas com base em testes de progênie para a região bioclimáti-
ca especificada, e que apresente ganhos genéticos comprovados em relação ao
pomar não testado;
O Art. 165 descreve que o material de propagação de espécies florestais a ser
produzido compreenderá as seguintes categorias:
 identificada: categoria de material de propagação de espécie florestal, coleta-
do de matrizes com determinação botânica e localização da população;
 qualificada: categoria de material de propagação de espécie florestal, cole-
tado de matrizes selecionadas em populações selecionadas e isoladas contra
pólen externo e manejadas para produção de sementes;
 selecionada: categoria de material de propagação de espécie florestal, co-
letado de matrizes em populações selecionadas fenotipicamente para, pelo
menos, uma característica, em uma determinada condição ecológica;
 testada: categoria de material de propagação de espécie florestal, coletado
de matrizes selecionadas geneticamente, com base em testes de progênie ou
testes aprovados pela entidade certificadora ou pelo certificador para a região
bioclimática especificada, em área isolada contra pólen externo;

11 Beneficiamento, embalagem e armazenamento de sementes


No Art. 166 são descritos que as categorias de materiais de propagação serão
provenientes de sementes, ou outro material de propagação das correspondentes
áreas de produção, conforme especificação abaixo:
I - identificada: proveniente das áreas de produção ACS-NS, ACS-NM, ACS-AS e
ACS-AM;

II - selecionada: proveniente da área de produção ACS-MS;


III - qualificada: proveniente das áreas de produção APS-MS, PCS, PSM e PCSH;
IV - testada: proveniente das áreas de produção PSMt e PCSt.
Art. 169. A certificação da produção de sementes e de mudas de espécies flo-
restais de que trata este Capítulo será realizada pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, pela entidade certificadora e pelo certificador.
Art. 170. A entidade certificadora e o certificador de sementes ou mudas deverão
manter os documentos referentes aos procedimentos decorrentes de sua ativida-
de à disposição da autoridade competente, segundo o disposto neste Regula-
mento e em normas complementares.
Art. 171. A entidade certificadora e o certificador de sementes ou mudas apresen-
tarão ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento o controle dos lotes
produzidos, por produtor, espécie e cultivar, periodicamente, conforme estabele-
cido em normas complementares.
Art. 172. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a entidade cer-
tificadora e o certificador de sementes ou mudas exercerão o controle das áreas
de coleta, de produção e dos pomares, no que couber, de forma a garantir a
formação e condução destas, visando a garantir a procedência e qualidade das
sementes, a identidade clonal e a identidade das mudas, conforme previsto em
normas complementares.
Art. 173. Os certificados para os lotes de materiais de propagação das espécies
referidas neste Capítulo, emitidos pela entidade certificadora e pelo certificador,
serão definidos e estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste-
cimento em normas complementares.

Semeando o Bioma Cerrado 12


Art. 174. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento exercerá o acom-
panhamento do sistema de certificação de sementes ou mudas das espécies
referidas neste Capítulo, por meio de auditoria, fiscalização e supervisão, em
conformidade com os requisitos estabelecidos neste Regulamento e em normas
complementares.
Art. 175. Ficam dispensadas das exigências de inscrição no RENASEM institui-
ções governamentais ou não-governamentais que produzam, distribuam ou utili-
zem sementes e mudas de que trata este Capítulo, com a finalidade de recompo-
sição ou recuperação de áreas de interesse ambiental, no âmbito de programas
de educação ou conscientização ambiental assistidos pelo poder público.
Nesta cartilha manual são apresentados os aspectos principais do regulamento,
especialmente aqueles relacionados ao manejo de sementes, que visa dar uma
orientação técnica para a melhoria na qualidade das sementes florestais.

13 Beneficiamento, embalagem e armazenamento de sementes


4 NOÇÕES DE FRUTOS E SEMENTES – MATERIAL
REPRODUTIVO
Os frutos podem ser classificados em carnosos e secos. Os frutos secos podem
ainda serem classificados em deiscentes e indeiscentes.
Os frutos carnosos são aqueles que apresentam uma polpa carnosa ou dura
envolvendo as sementes e sendo, em geral, disseminados por animais. Grande
número de espécies florestais produz frutos secos, e entre estes, de maior propor-
ção, deiscentes. Assim, estes se abrem ainda na árvore para que ocorra a disper-
são natural das sementes. Tendo em vista as dificuldades de colheita, inerentes
às características de determinadas espécies (espinhos no tronco, ramos finos,
copa e árvores altas), muitos frutos e sementes são colhidos no chão, após sua
dispersão. Além disso, algumas espécies de frutos deiscentes produzem frutos
de pequenas dimensões, cuja colheita após a dispersão é impraticável, sendo
recomendável a colheita antes da dispersão, para evitar a perda de sementes.
Já os frutos secos indeiscentes são aqueles que não se abrem naturalmente, po-
dendo ser necessário a utilização de ferramentas para quebrar o fruto e extrair as
sementes.
As sementes são responsáveis pelas novas gerações, tendo função da dispersão
e perpetuação das espécies. Do ponto de vista funcional, a semente é composta
de uma cobertura protetora, um eixo embrionário e um tecido de reserva. A co-
bertura protetora (tegumento, casca) é a parte externa da semente que delimita
e protege as partes internas. No tecido de reserva encontram as substâncias
utilizadas para desenvolver uma planta. E, o eixo embrionário, é a parte vital da
semente.
As sementes também podem possuir estruturas que facilitam a sua dispersão
pelo vento como alas e plumas, devendo ser colhidas ainda na árvore, com os
frutos fechados.

Semeando o Bioma Cerrado 14


5 TÉCNICAS DE BENEFICIAMENTO
O beneficiamento é um conjunto de técnicas que tem por finalidade a retirada de
materiais indesejáveis, como sementes vazias, imaturas e quebradas, pedaços
de frutos, alas, folhas, entre outros. Consequentemente, o lote de sementes vai
apresentar maior pureza física. O material inerte ocupa espaço tanto para o arma-
zenamento como para o transporte, bem como dificulta a semeadura no viveiro,
proporcionando diferenças na densidade de semeadura.
Diferentes máquinas foram desenvolvidas para atender as necessidades do be-
neficiamento de sementes agrícolas. Contudo, para espécies nativas, o benefi-
ciamento geralmente é manual, devido às dificuldades em padronizar técnicas
adequadas para cada espécie, pois há uma complexidade quanto aos aspectos
morfológicos das sementes florestais (Silva et al., 1993).
O beneficiamento de sementes é feito baseando-se nas diferenças das carac-
terísticas físicas entre a semente boa e o material indesejável. Materiais que não
diferem entre si não podem ser separados. As máquinas de beneficiamento po-
dem separar as impurezas em função do seu tamanho, forma, peso, textura do te-
gumento, cor, condutividade elétrica, entre outras (Carvalho e Nakagawa, 2000).
O beneficiamento manual é usualmente utilizado para as espécies nativas, uti-
lizando-se peneiras de vários tamanhos de malha. Elas podem separar as im-
purezas das sementes e também possibilitam a classificação das sementes por
tamanho.
Em algumas espécies, são utilizados sopradores de sementes (Figura 02) e mesa
de gravidade (Figura 03). A mesa de gravidade funciona com base nas diferenças
entre os componentes do lote de sementes no peso específico. À medida que é feita
a alimentação da máquina, entra uma corrente de ar que vem de baixo e atravessa
toda a superfície porosa da mesa. Esta corrente é regulada de tal forma que produz
uma estratificação das sementes, ficando as mais leves em cima e as mais pesadas
em baixo. Após a estratificação, haverá a separação dessas camadas, promovida
pelo movimento lateral das diferentes camadas para junto das bordas da mesa,
onde são descarregadas através das bicas (Carvalho e Nakagawa, 2000).
Para o beneficiamento de espécies que apresentam frutos carnosos a separação
das sementes dos frutos se faz macerando os frutos sobre peneiras em água
corrente. Com a maceração ocorre a separação dos resíduos dos frutos das se-
mentes.

15 Beneficiamento, embalagem e armazenamento de sementes


Para o beneficiamento de sementes que estão dentro de frutos secos que se
abrem naturalmente (deiscentes), a operação de beneficiamento compreende
duas etapas: secagem seguida de agitação ou bateção. A secagem promove a
abertura dos frutos devido a perda de água provocando a contração das paredes
celulares deles. Já para as sementes que estão dentro de frutos secos que não
se abrem naturalmente (indeiscentes), há a necessidade de uso de ferramentas
como martelo, facão, tesoura de poda etc. As espécies de tamboril, pau-ferro,
flamboyant e baru são exemplos de espécies que são de difícil liberação das se-
mentes e precisam de ferramentas para extração das mesmas. Essas ferramentas
são utilizadas para realizar a operação de abertura dos frutos para a posterior
extração das sementes. Cuidados são necessários para que não ocorram danos
nas sementes durante a operação de abertura dos frutos (Davide e Silva, 2008).
Além disso, para as espécies ortodoxas, a secagem das sementes, após o bene-
ficiamento, é importante quando se deseja armazená-las para posterior semea-
dura, pois o alto teor de água nas sementes é um dos principais fatores que leva
à perda da germinação e vigor.

Figura 02 – Mesa de gravidade (Nogueira e Medeiros, 2007)

Semeando o Bioma Cerrado 16


Figura 03 – Soprador de sementes (Nogueira e Medeiros ,2007)

17 Beneficiamento, embalagem e armazenamento de sementes


6 MÉTODOS DE SECAGEM
A secagem de sementes tornou-se uma necessidade essencial desde que o ho-
mem deixou de ser nômade e passou a armazenar sementes para plantar em
outros momentos. As sementes precisam manter a qualidade fisiológica durante
o armazenamento e por isso faz-se necessária a retirada de água até o nível que
permita a estocagem pelo período desejado.
O momento ideal de colheita de sementes é o mais próximo da maturidade fisio-
lógica, entretanto, nesta fase o teor de umidade varia muito dependendo da es-
pécie. A colheita tardia das sementes apresenta um teor de umidade mais baixo,
embora a permanência no campo favoreça a ataques de insetos, doenças, micro-
organismos e as intempéries podendo ocorrer perdas qualitativas e quantitativas.
Sementes de plantas nativas, após a colheita na árvore, devem ser secas e pos-
teriormente armazenadas. O teor de umidade das sementes varia entre as espé-
cies, por isso o tempo de secagem também varia entre elas.
A tecnologia aplicada na realização da secagem é importante para manter a qua-
lidade da semente, entretanto, deve-se ter cuidado quando estiver trabalhando
com sementes recalcitrantes, pois essas não suportam desidratação. As semen-
tes ortodoxas suportam teores de umidade abaixo de 5%. As sementes interme-
diárias podem ser secas a teores de umidade moderados entre 10 e 15%, sem
perder a viabilidade, embora o teor de umidade varie de espécie para espécie.

6.1 Processos de secagem


A secagem ocorre quando a semente apresenta uma umidade elevada. A ausên-
cia de secagem ou secagem inadequada é a principal causa de deterioração
qualitativa da semente durante o processo de armazenamento.
O processo de secagem envolve a retirada parcial de água da semente por trans-
ferência de calor do ar para a semente e ao mesmo tempo por fluxo de vapor de
água da semente para o ar.
O processo de secagem compreende duas fases: inicialmente há deslocamento
da umidade da superfície do fruto ou da semente para o ar ao seu redor, seguida
da migração da umidade do interior para a superfície (Hoppe et. al., 2004).

Semeando o Bioma Cerrado 18


6.2 Métodos de secagem
Os Métodos ou Sistemas de Secagem são classificados de acordo com a fonte de
energia, com o movimento das sementes no interior do secador, com o movimento
do ar de secagem entre outros. Embora, nem todos os métodos de secagem se-
jam adequados à secagem de sementes florestais, esses métodos são divididos
em: secagem natural e secagem artificial.

6.2.1 Secagem natural


Segundo Carvalho e Nakagawa, (2000), o processo de secagem que utiliza a
energia solar e do vento para secar as sementes inclui a secagem das sementes
na própria planta, no campo, secagem ao sol em terreiros e suspensos e a seca-
gem ao ar livre também pode ser feita à sombra.
Este método é barato e não exige conhecimentos técnicos apurados, as instala-
ções são simples e baratas. Entretanto, apresenta algumas desvantagens como
a dependência das condições climáticas, inviável para grandes quantidades de
sementes, além da susceptibilidade ao ataque de doenças e pragas, necessita
de grande mão de obra, além de ser lento e depender das condições climáticas.

6.2.2 Secagem artificial


Caracterizam-se em alternar as características das propriedades físicas do ar de
secagem como temperatura e movimentação do ar ambos ou apenas um. A se-
cagem artificial é um método mais eficiente, pois não depende das condições
climáticas. Porém mais caro, pois exige o uso de equipamentos para controlar a
temperatura, a umidade do ar e a circulação do ar, em estufas. Segundo Hoppe
et. al. (2004), o uso da temperatura de secagem adequada na estufa varia de 30
a 40ºC e não compromete a qualidade fisiológica das sementes.
De acordo com Medeiros e Eira (2006), existem secadores de carga empregados
para a secagem e separação de sementes em cones de Pinus sp., que podem
eventualmente ser utilizados em algumas espécies nativas, como Cedrela fissilis
Vell. e outras que apresentem características semelhantes de frutos. Estes se-
cadores secam uma determinada quantidade de produtos depositados em uma
câmara, através da qual o ar quente é forçado e gerado por meio de um ventilador
e resistências elétricas.

19 Beneficiamento, embalagem e armazenamento de sementes


7 TIPOS DE EMBALAGEM
As embalagens utilizadas para armazenamento de sementes são classificados,
de modo geral, em função do grau de permebilidade à água, sendo: porosas,
semiporosas e impermeáveis.

7.1 Embalagens porosas ou permeáveis


Permitem a troca de umidade entre as sementes e o ambiente circundante. São
as embalagens de pano, papel e papelão e devem ser utilizadas para armazena-
mento em câmaras secas. Normalmente as sementes depositadas neste tipo de
embalagem apresentam teor de umidade entre 09 e 12%, dependendo da espé-
cie. Exemplos: sacos de papel ou tecido (algodão, juta), Figura 04(a). (Carneiro &
Aguiar, 1993; Scremin-Dias, 2006).

7.2 Embalagens semiporosas ou semipermeáveis ou


resistentes à penetração de água
Não impedem completamente a passagem de umidade, mas permitem menor
troca de umidade do que as embalagens porosas. Estas embalagens são con-
feccionadas com materiais como polietileno, papel multifoliado, papelão revestido
com papel ceroso ou outro material impermeabilizante e papel ou papelão tratado
com alumínio ou asfalto. Os sacos plásticos são confeccionados com películas
de polietileno de diferentes densidades e espessuras, que determinam o grau de
penetração da umidade. O teor de umidade das sementes, por ocasião do acon-
dicionamento, deverá ser inferior ao verificado na embalagem porosa. Estas em-
balagens podem ser utilizadas quando as condições não são demasiadamente
úmidas e o período de armazenamento não é muito prolongado. Exemplos: sacos
plásticos de alta densidade e espessura, sacos de papel multifoliados, sacos de
tecido (poliéster), Figura 04(b). (Carneiro & Aguiar, 1983), (Scremin-Dias, 2006)

Semeando o Bioma Cerrado 20


7.3 Embalagens impermeáveis
À prova de umidade, não possibilitam a troca de umidade com o meio ambiente.
Materiais como metal (latas), plástico, polietileno de elevada densidade e espes-
sura, vidro e alumínio são utilizados na confecção de embalagens desta catego-
ria, Figura 04(c). Para estas embalagens as sementes só poderão ser acondi-
cionadas quando estiverem bem secas, com teor de umidade ao redor de 8%,
uma vez que a umidade do interior da embalagem não passa para o ambiente
de armazenamento – o teor de umidade, estando superior ao limite adequado,
ativará a respiração das sementes no interior da embalagem, acelerando o pro-
cesso de deterioração. As sementes acondicionadas em embalagens imperme-
áveis podem ser armazenadas em qualquer condição de ambiente, devendo ser
evitada temperatura excessivamente alta. Quando a câmara de armazenamento
for úmida, é necessário que as sementes sejam acondicionadas nesta categoria
de embalagem (Carneiro & Aguiar, 1993; Scremin-Dias, 2006).

(a) (b) (c)

Figura 04 - Embalagem porosa (a), semiporosa (b) e impermeável (c)

21 Beneficiamento, embalagem e armazenamento de sementes


8 TIPOS DE ARMAZENAMENTO E COMPORTAMENTO
DAS SEMENTES
O armazenamento de sementes passou a ser uma atividade essencial quando o
homem deixou de ser nômade e passou a cultivar o seu alimento, necessitando
conservar sementes para o próximo plantio (Medeiros e Eira, 2006).
As sementes geralmente apresentam, por ocasião da maturidade fisiológica, a
máxima qualidade, em termos de peso de matéria seca, germinação e vigor. A
partir deste período tende a ocorrer uma queda progressiva da qualidade das
sementes, através do processo de deterioração. Depois que as sementes são
colhidas e antes de serem comercializadas ou utilizadas para semeadura, elas
devem ser armazenadas adequadamente, a fim de reduzir ao mínimo o processo
de deterioração.
O sucesso para se armazenar sementes objetivando manter a qualidade fisiológi-
ca depende da longevidade das sementes das espécies que estão sendo arma-
zenadas. Além disso, a umidade das sementes e a temperatura do local onde elas
estão sendo armazenadas interferem no processo.
O termo longevidade está relacionado com o período de tempo em que a se-
mente mantém viável. A longevidade da semente é característica da espécie.
Esta diversidade se deve à constituição genética de cada espécie principalmente
relacionada com as propriedades do tegumento e com a composição química
das sementes. De maneira geral, as sementes oleaginosas se deterioram mais
rapidamente do que as ricas em amido ou proteína.
As sementes da maioria das espécies conservam melhor sua qualidade quando
mantidas em ambiente o mais seco e o mais frio possível. A umidade relativa do
ar e a temperatura do ambiente de armazenamento influem diretamente na veloci-
dade respiratória das sementes, acelerando o processo de deterioração.
O conhecimento do comportamento das sementes com relação aos limites tolera-
dos de perda de água auxilia no correto armazenamento das diferentes espécies
mantendo a qualidade fisiológica das mesmas. Assim, existem três categorias
com relação ao comportamento das sementes no armazenamento e na tolerância
à dessecação (Davide e Silva, 2008):

Semeando o Bioma Cerrado 22


 Semente de comportamento ortodoxo: toleram a secagem e armazenamento
a baixas temperaturas sem perder a viabilidade. Exemplos: baru, ipê etc.
 Semente de comportamento intermediário: toleram a secagem até certo
ponto e perdem a viabilidade quando armazenadas a baixas temperaturas.
Exemplo: jenipapo.
 Semente de comportamento recalcitrante: não toleram a secagem e armaze-
namento a baixas temperaturas. Exemplo: ingá.

A condição de baixa temperatura é obtida através de câmaras frias, que devem


ser providas de compartimentos e prateleiras, de modo a alojar diferentes lotes de
sementes. A condição de baixa umidade é obtida através de câmaras secas, com
a utilização de aparelho desumidificador. Existem também câmaras frias e secas
que reunem em uma só as duas condições, mas a instalação e manutenção das
mesmas são caras, sendo usadas apenas para materiais mais valiosos e de curta
longevidade.
As condições de armazenamento podem variar com o período de tempo no qual
as sementes ficarão armazenadas. Se o armazenamento for por longo período, o
controle da umidade e da temperatura deverá ser mais cuidadoso.
Mesmo que as condições de ambiente sejam controladas, outros fatores podem
afetar a viabilidade das sementes durante o armazenamento, como: teor de umi-
dade das sementes, embalagem, secagem das sementes, qualidade inicial das
sementes, grau de injúrias mecânicas, ação de insetos e patógenos, entre outros.

23 Beneficiamento, embalagem e armazenamento de sementes


9 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E FISIOLÓGICAS DAS
SEMENTES DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES DO CERRADO

9.1 Características físicas


A semente é uma estrutura reprodutiva formada a partir do desenvolvimento de
um óvulo fecundado e possui a seguinte constituição, TEGUMENTO (Testa) que
é a estrutura de proteção da semente, devido a presença de uma camada cuti-
cular interna e externa (cêra ou óleo); ENDOSPERMA que é o tecido de nutrição
do embrião. (amido, proteínas e lipídeos) e o EMBRIÃO (eixo embrionário +
cotilédones), Figura 05.

Testa
Embrião

Dois Cotilédones
Raíz Embionária
Primeiras Folhas

Figura 05 – Estrutura de semente de dicotiledôenea (Raven, et al. 2007)

Semeando o Bioma Cerrado 24


9.2 Características Fisiológicas

9.2.1 Germinação

9.2.1.1 Conceitos

AGRONÔMICO OU FITOTÉCNICO = a germinação é reconhecida a partir do mo-


mento em que ocorre a emergência da plântula no solo. Este conceito, apesar
de prático, é restrito, pois a semente pode germinar sem que a plântula consiga
emergir do solo.
FISIOLÓGICO = o processo germinativo baseia-se na retomada do crescimen-
to do eixo embrionário, interrompido por ocasião da maturidade fisiológica da
semente e a protusão da radícula ou parte aérea seria o resultado final do
processo germinativo. Segundo este conceito, este processo exige atividades
fisio-metabólicas aceleradas, as quais são caracterizadas pelas fases ou etapas
que veremos a seguir.

9.2.1.2 Fases da germinação

Na FASE I o processo é puramente físico, sem gasto de energia, na FASE II ocorre


a estabilização na embebição e retomada do crescimento do eixo (germinação
fisiológica) e FASE III altamente metabólica, Figura 06.

CURVA DE EMBEBIÇÃO

ÁGUA

FASE I FASE II FASE III

TEMPO

Figura 06 – Fases da germinação

25 Beneficiamento, embalagem e armazenamento de sementes


9.2.1.3 Fatores que afetam a germinação

9.2.1.3.1 Longevidade das sementes

Varia muito de espécie para espécie e depende também das condições de arma-
zenamento das sementes.
A viabilidade (período efetivo de vida da semente) é função do vigor da planta-
mãe, das condições ambientais favoráveis durante a maturação fisiológica e de
injúrias mecânicas.

9.2.1.3.2 Água

Fundamental para iniciar os processos

9.2.1.3.3 Gases

Requer 20% de oxigênio e 0,03% de CO2.

9.2.1.3.4 Temperatura

Faixa ótima para os processos metabólicos

TEMP inativa enzimas

TEMP desnaturação proteínas


Velocidade também é afetada

9.2.1.3.5 Luz

FOTOBLASTISMO: resposta da semente à luz.

9.2.1.4 Tipos de germinação

Semeando o Bioma Cerrado 26


9.2.1.4.1 Germinação epígea
Órgãos de reserva acima do solo.

9.2.1.4.2 Germinação hipógea


Órgãos de reserva abaixo do solo.

Primeira folha Lâmina da


primeira Folha
Epicótilo
Segunda folha
Cotilédone

Hipocótilo Coleóptile
Escutelo

Grão

A B

Figura 07 - Germinação epígea de dicotiledônea (A) e hipógea de monocotiledônea


(Adaptado de Metivier, 1979).

27 Beneficiamento, embalagem e armazenamento de sementes


9.2.2 Dormência

9.2.2.1 Conceito

É um período de repouso sendo considerada uma característica de adaptação


ecológica para evitar que a sementes germine em condições inadequadas da
maioria das espécies germinam prontamente quando lhes são dadas condições
ambientais favoráveis.

9.2.2.2 Tipos de dormência e suas formas de superação

9.2.2.2.1 Dormência Primária

Na maioria dos casos de dormência, esta já se apresenta instalada por ocasião


da colheita ou do completo desenvolvimento da semente; por isso mesmo
é denominada de dormência “primária”. Em alguns casos esta é superada por
simples armazenamento da semente seca por algum tempo. Assim, após a
colheita, as sementes não germinam prontamente. A este tipo de dormência de-
nomina-se dormência primária ou de pós-colheita, podendo ser dividido em
vários tipos, de acordo com a sua causa:

9.2.2.2.2 Dormência secundária


Em algumas espécies, sementes que germinam normalmente podem ser
induzidas a entrar no estado dormente, mantendo-as em condições ambientais
desfavoráveis. Este tipo de dormência é denominado dormência secundária ou
induzida.
Geralmente a dormência secundária é induzida quando são dadas às
sementes todas as condições favoráveis à sua germinação, exceto uma. A
dormência secundária também pode ser imposta por temperaturas elevadas ou
muito baixas, secagem da semente etc.

Semeando o Bioma Cerrado 28


10 AMOSTRAGEM E MÉTODOS DE ANÁLISE
O objetivo da amostragem é obter uma amostra de tamanho adequado para os
testes, na qual estejam presentes os mesmos componentes do lote de sementes
e em proporções semelhantes.
A quantidade de sementes analisadas é, em geral, muito pequena em relação ao
tamanho do lote que representa. Para se obter resultados uniformes e precisos em
análise de sementes, é essencial que as amostras sejam tomadas com todo cui-
dado e em conformidade com os métodos estabelecidos nas Regras para Análise
de Sementes – RAS.
A análise de sementes é um conjunto de procedimentos e critérios que permitem
avaliar a qualidade física e fisiológica de um lote de sementes. Inicia-se com a
determinação de do peso e da pureza física do lote.
Nas RAS existem já descritos qual o peso mínimo da amostra média que deve
chegar ao laboratório de análise de sementes e qual o peso mínimo para realiza-
ção das análises de pureza física. Por exemplo, com Acacia spp trabalha-se com
amostra média de 70 g e análise de pureza de 10 g.
O objetivo da análise de pureza é determinar a composição percentual por peso
e a identidade das diferentes espécies de sementes e do material inerte da amos-
tra e por inferência do lote de sementes. A amostra de trabalho deve ser obti-
da por homogeneização e divisão da amostra média de acordo com RAS. Esta
análise é realizada observando visualmente as sementes e separando-a em três
componentes: sementes puras, outras sementes e material inerte. Pode-se utilizar
lentes de diversos aumentos (de no mínimo 4X), luz transmitida, luz refletida, pe-
neiras e sopradores.
O teste de germinação tem como objetivo determinar o potencial máximo de ger-
minação de um lote de sementes, o qual pode ser usado para comparar a qua-
lidade de diferentes lotes e também estimar o valor para semeadura em campo.
A realização deste teste em condições de campo não é geralmente satisfatória,
pois, dada a variação das condições ambientais, os resultados nem sempre po-
dem ser fielmente reproduzidos. Métodos de análise em laboratório, efetuados
em condições controladas, de alguns ou de todos os fatores externos, têm sido
estudados e desenvolvidos de maneira a permitir uma germinação mais regular,
rápida e completa das amostras de sementes de uma determinada espécie. Estas

29 Beneficiamento, embalagem e armazenamento de sementes


condições, consideradas ótimas, são padronizadas para que os resultados dos
testes de germinação possam ser reproduzidos e comparados, dentro de limites
tolerados pelas RAS.
Germinação de sementes em teste de laboratório é a emergência e desenvol-
vimento das estruturas essenciais do embrião, demonstrando sua aptidão para
produzir uma planta normal sob condições favoráveis de campo. Nos testes de
laboratório a porcentagem de germinação de sementes corresponde à proporção
do número de sementes que produziu plântulas classificadas como normais, em
condições e períodos especificados pelas RAS. Plântulas normais são aquelas
que mostram potencial para continuar seu desenvolvimento e dar origem a plan-
tas normais, quando desenvolvidas sob condições favoráveis. Além das plântulas
normais, são separados no teste de germinação: plântulas normais, sementes
duras, dormentes e mortas.
Nas RAS são especificados o substrato, a temperatura, número de dias para con-
tagem e instruções adicionais incluindo recomendações para superar dormência
para diferentes espécies.

Semeando o Bioma Cerrado 30


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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agosto de 2003, Decreto n° 5.153, de 23 de julho de 2004. Diário Oficial da
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SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO. Florestas do Brasil em resumo – 2010: da-


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