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Sociologia das Relacgées Internacionais Definidos o perfil e o campo de atuagao profissional das Relagées Internacionais, é preciso que comecemos a traba- Thar mais especificamente com os conceitos préprios da dis- ciplina. Tais conceitos consistem no instrumental de andlise e estudos das Relagées Internacionais, avaliando-se 0 que é e como funciona o sistema internacional, os atores que dele fazem parte e os fendmenos deste meio particular. No capi- tulo 3, referente as Teorias das Relagdes Internacionais po- deremos perceber que estes fundamentos basicos serdao abordados de forma diferenciada por cada uma das corren- tes. Porém, a despeito destas diferentes percep¢ées, todas elas trabalharao, independentemente de sua énfase e de seu perfil, com raizes e conceitos comuns. 2.1. O sistema internacional Genericamente, um sistema é um conjunto de relagdes entre atores, colocados em um meio especifico, com um certo grau de interdependéncia entre si e submetidos a um certo modo de regulagio. De acordo com Marcel Merle, o @ — a Digitalizada com CamScanner 2 'S e = S S & = s £ = a go 9 & s oe a 2 1S o = 3 eo cional (SI) é 0 meio onde se PrOcessam a s diferentes atores que compdem € fazer, parte do conjunto das interagdes sociais que se processay, na esfera do internacional, envolvendo seus atores, aconte. cimentos e fendmenos. Eo palco, o cenatio, 0 ambiente 5 qual se desenrolam as Relagdes Internacionais. Além disso, o sistema internacional pode ser caracterizado pela sua con. traposicfio ao sistema doméstico, destacando-se como sua caracteristica essencial a anarquia (Merle, 1981). Sistema Interna relagdes entre o A anarquia corresponde a auséncia de um govemo e de leis que definem os parametros de comportamento e regula- gem de um determinado espago, provendo-lhe ordem. No ST ordem nasce das relagdes que se estabeleceriio entre os atores € a sua dindmica, predominando a légica da competi- gio e da Sobrevivéncia, do choque de interesses. Tais cho- ques levarao a um cenario de do contexto, da épocae dos at Todavia, como analisaremog Poster} dos anos esta imagem original das €riormente, ao longo a a guerra, sofrera altera, Ses ” Como essencialmente ese da cooperagao, Entretanto, aing. Predominando a hip6- tentes tedricas indiquem Petspeng, 2 WUE as diferentes cor- go e conflito diferenciadas a S de ordem : : » todas eja,, Tdem, coopera- quia como a origem do SI, SUstenta, as ‘entificars, ova ana realismo classico, para depois supe O-Se nag refi a . Tad exdes do Todo o sistema, e 0 intemagj lo “ontesta_io sui uma dimensio, consisténcja © wee Pei , que se refere 4 dimensio, 0 sistema aD 3 Int Tp) definido como global e fechado, hay, “thacig Prias. No ENdg ad Na] Digitalizada com CamScanner tes parametros por meio de um desenvolvimento histérico que 0 transformou qualitativamente ao longo dos anos. O sistema internacional é um sistema fechado, pois 0 globo terrestre constitui o seu limite fisico. No momento em que as Relagdes Internacionais passaram a abarcar todo o pla- neta, o sistema perdeu seu meio ambiente externo e atin- giu os limites de sua expans4o quantitativa, nao havendo mais espagos a conquistar. Consolidado, este processo se iniciou com as expan- s0es maritimas européias nos séculos XV a XVII com Por- tugal, Espanha e Holanda para as Américas‘e Oriente, de- pois se agregando os territérios da Asia e da Africa no sé- culo XIX. Assim, 0 sistema internacional abrange, global- mente, todas as relagdes e fluxos entre os atores e seus in- tercdmbios, os fendmenos que ocorrem a partir destes in- tercambios ou mesmo independem deles, cobrindo todas as atividades além das fronteiras do cenario. Hoje, toda a aco politica no cendrio internacional envolve forgas do proprio sistema. O sistema internacional caracteriza-se por ser hetero- géneo. Tal heterogeneidade refere-se as diferengas que se estabelecem entre seus atores e fendmenos. No caso dos atores internacionais, que iremos estudar no item 2.2, existem alguns tipos diferentes: os Estados, as Organizagdes Internacionais Governamentais (ou Intergovernamentais) e as Forcas Transnacionais. Além disso, mesmo os atores pertencentes a um destes grupos serao diferentes entre si, Possuindo diversas capacidades, carater, recursos, obje- tivos e interesses. Ou seja, nem todos os Estados serao iguais entre si, 0 mesmo se aplicando as OIGs ¢ as FTs. Adicionalmente, observamos fenémenos distintos que fa- zem parte do meio internacional como as forgas naturais, Intvodugdo as Relagées Internacionais Digitalizada com CamScanner Colegdo Relagées Internacionais demograficas, econémicas, t Todas estas forcas sao dinamicas, promovendo mudangas fetam o sistema e seus agentes, podendo ser geradas que a: ; der de sua vontade, como anali- pelos homens ou indepen saremos no item 2.3. Com relagdo a estrutura, o sistema internacional se or- ganizard de uma forma bastante especifica. Uma vez que 0 sistema define-se, na origem, como um sistema anarquico sua ordem nao se estabelecerd por meio de leis ou de um governo, mas a partir da mencionada intera¢Ao entre os agentes e fendmenos do meio. A hierarquia entre as forcas existentes no sistema e sua propria evolucdo sera definida por um permanente choque de interesses entre os agentes, podendo-se identificar trés tipos de ordem possivel: a uni- me na qual ae um poder se destaca, comandando os demais, citando-se o Império Roma “ a bipolar, com a existéncia de dois lon pelea an ea antiga URSS na Guerra Fria de 1947 a 1989): ¢ Iti polar, quando existira a divisio de Poderes enti dies i- tes membros do sistema, o Concerto Eire rn iferen- 1914, dividido entre Franca, Gra-Bretanha, Prete sia e Império Austro-hiingaro. Todas tstasonden® Ris- como 0 processo que as gera, o mecanismo q ens, assim de poder (ou jogo das relacdes de forca)eas ‘0 equilibrio serao abordados em detalhes no Proximo ca Ua superacdo Pitulo, 2.2. Os atores internacionais No sistema internacional, que é, como defj nario no qual se processam as Relagdes Inte; podemos identificar dois tipos de atores, cujas Macig teragdes definirao o perfil e as transformacdes dev? eine Sambi. Nim Digitalizada com CamScanner tecnologicas e ideoldgicas, ente e que por ele também sero afetados: os atores estatais eos nao-estatais. Os atores estatais referem-se aos Estados enquanto os nao-estatais subdividem-se em dois grupos distintos: as OrganizacGes Internacionais Governamentais (ou Intergovernamentais), definidas pela sigla OIG e as Forgas Transnacionais (FTs). Tais atores foram surgindo ao longo dos séculos, evo- luindo através dos contextos histéricos, de seus aconteci- mentos e necessidades humanas especificas de cada épo- ca. Em linhas gerais, podemos estabelecer uma linha tem- poral de sua evolucao e consolidagao: o Estado nasce no século XVII com a assinatura do Tratado de Vestfalia em 1648 quando sao estabelecidos seus principios classicos de soberania e autonomia dentro de um determinado terri- torio. Até o século XX, os Estados se manterao pratica- mente sozinhos como agentes internacionais (predominio da dimensao interestatal da politica internacional), agre- gando-se depois os atores nao-estatais. Nesta época, ainda na primeira metade do século, as OIGs comegaram a ga- nhar importancia, que se firma no p6s-1945, somando-se a acelerago e o aprofundamento das FTs (a dimensao trans- nacional). Na entrada do século XXI, algumas hipoteses sugerem que as FTs e as OIGs poderiam vir a substituir os Estados, devendo-se examinar estes desenvolvimentos. Ana- lisemos individualmente cada um destes atores: Introducgao as Relacées Internacionai: 2.2.1. Os Estados Como destacamos, até o século XX os Estados estive- Tam praticamente sozinhos como atores internacionais no cenario mundial, depois agregando-se a novos protagonis- Digitalizada com CamScanner 2 ‘© = = 3 s S S = 3 6 cS 3 o ce 8 Ss & 2 3 tas. Apesar destes outros atores terem adquirido Projes no cenario mundial, condicionando, em Certos aspect autonomia de aco dos Estados, estes Constituem aindy a forma sob a qual se apresenta a politica internaciong|, sao os seus atores principais. A importancia de cada Esty do em particular, entretanto, é relativa. Para entendermos esta relatividade, é preciso definir antes 0 que s&o os Eg Suas caracteristicas e possibilidades internas, som sua atuacdo e capacidade externa. tados, adas a O nascimento desta entidade politica remete-se aos sé- culos XV e XVI, acompanhando o processo de decadéncia da Idade Média e suas formas organizacionais iniciado um Pouco antes. A consolidacao do chamado Estado Moder- nO, entretanto, somente se dard nos séculos XVII e XVII, com a definicSo de seus principais pilares e caracteristi- cas. Para as Relagdes Internacionais, 0 marco deste pto- cesso de ascensiio e afirmagao do Estado seré o Tratado de Vestfalia, assinado em 1648 no encerramento da Guerra dos Trinta Anos, na qual estiveram envolvidos diversos Estados d : © continente europeu. Neste tratado, serio defi- nidos com dou © Principios basicos a soberania politica dentro cnt: a nein territério o reconhecimento dos de S a aler esta soberania. Os Estados ‘OS para fazer y, © direito internacional que lhes tém sua origem Juridica n autonomia de agao e decisao, 8arante plena Recupe; _— Idade Média as feicdes Principais desta transigdo da como fundamentai de Estados, devemos destacat a ralj x , x Poder politico, Na Idade mens € a secularizagao do Sistema fragmenta, do de > €dia, o Digitalizada com CamScanner * dos senhores feudais e da Igreja. Nao existia um padrao unico de organiza¢ado ou uma unificacao de procedimen- tos econémicos e as relac6es sociais eram sustentadas por principios de pessoalidade. Porém, por uma combinagao de conflitos e da evolu- go econémica e politica destas sociedades, novas formas de organizagao e relacionamento entre os homens foram sendo estabelecidas (somando-se ainda a revolucao de sa- ber e conhecimento do Renascimento), dando-se inicio a um processo de revisdo destas autoridades dispersas. Com isso, observou-se uma diminuicao do papel da Igreja, atri- buindo ao homem, e nao a Deus, um papel maior sobre o controle de seu destino. Assim, comecaram a ser formadas as primeiras autoridades centralizadas em torno de um po- der tinico, o Estado, que passou a desenvolver-se gradual- mente. Neste desenvolvimento, a guerra tornou-se um ele- mento importante na consolidac&o destas autoridades em seus territ6rios, assim como uma forma de ampliar esta mes- ma base geografica e sustenté-la, interna e externamente, por meio da forga. Além disso, passaram a se desenvolver atividades econdmicas, politicas e diplomaticas entre Esta- dos em processo de formacao que, assim, definiriam seus parametros de funcionamento e relacionamento!. Especificamente, o Estado fundamenta-se em trés as- pectos materiais: territério, populagao e governo (que também so definidos por alguns autores como a idéia da totalidade nacional territorial). Com relag&o ao primeiro destes elementos, 0 territorio, refere-se ao espaco geogra- Gs —_ ws eed uma recuperagaéo em detalhes deste processo histérico ver Be- in, 2001, ionals is Relagées Internaci Introdugado Digitalizada com CamScanner © Colegao Relagées Internacionais \ ) fico de cada Estado, delimitado por fronteiras reconhedi. | das por outros Estados e dentro do qual esta unidade polj. tica individual possui soberania e autonomia politica. Neste espago, o Estado detém total poder de mando sobre sua populacao, tendo completa autonomia para realizar seus interesses com base em seu interesse nacional, estabelecj- do por meio de um calculo racional que avalia os custos e beneficios de cada ago. Nenhum outro Estado ou entida- de, dada a soberania definida, podera interferir nestes flu- xos interns. Ou seja, existe um reconhecimento do poder estatal como soberano e supremo dentro de suas frontei- ras, afirmando-se 0 principio da territorialidade. A populagao, por sua vez, sera 0 quadro de habitantes de um determinado Estado, aglutinada em torno de uma identidade comum, promovendo-se sua unidade politica, cultural, nacional e lingitistica. Alguns Estados sao forma- dos por um tnico POVo (uma tinica na¢gao, nacionalidade). Contudo, normalmente estas unidades politicas serao for- Digitalizada com CamScanner O terceiro elemento material do Estado sera 0 seu go- verno, resultado de uma centralizagao progressiva de to- das as autoridades antes dispersas no territério estatal, or- ganizando um comando politico e desenvolvendo uma ad- ministragéo publica. Este comando e administraciio, de- ve-se destacar, darao origem a um quadro profissional para o funcionamento deste governo, a chamada burocra- cia. Diferentemente da Idade Média, as relagdes sociais nao serao baseadas em lacos pessoais, mas sim em aspec- tos formais e profissionais. O governo deteré o monopélio da forga legitima, comandando os fluxos internos de sua ‘s sociedade, sendo por ela aceito legale legitimamente,nor- malizando-se as relagdes domésticas. No caso, esta aceita- = ¢4o passa tanto por um elemento de forga, quanto por uma = definigao legal (juridica) dos limites e fungdes do Estado e ‘9 de seus cidadaos (Weber, 1982). ‘S Tais principios, como destacamos, foram definidos & pelo Tratado de Vestfalia que “reconheceu o Estado como 8 poder supremo e soberano dentro de suas fronteiras, des- ‘8, cartando as reivindicagdes transnacionais de autoridade 3 politica da Igreja. Considera-se geralmente como princi- = pio constitutivo desse sistema 0 respeito mutuo dos Esta- dos pela sua soberania. Outros principios importantes, de- tivados da soberania estatal, sio a néo-intervengaio nos as- suntos internos [...], 0 consentimento como base de obri- gac¢do para cumprir as leis internacionais e a imunidade di- plomatica” (Zacher, 2000: 84-85). De acordo com esta definic¢fo, todos os Estados so por principio soberanos e iguais entre si, reconhecendo-se como tais, aplicando-se sobre eles as mesmas regras ¢ li- mitacdes. A soberania é um conceito invariavel e reconhe- Digitalizada com CamScanner Colecdo Relagéeés Internacionai «49 do ponto de vista do direito internacional, estaba. cido do igualdade concreta entre os Estados que é ° re edependentement@ de suas caracteristicas fisicas , wale, culturais, econdmicas ou politicas, todos og Esta serio igualmente soberanos do ponto de vista Juridicg, Esta chamada igualdade de direito nao Tepresentars uma igualdade de fato, uma vez que cada Estado POssuirs capacidades de agao e formas de organiza¢io que os toma. rao diferentes entre si. Esta situagdo também define 0 cop. tetido e os limites do interesse de cada Estado, 0 chamado interesse nacional, nascido de calculos estratégicos acerca das necessidades e prioridades de cada unidade politica. Para alcangar este interesse, o Estado definiré um planeja- mento, assim como meios de realizar seus objetivos (are- lagdo estratégia e tatica). Ainda que a “primeira priorida- de” dos Estados seja sempre a mesma, a garantia da sua sobrevivéncia e autonomia e, especialmente, de sua sobe- Tania, o restante da agenda de seus interesses esta em aber- to € sera definido ao longo do tempo, a partir de suas ne cessidades e capacidades. Apesar de igualmente sobert- no Por defini¢&o, os Estados possuirdo diferentes perfis¢ obj ctivos e, principalmente, diferentes graus de autono- 1a no sistema dadas suas circunstincias historicas €1° cur: 5 ee Sos de poder, Examinemos individualmente cada u™ destes aspectos, 1 ; ) Os Estados ¢ sua dimensiio doméstica Examinando. MOS perceber . que eles se qj . idade Organizaciig ; diferenciam quanto a sua tema, o que poderd levar a diferentes P¥ Se individualmente cada Estado, poles | Digitalizada com CamScanner drées de ado no sistema internacional e a formas variadas de se perceber as Relagdes Internacionais e sua influéncia. Em termos de idade, existirao Estados relativamente no- vos, como aqueles que se formaram a partir do processo de independéncia das colénias americanas no século XIX, das afro-asiaticas no século XX (respectivamente “o novo mundo” e as “novas fronteiras”), outros que emergem de conflitos e desmontagem de federagdes no inicio deste sé- culo XXI (na ex-URSS e antiga Iugoslavia principalmen- te) e outros mais antigos como os Estados europeus, que deram origem ao conceito desta unidade politica na assi- natura do Tratado de Vestfalia (“o velho mundo”). No que se refere 4 organizacao doméstica do poder e do seu exercicio, devemos levar em consideracgao como ele- - mentos desta diferenga aspectos relativos 4 formacao e condugao do governo em termos de sua constituicao e do regime politico, a atuagao dos partidos politicos e o peso da sociedade civil, seus grupos de interesse e da opiniao publica nacional e internacional. Cada Estado possuira seu regime, forma e sistema de governo. A tipologia destes elementos é bastante diversa na Ciéncia Politica e varios autores, e seus respectivos cri- térios, podem ser utilizados para definirmos estes limites de organizagao do Estado (Bobbio, 1991). Enquanto Ma- quiavel identifica duas formas de governo, a Republica ea Monarquia (governo do povo e dos reis), Montesquieu de- fine trés possibilidades, a Republica, a Monarquia e 0 des- potismo, o governo dos homens, das instituigdes e das pai- x6es. Montesquieu ¢ os Federalistas avangam na definigao da estrutura interna dos Estados, compostos de trés pode- Tes separados e interdependentes: o Executivo, o Legisla- Digitalizada com CamScanner Inirodugdo as Relagées Internacionais 2 ‘s = = 3 S = E s & 3 & & @ & 2 13 o> = 3 ) j4rio (responsaveis pelo comando do justia respectivamente). 8ove,, tivo e 0 Judic no, a legislagao © 2 Weber, por sua VeZ, vai referir-se aos Estados con sustentados em principios de dominagao legitimos que po. dem nascer tanto da lei, quanto da tradi¢gao, como do cand ma. O debate continua em torno dos regimes de gover democracia, oligarquia ou autocracia, ou simplesmente democracia e ditadura. Por fim, discute-se o sistema de governo, presidencialismo (mando do Executivo) ou par. lamentarismo (poder ao Legislativo). Dentro dos objetivos deste trabalho nao iremos certa- mente resolver ou aprofundar este debate, mas apenas des- tacar alguns de seus elementos. Desta maneira, definimos como formas de governo possiveis a Republica e a Monar- quia, que poderfo ser tanto de cunho parlamentar como presidencialista. Os governos poderao ser de carater de- mocratico, contando com a participagao do povo na esco- Iha de dirigentes e com mecanismos de participagao socie- tarios, ou autoritérios, nos quais a classe dirigente mono- poliza as decisées. Exemplificando: o Brasil e os BUA sao republicas presidencialistas, a Franga é uma repibl! ca presidencialista e parlamentarista, enquanto 4 Esp nha e a Inglaterra so monarquias parlamentaristas (todos estes Estados sao democracias). Por sua vez, 4 China &* URSS comunista definiam-se como democracias populte ta © cn as han de gave ‘tra Fria, cada Bee entemente da forma que assumira ec gover Chesser fo Possuira suas regras internas proprie®s ds ao (40 Nacional que determinara as suas C41° omesticas © a organizacdo e funcées dos tS . Digitalizada com CamScanner res. Tal Constituig&o regera o pais em sua totalidade e, dentro deste conjunto geral de procedimentos legais e le- gitimos, definird a questo da competéncia no campo das Relagées Internacionais. No caso da Constituig4o do Bra- sil, os responsaveis pelas questdes internacionais sio o Executivo, o Presidente da Republica e 0 Ministério das Relacdes Exteriores subordinado a presidéncia; por outro lado, nos EUA, existe uma divisio de atribuigdes entre o Executivo e o Legislativo. Temas como tratados comerci- ais, declaragdes de guerra sao de atribuig&o exclusiva do Legislativo americano que, em casos excepcionais, pode, por meio de mandatos especiais, conceder ao Executivo li- berdade e autonomia para agir em seu nome’. Alguns sistemas democraticos, além disso, definirao em suas constituigdes leis e mecanismos de participacdo para os partidos politicos e a sociedade civil influenciarem nos processos decisorios, somados a processos de cobran- ¢a e verificagao do poder publico (accountability). Esta participacéo também sera dependente da cultura politica de um determinado Estado (existe uma relagao de depen- déncia entre os dois fatores na verdade). A cultura politica € formada por meio de um processo social e histdrico, re- velando feigdes gerais da nado. Neste sentido, certos Esta- dos seraio mais permedveis que outros a colocacao de de- — = 2. O Fast Track (via rapida) 6 um dos exemplos deste mandato espe- cial, direcionado a area econémica, através do qual o Legislativo con- cede ao Executivo poderes extraordinarios para negociar acordos co- merciais sem interferéncia do congresso. Tais acordos néo podem ser Modificados posteriormente pelo congresso, cabendo-lhe unicamente a tarefa de valida-los ou rejeita-los. Atualmente, este mandato tem sido definido como Trade Promotion Authority (Autoridade de Promogéo Comercial). G ionai io as Relagées Internaci Introduga © Digitalizada com CamScanner 2 o S 2 3 s & hen s s = rn o 9 Ss & ‘a ce © 1S & 2 3 Ss mandas pela populagao ao governo (0s chamados inputs), enquanto em outros os espagos serao menores (a Tespost, do governo as demandas serdo os outputs). Enquanto 0 Bra. sil é definido como uma sociedade hierarquizada na qual decisdes politicas séo produzidas no topo do poder (“d cima para baixo”, ou dominado pelo Estado), nos EUA 9 elemento civil aparecera com maior destaque (“de baixo: para cima”, ou dominado pela sociedade)’. Esta participagao, entretanto, sera mais decisiva em | termos de politica doméstica como destacaremos poste- riormente. Tanto a participagdo dos partidos politicos quan- to da sociedade civil no campo das Relacées Internacio- nais sera mais restrito e variara de pais a pais, dependendo de seus interesses e posicao relativa no sistema, como visto | no capitulo 1. Tal situagao, entretanto, vem mudando ao lon- go dos anos, havendo uma maior interligacdo entre os cam- pos doméstico e externo. Eventos de impacto no sistema internacional tendem a modificar a percepgiio acerca da importancia das questdes externas em dados momentos. Por fim, antes de passarmos a andlise destes agentes ¢ sua participagao nos assuntos internacionais é preciso des- tacar uma discussao importante em nosso campo que €re- lacionada a este tema. Considerando-se as Relagées Inter nacionais de uma nagdo, sero as politicas e estratégias elaboradas determinadas pelo Estado ou pelo governo? No caso, normalmente nos referimos A politicaea estraté- gla como politicas de Estado, ou seja, politicas que sao << —- 3. State and society. ii i i f, 1996), ociety-dominantno original em inglés (Kegley & WittkoP Digitalizada com CamScanner elaboradas a partir de uma visdo abrangente do que é 0 in- teresse nacional, nascidas de uma burocracia especializa- da e estavel, nao sujeitas a alteragSes bruscas de governo. Haveria, assim, uma certa continuidade no campo das po- liticas internacionais que nao seria observada na dimensaio doméstica que seria mais diretamente afetada por disputas partidarias e eleitorais. O Brasil, assim como os EUA, seriam exemplos desta estabilidade e continuidade no campo diplomitico, exis- tindo variagdes em torno de taticas e linguagem, mas nao tanto de objetivos de longo prazo. Todavia, nao podemos generalizar esta avaliacg&o, devendo-se estudar cada Esta- do de forma independente, estando atentos a suas necessi- dades e circunsténcias. Da mesma forma, é preciso consi- derar as questGes relativas 4 governabilidade e as transfor- mages internacionais neste processo de defini¢ao de poli- ticas. E, como destacamos e examinaremos abaixo, a in- fluéncia dos partidos politicos, da sociedade civil e da opi- nido publica no campo externo. a) Os partidos politicos Dentro de um Estado, os partidos politicos serao ele- mentos de ac&o politica organizada que terao como tarefa representar, diante do Estado e dentro da maquina estatal e governamental, os interesses da sociedade civil. As elei- g6es serao os momentos nos quais estes partidos disputarao vagas no poder, mantendo-se como féruns permanentes de negociagao e contato. Sua fungéo é representativa e organi- zacional, possuindo a capacidade de influenciar nos proces- sos de formago de politicas e tomada de decisao de uma IS ‘S < 2 3 & oe 2 = 9 3 3 3 c wo 43 2 P 5 3 S 5 = = Digitalizada com CamScanner Colegao Relagées Internacionais dada sociedade. Os partidos sio mediadores entre a dade e 0 poder publico, sendo Classificados POr Merle, “fatores extra-institucionais” que esto numa Posigag ; legiada politicamente, pois sao os “agentes da o exercicio do poder politico” (Merle, 198 1: 228), Como os Estados e grupos de interesse (eao blica), a serem examinados no préximo item, também terdo diferentes caracteristicas, ideolo ONduista : =. Pinia p 08 parti gias, priog Tao tratadas quando p doméstico ou quando para alcancar poder, n: €M prioridades em Si forem tteis 4 estratégia dos partidos do se convertendo, necessariamente, mesmas, Todavia, com as alteragdes da politica internacion® ” Sua dindmica, a ampliagao dos impactos externos no a doméstico tem forgado um reposicionamento e ro Mento do tema Pelos partidos, Assim, temos 0 desenv0 <0) ? Plo menos no cago brasileiro, de um novo ie le pensar intemacional com mais atengao. Da aie forma, outros Estados Possuem partidos com uma tra sis’ intelectual ¢ influéncia maior na politica externa, a tindo-se em agentes de discussio e formulagao de p° Digitalizada com CamScanner como os partidos democrata e republicano nos EUA (Pe- cequilo, 2003). Porém, nado somente os partidos agem internamente aos Estados, devendo-se avaliar a influéncia de outros ato- res. Tais atores serao os grupos de interesse e a opiniao pi- blica nacional (e internacional), com os quais os partidos tém ligagfo, mas que também possuem um perfil de colo- cacao de demandas auténomo e que tem ganho espago de- vido 4 revolucao na tecnologia. b) Os grupos de interesses e a opinido publica nacional e internacional Outra fonte de influéncia sobre os Estados sao os cha- | mados grupos de interesses, isto ¢, grupos privados que vi- _ sam somente objetivos préprios, usando de sua influéncia junto dos partidos politicos e governos em busca de bene- | ficios. Com este intuito, esses grupos aprovam e desapro- - vam as agdes governamentais de acordo com seus objeti- "vos ¢ influenciam diretamente 0 curso da politica interna j ( i do pais. Devido 4 interligagaéo mundial vigente, essas ag6es nao ficam restritas a um unico pais e suas influéncias podem ser vistas no mundo todo. Grupos ideolégicos também fazem parte desta catego- tia. Buscam atender interesses especificos de cunho social, como o fim da violéncia e do racismo, a paz mundial, etc. Dentro dessa linha de atuac4o encontram-se militantes pro € contra determinados paises, reivindicando junto dos go- vernantes a aproximacao ou afastamento diplomatico de seus Estados desses paises. Exemplos disso sao as campanhas a favor ou contra Cuba e China dentro dos EUA, realizadas ionais Introdugao as Relacées Internaci Digitalizada com CamScanner Colegao Relacées Internacionai por exilados ou simpatizantes destes Estados. Depend das questdes € circunstancias, os EUA respon erdio de for ma diferenciada a estes grupos . Estes grupos sao os cha. mados lobbies, de propaganda contra ou a favor de determ. nados paises ou setores de indistrias (os agricultores euro. peus defensores do protecionismo) e, conseqiientemente, de suas linhas ideoldgicas e politicas. Estes grupos representam, portanto, faccGes e interes. ses particulares dentro de um determinado Estado que nem sempre sao condizentes ou adequados aos objetivos da na- g4o, mas que, por um processo de manipulaco, pressdese trocas internas podem acabar se realizando ou se definin- do como prioridades. Como destacam Keohane & Nye, “Diferentes grupos possuem diferentes interesses que, em principio so organizados hierarquicamente no campo das decisdes politicas e muitas vezes escondem-se atras do que se define como ‘interesse nacional’” (Keohane & Nye, 1989: 155). Considera-se, atualmente, a “opiniao publica nacio- nal” um elemento importante, embora seja o resultado ideo- légico de algum processo social e nao um elemento em si Toda vez que o distanciamento histérico nos permite umé andlise mais conseqiiente, observa- earisgs se 0 contetido poucd 5 da Gane pee publico” da “opiniao publica”, em determinada conjut Ht 4.Na Fiéria ja, Estado NOS, Os lobbie, » GUE Conta com gray . . ube Politica toca, ont Fidel Castro terdo basta eer de exllados C8 g cal, ‘40 bastante ressonancia, defining? Digitalizada com CamScanner das comunicagées. Tal desenvolvimento acentuou-se nos anos 1980 gerando, dentro dos Estados, 0 “4° poder”, es- capando as suas fronteiras. Neste sentido, a influéncia da opiniao publica deixou de ser somente nacional, criando redes globais de contato entre os mais diversos paises. Houve, com isso, o desen- volvimento da chamada opiniao publica internacional, de- finida como uma Forga Transnacional. Essa opiniao pt- blica internacional é formada, basicamente, por trés ele- mentos que séo os Governos, as opinides publicas nacio- nais e os grupos ideoldgicos. O primeiro deriva dos gover- nos, sendo a opiniao oficial do Estado. Ela deriva de seu érgao competente, escolhido por uma maioria e que ex- pressa a ideologia dessa coletividade. Outro elemento formador é uma espécie de “consen- s0” entre opinides publicas nacionais, a midia, valores cul- turais e ideologicos e até mesmo problemas presentes em praticamente todos os paises. A grande questao éa leitura feita e interpretagdo dada pela midia e opiniao publica na- cional sobre estes temas. O terceiro e ultimo elemento sao os grupos ideolégicos internos que organizam movimen- tos junto da populagdo em nome de uma causa especifica ou cobrando um posicionamento politico por parte de seus respectivos governos em determinadas situagdes nacio- nais e internacionais. A opiniao publica internacional nao atua com autono- mia no cendrio mundial, pois depende dos fatores j4 men- cionados. Do governo provém sua legitimidade, seu ponto de apoio. Seu ponto fraco reside no segundo elemento que € a opinido publica nacional, devido 4 instabilidade de suas ‘ionais internac' cées & Ss e o 4 e 6 3 Ss 3 £ = & Digitalizada com CamScanner 2 s = 2 S = S 2 = a 3 9 o Ss o ce eo 1g & = 3S eo posigées, que mudam de acordo com as Preocupariieg cionais. Por nao ter uma visao clara do cenério, a og gio deixa-se guiar pela midia que molda entao sua opine de acordo com seus interesses. O grande ntimero de cau e de grupos antag6nicos dentro dos paises leva-og a dig tas e conflitos, desviando-os de seus objetivos ¢ difig tando assim a sua unido em torno de uma unica caus, Diante desse quadro, nao podemos defini-la como um at auténomo e sim como um que deriva de opinides e ideoly gias diversas, divergentes ou nao. 7 Ou seja, tanto a opiniao publica nacional quanto ain. ternacional s4o relativamente limitadas uma vez que nig buscam um aprofundamento de suas preocupagées e ques. tionamentos. Estas “opinides” normalmente atém-se a temas de maior repercussao, a assuntos que venham de en- contro a curiosidade do publico, como os conflitos no Ori ente Médio, a destruicdo ambiental na Amazénia, a recet: te guerra no Iraque. Elas nao se importam em analisar todo 0 processo que culminou neste conflito ou outras questoes tao sérias e importantes quanto estas, caracterizando-# por uma grande volatilidade e dispersaio. Assim, as mobi: lizagdes populares tendem a durar pouco, ainda que, diate: te das crescentes pressdes do externo sobre 0 interno, exis: ta um certo amadurecimento desta area. Em conjunto, todos estes elementos compoem ° “ do, determinando formalmente seu perfil de agao in i: cional e as forgas que nela se inserem. Somada a ¢ _ sel mensio, também as capacidades dos Estados oe os papel internacional, discutindo-se 0 carater € extens# recursos de poder. a Digitalizada com CamScanner | 2) Os Estados e€ os recursos de poder Na politica internacional, o poder é um meio e um fim a partir do qual se instaura uma relagao de dominagiio na qual uma ou mais partes obedecem a outra. Desta maneira, estabelece-se uma relag&o de subordinacao, autoridade e mando entre os agentes, com alguns possuindo capacida- de de ditar o comportamento dos demais, fazendo valer seus interesses e principios. O poder é exercido através de duas fontes possiveis, a da violéncia, sustentada na forga fisica, e a da racionalidade, baseada no convencimento. A capacidade de um ator é definida pelos recursos de poder que deterd no sistema, devendo-se distinguir duas dimen- s6es: a da posse € conversao de recursos de poder e a defi- nigdo dos tipos de recursos de poder. No que se refere 4 posse e conversao dos recursos de poder, deve ser feita a disting4o entre poder potencial e po- der real. O poder potencial representa qualquer recurso que exista em estado bruto, nao podendo ser utilizado. Exem- plificando: em uma mina, podemos encontrar um pedago de rocha que sabemos ser um diamante, porém esta rocha somente revelaré o seu valor, transformando-se em dia- mante, a partir do momento em que for lapidada — até este momento, a pedra sera somente mais um pedago de rocha. O poder potencial refere-se ao poder que existe, mas que ao no ser transformado em algo pratico nao agrega valor ou capacidade. Por sua vez, o poder real sera aquele poder que sera de- terminado pela capacidade de conversao, sendo passivel de utilizagfio para o exercicio do dominio ou projegao. Quan- to mais eficiente for a converstio de poder potencial em iS internaciona des s Relag cao a S s ° £ = = Digitalizada com CamScanner S ¢ Colegdo Relagées Internaci real, maior sera a possibilidade de um Estado agit no sista, ma internacional. Mais um exemplo: o Brasil é considera. do um dos maiores produtores de matérias-primas e deten, tor de biodiversidade no mundo, porém o processamenty de muitas destas matérias-primas nao é realizado aqui mas sim no exterior. O Brasil, portanto, possui poder po. tencial que nao consegue converter em poder real, permi- tindo que outros agreguem valor e consigam dominio a partir de seus recursos, deixando, além disso, muitos dos recursos potenciais sem exploragao. E, se existe uma distingao quanto 4 posse/utilizagao dos recursos de poder, também é necessario fazer uma dis- ting&o quanto aos tipos de recursos de poder: 0 hard eo soft and cooptive power’. O hard power, ou poder “duro”, refere-se aos recursos de poder tradicionais, passiveis de Serem vistos e sentidos com facilidade, percebendo-se sua influéncia e importancia na pratica. Dentre os recursos de poder que associamos ao hard power encontram-se 0 t2 manho e a geografia de um pais, a sua localizagao e natu- teza das fronteiras (se sAo pacificas ou conflituosas), a p0- pulagao de um Estado, referente a sua organizacao intema © estabilidade, quantidade e distribuicao desta populagae No espa¢o, seu cardter e moral nacional (patriotismo), esta- do de preparacao militar, recursos naturais e matérias-pt- mas e, por fim, a capacidade industrial instalada. <— —_ 5. ota Slassiticacao fol estabelecida por Joseph S. Nye Jr., um dos M7” ‘odes oie No estudo teérico das Relagses Internacionals eral institucionalismo, Nye, ao lado de Robert 0. Keoh® Wortd Poitice trea pies na area como Transnational Relations al ne, possui diversas obr: wer. ao pose con Interdependence (1 989) e O parade: Digitalizada com CamScanner No outro extremo, 0 soft and cooptive power, definido como o poder “suave” e de cooptacao, sustenta-se em ele- mentos de poder intangiveis e que nao podem ser percebi- dos na pratica. O poder suave relaciona-se ao poder do convencimento e das idéias, sendo suas principais fontes o desenvolvimento econémico, o conhecimento e tecnolo- gia, a ideologia e a cultura. Sao exemplos de poder soft a flexibilidade, a adaptabilidade, a disseminacdo de valores, “a coca-cola e o jeans”. Segundo estes recursos, os Estados podem ser classifi- cados® em: + Superpoténcias ou poténcias mundiais As superpoténcias ou poténcias mundiais sio aqueles paises que detém, simultaneamente, 0 controle das duas dimens6es de poder descritas acima. Tanto em termos de poder duro, quanto em termos de poder suave, estas na- gées possuem recursos em quantidade e qualidade sufici- ente para exercer seu poder de maneira significativa no sistema internacional. O ideal, e o que sustenta de fato a hegemonia, é que os poderes hard e soft estejam em uma situagao de equilibrio, para que se alternem como instru- mentos de dominag4o. Adicionalmente, 4 medida que as poténcias tiverem capacidade de controlar todos estes re- cursos, elas nao sero dependentes de nenhum outro pais no sistema, sendo dotados de um alto grau de autonomia. Trés casos podem ser estudados para melhor definir esta situagao de dominac4o com relac4o a posse dos recur- <<— > 8. Embora inspirada pelo trabalho de Merle & Huntington, esta classifi- cago segue um perfil préprio. iS s Relagées Internacionai: cao ai a 3 E é = Digitalizada com CamScanner 4 s = = Colegdo Relagées Internac sos de poder. Comparemos trés paises e seus req r EUA, Brasil e Japaio. Os EVA e Brasil possuem uma p de quantidade de recursos hard, enquanto o Japao na detém, podendo-se mencionar a questo do territérioe matérias-primas. Porém, em termos de capacidade de verso, como discutimos, o Brasil n&o possui a mesm possibilidade que EUA e Jap4o, tendo, muitas vezes, de exportar seus recursos hard. Além de deter estes TeCUTSos, os EUA também possuem elevada capacidade de conver. sao e um consideravel conjunto de recursos soft. Como re- sultado, o locus da hegemonia sera ocupado pelos EUA uma vez que eles possuem tanto o poder da forca fisica quanto o da racionalidade que sustenta o exercicio da lide- ranga, convertendo-se na poténcia hegeménica. Dotados destes recursos e condi¢ao, as poténcias mun- diais teraio como fundamento de sua agaio o avanco de seus interesses e 0 comando do sistema, projetando poder glo- balmente. Tal projegao permitira que estes paises influen- ciem diretamente os fluxos e fendmenos do sistema, inter- ferindo na politica mundial de forma a alcancar seus inte- resses € maximizar sua posicio de lideranca. Estando no topo da hierarquia de poder, estes paises dominario os de- mais pertencentes 4 ordem, estabelecendo-se entre eles uma relagao de subordinacgao. A hegemonia, assim, col trolara o cendrio, ditando o ritmo de seus processos sociais, politicos e econémicos. Atualmente, como indicamos em nosso exemplo, 0% EUA sao o pais que exerce este papel de hegemonia no sistema internacional, tendo assumido a posigao de “qnica superpoténcia restante” depois do encerramento da Gue! | Digitalizada com CamScanner ra Fria em 1989. Até entao, os americanos dividiam a lide- ranga do cenario, e disputavam espacos e zonas de in- fluéncia com um outro pais de carater similar, a antiga — URSS. Antes disso, no século XIX até 1945, 0 papel de ~ -hegemonia global era exercido pela Gra-Bretanha que, por sua vez, foi antecedida por outras poténcias européias. Especificamente, Portugal e Espanha nos séculos XV e ~ XVI, Holanda no XVII e Franga no XVIII. } ) O estudo da histéria mostra uma alternancia de Esta- dos no topo que, depois de seu auge, acabam sendo supe- rados por rivais, seja através da guerra ou da transi¢ao “pa- cifica”. Este ciclo ¢ denominado por Paul Kennedy de “Ascensao e queda das grandes poténcias” (que da titulo a sua obra, inclusive) e demonstra que todas as hegemonias passam por fases de amadurecimento, dominio e declinio. A mesma premissa de expansdo e retragdo é trabalhada por Giovanni Arrighi em O longo século XX, no qual ele também demonstra a evolugao das hegemonias no sistema mundial (Kennedy, 1991; Arrighi, 1996). Kennedy e Arrighi, assim como outros analistas, apon- tam que parece existir um movimento de declinio ameri- cano hoje, que poder levar tanto a uma nova hegemonia ou a um mundo de poderes mais divididos (a multipolari- dade). Mesmo estrategistas americanos como Brzezinski falam dos EUA como a “primeira, tinica ultima superpo- téncia restante” (Brzezinski, 1997; Pecequilo, 2001). To- davia, nao cabe aqui entrar em detalhes nestes argumen- tos, mas apenas langar a idéia, recomendando-se leituras adicionais para o aprofundamento das discusses. Ao as Relacées Internacional introdug. @ Digitalizada com CamScanner | s = = S = Ee S & = a o 2 S a o ce e 1s & 2 S 3 + Poténcias regionais — Nivel 1: Referem-se a paises com Projecao de Pode, limitada a escala regional, mas que ainda combinam com uma certa eficiéncia os recursos hard e soft. No assay jaexerceram importantes posi¢oes de lideranga no Sistem (ou pelo menos tentaram assumi-la por meio de guer contra a hegemonia vigente, o caso de Alemanha e Japan nas guerras mundiais). Isto os favorece com uma certa jp. fluéncia residual, mas os impede, pelo menos na atual cop. juntura, de ameagar a lideranga mundial americana. Fran. ga, Alemanha, Japo ¢ Inglaterra sao alguns dos paises que podem ser mencionados nesta categoria. Tais paises detém um elevado nivel de autonomia, mu- tas vezes concentrando seus recursos mais no campo eco- némico do que no militar’ (o que representa um dos impe- dimentos a sua projecao global). Diferenciam-se, neste sentido, dos paises do Nivel II das Poténcias Regionais, por possuirem um patamar de desenvolvimento social, po- litico e econédmico mais homogéneo, assim como tecnolo- gia mais avangada, o que Ihes permite uma margem ¢ manobra maior diante da poténcia hegem6nica. Por fim, ha de destacar que no caso dos paises europels pertencentes a este grupo as limitagdes de poder existent para 0 exercicio do poder global vém sendo minimizades através de estratégias alternativas de fortalecimento, Co™ a integragao regional. Tal experiéncia, inclusive, seré aplr cada também aos Estados do Nivel TI. Voltaremos 2 es" discussSes ao longo do texto. — —_ 7. Ainda que al. ane De™ iguns dele: rcitos eauipados oa 'S detenham o poder nuclear e exe! Mo Franca e Gra-Bretanha. Digitalizada com CamScanner — Nivel IJ: Também se refere a paises de projeco em escala regional, mas sem o mesmo potencial de desenvol- vimento daqueles do Nivel I. Na maioria das vezes, estes paises foram antigas colénias subordinadas as poténcias do Nivel I, alcangando tanto sua soberania politica, quanto sua autonomia mais tardiamente. O debate em torno da classificacgéo destes paises é bastante extenso, uma vez que se caracterizam por uma mescla de desenvolvimento e subdesenvolvimento e por uma grande diversidade de re- cursos e problemas. Os lideres regionais sao definidos como paises pivés, centrais em sua area de influéncia, destacando-se Brasil, China, México, Nigéria, India. Referem-se a nagdes sem condigédes de consolidar uma maior atuagao politica mun- dial, limitando-se a uma 4rea de influéncia regional. Seu poderio depende da combinagao do hard ¢ soft power, so- madas a sua estabilidade interna e 4 de sua regiao, na qual podem existir desequilibrios e disputas estratégicas. Algu- mas classificagdes também os denominam de grandes pai- ses periféricos, poténcias médias, baleias, continentais ou paises emergentes®. & S & 2 ‘3 s E s 2 = a o J o & oe oe ia cy = ws ‘Se =i 3 é E = & Tais paises possuem recursos e condigdes de desen- volvimento que os colocam acima das nagdes pequenas a —_ 8. O debate em torno da classificagao do status destes paises € ainda mais amplo. De acordo com Sennes, “Uma multiplicidade de conceitos surgiu para designar a categoria de pais intermediario. Todos eles per- cebiam-no como um grupo especifico dentro do sistema internacional que, ao se diferenciar das grandes poténcias mundiais, nao se confun- dia com amassa de paises pequenos ou pouco expressivos nesse sis- tema. As terminologias empregadas para descrevé-lo foram diversas: paises de porte médio, grandes poténcias regionais, paises semiperi- féricos, recém-industrializados, paises intermediarios, paises em de- senvolvimento mais desenvolvidos" (Sennes, 2003: 17). a Digitalizada com CamScanner 2 s = = 3 & 2 = 2 3 o-} ‘ & o 4 ° a Coleg: e detém apenas uma influéncia local ou parceiros wing | mo tempo, porém, eles sofrem pontos & internos e externos que nao Permiten uma posigao avangada diante das categorias de poténcig. mundiais e limitadas, estando subordinados ao poder dey, tes atores mais relevantes € submetidos a sua estruturg 3 poder. Além disso, alguns deles, como China ¢ india, po deriam se diferenciar dos demais como Brasil © México, uma vez que se possuem um consideravel dominio de teo. nologia bélica, contando com armas nucleares. Porém, ainda que isto aumente seu poder de barganha no campo da seguranga e se converta em instrumento de dissuasio regional local fundamental, estes paises ainda possuem intmeros problemas’. qu menores. Ao mes estrangulamento Assim, eles se equilibram entre o poder diante dos pe- quenos e a dependéncia relativa dos grandes no sistema internacional, tentando administrar suas capacidades pa minimizar esta condigio e, finalmente, alcangar um? maior autonomia. Sendo que, para obter esta maior auto- nomia, deverao ainda enfrentar a pressio destes grandes poderes que, conscientes do potencial destes micleos ae gionais, procurardo limitar e barrar suas iniciativas perio dicamente. Scaetet. os uel _ Tal situagdio é bem expressa por esta citagao de Sam" Pinheiro Guimaraes, “Os Grandes Estados da pert [...] apresentam enormes disparidades de renda ¢ << eS cs eam quem & mais ou menos poderoso depende multe 2 se Teneo oder que esté sendo mais valorizado. Raramen p50 H sar da arm, lerarquia de poder que coloca a China acima Fy nés em di ‘a nuclear, optando-se por priorizar o poder 6° letrimento do estratégico chinés. Digitalizada com CamScanner priedade, de riqueza e de pobreza, de cultura e de barbarie [...] porém, os “Grandes Estados periféricos sao aqueles paises nao-desenvolvidos, de grande populaciio e de gran- de territério, n&éo-indspitos, razoavelmente passiveis de exploragdo econdémica e onde se constituiram estruturas industriais e mercados internos significativos” sendo que “o desenvolvimento de todas as potencialidades [...] traria efeito notavel sobre a capacidade econdmica ¢ o potencial militar e, em conseqtiéncia, sobre a capacidade de exercer influéncia politica nos 4mbitos regional e mundial” (Gui- maraes, 1999: 18, 21 e 23). * Papel local Estados que desempenham seus papéis de forma limi- tada apenas tentando preservar sua existéncia politica e - territorial, mantendo a sua soberania como Equador, Por- - tugal, Chile, Bangladesh. Sao paises relativamente fracos que somente conseguem atuar no sistema de maneira con- ' dicionada aos demais paises com maior forga, aliando-se | para obter vantagens politicas e econdmicas. Podem, neste sentido, ser utilizados pelas poténcias mundiais e limita- das como fonte de desequilibrio das poténcias regionais. Como bem destaca Vizentini, “os pequenos Estados, ge- ralmente incapazes de conduzir uma diplomacia auténo- : ma, acabam servindo aos interesses das grandes poténcias, normalmente contra poténcias médias ascendentes. Ser- vem também como elemento legitimador, pois geralmente sao eles que apresentam propostas polémicas que interes- sam aos seus grandes aliados” (Vizentini, s.d.). Relagées Internacionai: 40 as Introdug: Digitalizada com CamScanner Exemplos destas atitudes sdo: as politicas de incentiyg \ que os EUA fornecem a nagdes menores da América Lat. na (Uruguai, Chile), visando contrabalangar e isolar 9 Bra. sil em disputas politicas e econémicas, como na Telacig Alca e Mercosul. Mais especificamente, a tese do realism periférico, teoria desenvolvida por Carlos Escudé na Argen. tina, ilustra bem esta postura de busca do alinhamento | com a hegemonia para ganhar posicdes na hierarquia de poder mundial e, conseqiientemente, em ambito regional, . desbancando a poténcia anterior que, no caso, seria o Bra- sil. Termos utilizados na gestiio de Carlos Menem por seu Ministro das Relagdes Exteriores Guido Di Tella, comoa existéncia de “relacdes carnais” entre Argentina e EUA, tornaram-se até mesmo folcloricos nas discussdes diplo- miaticas para a instalagaio do Mercosul. Ao mesmo tempo em que instalava o mercado comum com 0 Brasil, a diplo- macia argentina esforcava-se para minimizar a importan- cia do acordo diante do quadro maior que era o da relagao bilateral com os americanos. 2 c & = S & E S 2 = 8 e o = o a 8 o 2 Como se pode perceber, existem diferencas significa- tivas entre os Estados, sua organizagao interna e recursos de poder que afetam seu comportamento e acfo no sistema internacional. Apesar de igualmente soberanos, como 10” dicamos, nem todos terao os mesmos potenciais de atua- ¢a0, ocupando diferentes posigdes relativas na hierarqui@ de poder no cendrio mundial, Neste cendrio, além disso, Estados, sejam eles poderosos ou fracos, serao acomp’ nhados em suas interagdes por uma outra categoria de a!” res internacionais, agora no ambito nao-estatal, as Orga" zagdes Internacionais Governamentais (OIGs) e as Forgas Transnacionais (FTs). ud Digitalizada com CamScanner 2.2.2. Os atores nao-estatais 1) As Organizag6es Internacionais Governamentais ou Intergovernamentais (OIGs) As OIGs, ou Instituigdes Internacionais, sao agrupa- mentos politicos que tém nos Estados seus membros fun- dadores e componentes, existindo a um tempo relativa- mente curto em termos histéricos, ganhando destaque e escala no século XX. Sua idéia e modelo, uma organiza- c4o representativa dos interesses conjuntos dos Estados, ja surgira no século XIX na Europa por meio das aliangas. Porém, foram os cenarios das guerras mundiais do século XX, a Primeira Guerra de 1914/1918 e a Segunda de 1939/1945, que alertaram para a necessidade de serem es- tabelecidas formas alternativas de relacionamento entre os Estados que minimizassem a instabilidade global e as dis- putas diretas. IS internaciona cées Assim, as OIGs surgiram da preméncia de encontrar solugdes para determinadas questdes internacionais além da diplomacia tradicional, gerando espacos permanentes | para a discuss4o periddica destas questdes, funcionando como mediadoras. Adicionalmente, converteram-se em canais e redes de comunicacio entre os Estados, facilitan- do sua atuac&o conjunta e a perseguic¢do de interesses e ob- Jetivos comuns. A fungiio das OIGs é promover foros de debates e prestar servicos. Tentam estabelecer um ponto de apoio para os Estados menos desenvolvidos, garantin- do sua autonomia e legitimidade politica, e um ponto mo- derador para os mais desenvolvidos, barrando seu avango Politico e militar sobre os demais. Tem como principal ob- | Jetivo estender a unidade e igualdade juridica e tedrica en- introdugao as Rela Digitalizada com CamScanner = ‘s e 2 S e sg = 2 & ‘S & co & s = e So 7 tre os Estados para 0 campo das relagdes Concretas en / eles, relagdes estas que ainda sao desiguais e hierdtquicgs | redistribuindo poder e reduzindo tenses mundiais, ley disso, em um cendrio por principio anarquico elas fete. cem parametros de atuacao aos Estados, que passam Fi. contrar limites a suas ages. Tais limites s&o definidos brag maticamente através de uma carta, de um acordo, que esta belece as normas de funcionamento e organizacao intema da OIG. Em termos de suas caracteristicas, as OIGs podem exercer diversas fungdes em variados setores. Quanto a0 campo de atuacao, agem tanto regional quanto globalmen- te. No que se refere as fungdes, temos dois tipos de OIGs: as de Propésito Abrangente (PA), que cumprem diferentes fungées em diferentes Areas, e as de Propésito Unico (PU), limitadas a objetivos especificos. Por exemplo, a Organi- zacao das Nagées Unidas (ONU) é uma organizagio de atuagao global e propésito abrangente, agindo em todo 9 mundo nos campos da economia, seguranga, cultura, 50 ciedade. Por outro lado, a Organizacao Mundial de Co- mércio (OMC) também Possui atuago global como a ONU. mas um s6 propésito, a regulamentagiio das relagdes merciais internacionais. No campo regional, a Organi2 gao do Tratado do Atlantico Norte (Otan) age na 4rea if Atlantico Norte com um s6 objetivo no setor da segura? enquanto a Unido Européia (UE) é também limitada aume lo : . i : calidade 8cografica, mas detém alvos diversificad0s €conomia 4 Politica, A + amicd) icon Portanto, possuem um carter dinar cional e as ® mudanga do contexto politico inter mecessidades de seus Estados-membros- 0 Digitalizada com CamScanner tanto, nao se pode considera-las apenas uma soma de Esta- dos, pois possuem uma dinamica interna propria e uma qutonomia relativa. Um exemplo disso ¢ a ONU, que esta atrelada aos seus Estados fundadores politicamente, mas detém uma burocracia e regras prdprias, atuando interna- cionalmente. Mas, para sustentar esta atuacao, ela depen- de basicamente de contribui¢gdes espontaneas para sua ma- nutengao econémica. Tal situacgdo, esta ambigiiidade autonomia X depen- déncia, é fungdo da acdo dos Estados e das forgas sociais que estes representam. Os principais obstaculos enfrenta- dos pelas OIGs para cumprirem seu papel mundial sao im- postos por quem as fundou e delegou poderes: os Estados. Além da quest&o financeira, o problema se refere essenci- almente a vontade de os estados respeitarem ou nao as re- gras da OIG da qual fazem parte, mesmo que eventual- mente isso possa significar uma diminuigao de sua auto- nomia ou abrir mao de parte de sua soberania. Uma vez que permanecem soberanos dentro das OIGs e que podem apenas ser punidos marginalmente por estes érgaos, tam- bém dependendo de sua influéncia dentro deles, os Esta- dos tendem, em situagdes especificas, a fazerem uso da Justificativa do interesse nacional para nao seguir as regras da OIG. Alguns Estados acabam por desrespeitar as regras que eles mesmos criaram em troca de beneficios e interes- Ses imediatos, colocando em risco a credibilidade, integri- dade e continuidade da propria OIG", > 10.A a Gui sui G40 dos EUA na ONU entre 2002 e 2003 para iniciar e realizara tia No Iraque é um exemplo de como um Estado, alegando riscos a Soberania, desrespeita uma OIG. ternacionais iniroducao as Relacgies In Digitalizada com CamScanner 2 ‘s € = Colegao Relagées Internaci aN Nao se pode negar, apesar de suas limitagdes, 0 cay, positivo das OIGs. Elas contribuem para a Construcg. uma nova ordem politica internacional. Constity importante foro mundial e cooperam com 0 desea, mento, como é 0 caso da ONU. S80, portanto, um fatorg aproximacao e integragao entre os Estados. O desapares, mento de uma OJG como a ONU, resultaria na aUsénciage qualquer regulamentacdo, uma auténtica “lei da selvat onde os paises em desenvolvimento perderiam um grande ponto de apoio. It eM ty Historicamente, a ONU foi antecedida pela Liga das Nag6es, originada em 1918 com o fim da Primeira Guer Mundial, que tinha como objetivo funcionar como umor ganismo de seguranca coletiva e trocas diplomaticas. Pos- teriormente, a auséncia de uma estrutura organizacionel clara e definida, representativa do poder real dos Estados, somado a outros fatores, levou a crise da Liga eo seu dest parecimento. Contudo, a ONU aprendeu com os erros é¢ sua predecessora, nascendo como ela no encerramentd de uma guerra mundial, em 1944/45, e serve como exellt plo de estrutura organizacional com uma definigao objet” va dos papéis de cada orgao. Dentre estes podemos mencionar a Assembléia Gerth da qual participam democraticamente todos os Estados zi Conselho de Seguranga (CS), restrito as poténcias a diais. Inexistente na Liga das Nagdes, o CS representa” os grandes poderes daquele determinado context? ’ Pos-Guerra, BUA, Rissia, China, Franca, Gra-Bre! i Surgindo com 0 objetivo de controle da paz mundial ¢° interven¢&o militar quando necessario. Tais poténci® ts Suem poder de veto © sio membros permanentes Y Digitalizada com CamScanner acompanhados por dez membros rotativos, eleitos por mandatos limitados. Hoje, discute-se a necessidade de re- forma do CS uma vez que ele estaria desatualizado, repre- sentando uma realidade de poder de mais de cinqiienta anos atras. Novos poderes regionais a serem incluidos se- tiam Alemanha, Japio, Brasil, india e Africa do Sul. Além dos Estados e das OIGs, existem outros atores jnternacionais, que nao esto dentro da area de controle do Estado, muito menos dos governos. Esses atores enqua- dram-se no que chamamos de for¢as ou atores transnacio- nais de carater extraterritorial e multifacetado. Esses nu- cleos paralelos sao mais rapidos em suas atuagGes, que en- volvem desde a circulacdo de pessoas até de idéias e di- nheiro entre paises. 2) As Forgas Transnacionais (FTs) As Forgas Transnacionais sao, como visto no final do item anterior, um tipo adicional de atores internacionais que se enquadra na categoria dos atores nao-estatais. Estas forcas sdo representativas de fluxos de natureza variada que ultrapassam as fronteiras dos Estados e que envolvem movimentos de origem privada. Sao forgas relativas a so- ciedade civil, nio ligadas aos governos, ao setor publico, podendo afetar estes Estados tanto de maneira positiva quanto negativa. Os principais fluxos através dos quais observamos a movimentagdo das FTs sao as comunica- Ges, os transportes, as finangas e as pessoas. Tais fluxos sempre existiram na histéria das socieda- des humanas, todavia, ganharam intensidade, velocidade e dinamizagao crescente nas ultimas décadas, em especial 2 s = 2 3 S & = Ss 2 & 2 o 9 & eS o 4 2 cs 2S 4 So 3 3 8 5 2 RS Digitalizada com CamScanner 2 Colegdo Relagées Internacionais ' devido aos progressos tecnologicos. As FTs podem Ser dj. vididas em quatro categorias: as OrganizagGes Nio.¢y, vernamentais (ONGs), as Multinacionais (também defi, das como Companhias Multinacionais ou Transnacionaig | CMNs ou CTNs), os grupos diversos da sociedade civile por fim, a opiniao publica Internacional, ja analisada no item sobre os Estados. | a) As Organizacdes Nao-Governamentais (ONGs) As ONGs sio instituigdes de origem privada isto é, ndo-governamentais, caracterizadas pelo seu carater es- pontaneo, solidario e formado por individuos de diversas nacionalidades. Sua atuac4o estende-se além do poder de alcance da influéncia governamental e do direito intema- cional. Adotam o sistema juridico do pais escolhido para sedia-la, devido a falta de outro mais adequado as suas ne cessidades''. Atuam, assim, dentro e fora dos Estados & nascem para lidar com questées especificas de interess¢ dentro de uma determinada sociedade, cujas demandas nao tém sido adequadamente atendidas por este Estado ov pela necessidade de chamar a atengdo para um topico par ticular. No caso, as ONGs emergem focando uma determ nada area de preocupagiio como os temas ambientais, dire” tos humanos, feminismo. Ou seja, sao, em sua origet particulares e sectarias, limitadas a um setor bem definie? e direcionado de um grupo social de interesse. — —_ 40 141. Para informagées sobre as ONGs no Brasil, legislagao & Se rn ver o site da Associacao Brasileira de Organizagdes Nao-Gove tals, www.abong.org.br Digitalizada com CamScanner Mesmo nao dispondo de uma definigio juridica, esses grupos sao reconhecidos ¢ utilizados por OIGs como auxi- liares ou consultores em determinados assuntos, geralmen- te nos temas de sua aco junto aos governos. A fonte real de seu poder junto as OIGs € aos Estados reside no acesso facil 2 midia eletrénica e no controle de informacées re- passadas ao grande publico. Esses dados sao utilizados en- tao em um jogo politico entre os atores do cendrio mun- dial, numa disputa de poder e credibilidade junto a opiniao publica através da midia. A internacionalizagao dos grandes problemas contem- poraneos foi responsavel pelo crescimento vertiginoso do numero de ONGs. Estas atuam com determinados objeti- vos, acima das fronteiras nacionais e ideolégicas, como mencionado. Assim, por meio da identificagao de um ob- jetivo particular, elas formam grupos compostos por pes- soas de diversas nacionalidades para dar conta destas de- mandas. Algumas delas dedicam-se a cuidar somente dos interesses de seus membros, como as associagées dos ci- entistas, enquanto outras buscam uma atuacio social con- creta, como a Cruz Vermelha, por exemplo. Sua linha de atuagao abrange os temas ou areas sociais que os Estados negligenciam ou deixam em segundo plano, suprindo en- tao essas deficiéncias dos governos junto da populacao. Outros exemplos de ONGs que podem ser citados, conhe- cidas internacionalmente, so 0 Greenpeace, dedicado a questdes ambientais e com afiliados por todo o mundo, e No campo dos direitos humanos, a Anistia Internacional e 0 Human Rights Watch. No Brasil, uma das ONGs mais Conhecidas é a Fundagiio Mata Atlantica, o Banco do Povo, dentre outros. iS Introducao as Relagées Internaciona (3 ; Digitalizada com CamScanner ‘g & 3 S Ss = S 2 2 a o 3° & & o c e 1 o: = eS o Entretanto, nao podemos superestimar © Papel das no cenario mundial, pois elas nao tém Condicdes de, petir com os Estados e as OIGs. Apesar de muitas yee cobrirem as atividades dos Estados, as ONGs Poden pender de financiamentos publicos (embora esta Stuy t contrarie a sua funcdo privada) e de OIGs, Aparecenda jn da como formas de poder paralelo. Neste sentido, as ONG tendem a suprir demandas que deveriam ser Tesolvidaspe los érgdos publicos, diminuindo a pressao direta Sobre es. tes, facilitando a preservacao das estruturas de Poder” Positivamente, entretanto, as ONGs funcionam como gy. nais de cidadania e participagao popular, criando redesé: solidariedade e conscientizacao. b) As Companhias Multinacionais ou Transnacionais (CMNs ou CTNs) Quanto 4s companhias multinacionais ou transnacit nais, elas so empresas que tém origem em um determi do Estado do sistema internacional, mas cuja atua¢# ‘ trapassa as fronteiras destes Estados, estabelecendo-seF™ todo © cenario. Ou seja, sao companhias que atuam ” nacionalmente, mas que possuem uma sede, uma one . i "7 em um determinado pais do sistema e afiliadas ¢™° Estados nacionais, z cio Dentre as mais famosas multinacionais pode™ se. as americanas Coca-Cola, General ae fe Johnson, as européias Renault, Gessy Lev’ sce >> 12. Par, i “ 176-4 OE uma visao critica do assunto ver Petras & vetime Digitalizada com CamScanner

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