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ECONOMIA DE SAO PAULO ainda a locomotiva?* Carlos Roberto Azzoni A suposta perda da importdncia relativa da econo- mia paulista em termos nacionais tem dado margem a entendimentos distintos e contraditérios. No ambito do Estado de So Paulo, tanto a nivel do aparato politico como das elites locais, a constatagao 6 preocupante. Nos demais estados, também dentro e fora da area governamental, o fendmeno ¢ visto com expectativa positiva. A disparidade de porte econdmico entre Sao Paulo 2 08 demais estados da Foderagao 6 sobejamente conhecida e documentada (1). Desde a introdugo do café como cultura de exportacao no pais - notadamente com a substituigéo da mao-de-obra escrava por assa~ lariados, imigrantos estrangoiros principalmente -, pas- sando pela industrializagao incipiente dos anos 206 30, acentuando-se no processo de industrializapao acelera- a Fernando Schultz « Katia Magnani da Coorsenaseia a oral, Govsmo do Estado de So Paulo, polo auxilo no aa {ie Planamanto« Oesido do Ee Prolezzor Aszoclado da FEAUSP © Coorsenador de [GiobalPNPE, (Teses, 15), 1965. yaStoPauio. to Paule,DIFEL, Ino Bese da no pés-Guerra nos tempos dos governs militares pés-1964 @ adentrando por anos mais recentes, coma ampliagao @ modernizagao do setor de servicos, essa unidade da Federagao s6 fez ver aumentar e diversiti- car sua estrutura produtiva. E esse desenvolvimento econémico se deu em ritmo muito mais forte que em outros estados, Em paraislo com 0 crescimento econémico desen- volveram-se diferengas de infra-estrutura, social & econémica, nivel de instrugfo © qualificagéo da mo: de-obra, de acesso aos avangos tecnolégicos e aos trutos positivos do desenvolvimento, com conseqden- tes melhorias nas condigbes de vida da populagao deste estado ampliagso das diferengas com as condigses de brasileiros residentes om outras unidades da Fede- rago. Se esse desenvolvimento diferenciado de S40 Paulo poderia ter sido feito sem que outras regides do pais fossem afetadas negativamente, 6 uma questdo que estd aberta a discussées, tanto no plano tedrico quanto no politico. A vertente convergente do desenvolvimento econdmico, tanto na sua feigao académicacomona sua manifestagao Ideolégica liberal/neoliberal, entende que a acentuagao das desigualdades entre regides do pais 6 conseqiéncia natural da passagem de uma situagao de subdesenvolvimento para uma situago de “pais desenvolvido”. As desigualdades, ¢ principalmente a ampliagao das desigualdades, seriam dores do cresci- mento, tipicas da adolescéncia econdmica dos paises. E, comoaquelas, se extinguiriam quandooestagiofinal, de “desenvolvimento, fosse alcancado (2). € evidente que esse entendimento leva a uma postura passiva do Estado em relagao ao problema, sendo que o melhor a fazer para minorar as disparidades seria a promogao do desenvolvimento do pais como um todo. Ao invés de Politicas regionais, recomendar-se-iam politicas seto- riais de aceleragdo do crescimento. Essa 6 uma visdo forte de como se desdobram as desigualdades com o desenvolvimento do pais. Recen- temente recebeu novo impulso de economista intluente no mundo académico ¢ ligado ao Banco Mundial, que cunhou 0 termo “reversao da polarizagao" para referir- se 20 momento em que o proceso de crescimento ‘econémico deixa de ser concentrador de renda regional paratornar-se desconcentradordessa mesmarenda(3) Aimportancia dessa ligagao 6 muito grande, por tratar- se de instituigdo provedora de fundos para programas de desenvolvimento. Essa condigao, aliada as dificulda- des financeiras dos paises pobres, acolocatalvez como Unica tonte disponivel, pelo que a sua postura acaba definindo as politicas adotadas nesses paises. Por esas circunstncias, a idéia difundiu-se rapidamente. Tema com tamanha significagao politica dificilmen- te poderia receber forma tinica de interpretacao. Desde 08 pioneiros escritos do prémio Nobel Gunnar Myrdal e do american Albert Hirschman, na década de 50, passandopormanifestagéesdecientistas “de esquerda” ‘em suas variadas vertentes, 6 também importante a visdo oposta, divergente, segundo a qual nao sé a previsdo anterior estd incorreta-o desenvolvimento nao trard igualdade - como equivocada - tara, sim, 0 aumonto da desigualdado (4). Nessa linha de pensa- mento, a ago do Estado no sentido de contrapor as tendéncias concentradoras medidas em diregao inversa 6 controversa. Para Hirschman, por exemplo, politicas adequadamente desenhadas e aplicadas poderiam reverter 0 quadro; Myrdal, por entender que 0 estado natural dosistema éa desigualdade, aceitavaaeficdcia tempordria de politicas contrabalanceadoras, conside- rando embora que qualquer elemento novo faria com que a tendéncia natural voltasse a manilestar-se; para outros, a unica possibilidade de reversdodoquadro esis (2 Fara ura descrigho mals dotatnaca dossatnta regions no Pondmlea.Portoalsare (0) RicHaRDSON, (8 Yor AZZONI,C..Op. ely para mais detahes. ‘Séo Paulo em Perspectiva, 7(2):2-19, abriljunho 1993 na prépria reformulagao da estrutura de classes da sociedade, a via revolucionaria. Durante anos prevaleceu o pensamento segundo 0 qual 0 processo de desenvolvimento é tendente & desigualdade mas totalmente controlével com respeito ao grau de desigualdade que se poderia aceitar. A crenga na eficdcia de politicas de desenvolvimento regional desenvolveu-se, com a paralela criagdio de técnicas do diagnéstico, andlise © intervengao. Na década de 50 assistiu-se a um florescimentodeversdes com essa vestimenta, entreas quais a Teoria dos Pélos, de Desenvolvimento, Para igualar o crescimento seria necessdrio criar, ainda que no inicio com grande grau de artificiatidade, pélos regionais congregando indistri- as e atividades com grande poder de encadeamento para que, depois de atingirem uma massa critica minima, esses pélos pudessem fazer frente ao poderde compatitividade do péloconcontradororiginal, Variagdes dessa mesma linha sao 0 programa de metrépoles de equilibrio, aplicadona Franca, eo programa de cidades médias, aplicado em varios paises, inclusive no Brasil {frute da geragao de paradigmas com origem no Banco Mundial e outras organizagées internacionais, fornece- doras simultaneamente de idéias e recursos financeiros paraaplica-las).Sudene, Sudam, Sudecoeaté Sudesul, nt Brasil, séo exemplos de implementagao dessa filosofia; na Italia, 0 caso famoso 6 0 programa de desenvolvimento do Sul daquele pais; mesmo nos Estados Unidos foram aplicados programas de desen- volvimento regional seguindo essa {ilosofia. Aeticdcia das politicas de equilibrio ainda esta por sercomprovada. Seja por incapacidade na condugao de sua aplicagao, seja porequivoco quanto a interpretagao do tendmeno sobre o qual se trabalha, 0 fato é que os, resultados so timidos. No Brasil, por exemplo, onde durante mais de trinta anos 0 Nordeste vem se mantendo como alvo de politicas de desenvolvimento - algumas vezes mais articuladas, outras menos, oracom mais recursos, ora com menos, em ocasiées com articulagées politicas fortes ou em outras sem essa condigao -, continua-so a observar uma disparidado enorme nas condig6es econdmicas dessa regio com respeito ao Sul @ Sudeste. ‘Simultaneamente as politicas espacialmente explici- las, que sdo aquelas direcionadas ao desenvol do uma parcela destacada do territério, so aplicadas politicas setoriais - substituigo de importagées, pro- mogao as exportagdes, substituigao de insumos ener- géticos importados etc. - que, embora nao tenham um corte territorial definido, acabam trazendo conseqién- cias geograficas diferenciadas. Portanto, a ago simul- nea das duas ordens de influéncias governamentais 3 tornacomplexo avaliaro efeito liquide das politicas com enderego regional definido. O que se observa, no geral, 6 que as politicas setoriais, por utilizarem-se de Instrumentos mais poderosos, acabam tendo eficdcia maior, predominando sobre as outras quanto aos seus efeitos. Esse quadro complexo coloca dificuldades substan- tivas para o acordo politico de que se compdeanagao. Por um lado, as lidorangas das regides periféricas em relag&o ao centro de dinamismo econémice do sistema = 0 Sul-Sudeste no caso brasileiro - entendem que o desenvolvimento do centro da-se as custas dessa poriferia (a protego concedida a indisstria automobilis- tica paulista e mineira seria subsidiada pelos demais brasileiros, por exemplo). Por outro, no centro dinamico a queixa volta-se &s transferéncias de recursos realiza- das para a periferia através do sistema de impostos ¢ transferéncias federais. E evidente que se uma regio 6 deficitaria em termos de balanga comercial para com © resiante do pais, necessariamente deveré haver alguma forma de transferéncia compensadora em sentido inverso (5). O problema est na dificuldade em se avaliar corretamente 0 montante desses fluxos em sentidos contrarios. A unio de forgas da bancada nordestina no Congresso Nacional tem se mostrado eficiente no sentido de fazer prevalecer a idéia de que o montante das transferéncias compensatérias rumo a periferia econémicado sistema precisa ser aumentado. Por outro lado, 08 interesses setoriais presentes no jogo de pressao junto ao governo federal tém tide sucesso em fazer passar decisées que - reconhecendo que esses interesses localizados t¢m associagao direta e manites- tagbes imediatas com o interesse coletivo - conferem protegao ou tratamento diferenciado para esses casos, A questao da proporcionalidade da representagao dos estados no Congreso Nacional esta no cere dessa discussao (6). O aparecimento de manitestagdes iso- ladas, mas crescentes, de separatismoda clara idéia da dificuldade em acomodar essas visdes opostas quanto & agao do Estado em face do problema das dispa- ridades regionais (7): DinimiesEspacaide DesenvolvinentoBrasileio. SiePavo, TPEIUSP, 1986, (0) Vor NICOLAU,.€.M.Aroprosonepdopoiiicne No Brdb, Novos Estados n. 23, ino/t982 ver INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGAAFIAE ESTATISTICA 1006, por Unidades da Federagso, 1970-1905, Ro Ge Jane\o, 1901 Nesse quadro de indefinigées teéricas, inconclusi- vidade das evid@ncias © auséncia de consenso politico, a questio da participagao do Estado de Sao Paulo na economia nacional deverdser, necessariamente, tratada commodéstia. Ndopelamenorrelevancia do tema, que, como ja foi citado, desperta divorsos interesses e sentimentosnesse estado e fora dele, mas pela prépria dificuldade de se obter informacdes adequadas para tanto. Este artigo apresentard, inicialmente, um quadro do evidéncias quantitativas recentes com respeito ao movimento da participagdo relativa de S40 Paulo na produgao da riqueza nacional e, adicionando aspectos populacionais, narenda percapita do pais. Em seguida, procurard situar essa evidéncia dentro de um quadro de anélise que permita um posicionamento com respeito & pergunta formulada no titulo do artigo, ou seja, em que ‘medida poder-se-d concluir que a locomotiva da econo- mia nacional perdeu seu poder de comando S80 Paulo x Brasil: 0 que dizem os numeros Evolugao da produgio Para dar inicio a exposigao relativa a0 acompanha- mento da evolugao da parlicipagéo de Sao Paulo na formagao da riqueza nacional, sero apresentados dados referentes ao Produto Interno Bruto- PIB, acusto de fatores, para 0 periodo 1970 a 1985, com dados guingdenais. Séo informagées oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia ¢ Estatistica - IBGE (8), orga- nizadas na Tabela 1 Essa tabela revela as importancias relativas das distintas regides e estados nos 15 anos considera- dos. Para fornecer um quadro de roferéncia mais geral para esta anélise, 6 importante apontar alguns tragos importantes. Inicialmente, observa-se que a regio Norte expe- rimenta um expressive aumento na sua participaggo relativa, ampliando-a em 1,94 ponto percentual, © quo se observa fundamentalmente apés 1975. © Centro- Oeste apresenta fendmeno semelhante: acréscimo de 2,59 pontos percentuais, comacréscimo sistematico em todo operiodo. Naprimeira, destacam-seos crescimen- tos dos Estados do Amazonas e Paré e na segunda, Golds eo Distrito Federal. Essas regides, todavia, ainda que experimentando 0 crescimento destacado, assu- mom importdncia pequena em termos da geragéo da riqueza nacional: 4,28% a primeira e 6,24% a segunda, em 1985. Tomando-se agora a regio Nordeste, observa-se um aumento de 1,54 ponto percentual na sua partici- pagdo, © que é fundamentalmente explicado pelo aumento na importéncia relativa da Bahia. De fato, Pernambuco perde importancia em todo © periodo, fegredindo 0,85 ponto percentual, o Estado do Ceara osclla, diminuindo entre 1970 e 1975 para aumentar entre 1975 € 1980 e entre 1980 © 1985, situando-se neste Ultimo ano apenas 0,06 ponto percentual acima de sua posigéo em 1970. A Bahia, por outro lado, experimenta um acréscimo de 1,23 ponto percentual, ficando as demais alteragées por conta de outros estados com menor importancia em termos de PIB nacional. A regio Sul apresenta aumento de 0,65 ponto percentual no periodo, mas deve-se observar que entre 1975 e 1980 perdeu nada menos do que 1,01 ponto Percentual, voltando a recuperar posiggo no quingiénio seguinte, Essa oscilagaofoi experimentadabasicamente pelo Estado do Parana, com Santa Catarina crescendo jematicamente sua participagao. O Rio Grande do Sul Tabela 1 Participagdo de Regides ¢ Estados no PIB Nacional Brasil cresceu 0,06 ponto no primeiro quingiénio, ea partir de entdo revelou decréscimo de 0,88 ponto percentual. Ja 0 Parand cresceu 0,72 ponto percentual em sua participagdo entre 1970 © 1985, sendo que s6 no perlodo 1980-1985 cresceu 0,40 ponto percentual. Em resumo, 0 crescimento de Parana e Santa Catarina responde pelo crescimento da regido Sul, a despeito do decréscimo do Rio Grande do Sul. Finalmente, a regiao Sudeste revela decréscimo de 6,82 pontos percentuais na sua participagao na produ- 80 nacional. Dentro dessa regiao, observam-se as trajetérias de crescimento de Minas Gerais e Espl- rito Santo, enquanto S40 Paulo e Rio de Janeiro apresentam decréscimos sisiematicos. O Estado do Es- Pirito Santo experimentou crescimento de 0.45 ponto Percentual no periodo todo, tendo caido no primeiro qiingiénio. Minas Gerais cresce em todo o periodo, mas mais acentuadamente entre 1975 © 1980. Esses dois estados aumentaram em conjunto sua participa- 1970-1985 Em porcentagem Participagao no PIB Nacional RegidesEstados 1970. 1975 1380 1985 Brasil 100,00 100,00 100,00 100,00 Norte (1).. 224 222 31 4.28 Nordeste .. 12,01 11,54 12,14 13,55 Ceara . 1,50 1.38 153 1.56 Perambuco. 287 278 285 2.42, Bahia. 384 3.83 442 S07 Sudeste 65,00 63,68 62,10 58,18 Minas Gerais. 8.94 8.85 9.58 967 Espirito Santo 1,22 wn 1.50 1.87 Rio de Janeiro elated 16.07 14.66 13,33 12,78 Sao Paulo... 39.38 39,05 37,70 34,08 Sul... zs 17,04 1827 17,28 17,69 Parana 5.83 686 5.85 625 Santa Catarina aat 2,92 Bat 3st Rio Grande do Sul, 873 879 7,99 7.93 Contro-Oeste (2). 372 429 5.19 6st Fonte: Funda¢ioinetalo Grasiaro do Gaograia «Estas -180E, Gontas Nacional, 199, (Q) Exclusive o Estado de Tocantinn, om 1980 01988, (2) Inclusive» Estado de Tocanling, om 1980 81995 ‘So Paulo em Perspectiva, 7(2):2-13, abiiljunno 1983 40 em 1,78 ponto percentual no periodo 1970-1985. Ja 0 Rio de Janeiro, individualmente, perdeu nada menos que 3,29 pontos percentuais no periodo, sendo 4,41 no primeiro qdingGénio, 1,83 no segundo e 0,55 no terceiro; S40 Paulo perdeu mais, 5,30 pontos per- centuais, sendo 0,31 no primeiro quinqiénio, 1,35 no segundo € 3,64 no terceiro, Esses nimeros parecem revelar que o ritmo de redugao na participagao relativa do Rio de Janeiro esté diminuindo, enquanto o do Estadode Sao Paulo estariaaumentando. Quantoaeste Ultimo estado, dados mais recentes s4o apresentados a seguir. Para periodo mais recente, so utilizadas as estimativas do PIB a custo dos fatores realizadas para Estado de Sao Paulo pela Fundacao Sistema Estadual de Andlise de Dados - SEADE, para 0 periodo 1980 ¢ 1991, baseadas em dados preliminares, sendo que para este ultimo ano trata-se de previsées. Essas cifras se- ro comparadas com as estimativas do IBGE para o Brasil, no mesmo periodo. Os dados referentes a par- ticipagao relativa de Sao Paulo no PIB brasileiro e na produgéo dos demais estados da Federagao estéo dispostos na Tabela 2 @ no Gralico 1. A primeira observagao a ser feita, antes da anal se dos resultados, refere-se & disparidade entre as Tabela 2 Participagao @ Evolugdo do PIB Paulista em Relagao a0 PIB Nacional e ao PIB dos Demals Estados Brasil 1980-91 Participagio (%) Evolugdo (1) Anos ‘So So Paulo/ Paulo! Demais Brasil Sfo Paulo Demals, Brasil Estados Estados 99,90 66,40 100,00 100,00 100,00 98,90 63,70 95,54 93,18 97,11 40,00 68,70 96,06 95,32 95,88 99,50 65,00 97,74 91,85 93,89 3920 64.40 97,61 95.81 98,81 38,90 63,80 105,38 102,84 107,03, 38,60 62,60 119,97 109,64 115,84, 3780 59,90 117,44 110,25 122,21 3660 57,80 117,32 107,73 123,68 36,80 58,30 121,16 111,80 127,99 36.30 57,00 115,85 105,99 122,79 35,90 55,90 116,94 105,07 124,82 Estatstea “1805 porcentagons observadas em 1980 © 1985 © as an- teriormente apresentadas. Por tratar-se de fontes distintas, ndo se procurara conjugar as duas andlises, mantendo-se a andlise do periodo 1980-1991 isoladada anterior. Acredita-se, todavia, que mesmo com essa limitago os resultados so informativos o suficionts para justilicar a sua apresentagao neste texto, notada- mente por cobrirem periodo recente. Na Tabela 2 apresentam-se os indices de evolugao do PIB de Sao Paulo, dos demais estados e do Brasil para 0 periodo 1980-81, tomando-se como base 100 0 primeiro ano da série. Como se observa, ¢ necessari- amente isso deveria ocorrer, tendo emvista as analises anteriormente apresentadas, o Estado de Séo Paulo apresenta um crescimento do seu PIB da ordem de 5%, enquanto os demais estados acrescentam cerca de 25% ao valor real da sua produgao no periodo. Eviden- temente, a diferenga entre os dois grupos diminuiu no periodo, o quo gorou os resultados anteriormente apro- ciados. No agregado, a produgao brasileira croscou cerca de 17% durante a década Como se observanatabelaenograticocitados,com excegdo dos trés primeiros anos, em que houve inclusive um aumento na participago de Sé0 Paulo, registra-se uma perda quase continua na importancia Gratico 1 Participacdo do PIB de S30 Paulo no PIB Nacional eno dos, Demais Estados Estado de Séo Paulo 1980-91 Em porcentagem — sPiDe ——sPiBR Anos 80 81 62 85 64 05 65 7 Be 89 90 61 Fonte: Fundagie Sistema EsagustdeAndixedeDades-SEADE: Fundegsolnttule ‘tases do Goopraliae Eetatisea»18GE Tabela 3 Participagao do PIB Paulisté no PIB Nacional, por Selores de Atividade Estado de Séo Paulo 1980-91 Em porcentagem Participagao do PIB Paulista ‘Anos Total Agrope- Industria Indistria_Ind.Trans- Construgio Servigos cuéria __Geral_—_—Extrativa _formagdo__Civil 1980... 39,9 13,2 475 39 54,7 21.8 413 1981. 38,9 13,6 46,9 40 53.6 40,2 1982 40,0 13.8 474 3.9 53,8 16 1088. 39,5 14,9 46,1 3.3 53,5 410 1984 39,2 144 15.8 25 53,7 41,0 1985. 38,9 14,3 45,7 24 535 40,9 1986 38.6 13,4 45.7 25 525 40,4 1987... 37.5 144 44,2 24 52,5 38,6 1988 26.8 12,6 442 24 52, 37.2 1988 36.8 12.2 44,0 23 52.2 377 1990 ss 36,9 19,1 43,3 24 51.8 36,9 1991. 35,9 13,1 43,1 2.0 514 36.2 dese Estado na produgao nacional. Partindo de cifras em torno de 40% em 1980, chega-se em 1991 com 35,9%: S40 4,0 pontos percentuais em 11 anos, sendo 3,0 entre 1985 @ 1991, 0 que, embora parega menos dramético do que o ritmo revelado pela tonte anterior de dados, representa uma perda muito significativa Comparando com os demais estados da Federagao, observa-se padréo semelhante de variagéo, com por- centagens necessariamente maiores. Na Tabela3aparecemos dadosreferentesa partici- pacdo paulista, por setor de atividade, no PIB do Brasit, também representados no Grético 2. Esses dados revelam a predominancia do setor industrial, no qual a participagdo paulista inicia com 47%, em 1980, e ter- mina com 43%, em 1981. Nesse setor, a inddstria de transformag&o destaca-se, com quase 55% em 1980 51% em 1991, com uma perda de 3,33 pontos per- centuais. O setor de servicos apresenta perda propor- cionalmente maior, de5,11 pontos percentuais, enquan- to a agropecudria registra queda muito pequena. Os setores de construgao civil, com perda de 3,44 pontos percentuais, edeextrativa mineral, comredugaode 1,94 Ponto, também registram perdas importantes. Resumindo as evidéncias relativas & produgao, tanto os dados referentes ao periodo 1970-85 quanto 08 referentes ao periodo 1980-91 revelam claramente 2 porda da importancia relativa do Estado de Sao Paulo na economia nacional, perda essa presente em todos 08 setores de atividade, com excecdo da agricultura, Sao Paulo om Perspectiva, 7(2):2-13, abriljunho 1993 ‘Araize 6 Dados - SEADE; Fundagt Inu Baloo (Googie Estatstea IBGE, Grético 2 Participagio do PIB deSSo Paulono PIB Nacional, porSetor de Atividade Estado de S50 Paulo 1980-91 — Agropecuaria — = Construgso o » Exiragdo Mineral + Servigos. te Transtormagao Em porcentagem 060 0.50 oa 00 020 0,00 8 81 62 03 6 85 86 G7 Ga 8D G0 OF Fonte: FundapsoSistemaEstedualdeAnticode Dade brasate go GeograinExistisiea = IGE -SEADE:Fundagtolnstvie Evolugao da renda per capita Adécada de 80 trouxe consigo mudangas importan- tes nos movimentos demograticos até entdio observa- dos. Aredugdoda taxa de crescimento folumfatoquase que geralmente registrado em todas as unidades da Federag&o. OEstadode Sao Paulo, até 1980umgrande receptor de imigrantes, notadamente a sua capital ¢ Regio Metropolitana, perdeu atralividade. A Capital cresceu muito pouco, tendo experimentado pela primel- ra vez aldo migrat6rio negative (9). Fecundidade em queda, menor tamanho de familia, entre outros, so novos aspectos que ainda estao por merecer andlise mais acurada e certamente receberdo a atengao dos espocialistas no assunto tdo logo os dados completos doCensoDemogratico de 1991 sejamdivulgadosna sua totalidade. Nao sendoointeresse deste artigo tratardaquestao domogrética especificamente, 6 importante todavia registrar a presenca dessas alteragdes em tendéncias Especiticamente, o aspecto demogréfico passa a inte- ressar'nesta andlise através da evolugao da renda per capita, oque seré feito com referéncia ac periodo 1980- 91. Esta iltima variével, como se sabe, tem suas variagdes definidas pelas variagSes no PIB e na populagao regionals. Quanto & primeira varidvel, jd se discutiu anteriormente @ evolugao da participagao de $40 Paulono total nacional, Aquisera apenas oferecida uma sintese da evolugao do indice comparativo desse estado com os demais ¢ com o Brasil isto 8, S40 Paulo © demais estados) Na Tabela 4 aparecem os numeros referentos & evolug&o da renda per capita em Sao Paulo, nosdemais estados e no Brasil, nos quais se baseia 0 Gratico 3 Como se pode analisar, a evolugae da renda per capita em S&o Paulo fol bem inferior & dos demais estados, embora 0 perfil da evolugao ao longo do tempo seja semelhante. Até oanode 1983 todos observaram queda de renda per capita e entre 1984 © 1986 todos observaram elevagao nossa ronda. A partir desse ano, S40 Paulo inicia o descenso, moderadamente até 1989, acelerando-se a queda a partir dai. Os demais estados, por outro lado, continuam a crescer até 1989, somente entio iniciando © descenso. Todavia, mesmo decaindo no final do periodo, conseguem termind-Io em patamar ligeiramente superior ao observado em 1980, enquanto {@ Para maiors denne, ve FUNOAGAO SISTEWA ESTADUAL OE ANAUISE DE DADOS - SEADE. Onse {sid Sto Paulo. Ae Pesaoss, » Produc, or Munlciplon Tabela 4 Participaeao e Evolugao da Renda per Capita Paulista na Renda Nacional e na Renda dos Demais Estados Brasil 1980-91 Partcipagao (%) Evolugso (1) Anos Sto Sdo Paulo! Paulo’ Demals Brasil Sdo Paulo Domais Brasil Estados Estacos 1380 190 2.49 1,000 1,000 1,000 $981 1,86 2,090,097 0,818 0,953 1982. 190 2,490,924 0.925 0,928 1983 187 2,480,876 0,864 0,882 1984 on (1.85 2,41 0,904 0,883 0.917 1985. 185 2,37 0,957 0,928 0,974 1986 une 1,82 2,881,011 0,970 1,095 1987 ne “7B «2.21 1,027 0,955 1,071 1OBB inne (172-14 1,008 0,815 1,084 1989 173-218 1,020 0,990 1.076 1990 ae 17110987 0,859 1,017 1991 188 205 0,947 0.898 1.016 Fonte: FurgapioSistoma.stadualde Andee seDacoe-SEADE;Funangsolnsiuta no caso paulista a posigdo final é cerca de 1% interior a inicial, em 1980 Essa ultima conclusdo pode ser melhor observada na mesma Tabela 4, da qual destacaram-se as in- formagées que compsem 0 Gréfico 4, referentes & rolagdo entre a renda per capita paulista e a brasileira Em 1980, Sao Paulo exibia uma renda per capita 1,8 vez maior do que a média nacional, relagao essa que caiem 1981 para1,75, masretornaem 1982 a0patamar A partir de- entéo, registra-se uma queda persistento, comarenda percapitafinalsituando-se em 1,88 vez a média nacional. Note-se que a tendéncia de queda jd existe anteriormente: em 1970, a renda per capita paulista ora‘o dobro da nacional; om 1975, esta relagao j era de 1,95. A relagdo com a média dos demais estados @ necessarlamente maior, preservan- do-se 0 sentido e 0 perfil da variagao. Em resumo, 08 paulistas ficaram comparativamente mais pobres durante © periods analisado, embora 0 nivel de renda per capita observado no Estado seja ainda muito maior do que o registrado nos demais inicial. Gratico 3 Evolugée do PIB per Capit Estado de So Paulo, Brasil e Demais Estados 1980-91 a indice: 1980 = 100 _— Sao Paulo lL p\ eae i 0,800 aes 50 61 82 83 66 85 86 87 G8 89 90 91 Fonte: FurdapsoSistomaeet laDados-SEADE:Fundagintiute Basler de Guogitia Estetica = OGE. estados brasilelros (10). Considerando as duas moda- lidades de informagéo apresentadas, que tipo de previsdo se pode fazer a respeito do poder econdmico de atragdo do Estado de Séo Paulo? E sobre essa questo que versa a préxima sogao. © significado das informagdes apresentadas Na segao anterior apresentou-se um quadro gené- rico no qual se observa claramente a perda do poder econdmico relative do Estado de Sao Paulo nocontexto da economia nacional. Essa porda relativa atinge também a comparagao da renda per capita entre esse estado e os demais. Cumpre agora avaliaro significado desses ndimeros em termos da detinigao do papel futuro do Estado em termos da economia nacional, Estaremos diante de um processo de esvaziamento econdmico paulatino ou de uma reformulagao da forma como esse estado exerce sua lideranga no pais, em termos econdmicos? (Go) Emperor embrar que a ends per espita como indeador de condigoes de ‘daignoraconpletamectsadistatuigiods enaastize pescossdeummesme ‘stag, Esse aspeco, pr up a0 oscopo a ania, ado Ser Watago masta HOFFMAN RO ince de desigualdade de Thei-Atingon Revista Brasilien Sao Paulo em Perspectiva, 7(2):2-13, abriljunho 1993, Grético 4 Relagao da Renda per Capita de SSo Paulo com Brasil ¢ Demais Estados Estado de Sao Paulo 1980-91 Relago 280 SP/BR — — SPIDE 2,20 1.90 1.60 Anos 80 81 62 83 84 85 85 87 BB BD 90 OF loDadot- SEADE:Fundseto nstuto rasliro do Geograia Estates IBGE A amplitude geogrética da desconcentrag#o Preparando o terreno para observagbes que viréoa seguir, cabe apontar alguns aspectos relevantes dos ndmeros observados. Em primeiro lugar, o crescimento dos estados do’ Norte, Nordeste e Centro Oeste é desigual, ou seja, o aumento da participagao relativa dessas regides na produgéo nacional dé-se com aumento das desigualdades internamento a essas regides. Em segundo lugar, conforme mostra a Tabela 5, a regio mais proxima do centro de dinamismo econdmico tradicional do pais, quando considerado 0 recorte geogrético compativel com a visdo teérica que se exporé a seguir, praticamente mantémototal de sua participagao relativa. Observando-se a tabela, constata-se que a pari pagdodosestados préximosaSa0Paulo, deles excluido aes anterior ao periodo analisado e tem causas muito distintas daquelas que aqui serao apontadas, cresceaté 1975, passandoadeclinarapartirdesseano:0,84 entre 1975 © 1980 e 3,05 no periodo seguinte. Essa perda 6 praticamente aquela apresentada pelo Estado de S20 Paulo. Somando-se a esses estados a Bahla, cujo crescimento € fundamentalmente explicado pelo pélo potroquimico, constata-so uma porda muito menor, da ordem de 1,28 ponto percentual. de Janeiro, cujo declinio econémico é muito Tabela 5 Participagao de Alguns Estados no PIB Nacional Brasil 1970-1985 Parlcipagao no PIB Nacional Rogito 1970 1975, 19801985 SP+MG + PR HSC 86,00 87.08 58,54 59,49 Idem +BA... 59364 6121 60,96 58,58, Como esses dados referem-se ao Produto Interna Bruto em geral, englobando todos os setores, e os estados destacados assumem especial importancia no setor industrial, fica a davida quanto ao resultado que se obteria so so considerasse apenas a indistria de transformagao. Talrefinamentonaoserdrealizadonesta oportunidade, mas fica a idéia para futuras investiga~ 5es. O ponto que se quer enfatizar nesta segao é que a amplitude geogratica da desconcentragdo, notada- mentenosetorindustrial, é muitolimitada. Basicamente, so os estados vizinhos os principais beneficiados com a perda da importancia relativa desse estado. Isso 6 mais fortemente verdadeiro no referente ao setor industrial, conforme se destacard a seguir. De fato, quando se analisa a evolugdo da produti- vidade da mao-de-obra, dos niveis salariais e da lucratividade da industria de transtormagao no periodo 1970-80, observa-se que os estados que apresentaram melhoria comparativa, em termos de produtividade e lucratividade, foram exatamente os destacados na Tabela 5, Esses resultados, ainda que se referindo a periodo jé distante no tempo, reforgam aidéia que aqui se expde (11). A natureza das transformagdes: 0 setor industrial (12) Paraoentendimento da evolugaodasdesigualdades regionais no pais, a consideragao do setor industrial, (12) Emovitosestudosnossostoramreaizaes prosesso que enaja a velicapo dos esuados antenna odo querestetertoaperastarsspreseiadoembrevesunaiodgarqumens. Walacesastines poser jos em AZZONI C..Op. et (1885) (13) AZZOM,G.A.Teoringstoeslaagdo, Uns anlizerieaEnsalosEzonemices ho Pavio,IPEIUSP, 19,1982, 10 notadamente a industria de transformagao, & da maior relevancia, Trata-se, na verdade, do setor com maior mobilidade territorial potencial, quando comparado com osdemais setores deatividade econdmica. Aagricultura tem vinculos muito fortes com condig6es climaticas, qualidade do solo, topografia etc. que, ainda que possam ser tratados através de equipamento, corro- tivos de solo, fertilizantes etc., limitam o movimento das culturas. O setor de mineracdo 6 evidentemente vin- culado as fontes dos recursos minerais, nao havendo praticamente liberdade para a escolha locacional dos produtores. Finalmente, comércioe servigos tm vincu- lagao direta com populagao e renda, desempenhando papel mais passivo no proceso. Assim, esse setor é destacado nesta anélise. Fundamentalmente, a evolugdo tecnolégica, em sentido amplo, tem tornado os setores industriais mais livres paraescolherem suas localizagdes. Produtos mais leves, commenor volume, menorutilizagéiode materiais, processos de produgio padronizados - pormitindo 0 uso de m&o-de-obra menos quatificada, possibilidade de controle da produgaoadistancia-intormatica, telematica, avango na tecnologia dos transportes - tanto nas vias quanto nos meios etc. séo novidades que permitem as fAbricas buscar posicionamento mais econémico fora dos centros urbanos tradicionais. Nesses, os custos de aglomeragao alcangam niveis comparativamente muito alios, tendo em vista a valorizagao do espago, niveis salariais elevados, agao sindical mais intensa, con- gestionamentos etc. (13). Ao mesmo tempo, a infra- estrutura basica praticamente se homogeneiza na regio mais rica do pals, fazendo com que as diferen- gasemcustos defatoresndonecessariamente sefagam acompanhar por diferengas - em sentido contrario - na qualidade dos insumos ofertados. Em conseqdéncia, as Inddstrias que agora podem com maior facilidade bus- car novas posigées para localizar suas unidades produ- tivas, sem que isso implique mudanga simulténea da sua unidade de comando, encontram um terreno fértil em face da boa qualidade da infra-estrutura disponivel nas cercanias da tegido tradicionalmente motora do desenvolvimento nacional. Esse processo tem revelado inicialmente uma am- plitude geografica limitada, com as unidades produtivas buscando areas nao-centrais das grandes cidades. E a chamada suburbanizacao da inddstria. Mais adiante, ‘esse movimento alcangou inclusive outros paises, na busca de méo-de-obrabarata. No Brasil, observa-se um movimento especialmente forte nas cercanias do Esta- do de Sao Paulo, De fato, na década de 60 observou- se uma perda da importancia relativa do municipio da Capital; na década seguinte, a prépria Regifio Metropo- litana perdia f6lego; posteriormente, localidades mais distantes do Interior passaram a experimentar os {rutos desse movimento dos fatores econdmicos. Nos estados vizinhos a Sao Paulo observa-se essa mesma caracteristica. Resumindo 0 argumento: a localizagao da produgao tem encontrado maiores graus de liberdade. Essa liberdade fica ainda mais ampla quando se considera a possibilidade de que a produgZo, pode ser espacialmente separada das decisdes impor- tantes da empresa, via localizacao de escritérios em Pontos diferentes do espago. Com esse artificio, uma unidade produtiva pode afastar-se da drea urbana sem perderas vantagens da localizagao central: a perda em termos de custo de transporte de bens e pessoas ndo seré téo grande e a perda em termos de custo de “transporte de idéias" (14) pode ser mi grandes problemas. “Essa atragao ¢ tanto mais eteliva quanto menos dependente das forgas aglomerativas regionals for 0 estabolocimonto. Um primeiro caso seria constituide por estabelecimentos de porte consideravel, na medida em quepodem“fornecer" internamentepartedaseconomias obteniveis externamente para estabelecimentos meno- res. Outra é a situago das subsididrias, filiais ou membros de grupos de empresas. Nesse caso, as vantagens de ordem regional podem ser obtidas pela localizagao do escritério no centro urbano principal, ou mesmo no exterior, deixando-se a planta aproveitar toda a vantagem locacional liquida das localizagses afastadas da metrépole. O caso extremo desse tipo de companhia é a subsididria de empresa multinacional, uma vez que todos os contatos e o que se denominou “transporte de idéias" sdo feitos nas esioras superiores de decisdo, restando ao estabelecimento simplesmente “produzir’ Dadas as allas taxas de crescimento populacional © industrial evidenciadas nas areas tradicionais de inamismo econdmico no Brasil, vale dizer, o alto crescimento da demanda pelos insumos urbanos em geral, econsiderando-searelativarigidez dasua oferta, parece inevitdvel o crescimento dos custos locacionais ‘em dimensdo importante. Tomando em conta a existén- cia de centros urbanos de porte consideravel em pontos: internosaos camposaglomerativos dessascidades,com © nivel de atragao suficiente © sem os custos loca- cionais da rea urbana maior, parece Idgico que as imizada sem (09) Para una eaposiao deste cones, vor: (1s) Esra toma ¢ dizcute exensivamente em AZZONI, C.A, Op. cl (1993) (U0) AZzOMIG.. Op el (1988). cap. 2, cusunvotve 6580 porto. {in} RZzON 6.8. Ope (1905) cop. explora extenshamonte se argument So Paulo em Perspectiva, 7(2):2-13, abrilunho 1993 ‘empresas tenham preferido areas periféricas das regi- Ges metropolitanas em um processo de suburbaniza- 0 da inddstria e da populagao, em um primeiro momento, mas posteriormente ampliando sua 4rea de penetragao para distancias maiores. Evolugao tecnolégica e concentragéo industrial (15) Que tipo de evolugao pode-se esperar dos requis tos demandados pelo setor produtivo ao longo do tempo? Como esses requisitos podem vira diferenciar- se ontro as rogides? Especialmente no caso do setor dustrial, principal motor da evolugao diferenciada das regides nos ultimos tempos (16), como a mudanga nos métodos produtivos e as demais inovagdes afetam as. necossidades quo as unidades produtoras tém de condigdes de localizagao? Em se¢aoanteriorapontou-se oimportante papeldo devenvolvimento tecnoldgico em termos de tomar o sotor industrial espacialmente mais livre, Um ponto crucial 6 que esse progresso tecnolégico nao ocorre uniformementenoespago, atingindo diferencialmenteas distintas porg6es do territério. Os grandes centros industriais ainda continuam sendo as principais “incuba- doras” de empreendimentos, notadamente os industri- ais. A presenga na proximidade desses centros & fundamental para a absorgao das inovagdes e atualiza- 40 dos conhecimentos, tanto a nivel das tecnologias como das oportunidades de negécios. Por outro lado, em torno a esses centros existem oportunidades de localizago com custos razoavelmente baixos, j& que esses estio relacionados fundamentalmente com 0 tamanho urbano (17). Dessa manesira, existem espacos econdmicos disponiveis para a expansao das dreas, cenirals mais desenvolvidas compativeis com 0 dilerencial de progresso técnico nelas observado, em relagko & periferia econdmica dos paises. Nosso contexto, os custos mais elevados das areas centrais acabam n&o acarretando uma fuga de investimentos dessas dreas, dado que as demandas locacionais das empresas variam qualitativamente com 0 tempo, de forma que essa regido continua sendo competitiva com as demais. Nos paises menos desenvolvidos, todavia, a obten- $80 de niveis minimos de economias externas, qualifi- cago da méo-de-obra, aptidao para o trabalho em linhas de montagem, oferta minima de infra-estrutura etc. acaba ocorrendo apenas em alguns poucos pontos do territério, exatamente os grandes centros urbanos consolidados, simultaneamente 0 centro industrial des- ses paises, Ou seja, essa desconcentragao a nivel ‘mundial significa concentragao nos paises hospedeiros 1 desses empreendimentos. Apenas com o passar do tompo © com o aumento significative da ‘massa’ de produgdonessas éreas centrais 6 que haveria um ini de desconcentragdo, 0 que s6 ocorreria apés um razoavel grau de concentragao nos estagios iniciais Resumindo 0 argumento até aqui apresentado: a evolupao tecnolégica, a nivel mundial, tem oferecido oportunidades para que as unidades produtivas se instalem em paises do Terceito Mundo; nesses paises, as iinicas localizagdes possiveis inicialmente situam-se junto ao centro industrial tradicional, o que faz.com que experimentem aumento no nivel de desigualdade regio- nal; com o desenvolvimento e ampliagao da ‘massa’ aglomorativa nesses centros, e consequente desenvol- vimento de deseconomias externas, outros centros nesses paises poderdo vira crescer a taxas superiores &s observadas no centro tradicional, caracterizando assim a reversao da polarizagao. Na literatura com respeito as inddstrias de “alta tecnologia’ e a “produgao flexivel" encontram-se defen- sores da idéia de que 0 progresso técnico pode levar @ uma maior igualdade da distribuigdo das atividades produtivas no ospago, jd quealégica da locelizagaodos parques tecnolégicos seria totalmente diferenciada da \égica da localizagao das atividades industriais tradici- onais. Essas atividades procurariam centros université- ries de exceléncia, clima ameno, etc. ao invés dos fatores aglomerativos procurados pela produpao indus- trial tradicional. A experiéncia, escassa, de alguns paises desenvolvidos tem sido citada em favor da tese; a extensdo para o Terceiro Mundo tem sido feita sem 08 cuidados necessérios (18) A esse propésito, P. Haddad oferece andlise escla- recedora, separando as atividades produtivas segundo a utilizagdo de tecnologia © procurande associar os diferentes requisitos locacionais dos distintos gru- pos (19). Sua conclusao aponta para a manutengao da tendéncia concentradora no global, dada a pequena importancia quantitativa das atividades intensivas em desenvolvimento tecnolégico e 0 comportamento nao diferenciado, em relagdo as demais atividades produti- vas, das atividades com grande utilizagao de insumos tecnolégicos intensivos. Da mesma maneira, C. Diniz aponta que o crescimento industrial no Brasil vem (05) LIPIETZ, Ae LEBORGNE, .Nuovastocnologas, nuevas toras de reguscién algunas conseevencias ezpaciales, Em LLORENS, F. sls Revolucion ios_v Reesirucluracion Proguslia: inpactesy Desaloe (09) HADDAD, PR. Los pattones (21) tae, bide, p28, 12 ocorrendo pela “..assimilagao @ absorpao do avanco tecnolégico dos paises industrializades, e neste caso a tendéncia é que a assimilagso se laca nas dreas mais desenvolvidas, reforando a concentrapa0"(20). Anali- sando as experiéncias de ‘parques tecnolégicos’ no Brasil, Diniz conclui: “As experiéncias bem sucedidas indicam que, caso seja possivelmantera expanso das atividades tecnologicamente modernas no Brasil, estas tenderiam a se aproximar da drea mais industrializada do pais, vale dizer do estado de Séo Paulo e de seu entorno, podende estender no corredor Belo Horizonte- Porto Alegre" (21) Ainda que nao se tenha feito uma andlise exaustiva do aspecto evolugao da tecnologia e de comoestaateta diferenciaimente as distintas regides do territério naci onal, foramoferecidas algumas indicag6es significativas de que 0 desenvolvimento observado nessa 4rea nao autoriza nenhuma conclusdo no sentido de que as tendéncias locacionais desses setores possam dife significativamente das tendéncias concentradoras ob- servadas até o presente. E essas tém indicado um avango mais acentuado na 4rea industrial tradicional do que na periferia, O que é necessério considerar, como destacado anteriormente, & que a amplitude territorial do centro tradicional agora deve ser entendida mais amplamente. Industrializagdo e desenvolvimento no interior do pais A luz das informagées @ das considoragées aqui desenvolvidas, que tipo de inferéncia se pode fazer sobre o futuro da industria no interior do pais ? Existe razo para um entusiasmo generalizado para todas as regides? Ou as regides que esto fora do eixo principal da acumulagao de capital, notadamente no setor industrial, deverao continuar contando com fontes @ potencielidades locais de desenvolvimento industrial, fundamentalmente vinculadas & agroinddstria e ao Processamento de seus recursos naturais? Conforme se expés, 0 processo de alteragao na participagao relativa dos estados no total industrial nacional 6 um fato, mas que tom seu Ambito espacial reduzido territorialmente. Dessa maneira, a porda relativa do Estado de Sao Paulo (contrariamente a do Rio de Janeiro, cuja dinamica tem outras explicagdes, que fogem ao escopo deste trabalho) esta longe de signiticar um esvaziamento econémico potoncial de sua economia. O processo quese observa, damansiracomo foi visto neste texto, indica mais uma transtormagao - marginal ainda -na forma como se exerce a hegemonia do grande centro industrial nacional: a produgéo se dispersa ~ por uma dist&incia limitada, todavia» mas a decisao, 0 poder de mando, o efeito catalisador, © ambiente inovador, os servigos essenciais de ordem superior, esses continuam concentrados na grande metrépole nacional. © processo de desconcentragio tem efetivdmente uma dimenséo de espraiamento das unidades produti vas por uma érea geogratica mais extensa do que a tradicionalmente ocupada pela indisiria nacional. Na regido mais préxima da Grande S80 Paulo, em fun¢ao do poder de atragao dessa drea, municipios de todas as faixas de tamanho serdo beneticiados. Nas regiSes mals afastadas, mes ainda no ambito do campo aglomerativo do centro industrial tradicional, as empre- sas necessitarao com maior intensidade do um nivel minimo de servigos urbanos, 0 que sé pode ser conseguldo em cidades de porte consideravel ‘Como conseqiiéncia, pode-se prever um adensa- mento ainda maior da rea mais préxima da Grande Séo Paulo, atingindo disténcias de até 150 km, notadamen- tenos seus principais elxos rodovidrios. Paralelamente, Minas Gerais, notadamente no sul do Estado, ¢ Parana, no eixo ligado a Curitiba, continuardo beneficiando-se do processo de espraiamento da produgéo, principal- mente pelo fato de que as condigées locacionais favordveis da regio pode-se somar uma agao decidida ® eficaz (posto que vinculada a um proceso econdmico subjacente). Esse proceso tenderd a atingir quase que unicamenteas grandes cidades desses estados, notada- mente suas capitais regides metropolitans (o sul de Minas disp6e do condigées especiais, pela proximi- dade a érea metropolitana paulista, © que 0 coloca em destaque). Essas areas poderao compensar, pelo seu porte, as desvantagens decorrentes da distancia ao centro nervoso da industria nacional (© quadro que se forma, portanto, ¢ o de uma ampliagao da *mancha industrial", em termos geograti- cos, sem, contudo, que se criem pélos alternativos, independentes, capazes de ganhar vida auténoma a partirda obtengao de uma massa eritica minima. Trata- se apenas do fato de que o centro industrial nacional tem 0 seu niicleo ampliado, territorialmente, exercendo a mesma forca centripeta em relagao a novos Investi- mentos industriais, os quais procuramos espagosvazios em que podem fugir das desvantagens locacionais dos grandes conglomerados urbanos, sem precisar abrir mao das antagens aglomerativas, essas atualmente quase uma ubiqtidade no campo aglomerativo em consideragao Nesse contexto, as possibilidades das comunidades do Interior dependem da maneiracomo elas se engajam Sao Paulo em Perspectiva, 7(2):2-13, abrijunho 1993 esse processo maior, nacional, de desconcentragio industrial limitada. Pequenas cidades proximas do centro nervosotém grandes possibilidades de desenvol- vimento industrial. Todavia, aquelas que distanciam consideravelmente desse centro (mais de 300 km) terdo, Seu desenvolvimento industrial mais voltado para os recursos locais, via agroindistria, atividades ligadas a recursos naturais ¢ atendimento a mercados regionais de produtos tradicionais. Grandes cidades compensarao a dificuldade da distancia com a atratividade do seu tamanho, Considerages finais Portanto, ainda que se observe uma perda impor- tante da participagao relativa da economia paulista no pais, em termos quantitativos, a natureza do fenémeno observadonao permite concluirque opodercentralizador dessa economia possa estar se reduzindo. A sua manifestago no espago 6 que se diferencia com o tempo. Em termos dos setores agricola, agroindustrial, de minerag&o e similares, ¢ natural que haja uma expansdo na busca de novas areas e fontes, Nesses casos, necessariamente outras unidades da Federagaio aumentarao suas participagdes. Quanto a industria tradicional, igualmente mas em menor escala, pode-se observar 0 mesmo fendmeno, porém com amplitude geogralica distinta. Quanto aos setores dindmicos da economia, todavia, soja na area produtiva, soja na do servigos - financeiros, informatica, pesquisa edesenvol- vimento etc. -, nao se deve esperar um espraiamento maior, pelo menos no horizonte que se pode divisar no momento. Ainda que se tenha concluido pela manuteng&o do status de locomotiva da economia nacional para o Estado de Sao Paulo, agora porém com roupagem distinta da observada no passado, nao rosta divida de que os desdobramentos quantitativos do processo descrito causam preocupagdes quanto a este estado e despertam expectativas positivas nos potenciais benefi- cidrios da desconcentragao limitada observada. Do ponto de vista da arrecadagao tributdria, por exemplo, asconseqdénciastendema serimportantesparaosdois lados, com sentido contrario, evidentemente. E quanto as grandes disparidades regionais observadasnoBrasil, principalmente entre o Norte/Nordeste/Centro-Oeste eo Sul/Sudeste, infelizmente nao ha indicios, de acordo com o entoque aqui adotado, de reversao no processo, ‘exceto marginal e localizadamente. a 13

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