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Dissertação Renato Completa
Dissertação Renato Completa
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
MESTRADO PROFISSIONAL DE SISTEMAS DE GESTÃO
RENATO VELOSO
Niterói
2015
RENATO VELOSO
Orientador:
Fernando Vieira de Oliveira, pDSc
Niterói
2015
RENATO VELOSO
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Fernando de Oliveira Vieira, pDSC
Universidade Federal Fluminense
_______________________________________________________________
[MEMBRO 2]
[INSTITUIÇÃO 2]
_______________________________________________________________
[MEMBRO 3]
[INSTITUIÇÃO 3]
Dedico este trabalho
AGRADECIMENTOS
"O que torna uma resolução tão difícil é não
sabermos o que queremos e o quanto queremos"
(Nilton Bonder)
RESUMO
No Brasil já se percebe há muito tempo um anseio dos cidadãos na busca da celeridade
na solução dos conflitos, sendo visível esta reivindicação no sentido de efetividade e
satisfação. Em que pese o acesso à Justiça ter sido ampliado pela Constituição de 1988, para o
Poder Judiciário é inconteste a sobrecarga advinda de processos em tramitação relacionados à
solução de conflitos. Esta morosidade de tramitação dos processos judiciais, tem gerado
enormes desafios, mas também oportunidades para inovações buscando novos caminhos que
não dependam da tutela jurisdicional do Estado. Dentre as alternativas, aponta-se a
revitalização da cultura dos meios consensuais de solução de conflitos, com foco na
mediação, para que as partes possam construir cooperativamente e de forma corresponsáveis o
melhor equacionamento e as melhores soluções aos seus interesses e necessidades. Isto
configura uma importante ferramenta dialógica de trabalho e solução aos impasses dos
cidadãos, estabelecendo-se um ambiente cooperativo e não adversarial. No cenário legislativo
nacional atual são relevantes nesta discussão, o papel do advogado neste novo cenário com o
marco regulatório da mediação, a Lei n.13.140 de 26.06.2015, bem como no novo Código de
Processo Civil - CPC. A Lei n.13.140 estabeleceu a mediação judicial, extrajudicial e também
deu tratamento à auto composição de conflitos em que for Parte Pessoa Jurídica de Direito
Público. A Mediação consiste na atividade de facilitar a comunicação entre as partes para
propiciar que elas mesmas possam, visualizando melhor os meandros da situação
controvertida, protagonizar uma solução consensual. A proposta da técnica é proporcionar
outro ângulo de análise dos envolvidos: em vez de continuarem as partes enfocando suas
posições, a mediação propicia que elas voltem suas atenções para os verdadeiros interesses
envolvidos. Atualmente, muito se tem falado sobre a mediação e métodos adequados, também
chamados de alternativos de resolução dos conflitos no Brasil, os quais na doutrina são
nominados por MASC´S - Métodos Alternativos de Solução de Conflitos (controvérsias),
também chamados de MESC´S ou ADR’S Alternative Dispute Resolutions. Este trabalho visa
investigar junto aos Gestores de uma Autarquia a aplicação destes métodos e os benefícios
advindos da mediação de conflitos, procurando identificar os elementos negativos e positivos
e idenficando o que os gestores agregariam com a implantação da mediação de conflitos. Para
isto será desenvolvido e aplicado um questionário com os principais gestores da Instituição
analisada, visando e estabelecer as relações entre os fatores analisados sobre o papel da
medição de conflitos na gestão de pessoas. Neste contexto, será abordada a Lei nº 13.140,
analisando a sua importância como meio de solução de controvérsias e resolução de conflitos
na Instituição analisada.
ABSTRACT
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13
1.1 SITUAÇÃO-PROBLEMA .................................................................................... 13
1.2 QUESTÕES DE PESQUISA ................................................................................ 13
1.3 OBJETIVOS .......................................................................................................... 13
1.3.1 Objetivo geral ........................................................................................................ 14
1 INTRODUÇÃO
1.1 SITUAÇÃO-PROBLEMA
Recentemente foi promulgada a Lei n. 13.140/2015 (BRASIL, 2015), que dispõe
sobre a mediação como meio de solução de controvérsias entre particulares e sobre a auto
composição de conflitos no âmbito da administração pública. Essa questão está em amplo
debate no País, com implantação de comitês de mediação em diversas organizações públicas e
privadas, visando uma forma humanística para solucionar as lides entre as pessoas. Os
constantes desencontros na solução de conflitos têm causado transtornos e prejuízos, não só
em nível econômico como nas relações interpessoais. De forma a minimizar essas
consequências, pergunta-se qual seria para os Gestores o papel da mediação de conflitos no
seu ambiente de trabalho.
1.3 OBJETIVOS
A pesquisa será restrita aos Gestores de uma Autarquia Pública Federal, onde se
procurará analisar o entendimento dos mesmos com relação a mediação de conflitos.
Mas não raras as vezes nestes processos interacionais mais ágeis e criativos, a
gestão ainda passa por seres humanos que apresentam necessidades diferenciadas,
sentimentos e objetivos diversos.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Para Moore (2008), através dos registros da história tem-se que o conflito está presente
em todas as sociedades quer na disputa entre cônjuges, filhos, pais e filhos, vizinhos, grupos
étnicos e raciais, no trabalho, superiores e subordinados, comunidades, cidadãos e governo.
Art. 160. Nas cíveis, e nas penais civilmente intentadas, poderão as Partes nomear Juízes
Árbitros. Suas Sentenças serão executadas sem recurso, se assim o convencionarem as
mesmas Partes.
Art. 161. Sem se fazer constar, que se tem intentado o meio da reconciliação, não se
começará Processo algum.
Braga Neto (2010) relata que em 1988 quando da elaboração da Carta Magna,
surgiram os primeiros passos para criação de um ambiente favorável à implementação de
instrumentos pacificadores. Estabeleceu-se no preâmbulo da Constituição Federal, que o
Estado Brasileiro está fundamentado e comprometido “na ordem interna e internacional com a
solução pacifica das controvérsias”. A partir daí surgiu uma legislação especifica como as
Leis 9.099/95 (Juizados Especiais Cíveis e Criminais), Lei 9.307/96 (Arbitragem), Lei
9.870/99 (mensalidades escolares), Lei 10.101/00 (Participação nos Resultados das Empresas)
e Lei 10.191/01 (Medidas Econômicas Complementares ao Plano Real) que contribuíram para
a inclusão das palavras mediação e mediador.
Souza Neto (2001), entende que o Balcão de Direitos, implementados pela Viva Rio,
para atuar em favelas do Rio de Janeiro foi um dos programas mais importantes a fazer uso da
mediação.
Vantagens Desvantagens/riscos
Acelerar a mudança da cultura Formalizar excessivamente a prática da
mediação
Oferecer segurança jurídica Formalizar excessivamente a prática da
mediação
Manter o padrão positivista
Texto de lei traga mais problemas do que
soluções
Fonte: (BRASIL, 2015) – Elaborado pelo autor.
“O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior
entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses
em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação
identificar, por si próprios soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.”
Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder
decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou
desenvolver soluções consensuais para a controvérsia.
Mediador
NCPC Lei da Mediação
Credenciamento Mediador judicial: Art 11º
Capacitação mínima Art. 167 caput e Parágrafo Capacidade civil
1º
Câmara Privada Pessoa graduada há pelo menos dois anos
em curso de ensino superior de instituição
reconhecida pelo Ministério da Educação
Escolha do Mediador
NCPC LEI DA MEDIAÇÃO
Mediação Judicial – Art. 168 caput e parag. Mediador judicial
Escolhido pelas partes Escolhido pelas partes
Designado pelo tribunal mediante Designado pelo tribunal mediante
distribuição distribuição (Art. 4)
Fonte: (BRASIL, 2015) – Elaborado pelo autor.
Sennet (2012) procura explorar a cooperação como uma habilidade, pois ela requer a
capacidade de entender e mostrar-se receptivo ao outro para agir conjunto. Diz ainda que a
cooperação sucintamente pode ser definida como uma troca em que as partes se beneficiam.
Diz ainda que a discussão dialógica ajuda a formar engajamento crítico evitando ser
convencido de determinada posição e fundamentada na comunicação onde tudo é exposto
com clareza. Saber ouvir e interpretar com clareza antes de responder, resultará numa
conversa enriquecida mais cooperativa e mais dialógica.
Nesse contexto ao se realizar estudos sobre Mediação de Conflitos, observa-se a
importância da comunicação nesse processo e nas relações interpessoais de um modo geral,
não só para que os mediandos esclareçam pontos do conflito, mas para que o mediador,
através de perguntas e paráfrases, possa levar os mediandos a identificarem seus conflitos
(WATZLAWICK, 2014).
O paradigma de cooperação para resolução de conflitos resgata e reformula, com
propriedade científica e metodológica, a importância e a centralidade tanto do diálogo como
de uma comunicação essencialmente colaborativa nos espaços os mais diversos, e aqui neste
trabalho de estudo, pesquisa, um importante norte na gestão pública.
Diferenciação
Judiciário Mediação
As partes se enfrentam As partes trabalham juntas
cooperando uma com a outra
MEDIAÇÃO
Procedimento controlado por um As partes “controlam” o
terceiro procedimento
Um terceiro decide A decisão é tomada pelas partes
Tudo ou nada / Ganha ou perde Todos se beneficiam com a decisão
Decisão baseada em Decisão baseada nos interesses
lei/jurisprudência reais das partes
A decisão põe fim ao conflito? As partes resolvem a controvérsia
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Paradigmas Básicos:
Muszkat (2008), afirma que todas as estratégias podem ser úteis no processo desde que
sejam respeitados seus paradigmas básicos:
• Respeitar a autodeterminação das partes.
• Transmitir a ideia de que conflitos fazem parte da vida e podem trazer
respostas promissoras, se bem encaminhados.
• Aumentar os níveis de consciência sobre si e sobre o outro.
• Ressocializar os poderes em jogo.
• Estimular a autonomia e a autodeterminação.
• Desenvolver novas formas de comunicação.
• Promover reparações
• Flexibilizar padrões rígidos de conduta.
• Proporcionar condições para chegar a um acordo.
• Propiciar a criação do maior numero possível de alternativas.
De acordo com Barros (2015), a mediação não pode ser confundida com outros
métodos alternativos de solução de litígios, suas particularidades e especificidades são uma
prática possível de promoção das pessoas tendo em vista o princípio da autonomia privada.
A mediação como processo eficaz para solução de controvérsias vincula-se
diretamente aos trabalhos realizados embasados nos mais rígidos princípios éticos. Ela
transcende à solução da controvérsia transformando o adversarial em colaborativo.
É um processo confidencial e voluntário, onde as responsabilidades das decisões
cabem às partes envolvidas.
Sua pratica requer conhecimento e treinamento especifico de técnicas próprias
devendo o mediador qualificar-se e aperfeiçoar-se de forma a melhor continuamente suas
atitudes e suas habilidades profissionais.
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2.2.1.1 Negociação:
Figura 1 - Negociação
Braga (2010) define como: "A característica mais marcante de todos os métodos
alternativos de conflitos é o emprego da negociação como instrumento primeiro e natural para
solucionar os conflitos, ao qual muitas vezes recorrem seus agentes, mesmo de modo
inconsciente, quando existe algo incômodo na inter-relação existente, seja ela de ordem
afetiva, profissional ou comercial. Ao recorrer ao diálogo o que se tenta é atender ao reclamo
de uma parte em relação à outra. Nesses casos, não existe – o terceiro – imparcial e
independente, pois a busca da solução se faz apenas por aqueles envolvidos na controvérsia,
que recorrem ao diálogo e à troca de informações e impressões. Poderíamos dizer que a
negociação é a primeira tentativa de resolução de conflitos, pois, uma vez diante da tentativa
de resolução de conflitos, uma vez diante de uma solução que atenda a ambas as partes, o
conflito está resolvido".
Vasconcelos (2008), entende que: "È lidar diretamente, sem a interferência de
terceiros, com pessoas, problemas e processos, na transformação ou restauração de relações,
na solução de disputas ou trocas de interesses. A negociação, em seu sentido técnico, deve
estar baseada em princípios. Deve ser cooperativa, pois não tem por objetivo eliminar, excluir
ou derrotar a outra parte. Nesse sentido, a negociação (cooperativa), dependendo da natureza
da relação interpessoal, pode adotar o modelo integrativo (para relações continuadas) ou o
distributivo (para relações episódicas). “Em qualquer circunstância busca-se um acordo de
ganhos mútuos".
No entendimento de Fisher e Ury (2014), "Negociação é um meio básico de conseguir
o que se quer de outrem. É uma comunicação bidirecional concebida para chegar a um
acordo, quando você e o outro lado têm alguns interesses em comum e outros opostos”
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2.2.1.2 Conciliação:
Figura 2- Conciliação
O CNJ tem a conciliação como uma forma de solução de conflitos em que as partes,
por meio da ação de um terceiro, o conciliador, chegam a um acordo, solucionando a
controvérsia. Nesse caso, o conciliador terá a função de orientá-las e ajudá-las, fazendo
sugestões de forma que melhor atendam aos interesses dos dois lados em conflito. Nas
Centrais e Câmaras de Conciliação, Mediação e Arbitragem, a conciliação será feita
simultaneamente com a mediação, sobretudo quando o conflito tiver como causa
preponderante problema de ordem jurídica ou patrimonial, mas sempre com assistência do
mediador até que se esgote a possibilidade de as partes celebrarem um acordo que encerre
essa demanda, com a formalização do respectivo termo de transação ou compromisso arbitral.
É o conciliador, pela sua formação jurídica, que a conduz até a formalização do acordo.
(BRASIL, 2013).
2.2.1.3 Arbitragem:
Figura 3 - Arbitragem
âmbito do Poder Judiciário, com maior celeridade, eficácia, segurança jurídica proporcionada
pelas especialidades do julgamento, dentre outros fatores, de forma sigilosa e definitiva, não
cabendo recursos contra a sentença arbitral. Com o uso do juízo arbitral, resolve-se a
controvérsia atacando diretamente o centro do conflito, através da escolha de um ou mais
árbitros especializados no assunto.
A arbitragem é uma forma de solução de conflitos em que as partes, por livre e
espontânea vontade, elegem um terceiro, o árbitro ou o Tribunal Arbitral, para que este
resolva a controvérsia, de acordo com as regras estabelecidas no Manual de Procedimento
Arbitral das Centrais de Conciliação, Mediação e Arbitragem. O árbitro ou Tribunal Arbitral
escolhido pelas partes emitirá uma sentença que terá a mesma força de título executivo
judicial, contra a qual não caberá qualquer recurso, exceto embargos de declaração. É, o
árbitro, juiz de fato e de direito, especializado no assunto em conflito, exercendo seu trabalho
com imparcialidade e confidencialidade. (BRASIL, 2013).
2.2.1.4 Mediação:
Figura 4 - Mediação
Tartuce (2008), em sua obra ensina que, “a Mediação consiste na atividade de facilitar
a comunicação entre as partes para propiciar que estas próprias possam, visualizando melhor
os meandros da situação controvertida, protagonizar uma solução consensual. A proposta da
técnica é proporcionar um outro ângulo de análise dos envolvidos: em vez de continuarem as
partes enfocando suas posições, a mediação propicia que elas voltem sua atenção para os
verdadeiros interesses envolvidos. Como exemplo, imaginemos uma discussão familiar sobre
o valor da pensão alimentícia: o conflito geralmente é marcado pelas posições de resistência
(do alimentante) e insistência (da responsável legal do alimentando) quando a certo valor.
Caso ambos, consensualmente, se comuniquem para formar o valor devido, listando as
despesas da criança e sua pertinência, visualizarão cada gasto e decidirão sobre sua realização
ou não. Tal situação permite que mais importante do que a simples posição de cada um é o
atendimento do melhor interesse da criança. ”
Para a Comissão de Mediação e Arbitragem da OAB seção Minas Gerais, em sua
cartilha “Mediação é o procedimento em que uma pessoa imparcial auxilia a comunicação
entre dois ou mais indivíduos em conflito por meio da utilização de determinadas técnicas
com o intuito de que as próprias pessoas resolvam o impasse consciente e voluntária. É lícita a
mediação em toda a matéria que admita a reconciliação, transação ou acordo, sendo a melhor
indicação para os casos em que se deseja que as relações entre as partes envolvidas restem
preservadas após a resolução dos conflitos. E ainda, pode ser utilizada em conflitos que
possam ser resolvidos por meio do diálogo. ”
Segundo o Conselho Nacional de Justiça mediação é uma forma de solução de
conflitos em que um terceiro neutro e imparcial auxilia as partes a conversar, refletir, entender
o conflito e buscar, por elas próprias, a solução. Nesse caso, as próprias partes é que tomam a
decisão, agindo o mediador como um facilitador. Nas Centrais e Câmaras de Conciliação,
Mediação e Arbitragem, a mediação será feita simultaneamente com a conciliação, sobretudo
quando o conflito tiver como causa preponderante problema de ordem pessoal, emocional ou
psicológica (incompatibilidade de gênios, raiva, sentimento de vingança ou de intolerância e
indiferença), mas sempre com assistência do conciliador até que se esgote a possibilidade de
uma reaproximação afetiva das partes, sem prejuízo de este formalizar um acordo que encerre
o conflito nos seus aspectos jurídico-patrimoniais. (BRASIL, 2013).
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vezes pode simplesmente estacionar e se constrói entre partes, com envolvimento e não
necessariamente com consentimento".
O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais
pessoas divergem em razão de metas, interesses ou objetivos individuais percebidos como
mutuamente incompatíveis. (BRASIL, 2013).
Os conflitos envolvem lutas entre duas ou mais pessoas com relação a valores ou a
competição por status, poder ou recursos escassos (MOORE, 1998, p. 29).
Para Vezzulla (1998), "o conflito consiste em querer assumir posições que entram em
oposição aos desejos do outro, que envolve uma luta pelo poder e que sua expressão pode ser
explicita ou oculta atrás de uma posição ou discurso encobridor. Taz a ideia de algo negativo,
assustador, alerta de perigo, ameaça do equilíbrio".
Há uma progressiva escalada, em relações conflituosas, resultante de um círculo
vicioso de ação e reação. Cada reação torna-se mais severa do que a ação que a precedeu e
cria uma nova questão ou ponto de disputa. Com esse crescimento do conflito, as suas causas
originárias progressivamente tornam-se secundárias a partir do momento em que os
envolvidos mostram-se mais preocupados em responder a uma ação que imediatamente
antecedeu sua reação. Nesse modelo de espiral de conflitos ambos são, ao mesmo tempo,
vítima e ofensor ou autor do fato. (BRASIL, 2009)
O conflito não está na realidade objetiva, e sim na mente das pessoas. A verdade é
apenas um argumento a mais para lidar com a diferença. Os medos, ainda que infundados, são
medos reais e precisam ser abordados. As esperanças, mesmo que não sejam realistas, podem
provocar uma guerra. (FISHR, URY. 2014).
Existem condições que determinam se um conflito irá ser resolvido com
consequências construtivas ou destrutivas. Dependendo da forma como ele é resolvido pode
gerar essas consequências. Isso quer dizer que o conflito pode ter muitas funções positivas,
isto é, ele pode prevenir estagnações, estimular interesse e curiosidade, ser o meio pelo qual
os problemas podem ser manifestados e no qual chegam as soluções, em resumo, o conflito é
a raiz da mudança pessoal e social. (GOMMA, 2004).
Além disso, o conflito pode ser parte do processo de testar e de avaliar alguém e,
enquanto tal, pode ser altamente agradável pois se nesse sentido se experimenta o prazer do
uso completo e pleno de sua capacidade. Além do mais, o conflito demarca grupos e
geralmente fomenta coesão interna. Os inúmeros conflitos experimentados podem servir para
eliminar as causas de dissociação e restabelecer a unidade. (GOMMA, 2004).
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Watzlawick (2014) "lembra que nunca lidamos com a realidade em si, mas sim com
imagens da realidade, ou seja, com interpretações. Embora o número de
interpretações, potencialmente, possíveis seja muito grande, nossa imagem de
mundo de interpretações, potencialmente, possíveis seja muito grande, nossa
imagem de mundo em geral nos permite enxergar apenas uma perspectiva e por isso
esta parece ser a única possível, razoável e permitida. Além disso, esta única
interpretação também sugere apenas uma solução possível, razoável e permitida. Por
outro lado: “É surpreendente verificar com que frequência simplesmente reagimos
ao que alguém disse ou fez. Duas pessoas recaem amiúde num padrão de discurso
que se assemelha a uma negociação, mas que, na realidade, de modo algum tem esse
objetivo. Elas discordam uma da outra quanto a alguma questão e a palavra corre de
um lado para outro como se buscassem um acordo. De fato, porém, a discussão é
conduzida como um ritual, ou simplesmente um passatempo. Cada participante está
empenhado em marcar pontos contra o outro ou em reunir provas que confirmem
opiniões há muito formuladas acerca do outro e que não se dispõem a modificar-se.
Nenhuma das partes está buscando um acordo ou sequer tentando influenciar a
outra. Se você perguntar a duas pessoas por que elas estão discutindo, a resposta
identificará tipicamente uma causa, e não uma finalidade. Apanhadas numa
discussão, seja entre marido e mulher, entre empresa e sindicato ou entre duas
firmas, as pessoas tendem mais a reagir ao que o outro lado disse ou fez do que a
agir em prol de seus próprios interesses a longo prazo. “Eles não podem me tratar
dessa maneira. Se estão pensando que vão sair disso impunes, vão ter que pensar
melhor. Eu mostro a eles.” (FISHER, URY e PATTON, 2005, p. 70 e 71).
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De acordo com Fisher e Ury (2005),os interesses mais poderosos são as necessidades
humanas básicas. As necessidades humanas básicas incluem: segurança, bem-estar
econômico, sentimento de pertença, reconhecimento e controle sobre a própria vida".
No olhar de Braga Neto (2010), o conflito não se instala na vida das pessoas físicas ou
jurídicas da noite para o dia, ele cumpre um círculo como qualquer outro elemento vital.
Identifica as seguintes fases em que se instala o conflito:
• Conflito latente: presente na estrutura do conflito, mas não se encontra
manifesto. Ele acarreta determinado desconforto interno que exige determinada
mudança sob pena de essa pessoa se considerar infeliz.
• Iniciação: instala-se a situação de conflito, com a manifestação de uma vontade
que se contrapõe a outra vontade.
• Busca do equilíbrio do poder: sucedem-se as ações das partes.
• Equilíbrio do poder: pode beneficiar uma parte ou outra parte.
• Ruptura do equilíbrio: quando uma parte procura provocar mudanças a seu
favor em detrimento da outra.
De acordo com Braga Neto (2010), o conflito tem o conteúdo manifesto ou posição, a
exemplo de quando o empregado que luta para obter maior salário (posição), e conteúdo real
ou interesse/necessidade, ou seja, o maior salário irá assegurar um padrão de vida (interesse).
As posições e interesses são centrais no tratamento que o processo de mediação dará ao
conflito.
Braga Neto (2010), afirma que a comunicação nas relações pessoais reflete os
mecanismos de pensamento envolvidos nos processos de emissão e recepção dos estímulos e
encontra-se diretamente associada às construções mentais. A emoção delimita, restringe ou
amplia a intenção do comunicador e a compreensão do receptor. Dessa forma, quando existe
um conflito, seja ele latente ou manifesto, o fluxo do diálogo é interrompido, o que acarreta
falhas na comunicação e, muitas das vezes, resultam em interpretações equivocadas. Por isso
a comunicação entre as pessoas é um elemento a ser permanentemente entendido em uma
perspectiva histórica.
• Poder da informação: por sua capacidade de criar novos conceitos, alertar para
fatos e acontecimentos, estabelecer referências e sugerir novas percepções.
• Poder de ordem emocional: talvez um dos mais difíceis de enfrentar, por sua
característica subjetiva, pois aparece de várias formas, às vezes difíceis de
detectar.
Muszkat (2008), no Guia Prático de Mediação de Conflitos, afirma que reagimos aos
conflitos de quatro maneiras diferentes:
• Evitando: ao evitar o conflito o sujeito ofendido procura se esquivar de
qualquer ação. Nunca aborda o problema diretamente, o que não significa que
sentimentos de frustração, raiva, medo ou desejos de vingança não
permaneçam ativos em sua mente. Esse sujeito pode criar a esperança de que o
conflito se resolva por si mesmo ou desapareça, nesses casos, quase tudo se
passa na fantasia das partes ofendidos.
• Usando a força: reagindo usando a força, a retaliação é feita por meio de
ameaças que visam atemorizar a outra parte, de discussões infindáveis e
humilhantes ou de violência física.
• Buscando recurso numa autoridade superior: ao recorrer a uma autoridade, o
ofendido busca uma instância superior de poder.
• Apelando para a mutua colaboração: as pessoas sentam para decidir, entre si ou
na presença de um terceiro imparcial, uma solução que satisfaça ambas as
partes: este é modelo da mediação.
2.2.3 Mediação
2.2.3.1 Conceito
Souza (2012) define a mediação da seguinte forma: "A mediação de um conflito pode
ser definida como a intervenção construtiva de um terceiro imparcial junto às partes nele
envolvidas, com vistas à busca de uma solução pelas próprias partes".
Vezzulla (1998), entende que "a mediação é uma técnica de resolução de conflitos,
não adversarial, que sem imposições de sentença ou laudos, e, com um profissional
devidamente formado, auxilia as partes a acharem seus verdadeiros interesses e a preserva-los
num acordo criativo onde as duas partes ganhem".
Para Braga Neto (2010), "é um método de resolução de conflitos em que um terceiro
independente e imparcial coordena reuniões conjuntas ou separadas com as partes envolvidas
em conflito em um conflito, sendo que um dos seus objetivos é estimular o diálogo
cooperativo entre elas para que alcancem a solução das controvérsias em que estão
envolvidas".
De acordo com Rodrigues Júnior (2006), "A mediação é um processo dinâmico que
visa ao entendimento, buscando desarmar as partes envolvidas no conflito. O mediador,
terceiro neutro e imparcial, tem a atribuição de mover as partes da posição em que se
encontram fazendo-as chegar a uma solução aceitável. A decisão das partes, tão somente
42
delas, pois o mediador não tem poder decisório nem influencia diretamente na decisão das
partes por meio de sugestões, opiniões ou conselhos".
Ela se concebe como um saber comprometido com a epistemologia contemporânea de
perspectiva ecológica e construtiva, aplicável a todo e qualquer campo da vida humana. Busca
acordo entre as pessoas em litígio por meio da transformação da dinâmica adversarial, comum
no tratamento de conflitos, em uma dinâmica cooperativa, improvável neste contexto.
(MUSZKAT, 2008).
VACONCELOS (2014), sublinha que mediação é método de solução/transformação
de conflitos interpessoais em que os mediandos escolhem ou aceitam terceiro (s) mediador
(es), com aptidão para conduzir o processo e facilitar o diálogo, a começar pelas
apresentações, explicações e compromissos iniciais, sequenciando com narrativas e escutas
alternadas dos mediandos, recontextualização e resumo do (s) mediador (es), com vistas a se
construir a compreensão das vivências afetivas e materiais da disputa dos interesses e
necessidades comuns e para o entendimento sobre as alternativas mais consistentes, de modo
que, havendo consenso, seja concretizado o acordo.
SIX (2001), em sua obra Dinâmica da Mediação apresenta Carta de Mediação do
Centro Nacional de Mediação (CNM), de Paris, que exprime o que é a mediação para o CNM:
Carta de Mediação
• Acreditamos que a mediação é, em primeiro plano, vontade: uma vontade de
abrir caminhos, de construir pontes, de estabelecer ligações onde elas não
existem, permitindo que pessoas ou grupos se unam, permitindo, também, que
um ser encontre o caminho de si próprio. A mediação apela à inventividade e à
criação.
• Acreditamos que a mediação também é prevenção: uma capacidade de
antecipar, de discernir onde estão os impasses e evitar que uma pessoa ou
grupo se engaje em uma via sem saída. A mediação demanda inteligência e
lucidez.
• Acreditamos que a mediação é, ainda, mediação: uma forma de ajuda àqueles
que se encontram juntos em mau passo, que se atolam na violência e se fecham
no conflito, para que eles mesmos se desembaracem da situação, tirando o
devido proveito da vivência. A mediação é arte e coragem.
• A mediação é, desde logo, um lugar intermediário onde se tecem novas
relações, um lugar aberto que evita os impasses ou um lugar dinâmico que
permite uma regulação das tensões e conflito. A mediação é espaço e
comunicação. O mediador é um “ele”, uma terceira pessoa que, reconhecido
por dois “eu” fechados cada um em seu monólogo, permite restabelecer um
“eu” e “tu”, chegando a um verdadeiro diálogo.
43
Nos estudos de Braga Neto (2010), sobre mediação o mesmo entende que o modelo
tradicional de mediação oriundo da Escola de Harvard é um modelo tradicional proveniente
do campo empresarial, centrado na satisfação individual das partes e que visa à obtenção de
um acordo. Esse modelo separa as pessoas do problema, enfoca os interesses e não as
posições, cria opções para benefício mútuo e insiste nos critérios objetivos. Quanto ao modelo
transformativo (BUSH e FOGER), segundo Braga Neto (2010), ele tem como êxito a
transformação das pessoas no sentido de crescimento da revalorização pessoal e do
reconhecimento da legitimidade do outro. O acordo é encarado como uma possibilidade e não
como uma finalidade. Finalizando, o modelo Circular/Narrativo, fundamenta-se na
comunicação e na causalidade circular, cuida-se dos vínculos e fomenta-se a reflexão,
possibilitando a transformação de uma história conflitiva em uma historia colaborativa.
Para Muszkat (2008), entre os vários tipos de mediação, alguns são mais voltados para
o mundo corporativista, como o método de Harvard, cujo objetivo é obter um acordo entre as
partes em que todos ganhem numa negociação. O chamado modelo tradicional, originário da
Escola de Direito de Harvard, o mediador é o facilitador de uma comunicação pensada de
forma linear, de um conflito construído sobre uma relação de causa e efeito. Com o modelo
tradicional surgiram novos modelos que sofreram a influência de outras disciplinas como a
psicologia de abordagem sistêmica dando origem ao método circular narrativo que considera
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que inúmeros fatores que se retroalimentam (causalidade circular) estão presentes nas inter-
relações e, portanto nos conflitos, mais focado na transformação das pessoas do que na busca
de acordo. Quanto ao modelo transformativo o foco é o de promover transformações de
caráter, ou seja crescimento moral, feito através da revalorização e do reconhecimento das
pessoas, não importa o acordo, mas a mudança nas pessoas e nas suas formas de
relacionamento.
SALES (2010), tem que a mediação possuiu vários objetivos, destacando entre eles a
solução dos conflitos, a prevenção da má administração de conflitos e a inclusão social:
• Tem que a solução dos conflitos é o objetivo mais evidente, onde o dialogo é o
caminho a ser seguido para alcançar a solução, tendo como fundamento a visão
positiva do conflito, a cooperação entre as partes e o mediador como facilitador.
Finaliza que o conflito real seja discutido, pois muitas vezes apenas os conflitos
aparentes são apresentados e não refletem o real problema.
• Quanto à prevenção da má administração dos conflitos, a mediação estimula a
prevenção, pois incentiva a conscientização dos direitos e deveres e da
responsabilidade de cada indivíduo para a concretização desses direitos, a
transformação da visão negativa para a visão positiva.
• Com relação a inclusão social tem-se que as pessoas ao se dialogarem e refletirem
sobre suas responsabilidades, direito e obrigações, incentiva a reflexão sobre as
atitudes dos indivíduos e a importância do cada ato para sua vida e para a vida do
outro, dessa forma, o indivíduo é valorizado, incluído, tendo em vista sua
importância como ator principal e fundamental para a análise e a solução do conflito.
RODRIGUES JUNIOR (2007), descreve que a mediação tem obtido êxito nos mais
variados tipos de atividades, podendo ser usada para dirimir litígios relativos à matéria que
admita conciliação, reconciliação, transação ou acordo. Segundo ele nos Países que já
adotaram a mediação, ela tem sido empregada de forma satisfatória nas mais diversas áreas,
onde vem apresentando resultados na área de família, cível, comercial, trabalhista e
ambiental.
Segundo MUSZKAT (2008), a mediação de conflitos é um procedimento que traz em
si a potencialidade de um novo compromisso político capaz de reduzir a desigualdade e
violência. Nesse sentido vários grupos interdisciplinares têm se mobilizado para implementar
o seu uso, seja em programas sociais, seja em seus escritórios ou consultórios. Além disso
uma forte corrente empenhada na prática e divulgação dos seus princípios tem atuado de
forma voluntária, buscando desconstruir resistências culturais devidas a um imaginário
coletivo forjado sobre os princípios da disputa e da rivalidade nas relações de conflito.
BRAGA NETO (2010) tem que a mediação pode ser aplicada das seguintes formas:
Comunitária, Empresarial, Escolar, Familiar, Penal, Consumidor, Trabalhista, Infância e
Juventude, Internacional e Ambiental.
interferir em sua intervenção. Ele deve se abster de qualquer ação ou conduta, seja verbal,
para verbal ou não verbal, que aparente qualquer tipo de preferência entre os mediados. Para
tanto há que cuidar permanentemente do devido equilíbrio de poder entre eles.
• o caráter voluntário;
• o poder dispositivo das partes, respeitando o princípio da autonomia da vontade, desde
que não contrarie os princípios de ordem pública;
• a complementaridade do conhecimento;
• a credibilidade e a imparcialidade do Mediador;
• a competência do Mediador, obtida pela formação adequada e permanente;
• a diligência dos procedimentos;
• a boa fé e a lealdade das práticas aplicadas;
• a flexibilidade, a clareza, a concisão e a simplicidade, tanto na linguagem quanto nos
procedimentos, de modo que atendam à compreensão e às necessidades do mercado
para o qual se voltam;
• a possibilidade de oferecer segurança jurídica, em contraponto à perturbação e ao
prejuízo que as controvérsias geram nas relações sociais;
• a confidencialidade do processo.
De acordo com CONIMA (2015), o processo iniciará com uma entrevista (Pré-
Mediação) que cumprirá os seguintes procedimentos:
I. as partes deverão descrever a controvérsia e expor as suas expectativas;
II. as partes serão esclarecidas sobre o processo da Mediação, seus procedimentos
e suas técnicas;
III. as partes deliberarão se adotarão ou não a Mediação como método de resolução
de sua controvérsia;
IV. as partes escolherão o Mediador, nos termos do Capítulo IV, que poderá ser ou
não aquele que estiver coordenando os trabalhos da entrevista.
Adolfo Braga e Lia Regina Castaldi Sampaio ( ), adotam oito etapas no processo
de mediação:
Pré-Mediação:
A Pré Mediação não é considerada por muitos autores uma etapa propriamente dita do
processo, por constituir-se em um momento ou movimento, de preparação para aqueles que
dela participarão. Esse primeiro momento de caráter informativo aos participantes, privilegia
justamente o oferecimento de informações amplas relativas ao processo da mediação. Nele
são explicitadas em detalhes todas as regras do processo baseadas nos princípios de
voluntariedade, respeito, cooperação e sigilo, a fim de que os mediados possam melhor
deliberar se desejam efetivamente recorrer a esse método. São discutidas também as datas
tentativas, quando ocorrerão as reuniões e se estas serão individuais ou conjuntas. O pré-
mediador, mediador com ampla experiência em mediação, bom domínio das técnicas e
conhecedor das dificuldades da atividade, depois de informar sobre o procedimento deverá
convidar as partes a falar sobre o que trouxe a mediação, devendo escutá-las atentamente para
51
Abertura:
Investigação:
A investigação, que não é policial, é assim chamada por força do amplo esforço do
mediador em conhecer toda a inter-relação dos mediados, a estrutura em que ela está
embasada, bem como as diversas manifestações do conflito e, ao mesmo tempo, por estar
aberto ao surgimento de outros durante o processo, os quais permaneceram latente antes
mesmo de as partes buscarem a mediação.
Na prática, esse momento significa tentar conhecer toda a complexidade daquela inter-
relação, ou seja, a “espinha dorsal” do processo. Isso significa afirmar que, se não for
realizada da maneira profunda, correr-se-á o sério risco de insucesso – quer com o fim do
processo antes de se chegar a uma solução, quer com o descumprimento das
responsabilidades assumidas durante este. Para tanto, como já afirmamos, há que se formular
perguntas sobre a história relatada, bem como sobre as expressões empregadas pelos
mediados. (...)
Uma vez identificada e muito bem esclarecida toda a estrutura relacional, assim como
o conflito objetivo e subjetivo, as motivações e seus vários elementos, passa-se à elaboração
da agenda, momento em que se inicia o ambiente de objetivação do processo, no qual as
partes e o mediador devem começar a pensar sobre o futuro. O passado não pode ser alterado,
o presente agora debatido é o conflito ocorrido recentemente. Mas o futuro está nas mãos das
partes e não de um terceiro, sendo dessa maneira devolvido a elas o poder de construí-lo.
Agenda:
Criação de Opções:
A criação de opções constitui-se em mais uma etapa que requer muita criatividade de
todos e, sobretudo, o compromisso de buscá-la sem nenhum tipo de avaliação, crítica ou
julgamento. O que se pretende é simplesmente gerar ideias de solução ou soluções.
Tal técnica propõe-se a evitar discussões restritas sobre uma única proposta
apresentada, que, se for realizada prematuramente, fará os participantes dedicarem-se a um
debate precipitado, sem considerar que poderiam fazê-lo de maneira mais ampla, procurando
ideias outras que não a primeira.
Com um número de ideias de solução ampliado, será possível passar à primeira etapa:
avaliação das opções.
A avaliação das opções consiste no auxílio que o mediador deverá dar aos mediados,
se estes o desejarem para que seja feita uma análise das opções delineadas na etapa anterior,
destacando-se evidentemente, aquelas com menor possibilidade de execução ou sem nenhuma
praticidade.
Nesta etapa, exige-se das partes uma reflexão que projete as ideias aventadas na etapa
anterior apara um futuro próximo ou mesmo longínquo. Deve-se levar em conta a praticidade
e a viabilidade da execução dessas ideias, bem como o consenso acerca dos critérios objetivos
para sua avaliação, sobre eventuais índices econômicos ou sobre os precedentes anteriores,
bem como sobre a funcionalidade das ideias em relação aos motivadores da inter-relação
existente, e geradora do conflito.
Ao se vislumbrar a exequibilidade, a praticidade e a funcionalidade das opções
aventadas, baseadas em valores e em critérios, passa-se à etapa seguinte: escolha das opções.
A escolha das opções, momento que também faz parte da objetivação do processo de
mediação, visa, de imediato, a construção das soluções. Nessa etapa, o importante é que as
partes adotem critérios objetivos que possam auxiliá-las na escolha das melhores mais
criativas soluções. Para tanto, o bom senso e o consenso sobre os critérios deverão ser os
grandes impulsionadores do debate. Esse critério, ajuda e muito, a reflexão sobre a praticidade
e a exequibilidade trabalhadas na etapa anterior.
54
Há que se ter em mente, tanto nesta etapa quanto na anterior, que a assessoria legal é
essencial. Numerosos códigos de vários países rezam sobre a conduta ética do mediador
exigida nesse momento, caso as partes não se façam acompanhadas de seus advogados ao
longo do processo para não se esquecerem dos requisitos legais e formais presentes na
mediação de conflitos, que, mesmo sendo um processo informal, terá reflexos no mundo
jurídico, se esse for o desejo das partes.
Solução:
- Quarta etapa: As partes após ouvirem o resumo feito pelo mediador, iniciam um dialogo
com maior profundidade, surgindo dai as contradições, indefinições, obscuridades.
- Quinta etapa: É o início das conclusões, o mediador começa a sintetizar os temas já
abordados no diálogo estabelecido, orientando as partes na busca de soluções
satisfatórias e de cumprimento possível.
- Sexta etapa: Redação do acordo numa linguagem fácil, que possibilite a compreensão
dos clientes e que contenha as exigências da decisão estabelecida por meio da
comunicação.
• Quando existe muito dinheiro em jogo (o efeito emocional das quantias monetárias
envolvidas dominará a atenção dos envolvidos, e o capital financeiro solapa o
emocional);
56
MUSZKAT (2008) compara a mediação com as vias legais para resolver conflitos,
onde afirma que a mediação é muito mais vantajosa, como demonstra no quadro a seguir:
Quadro 12 – Diferenças entre Mediação e Processo Jurídico
2.3 DO MEDIADOR
Funções do Mediador
Estágio 1: Estabelecendo relacionamento com as partes Estágio 2: Escolhendo uma estratégia para orientar a
disputantes. mediação.
• Faz contatos iniciais com as partes. • Ajuda as partes a avaliar várias abordagens do
• Constrói credibilidade. manejo e da resolução de conflitos.
• Promove o o rapport. • Ajuda as partes a selecionar uma abordagem
• Aumenta o compromisso em relação ao • Coordena as abordagens das partes.
procedimento.
• Instrui as partes sobre o processo
Estágio 3: Coletando e analisando informações Estágio 4: Projetando um plano detalhado para
básicas mediação
• Coleta e análise de dados importantes sobre • Identifica estratégias e movimentos não
as pessoas, a dinâmica e a essência de um contingentes consequentes que permitam às
conflito. partes caminharem num acordo.
• Verifica a precisão dos dados. • Identifica movimentos contingentes para
• Minimiza o impacto dos dados inexatos ou responder a situações peculiares ao conflito
indisponíveis. específico.
Estágio 5: Construindo a confiança e a Estágio 6: Iniciando a sessão de mediação.
cooperação. • Abre a negociação entre as partes.
• Prepara psicologicamente os disputantes para • Estabelece um tom aberto e positivo.
participar nas negociações sobre questões • Estabelece regras básicas e diretrizes
essenciais. comportamentais.
• Lida com emoções fortes. • Ajuda as partes a expressar suas emoções.
• Verifica as percepções e minimiza os efeitos • Delimita as áreas e as questões a serem
dos estereótipos. discutidas.
• Constrói o reconhecimento da legitimidade • Ajuda as partes a explorar os compromissos,
das partes e das questões. os pontos relevantes e as influências.
• Constrói a confiança.
• Esclarece as comunicações.
Estágio 7:Definindo as questões Estágio 8: Revelando os interesses ocultos das
estabelecendo uma agenda. partes disputantes.
• Identifica áreas amplas de interesse para as • Identifica os interesses essenciais, psicológicos
partes. e de procedimentos das partes.
• Obtém a concordância sobre as questões a • Instrui as partes sobre os interesses da outra.
serem discutidas.
• Determina a sequência para o tratamento das
questões.
Estágio 9: Gerando opções para o acordo. Estágio 10: Avaliando as opções para o acordo.
• Desenvolve entre as partes uma consciência • Revê os interesses das partes.
da necessidade de múltiplas opções. • Avalia como os interesses podem ser
• Reduz o compromisso com posições ou satisfeitos pelas opções disponíveis.
alternativas isoladas. • Avalia os custos e benefícios de se escolher as
• Gera opções usando negociação baseada na opções.
posição ou baseada no interesse.
Estágio 11: Barganha Final Estágio 12: Atingindo o acordo formal
• Consegue o acordo através de maior • Identifica os passos de procedimentos para se
convergência das posições, últimos operacionalizar o acordo.
movimentos para fechar os acordos, • Estabelece uma avaliação e um procedimento
desenvolvimento de uma fórmula consensual de monitoração.
ou estabelecimento de meios de
procedimento para se conseguir um acordo
fundamental.
Fonte: (MOORE, 1998)
60
Braga Neto e Sampaio (2010) relatam que “relatam que o mediador assume
inevitavelmente o papel de líder perante os mediados, ou seja coordena o processo, transmiti
aos mediados um conjunto de valores de grande importância para o bom andamento do
processo, ou seja: confiança, lealdade, serenidade, cooperação, respeito e não violência. Atua
também como agente transformador, cujo papel tem consequências importantes para o
exercício de suas funções. Exerce também o papel de facilitador, atuando na comunicação, na
ampliação dos recursos, explorando os problemas".
Moore (1998), informa que o mediador pode assumir vários papéis para ajudar as
partes na resolução de disputas:
• O facilitador da comunicação, que inicia ou facilita a melhor comunicação
quando as partes já estiverem conversando.
• O legitimador, que ajuda todas as partes a reconhecerem o direito das outras de
estarem envolvidas nas negociações.
• O facilitador do processo, que propõe um procedimento e, em geral, preside
formalmente a sessão de negociação.
• O treinador, que instrui os negociadores iniciantes, inexperientes ou
despreparados no processo de barganha.
• O ampliador de recursos, que proporciona assistência às partes e as vincula a
especialistas e a recursos externos que podem capacitá-los a aumentar as
opções aceitáveis de acordo.
• O explorador do problema, que permite que as pessoas em disputa examinem o
problema a partir de várias perspectivas, ajuda nas definições das questões e
dos interesses básicos e procura opções mutuamente satisfatórias.
• O agente da realidade, que ajuda a elaboração de um acordo razoável e viável e
que questiona e desafia as partes que têm objetivos radicais e não realistas.
• O bode expiatório, que pode assumir certa responsabilidade ou culpa por uma
decisão impopular que as partes, apesar de tudo, estejam dispostas aceitar.
• O líder, que toma a iniciativa de prosseguir as negociações através de sugestões
processuais ou fundamentais.
62
Formação e capacitação
Segundo DORNELES (2014), qualquer pessoa pode se tornar mediador, desde que
adquira capacitação técnica, possua legitimidade e seja hábil para exercer a atividade. Sua
função principal e facilitar e restaurar o diálogo entre as partes para que as mesmas
reconheçam seus interesses, compreendam o conflito e encontrem um entendimento através
de uma comunicação efetiva e respeitosa.
De acordo com a legislação abaixo, são estes os requisitos para ser mediador:
Quadro 14 - Requisitos para ser Mediador
De acordo com a legislação qualquer pessoa com confiança das partes e que se
considere apta, pode ser mediador extrajudicial. Ele não precisa integrar ou se inscrever em
qualquer tipo de conselho ou associação. Já o mediador judicial precisa ser graduado há pelo
menos dois anos em curso superior e ter capacitação em escola de formação de mediadores
reconhecida pelo Conselho Nacional de Justiça ou pela Escola Nacional de Mediação e
Conciliação do Ministério da Justiça, o mediador extrajudicial deve ter capacidade civil e
confiança das partes..
64
O Mediador deverá:
Segundo Braga Neto (2010) , seus deveres se constituem em valores pessoais, portanto
irrenunciáveis e nunca negociáveis:
• Imparcialidade - entendida como a inexistência de qualquer conflito de
interesses ou relacionamento capaz de afetar o processo de mediação, devendo
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• Escuta Ativa
• Parafraseamento
• Formulação de perguntas: Circulares, Reflexivas, etc
• Resumo positivado
• Caucus
• Teste de realidade
• Brainstorming
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Ainda segundo Muszkat (2008), várias podem ser as estratégias para atingir esses
objetivos, dependendo das condições e expectativas da organização:
68
MAIA NETO (2014), entente que no estado organizado de hoje as controvérsias não
podem ser resolvidas pelo simples predomínio do mais forte. A evolução história permitiu que
a sociedade outorgasse aos seus agentes políticos atividades que garantem a pacificação
69
social, cujo entendimento cominou com o surgimento da função jurisdicional dando ao Estado
o poder de julgar as pretensões apresentadas pela sociedade. Nesse contexto, continua ele,
que, para entendermos a evolução de mentalidade ao longo dos tempos e preciso analisar as
formas de resolução da lide preceituadas no nosso ordenamento jurídico, começando pela:
O rito sumário, não previsto inicialmente quando da publicação da Lei nº 8.112/90, foi
acrescido posteriormente com a alteração promovida pela Lei nº 9.527, de 10 de dezembro de
1997. Assim, após esse novo disciplinamento legal, pode-se concluir que o processo
administrativo disciplinar passou a comportar três espécies: sindicância acusatória (art. 145,
II), processo disciplinar ordinário (art. 146) e processo disciplinar sumário (arts. 133 e 140).
Em linhas gerais, o rito sumário possui as seguintes especificidades: os prazos são reduzidos
em relação ao rito ordinário e a portaria de instauração deve explicitar a materialidade do
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possível ilícito. Como exemplo, no caso de abandono de cargo, a portaria deve trazer a
indicação precisa do período de ausência intencional do servidor ao serviço por mais de 30
(trinta) dias consecutivos; no caso de inassiduidade habitual, deve trazer a indicação dos dias
de falta ao serviço sem causa justificada, por período igual ou superior a 60 (sessenta) dias,
interpoladamente, durante o período de12 (doze) meses; por fim, no caso de acumulação
ilegal de cargos públicos, deverá conter a descrição dos empregos, funções e cargos públicos
ocupados, bem como o órgão de origem. (MACEDO, 2015).
que a descreve como sendo: “Procedimento preliminar sumário, instaurada com o fim de
investigação de irregularidades funcionais, que precede ao processo administrativo
disciplinar, sendo prescindível de observância dos princípios constitucionais do contraditório
e da ampla defesa.
São procedimentos de cunho meramente investigativo, que não podem dar ensejo à
aplicação de penalidades disciplinares e que são realizados apenas a título de convencimento
primário da Administração acerca da ocorrência ou não de determinada irregularidade
funcional e de sua autoria.
É interessante relembrar que, nesse tipo de procedimento, não são aplicáveis os
princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, até mesmo porque não há
nenhum servidor público sendo formalmente acusado de ter cometido irregularidade, mas se
trata tão somente de um esforço por parte da Administração no intuito de coletar informações
gerais relacionadas à suposta irregularidade então noticiada. (MACEDO, 2015).
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Inicialmente, será feita uma revisão bibliográfica sobre a mediação de conflitos com as
publicações existentes, fazendo uma análise de seus conteúdos de forma a contribuir para
alcançar o objetivo desse trabalho.
O questionário terá como fundamento a bibliografia apresentada neste trabalho. Será
realizado um pré-teste com um grupo de dez gestores selecionados aleatoriamente:
Você tenta analisar uma questão que está gerando conflito a fim de encontrar uma
solução aceita por todos?
( ) sim
( ) não
( ) às vezes
Você tenta usar sua influência para que suas ideias sejam aceitas?
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( ) sim
( ) não
( ) nunca
( ) às vezes
Você utiliza sua autoridade para tomar uma decisão em seu favor?
( ) sim
( ) não
( ) nunca
( ) às vezes
Você tenta fazer com que todas as aspirações do grupo de trabalho sejam expostas de
modo a resolvê-las da melhor maneira possível?
( ) sim
( ) não
( ) nunca
( ) às vezes
Considerando que o trabalho visa compreender a percepção dos gestores sobre o papel
da mediação e cooperação na gestão de conflitos pode-se considerar também a pesquisa
78
explicativa que se propõem a conhecer as causas dos fenômenos que estudam, esperam obter
evidências das relações de causa-efeito (BIAGI, 2012).
4 RESULTADO
Com a análise dos dados levantados e com fundamento no estudo teórico apresentado
sobre mediação, será apresentada uma proposta para implantação de um núcleo de mediação.
80
81
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIAGI, Marta Cristina. Pesquisa Científica. Roteiro Pratico para Desenvolver Projetos e
Teses. Curitiba: Ed. Juruá, 2012.
BRAGA NETO, Adolfo. SAMPAIO, Lia Regina Castaldi. O que é Medição de Conflitos. São
Paulo: Editora Brasiliense: 2010.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 8. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Jures, 2001.
EULALIO, Marcelo Martins. O novo código de processo civil: breves considerações sobre o
principio da cooperação, da conciliação e da mediação. Disponível em:
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FISHER, Roger; URY, William. Como chegar ao sim. Rio de Janeiro: Editora Solomon, 2014
GRAY, David. E. Pesquisa no mundo Real. São Paulo: Editora Pensa, 2012.
____Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores
públicos civis da União, das Autarquias e das fundações públicas federais. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/ATO2015-2018/2015/Lei/1340. Acesso em 10 out. 2015.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33ª ed. atual. São Paulo:
Malheiros, 2007.
MENDONÇA, Ângela Hara Buonomo . Uma visão Geral de Conceitos e Aplicações Práticas.
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MORAES, Paulo Valério Dal Pai; MORAES, Márcia Amaral Corrêa. A negociação Ética
para Agentes Públicos e Advogados. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2012
MUSZKAT, Malvina Ester. Guia Pratico de Medição de Conflitos. São Paulo. Ed. Summus
Editorial. 2008
SALES, Lília Maia de Morais. Mediare: Um Guia Prático para Mediadores. Editora GZ,
2010.
SOUZA, Luciane Moessa de. Meios Consensuais de Solução de Conflitos Envolvendo Entes
Públicos. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2012.
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SOUZA NETO, Cláudio Pereira de. Balcão de direitos, retórica e mediação: notas sobre a
possibilidade de uma metodologia jurídica própria. Rio de Janeiro. In: Balcão de direitos:
resolução de conflitos em favelas do Rio de Janeiro. Paulo Jorge Ribeiro e Pedro
Strozemberg. Rio de Janeiro: Manual, 2001, p.201.
7 APENDICE
87