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MNPEF - Polo IFRN - Campus Natal/Central

Prof. Tibério Alves, D. Sc.


Eletromagnetismo - 2019.1
Suplemento II - Séries de Taylor

11 de março de 2019

Resumo
Neste material suplementar, vamos estudar as séries de potências e em particular as séries de
Taylor e McLaurin e algumas aplicações na física.

1 Séries de Taylor
1.1 Séries de potências
Vamos começar nossa abordagem sobre as séries de potências através de sua definição. Isto é,
Definição 1. Seja an , com n ≥ 0, uma sequência numérica conhecida e x0 um número real também
conhecido. Dizemos que,

X
an (x − x0 )n = a0 + a1 (x − x0 ) + a2 (x − x0 )2 + ... + an (x − x0 )n + ... (1)
n=0

é uma série de potências com coeficientes an , centrada em x0 .

Por exemplo, a série



X (−1)n n
x (2)
n=0
(n + 1)!

(−1)n
possui an = e x0 = 0. Podemos dizer também que uma série de potências é também uma
(n + 1)!
série de polinômios un = an (x − x0 )n com infinitos termos.
As séries numéricas em geral podem ser classificadas em séries convergentes e divergentes.
Basicamente, a série que possui seu limite como um número finito, é classificada de convergente,
do contrário, a mesma é classificada como divergente. Vale salientar aqui que em problemas
de física e engenharia, as séries devem possuir convergência definida para representar alguma
quantidade física. A partir desta constatação, surge a importância de estudarmos algum critério
de convergência de séries. Existem vários critérios para determinamos se uma série é convergente
ou divergente. Vamos utilizar o método da razão de D’lambert para determinar para quais valores
uma série de potências é convergente ou não.
P∞
Critério
da razão. Seja a série n=0 un com un 6= 0 para todo natural n. Se o limite L =
un+1
lim existe, então ∞ un :
P
n→∞ un n=0

• será convergente, se L < 1.

1
• será divergente, se L > 1 ou L = ∞.
• será de convergência indeterminada por este critério se L = 1.

Exemplo 1. Determine x para que a série



X
xn = 1 + x + x2 + x3 + x4 + ... (3)
n=0
seja convergente.

Temos que determinar os valores de x tais que



un+1
lim < 1. (4)
n→∞ un
ou seja,
n+1
x
lim < 1, (5)
n→∞ xn
n
x x
lim < 1, (6)
n→∞ xn

|x| < 1. (7)


Neste caso, dizemos que o raio de convergência R é 1 e que o intervalo de convergência é ]−1, 1[.
Determinamos se a série acima é convergente ou divergente. Contudo, o valor para o qual a
série converge não foi determinado. Podemos usar o conceito da Expansão de Taylor para calcular
este valor.

1.2 Expansão de Taylor


Considere uma função f (x) que possui sua n-ésima derivada definida e contínua no intervalo
a ≤ x ≤ b, ou seja, podemos derivar a referida função n vezes neste intervalo. Para um x no
intervalo citado, o teorema fundamental do cálculo garante que
Z x
f 0 (t)dt = f (x) − f (x0 ), (8)
x0
Z x
f (x) = f (x0 ) + f 0 (t)dt. (9)
x0

Vamos usar o método de integração por partes fazendo u = f 0 (t) e dv = dt. Desta forma, v = t + c
onde vamos escolher de forma conveniente a constante c = −x. Sendo assim, temos que a integral
no segundo termo da última equação é dada por
Z x t=x Z x
f 0 (t)dt = [(t − x)f 0 (t)] − (t − x)f 00 (t)dt. (10)

x0 t=x0 x0

Com isso, a equação 9 se torna


Z x
0
f (x) = f (x0 ) + (x − x0 )f (x0 ) − (t − x)f 00 (t)dt. (11)
x0

Calculando novamente a última integral por partes, usando agora u = f 00 (t) e dv = (t−x)dt, temos
que
x  t=x Z x
(t − x)2 00 (t − x)2 000
Z 
00

(t − x)f (t)dt = f (t) − f (t)dt. (12)
x0 2 t=x0 x0 2
A equação 9 fica agora da seguinte forma,
x
(x − x0 )2 00 (t − x)2 000
Z
f (x) = f (x0 ) + (x − x0 )f 0 (x0 ) + f (x0 ) + f (t)dt. (13)
2 x0 2

2
Continuando o cálculo, após m integrações, teremos que a função f (x) poderá ser escrita como
a soma de um polinômio com o um termo remanescente, ou resto, da seguinte forma,
m Z x
X f n (x0 )(x − x0 )n (t − x)m m+1
f (x) = + (−1)m f (t)dt. (14)
n=0
n! x0 m!

Chamamos o primeiro termo da soma polinômio de Taylor da função f (x) centrado em x0 , ou seja,
m
X f n (x0 )(x − x0 )n
Pm (x) = (15)
n=0
n!

ao passo que o termo remanescente é chamado de resto integral Rm (x), tal que
Z x
m (t − x)m m+1
Rn (x) = (−1) f (t)dt. (16)
x0 m!
Vamos nos restringir ao casos de funções em que o limite lim Rm (x) = 0, o que faz a função
m→∞
f (x) ser representada por uma série de potências, série esta chamada de série de Taylor. Com
efeito

X f n (x0 )
f (x) = (x − x0 )n , (17)
n=0
n!
de onde podemos escrever também a série de Mclaurin fazendo simplesmente x0 = 0. Neste caso,

X f n (0) n
f (x) = x . (18)
n=0
n!

1
Exemplo 2. Obtenha a série de Maclaurin da função f (x) = e determine seu intervalo de
1−x
convergência.

Vamos começar determinando a n-ésima derivada da função f (x) calculada em x0 = 0. Calculando


a n-ésima derivada, temos

f 1 (x) = −1(1 − x)−1−1 (−1) = (1 − x)−2 , (19)

f 2 (x) = −2(1 − x)−2−1 (−1) = 2(1 − x)−3 , (20)

f 3 (x) = −3(1 − x)−3−1 (−1) = 3(1 − x)−4 , (21)

f 4 (x) = −4(1 − x)−4−1 (−1) = 4(1 − x)−5 , (22)

f n (x) = n!(1 − x)−(n+1) (23)


Temos então que f n (0) = n!, o que conduz à seguinte série de Maclarin para a referida função,

1 X
= xn = 1 + x + x2 + x3 + x4 + ... (24)
1 − x n=0

Esta série é exatamente a série de potência com intervalo de convergência |x| < 1 já determinado
no exemplo 1, também chamada de série geométrica. Respondendo ao nosso questionamento
anterior sobre para qual valor a série converge, para um valor x no intervalo de convergência, a
1
série converge para um valor dado por .
1−x

3
(a) m = 1. (b) m = 2.

(c) m = 3. (d) m = 20.

1
Figura 1: Gráficos das aproximações sucessivas do polinômio de Taylor para a função f (x) = . A linha
1−x
preta sólida é o gráfico da função ao passo que a linha tracejada e pontilhada representa o polinômio de Taylor nas
respectivas aproximações.

1
Uma análise gráfica da série de Maclarin da função f (x) = revela propriedades
1−x
interessantes a respeito de como a função f (x) pode ser descrita como uma série de potências.
Observando a figura 1, note que todas as aproximações melhoram quanto mais próximo estivermos
de x = x0 = 0 e note também que ao passo que o polinômio de Taylor aumenta de ordem
(m = 1, 2, 3, 20), a aproximação do polinômio também melhora para intervalo maior de valores de
x.
Acabamos de notar que a série de Taylor se apresenta como uma técnica matemática muito útil
quando nosso interesse é escrever de forma aproximativa alguma função f (x) em torno de algum
ponto. Vamos fazer agora, alguns desenvolvimentos em série de Maclaurin para algumas funções
de importância em sistemas físicos, como as funções trigonométricas e transcendentais.
Exemplo 3. Desenvolva as funções sin(x) e cos(x) em séries de Maclaurin.

Vamos inciar pela função f (x) = sin(x) calculando suas primeiras quatro derivadas. Isto é,

f 1 (x) = cos(x), (25)

f 2 (x) = − sin(x), (26)

4
f 3 (x) = − cos(x), (27)

f 4 (x) = sin(x). (28)


De maneira geral,
 nπ 
f n (x) = sin x + . (29)
2
Isto revela que, para Série de Maclaurin (x0= 0), somente os termos de ordens ímpares serão

diferentes de zero. Ou seja, f n (0) = sin , onde fica claro que os termos com n = 0, 2, 4, 6...
2
serão nulos. Para representarmos a série sem esses termos nulos, basta mudarmos o índice da série
de n para 2n + 1. Note que,
 
(2n + 1)π
f 2n+1 (0) = sin = (−1)n , (30)
2
desta forma, a série de Maclarin para a função seno é dada por

X f 2n+1 (0) 2n+1
sin(x) = x , (31)
n=0
(2n + 1)!

X (−1)n 2n+1 x3 x5 x7
sin(x) = x =x− + − + ... (32)
n=0
(2n + 1)! 3! 5! 7!
Fica como exercício para o leitor mostrar que para a função cosseno temos a seguinte série de
Maclaurin,

X (−1)n 2n x2 x4 x6
cos(x) = x =1− + − + ... (33)
n=0
(2n)! 2! 4! 6!

Uma outra função frequente em problemas da física é a função exponencial f (x) = ex . Neste
caso, todas as derivadas são iguais à própria função, permitindo escrever que f n (0) = 1 para todo n
natural. Sendo assim, facilmente podemos desenvolver a função exponencial em série de Maclaurin
da seguinte forma,

x
X f n (0) n x2 x3 x4 x5
e = x =1+x+ + + + + ... (34)
n=0
n! 2! 3! 4! 5!

Consideremos que x = iθ com i = −1 sendo a unidade imaginária dos números complexos. Sendo
assim, temos que

(iθ)2 (iθ)3 (iθ)4 (iθ)5


eiθ = 1 + (iθ) + + + + + ... (35)
2! 3! 4! 5!
θ2 iθ3 θ4 iθ5
eiθ = 1 + iθ −
− + + ... (36)
2! 3! 4! 5!
de onde podemos rearranjar os termos em duas séries, de tal forma que

θ3 θ5 θ2 θ4
 
eiθ = i θ − + + ... + 1 − + ... (37)
3! 5! 2! 4!
obtendo assim, a fórmula de Euler,

eiθ = i sin θ + cos θ . (38)

1.3 Aplicações em física


Em várias situações de interesse físico, estamos voltados ao estudo do comportamento
aproximativo de funções que representam quantidades físicas. Vamos expor agora algumas
situações em que o desenvolvimento em série de Taylor de uma função é crucial para compreensão
de sistemas físicos.

5
Mecânica
Um dos problemas fundamentais da mecânica clássica é o pêndulo simples. Trata-se de um
corpo de massa m pendurado por um fio inextensível de comprimento l e de massa muito menor
que a massa do corpo, que pode se mover sob ação de um campo gravitacional ~g = −g ŷ. Veja a
figura 2 a seguir.

Figura 2: Representação esquemática do pêndulo simples e o sistema de coordenadas adotado.

A posição do pêndulo simples pode ser escrita em termos do ângulo θ da seguinte forma,

~r = l sin θ x̂ − l cos θ ŷ. (39)


A dinâmica do movimento pode descrita através da equação de Newton para a rotação, isto é, o
~ = I~
torque resultante ~τ é simplesmente igual a derivada temporal do momento angular L ω com
2
I = ml sendo o momento de inércia e ω = θ̇, portanto,

~
dL
~τ =
. (40)
dt
Considerando que o pêndulo sempre oscila no plano x-y e que as únicas forças são peso e tração
do fio, o único torque relevante é o torque devido a força peso, ou seja,

~τ = ~r × m~g = (l sin θ x̂ − l cos θ ŷ) × (−mg ŷ) (41)

~τ = −lmg sin θ ẑ. (42)


Por outro lado,

~
dL d
= (Iωẑ) = I ω̇ ẑ = ml2 θ̈ ẑ.
~τ = (43)
dt dt
Substituindo as equações 42 e 43 na equação 40, chegamos à seguinte equação da dinâmica do
pêndulo simples,

θ̈ + ω02 sin θ = 0, (44)


com ω02 = g/l sendo uma constante.
Esta equação possui soluções relativamente complicadas a julgar pela forma do termo sin θ.
Contudo, está dificuldade é contornada se estivermos em um domínio de valores pequenos de θ, de
tal forma que podemos aproximar a função sin θ por sua série de Maclaurin, isto é,

θ3 θ5
sin θ = θ − + + ... (45)
3! 5!

6
Para uma aproximação de 1a ordem, temos que sin θ ≈ θ, fazendo com que a equação da dinâmica
do pêndulo se torne

θ̈ + ω02 θ = 0 , (46)
sendo assim uma equação diferencial de segunda ordem com coeficientes constantes, de solução
mais simples. Para termos uma ideia da aproximação, para um ângulo de 15◦ , temos que

sin(15π/180)
≈ 98, 86%. (47)
15π/180

Eletromagnetismo
Os métodos aproximativos com uso da série de Taylor são muito úteis também em
eletromagnetismo, em especial no estudo de campos elétricos de distribuições de cargas elétricas.
Considere o problema do campo elétrico devido um disco carregado uniformemente com densidade
σ de carga, como ilustra a figura 3 a seguir.

Figura 3: Representação esquemática de um disco carregado com densidade superficial de carga σ. O campo
~ é definido para uma posição z acima do disco sobre seu eixo de simetria.
elétrico E

A intensidade do campo elétrico sobre o eixo de simetria do disco a uma distância z do mesmo,
calculada a partir da lei de Coulomb, vale
 
σ z
E= 1− √ . (48)
20 R2 + z 2
Um caso de interesse, seria estudar o comportamento do campo elétrico quando a distância z se
torna muito maior que o valor do raio R do disco, ou seja, z  R. O resultado esperado é que
o campo elétrico coincida com o campo elétrico devido uma carga pontual. Com efeito, vamos
reescrever a equação 48 da seguinte forma,
 
σ 1
E= 1− √ , (49)
20 1+x

com x = R2 /z 2 . Nosso problema agora, se resume em expandir 1/ 1 + x em série de Maclarin
com x  1, ou seja,

1 x 3x2 5x3
√ =1− + − + ... (50)
1+x 2 8 16
A expansão de ordem zero conduz a um campo elétrico nulo, não sendo de interessante. Contudo,
para a expansão até primeira ordem, temos
σ h  x i
E≈ 1− 1− , (51)
20 2

σ R2
E≈ , (52)
20 2z 2

7
1 Q
E≈ , (53)
4π0 z 2
onde usamos o fato que a densidade superficial de carga é σ/πR2 . Note que este resultado indica
que, para z  R (x  1), o campo elétrico devido ao disco carregado se reduz a um campo elétrico
do tipo carga pontual.

Relatividade
Na relatividade restrita, os efeitos relativísticos, tanto na cinemática como na dinâmica, são
quantificados via o fator de Lorentz γ. Este último, relaciona o valor da velocidade do corpo em
questão em termos da velocidade da luz da seguinte forma,
1
γ=r . (54)
v2
1− 2
c
Quanto maior for o valor da velocidade v do objeto físico em questão, maiores serão os efeitos
relativísticos.
Como exemplo, vamos tomar a expressão para a energia cinética relativística

K = mc2 (γ − 1). (55)


Uma expansão em série de Maclaurin do fator de Lorentz, revela que
1 1  v 2 3  v 4 5  v 6
r = 1 + + + + ... (56)
 v 2 2 c 8 c 16 c
1−
c
1  v 2 3  v 4 5  v 6
γ−1= + + + ... (57)
2 c 8 c 16 c
Usando esta última expressão juntamente com a equação para energia cinética, podemos escrever
a energia cinética relativística da seguinte forma,
   
1 v 2 3  v 4 5  v 6
K = mc2 + + + ... . (58)
2 c 8 c 16 c
Perceba que a aproximação da série até a 2a ordem, conduz ao resultado clássico para a energia
cinética, ou seja,
1
Kc = mv 2 , (59)
2
e, deste ponto de vista, os efeitos relativísticos surgem como ordens superiores para a série de
Mclaurin do fator de Lorentz.

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