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____ INCLUSAO SOCIAL um debate necessério? JPRESENTACAD MENSAGEM DO REITOR DEPOIMENTOS ARTIGOS QUTROS ARQUIVOS: ENVIE SUA OPINIAD {Buscar } Uma abordagem conceitual das nocées de raga, racismo, identidade e etnia Prof. Dr. Kabengele Munanga (USP) Etmologicamente, 0 conceito de raga veio do italiano razza, que por sua vez veio do latim ratio, que significa sorte, categoria, espécie. Na historia das ciéncias naturais, 0 conceito de raga foi primeiramente usado na Zoologia ¢ na Boténica para classificar as espécies animais e vegetais. Foi neste sentido que o naturalista sueco, Carl Von Linné conhecido em Portugués como Lineu (1707-1778), o uso para classificar as plantas em 24 ragas ou classes, classificagao hoje inteiramente abandonada. Como a maioria dos conceitos, 0 de raga tem seu campo seméntico ¢ uma dimensio temporal e especial. No latim medieval, 0 conceito de raga passou a designar a descendéncia, a linhagem, ou seja, um grupo de pessoa que tém um ancestral comum e que, ipso facto, possuem algumas caracteristicas fisicas em comum. Fm 1684, o francés Frangois Bernier emprega o termo no sentido moderno da palavra, para classificar a diversidade humana em grupos fisicamente contrastados, denominados ragas. Nos séculos XVI-XVII, 0 conceito de raga passa efetivamente a atuar nas relagdes entre classes sociais da Franga da época, pois utilizado pela nobreza local que si identificava com os Francos, de origem germanica em oposi¢ao a0 Gauleses, populagdo local identificada com a Plebe, Nao apenas os Francos se considerava como uma raga distinta dos Gauleses, mais do que isso, eles se consideravam dotados de sangue “puro”, insinuando suas habilidades especiais e aptidGes naturais para dirigir, administrar e dominar os Gauleses, que segundo pensavam, podiam até ser escravizados. Percebe-se como o conceito de racas “puras” foi transportado da Botanica e da Zoologia para legitimar as relagdes de dominagdo e de sujeigio entre classes sociais (Nobreza e Plebe), sem que houvessem diferengas morfo-biolégicas notaveis entre os individuos pertencentes a ambas as classes, As descobertas do século XV colocam em divida 0 conceito de humanidade até entdo conhecida nos limites da civilizagdo ocidental. Que sdo esses recém descobertos (amerindios, negros, melanésios, etc.)? Sdo bestas ou sdo seres humanos como “nds”, « Palestra proferida no 3° Semindrio Nacional Relagdes Raciais e Educagdo-PENESB-RJ, 05/11/03 europeus? Até o fim do século XVII, a explicagdo dos “outros” passava pela Teologia e pela Escritura, que tinham 0 monopélio da raza ¢ da explicagdo, A peninsula ibérica constitui nos séculos XVI-XVII 0 palco principal dos debates sobre esse assunto. Para aceitar a humanidade dos “outros”, era preciso provar que sio também descendentes do Adio, prova parcialmente fornecida pelo mito dos Reis Magos, cuja imagem exibe personagens representes das trés racas, sendo Baltazar, o mais escuro de todos considerado como representante da raga negra. Mas o indio permanecia ainda um inedgnito, pois nio incluido entre os trés personagens representando semitas, brancos ¢ negros , até que os te6logos encontraram argumentos derivados da propria biblia para demonstrar que ele também era descendente do Adio. No século XVII, batizado século das luzes, isto &, da racionalidade, os fil6sofos iluministas contestam 0 monopélio do conhecimento ¢ da explicag4o concentrado nas maos da Igreja e os poderes dos principes. Eles se recusam a aceitar uma explicagdo ciclica da historia da humanidade fundamentada na idade de “ouro”, para buscar uma explicagdo baseada na razdo transparente c universal ¢ na historia cumulativa ¢ linear. Eles recolocam em debate a questo de saber que cram esses outros, recém descobertos. Assim lagam mao do conceito de raga jé existente nas ciéncias naturais para nomear esses outros que se integram a antiga humanidade como ragas diferentes, abrindo © caminho ao nascimento de uma nova disciplina chamada Historia Natural da Humanidade, transformada mais tarde em Biologia e Antropologia Fisica. Por que entio, classificar a diversidade humana em ragas diferentes? A variabilidade humana é um fato empirico incontestavel que, como tal merece uma explicagio cientifica. Os conceitos e as classificagdes servem de ferramentas para operacionalizar o pensamento. E neste sentido que o conceito de raga ¢ a classificagao da diversidade humana em ragas tetiam servido, Infelizmente, desembocaram numa operagdo de hierarquizago que pavimentou 0 caminho do racialismo. A classificagdo é um dado da unidade do espirito humana. Todos nés jé brincamos um dia, classificando nossos objetos em classes ou categorias, de acordo com alguns critérios de semethanga e diferenga. Imagine-se 0 que aconteceria numa biblioteca do tamanho da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Sem classifieagdo por autor e ou por assunto, seria muito complicado a busca de um documento, Com a preocupagao de facilitar a busca © a compreensio, parece que o ser humano desde que comegou a observar desenvolveu a aptidio cognitiva de classificagdo. A primeira tentativa consiste em distinguir os seres animados dos inanimados; os minerais dos vegetais ¢ os vegetais dos animais. intre os animais, ndo hé como confundir um clefante com um leopardo, uma cobra com uma tartaruga. So todos animais, mas porém diferentes. Na hist6ria da ciéneia, a classificagdo dos seres vivos comega na Zoologia e na Botinica. Era importante encontrar categorias maiores por sua vez subdivididas em categorias menores € subcategorias ¢ assim adiante, Os termos para designar as categorias so como todos os fenémenos lingiiisticos convencionais ¢ arbitrérios. Assim as principais categorias foram as divisées filo ¢ sub-filo, a classe, a ordem ¢ a espécic. Como homens, pertencemos ao filo dos cordados, ao sub-filo dos vertebrados (como os peixes), a classe dos mamiferos (como as baleias), 4 ordem dos primatas (como os grandes simios) e 4 espécie humana (homo sapiens) como todos os homens e todas as mulheres que habitam nossa galaxia, Somos espécie humana porque formamos um conjunto de seres, homens mulheres capazes de constituir casais fecundos, isto 6, capazes de procriar, de gerar outros machos e outras fémeas. Sem a classificagdo, ndo é possivel falar de milhdes de espécies de animais do universo conhecido. Apenas, no seio da espécie homo-sapiens (homo sibio), a que pertencemos, somos hoje cerca de 6 bilhdes de individuos. Nessa enorme diversidade humana que somos, da mesma maneira que distinguimos o babuino do orangotango, nado podemos confundir o chinés com o pigmeu da Africa, © noruegués com o senegalés, etc. Em qualquer operagdo de classificagio, & preciso primeiramente estabelecer alguns ctitérios objetivos com base na diferenga e semelhanga. No século XVIII, a cor da pele foi considerada como um critério fundamental ¢ divisor d’agua entre as chamadas ragas. Por isso, que a espécie humana ficou dividida em trés ragas estaneas que resistem até hoje no imaginario coletiva e na terminologia cientifica: raga branca, negra e amarela. Ora, a cor da pele é definida pela concentrago da melanina. f justamente o degrau dessa concentragdo que define a cor da pele, dos olhos e do cabelo. A chamada raga branca tem menos concentragio de melanina, 0 que define a sua cor branca, cabelos e olhos mais claros que a negra que concentra mais melanina e por isso tem pele, cabelos ¢ olhos mais escuros ¢ a amarela numa posigdo intermediéria que define a sua cor de pele que por aproximagao é dita amarela Ora, a cor da pele resultante do grau de concentragdo da melanina, substancia que possuimos todos, é um critério relativamente artificial. Apenas menos de 1% dos genes que constituem o patriménio genético de um individuo so implicados na transmissdo da cor da pele, dos olhos e cabelos. Os negros da Africa e os autéctones da Australia possuem pele escura por causa da concentragao da melanina. Porém, nem por isso cles sio geneticamente parentes préximos, Da mesma mancira que os pigmeus da Africa e da Asia nao constituem o mesmo grupo bioldgico apesar da pequena estatura que eles tm em comum, No século XIX, acrescentou-se ao critério da cor outros critérios morfoldgicos como a forma do nariz, dos labios, do queixo, do formato do cranio, o angulo facial, etc. para aperfeigoar a classificagao. O cranio alongado, dito dolicocéfalo, por exemplo, era tido como caracteristica dos brancos “nérdicos”, enquanto o cranio atredondado, braquicéfalo, era considerado como caracteristica fisica dos negros e amarelos, Porém, em 1912, 0 antropdlogo Franz Boas observara nos Estados Unidos que 0 cranio dos filhos de imigrados no brancos, por definigo braquicéfalos, apresentavam tendéncia em alongar-se. O que tomava a forma do cranio uma caracteristica dependendo mais da influéneia do meio, do que dos fatores raciais. No século XX, descobriu-se gragas aos progressos da Genética Humana, que haviam no sangue critérios quimicos mais determinantes par consagrar definitivamente a divisio da humanidade em ragas estancas, Grupos de sangue, certas doengas hereditérias e outros fatores na hemoglobina eram encontrados com mais freqiiéncia e incidéneia em algumas ragas do que em outras, podendo configurar 0 que os préprios geneticistas chamaram de marcadores genéticas. O cruzamento de todos os critérios possiveis (0 critério da cor da pele, os critérios morfolégicos ¢ quimicos) deu origem a dezenas de ragas, sub-ragas ¢ sub-sub-ragas. AS pesquisas comparativas levaram também a conclusio de que os patriménios genéticos de dois individuos pertencentes a uma mesma raga podem ser mais distantes que os pertencentes & ragas diferentes; um marcador genético caracteristico de uma raga, pode, embora com menos incidéncia ser encontrado em outra raga, Assim, um senegalés pode, geneticamente, ser mais préximo de um noruegués © mais distante de um congolés, da mesma maneira que raros casos de anemia falciforme podem ser encontrados na Europa, ete. Combinando todos esses desencontros com os progressos realizados na propria ciéncia biolégica (genética humana, biologia molecular, bioquimica), os estudiosos desse campo de conhecimento chegaram a conclusio de que a raga nfo é uma realidade biolégica, mas sim apenas um conceito alias cientificamente inoperante para explicar a diversidade humana e ividi-la em ragas estancas. Ou seja, biolégica ¢ cientificamente, as ragas nao existem. do conceito de raga no significa que todos os individuos ou todas as populagdes sejam geneticamente semelhantes. Os patriménios genéticos sfo diferentes, mas essas diferengas no so suficientes para classit las em ragas. O maior problema nio esta nem na classificagao como tal, nem na inoperacionalidade cientifica do conceito de raga. Se os naturalistas dos séculos XVIT-XTX tivessem limitado seus trabalhos somente a classificago dos grupos humanos em fungo das caracteristicas fisicas, eles nao teriam certamente causado nenhum problema 4 bumanidade. Suas classificagdes teriam sido mantidas ou rejeitadas como sempre aconteccu na histéria do conhecimento cientifico. Infelizmente, desde 0 inicio, eles se deram o direito de hierarquizar, isto é, de estabelecer uma escala de valores entre as chamadas ragas. © fizeram erigindo uma relagdo intrinseca entre o bioldgico (cor da pele, tragos morfolgicos) e as qualidades psicolégicas, morais, intelectuais e culturais. Assim, os individuos da raga “branca”, foram decretados coletivamente superiores aos da raga “negra” e “amarela”, em fung’o de suas caracteristicas fisicas hereditarias, tais como a cor clara da pele, o formato do cranio (dolicocefalia), a forma dos labios, do nariz, do queixo, ete. que segundo pensavam, os tornam mais bonitos, mais inteligentes, mais honestos, mais inventivos, ete. ¢ conseqiientemente mais aptos para dirigir ¢ dominar as outras ragas, principalmente a negra mais escura de todas ¢ conseqiientemente considerada como a mais estipida, mais emocional, menos honesta, menos inteligente e portanto a mais sujeita 4 escravidio e a todas as formas de dominagao. A classificago da humanidade em ragas hierarquizadas desembocou numa teoria pseudo cientifica, a raciologia, que ganhou muito espaco no inicio do século XX. Na realidade, apesar da mascara cientifica, a raciologia tinha um contetido maisdoutrinario do que cientifico, pois seu discurso serviu mais para justificar e legitimar os sistemas de dominago racial do que como explicagao da variabilidade humana, Gradativamente, os contetidos dessa doutrina chamada ciéncia, comegaram a sair dos circulos intelectuais ¢ académicos para se difundir no tecido social das populagdes ocidentais dominantes. Depois foram recuperados pelos nacionalismos hascentes como o nazismo para legitimar as exterminagdes que causaram a humanidade durante a Segunda guerra mundial. Podemos observa que 0 conceito de raga tal como 0 empregamos hoje , nada tem de biolégico. E um conceito carregado de ideologia, pois como todas as ideologias, ele esconde uma coisa no proclamada: a relagdo de poder e de dominagao, A raga, sempre apresentada como categoria biolégica, isto € natural, é de fato uma categoria etnosemantica. De outro modo, o campo semantico do conceito de raga é determinado pela estrutura global da sociedade ¢ pelas relagdes de poder que a governam. Os conceitos de negro, branco e mestigo nao significam a mesma coisa nos Estados Unidos, no Brasil, na Africa do Sul, na Inglaterra, etc. Por isso que 0 conteiido dessas palavras é etno-semintico, politico ideoldgico e nao biolégico. Se na cabega de um geneticista contemporaneo ou de um bidlogo molecular a raga ndo existe, no imaginério ¢ na representagdo coletivos de diversas populagdes contempordneas existem ainda ragas ficticias ¢ outras construidas a partir das diferengas fenotipicas como a cor da pele e outros critérios morfoldgicos. E a partir dessas ragas ficticias ou “racas sociais” que se reproduzem e se mantém os racismos populares. Alguns bidlogos anti-racistas chegaram até sugerir que 0 conceito de raga fosse banido dos diciondrios ¢ dos textos cientificos. No entanto, o conceito persiste tanto no uso popular como em trabalhos e estudos produzidos na area das ciéncias sociais. Estes, embora concordem com as conclusées da atual Biologia Humana sobre a inexisténcia cientifica da raga ¢ a inoperacionalidade do proprio conceito, eles justificam 0 uso do conceito como realidade social e politica, considerando a raga como uma construgdo sociolégica e uma categoria social de dominagiio ¢ de exclusio. A questio mais importante do ponto de vista cientifico nfo & apenas observar e estabelecer tipologias, mas. sim principalmente encontrar a explicagdo da diversidade humana. Antes de Darwin e seus predecessores (Lamarck), a representagiio do mundo tido como criado, era estatica e imével. As variagdes entre os organismos tinham uma explicagao metafisica. Mas Darwin demonstrou a partir dos principios da selegao natural (A Evolugdo da Espécic,1859), que os organismos vivos evoluiram gradativamente a partir de uma origem comum e se diversificaram no tempo ¢ no espago, adaptando-se a meios hostis, diversos e em perpétua transformago. A variago dos caracteres genéticos, fisiolégicos, morfolégicos e comportamentais hoje observados, tanto entre as populagdes vegetais e animais como humanas, correspondem em grande medida a um fenémeno adaptativo, Exemplos: uma pele escura concentra mais, melanina que uma pele clara, pois protege contra a infiltragao dos raios ultravioletas nos paises tropicais; uma pele clara & necessdria nos paises frios, pois auxilia na sintese da vitamina D. Gracas aos progressos da ciéncia e da tecnologia, a adaptagdo ao meio ambiente no precisa mais hoje de mutagdes genéticas necessarias no longinquo passado de nossos antepassados. A diversidade genética € absolutamente indispensavel a sobrevi' luo humano é 0 linico e se distingue de todos os individuos passados, presentes € futuros, ndo apenas no plano morfoldgico, imonoldgico e fisiologico, mas também no plano dos comportamentos. E absurdo pensar que os caracteres adaptativos sejam no absoluto “melhores” ou “menos bons”, “superiores” ou “inferiores” que outros, Uma sociedade que deseja maximizar as vantagens da diversidade genética de seus membros deve ser igualititia, isto é ofetecer aos diferentes individuos a possibilidade de escolher entre caminhos, meios e modos de vida diversos, de acordo com as disposigdes naturais de cada um. A igualdade supde também o respeito do individuo naquilo que tem de tinico, como a diversidade étnica e cultural e o reconhecimento do direito que tem toda pessoa ¢ toda cultura de cultivar sua ficidade, pois fazendo isso, elas contribuem a enriquecer a diversidade cultural geral da humanidade. O CONCEITO DE RACISMO Criado por volta de 1920, o racismo enquanto conceito e realidade ja foi objeto de diversas leituras e interpretagdes. Ja recebeu varias definigdes que nem sempre dizem a mesma coisa, nem sempre tém um denominador comum. Quando utilizamos esse conceito em nosso cotidiano, nado lhe atribuimos mesmos contetido e significado, dai a falta do consenso até na busca de solugdes contra o racismo.Por razdes logicas e ideolégicas, o racismo é geralmente abordado a partir da raga, dentro da extrema variedade das possiveis relagdes existentes entre as duas nogées. Com efeito, com base nas relagGes entre “raga” e “racismo”, 0 racismo seria teoricamente uma ideologia essencialista que postula a divisio da humanidade em grandes grupos chamados ragas contrastadas que tém caracteristicas fisicas hereditarias comuns, sendo estas Uultimas suportes das caracteristicas psicologicas, morais, intelectuais e estéticas e se situam numa escala de valores desiguais. Visto deste ponto de vista, 0 racismo é uma crenga na existéncia das ragas naturalmente hierarquizadas pela relagao intrinseca entre o fisico e o moral, o fisico e 0 intelecto, 0 fisico e 0 cultural. O racista cria a raga no sentido sociolégico, ou seja, a raga no imaginario do racista nao é exclusivamente um grupo definido pelos tragos fisicos. A raga na cabega dele é um grupo social com tragos culturais, lingiiisticos, religiosos, etc. que ele considera naturalmente inferiores ao grupo a qual ele pertence. De outro modo, o racismo é essa tendéncia que consiste em considerar que as caracteristicas intelectuais e morais de um dado grupo, sao conseqiiéncias diretas de suas caracteristicas fisicas ou bioldgicas. Mas 0 racismo e as teorias que 0 justificam nao cairam do céu, eles tém origens mitica e historica conhecidas. A primeira origem do racismo derive do mito biblico de Noé do qual resulta a primeira classificagao, religiosa, da diversidade humana entre os trés filhos de Noé, ancestrais das trés ragas: Jafé (ancestral da raga branca), Sem (ancestral da raga amarela )e Cam (ancestral da raga negra). Segundo o nono capitulo da Génese, 0 patriarca Noé, depois de conduzir por muito tempo sua arca nas aguas do diluvio, encontrou finalmente um oasis. Estendeu sua tenda para descansar, com seus trés filhos. Depois de tomar algumas tagas de vinho, ele se deitara numa posigao indecente. Cam, ao encontrar seu pai naquela postura fez, junto aos seus irmados Jafé e Sem, comentarios desrespeitosos sobre o pai. Foi assim que Noé, ao ser informado pelos dois filhos descontentes da risada nao linzongeira de Cam, amaldigoou este Ultimo, dizendo: seus filhos serao os Ultimos a ser escravizados pelos filhos de seus irmaos. Os calvinistas se baseiam sobre esse mito para justificar e legitimar 0 racismo anti-negro. A Segunda origem do racismo tem uma histéria conhecida e inventariada, ligada ao modernismo ocidental. Ela se origina na classificagao dita cientifica derivada da observagao dos caracteres fisicos (cor da pele, tracgos morfoldgicos). Os caracteres fisicos foram considerados irreversiveis na sua influéncia sobre os comportamentos dos povos. Essa mudanga de perspectiva foi considerada como um salto ideolégico importante na construgao da ideologia racista, pois passou-se de um tipo de explicagao na qual o Deus e 0 livre arbitrio constitui 0 eixo central da diviséo da historia humana, para um novo tipo, no qual a Biologia (sob sua forma simbdlica) se erige em determinismo racial e se torna a chave da historia humana. Insisto sobre 0 fato de que o racismo nasce quando faz-se intervir caracteres biologicos como justificativa de tal ou tal comportamento. E justamente, o estabelecimento da relagdo intrinseca entre caracteres bioldgicos e qualidades morais, psicologicas, intelectuais e culturais que desemboca na hierarquizacéo das chamadas ragas em superiores e inferiores. Carl Von Linné, 0 Lineu, 0 mesmo naturalista sueco que fez a primeira classificagéo racial das plantas, oferece também no século XVIII, o melhor exemplo da classificagdo racial humana acompanhada de uma escala de valores que sugere a hierarquizagao.Com efeito, na sua classificagao da diversidade humana, Lineu divide 0 Homo Sapiens em quatro ragas: « Americano, que o proprio classificador descreve como moreno, colérico, cabecudo, amante da liberdade, governado pelo habito, tem corpo pintado. , Ove o mp (xpio yracoipiyasop Secypeme YOO pLopEvo, oN pryo, yapel vdo, apavte da AiPepdsadse, yowepvadso meAo y(Bito, te YopmO mivtado. * Asiatico: amarelo, melancélico, governado pela opiniao e pelos preconceitos, usa roupas largas.cyapeo, pedavy [A1xo, yowepvaso eka onivi©o € Neos MPEYOVYELTOS, LOG povTac Aapyas. , Ove o np (npio yAacoip1yasop SeoypEewe YouO popevo, YoAl prxo, yapel vdo, apavte da AiBepdasde, yowspvasdso mEA0 H(B1TO, TELL YOPTO TUVTASO. ApLApEAo, HEAAVY, (rrxo, youspvaso neha, ontvi©o & nEhoo MPEXOVLEITOG, VO. povTac Aapyac. « Africano: negro, flegmatico, astucioso, preguigoso, negligente, governado pela vontade de seus chefes(despotismo), unta 0 corpo com 6leo ou gordura, sua mulher tem vulva pendente e quando amamenta seus seios se tornam moles e alongados.veypo, pAgyp(T1yo, HOTLYLOGO, mpeyvil 000, veyAlyevtE, yourpvaso Teka Dovtadse dE Gevo yNEbea(SeoroTIGHO), LVTA O YOPTO you [eo ov yopsupa, ova pwAnep te BvAwA mEevSevte € BLAVS0 APOAPEVTA GELS GELOG GE TOPVOLL LOAEG & AAOVyadoo. veypo, bAsyp(ttXYO, ADTLYLOG0, TpEyv OO, veyAlyEvtE, YoMEPVAdo TEA. wovtasde Se seve xNEbEo(SeonOTIGLO), VvTA o yopTo You [AEO Ov yopdupa, ova poAnNEp Te. DATA Tevdevte € OVAVSO APLALEVTA GET GELOG GE TOPVALL [LOAEO € AAOVyadoo.e Europeu: branco, sangiiineo, musculoso, engenhoso, inventivo, governado pelas leis, usa roupas apertados.Bpavyo, cavy\{ veo, WoxVA000, EvyevOG, tvGEVTITO, yowepvado Teka AElo, Voa poumac amteptadsoo. Como Lineu conseguiu relacionar a cor da pele com a inteligéncia, a cultura e as caracteristicas psicologicas num esquema sem _ duvida hierarquizante, construindo uma escala de valores nitidamente tendenciosa? O pior é que os elementos dessa hierarquizagéo sobreviveram ao tempo a aos progressos da ciéncia e se mantém ainda intactos no imagindrio coletivo das novas geragées. No entanto, nao foi, até o ponto atual dos conhecimentos, cientificamente comprovada a relagdo entre uma variavel biolégica e um caractere psicolégico, entre raga e aptiddes intelectuais, entre raga e cultura. A concepgao do racismo baseada na vertente biolégica comega a mudar a partir dos anos 70, gragas aos progressos realizados nas ciéncias bioldgicas (genética humana, bioquimica, biologia molecular) e que fizeram desacreditar na realidade cientifica da raga. Assiste-se entao ao deslocamento do eixo central do racismo e ao surgimento de formas derivadas tais como racismo contra mulheres, contra jovens, contra homossexuais, contra pobres, contra burgueses, contra militares, etc. Trata-se aqui de um racismo por analogia ou metaforizacao, resultante da biologizagao de um conjunto de individuos pertencendo a uma mesma categoria social. E como se essa categoria social racializada (biologizada) fosse portadora de um estigma corporal. Temos nesse caso 0 uso popular do conceito de racismo, qualificando de racismo qualquer atitude ou comportamento de rejeigao e de injusti¢a social. Esse uso generalizado do racismo pode constituir uma armadilha ideoldgica, na medida em que pode levar a banalizacao dos efeitos do racismo, ou seja, a um esvaziamento da importancia ou da gravidade dos efeitos nefastos do racismo no mundo. Por que os negros se queixam tanto, pois afinal nao sao as tnicas vitimas do racismo(?),indagariam os individuos motivados por essa légica de banalizacao. Em conseqiiéncia, 0 racismo com seus miultiplos usos e suas numerosas logicas se torna tao banal que é usado para explicar tudo. Mas o deslocamento mais importante do eixo central do racismo pode ser observado bem antes dos anos 70, a partir de 1948, com a implantagdo do apartheid na Africa do sul. O apartheid (palavra do Afrikans), foi oficialmente definido como um projeto politico de desenvolvimento separado, baseado no respeito das diferengas étnicas ou culturais dos povos sul africanos. Um projeto, certamente fundamentado no multiculturalismo politica e ideologicamente manipulado. Observa-se também que é em nome do respeito das diferengas e da identidade cultural de cada povo que 0 racismo se reformula e se mantém nos paises da Europa ocidental contra os imigrantes dos paises arabes, africanos e outros dos paises do Terceiro mundo, a partir dos anos 80. Ja no fim do século passado e inicio deste século, 0 racismo nao precisa mais do conceito de raga no sentido biologico para decretar a existéncia das diferengas insuperaveis entre grupos esteredtipos. Além da essencializacdo somatico-bioldgica, o estudo sobre o racismo hoje deve integrar outros tipos de essencializagdéo, em _ especial a _ essencializacdo historicocultural.Embora a raga nao exista biologicamente, isto ¢ insuficiente para fazer desaparecer as categorias mentais que a sustentam. O dificil é aniquilar as racas ficticias que rondam em nossas representagdes ¢ imagindrios coletivos. Enquanto 0 racismo classico se alimenta na nocao de raga, 0 racismo novo se alimenta na nogao de etnia definida como um grupo cultural, categoria que constitui um lexical mais aceitavel que a raga(falar politicamente correto). Estamos entrando no terceiro milénio carregando o saldo negativo de um racismo elaborado no fim do séculos XVIII aos meados do século XIX. A consciéncia politica reivindicativa das vitimas do racismo nas sociedades contempordneas esta cada vez mais crescente, 0 que comprova que as praticas racistas ainda nao recuaram. Estamos também entrando no novo milénio com a nova forma de racismo: 0 racismo construido com base nas diferengas culturais e identitarias. Devemos, portanto observar um grande paradoxo a partir dessa novo forma de racismo: racistas e anti-racistas carregam a mesma bandeira baseada no respeito das diferengas culturais e na construgao de uma politica multiculturalista. Se por um lado, os movimentos negros exigem o reconhecimento publico de sua identidade para a construgéo de uma nova imagem positiva que possa lhe devolver, entre outro, a sua auto-estima rasgada pela alienagao racial, os partidos e movimentos de extrema direita na Europa, reivindicam 0 mesmo respeito 4 cultura “ocidental” local como pretexto para viver separados dos imigrantes arabes, africanos e outros dos paises ocidentais. Depois da supressao das leis do apartheid na Africa do sul, nao existe mais, em nenhuma parte do mundo, um racismo institucionalizado e explicito. O que significa que os Estados Unidos, a Africa do Sul e os paises da Europa ocidental se encontram todos hoje no mesmo pé de igualdade com o Brasil, caracterizado por um racismo de fato e implicito, as vezes sutil (salvo a violéncia policial que nunca foi sutil). Os americanos evoluiram relativamente em relagao ao Brasil, pois além da supressao das leis segregacionistas no Sul, eles implantaram e incrementaram as politicas de “agao afirmativa”, cujos resultados na ascensao sécio-econ6mica dos afro-americanos so inegaveis. Os sul africanos evoluiram também, pois colocaram fim as leis do apartheid e estao hoje no caminho de construgao de sua democracia, que eles definem como uma democracia “nao racial”. No Brasil o mito de democracia racial bloqueou durante muitos anos 0 debate nacional sobre as politicas de “agdo afirmativa” e paralelamente o mito do sincretismo cultural ou da cultura mesti¢a(nacional) atrasou também o debate nacional sobre a implantagdéo do multiculturalismo no sistema educacional brasileiro. CONCEITO DE ETNIA O conteudo da raga é morfo-biolégico e o da etnia € sdcio-~ cultural, histérico e psicologico. Um conjunto populacional dito raga “branca”, “negra” e “amarela”, pode conter em seu seio diversas etnias. Uma etnia é um conjunto de individuos que, histérica ou mitologicamente, tém um ancestral comum; tém uma lingua em comum, uma mesma religiao ou cosmovisdéo; uma mesma cultura e moram geograficamente num mesmo territério.Algumas etnias constituiram sozinhas nagdes. Assim 0 caso de varias sociedades indigenas | brasileiras, africanas, , australianas, etc.. que sao ou foram etnias Os territorios geograficos da quase totalidade das etnias nagGes africanas foram desfeitos e redistribuidos entre territérios coloniais durante a conferéncia de Berlim (1884-1885). E por isso que o mapa geo-politico da Africa atual difere totalmente do mapa geo-politico précolonial.Os antigos territérios étnicos, no sentido dos estados nagdes sao hoje divididos entre diversos paises africanos herdados da colonizagao. O antigo territorio da etnia ioruba se encontra dividido hoje entre as Republicas de Nigéria, Togo e Benin; 0 antigo territorio da etnia Kongo € hoje dividido entre as Republicas de Angola, Congo Kinshasa e Congo Brazaville, etc. para citar apenas dois exemplos entre dezenas. A maioria dos ileiros que atuam na area das recorrem com mais freqiiéncias ao conceito de raga. Eles empregam ainda este conceito, nado mais para afirmar sua realidade biologica, mas sim para explicar 0 racismo, na medida em que este fendmeno continua a se basear em crenga na existéncia das ragas hierarquizadas, racas ficticias ainda resistentes nas representagdes mentais e no imaginario coletivo de todos os povos e sociedades contemporaneas. Alguns, fogem do conceito de raga e o substituem pelo conceito de etnia considerado como um lexical mais cémodo que o de raga, em termos de “fala politicamente correta”. Essa substituigéo néo muda nada a realidade do racismo, pois nao destrui a relagdo hierarquizada entre culturas diferentes que é um dos componentes do racismo. Ou seja, 0 racismo hoje praticado nas sociedades contemporaneas nao precisa mais do conceito de raga ou da variante bioldégica, ele se reformula com base nos conceitos de etnia, diferenga cultural ou identidade cultural, me vitimas de hoje sao as mesma de ontem e as ragas de ontem sao as etnias de hoje. O que mudou na realidade sao os termos ou conceitos, mas o esquema ideoldgico que subentende a dominagio e a exclusio ficou intato. E por isso que os conceitos de etnia, de identidade étnica ou cultural sio de uso agradavel para todos: racistas e anti- racistas. Constituem uma bandeira carregada para todos, embora cada um a manipule e a direcione de acordo com seus interesses. Em meus trabalhos, utilizo geralmente no lugar dos conceitos de “raga negra” e “raca branca”, os conceitos de “Negros” e “Brancos” no sentido politico- ideolégico acima explicado, ou os conceitos de “Populagao Negra” e “Populacaéo Branca”, emprestados do bidlogo e geneticista Jean Hiernaux, que entende por populagao um conjunto de individuos que participam de um mesmo circulo de unido ou de casamento e que, ipso facto, conservam em comum alguns tragos do patriménio genético hereditario. Tanto 0 conceito de raga quanto o de etnia so hoje ideologicamente manipulados. E esse duplo uso que cria confusdo na mente dos jovens pesquisadores ou iniciantes. A confusdo esta justamente no uso nao claramente definido dos conceitos de raga e etnia que se tefletem bem nas expressdes tais como as de “identidade racial negra”, “identidade étnica negra”, “‘identidade étnico-racial negra”, etc. Os povos que aqui se encontraram e construiram um pais que podemos historicamente considerar como um encontro ou “carrefour” de culturas e civilizagdes, ndo podem mais, em nome da Ciéncia biolégica atual ou da Genética humana, ser considerados como ragas, mas sim como populagées, na medida em que eles continuam pelas regras culturais de endogamia, a participarem dos mesmos circulos de uniao ou casamento, embora esses circulos nao estivessem totalmente fechados como ilustrado pelo crescimento da populagao mestiga. Por outro lado, todos esses povos foram oriundos de diver: etnias da Europa, da Africa, da Asia, da Arabia, etc. Aqui encontraram outros mosaicos indigenas formados por milhdes de individuos que foram dizimados pelo contato com a civilizagéo ocidental e cujos sobreviventes formam as chamadas tribos indigenas de hoje. Podemos, no plano empirico, afirmar que todas essas diversidades oriundas da Europa, da Africa, da Asia, do Oriente Médio, etc. se aculturaram para formar novas etnias “branca”, “negra”, e “amarela”, etc.? Nao seria criar uma tremenda confuséo na medida em que 0 uso de tais conceitos remeteria a uma certa biologizacéo da cultura? O que significaria entéo uma etnia negra, branca ou amarela que por sua vez corresponde a uma unidade cultural branca, negra e amarela? Os chamados negros, brancos e amarelos estariam como as laranjeiras, mangueiras, bananeiras, etc. que produzem respectivamente laranjas, mangas e bananas produzindo também as culturas brancas, negras e amarelas? Sem divida, a etnia nao é ume entidade estatica. Ela tem uma historia, isto ¢ uma origem e uma evolugao no tempo e no espago. Se olharmos atentamente a historia de todos os povos, perceberemos que as etnias nascem e desaparecem na noite dos tempos. Visto deste Angulo, nao seria errado falar de novas etnias ou etnias contemporaneas 4 condi¢éo que os que usam esses conceitos tomem o cuidado de defini-los primeiramente para evitar confusdes com outros conceitos, ete. Nao é isso que geralmente acontece com os usos dos conceitos de cultura “negra” e “branca” ou de etnia “negra”. Os idealizadores desses conceitos poderiam, no minimo, definir os novos componentes e contetdos desses conceitos no contexto da dinamica contemporanea das relagdes raciais e interétnicas. Sem duvida, por uma visdo politico-ideolégica que colocou coletivamente os brancos no topo da piramide social, do comando e do poder, independentemente de suas raizes culturais de origem étnica, tem-se tendéncia, por vicio da ideologia racista que estabelece uma relacdo intrinseca entre biologia e cultura ou raga e cultura, a considerar a populagao branca, independentemente de suas diferentes origens geograficos e culturais, como pertencente a uma mesma cultura ou mesma etnia, dai as expressdes equivocas e equivocadas de “cultura branca” e “etnia branca”. Pelo mesmo raciocinio baseado na visdo politico- ideologica que colocou coletivamente os negros na base da piramide como grupo Tém-se culturas particulares que escapam da cultura globalizada e se posicionam até como resisténcia ao processo de globalizagao. Essas culturas particulares se constroem diversamente tanto no conjunto da populagao negra como no da populagao branca e oriental. E a partir da tomada de consciéncia dessas culturas de resisténcia que se constroem as identidades culturais enquanto processos e jamais produtos acabados. Sado essas identidades plurais que evocam as calorosas discuss6es sobre a identidade nacional e a introdugao do multiculturalismo numa educagao-cidada, etc. Olhando a distribuigao geografica do Brasil e sua realidade etnografica, percebe-se que nao existe uma Unica cultura branca e uma Unica cultura negra e que regionalmente podemos distinguir diversas culturas no Brasil. Neste sentido, os afro-baianos produzem no campo da religiosidade, da musica, da culinaria, da danga, das artes plasticas, etc. uma cultura diferente dos afromineiros, dos afro-maranhenses e dos negros cariocas. As comunidades quilombolas ou remanescentes dos quilombos, apesar de terem alguns problemas comuns, apresentam também historias, culturas e religides diferentes. Os descendentes de italianos em todo o Brasil preservaram alguns habitos alimentares que os aproximam da terra mae; os gatichos no Rio Grande do Sul tém também peculiaridades culturais na sua danga, em seu traje e em seus habitos alimentares e culindrios que os diferenciam dos baianos, ete. Como a identidade cultural se construi com base na tomada de consciéncia d: diferengas provindo das particularidades historicas, culturais, religiosas, sociais, regionais, etc. se delineiam assim no Brasil diversos processos de identidade cultural, revelando um certo pluralismo tanto entre negros, quanto entre brancos e entre amarelos, todos tomados como sujeitos histéricos e culturais e ndo como sujeitos biolégicos ou raciais. “identidade étnico-racial negra”. A questao é saber se todos tém consciéncia do contetdo politico dessas expresses ¢ evitam cair no biologismo, pensando que os negros produzem cultura e identidade negras como as laranjeiras produzem laranjas e as mangueiras as mangas. Esta identidade politica é uma identidade unificadora em busca de propostas transformadoras da realidade do negro no Brasil. Ela se opde a uma outra identidade unificadora proposta pela ideologia dominante, ou seja, a identidade mestiga, que além de buscar a unidade nacional visa também a legitimagao da chamada democracia racial brasileira e a conservagdo do status quo. SUGESTOES BIBLIOGRAFICAS MUNANGA, Kabengele . Negritude: Usos e Sentidos, 2" ed. Sao Paul Atica, 1988 . Rediscutindo a Mestigagem no Brasil: Identidade nacional Versus Identidade Negra. Petropolis: Ed.Vozes, 1999. - A identidade negra no contexto da globalizac4o. IN: Ethnos Brasil, Ano I - n° 1, mar¢o de 2002, pp.11-20. — UNESP. - Teorias sobre o racismo. In: Estudos & pesquisas 4. Racismo: perspectivas para um estudo contextualizado da sociedade brasileira. Niterdi: EDUFF, 1998. pp. 43-65. JACQUARD, Albert. Elogio Da Diferenca. Sao Paulo: Martins fontes, 1988. JACQUARD, Albert; POSSENOT, J. M.. 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