You are on page 1of 22
RYN REPUBLICANO O tempo do nacional-estatismo | seem malt Lucilia de Almeida Neves Delgado Organizado por Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado O Brasil Republicano O tempo do nacional-estatismo — do inicio da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo Livro 2 2° edigdo CIVILIZAGAO BRASILEIRA — Rio de Janciro 2007 Corrnicirt © Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado, 2003 Cava Evelyn Grumach Prosero.crAnco Evelyn Grumach e Jodo de Souza Leite ‘CIP-BRASIL.CATALOGAGAO-NA-FONTE SINDICATO NACIONALDOS EDITORES DELIVROS, RJ © tempo do nacional-estatismo: do inicio da década de T28 1930 a0 apogeu do Estado Novo / organizagao Jorge 2 ed. Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado. - 2" ed. = Rio de Janeiro: Ci aco Brasileira, 2007. «= (0 Brasil republicano; v.2) Contém filmografia Inclui bibliografia ISBN 978-85-200-0623-8 1. Brasil - Histéria ~ 1889-. 2, Brasil - Histéria ~ 1930-1945. 3. Brasil - Politica e governo ~ 1930-1945, 4, Cidadania. L Ferreira, Jorge. Il. Delgado, Lucilia de Almeida Neves. III. Série. CDD - 981.06 03-2052 CDU - 94(81)"18389/1945" Todos 08 direitos reservados. Proibida a reprodugao, armazenamento ou transmissdo de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia autorizagio por escrito. Direitos desta edicdo adquiridos pela EDITORA CIVILIZAGAO BRASILEIRA Um selo da EDITORA RECORD LTDA. Rua Argentina 171 — 20921-380 Rio de Janeiro, RJ - Tel.: 2585-2000 PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL Caixa Postal 23.052 — Rio de Janeiro, RJ - 20922-970 Impresso no Brasil 2007 Sumario APRESENTAGAO 7 Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado ‘x Os anos 1930: as incertezas do regime ) Dra. Dulce Pandolfi (CPDOC-FGV) A Ago Integralista Brasileira: um movimento fascista no Brasil (1932- 1938) 39 Prof. Dr. Marcos Chor Maio (Fiocruz) & Dr, Roney Cytrynowicz (AHIB) A OPCB, aANL eas insurreicdes de novembro de 1935 63 Profa. Dra. Marly de Almeida G. Vianna (UFSCar) /* O Estado Novo: o que trouxe de novo? ur) Profé. Dra. Maria Helena Capelato (USP) Os intelectuais e a politica cultural do Estado Novo 145 Dra. Monica Pimenta Velloso (FCRB) “ Historiografia, trabalho c cidadania no Brasil (181) Dr. Alexandre Fortes (FPA) e Prof. Dr. Antonio Luigi Negro (UFBa) M Estado, classe trabalhadora e politicas sociais (213 Profa. Dra. Maria Celina D’Araujo (UFF/CPDOG-FGV) O Estado Novo: 0 que trouxe de novo? Maria Helena Capelato Professora livre-docente do Departamento de Historia da Universida- de de Sao Paulo, todo entre as guerras a partir das criticas ao sistema liberal, considera- az de solucionar os problemas sociais. Nesses anos manifestou-se na pa) ¢ em outras partes do mundo, uma crise do liberalismo: os impactos meira Guerra ¢ da Revolucio Russa provocaram, segundo intimeros uma crise de consciéncia generalizada que, por sua vez, resultou em @ democracia representativa parlamentar de cunho individualista. ites intelectuais ¢ politicas antiliberais e antidemocraticas, de diferen- tizes, revelavam extrema preocupagio com a questo social e muito se ia sobre novas formas de controle das massas com o intuito de evitar a de revolucées sociali: la das solug6es propostas era a do controle social através da presenca tado forte comandado por um Ifder carismético, capaz de conduzir_ Sas no caminho da ordem. Essa politica foi adotada em alguns paises assumindo caracterfsticas especificas em cada um deles. Regimes fascismo na Itélia, o nazismo na Alemanha, o salazarismo em Portu- franquismo na Espanha foram constituidos nessa época. O sucesso Periéncias italiana ¢ alema serviu de inspira¢o para reformas politicas eram em alguns paises latino-americanos: Brasil e Argentina espe de apresentar caracteristicas préprias, o Estado Novo brasileiro el inspiracao européia, Um trago comum foi a critica a liberal ia € a proposta de organizagio de um Estado forte e autoritario, 109 © BRASIL REPUBLICAN a STADO NOVO: 0 QUE TROUXE DE Novo? joltada par: i i a - : sociedade, em geral, e para as classes populares, em particu- : la io, ai 40 politi yusca de apoio, a integrac4o politica das massas visava ao seu controle em novas bases. encarregado de gerar as mudangas consideradas necess4rias para promover 0 progresso dentro da ordem. O crescimento de movimentos sociais e politicos na década de 1920 fea com que 0 fantasma da Revolugao Russa assombrasse setores das elites im lectuais ¢ politicas brasileiras. A questo social passou a ser debatida intensa- mente e muitos questionaram as instituig6es liberais vigentes pela incapacidac de vencer 0 “atraso” e controlar a “desordem” reinante no pats. Nesse contexto, as dificuldades da economia brasileira, muito afetada p crack da bolsa de Nova York em 1929, serviram para acelerar 0 processo mudanga que vinha sendo apregoado nos anos anteriores. A conjuntura d crise provocou revolugées em varios paises da América Latina: no Br ocorreu, em outubro, a Revolugao de 1930, que acarretou modificag6 ) ESTADO NOVO NA VISAO DOS HISTORIADORES Jestudo do Estado Novo tem sido alvo de grande interesse dos historiad a partir de meados da década de 1980, época que coincide com ade. ocratizasio do pats. Supde-se que a motivagdo para o estudo desse rade relacionada as tentativas de compreensao mais aprofundada ae an ho do autoritarismo no Brasil, ignorado pelos autores que, no passad ‘ enaltecido 0 pais “cordial” e “pacifico”. O regime mite ee ° questionamento desse mito e incentivou os estudiosos de nossa hist: Z revisitarem um passado ainda recente —a era Vargas —, buscando id. a nesse Periodo, formulas autoritarias cujos tragos reer na ae : : brasileira, mesmo depois do seu fim. Reconstituir a democraci: ; implicava olhar para essa época com outros olhos, fais © analisados pelos trabalhos de pesquisa até entio realizados sobre o importantes no pais. Com a vitéria dos “revoluciondrios” de 1930, as correntes autorit foram se fortalecendo. Elas se opunham & Constituigao liberal de 1891, siderada mera cépia de formulas estrangeiras e, portanto, inadequada a lidade do pafss alegava-se que o povo brasileiro ainda nao estava prep para o exercicio da democracia. Para 0s crfticos do liberalismo, os erro Primeira Repiblica, que precisavam ser corrigidos, advinham inadequagao. ‘A reforma politica se deu a partir do golpe de 10 de novembro de sob lideranga de Getilio Vargas, com apoio do Exército e de outras fo antidemocraticas. © povo foi comunicado do golpe a partir de informa obtidas pelo rédio. A mudanga politica produziu um redimensionament conceito de democracia norteada por uma concepsio particular de iad mm P Stigacao, Cabe mencioné-los: cultura polftica; mundo do trabalho; sentagio politica e de cidadania; a revisio do papel do Estado se co mas de controle social; papel da policia polit repr entou com a proposta inovadora do papel do lider em relagao as ma Eo do Departamento de I cee Pepace oe apresentacao de uma nova forma de identidade nacional: a identid de propaganda ede censura; wollte citmal dees ae Pa 5 lo Estado artisticas como misica, artes plésticas, cinema; ene - an1OS sociais criados e recriados na €poca através da manipulagao os S emblemas, sinais, criagao de mitos, ceriménias cfvicas e esportivas “Petaculos do poder; importancia dos meios de comunicacao ¢ seu : 0, €, ome aspecto, foram realizados trabalhos sobre imprensa, Bumentarios, revistas, livros e demais publicagdes do DIP; politicas se recaiu nas décadas de 1930 ¢ 40 eo Estado Novo mereceu tenc4o. Muitas pesquisas f¢ n ma 5 squisas foram, e continuam sendo, realizadas com : : > fe colocar Novas questoes a esse passado que levaram ao estudo nao abordados até entio. Muitos temas se constituiram em obje- cional coletiva. “Apés 0 advento do Estado Novo, deu-se a consolidacao de uma de massas que vinha se preparando desde 0 infcio da década. Constitu partir de um golpe de Estado, sem qualquer participagao popular, 08 sentantes do poder buscaram legitimagio e apoio de setores mais sociedade através da propaganda, veiculada pelos meios de com 110 141 © BRASIL REPUBLICANO ae STADO NOVO: © QUE TROUXE DE Novo? _ 2) 1937 a 1945 correspondem a vigéncia do Estado Novo, que se car: terizou pela introdugdo de um novo regime politico orientado poe oe regras legais e polfticas. No entanto, esse momento eae nao é homogéneo Porque as circunstdncias externas e internas io Fesponsdveis por mudangas significativas no jogo politico. A eas do Brasil na Segunda Guerra constitui um marco de mae i : tante nos rumos do Estado Novo, jal a de imigrac4o; preconceitos racial e social; educagao ¢ ensino; atuagao da Igreja ¢ relagao do catolicismo com a tentativa de sacralizacao da politica. Além de novos aay, a retomada desse periodo suscitou um impor- tante debate acerca das formas de interpretacio sobre essa experiéncia po- litica. © conceito de “populismo” foi o alvo central da polémica." Alguns autores passaram a questionar a eficdcia do conceito para explicar o fend- meno enquanto outros o reafirmaram acrescentando novos dados as reflexGes. Nota-se, também, que o debate sobre as questoes interpretativas € infore mado pelas visdes de mundo dos participantes. Para uns, 0 “varguismo” “getulismo” (até na denominagao ha diferengas) apresentou aspectos ma positivos do que negativos e por isso a sua heranga € valorizada em termos das conquistas sociais; para outros, esse periodo, sobretudo o do Estado No’ € questionado mais a fundo pelo carater autoritério dessa experiéncia, nag s6 no que se refere A natureza do regime, mas também no que diz respeit formulagio da politica trabalhista. Neste caso, pretende-se que essa hera Ee este motivo, Prop6e-se a divisao desse perfodo em dois momentos: 7194 H Caractenizouse pelas reformas mais signi cativas e pela te e de legitimacao do novo regime; b) 1942-1945: com a entrada do Bi 'guerra, a0 lado dos aliados, as contradicées do regime ficaram expli = $e perfodo, o governo se voltou, de forma mais direta, para ae e oras, buscando apoio. Ti ae ise mostrar que, nos dois perfodos, 0 Estado Novo definiu-se a eatatismo racas ao intenso controle politico, social ecultural € D | : lento das liberdades em muitos planos; houve repressio e apa 'expressa nos atos de tortura. O perfodo se caracterizou também pel tivas mudangas Promovidas pelo governo. Elas ocorreram em aa os ‘anizacao do Estado, reordenamento da economia, novo ae seja superada. A importancia desses estudosé ainda maior quando se leva em contaq i no debate polftico atual, o varguismo acabou se tornando, para uns, Uf bandeira de luta contra a politica neoliberal ¢, para outros, uma experiénei a ser superada completamente. n ai 4 e y to das esferas piblica e privada, nova relagéo do Estado com a so- Como este texto se refere ao Estado Novo, muitas das interpretaces m e oom a cultura, das classes sociais com o poder, do lider Além disso, a conjuntura internacional, marcada por aconte- tr Foemente importantes, que culminaram com a eclosio da Se- a, Obrigaram © pais a redimensionar suas relagées internacionais Posigoes que se definiam a partir do complexo jogo militar e di- Por i pl » Fortanto, a conjuntura externa também ajuda a explicar as mu- i idas durante ° Estado Novo, desde sua ascensao até a queda. genéricas sobre o varguismo nao poderao ser aqui contempladas. Interess apenas as que se referem as décadas de 1930 e 40 e nesse recorte € preci esclarecer alguns aspectos relativos a periodizagao.? Em primeiro lugar, a chamada primeira fase do governo Vargas, ou nos anos 30 ¢ 40, nao constitui um bloco homogéneo. Cabe disting propondo uma divisio em dois niveis: 1)_1930 a 1937 foram os anos de indefinigao, quando intimeros pro € propostas estavam sendo postos em pauta ¢ quando, tambi sociedade se mobilizou intensamente em torno deles. O camp possibilidades, nessa ocasido, era imenso € 0 governo se mo 'S DO GOLPE le om if foi dito, foi um perfodo de grandes mudangas no evolugao”, abriu-se um leque de possibilidades de cami- terreno movedigo. 113 © BRASIL REPUBLICANO © ESTADO NOVO: O QUE TROUXE DE Novo? hos e varios setores sociais propunham medidas diferentes para solucior 9s catdlicos ¢ os integralistas, que, apesar dos pontos comuns, tinham reivin- a crise que se abatera sobre o pais. O sctor agrario, ap6s o crack da bolsa de licagdes espectficas, Nova York, debilitou-se muito. Amplo debate se estabeleceu em torno da Além das divergéncias entre as elites politicas e intelectuais, havia di questao do desenvolvimento do pais e sobre o melhor percurso a ser trilh 40 rab s: alguns setores apoiavam as novas medidas traba- do para a superagao, nao jo, nao sO da crise, mas também do “atraso” em rela h belaram contra clas porque o novo tipo de aos paises capitalistas avancados. Polémicas foram travadas acerca da ques olftica implicava a auséncia ia de autonomia do movimento operdrio. Nesse to social e novas formas foram propostas para solucionar os conflitos so el havia ainda diferencas entre grupos de esquerda compostos por anar- ciais. As discussées em torno da natureza do Estado, tema amplamenti s, socialistase comunistas. = ae el ‘Todas as controvérsias vieram & tona nas discuss6es da Constituinte, que bou, de uma perspectiva de consenso, procurando contemplar propostas debatido na Europa e em outros paises da América, polarizou posig6 via setores favordveis 8 manutengao de um Estado liberal descentralizado ¢ ae com limitado poder de intervencdo no plano econémico, social, politico antrarias. A Constituig4o de 1934 foi considerada invidvel por varios auto- cultural e outros, seguindo as novas tendéncias internacionais, favor4veis porque tentava conciliar tendéncias inconcilidveis. um modelo de Estado forte ¢ intervencionista. No plano politico, os confl Getilio Vargas administrara o Brasil de forma proviséria nos primeiros tos foram violentos em torno da questo da centralizagao politica versi jos da década de 1930. Ao assumir o poder, tomou medidas que j4 anun- autonomia dos estados. fam uma nova maneira de encarar o desenvolvimento do pais dentro da O Governo Provisério deu infcio a uma politica centralizadora que aca dem. Criou 0 Ministério do Trabalho, que se responsabilizou pela formu- bava com a autonomia dos Estados. © federalismo, introduzido com or gio de novas leis referentes ao mundo do trabalho e pela fiscalizagao da me republicano, acabara beneficiando as unidades mais présperas da fed Ancia das que j4 existiam; tais medidas significavam o atendimento de — Sao Paulo, principalmente. Este foi um dos motes da 1a Revolugio de 1930, reivindicacao antiga dos trabalhadores brasileiros, mas também o con-/ / que trouxe em seu bojo um projeto de centralizagao do poder. ale do Estado nas relagées entre patrGes ¢ operdrios I As elites paulistas reagiram contra a perda de lideranga do estado ¢, ef _ Em 16 de julho de 1934, a nova Constituicdo foi apresentada ao pafs e, luta contra o governo Vargas, exigiam a volta do regime liberal federati lia seguinte, Getilio Vargas foi eleito presidente constitucional do Brasil que lhes garantia autonomia ante o poder central. Mesmo os que apoi 'sufragio indireto. Como 0 texto constitucional representou uma sintese a queda do governo de Washington Lufs, reagiram 4 perda de hegemonia € t posicSes contrdrias, nenhum dos grupos se sentiu plenamente vencedor. _tevolugio de 1932 significou a resposta a nova situacdo, So Paulo foi de Até 0 golpe de 1937 havia grande efervescéncia de idéias que se expres- rotado na “guerra”, mas a pacificagao s6 ocorreu quando o governo atend® m num cendrio de manifestagdes piblicas de cunho politico e social. A as exigéncias dos adversdrios de convocar uma Assembléia Constituinte, ir de 1935, com o levante comunista, a situagao radicalizou-se. que ocorren em 1933. O levante comunista, denominado de “Intentona” pelos anticomunistas, Na tentativa de apaziguamento nacional, o governo permitiu a orga derado pela Alianga Nacional Libertadora e derrotado a partir de uma ga de uma Assembléia Constituinte encarregada de elaborar a nova vote = Constitucional do pais. Mas, nesse Ambito, também os conflitos foram tensos, demonstrando a existéncia de varios projetos para o futuro do Bri HE repressio, que terminou por extinguir o movimento. O comunismo, iderado como o perigo mais ameagador a sociedade brasileira desde os : ‘ Z Die es 05 20, deu ensejo a uma forte campanha de propaganda anticomunista que sil. No plano ideolégico debatiam-se as correntes liberais e antiliberais; ent servindo para justificar o fortalecimento do regime. J4 no inicio de 1935, estes marcavam presenga os nacionalistas oriundos do movimento tenentist ater discutido 6 projet de ca nacional; seus defenss- 114 ee yr t BRASIL REPUBLICANO 2 © ESTADO NOVO: 0 QUE TROUXE DE NOVO? res alegavam essa necessidade em fungao da intensa agitagao social que domi- nara o pafs depois de 1930. Previa a supressdo dos sindicatos, associagGes pro- fissionais ¢ entidades juridicas, item que provocou reag6es contrarias, Mas, apés a “intentona”, mesmo alguns liberais a consideraram insuficiente para enfren= tar a ameaga social. O jornal O Estado de S. Paulo, expresso significativa do liberalismo brasileiro, argumentou que os atos de extrema violéncia e gravida- de eram prova irrefutavel de que o texto constitucional fora insuficientemen- Os interventores reproduziam nos estados a politica determinada pelo governo central, que terminou com o sistema federativo da Primeira Repii- blica. Apés 0 golpe, apenas uma bandeira passou a existir para todos os es- tados e, para demonstrar que o sistema federativo tinha sido derrotado, realizou-se, no Rio de Janeiro, um ato simbélico: numa ceriménia cfvica Ocorreu a queima das bandeiras estaduais para marcar a vit6ria do poder ieee central sobre os estados, =——SOS~S~S* tra a ordem vigenté e,em vera disso, A censura coibiu qualquer manifestacao contrdria ao novo regime. Os ‘com a consciéncia nitida do perigo que articuladores do golpe definiram © episddio como um novo marco na hist6- tia do pats, Francisco Campos, um dos idedlogos mais importantes do Esta- do Novo, interpretou o regime como uma decorréncia hist6rica e necesséria da Revolugo de 1930: “O 11 de novembro foi o elo final de uma longa cadeia de experiéncias [...] a Revolugao de 30 s6 se operou definitivamente ¢ 937 [...].” Segundo 0 idedlogo, o Estado Novo suscitara 10 pafs uma “consciéncia nacional”, unificara uma nagdo dividida, colocara ponto final as lutas econémicas e impusera siléncio 4 querela dos parti- empenhados em quebrar a unidade do Estado e, por conseguinte, a uni- dade do povo, Azevedo Amaral, outro id log do Estado Novo, definiu o gime como uma “necessidade” ¢ uma “inevitabilidade”, que viria adequar instituigGes As nossas realidades. Ambos consideravam que Vargas come- um grave erro ao permitir a reconstitucionalizaca A campanha pela Presidéncia da Repblica, que se iniciara em 1936 com as creditavam que a ae de 1937 0 progresso oe ae candidaturas do paulista Armando de Sales Oliveira, candidato dos liberais, tado em Capelato, 1989, p. 210-211). do paraibano José Américo, candidato de Getiilio Vargas, ¢ Plinio Salgado, candidato dos integralistas, foi definitivamente encerrada nesse momento., As instituigées liberais foram extintas a partir do golpe de Estado. Os generais Géis Monteiro, Daltro Filho e Eurico Gaspar Dutra, que foi nomeado ministro da Guerra em 1936, apoiaram o golpe. Quando ele oco Como foi dito no inicio, a politica varguista teve como um dos objetivos reu, os integralistas desfilaram pelas ruas com muito entusiasmo. principais a concretiza¢ao do progresso dentro da ordem. Para atingir essa Apés o golpe, como os partidos e o Parlamento ft los, no hae tomou varias medidas para promover o desenvolvimento econdmico via mais intermedidrios entre as massas e o governo. Este passou a intervit tras tantas para estabelecer o controle social em novas bases, Mas a pri nos estados mediante a nomeacio de interventores, que assumiram 0 podet preocupacio do novo regime, oriundo de um golpe de Estado, foi —— ae > > te forte para prevenir as investidas ¢ aplaudiaa do Congresso que, nos ameaga, concedeu ao govern estado de guerra foi decretado por trés meses e, no fim desse tempo, 0 governo entendeu ser necessdria a sua prorrogagao.* Os liberais apoiaram as medidas de excegdo adotadas pelo governo sob alegacao de que o combate a0 comunismo era a prioridade do momento; tais medidas acabaram por fortalecer o poder do governante, que, em 1937, liderou o golpe promotor do Estado Novo, que dissolveu o Congreso € outorgou nova Constituigdo 4 naga CONSOLIDAGAO DO ESTADO NOVO (1937-1942) |ANIZACAO DO PODER: ORDEM E PROGRESSO Executivo orientados pela nova Constituicao. Pessoas de confianga de 7 feuidadenPara i550 utilizon duas estratégias: a propaganda lio Vargas foram escolhidas para as interventorias. aftca e a repressio aos opositores. ee ee 116 oy; © BRASIL REPUBLICANO © ESTADO NOVO: O QUE TROUXE DE NOVO? Os meios de comunicagao, cerceados na liberdade de expressio, ficare o forte para compensar a fragilidade da burguesia brasileira. Azevedo impedidos pela censura de externar suas opinides, bem como de expres considerava que ele deveria atuar no jogo econémico corrigindo ¢ reajustando situag6es prejudiciais ao interesse coletivo. O dirigismo nico, segundo o autor, tinha a vantagem de assegurar considerdvel li- de a iniciativa privada e, ao mesmo tempo, a de se adaptar as exigén- as opinides alheias contrérias ao regime. Os 6rgaos ; opositores foram los de comunicagao acabaram aderindo ao poder para continuar usui do capitalismo moderno, que ele definia como capitalismo corporativo. de suas benesses; os que nao se dobraram a cle ficaram a mercé do contro do corporativo deveria encarar © planejamento como um dos seus da censura. Aos meios de comunica¢ao cabia a tarefa de exaltar_a fi is meios de interven¢ao. Vargas, nao s6 como conciliador entre as classes e protetor dos oprimid fesse perfodo, os Conselhos Técnicos substituiram o Congreso como mas também como realizador do progresso material, o que significavav de representagio. A énfase no papel da tecnocracia a frente dos neg6- cer o atraso. As realizagdes do governo no terreno econémico, no campo\ piiblicos, em detrimento da lideranga politica, constituiu uma novidade legislacdo social e da organizacao planificada do Estado foram enaltecida ida pelo regime. O° D projeto econémico do governo comecou a ser elaborado a partir D governo voltou as atengdes para 0. mercado interno; aboliu os impos- crise de 1929, que atingiu duramente a economia brasileira, baseada na terestaduais, introduzindo um sistema tributdrio padronizado, para fa- portagio de produtos primarios, sendo o café o principal deles naquela iF a sua integracdo. Procurou estimular o desenvolvimento das indéstrias sido. O novo governo, advindo da Revolugao de 30, enfrentou problem de um sistema de substituigao cao das im importag6es que implicava oin- de superprodugao de café, esgotamento das reservas cambiais ¢ crise das yo A utilizacio da capacidade ociosa das indistrias j4 existentes no pai nangas ptiblicas. O comércio mundial ficou reduzido em mais da metad a ile outras acabaram se beneficiando com os obstaculos colo- prego do café baixou para um tergo do que era antes e os estoques do prod di |As importagdes de similares. Além disso houve iseng6es para importa- to aumentavam dia a dia nos portos brasileiros. Getilio Vargas pro bens de capital. As induistrias basicas desenvolveram-se de forma acudir os cafeicultores, mas novas providéncias deveriam ser tomadas p solucionar as dificuldades. Depois de esforgos feitos em varias frentes, a economia comegou a d 1 inicio, foram, pouco a pouco, se aproximando do poder federal. Ti- mostras de recuperagéo em 1933. O governo provisdrio procurou sust tecusado a politica social do governo, mas acabaram admitindo a sua o setor cafeeiro ¢ adaptar-se 3 nova situagao do mercado mundial. Alivi sssidade. O boicote a legislacio trabalhista que entrou em vigor a partir situago, esbocou-se um projeto de desenvolvimento econdmico em bas de 1930, com a criacao do Ministério do Trabalho, foi desaparecen- novas, que procurou priorizar o avango do setor industrial com a parti 40 do Estado. io Vargas tinha como meta principal superar o atraso transformar artir de 1937 foi posto em pratica 0 projeto que preconizava 9 sil num pais desenvolvido do ponto de vista econémico. O tema da do. como agente da politica econémica. A nova Constituigo definiu a neo dernizacdo ganhou destaque no referido perfodo. Uma das justificativas sidade de intervengao do poder pi publico na economia para “suprit golpe cra a necessidade de produzir mudangas capazes de colocar 0 deficiéncias da iniciativa individual e coordenar os fatores de producio”. m patamar de progresso material que pudesse equiparé-lo as nag6es Os idedlogos estado-novistas criticavam o liberalismo alienante, inadap Présperas do mundo. A meta do progresso indicava a ordem como par- tavel a realidade brasileira. Oliveira Vianna preconizava a necessidade de uf I: neste aspecto, a racionalizagao do mundo do trabalho e o controle 118 119 PAGERS IC RERUBLICANG © ESTADO NOVO: O QUE TROUXE DE NOVO? independente desse setor social. Os dois lados devem ser levados em conta aa comprcensao desse fendmeno: os beneficios da legislago social que taram em direitos adquiridos ¢ protec4o minima no que se refere a ex- ago que até entao caracterizou o mundo do trabalho sao inegaveis. Além 0, o reconhecimento dos trabalhadores como sujeitos do processo hist6- ¢0 € cidadaos ativos teve um importante impacto no que se refere A digni- ade do trabalhador, como bem mostra Angela Castro Gomes em sua andlise jobre esta questao. Segundo a autora, além da légica material, o discurso es- Tesgatava idéias, crengas, valorese a auto-imagem construida pelos pré- Fos trabalhadores na Primeira Republica. O Estado nao se mostrava apenas 10 produtor de bens materiais, mas também como articulador das deman- § € tradigoes da classe operdria, e os apresentava como seus — além de social, tido como ameagado pelos agentes da subversao, constitufam outro pilar da politica estado-novista. A legislagao trabalhista visava a regulamentar os conflitos entre pa- trdes e operdrios e a controlar as atividades dos sindicatos até entao in dependentes. O objetivo maior consistia no impedimento de que conflitos. sociais se expressassem na esfera publica. Foram, entdo, criados érgao para coordenar as relagées de classe. Essa politica tinha inspiragao ni “Carta del Lavoro”, posta em pratica na Italia de Mussolini. Estabelecia “0 regime de sindicato finico controlado pelo Ministério do Trabalho e regulamentava o imposto sindical a ser pago por todos os trabalhadod Em 1942 foi instituido 0 saldrio mfnimo, que os trabalhadores conside- raram insuficiente para o sustento de suas familias. Nesse ano o conjun de leis referentes ao mundo do trabalho (saldrio.mfnimo, férias, essaltar os beneffcios sociais como tendo sido generosamente concedidos 40 de horas de trabalho, seguranga,carteira de trabalho, justica do. lo chefe do governo, o que, em troca, exigia reconhecimento e retribuicso ~balho, tutela dos sindicatos pelo Ministério do Trabalho), promulgada Gomes, 1938). cna CU CUICHIO is a0 longo dos anos, foi sistematizado pela Consolidacao das Leis do Tra No entanto, essa politica concebida do alto, sem a participacao efetiva balho. Esta medida representou, de um lado, o atendimento das a I interessados, representou uma nova forma de controle social, mais efi- cagées operdrias que foram objeto de intensa luta da categoria por varias az porque recorreu a um imagindrio que encontrava terreno fértil entre os décadas e, de outro, o controle, através do Estado, das atividades ind abalhadores, Ela era, também, mais edeads Saar eee pendentes da classe trabalhadora, que acabou perdendo sua autono? fais da ordem capitalista porque introduziu, com a legislagao social, um através do controle estatal. inio mais direto sobre as aces dos operérios, Essa politica acabou por dividir 0 movimento sindical. Uma parcela sig Gabe ainda excarecer que, durante o Bntado Novo, justia social, om nificativa mostrou-se satisfeita com as “benesses generosamente” ao Sultados efetivos no que se refere a melhoria do nivel de vida das classes das pelo chefe do governo, como alardeava a propaganda governament epulares, foi postergada para o futuro; os representantes do governo ale- -outra parcela tentou reagir ao controle do Estado ¢ a perda da liberdade po- Que as reivindicacées das classes trabalhadoras poderiam ser atendi- litica. Mas essa corrente foi sufocada porque regime autoritério impediaas de forma mais efetiva, quando o Progresso material se consolidasse, Na manifestag6es de oposigao em todos os niveis. Com o pretexto de manter: ardade, as condigoes econémicas do pats naquéle periodo nao eram favord- ordem e acabar com a subyersio, muitos sindicalistas que se opuseram anoy @ aumentos salariais para a populacdo de baixa renda. Cartas, telegra- politica foram perseguidos, presos, torturados ou exilados durante o Esta‘ s, bilhetes dirigidos a Vargas demonstram descontentamento diante de aixos saldrios, carestia de vida e falta de emprego, " José Rogério da Silva mostra que a carestia de vida foi constante e pro- ssiva ao longo do E: ado O aumento de pregos atingiu patamares ito altos a partir de 1940. A situagao tornou-se drdstica em 1941, provo- lo imtimeras reclamagées de trabalhadores. A intervengao do Estado na Novo, Arelacao dos trabalhadores com o governo era complexa e, por isso, ger muitas controvérsias entre os intérpretes desse perfodo. Para alguns autore a atuacio de Vargas foi benéfica para os trabalhadores, mas outros salientam i ‘caraterautortério dessa politica que resultou na impossibilidade de at 120 wat © BRASIL REPUBLICANO © ESTADO NOVO: O QUE TROUXE DE Novo? tentativa de controlar os pregos foi nula e o problema se agravou com ae lembrar que o regime nazista transformou-a num dos pilares do poder. O trada do Brasil na guerra em 1942, (0 Joseph Goebbels criou uma mquina de propaganda que serviu de Os salarios cresceram pouco na maior parte das indtistrias, enquanto idelo a varios governos em busca do apoio das massas como base de sus- custo de vida mais que triplicou entre 1935 ¢ 1945. Em conseqiténcia dis Gao de suas politicas. as rendas reais cafram e a maioria das familias operdrias se viu obrigada restringir a alimentagao, como mostram intimeras mensagens dirigidas a chefe da nagao (Silva, 1992). Essa realidade é confirmada por Joel Wolfe, quando se refere ao fato« que as condigées eram tio dificeis a ponto de inquietar os membros da Fe ragio das Indiistrias do Estado de Sao Paulo (Fiesp); os baixos saldrios ¢ desemprego passaram a ser vistos como uma ameaca A ordem social. A Fie ntes do Estado Novo o governo brasileiro ja se preocupara com a orga- o da propaganda politica e da censura.S A criagdo do Departamento de Imprensa e Propaganda foi fundamental ntido. Ele tinha o encargo de produzir material de propaganda, in- ndo a producio de cartazes, objetos, espetaculos, cedores do poder. organizadores da propaganda se valeram de simbolos e imagens na sugeriu cautela na construgio de casas e restaurantes luxuosos, a fim de ‘de consentimento e adesio da sociedade. A bandeira brasileira ea fi- tar a ira dos inquietos desempregados (Wolfe, 1994, p. 42-43). Vargas foram os simbolos mais explorados nas representages visuais O regime alardeava os beneffcios da nova cidadania introduzida pe ido Novo. Muito significativo € 0 cartaz no qual se desenha o mapa regime — a cidadania do trabalho. Era considerado.cidadao quem trab: colorido de verde e, no centro, a bandeira brasileira com a ima- va, ¢ a carteira de trabalho assinada era o documento de identidade Vargas desenhada na esfera azul; ao lado havia os dizeres, “Fortes ¢ importante. No entanto, o ntimero de desempregados era muito alto; | 9s, 08 brasileiros do Estado Novo sao guiados pela grande trindade na- se sentiam, além de marginalizados do mercado de trabalho, excluidos nossa Patria, Nossa Bandeira, nosso Chefe.” A referéncia 3 simbologia condigao de cidadania. As cartas ¢ os bilhetes enderegados, em tom a Santfssima Trindade é clara: a s: cralizag4o dos simbolos, como bem cante, a0 “pai dos pobres” (epiteto atribufdo a Getilio Vargas) demons! Alcir Lenharo, emprestava maior forca 4 imagem (Lenharo, 1986). © desespero de ampla parcela da populagao. avia um cartaz também bastante significativo. Nele aparecia a figu- Mas Jorge Ferreira, em seu estudo sobre o mesmo tema, mostra, tamb fal de Vargas acariciando as criancas, seguida dos dizeres: “Crian- através de correspondéncia enviada ao chefe do governo, que muitos tra iprendendo no lar e nas escolas 0 culto a Patria, trareis para a vida Ihadores se sentiam gratos a ele pelas benesses recebidas através da todas as probabilidades de éxito” (Nosso Século, apud Capclato. politica trabalhista (Ferreira, 1997). . 48). : Como se pode observar, a politica trabalhista teve leituras diversas p gens ¢ os simbolos eram difundidos nas escolas com 0 objetivo de parte de seus destinatdrios. Isto explica por que os intérpretes dessa poli consciéncia do pequeno cidadao. Nas representagées do Estado até hoje divergem sobre seus resultados, Enfase no novo era constante: o novo regime prometia criar 0 ho- livros e artigos + © antes era representado pela negatividade total e o de- o Novo) era a expressio do bem e do bom. Havia promessas de { ro glorioso. As criancas aprendiam o que significava o novo através © governo procurou ampliar a base de apoio através da propaganda po Ges de textos em forma de didlogo: as perguntas e respostas ensi- ca, arma muito importante num regime que se volta para as massas. £ iticamente o sentido das mudangas. PROPAGANDA POLITICA E PRODUGAO CULTURAL 122 123 © BRASIL REPUBLICANO © ESTADO NOVO: 0 QUE TROUXE DE Novo? et o chefe da grande familia nacional. O chefe da grande fa- Amor, paz, felicidade, generosidade, concérdia constitufam os elemen- ura afetiva organizada para propor a unidade . Ao estimular esses sentim i 1 ralizar os conflitos através da formagao da identdade ae ja (Capelato, 1998, p. 246-247), ; i rode aria cual engajada ficou a cargo do ministro da Edu- E ‘ustavo Capanema, responsdvel pela orientagao cultural no perfodo. ftica cultural do varguismo foi coerente com a concep¢ao de Eade nou a atuacdo do governante. Em nome de valores politicos, ideo- 8, religiosos e morais, os representantes do regime justificaram A Pproi- ‘ ag valorizacao de produtos culturais. O poder politico definiu, em Ia instancia, o que deveria ser produzido e incentivou certas obras em nto de outras. A defesa da intervengao estatal na cultura, entendida fator de unidade nacional e harmonia social, caracterizou esse perfo- ‘Cultura foi entendida como suporte da politica e nessa perspectiva Politica c propaganda se mesclaram. i ) governo considerava importante a intervengao do Estado na cultura, d pemo fator de unidade nacional. Nessa Perspectiva, a arte eo saber fomissados foram questionados Por Getilio Vargas nos seguintes ter- como € moda, desdém pela cultura ou menosprezo pela ilus- J. No periodo de evolucdo em que nos encontramos, a cultura sem objetivo claro e definido deve ser considerada, ene luxo @ poucos individuos e de escasso proveito para a coletividade. ms © discurso enfatiza a necessidade de que a cultura atingisse setores § desses beneficios, mas a referencia 4 coletividade explicita a pers- le ane a cultura tinha uma tarefa politica, ou seja, de contribuir para : ® Racional (Velloso, 2003). gime varguista concebeu e organizou a cultura com os olhos volta- 8 experiéncias européias nazi-fascistas. Na Alemanha e na Itdlia a €ntendida como suporte da politica. No Estado Novo brasileiro ee também orientou a politica cultural, mas os resultados fo- res, Nas publicagdes destinadas & formacdo civica das criangas, como era 9 caso do Catecismo civico do Brasil Novo, 0s pequenos aprendiam a impor tancia do principio da autoridade e da ordem. No item referente ao “Prinef=_ pio da autoridade” estava posta a seguinte pergunta, seguida de resposta: _ Pergunta: O exercicio da autoridade suprema por um chefe nao contraria vontade do povo em uma democracia? Resposta: Absolutamente, ndo. O Chefe do Estado, em um regime demo tico como 0 que foi estabelecido no Brasil pela Constituisao de novembro, é © expoente do povo, 0 seu representante direto [...] Obedecendo, portanto a0 Chefe que o representa, 0 povo, apenas, se conforma com aquilo que ele préprio deseja e ¢ executado pelo depositério de uma autoridade por ele com ferida, A busca de legitimidade fica evidente neste texto. No livreto O Brasil é bom o tema da educagao aparecia da seguinte fo ma: “O menino, para ser um bom brasileiro, deve também saber ler. Ur em instrugdo € um homem infeliz... Por isso 0 governo nao qui que haja brasileiros que nao saibam ler. Por que o governo nao quer? é amigo dos brasileiros ¢ n4o gosta da ignorancia [...]” (ap Capelato, 1998, p. 219). Muitas biografias de Getilio Vargas e obras laudatérias ao governo| ram publicadas na época. Nelas o chefe do poder era comparado ora a sociélogo, porque conhecia profundamente a sociedade, ora a um psic go, porque sabia interpretar a alma brasileira, ora a Jesus Cristo, porque: sacrificava pelo povo. A propaganda, além de enaltecer a figura do Ifder ¢ sua relagéo com as massas, demonstrava a preocupacio do governo com a formaca uma identidade nacional coletiva. O sentimento de agregac4o ¢ pertencim foi muito valorizado através da associacio entre Estado, Patria, Nacio ep como bem mostra a ligio 3 do livreto O Brasil é bom: “Se todos os br: a grande familia, Realmente, é uma grande ros so irmios, o Brasil é imiflia feliz. Uma familia é feliz quando ha paz no lar. Quando os mem nao brigam. Quando nio reina a discérdia [...] O chefe do governo é00 4 2 125 0 BRASIL REPUBLICANO © ESTADO NOVO: O QUE TROUXE DE NOVO? producio cultural, a exemplo do que ocorria no fascismo e no nazi 9, era controlada pelo DIP. Os diferentes campos artfsticos foram organi- gs e concebidos nos mesmos moldes. Cabia as divises do DIP organizar, lar e divulgar a produgao artfstica, popular e erudita; esperava-se que fes se transformassem em clementos formadores das massas, Além da do estética, essas iniciativas deveriam atingir os objetivos de educacao a, colaborando para consolidar o sentimento de nacionalidade. limite da tolerancia era a proibigao do exercfcio da critica. Apesar dessa No Estado Novo a fungao do artista foi definida como socializadora em nfvel nacional e unificadora em nfvel internacional. Deveria cumprir a mis. sao de testemunho do social, o que em muito ultrapassava a mera produga de beleza. A arte se vinculava ao nacional. Para exprimir os sentimentos ciais o artista deveria se inspirar em nossos temas € motivos mais tipicc (Goulart, 1990, p. 100). Nesse contexto, a arte se voltou para fins utilitariog em vez de ornamentais e, através dela, buscou-se ampliar e divulgar a dout na politica do governo. A partir dessas concepg6es, 0 varguismo atuou ante a produgio cul iri¢do, a proximidade de intelectuais independentes com érgaos de cultu- do perfodo que se inseria num projeto politico. Estado mostra que 0 espirito de conciliagao predominou nas relagdes OQ apoio de intelectuais e artistas a0 Estado Novo e a convivéncia politica ¢ cultura durante o Estado Novo. A politica de conciliagao no fica” dos que se opunham ao governo autoritério com o Ministério da ypo da cultura permite afirmar que havia uma diferenga importante do cagdo, representado por Capanema, permitem explicar uma das caracteristi brasileiro em relac4o aos modelos alemao ¢ italiano. peculiares do regime. Segundo alguns autores, a postura controvertida d ‘Ocinema, 0 teatro, a miisica, as artes plasticas foram valorizados duran- Gustavo Capanema, que esteve a frente do ministério entre 1934 ¢ 1945, stado Novo, mas nao da mesma forma ou com igual intensidade. responsdvel pela atitude conciliatéria e ambigua do Estado Novo no plan i A imagem passou da cultura, que até hoje causa perplexidade entre os analistas do perfodo, s considerada como instrumento importante para a conquista das mas- ministro tinha especial preocupagao com o desenvolvimento da a cultura i procurava impedir que “a nacionalidade incipiente fosse ameagada por eresse nesse campo. O governante concebia o cinema como vefculo de tras culturas e ideologias”. Pertencera, nos anos 20, ao grupo de intelec trucao ¢, nesse sentido, declarou “o cine serd o livro de imagens lumino- mineiros com os quais continuou mantendo contato nas décadas posteriores aM que nossas populagdes praiciras ¢ rurais aprenderdo a amar o Brasil. Como mostra Sérgio Miceli, personalidades de diferentes tendénci lamassa de analfabetos, ser4 a disciplina pedagégica mais perfeita e facil”.” _gravitaram em oro do-Miniistério da Educagao. O autor considera qi om 0 apoio do governo, matografica, até entao defici- gestio Capanema erigiu uma espécie de territério livre infenso as salvag a, pode equilibrar-se. Alguns cineastas batalharam para fazer do Estado 0 das ideolégicas do regime (Miceli, 1979, p. 161). Entre os nomes que oct de mecenas do cinema brasileiro, reivindicando, portanto, que ele de- pavam postos junto a esse ministério, muitos deles nfo se i¢ prt npenhasse um papel ativo e protetor dessa atividade cultural para fazer “ideologicamente com 0 regime, como era 0 caso do poeta mineiro Cal fe ao cinema norte-americano, muito bem situado no mercado brasilei- Drummond de Andrade, chefe de gabinete do ministro, que em 1945 decla endendo aos apelos da classe, o governo decretou, em 1932, a lei de : ee atoriedade de exibigao de filmes nacionais. Com o apoio de Vargas, a tria cinematografica, até entao deficitaria, conseguiu equilibrar-se. Vargas foi considerado pela categoria beneficiada como o “pai do brasileiro”. Um “cinematélogo” entusiasta enalteceu o governante ¢ simpatizante do comunismo. vista do DIP — Cultura Politica (dirigida por Almir d Andrade) —, mas também os jornais varguistas A Manhd (dirigido pt Cassiano Ricardo) ¢ A Noite ( icigida por MEaGHH del Pech a) publica : artigos de autores com posicdes politico-ideolégicas, bem diversas: da tor do cinema nacional, argumentando que “[...] 0 coitadinho era um ma | direita catélica aos comunistas. 10 raquitico, enfezado, quase a morrer a mingua [...]”, mas Vargas deu 126 127 © BRASIL REPUBLICANO © ESTADO NOVO: O QUE TROUXE DE NOVO? bonde de Sao Janudrio/leva mais um operdrio/sou eu que vou trabalhar/anti- mente eu nAo tinha juizo, mas resolvi garantir o meu futuro/sou feliz, vivo ito bem/a boémia nao dé camisa a ninguém/e digo bem” (Haussen, 1992, exist@ncia real ao cinema brasileiro: “Tonificou-lhe 0 anemizado organismo injetou-lhe forga, energia, descobrindo, para isso, como se descobrisse ovo de Colombo, a mais benéfica e providencial das vitaminas: o ‘short’ b sileiro de exibicdo obrigatéria, estabelecida pelo decreto n° 21.240, de abril 9. 81). de 1932.”8 Heitor Villa-Lobos foi a a eeaace personalidade a oe ao Es- Coube ao Instituto Nacional de Cinema Educativo a tarefa de org i e editar filmes educativos brasileiros. A Divisio de Cinema e Teatro do Dil ficou encarregada de realizar a censura prévia dos filmes e a produgao d itor: “nenhuma arte exerce sobre as massas uma influéncia téo grande Cine Jornal Brasileiro. ito a musica. Ela é capaz de tocar os espiritos menos desenvolvidos, até Os documentirios cinematograficos, de exibig4o obrigatéria, mostrava nesmo os animais. Ao mesmo tempo, nenhuma arte leva as massas mais subs- as comemoragoes ¢ festividades pablicas, as realizagées do governo € os atos incia”. Acreditava, ainda, que a falta de unidade de aco e de coesdo, neces- das autoridades. A intensidade da produgao de documentirios pelo DIP a formagao de uma grande nacionalidade, poderia ser corrigida pela rou protestos dos produtores, que a consideravam uma forma de concorrénel educa¢ao ¢ pelo canto: “o canto orfednico, praticado pelas criangas e por desproporcional, j4 que os exibidores preferiam cumprir a lei de obrig Ppropagado até os lares, nos dar4 geragdes renovadas por uma bela disci- toriedade com os filmes produzidos pelo governo. Havia concursos, a da vida social, em beneficio do pafs, cantando e trabalhando, e, ao can- prémios em dinheiro, para os melhores documentérios, o que levava os pro devotando-se a patria”. O compositor saiu a campo para divulgar suas dutores a abordarem temas do agrado do regime (Garcia, 1982, p. 104-105) lias; fez conferéncias e concertos pelo Brasil afora e formou um coral de Filmes de ficgio, como Argila, Romance proibido, Aves sem ninho ¢ Ca mil vozes para o canto de hinos patridticos e educag4o de sentimentos minbos do céu, também foram realizados no perfodo com o mesmo obj icos (Schwartzman, 1984, p. 90). Mas cles nao conseguiram competir com as produgées norte-americanas. C No que se refere as artes plasticas, a pintura também foi concebida com mercado brasileiro, 4 época, j4 era bom receptor dos filmes hollywoodiano mento de formagao nacional. Os murais do Ministério da Educagao Como mostra Claudio Aguiar Almeida, esse tipo de filme nao cumpriu a ta ncomendados por Capanema a Candido Portinari expressam a ideologia do refa de tornar-se “agitador das almas”, como pretendiam os incentivadot e. Cabe lembrar que o ministro, nessa fendeu e protegeu do cinema nacional. As “almas brasileiras continuaram entregues ao cult ortinari contra as acusages de es ecclesia }s temas sugeri- dos heréis, divas ¢ ideais veiculados por Hollywood” (Almeida, 1993, p. 20 9s para composicao dos quadros sao reveladores: eles mostram aspectos Os ideblogos nacionalistas preocuparam-se também com a miisicab \damentais da evolugio econémica, da vida popular, os tipos nacionais Ieira. Havia incentivo as misicas cujas letras fossem adequadas aos valoré omo o gaticho, o sertanejo, o jangadeiro (Schwartzman, 1984, p. 95). apregoados pelo regime, como era 0 caso da exaltagao do trabalho eda -A arquitetura foi concebida, como na Alemanha ¢ Itdlia, com 0 objetivo cionalidade. O melhor exemplo nesse sentido foi a “Aquarela do Brasil” d © demonstrar a gandiosidade e a pujanga do poder. Nessa perspectiva fo- Ary Barroso. Alguns autores foram pressionados a modificar a.letra de sam im realizadas algumas construgdes de ediffcios piblicos, como o Ministério bas: a que enaltecia a malandragem teve de ser alterada. E bem conhecido Educacao ¢ Satide, Ministério do Trabalho, Ministério da Guerra, Cen- caso de Wilson Batista, “malandro” consagrado que acabou compondo, do Brasil. Vargas, ao inaugurar o Ministério do Trabalho, Industria ¢ Ataulfo Alves, o samba “Bonde de Sao Janudrio”, em 1941, cuja letra vomércio, em 1938, associou a solidez arquitetonica da construgio 4 obra ma: “quem trabalha é quem tem razio/eu digo ¢ nao tenho medo de errat/ Integracdo social iniciada com a Revolugao de 1930 (Garcia, 1982, p. 109). 128 129 © BRASIL REPUBLICANO © ESTADO Novo: 0 QUE TROUXE DE Novo? Entre os ministros de Vargas, Capanema notabilizou-se pela extrema, ses a EPRESSAO E RESISTENCIA AO ESTADO NOVO idade de conciliagdo. Sua atuagao conferiu peculiaridade ao regime | capa intelectuais ¢ artistas de diferentes ten- “brasileiro pelo fato de ter acolhido déncias ideolégicas num regime de natureza autoritéria, Getilio Vargas, por sua vez, era benquisto entre os “trabalhadores” do rédio, teatro € cinema em virtude das leis que regulamentaram 0 exercfcio dessas profis= sées. O depoimento de Mario Lago, 4 época comunista € opositor do amistosa do chefe do governo com a A organizacio da Propaganda e d: a la repressao constitui is pil | apie iu os dois pilares de A pro inspi Pr ine pene inspirada no modelo institufdo na Alemanha elo ministro Joseph Goebbels, tinh: jeti , tinha como objetivo conquistar 6 ites para a nova politica e a polici i sands policia exercia repressio ao: it a ° s Opositores gime, tendo como tarefa garantir a nova ordem. a i F eee een te — pris6es, tortura, exflios, censura —, que atin- os considerados subversivos (comunistas, socialistas, an: i mo os opositores liberais, See Estado Novo, revela bem a relag: classe artistica: [..] © Gettilio tinha a admiracao dos artistas por uma razdo muito simpl Foi o autor da lei que praticamente regulamentou a profissao ¢ do direito Paulo acabou sendo expro- autoral, que deu uma estrutura ao recebimento desse direito — a lei Gerilio Vargas. Razo por que havia uma aura de ternura, de agradecimento, de g be — = ee daenbro havi uma serena As crimes da repressao nao foram Poucas. Ela j4 mostrara suas garras jardim do Palécio da Guanabara e o pessoal ia voluntariamente [J (L280 Nove rect & 1937 confeiu-Te legaldade. N : astm do Palit de Guanabess lo Novo muitos permaneceram Presos e muitos foram tor ee : ele rturados. O; ae de ae foram torturados e receberam penas altas. aes Ss ane ; oe tiveram os corpos queimados. A mulher do Ifder comu- : los Prestes, Olga Bendrio, foi entregue aos alemies e acab: e 0 num campo de concentra¢ao. i .. i Ti ad Seguranga Nacional fora criado em 1936 para julgar os : ipantes do ievante comunista de 1935. A partir do Estado Novo, tam: a a julgar seus adversarios politicos. A policia politica do Diszity ‘oi chefiada por Filinto Miller, um militar de carreira, Filho da oli- Evidentemente, nem todos tinham motivos para ser gratos a0 regime e ac chefe do governo. Os que foram atingidos pela censura sentiram na pelea conseqiiéncias do autoritarismo vigente. As presses para produzir o que ers interessante ao governo também deixavam clara a natureza politica dos pro jetos culturais. ‘A forma autoritaria do poder garantida pela Constituigio de 1937 certe mente impediu a divulgacao de obras criticas. Durante o Estado Novo, alguns produtores de cultura foram vitimas, mato-grossense, participou dos levantes is censura e outras formas de repressio, mas houve aqueles que se senti 1 Coluna Prestes. Foi exilado na Ggatase we et ; : i etado as Ae , a0 voltar ao Brasil, inte- na Revolucao de 1930, Foi chefe da Guarda Civil do Rio de Gane beneficiados. Muitos intelectuais foram convocades a participar da or} zagao do novo Estado ea teorizar sobre a “questo nacional” ou a criar ob de artes, adequadas aos propésitos do novo poder. Essa participagio, € diltima instncia, serviu para legitimar o Estado oriundo de um golpe ¢ ¢0 Departamento de Ordem Politica e Soc ferir ao regime uma “cara” mais benevolente. 130 131 © BRASIL REPUBLICANO © ESTADO NOVO: © QUE TROUXE DE NOVO? vista entre a ideologia estado-novista ¢ a integralista, os camisas-verdes re ider4-la como digna de estudo em sala de aula; por isso, acabou desisti : ; in 5 presentavam um partido que almejava ascender ao poder. Getilio Vai e ensinar Direito Constitucional. . me: prometera da Educacio ao lider do movimento, Plinio S: " Havia uma ligagao entre politicos, jornalistas, professores e estudantes do, mas, além de néo cumprir a promessa, e: o. Pedro Ferraz do Amaral jornalista do Estado de S. Paulo, . Paulo, de um movimento claramente identificado com os nazi-fascistas, com Os qua tribuiu panfletos contra o Estado Novo; era amigo dos estudantes de Di 5 lantes de Di- o governo tinha afinidades mas procurava ndo se identificar explicitament sito e conspirava com eles. Os professores Waldemar Ferreira, Vicente Ra Também foram reprimidos os que tentaram organizar o nacional-soei; nténio Sampaio Déria, considerados mais adversos ao ms ‘ime, fs : i ff on for lismo no Brasil.° O golpe de 1937 colocou os nazistas na ilegalidade, mitidos por orientacio de Getiilio Vargas e readmitidos em nas : ae eles continuaram a agir clandestinamente. A repressdo intensificou-se a ulles, 1984, p. 110-111). Em meados de julho de 1938 os estudantes tiveram conhecimento da vi- : 2 si Daa i ide Vargas a Sao Paulo. Alguns membros do Centro Onze de Agosto viram Apesar da intensa represso e auséncia de liberdade de expresso, a ma oportunidade para fazer com que o Centro declarasse o presid sigdo ao regime e seu chefe, mesmo proibida, nao deixou de ser manifes sonia non grata. Os estudantes de Direito conseguiram reliara tea Como exemplo, cabe mencionar 0 caso de professores ¢ alunos do ensi seis ntimeros do jornal Folha Dobrada, Uma ilustracéo ee . . = a wi na pri superior que izar uma reac4o contra a ditadura. q sia Mostrava uma espada e um capacete sobre um livro thee aaa ‘Na Faculdade de Direito de Sao Paulo desenvolyeu-se, logo no infcio: s folhas parcialmente dobrada. Em editorial, exigiam re] ane Estado Novo, 0 foco mais significativo de oposicao ao regime. John Fos suftdgio universal, liberdade de expressio ¢ = “Constituigéo - Dulles descreveu, em detalhes, esse movimento (Dulles, 1984, p. 87-88} o” (Dulles, 1984, p. 113-114). ap Varios politicos partiram para 0 exilio no exterior, como foi 0 caso m da Faculdade de Dircito de Sao Paulo, consid inci Armando de Sales Oliveira, que chegou a ser preso, Flores da CunhaeO téncia a Vargas, outras organizaram copiaentn cee vio Mangabeira. Em Sao Paulo, passaram pela prisdo Tiradentes os Idades de Direito do Distrito Federal e de Salvador a rea - foi lide cos Paulo Nogucira Filho, Anténio Pereira Lima e Ant6nio Carlos de Abr t por estudantes comunistas; nas Faculdades Politécnicas dean : Fo (edicina Sodré. / to Paulo houve participagao de comunistas e liberais, Também foram perseguidos jornalistas como Paulo Duarte e Julio m agosto de 1937 foi fundada a Unido Nacional dos Estudantes Mesquita Filho. Este ultimo era proprictario do jornal O Estado de S. itida durante o Estado Novo. O Segundo Ci - 4 —— . io S ee egundo Congresso Nacional dos Estu- e um dos principais articuladores da revolugao de 1932, bem como da foi realizado em dezembro de 1938 em plena vigéncia dae ean panha de Armando de Sales Oliveira para a Presidéncia da Reptiblica. manteve-se neutra até o momento que antecedeu 0 posicionamento Julio de Mesquita Filho colaborara com Paulo Duarte na publicaga Overno brasileiro no conflito mundial, Apés 0 afundamento dos navios jornal clandestino Brasil. Os dois jornalistas, bacharéis pela Sao Franei 05; os estudantes, tendo a UNE a frente, fizeram manifestacé se juntaram a luta dos universitarios: foram presos varias vezes e aca dos Aliados; o dpice foi a marcha de 4 de jalho de 1942, ato Sane se exilando, antes do fechamento e expropriacao do Estado de S. Paulo, inde repercussao no Estado Novo. 2 ae 1940, por ordem da ditadura. E A repressao provocou resisténcias. Sampaio Déria, advogado e p sor de Direito, atacava a Carta Constitucional de 1937, recusando-se a nazistas, mas todos os alemaes, passaram a ser considerados inimig aa 133 © BRASIL REPUBLICANO © ESTADO NOVO: 0 QUE TROUKE DE Novo? : léncia. eo ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, e o general Géis Monteiro eram favoraveis 4 Aleman la, pois, além das afi dade idec : era if hi das ideo- ig “a - Soa de armas com aquele pais era importante nessa época. s havia os defensores dos EUA, como era 0 caso do ministro das Relagdes Hteriores, Oswaldo Aranha. Quando o Brasil declarou guer: i Vordveis ao Eixo foram substituidosno poder. 0 i aan ae ndo admitia semelhanga como os regimes nazi-fascistas, pro. :. eae a originalidade do Estado Novo. Mas compartilhava: mui idéias postas em Pratica nesses regimes: legislagao social, propaganda ica, Tepresentacao corporativista, e até mesmo o anti emitismo se fez esente “a certas esferas, sobretudo na politica de imigragao. Quando os EI i ‘ a " UA entraram. na.guetra, depois do ataque japonés a Pearl a : a a vai), a press4o dos norte-americanos sobre os paises latino-am Antes da Guerra, o governo alemAo procurara ampliar a area de influés mos para acompanhé-los foi intensa. No inicio de 1942 hot ae os p: P tensa. lel jouve uma con- fa interamericana de chanci i i eleres no Rio de Janeiro, na qual o Brasil cia na América Latina, regifio que jA se caracterizava pela forte presenga no te-americana no plano econémico ¢ politico. O mercado brasileiro foi ntado por Os . i dos alvos privilegiados da concorréncia da Alemanha com os EUA nar ieFixo ei a SE eves ropes diploma € comercial Além da importancia do mercado brasileiro, a presenga da colénia alema ferritério). Chile e Argentin: lentos ao pafs para a defesa pats explica o interesse desse pafs pelo Brasil. Mepois dessa conferénda Os resultados foram significativos: nessa época o comércio brasileiro ¢ i a 2 or ¢ navios bra- Alemanha aumentou muito, chegando a ocupar 0 segundo lugar, enqua ‘os EUA ocupavam o primeiro. No inicio do conflito, como foi dito, o governo brasileiro procurou mam aneutralidade, apesar das afinidades que o regime vinha demonstrando ‘os modelos fascistas (italiano e alemdo). Getilio Vargas fez um jogo d entre os seus dois maiores parceiros comerciais, procurando tirar prove dessa situacao. A neutralidade era vantajosa do ponto de vista comet além disso, o governo brasileiro mostrava-se cauteloso, procurando ob var o desenrolar dos acontecimentos. Entre os idedlogos e funciondrios do governo havia divergéncias d sigdes. A ala germanéfila no governo era forte. O prdprio Vargas se m\ favordvel a uma aproximagao com os alemaes em 1940, O ministro da Ju ¢a, Francisco Campos, elogiava abertamente Hitler, o chefe da policia P 1942: UM DIVISOR DE AGUAS NO ESTADO NOVO i i zt er, € 0 diretor do DIR Lourival Fontes, também eram dessa ‘As manifestag6es em favor da declaragdo de guerra ao Eixo se intensificaram nesse ano. Nas grandes cidades brasileiras, multidées foram as ruas para pres- sionar 0 goyerno. A Segunda Guerra Mundial teve infcio em 1° de setembro de 1939 ainvasdo da Polénia pelos exércitos de Hitler."" A partir dessa primeira vito ria muitas outras se sucederam. Mas os nazistas sofreram grande derrota n Réissia, o que serviu para mostrar que a invencibilidade apregoada pelo Id 20 Bixo, os alemao era um mito. O governo Vargas mantinha-se como observador do conflito, sem de rar preferéncias por qualquer dos lados beligerantes. Mas, a partir da dere tada Alemanha e das press6es do governo americano, bem como da populaga brasileira, comegou a preparar-se para a entrada no conflito. 2 Eixo se espa- ce Pal Alemfes japaneses passram a ser hosiizados pela ee cab me mre 5 on sas, residéncias, escolas, clu-_ Besa ataca los pela populacao em fiiria contra esses “estrangeiros”. 1942, a partir de fevereiro, foram bombardeados 21 navios braslei om o afundamento dos navios pelos alemdes, o clima de hostilidad # onazismo se acentuou no pais ea sociedade se manifestou, Em junho 8No comecaram as passeatas em favor da entrada do Brasil na | guerra Din rr i festaco dos comunistas, realizada no estdio do Pacaembu, em Sao Pi Ste texto, ou seja, o que t d dion ose at oe s A rouxe de novo o Estado Novo? unistas (cet ran 138 139 © BRASIL REPUBLICANO © ESTADO NOVO: O QUE TROUXE DE Novo? Esse regime implicou perdas e ganhos para as classes populares. A ques. sO Fstado de S. Paulo. S40 Paulo, 27 ‘de novembro de 1935. ; i O estado de guerra foi prorrogado ininterruptamente, desde o levante comunista Seinen descr ume = i a até junho de 1937, quando lideres das bancadas ¢ o ministto da Justica, Macedo Passou a ser um caso de Estado ¢ muitas lutas tiveram de ser travadas p _Soates, decidiram por susé-lo. No entanto, em outubro do mesmo ano, ecb preten. que esse passado fosse superado. fo da iminéncia de um novo golpe comunista, em virtude de um plano recentemen- No plano politico, o autoritarismo, que sempre marcou presenga na descoberto, 0 Exeeutivosolicitou mais uma vez a declaragio do estado de guerra, : flee fol selorea do, Foi introduzida no pafs “Trarava-se do Plano Cohen, forjado pelos integralistas e manipulado habilmente pelo ciedade brasileira, foi reforcad “Boverno como se fosse verdadeito com o intuito de prolongar a excepcionalidede, m 30 de setembro de 1937, os jornais noticiaram que o estado-maior do Exército escobrira um plano de insurreicéo comunista planejado pelo Comintern e assina- Por um nome judaico, “Cohen”. As instrugdes teriam sido apreendidas pela po- licia do Partido Integralista e encaminhadas a um oficial integralista que servia a0 fado-maior do Exército. Pelas discuss6es realizadas na Camara, havia fortes des. iancas a respeito da veracidade do plano ¢ alguns parlamentares expressaram No entanto, posta a questo em votagio, a concessio do estado de guerra foi ovada por 138 voros contra $2, O documento serviu de pretexto para o golpe Estado Novo. ‘poder, As liberdades relativas que existiam no perfodo anterior foram tas nesse momento « em nome do progresso dentro da ordem. ; O progresso material, sinénimo de desenvolvimento econdmico, ‘ ocorreu, demonstrando que a meta primeira do governo estado-novista “atingida em parte. O Brasil, nessa época, deu um salto em termos de super ¢fo do “atraso”, mas os resultados no chegaram a benefice as classes p aie saeeuas aoa ala ae, icine cel Bin 1931 fi era oDepurent Oil de Propaganda, que se tranformon em ‘oblemas mais sério: . 4 ; ide? so a saldrios foram responsdveis pela insatisfagio eas que 0 gor : i ee Scere : Dist = Es a do, por “elegera como os principals beneficrio de sua reece . rdinado a Presidéncia da Repiblica, tendo como fungGes centralizar, coorde- Levando em conta os aspectos positivos ¢ negativos do regime de 1 Rat, orientar e superintender a Propaganda nacional interna ou externa. Cabia aesse € possfyel concluir que as mudangas ocorridas nesse perfodo foram de © realizar a censura do teatro, do cinema, do rédio, da literatura, da imprensa, i a e explica 0 atividades recreativas e esportivas. Deveria, também, promover ¢ Patrocinar me importancia para o futuro do pais. Esta € a razio que exp! nifestagses civicas, exposig6es para demonstrat as realizacBes do governo, pro- interesse dos historiadores atuais pelo tema. cartilhas para criangas, documentarios, jornais nacionais, de exibicio obriga- em todos os cinemas. O DIP passou a ser dirigido pelo jornalista Lourival Fontes, ado com os ideais do Estado Novo. Em cada estado havia um Departamento al de Imprensa e Propaganda. Todos os jornalistas tinham de ter registro nes- 0. Ele foi responsavel pela criagao de duas revistas: Cultura Politica e Ciéncia Dd: A primeira publicava artigos elaborados por intelectuais organicos que pro- Ziam discursos de orientagdo ideol6gica sobre o Estado Novo, destinados a um co seleto. A segunda era produzida por intelectuais de menor peso ¢ se dirigia Fane piblico; caracterizou-se como “escola de patriotismo”, fazia proselitismo neste texto, € necessdrio apenas indicar um aspecto importante da critica que ¢ Eto, difundindo os ensinamentos do Estado Novo. Na imprensa ¢ no rédio, o autores fazem as andlises que o utilizam como referencial para interpretaga0. Tt t ole foi mais intenso, pois, além da censura, o DIP ficou encarregado de incor- se de um conceito muito abrangente, que nfo leva em conta mudangas conju Ear jornais oposicionistas e criar 6rgios novos. A Radio Nacional foi eneampada importantes. No caso do Brasil, alguns autores tomam como periodizacd0 P 940, 0s jornais A Manha do Rio de Janeiro, dirigido por Cassiano Ricardo, em definicdo do populismo o perfodo de 1930 a 1964, que ultrapassa aera Vargas; t © A Noite de Sao Paulo, em 1942, expressavam a voz do governo. Em marco se referem ao populismo relacionado apenas ao varguismo, levando em 1940 0 jornal O Estado de S. Paulo sofreu intervengao e passou a seguir a orien- décadas de 1930 e 40 ¢ o governo presidencial de 1951 a 1954. Outros aind © do governo. tlio Vargas, discurso proferido em 5/1/1940. Vargas, sid. p. 346. NOTAS. 1, Ver Ferreira, Jorge (2001). ae ; 2. Retomando a questo do conceito de “populismo”, que ndo se pretende sideram apenas este periodo como “populista”. pe 141 © BRASIL REPUBLICANO © ESTADO NOVO: 0 OUE TROUXE DE NOVO? x ' Citado em Barreto Filho, Mello. Anchieta e Getsilio Vargas, Rio de Janeit p. 135-136. . Citado em iderm, p. 119, . Um grupo de integralistas, em margo de 1938, tentou dar um golpe, que foi mido pelas forcas do governo. Houve varias prises que logo foram relaxaday {0 de malo overeat siuva tensativa ua Guanelaca, nies oe belles load ram ou fugiram. Alguns foram fuzilados perto do palécio do governo e Nelson Jahar. 1981, Estado Novo. i isk 41500 foram presos/noiR iol Noane seyuinte El(nio Salgado ol denos aaa Be yola. 0 Novo. Ideologia ¢ propaganda politica. So Paul Portugal. 10. O primeiro nucleo do Partido Nacional-socialista surgiu em 1931 em Porto ¢ chegou a fundar um jornal dirigido & colonia alema na regio. Come pandir-se em 1933 no sul do Brasil, onde praticavam atos de violéncia. Nes sede do partido foi instalada no Rio de Janeiro. Em 1934, conseguitam orga uma manifestagio no 1° de maio com 6.000 pessoas em Porto Alegre. Foi em 1935, o Circulo Teuto-brasileiro com o mesmo objetivo. ra, Eliana Regina Freitas. 1997. O ardil totalitdrio. Imagindrio politico no Brasil dos 5 30. Rio de Janeiro, Belo Horizonte: UFRJ/UEMG. ira, Jorge. 1997, Trabalbadores do Brasil. © imagindrio popular. Rio de Janeiro: ndacio Getilio Vargas. : (0rg,). 2001. O populismio ¢ sua histéria: Debate e critica. Rio de Janeiro: Civiliza- o Brasileira. : wm Angela Castro. 1988. A invencdo do trabalhismo. Rio de Janciro: Vérti i : . : Vértice/luperj. j sae 1990, Sobre a verdade oficial. Sio Paulo: CNPa/Marco Zero. joris Fagundes. 1992. Rédio e politica: Tempos de Va Perén. doutorado (mimeo.), USB, Sao Paulo. ‘ aria enue io, Alcit. 1986, A sacralizagdo da politica. Campinas: Papirus. José Rogério da, 1992. Condigdes de vida da classe trabalhadora na cidade de Sido 0 durante o Estado Novo. Dissertacio dé i . i¢4o de mestrado (mimeo.), PUC, Na guerra, as forcas estavam divididas por pafses: compuseram o Eixo a 0, Monica Pimenta, 2003. “Os intelectuais e a eli eile Eee a Itélia € 0 Japio. O bloco dos Aliados foi liderado pela Inglaterra e Franga, In: Ferreira, Jorge; Delgado, Lucilia de Almei : pela Raissia e Estados Unidos, que entraram na guerra posteriormente. Em 1 Be setiomo, Rio de Jancices Seka Tee eee a are tropas alemés invadiram a Dinamarca e Noruega, os Paises Baixos, a Bélgicaea cano, Livro 2). aie lie a ¢2. 0 éxito das investidas alemds era surpreendente. Em 1941 alemées, hing biilgaros tomaram a Iugoslévia. A seguir, com o auxilio de tropas romenas, ras e finlandesas, o Exército alemdo atacou a Unido Soviética, mas foi ent sofreu a primeira derrota significativa. ANDite. S40 Paulo, 28 de fevereiro de 1945. Idem. 11, 12. 13. BIBLIOGRAFIA. Almeida, Claudio Aguiar, 1999. O cinema como “agitador das almas”. Argila, um do Estado Novo. Sao Paulo: FAPESP/Anna Blume. Cancelli, Elizabeth. 1993. O mundo da violéncia. A politica da era Vargas. Brasili Capelato, Maria Helena. 1998. Multiddes em cena. Propaganda politica no vargul peronismo. Campinas: Papirus/Sao Paulo: FAPESP. Carneiro, Maria Luiza Tucci. 1988. O anti-semitismo na era Vargas. Sao Paul Carone, Edgar. 1976. Estado Novo. Rio de Janeiro: Difel. Contier, Arnaldo, 1988. Brasil novo: ratisica, nagdo e modernidade, Os anos 20 de livre-docéncia (mimeo.), USP, $40 Paulo. Dulles, John Fuster. 1984. A Faculdade de Direito de Sdo Paulo e a resistencia anti (1938-1945). Sao Paulo: Edusp/Nova Fronteira. 143

You might also like