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ARISTOTELES E A SISTEMATIZAGRO DO SARER FLOSOFICO. 2. O bem supremo do homem: a felicidade Nas suas vétias actes. o homem tende sempre a precisos fins. su. se_configuram coma hens, Assim comega a Erica Nicomaguéia: Toda une © toda pesquisa e, do mesmo moda, toda aco © oo pasta Barecem visaraalgum bem: por iso, com razdo,.0 bein fol definida coma ~Hauile a que tendem tadas ax coisas’. Ora, bé fins © bens que nés queremos em vista de uiteriores fins ‘St | © bens © que, portanto, sZo fins ¢ bens celativos: mas, sendo impen-, ‘sével_um_provesso que leve de fim om fim e de tem em.hem 20. infinito (lal proceso destrifia até mesmo os proprios conceitos de | Bem-e de fim. os quais implicam estruturalmente um uamo), devemos sar 0 oo funedo de um fim ditimo e de um ber supremo, Precisa 0 Estagria: —Se hil fim das nosss ages que queremos por se mesmo, enquanto os outros os queremos s6 em vista daguele, e no desejumos nada em vsia te our cose particular (asim, de Fata, fama 20 nin, de moo que. 4, Erioa Nlemagutia, A 2, VOB4 8 28-b 2. 5. Ross, Aristerele,p. 230, 6, rica Nicomaquéia, A, 1094 8 13, or nossa tenia sera vari ein, € claro que este deve sero bem co bem —auprencl Qual é esse bom supremo? AristSieles nfo tem dividas: taxlos os. + homens, sem_distine#o, considéram que tal bem 6 2 eudaimonia, ay “sein. felicidade: Quanto 20 seu nome, a maicria esté prticamente de acordo: felicidad 2 chamam, tanto o vulgo como as pessoas cutas, supondo que ser feliz ‘consist em viver bem e em ter sucesso Portanto, a felicidade € o fim ao qual conscientemente tendem todos os homens, Mas que 6 a felicidade? ‘Vejamos mais de perto esto ponto, que ¢ essencial 7 A multidio dos homens considera que.a felicidade consiste no 3 £ prizer e no 2020, Mas uma vida dedicada aos prazeres toma “seme- = © Ihante 20s eseravos” ¢ € uma “exisifncia digna dos animais”. - s-pessoas mais evoluidas e mai em o bem supremo & a félicidade na honra, E a honra buscar, sobretado, aqueles que se dedicam ativamente & vida politica. Contudo, este nao pode ser o fim | ‘time que buscamos, ‘Aristteles, € algo exterior: —Hle, defn, parece depender mais de quem confeze» bona do que de | uci. é-hoarsin: nos, a0 invés, considerumce que.o bem é alge individual | ‘Ademats, os homens buscam a honra aio por gle mesma, mas_ <~~ como prova.¢ recomhecimento pablico da sua bondade e virmude, as on aa weak Se 0 tipo de vida dedcado ao prazer e-o dedicado 2 busta das honras,eraborainadequados plas razdes vistas, ém uma aparente | Plausibilidade, 0 mesmo nfo se pode dizer do_tipo de vida dedicado. B 4 acummular iquezas.0 qual, a juiz0 do nosso Toso, alo tem nem | 2 Sequer essa aparente plausibiidad: f A vida (..) dedieada a0 comércio € contra a natureza, e & evidente que 2 riqueza nio € o bem que buscamos; com efeit, cla s6 existe em vista do. -_tuero ¢ € um meio para outs coisa! 1. Ete Nicomaguéia, A 2, 1094 2 18-2. 8 Eien Nicomapudio, A 4, 1095 4 17-20, 9, fea Nicomaguala, A 5, 1095 b 19s, 10. Etta Neomaquéia, A 5, 1095 b 24-26. 11 Bea Nicomaguéia, A 5, 1096 a 5-7. ARISTOTELES E 4 SISTEMATIZAGAO DO SABER FILOSOFICO | De fato, prazeres ednonra>sto buscados por eles mesmos; as riquezas ndo: a vida dedicada & acumular riquezas & a mais absurda [amas mua, pou € asta pra buscar coisas que, nom Se, de fato, o bem fosse uno e predicivel em geral, ¢ subsistisse sepa rude como, jstamente, éaidin do Bem], € evidente que alo seria Taiz velnem adguiivel polo homem: mss &justamente iss0 que n6s buscamos" um Bem de um Bem imanen te, i c vel ¢ atuavel pelo homem e para o-homem/O bem, para Arist6- teles, nfo é uma realidade Gnica e univoca, mas, como vimos a pro- P6sito do conceito de ser, é algo potivoco, diferente nas diversas Categorias e diferente também nas diversas realidades que entram em cada uma das categorias, mas sempre ligado por uma relacdo de bem supremo realizvel pel 2 ‘A tesposta de Aristteles esté em perfeita harmonia com a con- cepedo tipicamente helénica da areté, que ja conhecemos bem, e sem a qual seria va esperar compreender toda 8 construsio ética do n0880 filsofo. —O-ben do homem $6 poder consistir na obra que The ¢ peculiar rsio-é..n2 obra que ele ¢ $6 ele pode realizar, assim como, em geral. bem de cada coisa consist» na obra que 6 peculiar a eada coisa, A obra do olho & ver, a obra do ouvido é ouvir, ¢ assim por diante, E | obra do homen_a) Esta no pode vi viver ¢ préprio dé todos_os seres venetativos, 6) Endo pode ser wubém 0 sentie. dalo que este & comum também a0s animals.) Resta, pois, que a obra peculiar do homem Seja.a razio ea atividade © {nessa obra on siividade de razio,.c, mais precisamente, n0 perfeito desenvolvimento ¢ atuacio dessa atividade, Esta 6, pois, a “wirtude™ 12, Baca Nicomaguéi, A 6, 1096 b 32°35, 409 , Leiamos toda 2 gina da Hrca Nicomaguéia que desenvolve esses conceitos, porque uma das mais esclarecedoras, nfo s6 da menslidede arsoilica, mas também de todo o peasamento moral da grocidade: sobre a. panera, Poderemos ize isn sem difieuldado, se examinacmos #1. obra oven) do homem, Como, de fet, para o faust, o esculto, qual” ‘que artes e, cr suma, qualquer um que tena um tmbalbo e uma stividade, parece que o bem e a perfeigdo residam na sua obra, assim poderia perecet também pare o homem, se exists alauma obra que the sea propria. Sere que arto arguteo e para 0 sapateroexistem obras e atvidaes propria, en- quan no existe nema obra poria do bomen, © que este nasceu ina- fivo? On antes, como parece havet. uma obra prémia do olho, da rato, dos pés_ ‘em summa, do cada do homer? E qual seria essa obra? Nio o viver, pois este € comum também 4s planus, uma ver que se busca algo que Ihe ela pedprio. E preciso, pois, exchur a nutiedo ¢ o crescimenta, Seauiria. a sensacio, mas também esta ‘ostrese comum ao cavalo, 20 boi ¢ a todo animal, Reta, pois. uma vida -ativa préprie de umn ser racional, F dessa distingwe " dicots Bazi, uma goa que_a possui crasiocina, Podendo-se, pos, consi- derar também esta de duas mancira, € preciso considera aque tem tna real stividede: ests, de fato, parece ser superior. Se propria do Romem & pois, a | x2 stividede da alma segundo a azo, ou nfo sem rao, c se dssemos Que esta 6 obra do seu gener e,em particular, do virtoso,zcsim como hé tana os do ciao e, em paniculr, do cited virtuoso e, em summa, como sempre se verifies, quando consideramos a virude que se acrescente 2 aga0 (do citaredo ¢ proprio tocar a ciara, do eiteredo virnoso 0 tock-la bem): se € assim, nfs supomas 4 a s ' 2. gue ta. soja constitida pela ie jenquanto do homem virtuoso sefe proprio isto, porém, realizado segundo o | tem © o belo, de modo que cada um dos seu atos se eurmpra bem segundo 4 propria virtue, Se, pois. € assim, emlio o bem prfprio do homem & a. vale também para uma vida reaizada. C efit, una tnica andorinka ovum Gn dia no fazem vecto; assim tezabem um Gnco dia ou um freve tempo nfo proporcionam a beatitue ou a fic dade”. 13 Biea Nicomaguéi, A 7, 1097 b 22-1098 a 20. ARISTOTELES B A SISTEMATIZAGRO DO SABER FILOSOHICO Abela pg que loos mostra de maneira exemplar, além do que observamos acima,.¢ suhsancial adesto de Aristeles d dowtrina socrttico-platonica que puna a esséncia do homem na alma e, preci- ‘samente, na parte racional da alma, no espirito, Somos 2 nossa raz © 0 nosso espirito.O homem hom, diz expressamente Arisiteles, [age pela parte rational desi mesmo. que parece constitulr cada um dens, E ainds: E, pois, claro oralmente conveniente ama sobraudo isso, E, enfim: E-se esta (a alma racionale, em particular a parte mais elevads dela, isto 6,0 intelecio] € a parte dominante © melhor, parece que cada un de ns consiste exatamente nela E dado que este € o proprio fundamento da ética socrético-pla- tOniea, ndo € de admirar que AristOteles, eceitando o fundamento, acabe por concordar com Sécrates e com Plato, muito mais do que se cré comumente, Os auiénics valores, também para o Estagirita | (Como acima jé pusemos implicitamente em relevo), no poderao ser__ | nem_os exteriores (como as riquezas), que tocam apenas tangencial- mente © homcm nem as camparais (como os prazeres), que no dizem respeito ao eu verdadeiro do homem, mas 36.0% da alma. if que na, | alma consiste 0 verdadeiro homem. Diz explicitamente o Estagirita: ‘endo, pois_cepartide-os bens em mts exugos: os assim chamados ex -erlone, 9 da aima e 6s do corpo, dizemas que os relatives & lina so os rincipaise mais perfetos” Em conclusio, pode-se dizer que os verdadeitgs bens Jo homem os = a ; : eles que esta felcidede, Quando falamos de virtude humana, nio 1 Bia Nica 14, 166 1637 15. Bea Moma, 8, 116 23. 16 ies Meomaguét, 7.18 423. 17 bes Menmaputa, 88,18 1S Aenea, entendemos de modo algum a virude do corpo — precisa de modo inequivoco Arist6teles —, masa virtude da alma: dizemos que a Felicidade consiste numa atividade prépria da alma. -mneigs de_ De fato, se estes, com a sua presenca, no podem dar a lade, todavia podem arruind-la ou comprometé-la (pelo menos em parte) com a sua auséncia. E a esta parcial reavaliacao dos bens exteriores associa-se também certa reavaliagdo do prazer, que, para Arist6teles, coroa a vida virtuosa, e 6 a necesséria conseqiéncia da | qual a virtude € 0 antecedente, como veremos. Il, Mas_estas afirmacdes slo ditadas bom senso (e pelo | bom senso a maneira grega) lo ja na tureza conhecemos bem. De fato, ele no hesita em fazer afirmagées como estas Parece, todavia, que felicidade precisa também dos bens exrioves. na medida em que & impossivel, ou ni € ffeil sealizac: ue &mpossive f cos Sc ajuda, Com efeito, muitas coisas sto redlizadas através de meios de exe- ugio, através dos amigos, da rguezs edo poder politico Ese somos priva; os de alguns desses meics, a felickdade se nos aruina, como quando care. cemos de uma bos espe, de uma dou prot, de belea fisea, De Tito, nl -Rade ser de todo feliz quem é totalmente feic i ov sozitho na vida e sem filhos: € menos sinda,talvee, se tem hos ¢ armiges celerads, ou se 0s tem bons eos v8 more. Por isso, como disemos, parece quea ilicidade exige também wl bemvestar exerior Arist6teles esti convencido de que também as desventuras com. Promsiem a felicidade, nao as desventuras comuns. mas as. grandes _ ~desventuras. ou sea. aquelas das qunis néo podemos.nos refizer em g pouce tempo, Por isso, diz ele, ninguém poderé ser verdadeiramente feliz “se tiver a some de Priamo”™. Mas, se 6 assim, nem mesma s& i em mesmo aquele Socrates ‘que viveu toda a sua vida buscando e atuando a virtide. Bvidente. 18, ica Nicomaguéla, A 8, 1099 a 31-7. "9, Bica Nlcomaguéia, & 10, 101 a 7. ARISTOTELES E A SISTEMATIZAGAO DO SABER FILOSOFICO mente, jéncia da vide e, sobretudo, da more feliz de Socrates, aque bebeu a cicuta com plena serenidade de espirito, consciente de ter atuado plenamente o seu destino, nfo & cia por Aristéles, Com efeito, ela contrasta com as assergbes que lemas, De Testo, 0 que © proprio Aristtcles diré sobre a vida contemplasiva redimensiona radicalmente estas concepedes do senso comum™. 3. Dedugio das “virtudes” a partir das “partes da alma” 2 claro que qualquer ulterior aprofundamento no-couceio de “Vit fe depende de. um aprofindamento no conceito de alma, Ora, vimos {que a alma se divide, seguado ArisiGteles, eminés paras. duas ima, Clonsis. sto €.a alma vesetativa e alma sensitive, ¢ uma rcionala {aalwainiclecsiva, E dado que cada uma dessas partes tem a sua |stvidde pec. caca una om una cir nude oy exces a.s6 £ aaucla.na qual entra a attvidade da, alma vegeiativa § comum a todos os viventes: A virtude de tal faculdade mostra-se, pois, como coisa comumm a todos (0s seres e no especificamente humans”, Merges aa ts 2 Hr Diferente a questo no que concerne a.alma sensitive. ¢. -—— soncupiscivel, a qual, embora sendo por si irracional, participa de ‘certo modo da razAo: Enuetant, é preciso supor que também.na alma béalgo con 4.1230, Aut. se.opiie © resi a cla, Nio importa de que modo se dé essa oposiclo. Também este elemento_pacise patiinar da rez J.J: sao que ee. obedece “zie, quando gextenve.aum homem continents. Ese perence a um homem ‘oderado € corajoso, ele 6, talvez, ainda mais décil, tudo nel est de f3t0, Sem harmonia com a ra28o, Poranta, a pane iecional mosira-se de duas uma, venetativa, nfo participa em nada da rac, a out, go inves, { sonsuoissivel em sera. anetiiva cartcipa dela de ceria moto, ends, fcheedleute © ddctl a cazao®, 20. Ck pp 30s. 21, Eilea Nicomaguéta, A 13, 1102 b 2-3. 22. Etioa Micomaguéie, A 13, 1102 b 23-31. a3 cro que existe uma vitude dss alma specifica _mézte humana, qac consists em dominas, oor assim dizer, esas ten SEnsigs e-inolsas que sin-por si demmdides « cx 0 Esai “vids. ia". 4, As virtudes éticas ‘Comecemos pelo exame da virtude ética, mais exatamente, das ‘rds news, dado ques. nunyses hem sams a isos_¢ os sentime] rt ‘As vitudes | hess deta nos do ab x - “H sspaces se foomdlos a cuelans2,esee in aMuOS | porencialidade_em_amalidade, Realizando atos_justos. tomamo-nos..|~S Sins adguinimos.a vintude da justica, que, depois, permanece em "nds de maneinaestével como um fabinus,o qual, em seguida, nos faré realizar mais facilmente ulteriores alos de justga, Realizando atos de ‘coragem, tornamo-nos corajosos, isto é, adquirimos 0 habitus da coragem, que em soguida nos levard a realizar facilmente atos cora- josos. B assim por diaite. Em si is as virwdes cas por exemplo, consrndo eas tora aoe aque, © 10an- dota ones nos caren, ts, ealzand 0 se recon, orguanoeslaeceor, al eva snd 2 entro da quests dz sos cama asinos coma postings e5 f des, mas no nos -m_as virtudes, Qual é a natureza ; “Comumtatlan as vtudes fics? O Eagan epoate com exa | ‘dio: nunca ha virmude quando hé excesso ou falia, ou seja. quando ha | 2, Buca Nicomaguéia, B 1, 1103 a 33-0 2. Sy fae ARISTOTELES B A SISTEMATIZACRO DO SABER FLOSOFICO. |semais ou de menos: vinute toca so ints «juss prover, plu Savia de meio caine dois excessos. Bis as palavras do nosso fildsofo: Em qualquer coisa seja cla homognea ou divisive, € possivel distine uir 0 mais, © menos © 0 igual, Isto ou em relagio & prépria coisa ou em relaglo a nos. via de meio enue o excesso ea falta, Eu chamo, pois. is -Ssitemos.c esta € uma s6 idéntica em todas as coisas; « chamo posigho de ‘melo com relagdo a nds 0 que ndo excede nem earcce; gta pure, M30. & nica, nem ieual Por exemplo, pondo o de2 come quanticade ‘excessiva eo dais como quantidade defectiva, 0 seis & considerado © meio ‘com relagio a cois: este 6, de fato, 6 meio segundo 1 preporgio numésica AA posivdo de meio com relacio a nds nao é interpretada assim: com efeito, Se comer dez minas € muito e comer duas 6 pouco para alguém, Bo por isso © mest de gindstica mandard comer sels mings; de fato, para queen recebet por ser mul ara Milo [que era um atleta excepcionsl}, de fate, € pouco, para um principiante de gindstica € muito. O ‘mesmo deve-se dizer da corrids e da luta. Assim, po! -citncia evita o excesso e a falta. enguanto busca 0 melo e pielesenn, ¢ esse ‘Mas — perguntar-se-4 — a que ~a que se referem “excesso”. “falta” ¢ “Justo meio” do qual se fala a proposito das virtudes Sticas? Referem- se esclarece Arisiiteles —a sentiments, paixées e acbes. Com relacio 40 temor, 20 aor, 0 dese, & I, &pledade e, em geral, 0 070.¢ & dor hi um excesso e uma falta, e ambos no sto bons; sas $2 ~uperimentamos aquelss palates quando se deve, no que se dove, comin, to-msio ¢ na exccléncia. que slo putprios da vimude: ¢.do mesmo modo, também para as agdes hi um excesso, uma falta e um meio. A vine we io é Jouvado e tem sucesso: € essas das coisas sfo préprias da vistude. Portanto, a vinude & vina certs rediania, que tem por escopo 0 justo meio. Em conclusio:a virtude ética & precisamente, mediania entre dois vicios. dos quais um 6 por falta, o outro por excesso. E dbvio, 24, Erica Nleomoguél, B 6, 106 a 26-0 7. 25. Bca Nicomaquéic, B 6, 1106 b 18-28, aAtmica ats para quem compreendeu bem essa doutrina de Aristételes, que a medionia nda $6 a0 € riediocridade, mas a sua anitese: 0 “justo meio”, de fato, est nitidamente acima dos exiremos, representando, por assim dizer, a sua superacto e, portanto, como bem diz Aristéeles, ‘um “cume”, isto & 0 ponto mais elevado do panto de vista do yalor, ‘enguanto assinala a afirmacio da razo sobre o imracional: Por isso, segundo a sua essénci ¢ segundo 2 rarSo que estabelee a sua vaturect a vide & ela 6.0 ponte mais elevada® Hi aqui como que uma sintese de toda a sabedoria sresa que encontrou expresso tipica nos poetas e nos sete sabios, a qual, ami de, indicara.navia média, no nada em excesso, na justa medida. a. -Supteima zegra do agit moral regra que é como um cifra paradigmatica do modo de sentir helénico. E hé, também, a afirmasto da ligto pitagorica que indicava no limite (o péras) a perfeigao e, mais ainda, + um preciso_aproveitamento do conceit de “juste medida’. que Essa doutrina da virtde 6tica como “justo meio” entre 0s extre- mos € ilustrada por uma ampla andlise das principals virtdes éticas oa, melhor, daquclas que a grecidade considerava tas) naturalmente {eduzidas, nfo segundo um preciso fio condutor, mas empiricameate © quase rapsodicamente clencadas..A vimude da caragem € o “justo | © Anejo” entre os excessos da temeridade da covanlia: a coragem 6, pois, a justa medida imposta ao sentimento de medo que, privado do ‘controle racional, pode degenerar, por falta, em covardia, por exces- so, em descontrolada audécia, A temperanca 6 o “justo meio” ene -s.excess0s da intemporanea.ou dissolucio ¢.a insensbildades a tem- peranca é, pois, a justa atitude que a razio nos faz assumir ante | eterminados prazcies. A ff « . ae t2za.c a prodizalidade; ela 6, portanto, a justaatitude que @ razto nos ‘faz assumir diante da ago de gestar dinheiro. E assim por diante. Na Erica Eudémica, Aristteles fomece o seguinte elenco de virtades € vicios: [1] amansiddo € a via média entre a iracindia ¢ a impassibilidade; 26, fice Nicomagnéia, 86, 1107 2 68, 4 & Aas et eS ARISTOTELES & & SISTEMATIZAGRO DO SABER FILOSOFICO 2 z ade e 2 cova [3] a vereciindia € a via média entre a impudéncla e a timidez; [4] a temperanga € a via média entre a intemperanga e a insen- sibilidade; 6 Tipiandas costae EINE EN (6) Diana ce ate nal 7 ‘a avare [8] a veracidade 6 via média ene a pretensto eo aulodesreas [9] a amabilidade & a via média entre a hostlidade e a adulagio; [10]a seriedade € a via média entre a complacénoia e a soberba; (Ulamagnanimidade 0 via média entre a vaidade ca esttci teza de alma: (12|2 magnificéncia 6 a via médi entre a suntuosidade © a rmesquinharia”. 2 im todas essas manifestarbes a vide ética é a juste medida era inpie a sentiments. ates au atiudes ue Stn 0 00% wwole da razio, zenderiam para um ou Gutro excesso, Ente todas as virtudes éticas, o Estagirita niio hesita em indicar "| a justice como a mais imoortanse (¢ dedica & sua andlise todo um %-) livroy*. Num primeiro sentido, a justiga é o respeito pela lei do Fs- tado, ¢.dado que a lei do Estado (do Estado erego} cobre toda a érea stasidmon a usticeé-de aim moo, compreeniva des, virtudes, Escrove Aristételes E por isso, feqUentemente, a Justica parece ser a mals importante das virtudes, ¢ nem a estrela da tarde, nem a da mani so tio admirdveis; e no provétbio dizemos: na justica esto todas as virtudes?. Mas. seatida mais proprio da justica (que € aquele mais aten- tamente analisado por Aristételes) consiste na_fusta medida com a ual repartimos os bens, as vantagens ¢ 08 ganhos (ou 0s seus con- trérios). E, neste sentido, a justica é “modiania”. nfo como o sio ss, virty 27. Bica Budémica, B 3 2B. Ct. Eica Nicomaguéia, lio E, assim. 29, Eiea Micomagutia, E 1, 1129 b 2720. ATCA a7 (J mas porque ela 6a carcteristic do justo meio, enquant a injusiga 0 € dos extremos™ As abundantes ¢ precisas andlises sobre os virios aspectos das vvirmdes éticas individuais feitas por Aristteles permanccem, notmial- ‘mente, num plano puramente fenomenol6gico; antes, pode-se dizer que, amitide, as convicgdes morais da sociedade @ qual pertencia Avist6teles impdem-se ao filésofo, como, por exemplo, no caso dz descrigfo da magnanimidade, que devin'ser uma espécie de omamen- to das virtudes, mas resulta, 20 invés, uma pesada hipoteca que 0 -gosto do tempo impée & doutrina aristot 5. As virtudes “dianoéticas? a-paute mais clvada da alma, isto 6, da alma racional, chamadas vies notices ou vues do rte, Fd eit artes es da imutiveis, entZo existirfo, logicamente, uma perfeico on. virtude da| “primeira fanco.e uma perfecto ou vinade da semunda funcko alma racionaP. Fssas duas partes da alma racional si0, em substin- cia, arazio pritica ¢ a azo icorttics, 2s respectivas virmdes seri’ as formas perfeitas com as quais se colhem a verdade pritica e a esdade worécaA.dpea virude da tzdo onitca €. “stbedaria” hrdnesis) ioica virwde da ica € a “sapigns 3 eee 4 -A sabedoria consiste em saber divigir cometamente a vida do. io it 2 30, Brica Nicomaguéia, E 5, 1133 6 32-1342 1 31. Ch Bea Nicomaguéia, 35, 32. Cf Baca Nicomaguéla, ZI. 32a. A rucuplo de @pdunois por “saggezz (abedoria) © oogfa por “spienza™ (Gepiéocia), em G. Reale, comespende 2 uma opsio do autor aa inerpretgo desses ois conceit aristouticns. Em porngoés,€urael taducir peers per “prude” «© cola por “stbedors”. Em visa de respeitar a8 opgdes do autor, tedriemes sempre gpémoig por sabederia oogla por sapiéaca. (NT) ils ARISTOTELES E A SISTEMATIZAGAO BO SABER FILOSGFICO | bomem. (Esta, diz Aristételes, é “uma disposic&o prética, acompanhada i da razio veraz, em torno do que é bem e mal para o homem™*). Deve- -* “eo a oa esi compres da ous ans gue a shai og sbedora hia. delta oman os | aliases ena s la ajuda, porno ndividuare scangar 2 cfs qe condom eles fs prenalade aia ne de | mina.os fins, O5 vee ela viru, Sica ‘frefica 0 querer de mado cozetn. Diz exatumente ArisGicles: A chra humana cumprese aavés da sabedora © da virwde fa: de fate, 7 E claro, portant, que.as virtudes éricas ¢ a virtude dianottica da. sabedoria so duplamentelivadas ene si. Com eftito, diz Aristétles 2) Nio & possivel scr virtuosos sem a ssbedoria, nem. b) ser sibios sem a viinude Stica® a) Na verdade, se_a virude étiea, como vimos, “é um hébito Aecisério que consiste no justo meio relative a nés mestnos, det: nado pela raxto © pelo modo como o homem sdbio a definiria’™, € claro quello se a pode ter sem essa razdo, ou melhor, sem essa reia Hac, 050 tela razio 36 6 a do sdbio, jst, jutamente aquela que se conforma a sabedoria. De resto, € evidente, com beso no que dissemos, que se s6 a sabedoria{nos indica os fing)para aleangar 0 7 bem, caso 0 aleangéssemos sem a sabedoria,s6 0 alcangariamos por A, ums especie de natural inlinaga, on sei, de mado ime tas ‘if esta ndo poderia ser auténtica viruude, A sabedaria permanece a con- Aicdo necessiria (embora nko suficiente) de cada uma ¢ de todas_as tides ilas, consti membén.o elemento. queda. sarta modo, a 2) Por outro lado, & também verdade que.nio pads haver sabes Goria sem virmde ética: de fato, a sabedoria nio & simples perspicé- 23, Erica Nleomaguéto,Z 5, 140 b 46, % 34 dtica Nicomaguéia. Z 12, 1144 0 69.% 35. Hila Nicomaguila, Z 43, (144 9 31-33,% 36, rica Nicomaquéic, B 6, 1006 b 36-1007 a 2. 37. Ck. Bica Nicomaguéia, .13.Y. Aenea, aig cia, capacidade geral de encontrar e conseguir os meios para alcangar qualquer fim, mas somente-a espectfica capacidade de encontrar ox iustos_meias aue_levam a fim mais elewndo do homem. ao bem. “morgl. A sabedoria é a perspicdcia que se tem nas coisas morais™. Este duplo lago, como hA tempo os estudiosos observaram, acaba por incorrer num eirculo. Escrevia Zeller: “A virtude, no fundo, consiste ‘em manter 0 justo meio, € este s6 pode ser determinado pela sabedoria; se & assim, a tarefa da sabedoria no consiste s6 na busca do meio para alcangar fins éticos: sem ela. nfo € possivel nem sequer determinar ‘exatamente aqueles fins e, por outro lado, a perspicécia s6 merece o, rome de sibedoria quando se dedica a realizar fins éticos"™ uma. —-Sporia que deriva de outras aporias das quais falaremos no final. ‘A ontra virtde dianostica, a mais elevada, como se disse, € a sapiéncia (sophia). Esta 6 constituida, seja pela captagao intuitiva dos principios através do intelecto, eja pelo conhecimento discursivo das conseqiiéncias que derivam daqueles principios._A sapiéncia € uma ¥imude mais clevada que_a sabedoria, porque, enquanto aquela diz respeito ao homem e, portanto, ao gue ha de mutével ne homem. a ‘sapiéncia diz respeito ao que esté acima do homem: 0 homem & 0 rmethor dos seres vivos, todavia, diz Aristreles: 7 Existem outras coisas muito mais divinas que o homem por natureza, ‘camo, pare permanecer nas mais vsiveis, os astros que compéern 0 universo. [Do que se disse, & claro que a sepitncia ¢ ao mesmo tempo cifncia e inte- ligencia das coisas mais excelsas por natureza®. outros termos: a sapiéncia coincide com as ciéncias weoréticas , antes, de modo especial, com a mais elevada delas, vale dizer, metafisica, 38. Ct Eee Ncomaguéia,Z 12. 5391 Zeller Mondolfo, La losofa dei Greci nel suo svluppostric, Pace M, vl } 6, onganizado por A Plebe, p72 40, Bice Nicomogutio, 7, Wl 034-0 2 ARISTOTELES F A SISTEMATIZACKO DO SABER FRLOSOFICO 9. Psicologia do ato moral Socrates, como vimos amplamente, reduziu as virtudes & ciéncia © a0 conhecimento, © negou que o homem pudesse querer e fazer voluntariamente 0 mal. Platio condividiu largamente esta concepgiio e, embora tivesse individuado na alma humana forgas isracionais, ou 35. ica Nicomaguéia, K 3, 1076 a 15-22 28 ARISTOTELES A SISTEMATIZAGAO DO SABER FILOSOFICO seja, a alma concupiscivel e a alma irascivel capazes de se oporem & alma racional, sempre acreditou que a virtude humana consistisse no domfnio da ra7o e na submissto daquelas forcas & razio, por forga da propria razio, de modo que, também para ele, a virtude permane- cia, em altima andlise, razio. al inielecmalista do fa ‘moral. Como bom realista que era, deu-se perfeitamente conta de que [uma coisa ¢ conhecer o bem, outra coisa & amud-lo, realizé-lo e fazer [dele nor assim dizer. substdncla das préprias agbes,e tentou dete. | minar mais profundamente quis eram os complexos provessos psi ress _' Bm primeiro lugar, ele esclarece o que se entende por “agies % _voluntérias” © “aches involuntérias”, Jnvoluntirias so as ages que se cumprem foreosamente, ou por ignorincia das cireunstincias ia “cujo principio reside no ax sonhece as circunstancias particulares nas quais se desenvolve a a9 Xt to parece ico ae porto, inopinaante 2 prs pectiva muda, pois Aristételes situa cntre as acdes voluntérias tam- ~bém_aquelas ditsdas pela impetuosidade, pela ira ¢ pelo descio ¢, ass voluniéias também as acdes dos eriangase a mesmo dos anim: , portanto, dependem OSS [aeies) Portanto € claro que.“voluntiias”, neste sentido, slo simples: [mente as acdes espontineas, que tém a sua origem nos sujeitos que "as cumprem, eno coiacidem com as que nés, moderos, chammamos [com o mesmo nome. | © Estagirita prossegue a sua andlise, mostrando como 0s tos | humanos, além de “volunsérios” no sentido esclarecido, so determi- nados por uma_“esealha” (prodiresis), e explica que esta parece ser “coisa essencialmente prépria da viride © mais apta que 2s agGes 5 Pa julgar os costumes”. Com efcito, a escolha nao pertence 3 & | erianga ow ao fnimal, mas s6 20 homem que raciosina e reflete. A | “escolha” sempre implica, de fala, iclonio e teflexio-e, precisa: | mente, aquele tipo de raciocinio e reflexao selativos 4s coisas ¢ acdes. ‘6, Bica Nicomoguéio, P1, 1111 a 2224 51, Eilea Nieomeguéia, P2, 111 5. Amica fe depends de. nf slo na em da aie te do de | raciocinio ¢ reflexio € chamado por Aristteles “deliberscio". A | _niferenge enue “deliberacdo" e “escolha™ consists no seguinie_a deliperacdo estubelece quais © quanlas si0 a8 aces e 0s meios neces. | sérios para alcansar certes fins estabelece, assim, toda a série das ‘coisas a realizar para chegar ao fim, das mais remotas as mais pr6- ximas ¢ imediatas_a escolha age sobre estas kimas © as descara | _quando sfio irrealizdveis, pde-nas em ato quando as encontra realizé- | “veis, Por isso escreve Aristotees: | (0 objeto da detiberagto € 0 da ecoiha sto 0 mesmo, exceto o fato de ‘queo que se escolhe {i foi determinada, De fito, objeto ds escolha ¢ 0 que ig fot julgado com a delberao, Cada um, com efit, cess de buscar como ‘everdagir quando remete a 5 prpro o principio da ago, eo semeteAquela parte de si proprio que comanda: esta, de fato, € a que decide™. Muitos estudiosos acreditaram encontrar aqui o que chamamos vontade, enquanto a escolha é apetite ou desejo deliberado e, portan- lo, no 6 86 desejo ou apetite, nem s6 razSo, Infelizmente, & medida aque nos aprofundamos na posicdo aristotélica, esta se revela extrema- , mente ambigua e dificil de aprender. Contudo,_o Estasirita nega “s “escotha” identificar-se_ - ” Goiless). porque a vontade diz respeito sé aos fins, enquanto a ¢s- -colha (assim como a deliberacio) diz respeito aos mzias.F entio, € verdade que_a escolha é 0 que nos tora senhores de nossas acbes, | ou sea, responsiveis.nda é todavia, 2.que.nos toma verdadeiramen:. 1e bons, pois s6 os fins que nos propomos podem nos to a escolha (assim como a del meios, EntZo, © prirepioprimein do qual depends anos moralidade ext eonia | mente na volicfo do fim. Que 6 essa voligio do fim? De duas, uma: 2) enema beans infalivel a0 bem, 20 que é verdadeiramente bem, b) Ou Ke ‘que nos parece bem/a) No primeiro caso, € evidente que a escolha rdo-reta ni seré voluntéria, mas seri, como dizia Socrates, uma forma de ignorancia, um erro, um equivoco.(6):No segundo caso, seria preciso concluir que “o que € querido n&6 € querido por natu- 158, Boa Mcomaguéa, P 3, 1113 a 2-7. 3 430 ARISTOTELES E 4 SISTEMATIZACKO DO SABER FILOSGFICO, zeza, mas segundo o que a cada um parece; ¢ dado que a um parece | uma coisa, @ outro, outra, se assim fosse, o que & quetido seria 20 ‘mesmo tempo coisas contriries"® o que signficaria que ninguém ' mais podecia ser chamado bom ou mau ou, 0 que € o mesmo, que | todos seriam bons, justamente porque todos fariam o que thes parece bem. Aristbteles c1é poder sair do dilema do seguinte modo: E preciso, entilo, dizer que, absolutamente e segundo a verdade, 0. objeto ta vontade & © bem, porém a cada am de nds, objeto da vonage € 0 que parece ber: pare quem é viewote, 0 que €verdaeiramente hem, para quem € vicioso, qualquer cole; asim como para os corps, aor gu 30 bem isposos, sto sadizs a coisas que so verdadciramente ta, aos envemot 20 invés, 0 fo ouras eos, eo mcamo vale para as coisas amargus, pam a8 doce, para as quertes, paras pesads,e assim por dante Quem €atunso— -Som_efsito, julga retamente todas as. veniam No reliade, as coiss apes s cada uma das dipeigoes ao belas ¢ apraziveis, ¢0 homem virtuoso difere dos quisos sobretudo porque vé_ verdade cal - fa maioria. dos homens, ao invés, parece suit oengano aavls do paze que parece bem, mesme no sendo, Por sso cles scolhem como bet 0 que apracivel, @ feger como mil do que € doleroso®, Mas, se é assim, movemo-nos num eftculo (um circulo andlogo 20 que assinalemos a propésito das relagdes entre vittudes éticas ¢ sebedoria): para tomarsme e ser hom dew 0 fi ~S6.osrecorheco se. sou bom. A verdade 6 que Aristteles compreet- "dew muito bem que somos responsiveis pelas nossasag6es, eausa dos | nossos préprios habitos morais, causa do préprio modo pelo qual as | coises nos aparecem moralmente, mas ndo soube dcr por que & assim ¢ 0 que est na raiz de tudo isso em nés, Ndo soube determinar (~Corretamente a verdadeira natureza da voniade e do livre-arbitrio, e “assim explica-se que, emboracritcando Socrates, recaia hs vezes em | posigdes socrticas, afirmando, por exemplo, que o incontinenteerra | Porque, no momento em que comete acées incontinentes, ndo ttm Perfeito conhecimento, e afirma que o conhecimento € determinante $9, Eca Micomaguéla, G 4, 1113 a 20-2, 60, lca Nicomaguéia, G 4, 1113 «362, abn, 81 para o gir moral", E explica-se também que Aristételes chegue até mesmo a dizer que, uma vez tomados viciosos, nfo podemos mais deixar de ser tais, embora num primeiro momento fosse possivel no vir a s8-10!, Todavia, € justo reconhecer que, embora sem adequado sucesso, Aristételes, melhor do que todos os seus predecessores, entreviu que hha em n6s algo do qual depende o ser bom ou mau, que néo é mero desejo irracional, mas ndo & tampouco razio pura; porém, em segui da, esse algo fugiu-lhe das mos sem que ele conseguisse determing- -lo, De resto, devemos objetivamente reconhecer que nenhum grego cconseguira isso e que 0 homem ocidental s6 compreenderé o que so 2 Vontade € 0 livre-arbttrio através do cristianismo®. 61. Ck. Fiea Nicomeguéia, Hse. €2.Cr, Bica Nicomaguéla, TS. 63, Para uma aprofundade meditaczo das leas sriswoicas indicamos:Aristote, Léiigue a Nicomeque, inreducion, tadoetan ex earamentre par R.A. Gauthier et 4.Y, Joli, Lovaina-Pris 1970" (2 vos. em dei tems eada um). Neseas obras encon- Uarse-, ademas, roa a bibliogratia gel e paricularconcemnente aoe viris prble- ‘as da ia sittin, ‘A POLITICA 1. Conceito de Estado ‘Vimos acima que, segundo o Estagirita, porquanto o bem do individuo e o bem do Estado sejam da mesma natureza (pelo fato de consistirem, em ambos os casos, na virtude), o bem do Estado é mais, importante, mais belo, mais perfeito e mais divino. A razio disso deve ser buscada na propria natureza do homem, a qual demonstra com clareza que ele é absolutamente incapaz de viver isolado e, para ser si mesmo, tem necessidade de estabelecer relagdes com 05 seus semelhantes em todo momento da sua existéncia, Em primeiro lugar, a natureza distinguiu os homens em macho e fémea, que se unem para formar a primeira comunidade, vale dizer, a familia, em vista da procriagao e da satisfag3o das necessidades clementares (no ndcleo familiar, para Aristételes, também entra o escravo que, como veremos, & til por natureza). ‘Mas, dado que as familias no bastam cada uma a si mesmas, surge a vila, que € uma comunidade mais ampla, com a finalidade de garantir de modo sistematico a satisfago das necessidades vitas, Mas se a familia ¢ a vila sfo suficientes para satisfazer as neces- sidades da vida em geral, ainda nio bastam para garantir as condigdes dda vida perfeita, isto é, da vida moral. Esta forma de vida, que po- ‘demos apropriadamente chamar de espiritual, s6 pode ser garantida pelas leis, pelas magistraturas e, em geral, pela complexa organizagdio dde um Estado. E no Estado que o individuo, por efeito das leis e das instituigdes politicas, ¢ levado a sair do seu egofsmo, e a viver con- forme o que é subjetivamente bom, assim como conforme o que & verdadeira ¢ objetivamente bom. Desse modo o Estado, que € iiltimo cronologicamente, & primeiro ontologicamente, porque se configura como 0 todo do qual a familia e a vila sdo partes, e, do ponto de vista dontolégico, 0 todo precede as partes, porque 0 todo, € 36 ele, di sentido as partes. Assim, s6 0 Estado dé sentido as outras comunida- des e s6 ele € autirquico'. 1k Poti, A A POLITICA, 433 Eis a pagina, bastante célebre, na qual o Estagirita desenvolve ‘esse conceito: ‘A comunidade perfeita de varias vilas constitu a cidade, que alcangou ‘que se chama o nivel da autarquia, a qual surge para tornar possivel a vida fe subsiste para produzir as condigdes de uma boa enisténcia. Por isso toda cidade & uma insttuigfo natural, se 0 so também 8 tipos de comunidade {que a precedem, enquanto ela € 6 seu fim, ¢ @ natureza de uma coisa é 0 seu fim; isto & dizemos que a natureza de cada coisa é aquilo que ela € quando se concluiu a sua geragdo, como acontece com o homem, o cavalo, & casa Ora, 0 escopo ¢ o fim 40.0 que ha de melhor; a autarquia € um fim e o que hné de melhor. E claro, portant, que a cidade pertence aos produtos natura, ‘que 0 homem € um animal que, por natureza, deve viver numa cidade, © {quem nio vive numa cidade, por sua prépria natureza e nfo por acaso, ou & lum ser inferior ou é mais que um homem: é o caso dos que Homero chama, com desprezo, de “apdiridas, sem-lei, sem-lar”. E.quem & assim por natureza, € também sedento de guerra, enquanto ndo possi lagos € & como uma pes {e jogo posta a0 aceso, Por isso € claro que © homem & animal mals socidvel ‘do que qualquer abelha e qualquer outro animal gregirio. De fato, segundo ‘0 que sustentamos, a natureza no faz nada em v3o € 0 homem € 0 dnico animal que tem a capacidade de falar: a voz é simples sinal do prazer © da dor e, por isso, a tém também o¢ animais, enquanto a sua natureza cheza até }© ponto de ter e de signficar aos outros a sensagdo do prazer e da dor. Ao invés, & palavra serve para indicar 0 itil e © danoso e, por isso, também 0 justo @ injusto: €iss0 6 prdprio do homem com relagdo wos outros animais, fenquanto ele & 0 Ginico a ter noglo do bem © do mal, do justo e do injusto ‘das outras vitudes: a comunidade dos homens constitu familia ¢ a cida de, E ne ordem natural a cidade precede a familia e a cada um de nés. Com eeito,o todo precede necessariamente a parte, porque sem o todo, nic havers ‘mais nem pés nem mos, a no ser por homonimia, como ocorre, por exem= plo, quando se fala de u'a mao de pedra; mas esta na realidade € u'a mao morta, Todas as coisas s8o definidas pela fungio que cumprem e pela sua poténeia, de modo que, nfo possuindo nem uma nem outra, no poderio mais Ser ditas as mesmas de antes, sendo por homonimia. Poranto, € claro que @ cidade existe por natureza, e € anterior ao individuo, porque se 0 individuo, tomado isoladamente, ndo autirquico, relativamente a0 todo esté na mesma ‘elagdo em que estio as utras partes. Por isso quem nao pode fazer parte de uma comunidade, quem ndo tem necessidade de nada, bastando a si prprio, nao faz parte de uma cidade, mas € ou um animal ou um deus’. 2. Poltica, A 2, 1282 b 27-1283 a 29 84 ARISTOTELES E A SISTEMATIZAGAO DO SABER FILOSOFICO Talver seja esta a mais radical defesa do Estado feita na antigiida- de contra as tentativas de algumas correntes da sofistica de reduzir a polis a simples fruto de convengao antifcial, e contra as negagdes ex- tremistas dos Cinicos. Evidentemente Aristoteles, na sua reivindicagao do caréter natural do Estado, vai muito além do que poderia, mas no se deve esquecer © peso que, neste ponto, mais uma vez tiveram as Condigdes politicas, sociais eculturais da Grécia do seu tempo: os helenos, ‘como hi tempo os estudiosos notaram, néo tendo uma Igreja, ou algo de algum modo equivalente a ela, eram fatalmente levados a reconhecer "um tnico tipo de sociedade que tivesse fins metabioligicos e espirituais, © a identificé-la com o Estado, com a polis. E verdade que, mais exa- tamente, como foi dito, Aristételes deveria ter definido o homem como “animal social” em vez de “animal politico”; mas é igualmente verdade ue, para fazer isso, ele deveria poder distinguir a sociedade do Estado, Mas ele estava de tal modo distante dessa distingdo, como veremos ‘melhor adiante, que nem sequer foi capaz. de compreender que pudesse hhaver outras formas de Estado além da Cidade, a polis de tipo helénico, tio radicado estava no sentimento grego o seu modo de pensar 0 Estado a coisa pablica! 2. A administragio da familia ‘A familia, nicleo originario do qual se compde a Cidade, 6 cons- tituida por quatro elementos: a) as relagdes marido-mulher, b) as rela- ‘98s pai-filhos, c) a relaglo senhor-escravos, d) a arte de obter as coisas ‘teis, em particular as riquezas (a assim chamada crematistica). Arist6- teles detém-se especialmente sobre o terceiro e © quarto elementos. Dado que a administragio doméstica deve adquirir determinadas propriedades e, para fazer isso, exige instrumentos adequados, inani- ‘mados ou animados, entio o arteséo e o escravo — pensa Aristoteles — sio indispensveis. O artesdo é “como um instrumento que prece- de € condiciona os outros instrumentos” e serve a produgao de deter- ‘minados objetos © de bens de uso. Ao invés, 0 escravo ndo serve a roducdo‘de coisas, mas, em geral, “é um artesio que serve a0 que 3. Para todas essas expresses ef, Plea, A 4, passin a Pouinica 425 diz respeito a ago”, é “um instrumento que serve & aco", isto &, & conduta da vida. Sobre que bases pode-se admitir uma institwigo como a escravi- 0, isto é, uma instituigdo que estabelece que um homem possa ser ‘posse viva'" de um outro homem? Vimos que, da parte de alguns so- fistas e de alguns socréticos menores, foi posta em crise ou, pelo menos, ‘comprometida a convicgao da liceidade da escravidao, Arist6teles, a0 invés, faz-se ferrenho defensor da “naturalidade” da escravidio, Na verdade, 0s principios metafisicos do seu sistema, comreta- ‘mente aplicados, teriam levado a conclusées exatamente contrarias a estas: mas aqui o filésofo deixa-se condicionar pelos preconceitos e cconviegées do tempo, a ponto de submeter da mancira mais artficio- sa 08 seus prOprios principios para fazé-los corresponder aquelas cconviegées. Ele parte do pressuposto de que como a alma e o intelec= 10, por natureza, governam 0 corpo e 0 apetite, assim os homens nos 4quais predominam a alma ¢ 0 intelecto devem governar aqueles nos uais estes ndo predominam, Dado que, entio, era convicedo geral de que a alma ¢ a razio predominavam mais no homem que na mulher, assim ele conclui que ‘© homem ¢ por natureza methor, a mulher pior, aque apto para coman- dar, esta para obedecer', ‘Com mais razio devem ser considerados piores por natureza e, pportanto, capazes s6 de obedecer ¢, assim, escravos, todos os homens {que a natureza dotou de corpos robustos ¢ frageis intelectos. Eis as palavras textuais do nosso fil6sofo: Todos os homens qe dierm dos seus emethantes tno quanto a alma ditere do corpo eo homem do animal (e esto nessa congo squces cua trea implica wo do corpo, que € 0 que eles tom de melho) do eserves or nanrea , par ees, o melhor €sbetrsehavoidade de algo, $= isso vale par os exemplos que aia indicmos € esrao por natrees auem petenceaalguém em ponca( por iso toa posse de lguem em Af) e $6 panicipa da acto no que dz respeto a snsblidade edt sem essa proprament,engunto os ours animals no tm nem mesmo © bu de rarao qu compet tenia mas abederom sy paces Eo sce ‘modo de emprego die de pouco, pore urs outs, ecrvOs ot animals domestics, si ulizados para cs servos necesirios a0 cope? 4. Poltica, A. 5, 125416 13-14 5: Politica, AS, 1258 b 16-26 436 ARISTOTELES E 4 SISTEMATIZACAO DO SABER FILOSGFICO De onde resulta imediatamente evidente a desproporgao entre as premissas e as conclusées, além de uma boa dose de incorrego nas Droprias premissas. A nota que diferencia o homem do animal 6 a razio, ¢ esta € a diferenca essencial e determinante; ora, 0 fato de alguns homens terem mais ou menos razo no pode mudar a sua esséncia ou natureza: a natureza do homem permanece tal enquanto hha razao, pouco ou muito que seja (a quantidade nao incide, nesse caso, sobre a qualidade). Sem contar que a diferenga de inteligéncia, ‘que Arist6teles pretende observar entre os homens, esta bem longe de corresponder a que é afirmada no trecho acima lido. Naturalmente, mesmo forcando os principios e os dados, Arist6te- les tem niio pouco trabalho para fazer concordar esses seus raciocinios ‘com a realidade historica pela qual também estava condicionado. De fato, os escravos provinham, muito amitde, das conquistas de guerra (eram, portanto, prisioneiros). Mas uma guerra pode ser injusta, 0 pri- sioneiro pode ser de alto posto e, em caso de guerra de gregos contra sgregos, pode ser um grego, em tudo igual “por natureza” a quem o fez prisioneiro. Em todos esses casos, a escravidao nio é justficavel “por natureza", E entio? A solucdo de Aristoteles € a seguinie: por natureza, inferior € 0 “bérbaro” e, por isso, sustenta com Euripedes: ‘que € natural que 0s gregos dominem sobre os bérbaros" Mas pode-se ver claramente que a emenda é pior do que 0 soneto, no sentido de tomar mais chocante a posigao do fil6sofo, que, para salvar a igualdade entre 05 gregos, adere 10 preconceito tipicamente helénico, de caréter absolutamente racista ¢, como tal, fundamentalmen: te irracional, segundo 0 qual o grego ¢ por natureza superior ao barbaro, No que se refere & crematistica’, Arist6teles distingue trés modos, de obter bens e riquezas: a) um modo natural e imediato, que se realiza através da atividade da caga, do pastoreio ¢ do cultivo dos campos; b) um modo intermédio, isto 6 mediado, que consiste na troca dos bens com bens equivalentes (escambo) e ¢) um modo nao -natural, que consiste no comércio através do dinheiro, que recorre a todos os artificios para aumentar sem limites as riquezas, Ora, a ter- es, Bfigena em Aude, ¥. 1800; ef Politica, A 2, 1252 b 8 65 7.CF. Poitia, 8 85. ApouiTICs a7 ceira forma de crematistica € condenada por Aristételes, porque ndo existe limite para 0 acréscimo das riquezas, e assim quem a ela se entrega perde 0 sentido ¢ o fim ailtimo da s4 economia, que & 0 de satisfazer a reais necessidades ¢ no acumular riquezas, e acaba por transformar o que é simples meio em fim, Diz com sébias palavras Aristoteles: ‘A alguns parece que esta seja a tarefa da economia {i.€: aumentar con- tinuamente as riguezas], ¢ continuam a crer que esta deva salvaguardar ou aumentar a0 infnito a consisténcia do patriménio pecuniério. A causa dessa atitude & 0 fato de afadigar-se em tomo as coisas que permitem viver, sem preocupar-se com viver bem, ¢ dado que o desejo de afirmar a propria vida ‘lo tem limites, desejam meios predtivos ilimitados ‘A Si economia busca obter, nos primeiros dois modos, 0 quan- to basta para satisfazer as necessidades naturais, que tém um limi te fixado pela natureza. & \gico que ele condene a usura e, tam- bbém, toda forma de investimento em dinheiro com a finalidade de produzir mais dinheiro’. E por mais que nessas posigdes se pressupo- nha uma situagdo socioecondmica oposta a nossa, no por isso & ‘menos verdadeira a instdncia de fundo que elas tornam valida: quan- do 0 dinheiro transforma-se de meio em fim, inverte-se o sentido da vida: usa-se a vida para produzir dinheiro em vez de usar o dinheiro para viver. . 3. O cidadao Do exame da famflia, Arist6teles (depois de cerradas criticas a0 comunismo platOnico)"" passa a0 do Estado, sem aprofundar as ques- tes relativas a vila (que, como vimos, era o segundo dos elementos constitutivos do Estado). Antes, apresenta a questio segundo uma perspectiva diferente. Visto que 0 Estado € feito de cidadios, trata-se de estabelecer quem é 0 cidaddo, Pollen, A 9, 257 b 38-1258 a 2 9.CE. Police, A 10. 10, Cf. Pattie, lv B. 438 /ARISTOTELES & 4 SISTEMATIZACAO BO SABER FILOSOFICO Para ser cidadio numa Cidade, ndo basta habitar no terrt6rio da Cidade, nem gozar do direito de empreender uma agdo judiciéria e, também, nao basta ser descendente de cidadios. Para ser cidadao, impde-se “a participacio nos tribunais ou nas magistraturas”, isto &, tomar parte na adminisiragdo da justiga e fazer parte da assembléia que legisla e governa a Cidade". Nessa definisdo, mais do que nunca, reflete-se a peculiaridade da POlis grega, onde 0 cidadio $6 se sentia tal se participava direramente ‘no governo da coisa publica, em todos os seus momentos (fazer leis, fazé-las aplicar, administrar a justiga). Por consequéncia, nem 0 co- Jono nem o membro de uma cidade conquistada podiam ser ou sentir- -se “cidadios” no sentido acima visto. Mas nem mesmo 0s artesaos podiam ser verdadeiros cidadaos, mesmo sendo homens livres (isto 6, ‘mesmo nao sendo metecos, nem estrangeiros, nem escravos), por nao terem a sua disposigao 0 tempo necessdrio para exercer as fungdes que, a0s olhos de Aristételes, so essenciais. E assim, os “cidadaos tio muito limitados em nimero, enquanto todos os outros homens da Cidade acabam por ser, de algum modo, meios que servem para sa- tisfazer as necessidades dos primeiros. Os artesdos diferenciam-se dos escravos porque, enquanto estes servem as necessidades de uma Linica pessoa, aqueles servem as necessidades piblicas, sem no por isso deixar de ser meios'? E assim, enquanto Arist6teles afirmava que “nao devem ser con- siderados cidadios todos aqueles sem os quais a cidade nio subsis- tiria”, a historia demonstrou a verdade do contrario: mas demons- trou-o somente ao prego de uma série de revolugées, e ainda custa traduzir em ato essa verdade que, em nivel histérico, foi definitiva- mente estabelecida, 4. 0 Estado e suas formas possiveis © Estado, cuja natureza ¢ finalidade j estabelecemos acima, pode atualizar-se segundo diferentes formas, ou seja, segundo dife- rentes constiwicoes. Define Aristoteles: 1, Pola, G 1 12. Potiea, Fs 13. Politica, G 5, 1278 a3, wothiec: Vengeak, Fee, pak Apouinics 439 A constituigdo & a estrutura que dé ordem & Cidade, estabelecendo 0 funcionamento de todos os encargos e, sobretudo, da autoridade soberana! Ora, € claro que, podendo essa autoridade soberana realizar-se de diferentes formas, as constituigdes serdo, fundamentalmente, tantas quantas so estas formas. E_o poder soberano pode ser exercido: 1). por um s6 homem, 2) por poucos homens, 3) ou pela maior parte dos homens. Mas nao s6. Cada uma dessas trés formas de governo pode ser exercida de modo correto ou de modo incorreto:_ Quando um $6, poucos ou a maioria exercem o poder em vista do interesse comum, tem-se necessariamente constitigées retas enquanto quan- do um, poucos ou a maioria exercem o poder no seu ineresse privado, tem- 2 enldo of desvios". _—Existem trés formas de constituigdes retas: monarquia, aristocra cia ¢ politia, as quais correspondem outras tantas formas de const tuigdes degeneradas: rirania, oligarquia e demacracia, Fis as precisas palavras do Estagirita: ‘Temos o habito de chamar reino 0 governo monérquica que se propoe © bem pablico, e aristocracia, 0 governo de poucos (quer © gaverno esieja em mios dos melhores, quer se interesse em obter o maior bem possivel para a cidade e para os cidadlos) quando se prope © bem comum; quando a ‘massa rege 0 governo em vista do bem pablo, a esta forma de governo dé- se 0 nome de poliria[..]. As degeneragSes das precedentes formas de gover- no sto tania, relativamente ao reino, oligarquia, elativamente& aristo: cravia € a democracia, relativamente & polifa, De fato, a tirania ¢ © goveme_ 3K nirquico exercido em favor do monatca, @oligarquia visa aos interesses__ “os ricos, a democracia aos dos pobres; yma dessas formas visa a utlidade gomum (O leitor moderno deve ter presente, para orientar-se bem, que 0 Estagirita entende por “democracia” um governo que, descuidando 0 bbem de todos, visa favorecer os interesses dos mais pobres de mado indevido, dando, portanto, ao termo a acepeo negativa que nds tra- duzimos por “demagogia”: com efeito, Aristételes esclarece que o 14, Polica, G6, 1278 6 8-10 18, Polica, 7, 1279 a 28-3, 16, Politica, G7. 1279 4 324 1. 440 [ARISTOTELES EA SISTEMATIZAGAO BO SABER FILOSOHCO erro da democracia € o de considerar que, dada a igualdade de todos na Tiberdade, todos podem e devem ser iguais também em tudo 0 mais). Qual dessas trés constituigdes € a melhor? A resposta de Arist6teles néo € univoca; antes de tudo, deve-se dizer que as trés formas de govemno, quando retas, so naturais e, portanto, boas, justamente porque o bem do Estado consiste em visar a0 bem comum, E, contudo, evidente que, se numa cidade existisse um homem ‘que superasse a todos em exceléncia, a ele caberia 0 poder monérquico; ese existisse um grupo de individuos verdadeiramente excelentes por virtude, impor-se-ia um governo aristocritico, Eis as explicitas pala- vras de Aristteles: Se h uma pessoa ou um grupo, nfo muito numeroso para consttuir uma cidade, que seja tio excelente em virtude, cuja virude e importincia politica (do individuo ou do grupo) no sejam compariveis as dos outros, entio desnecessério dizer que estes constituem uma parte da cidade, porque seriam injustigados se fossem igualados aos outros, enquanto sobressaem por capa dade e por peso politico: cles seriam como um deus entre os homens. Por ‘onde se vé que, necessariamente, a legislagio deve ser confiada a eles, que fo iguais por estirpe e por capacidade, enquanto nit possivel impor leis, quem € superior & normalidade, uma vez que ele préprio & uma lei”, Portanto, a monarquia seria, abstratamente, a melhor forma de governo, desde que existisse na Cidade um homem excepcional; e a aristocracia seria, por sua vez, a melhor, desde que houvesse um ‘grupo de homens excepcionais. Mas porque subs rn a forma de governo mais convenien-_ [te para as Cidades gregas do seu tempo, nas quais nio existiam um {ou poucos homens excepeionais, mas muitos homens que, embora no sobressaindo na virtude politica, eram capazes de, alternadamente, | governar e ser governados segundo as leis, A politia é, praticamente, via média entre a oligarquia e a democracia ov, se preferimos, ima democracia temperada com a oligarquia: de fato, quem governa uma multidao (como na democracia) e no uma minoria (como na 17. Potica, G 13, 1284 83-14 ‘A rouimica 4a oligarquia), mas nao se trata da multido pobre (diferentemente da

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