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Roteiro de áudio de História, Memória e Patrimônio

MARINS, Paulo César Garcez. Trajetórias de preservação do patrimônio cultural


paulista. IN: SETÚBAL, Maria Alice (coord. do projeto) Terra paulista: trajetórias
contemporâneas. São Paulo: CENPEC/Imprensa Oficial, 2008, p. 137-167.
Paulo Cesar Garcez Marins
Trajetórias de preservação do Patrimônio cultural paulista

O autor inicia o texto falando do contexto da criação do SPHAN nos anos 30


durante a Era Vargas. Segundo Marins o Estado estava em buscar de memórias que
findassem e marcassem o que se tem por cultura “brasileira”. Para isso, houve um enfoque
no que se tem por cultura colonial e certo depreciamento pela cultura cafeeira, o quê
consequentemente gerou um grande impacto em São Paulo, que experenciou um
“empaledecimento” como o autor expressa no texto, enfrentado durante a trajetória da
preservação patrimonial do Brasil. Sendo que, pelo menos até a década de 1960, a
preservação do patrimônio consolidou-se como uma questão do Estado, pautada por ações
que espelhavam com dificuldade as demandas sociais relativas aos suportes da memória
social.
O autor tem como objetivo documentar essas trajetórias de preservação, em especial, nas
novas formas de percepção e valorização do legado heterogêneo da cultura paulista. Pensando
assim, como bem diz o autor, em uma forma de contraste ao desprezo que os próprios paulistas
se submeteram, ou que foram submetidos, a ter por sua própria herança cultura.
1- Atribuindo valor às coisas do passado: os primórdios contraditórios da consciência
patrimonial em São Paulo
A atribuição do valor positivo aos remanescentes coloniais se iniciou em São Paulo desde
a década de 1910, sendo que esses valores eram pautados por estruturas arquitetônicas, em
especial através de uma valorização do barroco que foi vista como algo “tradicional brasileiro”.
Marins ainda ressalta como Ricardo Severo, um arquiteto português de nascimento integrante das
elites paulistas que findou em uma conferência de nome “A arte tradicional no Brasil” onde, como
diz Marins, exortou os ouvintes a valorizar o que ele tinha por “arquitetura tradicional brasileira”.
Tal conferência teria tido impacto a ponto de as elites paulistas remodelar as estruturas de suas
casas para materiais valorizados por Severo. Entretanto, como demonstra Marins, tais mudanças
acabam por ser refletidas na demolição e destruição de estruturas históricas pelas mãos da elite
paulista, no intuito da renovação e buscar dessa “arte tradicional brasileira”.
2- O patrimônio paulista que os modernistas escolheram e deixaram de escolher
A preservação oficial do patrimônio teria começado pela esfera federal em 1935. A
escolha da arquitetura como foco de interesse para preservação é uma delas, sendo que patrimônio
logo veio a ser sinônimo de um bem arquitetônico. Sendo isso uma importação derivada de uma
modelo francês de preservação, onde foram aplicadas categorias de valor artístico e histórico,
com predominância da primeira. Sendo que, não só a arquitetura foi uma escolha, mas
também o período colonial, que em alguns círculos foi considerado o período em que teria se
formado/configurado a identidade nacional, bem como o SPHAN acabou por apontar o
prioritário lugar do catolicismo na como fator de construção da identidade brasileira.
Entretanto, Marins ressalta que a tarefa de escolher os bens tido como patrimônio
acabou ficando por parte do estado e não de pessoas físicas que determinariam os valores
artísticos e históricos dos bens que documentariam a memória da nação. Ainda, Marins afirma
que a “memória unívoca” brasileira não acolhia e nem poderia acolher todos os brasileiros.
A ênfase nos trabalhos do SPHAN no Estado de São Paulo durante a segunda
metade do século XX concentrou-se muito mais na restauração dos bens tombados nos
primeiros trinta anos de sua atividade do que em pedir novos tombamentos. Não somente,
destaca-se que em São Paulo há a ausência de “centros históricos” tombados pelo
SPHAN, isso não só pelos critérios definidos pela União durante o Estado Novo, mas
também pelo fato da maioria das cidades do estado terem sido construídas ou
reconstruídas ao logo dos séculos XIX e XX, o que afastou elas do “cânone” colonial.
Embora ocorressem mudanças pontuais a partir de 1970, o caráter errático dos
tombamentos não chegou a contrastar com o cânone colonial. E mesmo no âmbito desses
novos critérios, o caso paulista permanece problemático, pois no rol das tipologias do
IPHAN, São Paulo ainda foi claramente preterido. Essa forma de preservação do IPHAN
(novo) cristalizou padrões de exclusão na trajetória de preservação federal. Tais padrões
se ligam às convicções de valor que ultrapassam as primeiras gerações de funcionários
do SPHAN. Salvou diversos bens, que se fossem demolidos afetariam a vida de milhares
de cidadãos, mas também excluiu outros bens de interesse para comunidades, o que fez
com que ficassem nas mãos de esferas estaduais e municipais para que estabelecessem
critérios para escolha do patrimônio cultural paulista.
3- O Condephaat e os novos parâmetros de identificação patrimonial: as escolhas
compartilhadas.

Os órgãos estaduais de preservação atuaram parcialmente num caminho contrário


das regras estabelecidas pelo IPHAN. Protegeram exemplares arquitetônicos e espaços
urbanos que se tornavam frágeis a grande quantidade de projetos variados e de transporte
de massa. Eles surgem a partir de esforços do governo federal para que os estados
repartissem a tarefa de proteger o patrimônio edificado e assim alcançar a possibilidade
de proteção de muitos bens que não fossem contemplados pelos critérios do SPHAN,
assim de novas reflexões sobre a delimitação de novos padrões que fossem mais
sensíveis as múltiplas identidades e trajetórias sociais de outros estados da união.
Quando houve a criação do Condephaat em 1967, houve um quadro de tensões:
os velhos parâmetros de valor herdados do SPHAN se defrontavam com as novas
demandas sociais que caracterizavam as décadas de 1960 e 70. Nos primeiros anos,
ainda se dava prioridade para o passado colonial, seguido pela expansão cafeeira e
pelas experiências imigrantes, sendo que, a proteção estava direcionada a uma
construção filiada à linguagem neoclássica presente na região durante o auge do café.
Além do alvo ser o interior e não a capital – uma preservação das cidades ligada à
cafeicultura. Além de que na década de 80 também as demandas do público iniciavam
os processos de tombamento, o que contrapunha a fase pioneira em que os
tombamentos adivinham, em grande parte, da indicação dos membros do conselho.
Marins ainda afirma que esse caráter fragmentário do Condephaat emana de uma
postura institucional que recusou, ele frisa, sobretudo a partir dos anos 80, a
aproximação qualquer que difundisse a ideia de uma “identidade paulista”.

4- A preservação nos municípios paulistas: novas atribuições de sentido patrimonial


por políticas públicas e pela ação social.
Durante a década de 80 diversos municípios estabeleceram e constituíram órgãos próprios para
preservação patrimonial. Marins afirma que não pretende apresentar um panorama das diversas
experiências, mas sim no sentido de apontar algumas dimensões dessas ações preservacionistas
que permitiriam visualizar tendências de revisão dos padrões federais e do Condephaat. Neste
último tópico, Marins aborda três aspectos: as possibilidades de inventário como forma de
reflexão sobre os legados culturais; as novas tipologias tombadas pelos municípios e as ações não
-governamentais de preservação.
Marins acaba por mencionar alguns casos singulares de tombamento, como em São José dos
Campos - São Paulo, onde houve por iniciativa de uma universidade local sem ligação alguma
com a prefeitura, a promoção de estudos relacionados a arquitetura local da cidade, que é marcada
no séc. XX por exemplares do período cafeeiro, mas também por ser uma arquitetura marcada
pela atividade voltada ao tratamento da tuberculose. São somente, Marins fala do caso de Franca,
que coloca como uma cidade que tem experiencia de política pública exemplo no que toca ao
tombamento de edificações sociais e de práticas cotidianas. Diga-se pelo tombamento, de alguns
locais, como o Estágio do Palmeiras Futebol Clube ou tombamentos relativos ao fornecimento de
água e tratamento de esgotos da cidade, que fez com que Franca tivesse um dos maiores
indicadores de qualidade de vida durante o período republicano. Não somente, Marins fala sobre
a questão de tombamentos de fazendas coloniais, onde o IPHAN demonstra ter uma postura de
esquiva de tais bens que foi replicado pelos órgãos estaduais e municipais. Uma forma de driblar
isso, tem sido a criação de hotéis-fazendas e resorts, que tem como incentivo dos próprios
proprietários de manutenção de suas estruturas, embora, como ressalta Marins, quase nenhuma
delas seja objeto de tombamento por nenhuma esfera.
Conclusão
Marins conclui ressaltando a importância da evidência dos bens patrimoniais para as populações
locais, o que é visto a partir da iniciativa de órgãos estaduais e municipais, e é de menor interesse
nas políticas federais. Afirmando, assim, que a é necessário aproximar essas dimensões dos
interesses das comunidades, e que isso passa necessariamente pela intensificação das mesmas
como agentes de definição do que é seu patrimônio e em que medida ele pode ser compartilhado
com outros, nacionais estrangeiros, visitantes e turistas.

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