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ATIVIDADE FINAL

Curso Introdutório de Psicodinâmica do Trabalho


Bruna Fruet Ventura
RGA: 201921126008

Considerando que a certificação do curso será de 30 horas, sendo 20 de sala de aula


e 10 de atividade de reflexão, você deverá nos enviar sua atividade final até o dia 13
de maio, via e-mail projeto.relaborar@gmail.com.
Disserte sobre o que aprendeu ao longo desses encontros, sinalizando os conceitos
apreendidos e as reflexões que suscitaram. Faça analogias com situações de
trabalho, com sua experiência e história de vida. Enfim, queremos saber o que
aprendeu, as inquietações que te trouxeram ao curso e as que foram acarretadas a
partir dele; incluindo sua visão sobre o papel e as possibilidades da Psicologia nas
organizações. Esperamos que escreva ao menos 30 linhas.

Realizei o Curso Introdutório de Psicodinâmica do Trabalho em um período


muito interessante da graduação, durante um semestre cujo enfoque em relações de
trabalho está perpassando quase todas as disciplinas que estou matriculada
atualmente como a Psicologia Institucional, Psicologia Organizacional II e o próprio
estágio do semestre que se dá na área de Psicologia Organizacional. Além disso,
também vivo intensamente em minha vida pessoal essas questões, pois sou parte da
administração da empresa em que trabalho e com os anos acabei me envolvendo
totalmente com questões de relações entre empresa e funcionários, que atualmente
é a minha função principal que atravessa minha vida cotidianamente, além das
próprias questões que tenho enquanto pertencente à classe trabalhadora. Por conta
dessa conjuntura, diversas questões vinham me incomodando. No semestre anterior,
em que cursei Psicologia Organizacional do Trabalho I, algumas dessas questões
foram supridas. Porém, não estava conseguindo encontrar nas disciplinas seguintes
uma continuidade ou um viés que de fato suprisse, ou ajudasse de alguma forma, na
compreensão das inquietações que tinha a respeito da temática do trabalho, até o
início do curso em questão aliado à frequência nos encontros do grupo de estudos do
projeto Re-laborar. Dentre elas, alguns dos principais questionamentos eram em
relação à percepção de potencial patogênico de certas formas de organização do
trabalho, e muitas vezes uma sensação de impotência frente a elas. Assim, a partir
de Dejours e a Psicodinâmica do trabalho, com a mudança de perspectiva que passa
da doença para o sofrimento, pude compreender melhor essa relação.

Inicialmente, estranhei a perspectiva de sofrimento inerente ao trabalho,


indagando se essa não era uma perspectiva que nos colocasse acomodados diante
das circunstâncias de trabalho inadequadas, se essa não seria uma perspectiva que
poderia contribuir para um viés de aceitação das mazelas da exploração da força do
trabalho da maneira que se dá atualmente. Entretanto, a partir das leituras e dos
conteúdos apresentados, pude compreender de maneira mais profunda como o
trabalho está para além do ato de trabalhar e vender a força de trabalho, está para
além desse resultado material, mas também possui uma função psíquica enquanto
alicerce da constituição do sujeito e de toda sua rede de produção de significados,
afetando sua subjetividade (relação do sujeito consigo mesmo, colocada à prova pelo
trabalho), a construção de sua identidade (seu realizar-se no mundo, as reafirmações
de sir e personalidade (traços afetivos, cognitivos, aquilo que é estático) de maneira
mais complexa. Assim, pude compreender que, de fato, é mais condizente com a
realidade e útil para qualquer interesse de mudança o reconhecimento de que o ato
de trabalho está ligado de fato ao sofrimento, como por exemplo em situações de
pequenos fracassos, em que se planeja efetuar uma tarefa e por algum motivo ela
não sai da maneira esperada. Assim, é útil compreender esse sofrimento inerente na
medida em que só a partir desse entendimento é que podemos estabelecer os limites
entre o que está na medida do saudável, e o que não está. Assim, desconstruindo
uma ideia de um ideal de trabalho que, assim como o existir humano, jamais irá se
inscrever na realidade de maneira idealizada ou romântica, como aqueles que
afirmam falácias como “trabalhe com o que gosta e jamais terá que trabalhar
novamente”. Desta maneira, pude compreender que o problema não é o trabalho
trazer sofrimento, mas qual será o destino desse sofrimento que dependendo das
condições pode se encaminhar para um sofrimento patogênico.

Outro aspecto importante e que coloca a Psicodinâmica do Trabalho num lugar


de esperança de ação é a compreensão do trabalho também como potencial fonte de
prazer quando se dá enquanto espaço construção de identidade e promotor de
autonomia. Assim, pude apreender que o objetivo da Psicodinâmica do Trabalho não
é modificar o trabalho, mas sim o trabalhador, diferente de outras campos que tinha
visto até aqui. Desta maneira, ela se coloca como uma clínica não do sujeito, mas de
uma coletividade aliada a essa subjetividade. Para isso, a separação entre o trabalho
prescrito, aquilo que é formulado pela organização previamente, e o trabalho real, ou
seja, tudo o que o indivíduo realiza sem que esteja prescrito, foi essencial. Assim,
também o conceito de trabalho vivo, aquele que permite o exercício da subjetividade,
não colocando o trabalhador em um estado alienante, foi um fundamento muito
interessante para pensar em ações que proporcionem essas mudanças nas relações
subjetivas do trabalho. Em minha trajetória de trabalho uma coisa que observei é que
enquanto parte da equipe de organização dos eventos e tomadas de decisão sobre a
minha própria atuação, essa possibilidade de poder de fato me apropriar de como
serão feitas as coisas, sugerindo, modificando, sempre foi um ponto muito positivo, e
quando isso é atravessado ou impossibilitado, geralmente são situações em que me
geram sofrimento. Assim, procuro também proporcionar para meus colegas de
trabalho esses ambientes em que seja possível esse exercício da individualidade e
das suas subjetividades, tentando sempre negociar essas autonomias com os
proprietários. Consigo visualizar em minha experiência pessoal e na de meus colegas
de trabalho como a falta da autonomia é de fato um facilitador para o adoecimento
mental.

Ademais, outra questão que foi muito interessante se relaciona com a


normalidade aparente, em que o trabalhador parece estar bem, mas na verdade está
usando estratégias para contornar a situação. Meu trabalho atualmente é de período
noturno, com eventuais reuniões ao longo da semana para fechamento de shows e
outras questões. Muitas vezes, os horários são extremamente complicados, saindo
quase amanhecendo o dia e precisando estar na faculdade, estágio, cursos, entre
outras demandas próprias da faculdade, com poucas horas de descanso entre as
atividades. O perfil dos outros colaboradores da empresa em que trabalho também é,
em sua maioria, de pessoas que dividem suas vidas entre a faculdade e o trabalho,
assim como eu. Apesar de eu ser a única ali a cursar a graduação em período integral,
sempre me questionei muito sobre outros colaboradores que tem uma rotina parecida
com a minha e aparentam estar sempre muito bem dispostos. Assim, a partir do curso
e da compreensão sobre conceitos como a normalidade aparente, em que o
trabalhador parece estar dando conta, mas está usando estratégias, individuais ou
coletivas, para dar conta do sofrimento, comecei a ficar mais sensível em relação a
esses mecanismos. A partir disso, comecei a observar comportamentos que até então
eu acreditava ser de um manejo extraordinário em relação a demandas muito
complexas de trabalho em meu cotidiano e perceber que na verdade eram
estratégias, mecanismos defensivos, e que, assim como eu, esses colegas estavam
apenas tentando contornar o sofrimento que esse tipo de circunstância nos causa.

Desta maneira, consegui explorar os resultados negativos dessas defesas que


apesar de parecerem necessárias, nos afastam de descrever os problemas, criando
um efeito aversivo, restringindo o curso do pensamento, produzindo distorções na
comunicação e até mesmo contribuindo para a manutenção do problema. Assim,
aquilo que parece proteger a saude mental inicialmente, acaba contribuindo para a
servidão voluntária e para a reprodução da dominação, fortalecendo o objeto do qual
que esses indivíduos estão tentando defender-se. E a partir dessa percepção a
Psicodinâmica do Trabalho sugere saídas possíveis, como aproximar-se da realidade
e delinear outros caminhos para enfrentar esse objeto considerado de risco, fomentar
espaços de discussão e deliberação entre os trabalhadores, a construção de coletivos
fortes nos quais se possa vivenciar formas de solidariedade, criando espaços de
intercompreensão e comparação, não destruindo a estratégia defensiva, mas criando
espaço para refletir sobre ela, apropriando-se da sua realidade e proporcionando
autonomia, valorizando o fazer humano sobre o mundo do trabalho.

Assim, vejo na Psicodinâmica do Trabalho o potencial de impacto sobre os


trabalhadores e suas coletividades enquanto fomentadora de espaços de discussão,
de pensadora de um espaço em que esses trabalhadores possam formular, discutir,
expor suas concepções sobre os modos de trabalhar e construir a si próprio e ao
outro, remontando as concepções de fazer democrático que parecem estar tão
desgastadas atualmente e resgatando o fator humano como princípio da coletividade.

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