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cultura-de-paz
Publicado em NOVA ESCOLA 14 de Abril | 2023

Clima escolar

Ataques a escolas:
promover cultura de paz
pode ser caminho a longo
prazo
Compromisso por uma convivência positiva deve ser
compartilhado por toda a comunidade escolar
Paula Salas

Educação é área central para a construção de uma sociedade pauta pela não
violência. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Cada episódio de violência em escolas deixa uma cicatriz na Educação.
Enquanto toda uma comunidade lida com o luto e trauma, outros milhares de
educadores, estudantes e famílias de todo o país sentem a tristeza pelas vítimas
e temem serem os próximos alvos.
Esses são os sentimentos que circulam pelo Brasil desde a onda de ataques,
tentativas e boatos que acompanhamos desde a tragédia da E.E Thomázia
Montoro, na capital paulista, no dia 27 de março de 2023. O crescimento
exponencial de casos de violência vêm desde 2022.
Não há uma resposta simples para as causas dessa violência, que é um
problema multidimensional. Isso significa que não pode ser colocado apenas na
conta da saúde mental do agressor. Estão também os impactos de casos de
bullying, normalização de discursos de ódio, mais acesso a armas, falta de
competências socioemocionais e espaços de acolhimento para falar de seu
sofrimento e o aumento de grupos extremistas que atraem virtualmente
adolescentes vulneráveis.
LEIA TAMBÉM – Ataques a escolas: possibilidades para evitar novas ações
violentas
Dessa forma, as ações de resposta ao problema devem cobrir diferentes
aspectos. Por um lado, está a questão do aumento da segurança. Algumas
Secretarias, como a de São Paulo e de Vitória, já anunciaram a instalação de
botões de pânico, câmeras e melhorias na infraestrutura – para evitar invasões,
como foi o caso de Blumenau. Estão também as ações imediatas para acolher e
tranquilizar toda a comunidade escolar diante dos boatos, apoio psicológico,
construção de plano de convivência para promover relações mais positivas na
escola e desenvolvimento sociomocional, entre outros pontos.
Uma das ações mais eficazes e com potencial de transformação a longo prazo é
a construção e promoção de uma cultura de paz nas escolas. Essa concepção
tem como marco a fundação da Organização das Nações Unidas (ONU) após o
fim da Segunda Guerra Mundial (1945), quando se defendia a ideia de construir
uma sociedade baseada nos princípios da não violência.
Na época entendeu-se que a Educação era uma área central para o
desenvolvimento de competências necessárias para que essa transformação se
concretizasse. Foi assim que surgiu a Unesco (sigla em inglês para Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Em 1999, a Unesco
criou um documento que trazia os compromissos de cada pessoa. Entre eles,
estava o respeito à vida, não praticar nenhum tipo de violência, defender a
liberdade de expressão e a diversidade cultural.
Cultura de paz nas escolas: como levar para a
prática
A 4ª edição do material Paz, como se faz? Semeando cultura de paz nas escolas,
publicado em 2021 pela Unesco, explica que uma cultura de paz não elimina os
conflitos. “A mudança está na forma de lidar com eles e na valorização de
espaços democráticos, que respeitem e valorizem a diversidade”. Isso significa
uma “busca ativa de sua resolução de forma construtiva por meio da
negociação, do diálogo e da democracia. Em vista disso, a força mais poderosa,
capaz de resolver desafios de maneira edificante é a não violência. Ela é
o oposto da passividade, da obediência e da resignação” (pág. 21).
Para levar essa perspectiva para a prática não basta o trabalho em sala de aula,
mas toda a escola e comunidade devem estar envolvidos. Pesquisadores do
Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem) apontam que há
três pilares para concretizar um projeto de cultura de paz.
Formação continuada: gestão escolar, professores e todos os funcionários
devem estar preparados para fazer mediação de conflitos e como promover
uma boa convivência na escola com o desenvolvimento de competências
socioemocionais.
Ações recorrentes: não basta ter uma semana em que o tema estará em
debate na escola ou criar um componente para falar sobre o assunto. Pensar a
convivência, valores e regras deve ser atividade permanente e transversal na
escola.
Diálogo e protagonismo: uma convivência pacífica exige ter canais e espaços
de diálogo e debate democrático por toda a comunidade escolar. Essa ampla
participação e gestão democrática possibilita que a cultura de paz se torne um
compromisso compartilhado, e não apenas de um ou outro educador.
Dessa forma, a cultura de paz nas escolas é um caminho interessante tanto
para lidar com a situação atual quanto como forma de prevenção de uma nova
onda de violência. E, claro, base fundamental para construir a longo prazo uma
sociedade pautada pela não violência, democracia e valorização de todo tipo de
diversidade.

LEIA TAMBÉM: Manifesto por uma escola sem medo

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