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INTRODUÇÃO
Enquanto a fotografia define como iremos ver algo, a direção de arte define o que iremos
ver. Nessa aula estudaremos os aspectos estilísticos da direção de arte com base em
alguns filmes e em alguns comentários de David Bordwell e Kristin Thompson em A Arte do
Cinema: Uma Introdução.
OS CENÁRIOS
Em alguns filmes, os cenários são sutis. Servem como pano de fundo ou contexto do filme.
Ainda assim, são construídos de maneira que mostrem a visão do diretor sobre aquele
acontecimento ou personagem. Woody Allen trabalha dessa maneira em vários de seus
filmes. Os cenários trazem informação, mas não são o elemento principal das cenas.
Apenas ilustram o contexto em que vivem indivíduos de classe média (em outros casos o
cineasta tende a estilizar mais esse elemento).
Playtime - Tempo de Diversão (1967) é um ótimo exemplo disso. O filme tem como
ambiente principal um escritório, o qual, devido também às escolhas da fotografia, nos
concede um ar desolador. Tati utiliza planos com grande profundidade de campo para
potencializar esse efeito. Ele também faz composições abrangentes em que duas situações
ocorrem ao mesmo tempo. Um resultado que só é possível com um bom trabalho em
conjunto da fotografia com a direção de arte.
Roy Andersson é um cineasta contemporâneo que tem uma visão parecida com a de Tati.
Em suas obras, Andersson compõe os cenários juntamente às situações. Ele costuma fazer
planos abertos expressivos que captam grande profundidade de campo.
AS LOCAÇÕES
É importante ressaltar que a direção de arte também está envolvida quando um filme não
utiliza cenários construídos, mas sim locações. As locações, ou seja, espaços que não
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foram especificamente construídos para um filme, também podem ter elementos essenciais
para o drama.
O filme Alemanha, Ano Zero (1948), de Roberto Rossellini, se passa em uma Berlim
devastada após a guerra. O diretor utilizou como locações prédios em escombros e a
própria cidade destruída. O protagonista, um garoto, reforça uma ideia de fragilidade
quando interage com esses espaços.
Hitchcock se utilizava muito bem de objetos em cena em suas obras. Em certos momentos,
a decupagem funciona de um modo que “orbita” esse elemento.
Um dos planos mais famosos de sua carreira é aquele que começa do alto de uma escada
em Interlúdio (1946), até fechar na mão de Ingrid Bergman, que segura uma chave. É como
se a chave fosse um ímã que atrai a câmera. Nesse sentido, a decupagem da cena girou
em torno de um objeto.
No geral, Hitchcock utiliza objetos de cena como motivo estético. Ele se aproveita do
potencial estilístico de um objeto importante para a trama, como o óculos da personagem de
Pacto Sinistro (1951).
Ele faz algo parecido em Um Corpo que Cai (1958), quando exibe o penteado em formato
de espiral da personagem (o penteado também é um elemento da arte). A espiral é um
motivo estético dessa obra como um todo. Ela pode representar tanto a vertigem como a
estrutura narrativa em que o protagonista está preso.
FIGURINO
Em Amor à Flor da Pele (2000), Wong Kar-wai se expressa muito bem através dos
figurinos. Existem momentos em que a protagonista usa trajes que a integra aos ambientes,
enquanto em outros as roupas evidenciam o seu distanciamento.
MAQUIAGEM
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A maquiagem evidencia alguns aspectos que o diretor quer passar para o espectador. David
Bordwell e Kristin Thompson comentam em A Arte do Cinema: Uma Introdução sobre a
maquiagem em Velocidade Máxima (1994).
O delineador nos olhos de Keanu Reeves ressalta a direção de seu olhar, como se o
personagem estivesse mais concentrado. Em Sandra Bullock o destaque está no
arqueamento de suas sobrancelhas, deixando seu olhar mais vivo e com expressão de
alerta.
No mesmo livro, os autores fazem uma comparação com Al Pacino em Fogo contra Fogo
(1995) e em O Poderoso Chefão: Parte III (1990). Apesar do ator ter feito O Poderoso
Chefão: Parte III cinco anos antes de Fogo contra Fogo, ele está com uma aparência mais
envelhecida no filme de Coppola.
A ausência de maquiagem também pode ser uma escolha da direção de arte. Dreyer faz
uma direção minimalista em A Paixão de Joana D’Arc (1928). O filme possui planos em que
o cenário é nada mais que um fundo branco. Os atores, sem maquiagem, são filmados em
close. Dreyer dessa forma quis salientar as expressões e minimizar o impacto de outros
elementos em cena.
CONCLUSÃO
Dentro de uma obra audiovisual, a direção de arte possui elementos que se relacionam
diretamente com a unidade estilística proposta pelo diretor. Conhecer tais elementos faz
com que tenhamos uma visão mais completa de uma obra.
FILMES CITADOS
LIVRO CITADO