Considerando que a certificação do curso será de 30 horas, sendo 20 de sala de aula
e 10 de atividade de reflexão, você deverá nos enviar sua atividade final até o dia 13 de maio, via e-mail projeto.relaborar@gmail.com. Disserte sobre o que aprendeu ao longo desses encontros, sinalizando os conceitos apreendidos e as reflexões que suscitaram. Faça analogias com situações de trabalho, com sua experiência e história de vida. Enfim, queremos saber o que aprendeu, as inquietações que te trouxeram ao curso e as que foram acarretadas a partir dele; incluindo sua visão sobre o papel e as possibilidades da Psicologia nas organizações. Esperamos que escreva ao menos 30 linhas.
Realizei o Curso Introdutório de Psicodinâmica do Trabalho em um período
muito interessante da graduação, durante um semestre cujo enfoque em relações de trabalho está perpassando quase todas as disciplinas que estou matriculada atualmente como a Psicologia Institucional, Psicologia Organizacional II e o próprio estágio do semestre que se dá na área de Psicologia Organizacional. Além disso, também vivo intensamente em minha vida pessoal essas questões, pois sou parte da administração da empresa em que trabalho e com os anos acabei me envolvendo totalmente com questões de relações entre empresa e funcionários, que atualmente é a minha função principal que atravessa minha vida cotidianamente, além das próprias questões que tenho enquanto pertencente à classe trabalhadora. Por conta dessa conjuntura, diversas questões vinham me incomodando. No semestre anterior, em que cursei Psicologia Organizacional do Trabalho I, algumas dessas questões foram supridas. Porém, não estava conseguindo encontrar nas disciplinas seguintes uma continuidade ou um viés que de fato suprisse, ou ajudasse de alguma forma, na compreensão das inquietações que tinha a respeito da temática do trabalho, até o início do curso em questão aliado à frequência nos encontros do grupo de estudos do projeto Re-laborar. Dentre elas, alguns dos principais questionamentos eram em relação à percepção de potencial patogênico de certas formas de organização do trabalho, e muitas vezes uma sensação de impotência frente a elas. Assim, a partir de Dejours e a Psicodinâmica do trabalho, com a mudança de perspectiva que passa da doença para o sofrimento, pude compreender melhor essa relação.
Inicialmente, estranhei a perspectiva de sofrimento inerente ao trabalho,
indagando se essa não era uma perspectiva que nos colocasse acomodados diante das circunstâncias de trabalho inadequadas, se essa não seria uma perspectiva que poderia contribuir para um viés de aceitação das mazelas da exploração da força do trabalho da maneira que se dá atualmente. Entretanto, a partir das leituras e dos conteúdos apresentados, pude compreender de maneira mais profunda como o trabalho está para além do ato de trabalhar e vender a força de trabalho, está para além desse resultado material, mas também possui uma função psíquica enquanto alicerce da constituição do sujeito e de toda sua rede de produção de significados, afetando sua subjetividade (relação do sujeito consigo mesmo, colocada à prova pelo trabalho), a construção de sua identidade (seu realizar-se no mundo, as reafirmações de sir e personalidade (traços afetivos, cognitivos, aquilo que é estático) de maneira mais complexa. Assim, pude compreender que, de fato, é mais condizente com a realidade e útil para qualquer interesse de mudança o reconhecimento de que o ato de trabalho está ligado de fato ao sofrimento, como por exemplo em situações de pequenos fracassos, em que se planeja efetuar uma tarefa e por algum motivo ela não sai da maneira esperada. Assim, é útil compreender esse sofrimento inerente na medida em que só a partir desse entendimento é que podemos estabelecer os limites entre o que está na medida do saudável, e o que não está. Assim, desconstruindo uma ideia de um ideal de trabalho que, assim como o existir humano, jamais irá se inscrever na realidade de maneira idealizada ou romântica, como aqueles que afirmam falácias como “trabalhe com o que gosta e jamais terá que trabalhar novamente”. Desta maneira, pude compreender que o problema não é o trabalho trazer sofrimento, mas qual será o destino desse sofrimento que dependendo das condições pode se encaminhar para um sofrimento patogênico.
Outro aspecto importante e que coloca a Psicodinâmica do Trabalho num lugar
de esperança de ação é a compreensão do trabalho também como potencial fonte de prazer quando se dá enquanto espaço construção de identidade e promotor de autonomia. Assim, pude apreender que o objetivo da Psicodinâmica do Trabalho não é modificar o trabalho, mas sim o trabalhador, diferente de outras campos que tinha visto até aqui. Desta maneira, ela se coloca como uma clínica não do sujeito, mas de uma coletividade aliada a essa subjetividade. Para isso, a separação entre o trabalho prescrito, aquilo que é formulado pela organização previamente, e o trabalho real, ou seja, tudo o que o indivíduo realiza sem que esteja prescrito, foi essencial. Assim, também o conceito de trabalho vivo, aquele que permite o exercício da subjetividade, não colocando o trabalhador em um estado alienante, foi um fundamento muito interessante para pensar em ações que proporcionem essas mudanças nas relações subjetivas do trabalho. Em minha trajetória de trabalho uma coisa que observei é que enquanto parte da equipe de organização dos eventos e tomadas de decisão sobre a minha própria atuação, essa possibilidade de poder de fato me apropriar de como serão feitas as coisas, sugerindo, modificando, sempre foi um ponto muito positivo, e quando isso é atravessado ou impossibilitado, geralmente são situações em que me geram sofrimento. Assim, procuro também proporcionar para meus colegas de trabalho esses ambientes em que seja possível esse exercício da individualidade e das suas subjetividades, tentando sempre negociar essas autonomias com os proprietários. Consigo visualizar em minha experiência pessoal e na de meus colegas de trabalho como a falta da autonomia é de fato um facilitador para o adoecimento mental.
Ademais, outra questão que foi muito interessante se relaciona com a
normalidade aparente, em que o trabalhador parece estar bem, mas na verdade está usando estratégias para contornar a situação. Meu trabalho atualmente é de período noturno, com eventuais reuniões ao longo da semana para fechamento de shows e outras questões. Muitas vezes, os horários são extremamente complicados, saindo quase amanhecendo o dia e precisando estar na faculdade, estágio, cursos, entre outras demandas próprias da faculdade, com poucas horas de descanso entre as atividades. O perfil dos outros colaboradores da empresa em que trabalho também é, em sua maioria, de pessoas que dividem suas vidas entre a faculdade e o trabalho, assim como eu. Apesar de eu ser a única ali a cursar a graduação em período integral, sempre me questionei muito sobre outros colaboradores que tem uma rotina parecida com a minha e aparentam estar sempre muito bem dispostos. Assim, a partir do curso e da compreensão sobre conceitos como a normalidade aparente, em que o trabalhador parece estar dando conta, mas está usando estratégias, individuais ou coletivas, para dar conta do sofrimento, comecei a ficar mais sensível em relação a esses mecanismos. A partir disso, comecei a observar comportamentos que até então eu acreditava ser de um manejo extraordinário em relação a demandas muito complexas de trabalho em meu cotidiano e perceber que na verdade eram estratégias, mecanismos defensivos, e que, assim como eu, esses colegas estavam apenas tentando contornar o sofrimento que esse tipo de circunstância nos causa.
Desta maneira, consegui explorar os resultados negativos dessas defesas que
apesar de parecerem necessárias, nos afastam de descrever os problemas, criando um efeito aversivo, restringindo o curso do pensamento, produzindo distorções na comunicação e até mesmo contribuindo para a manutenção do problema. Assim, aquilo que parece proteger a saude mental inicialmente, acaba contribuindo para a servidão voluntária e para a reprodução da dominação, fortalecendo o objeto do qual que esses indivíduos estão tentando defender-se. E a partir dessa percepção a Psicodinâmica do Trabalho sugere saídas possíveis, como aproximar-se da realidade e delinear outros caminhos para enfrentar esse objeto considerado de risco, fomentar espaços de discussão e deliberação entre os trabalhadores, a construção de coletivos fortes nos quais se possa vivenciar formas de solidariedade, criando espaços de intercompreensão e comparação, não destruindo a estratégia defensiva, mas criando espaço para refletir sobre ela, apropriando-se da sua realidade e proporcionando autonomia, valorizando o fazer humano sobre o mundo do trabalho.
Assim, vejo na Psicodinâmica do Trabalho o potencial de impacto sobre os
trabalhadores e suas coletividades enquanto fomentadora de espaços de discussão, de pensadora de um espaço em que esses trabalhadores possam formular, discutir, expor suas concepções sobre os modos de trabalhar e construir a si próprio e ao outro, remontando as concepções de fazer democrático que parecem estar tão desgastadas atualmente e resgatando o fator humano como princípio da coletividade.
By Jeffrey R. Parsons, Elizabeth Brumfiel and Mary H. Parsons - Prehispanic Settlement Patterns in The Southern Valley of Mexico - The Chalco-Xochimilco Region-University of Michigan (1982)
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